Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
P O R JO S É ANTÓ N I O D E SÁ
Fernando d e Sousa
A B S T R AC T
l n this work we presem a manuscript dated [rom the late 1 8th cen
t ury, which is an extremely importam dowment for the u n derstanding
o[ the Trás-os-Mo n tes region (Po r tu gal!. This wo rk wi/1 p recede a m o re
in-depth research work about the some administra ti ve region, based on the
man uscrip t sources left by ]osé A n tónio de Sá, and to be published in the
near future.
1 - I NT RO D U Ç Ã O
360
UMA DESCRIÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR jOSE ANTÓNIO DE SÁ
- Mem oria academ ica em que se dá a descripção da provincia de Tras os Mon tes,
e se propoem os methodos para a sua reforma ( 1 7 8 0- 1 7 8 1 );
- Dissertação sobre a origem das sociedades civis para servir de preliminar a o
tractado dos corregedores das comarcas ( 1 7 9 2 ) . ;
- Regimen to dos corregedores das comarcas do Reino ( 1 7 9 3).
- Demarcação da comarca de Mon corvo com hum m appa th opografico q ue a
demonstra ( 1 7 9 3 ) .
36 1
FERNA NDO DE SOUSA
Ass i m . a p ós uma cu rta e tru n cada b i ogra fia de José Antó n i o de Sá, u m a vez q u e
só diz respeito á s u a v i d a a t é a ba n d o n a r as fu n ções d e corregedor da comarca d e
M o n corvo. a p resentemos, s u m a r i a m e n t e , esta c e l e b re d escriçã o d e Trás-os- M o ntes,
e fectuada por u m magistra d o que con heceu. como n i ng u é m , a sua terra nata l .
362
UMA DESCRIÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR JOSÉ ANTÓNIO DE SÁ
Esta descri pção de Trás-os-Montes foi ela borada por José Antonio de Sá em 1 78 0- 1 78 1 .
Com efeito. esta memória é a nterior a 1 7 8 3 , a n o e m q u e fo i p u b l i c a d o o
Compendio de observaçoens. N este, josé Antó n i o de Sá dá conta de u m a « d escri p çã o ,
q u e fiz da p rov í n cia d e Trás-os-Montes e m u m a m e m oria » e i n forma q u e p a r a a s
averigua ções efectuadas n a p rovín cia, va l e u -se d e «algumas pessoas i n struídas» como
L u í s C a e ta n o d e C a m p o s - que re fere , ta m b é m n a m e m oria academ ica e q u e l h e
m i n istro u « d outas o bservaçoens» sobre o conce l h o d e Chaves - . d o a l c a i d e - m ó r d e
B raga nça, e d e D i ogo Wite, capitão de cava l os, « p essoas d ota das d e i nstru ção e ge n i o
verda d e i ra mente patri ótico».
O a u tor i n fo r m a . a i n d a , que, s o b re a p roví n cia d e Trá s - o s - M o n tes. t e m feito
a l gumas o bserva ções a resp e ito do seu gén i o , costu mes. i n d ústria . ri q u eza. agri c u l t u ra ,
comércio, etc. , exist i n d o t u d o « e m uma colecçã o i n forme; p o rq u e p re n d e a i n da de várias
i n dagações para a sua ú lt i m a perfeiçã o » .
Terá chega d o a a p erfei çoar o s e u t ra b a l h o ? Em 1 7 8 7 , Já j u iz d e fora d e M o n corvo,
d i rigi n d o-se à Aca d e m i a das C i ê ncias, José Antó n i o d e Sá refere que teve a h o n ra d e
a p resentar. n a s sessões d o a n o a nteri o r. o esta d o e m q u e s e e n co ntrava a provín cia
t ra s m o nta n a , e x p o n d o t u d o q u a n to t i n h a p o d i d o s a b e r do seu gé n i o . cost u m e s .
i n d ústri a . eco n o m i a e comércio. E acrescenta q u e a s u a m e mória s o b re Trás-os-Montes
ccfo rma u m l ivro m a n uscrito» 1 2
S ej a c o m o fo r, n ã o n o s parece q u e , para a l é m d e eve n t u a l m e n t e d a r u m a n ova
e m a i s c u i d a d a a p res en t ação à s u a d es c r i ç ã o de Trá s - o s - M o n t e s , te n h a a lt e ra d o o
c o n t e ú d o e até a redacçã o da m e s m a . u m a vez q u e . n a a d i çã o a o Compendio de
observaçõens. a p rese nta u m a descri çã o da fá b ri ca das sedas d e Trás-os-Montes e u m a
n otícia do m o nte d e Montesi n h o e á rea c i rcu ndante q u e são pratica mente u m a có p i a
dos capítulos 8 , 9 , 1 O , 1 1 , 2 8 , 2 9 , 3 0 e parte d o 3 1 da Memoria academica 1 3 , a i n d icar.
assi m, para a l é m das referên cias já m e n c i o n a das. a a utori d a d e d esta . Razão pela q u a l
n ã o i n d i ca m os o Compendio de observaçoens com o tít u l o relativo a Trás-os-M o ntes.
Por o utro lado, na Memoria academica . José Antón i o d e Sá refere expressa m e n t e
q u e se encontrava e m Montesi n h o a 2 5 d e Setembro d e 1 78 0 , a data m a i s tardia exarada
n o seu texto.
F i n a l mente. o a utor refere, n o frontespício desta m e m ó r i a , q u e era sócio da
Aca d e m i a das C i ê n cias. a q u a l t i n h a sido fu ndada e m 1 7 7 9 e como títu l o aca d é m i co . q u e
era o p ositor às c a d e i ras d e l e i s da U n iversidade d e Coi m b ra .
S u b l i n ha-se. a i n d a , q u e J o s é Antó n i o de Sá esclarece q u e . e m b o ra s e n d o n a t u r a l
d e Trá s - o s - M o n tes. n ã o p o d e a p resentar u m a cc i d e i a exacta » d a p roví n c i a , u m a vez
363
FERNANDO DE SOUSA
364
UMA DESCR IÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR JOSÉ ANTONIO DE SÃ
N O TA S
3 Fernando d e Sousa - A Memoria dos abusos p ra ticados na comarca de Mon corvo de josé A n ra n io
de Sá ( 1 7 9 0), Separata da Revisra da Faculdade de Letras da Univers i d a d e do Porto, série d e
H istória, Vai . IV, Porto, 1 9 74.
4 o Pensamenro económico em Porwgal nos finais do século XVIII. 1 780- 1 808 - Lisboa, 1 9 8 9 .
6 José Rodrigues Monteiro - o Trás-os-Montes setecen tisro na obra de josé A n ronio de Sá - i n Páginas
da Histó ria da diocese de Bragança-Miranda. Con gresso Histórico. 4 5 0 anos da Fu ndação. A c tas
- Braga nça , 1 9 9 7 .
7 josé Maria Amado Mendes - Trás-os-Mon tes nos fins d o século XVIII - Segu ndo u m manuscrito d e 1 7 96,
Coim bra , 1 9 8 1 .
9 Arq u i vo Distrita l d e Braga nça - L ivro de Registo de Baptismos de Santa Ma ria - Ma ço 3 , Livro S .
Agra d ecemos a co nsulta e fectuada pelo d i rector do Arqu ivo D istrita l d e Braga nça, doutor Belarm ino
Afonso, q u e com tanto zelo e ded icação tem desempen t1ado ta i s funções.
t O Arqu ivo Nacional da Torre d o Tombo, Desem bargo do Paço - Leitura de Bachareis - Letra J . Maço 5 3 .
11 Arqu ivo M u n icipal d e Moncorvo - Livro dos Provimentos d a correição 1 7 8 7- 1 7 9 1 ; Livro dos
Provimen tos da correição, 1 7 9 1 - 1 7 9 3 ; Livro dos Provimen tos da correição, 1 7 9 5 - 1 8 1 4.
1 4 Fern a n d o d e Sousa - S ubsídios para a história social do a rcebispado de Braga. A comarca de Vila
Real nos fins do século XVIII - Separa ta da Revi sta Bracara A ugusta - To m o XXX, j u l h o-Deze m b ro
de 1 9 76.
365
FERNANDO DE SOUSA
3 - Qua nto a pontuação, a penas se acrescentou u m a ou outra virg u l a , necessá ria para a
m e l h o r com preensão do texto.
366
UMA DESCRIÇÃO OE TRÃS-OS-MONTES POR JOSÉ A NTONIO OE SÃ
M E MO R I A AC A D E M I CA
EM Q U E
S E DÁ A D E S C R I PÇÃO DA P ROV I N C I A
DE
TRAS O S MO NTES ,
E
SE PROPOEM OS METHODOS
PARA A S U A R E FO R M A .
Por
J o zé Antonio de S á, oppozitor
367
FERNANDO DE SOUSA
(Acacl . Scient. U l i s i p . )
368
U M A DESCR /ÇÀ O DE TRÀS-OS-MONTES P O R jOSE ANTÓNIO DE SÁ
'rUL :/�TUca./
&n fUL
J;
dt' a ob�� cld L�i?zcftt
(� dL
'Jta.r OJ!JZOizáJ �
24 369
FERNA NDO DE SOUSA
3 70
UMA DESCRIÇÃO DE TRAS-OS-MONTES POR jOSE ANTONIO DE SA
M E MO R I A ACA D E M I CA
S O B R E A P ROV I N C I A D E TRAS O S MONTES
CAPITULLO 1
P ro s p e cto d o q u e n e l l a se tracta
Será o o bjecto d 'esta memoria a provincia de Tras o s Montes. Fa llarei da sua situação
geogra p h i c a , e economica, d o seu ge n i o , i n d o l e , costu mes, i n d ustria , das suas p r i n ci p a es
p rod u cçoens, extracçã o e comm erci o , restri n gi n d o - m e a fa l l a r do co n cel h o d e Chaves
co m o d e l l es o m e l h o r para com h u m golpe de vista , em h u m mapa p o d e r conj e c t u rar o
principal da p rovincia. Descreverei ta m b e m com toda a b revi dade o l u gar de M o ntezi n h o
e o s e u m o n t e , o l u g a r d e F ra n ça , á v i l l a d e C h a c i m . O q u e t u d o s e r v i rá co m o d e
prolegomenos a h u m proj ecto d e reforma q u e propore i , versa n d o-se s o b re a a gri cu l t u ra
como p r i n c i p a l base de toda a i n d ustria , comm erci o, e uti l i d a d e p u b l i c a . N e l l e d escreverei
as cauzas fizicas, e m oraes, que o bstã o a o adianta m ento d 'agri cultura e m Tras os M o ntes,
fa ze n d o ver a o m e s m o t e m p o os c a m i n hos mais segu ros d e s e evi tare m ; p ro p o n d o
a n e cessi d a d e d a v i a ge m , o s m e i os d e s e fazer p o l i t i ca e f i l os o p h i c a m e n t e , c o m o s e
dezab uzarã o o s l avra d ô res e se evitará a sua est u p i dez, e p o b reza , a p recizã o d e rom p e r
os c a m p os i n cu ltos, d e agricultar os b a l d i o s , de faci l itar o s tra nsp ortes, e d e fazer a l g u n s
r i o s navegáveis. U l t i m a m e n t e darei h u m p l a n o d 'a gricultura, e m q u e fa l l e da l avo u r a , d os
seus p ri n ci paes i nstrumentos, da com b i nação das terras, q u a l i d a d es das argi llas e mames;
dos estercos, regas, e sua influencia na vegeta ção , da escolha das sementes, d os methodos
de semear, e co l h er e outras co uzas t e n d entes a perfeição, e reforma d 'agri cultu ra .
Fa l l a re i s e mpre c o m o exe m p l o e practica d a s n a ç o e n s cultas, b e m certo q u e o s
s i m p l e x p roj ectos, su bsist i n d o só n a i d é a , e q u e a experi e n cia n ã o tem a i n da fel i ci ta d o ,
n ã o são tã o d i g n o s d e propor-se, e p ersu a d i r-se, c o m o a q u e l l es , cuja e x p e ri e n cia t e m
ja fo rm a d o os principaes interesses d a s resp u b l icas, q u e os a b ra çarã o . Ex a q u i t o d o o
o bj ecto da m i n h a p resente disserta çã o.
CAPITU LLO 2
M ostrar as exce l l e n cias da agri cultura p o r argu m e n tos i ntri nsecos; p ro c u rar a sua
origem n os tempos mais rem ottos; e o s e u progresso, descreve r h u ma h i storia exacta a
este respeito; faria h u m a vasta e vo l u m moza materia; eu n ã o q u ero exte n d er- m e n 'esta
parte, n e m ca n çar- m e em fazer ver, q u e a agri cultura hé a p ri m e i ra de todas as artes, a
mais n o bre, q u e faz h o n ra ao espi rita h u m a n o , a baze do commerci o , sustentacol o das
n a ço e n s ; isto hé com m u m m e n t e s a b i d o p o r todos. E p rovera a Deos, que ta nto fosse
371
FERNANDO DE SOUSA
executa da a arte, como h é conhecida a sua exce l l e n ci a ; e por isso n ' este c a p i t u l o d i re i
p o u cas couzas e s ó tanto q u a nto possa servi r d e prefacção a presente m e m o r i a , q u e
p r i n c i p a l m ente versa sobre a agri cultura.
H é p o i s esta , u za n d o das express oens d e m o n s i e u r D u h a m e l , huma s c i e n c i a ,
q u e n os e n s i n a a bem cul tivar as terras, para d ' e l las t i rar os p ro d u ctos possíveis: como
as prod ucçoens da te rra são o bem m a i s rea l , e fu n d a m e n to mais sol i d o dos Esta dos,
segue-se que a te rra b e m , o u mal co n d i ci o n a d a , as o p erações d 'agri c u l t u ra bem, o u mal
d i rigidas decidem da r i q u eza , o u i n d i gencia d os cidadaons.
Os a n t i gos patriarchas e m n e n h u ma o utra couza punhão a o p u l e n cia dos seus
patri m ó n i os q u e nas terra s , d e q u e se n utrião e l l es , e os seus gra n d es reba n h os. Logo
n o pri n c i p i o d o mundo, Ca i m cultivava as terras. Abel a pascentava os ga dos, ta l foi a
occupação d ' lsac, e outros san ctos patriarchas. E ntre o paga n i s m o o i n vento d 'agri c u l t u ra
era attri b u i d o aos d e oses, p o l i t i ca com q u e fazi ã o respeitave is, e san ctas as couzas uteis
a o b e m p u b l i co. Ass i m ve mos, q u e os G regos refferião a Ceres, e Tripto l e m o s e u fi l h o a
origem da cultura dos ca mpos; os egypcios a Osiris; os ita l ianos a Saturn o, ou a jano seu rei .
Os p r i m e i ros h o m e n s t i n hã o h u m a p ractica m u ito perfeita nas couzas d o ca m p o ,
como nos consta p e l os a n naes, q u e nos restão dos antigos egypci os. Os patriarchas
s a b i ã o b e m a arte d 'agri cultura, pecuaria, e das terras.
Ro m u l o fas su bsist i r o b o m regi men d ' h u m a rep u b l ica n ova na boa a d m i n istra ção
d a s terras, que d i v i d i o p e l a s fa m i l i a s . Para reprezentar i sto m a i s sagra d o , e l ége d oze
sacerdotes com o nome d e Arva l l es d e Arva , dest i n a dos a offere cer a o s d e oses a s
p r i m i cias da te rra e a rogar- l h es col h eitas a b u n da n tes. Nos d i n h e i ros esta m pavã o h u m
carn e i ro , o u b ô i c o m o sym b o l o d a o p u l e n ci a , e d a q u i traz a a hy m o l ogia o n o m e d e
p e cu n i a . Pod e d i zer-se q u e o i m p erio rom a n o n u n ca fo i verd a d e i ra m ente gra n d e , q u e
q u a n d o s o u b e contentar-se d os seus p roprios l egumes, e m istu rar n a magistratura , e n a
m i l i cia os cu i d a d os da lavoura.
O espírito d e co n q u i sta d o m i n a nte n ' esta n a çã o fez perder a a n t i ga d i g n i d a d e
d ' estas b e i Jas, e paci f i cas ocupacçoens, d e i x a n d o n a s m a o n s d o s escravos a a gri c u l t u ra
d os cam pos.
A i n u n dação dos barbaros, motivou n a agri cultura huma gra n d e d e ca d e n ci a p e l o
i n fe l i z axioma esta b e l e c i d o entre e l l es: q u e t u d o o q u e n ã o e r a m i l i ci a , e r a h u m acto d e
re n u n ci a çã o à glória, e p re e m i n en c i a . A razã o d e n a o fazerem o s a th e n i enses s e n d o tã o
i n stru i d os, m a i o res p rogressos n 'agri cultura, era p o rq u e se entregavã o mais à i ma g i n a çã o
e s u b t i l ezas de espirita. O s magistra dos tra nspo rtavã o d ' o utros paizes os viveres p e l o
m a r. E l l es t o d o s s e p u l tavã o n a s p o e z i a s , orator i a s , m e d i ci n a s , f i l oso p h i a s, e t c .
D e m oravã o-se nos theatros e m corrigir as s u a s traged ias, e nas praças as gra m maticas,
e erros d os seus reth ori cos, a b a n d o n a n d o para os escravos a agricultura. Com tudo a i n da
t i n h ã o l e i s sau dave is a este respeito, como a q u e l l as em q u e proh i b i ã o com pena d e
m o rte t u d o o q u e s e o p p u n h a a o s e u p rogress o . O b o i d e st i n a d o p a ra o ara d o , n e m
a i nda e m sacri f 1 c i o p o d i a s e r m o rto; e d e ixarão regras para h u m a b o a agri cultura, como
a f f i rma Ci cero.
N ' h uma palavra , a agri cultura que s ustenta o h o m e m , e o corpo p o l i t i co por ser
a m ã i d e to das as artes e d o comm erci o , d eve re p u tar-se a mais exce l l ente d e to das as
ocupacçoens d a vida, nada mais d igo a este res peito , as l uzes d o sol patte nteão-se por
s i mesmo, va mos a o p ri n ci p a l .
372
UMA DESCRIÇÃO DE TRÃS-05-MONTES POR jOSE ANTÓNIO DE SA
C A P I T U L L O 3
P o r q u e se dá s ó a i d éa g e ra l da p rov i n c i a d e T r a s os M o n t e s
C A P I T U L L O 4
Situação
CA P I T U L L O 5
D i v i z ã o d a p rov i n c i a
373
FERNANDO DE SOUSA
exce l l e n tissi mo con d e d e Sam payo. Consta d e q uatro correiçoens, M i ra n d a , Braga nça,
M o n co rvo , Vila Rea l . As vil/as, q u e l h es são sogeitas, se co n h ecem n o segu inte mapa.
As v i l / a s con fi n a ntes com G a l iza e Caste l l a , q u e tem fo rta l ezas, são a s segui ntes:
3 74
UMA DESCRIÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR jOSE ANTÓNIO DE SÁ
M u itos rios regã o esta prov í n c i a , e i n f i n itos regatos. Os m a i s concid erave i s são os
segui ntes: Angu e i ra . Alved r i n h a , Azi b o , Beça , Corgo, Ca l d o , Calvo, D o u ro . Ferve n ça , Fri o .
Fresn o . Lobos. Mação, Mente, P i n h ã o , Ra baça l , Sa bor, Ta mega , T i n h e l a , T u a , Tue l l a ,
V i l l a riça, Vel larva . zacharias.
Tem m u itas fon tes a b u n d a ntes e d e h u m exce l lente gosto. H u ma gra n d e e
fa m oza fonte da v i l l a de V i n h a es affi rmasse ser a m e l h o r de Tras os M o ntes; p o r m a i s
q u e se b e b a n u n ca offe n d e o estomago, e faci l ita a expu lsão das arêas. e p e d ra . Tem
q u a renta e trez fontes de agoas m e d i c i naes. E as agoas de m u itos rios são u t i l i s s i m a s
p a r a b a n hos.
CA P I T U L L O 6
Do g e n i o , e costu m es
superstição
vestido
375
FER NANDO DE SO USA
As m u l h eres e s co n d e m -s e d os h o m e n s , p r i n c i p a l m e n t e e m Braga n ça ; n ã o
fa l i a m s e n ã o a s pessoas m u ito chegadas em parentesco de sorte q u e a i n da en tre cazas
a m i cissimas as s e n h oras não se co m m u n i cã o com os h o m e n s . Não a p parecem nas
j a n elas; esco n d e m -se d e tráz de rotulas a perta d issi mas, que a b rem para o l har m u ito
p o u co, e com m u ita cautella e se, os h o m e n s ven do-as, se não ret i rã o , são re p utadas
i n h o n estas.
Gentes do campo
A g e n t e d o c a m p o hé m u i to i m p o l i d a e i g n o r a n t e ; a m a i o r parte n ã o s a b e m
l er n e m escrever, s ã o p o b res, n e m co l h e m mu ito p ã o para s i , n ã o obsta nte tra b a l h are m
todo o a n n o . N ' a l g u m a s a l d ê a s n ã o traze m çapatos, n e m bottas, uza m d ' h u m a p e l l e
a q u e chamão a barcas. Isto m u i to p r i n c i p a l mente s e o bserva J U n to a raya de Caste l l a ,
c o m o e m M o ntezi n h o , Cova d e L u a , Pet i sq u e i ra , G ua d ra m i l , etc . , a o n d e os lavra d o res sã o
m u 1 to p o b res, est u p i d os, e i g n o ra n tes. De n o ite n ã o se a l l u m i ã o com azeite; e q u a n d o
n e cessitão d e l u z uzão d e paos secos. Para as m u l h eres fazerem d e n o i te serã o , fazem
h u m a f i nta para o azeite, e se J U ntã o , n 'h u ma caza em que tra b a l h ã o , a que d ã o o n o m e
d e f 1 a d e i ro.
C A P I T U L L O 7
Industria
3 76
UMA DESCR IÇÃO OE TRÁS-OS-MONTES POR jOSE ANTÓNIO OE SÀ
CA P I T U L L O 8
Da fa b r i ca d e s e d a s
377
FERNANDO DE SOUSA
CA P I T U L L O 9
H i sto r i a da fa b r i c a d e s e d a s d e B raga n ça e C h ac i m
378
UMA DESCRIÇÃO OE TRÁS-OS-MONTES POR JOSÉ ANTONIO DE SÁ
Ao u z o d a s p e l u ça s em P o r t u g a l d eve a fa b r i ca t o d a a s u a resta u ra çã o ,
a p p l i carão-se o s fa brica ntes a este gen ero d e ma n u factu ra e a i n d ustria s e resta b e l eceo.
Pore m , o que h é l a m e n tave l , tornarã o a a b uzar d a s u a fe l i ci d a d e , d a m n i f i ca rã o a s
m a n ufacturas d e forma , q u e s e n d o a l iás est i maveis, as p ozerã o e m esta d o d e n i ng u é m
as q u e rer, e d e l h es ser o co n s u m o d i fficultozo. S e n d o a sua d e c a d e n c i a m u ito m a i o r d o
q u e a n tes t i n h a s i d o . A p o b reza torn o u a i n f i l i citar i n f i n ita g e n t e d e a m bos os sexos;
porque n ã o só a arte d e tecer, mas a d e d o bar, de que se sustentão as m u l h eres p e n d e
do con s u m m o d a s m a n u facturas. M uitas fa m i l ias d esampararão a c i d a d e p o r l h es fa ltar
d e que v i ver; e u m e s m o m e l e m b ro d e ver fa b r i c a n tes h u m i l h a d os a os h o m e n s d e
n e g o c i o p e d i n d o c o m a s m a o n s posta s, s e d a s para t ra b a l h a rem; p ro p o n d o - l h e s a
m izeri a , e n e cessi d a d e em q u e vivião e l l es, e a sua fa m i l i a a q u e n ã o p o d i ã o atte n d e r
p e l o l i m ita do consu m m o das fazen das.
Ex a q u i pois o esta d o e m que se achava a fa brica d e Braga n ça q u a n d o e m 1 7 7 3
e 1 7 7 4 o gra n d e n egociante J o ã o Anto n i o Lopes Fern a n d es p ô z n ' e l l a o s o l h os c o m a
m a i o r efficacia. Este h o m e m hé h u m suj eito m u ito agi! e i n d ustriozo; e certa m e n te o
pri m e i ro , q u e tem a p pareci d o em Braga n ça capaz de fazer v i v i f i car a fa brica, e i n d ustr i a ,
p e l o s b o n s co n h e c i m e ntos, q u e t e m d a s s e d a s , e d a s m a n u fa c t u ra s , v i g i l a n c i a n os
teares; e em todo este gen ero de commerci o . Hé p o r conse q u e n cia h u m m e m b ro d a
soci e d a d e u t i l i s s i m o ; n ã o só a Braga nça; m a s a t o d o o Re i n o .
A i n d a q u e , d e s d e o t e m p o d o terre moto, este h o m e m teve a l g u n s teá res p o r
s u a conta; cujas m a n u factu ras s e m p re se d i st i ngu i rã o d a s o u tras, c o m t u d o só e n t ro u
a fazer-se m a i s co n h ecer e m 1 7 7 3 e 1 7 7 4 . N este t e m p o fez l eva ntar todos q u a ntos
teares se achavão d e c a h i d os; e m a n d o u fazer p o r sua conta m u i tos d e n ovo; p o n d o em
acção os fa bri cantes a ba n d o n a d os , e i n stiga n d o o utros, a que a p re n d essem o offici o ,
e n s i n a n d o - l hes o m o d o d e fa b r i carem ta fetás, q u e a t h é e n t ã o l h es e r a desco n h e c i d o .
Faz co n d uzir da rea l fa brica desta corte h u m perito, e experi m e nta d o t i n t u re i ro . E d i f i ca
d o u s t i n tos h u m só de preto, e outro das mais cores, em q u e se t i nge m u ito perfe i
ta mente: Faz tra ba l har p e l u ças da m e l h o r q u a l i d a d e e d ' h u m gra n d e co n s u m m o ; m u i tas
ta fetás, a l gu mas n o b rezas , setins exce l l e ntes, que m u i tos os q u erem com p re fere n c i a aos
d e lta l i a . Estas o b ras são todas m u ito perfeitas, para o que con corre a gra n d e e co n t i n u a
vigi l a n cia q u e o d i to n egoci a n t e t e m , vigi a n d o os teares e d a n d o todas as prov i d e n cias
para evitar o a b uzo: Ex aqui porque estas m a n u factu ras tem gra n d e co n s u m m o , para
to das as partes d o Re i n o , e m e s m o p a ra as A m e r i cas; para o que conco rreo m u i to a
l i b erda d e da extracção sem pagar d i reitos con ced ida as m a n u facturas de sedas do Re i n o
p e l o S e n h o r R e i D . J o s é I , d e s a u d oza m e m o r i a n o s s e u s rea es d e cretos d e 2 d e A b r i l
de 1 7 5 7 e de 2 4 d e O u t u b ro d o mesmo a n n o . Suste nta J o ã o Anto n i o Lopes Fern a n des
cento e o i to teares; s e n d o o maior n u m ero d e tafetás; e m q u e con s o m m e todos os a n n os
o i to m i l arrateis de seda, a q u a l hé d 'lta l i a q uazi toda p o r ser a da p rov i n ci a m u i to m a l
f i a d a ; e p o r i s s o s e s uj e ita a o r i s c o d e t o d a esta q u a n t i a . Isto s e n d o a prov i n ci a t ã o
a b u n d a n te d e s e d a , q u e c o l h e regu l a r m e n t e v i n t e m i l a r r a t e i s d e s e d a f i n a e o u tros
ta n tos d e seda mach a , e red o n d a .
O resto d os teáres sã o d i v i d i d os p o r mais trez o u q uatro negociantes, q u e todos
n ã o fazem o n u mero dos que sustenta João Anto n i o Lopes.
Esta fa brica com tudo n ã o esta n d o d e b a i x o d ' i nspecçã o p u b l i ca a m eaça m u ito
b revemente a sua decadencia; e p o r isso d evia estar nas vistas d ' h u m conserva d o r, q u e
fosse recto, faze n d o marcar as m a n u facturas, q u a l i fi c a n d o-as, i m p e d i n d o os fu rtos, q u e
Já s e faze m basta ntes n a s sedas, e d a n d o outras p rovi d e n cias congruentes a este fi m .
379
FER NANDO OE SOUSA
C A P I T U L L O 1 0
D o s m e t h o d o s q u e e m B ra g a n ça u z ã o o s fa b r i ca n t e s d e s e d a s
Tafétás dobletes
Tafetás ligeiros
380
UMA DESCRIÇÃO DE TRAS-OS-MONTES POR jOSE A NTÓNIO DE SA
Setins
M a n tos
Pel u ças
CA P I T U L L O 1 1
S o b re o s m et h o d o s d e fi a r a s e d a e m Tras o s M o n t es
Parece-me con gru ente tractar n ' este l ugar o methodo de q u e uzão em Tras os
M ontes; para fiar a seda o q u e faz h u m a a d d i çã o ao capitu l o da fa brica de sedas. Logo
que o cap i l h o está fo rmado p e l o b i c h o , o poem ao sol; afim d e q u e m o rra d ' entro no
cas u l o; a l iás nasceria; e por isso só excl u e m d ' i sto a q u e l l e s ca p i l h os , que se dest i n ã o para
semente. D e p o i s tem h u m enge n h o , a que chamão carri l h o , que consta d ' h u m forn i l h o ,
p o r s i m a do q u a l está h u m tach o , em q u e se l a n ça agoa, e o s ca p i l h os para se cozerem ;
t e m d u a s co lheres d e ferro de q uatro, ou sinco pol egadas de gra n d eza , com h u m b u raco
no s i m o , em q u e se u n e m as ba bas d os c a p i l hos, q u e fo rmão o f i o , o q u a l passa a h u ma
38 1
FERNANDO DE SOUSA
CA P I T U L L O 1 2
D ' a g r i c u l t u ra
Os capitulas anteri ores estão mesmo i n d i ca n d o qual seja a agri cultura na prov i n ci a
d e Tras os Montes. O ge n i o , os costumes, as preoccu paçoens d 'este p a i z fazem conj e cturar
que ella está na d e c a d e n cia e i n fa n cia mais m i zerave l .
H u m terre n o fertil issim o q u e m ostraria bem depressa o s e ffeitos d 'arte Jáz debaixo
d e m e th o d os arb itrarias; q u e sem sci e n cia p rescreverã o os m a i ores, e que effi cázm ente
exe c u t ã o os p reze ntes. H á m u i ta s terras i n c u ltas, que senão attreve m a ro m p e r c o m
o ara d o ; porq ue ta m b e m o n ã o fizerão os pri m e i ros. Os i nstru m entos aratorios são
i m perfe i tos, as terras m a l p reparadas, as sementes sem escô l h a ; as co l h eitas e
s e m e n t e i ras sem m e l h o r regi m e n ; n ' h u m a palavra q u azi t u d o n ' h u m a i n fe l i z situação.
Para m e l h o r d e s crever a a gri c u l t u r a d e T r a s os M o n t e s , p r o ce d e n d o c o m o rd e m ,
fa l l a re m os das suas pro d u cçoens e m gera l , d a ferti l i d a d e d o terre n o , dos methodos dos
que uzã o . das ca uzas da sua i n fa n c i a , e h u m p roj ecto para a sua reforma.
CA P I T U L L O 1 3
D a s p ro d u c ç o e n s da p rov i n c i a
382
UMA DESCRIÇÃO DE TRAS-OS-MONTES POR jOSE A NTÓNIO DE SÃ
383
FER NANDO DE SOUSA
lavra d o res fazem sua creação d e bôis , machos, m u l las, etc. e a ca uza ta m b e m d e se
a p p l i carem a este negocio, h é por serem p o b ri ss i m os e não terem extracção os seus
paens. Em te rra d e Braga n ça mais alguma couza se c u i da na c a u d e l laria; mas a i n d a está
em m u ita d e c a d e n c i a .
E m Barrozo, d u as l egoas d i stantes d e Ch aves, p raça d e t r o p a d e cava l l o , h ave n d o
gra n d e com m o d i d a d e e pástos p a r a h u ma d a s m e l h ores ca u d e l l arias d o Re i n o , n a d a
i n t e i ra m e n t e se c u i d a n ' i sto . Estes s i t i os a b u n d ã o , ta nto e m erva s , q u e d ã o i n f i n ita
ma nteiga para a prov i n c i a , e ainda para o M i n ho; porem a fa lta de meth o d o faz com q u e
e l l a n ã o seja t ã o b o a c o m o a d o n orte, n e m fazem a dé cima parte q u e p o d i ã o fazer, s e
tivessem p ra d os art i f i c i a es.
N esta s m o n t a n h a s d e Barrozo se cri ã o a s m e l h o res q u a l i d a d e s d e b ô i s , q u e
ve n d e m e m n ovi l h os para a m a i o r parte do Re i n o ; e a i n d a podia haver m u itos m a i s .
N estes sitios h é ta l o descu i d o , q u e há va l l es c o m o compri m e n to d ' h u m a legoa , sem
a l g u m genero d 'agri c u l t u ra .
A s carnes d e porco s ã o d ' h u m gosto esp ecia liss i m o , sustentá d os de casta n h a ,
bol ota , fa re l l os, e ervas. C o m t u d o não salgã o b e m as carnes; p o rq u e o s a l h é carissi m o ,
m u itas vezes se ve n d e o a l q u e i re a quatro centos e oitenta re is; daq u i succede serem
mesq u i n h os em sa lgarem as carnes, que m u i tas vezes em paiz q u ente n ã o a t u rã o h u m
a n n o s e m corru pçã o .
Para as partes de Chaves, e da Vil lariça se col h e a b u n d a n cia d e a z e i t e , d e q u e
extra h e m o s caste l h a n os gra n d e p o r ç ã o ; ass i m como ta m b e m d e v i n h os. Na V i l lariça se
co l h e o c a n e m o em a b u n d a n c i a ; e estes campos são h u ma p l a n i c i e naturalissima a tod o
o gen ero de prod u cçoens.
C o m o n ã o t e n h o huma i d éa ta l da p rovi n c i a d e Tras os Mo ntes que possa dar
hum mapa perfeito das suas p rod ucçoens, o q u e prometto fazer para a p erfe i çoar esta
m e m o r i a , q u a n d o me reco l h e r a e l l a , restringir-me-ei tão s ó m e nte a d a - l o do conce l h o
d e Chaves . Visto q u e este h é dos mais ferteis da p rov i n c i a ; e d ' e l l e se p ó d e t i ra r h u m a
i d éa para o m a i s resto d ' e l l a .
CA P I T U L L O 1 4
Do concel h o de Chaves
384
�
� M A PA DAS P R I N C I PAES PRO D U CÇOENS D O CONÇELHO DE CHAVES, COLHEITA, PREÇO, E EXTRACÇÃO DAS MESMAS,
C OM A ENTRADA E SAH I D A DO DI NHEIRO E SUAS CA U ZA S
PREÇOS SOMMA D O S OM M A D O S OM M A D A
PRODUCÇOENS C O L H E I TA CONSUMMO EXTRAC Ç Ã O
I ORDINARIOS E M P O RT E CONSUMMO EXTRAC Ç Ã O
- -
w I Totalidade . . . . . . . ..... . . . . . . . . . . . . . . . 1 5 0 6 . 1 84.000 457.55 2.000 I 48.632.000
CX>
V1
FERNANDO DE SOUSA
E N T R A D A D O DI N H E I RO PA R A O C O N C E L H O
386
Ufv!A DESCR IÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR JOSÉ ANTÓNIO DE SA
SA H I D A D O D I N H E I RO PA R A FO R A DO C O N C E L H O
C A U ZA S D ' E LLA S O M M A
A l fa n d ega 4 .600.000
Abbadias 4 4 0.000.000
De T resminas 60.000
Nogu e i ra 200.000
387
FER NANDO DE SOUSA
CA P I T U L L O 1 5
S o b re o s m et h o d o s , q u e uzão o s l av ra d o re s
n a p rov i n d a d e Tras o s M o nt e s
CA P I T U L L O 1 6
CA P I T U L L O 1 7
S o b re o s estr u m es
Os estrumes, e m i sturas d e terras, couza tão esse ncial para a fert i l i d a d e , estã o
s e m ord e m na prov i n ci a . Uzão de estrumes das cava l lariças, c u rraes, ga d o , e de l a m a ;
a dvert i n d o q u e n ã o se cançã o e m co n h ecer q u a l h é o mais p ro p r i o a este. o u a q u e l l e
terre n o , e a dvers i d a d e d e p rod u cçoens i n t e i ra m ente i g n o rã o a m i st u ra d a s a rgi llas, c a l ,
gre d a , c i n zas, etc; n e m sobre isto fazem a m i n i ma experi e n c i a .
Adverti n d o q u e há e m d i versas partes m u i tos ba rros, e d e exce l l e nte q u a l i da d e ,
e d i versas cores, cuja profu n d i da d e sem pre h é a m enos d e o i to p éz. Para os a l h os, uzão
algumas vezes d e cinza, e para os outros s i m i l h a n tes prod u ctos; d e baga çã o uzão para
as v i n has só; p r i n c i p a l m e nte terra de l o m b a d a .
D e t o d a a q u a l i da d e d e matto, mas p r i n c i p a l mente d e tôj o fo rmão os l avra d o res
os estrumes; depois d e corta d o , o poem n os ca m i n h os p u b l i cos, para que sej a pizado, e
q uazi sem pre de pla ntas seccas. Não uzão do meth o d o de estrumar as terras com as
plantas produzidas n o mesmo terreno, enterrand o-as a ntes d e florecere m . Nem o bservão
p ro p o rçã o na q ua n t i d a d e , mas estrumão co n forme o esterco que tem; p o rq u e a fa l ta d e
ga dos faz com q u e haja m u i to p o u cos estrumes. Algumas semanas a ntes d e s e m eare m
o rd i na r i a m e nte hé q u e cost um ão estru mar, espa l h ã o l ogo o s estercos, e só p o r fa lta d e
t e m p o h é q u e o s t e m e m montã o n a s terras. Porem n 'algu mas partes os d e m o rã o
388
UMA DESCRIÇÃO DE TRÃS-OS-MONTES POR JOSÉ ANTÓNIO DE SÃ
CA P I T U L L O 1 8
Da l av o u ra ; p r i n c i p a l m e n t e d o grã o
389
FERNANDO DE SOUSA
CA P I T U L L O 1 9
Dos l i nhos
CA P I T U L L O 2 0
Das vinhas
390
UMA DESCRIÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR jOSE ANTÓNIO DE SÁ
CA P I T U L L O 2 1
D a s O l i ve i ra s
A s o l ivei ras cri a m -se n o m e l h o r terre n o , costu mão pla ntar-se d e esta cas grossas;
n o tempo d ' i nvern o . Em a lgumas partes as lavrã o todos os a n n os, o u a o m e n os d e d o u s
e m d o u s . Cost u m ã o t i rar os ra mos seccos e l i m pa - las. Na varej a da azeito n a se d estro e m
m u itas vezes varas d e o l ive i ra s exce l l entes. A s o l iveiras, n e m d ã o igu a l m ente azeitona
todos os a n n os. Carregã o m u ito e m hum, e que chamão safra , e n o segu i nte d ã o m u ito
pouco. As azeitonas verdeaes carregão; porem algumas vezes faltão de todo. As aza m b ujas
produzem mais azeite que todas, e costumão carregar m u i to; p o re m como são m uito
m e u da s não são tã o boas; e por isso d e todos prefere m os e n xertos. A s e i fa d o azeite
d u ra d e s d e Feverei ro athé Mayo . Cost u m ã o a pa n har a azeito n a m u l h e res que ga n h ã o
4 0 reis; o s h o m e n s q u e varej ã o ga n h ã o 8 0 reis. O m o d o d e fa bricar o azeite h é c o m p o u ca
d i ffere n ça das mais partes de Portuga l .
CA P I T U L L O 2 2
D o s casta n h e i ro s
CA P I T U L L O 23
D a s a m o re i ra s
391
FER NANDO DE SOUSA
fazem alguma o utra agri cultura , excepto o l i m pa-las d'algum esga l h o secco. Costu m ã o
co l h e r a fol h a d e m a n h ã ; mas d e p o i s d o sol para as e n xugar d o orva l h o da noite porq u e
a l i á s s ã o n o civas a o s i rgo. E x a q u i porq u e q u a n d o ch ove col h e m só a m u ita p reciza, q u e
igua l m e n t e enxugão.
CA P I T U L L O 2 4
D a s a rvo re s s i l v e s t r e s
CA P I T U L L O 2 5
D o s pa sto s
C A P I T U L L O 2 6
D o s ga d o s
392
UMA DESCR IÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR JOSÉ A NTONIO DE SÃ
CA P I T U L L O 2 7
Das abelhas
CA P I T U L L O 2 8
O b s e r va çã o d o m o nte d e M o nt e z i n h o
393
FER NANDO DE SOUSA
394
UMA DESCRIÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES POR jOSE ANTONIO DE SÁ
CA P I T U L LO 2 9
D o l u ga r d e M o n t e z i n h o
E m o baixo d este monte q uasi duas l egoas d e Cova d e Lua está situado o l ugar
de M ontezi n h o hum q uarto d e l egoa d ista nte da raya . Contém 22 morad o res, gente a
mais rusti ca, com q u e t e n h o co m m u n i ca d o . Pasmão, e se a ffligem e m ver gente d a
cidade; p o rq u e j u lgã o q u e l h es vão fazer m a l . H u m h o m e m a q u e m p rocu rava , p a r a d e l i e
s a b e r a l gumas cousas, se esco n d e o a p ressad a m e nte d e n tro em h u m forn o , e n t e n d e n d o
ser j u st i ça para p re n d e l l o.
Este l u g a r a c h a - s e ro d e a d o d e h u m a c a d ê i a d e m o n t e s , e h e m u i t o p o u co
cultiva d o , hé frigi d iss i m o , co l h e m pouco pão. Não tem n e n h u m a s vin has abso l u ta m ente;
as q u e poss u e m , estã o e m o l ugar d e Fra n ça , d i sta nte h u m a l egoa. H e b e m verd a d e , q u e
se sou bessem a arte da agricu ltura , n ã o estarião n a q u e l l a i n d igencia, n e m p recisarião
d ever a o l ugar d e Fra n ça toda a co l h e ita d o seu v i n h o .
Na sa h i da d o l ugar para a parte da raya se a c h ã o m u i tos b a n cos d e cantarias, com
d i versos veios d e larg u ra d e hum dedo, cuja materia h é s u l fu rea. Subi a hum o u t e i ro , a
q u e cha m ã o Lo m b o da M i n a , o q u a l , n ã o o bsta nte ter boa terra , p o u cas fragas, n ã o h e
a bsol uta m ente cultivado; p o d e n d o m u ito b e m s e r plantado de v i n has, o u d e p a m ; s e n d o
p e rg u n ta d os d a c a u s a d o s e u d es c u i d o , res p o n d e m q u e os s e u s m a i o r e s n u n c a o
cul tivarã o , e q u e o m u ito fri o o n ã o permittia.
No alto do monte, aonde se divide Portuga l de Castella, se acha h u m p rofu n d issi mo
fôsso, q u e se conhece ser feito artifici a l m ente; n ã o consta q u e pessoa a l g u m a t e n h a l á
d e s c i d o . Desej ava entrar n e l l e ; mas n ã o h a v i a co m m o d i d a d e , p o r q u e se n e cessitavã o
sari l hos, cordas, etc., d e q u e n ã o h i a p recav i d o .
A b o c a h e em figu ra de para l l e l ogramo, tem de com primento 2 0 pa l m os. As pedras,
que se l a n çava m d e s i m a , m ostravão h u m a p rofu n d i d a d e n o tave l , p o rq u e s e o u v i ã o
ca h i r p o r m u ito t e m p o . Os rusticos affirmão q u e tem mais d e 3 0 varas d e a l t u ra ; e se
pers u a d e m que n o fu n d o ha cazas, e salas, e m que dormião, e h a b itavão os m o u ros, e
q u e a l l i perma n ecem e n ca n ta d os. j u n to a e l l e se acha h u m p e q u e n o fôsso a b e rto h á
p o u cos a n nos com o dest i n o d e averiguar, se existia a l l i a lguma m i n a , q u e deixarão d e
tra balhar n ã o l h e s a h i n d o , se n ã o pedra. N a d a m a i s averiguei e m M o n tezi n h o .
CA P I T U L L O 3 0
395
FER NA NDO DE SOUSA
CA P I T U L L O 3 1
D a v i l l a d e C h ac i m
396
UMA DESCRIÇÃO DE TRÃS-OS-MONTES POR JOSÉ A NTÓNIO DE SÃ
CA P I T U L L O 3 2
concluzão
CA P I T U L L O 3 3
397
FERNANDO DE SOUSA
constituiçã o dos lavra d ores, do gen i o , e i n d o l e dos povos do seu governo, com m e rcio, e
a d m i n istração . As fizicas são a q u e l las, q u e o bstã o i m m ed iata mente; isto h é , q u e i n f l u e m
n a vegeta çã o, e nascem da ignorancia da a r t e d'agricu ltar as terras.
As ca u zas m oraes sã o:
CA P I T U L L O 3 4
P roj e cto d e re fo r m a
Portanto mostrare i :
398
UMA DESCRIÇÃO DE TRÃS-OS-MONTES POR JOSE A NTÓNIO DE SA
399