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RESENDE, Viviane de Melo. Análise discursiva de uma circular de condomínio. Rev.

Brasileira de Lingüística Aplicada, v. 8, n. 1, 2008

A naturalização da miséria contemporânea: análise discursiva crítica de uma


circular de condomínio é um trabalho escrito por Viviane de Melo Resende
(Universidade de Brasília – UnB) e publicado na Rev. Brasileira de Linguística Aplicada
no ano de 2008 e versa sobre a Análise Crítica do Discurso aplicada a uma circular de um
condomínio fechado em Brasília – DF – que trata sobre a permanência de um grupo de
pessoas em situação de rua que estão “residindo” próximo do condomínio e de
estabelecimentos comerciais da região, o que gerou pauta para a referida reunião,
inclusive com representantes de algumas autoridades da cidade.
O objetivo da autora foi então discutir a naturalização da miséria em sociedades
contemporâneas partindo do pressuposto de que há uma internalização de discursos
hegemônicos que operam para o apagamento de direitos básicos. A hipótese inicial da
autora é de que isso acontece pelo fato de que esses discursos se repetem em diferentes
ambientes institucionais em diferentes tipos de textos.
O trabalho foi dividido em quatro seções: Análise de Discurso Crítica como ferramenta
para análise de problemas sociais; A precariedade social e a situação de rua. O problema:
o grupo de pessoas em situação de rua, o condomínio e a circular. Por fim apresentação
de categoria analítica e análise
Na primeira seção a autora vai dizer que a Análise de Discurso Crítica é um corpo
teórico da linguagem na modernidade que apresenta um “foco específico nos modos como
a linguagem figura na vida social e um conjunto de métodos para a análise linguística de
dados empíricos, entendendo o texto – em sentido amplo: escrito, oral, visual – como
unidade mínima de análise (WODAK, 2003).” Tomando como foco de interesse
específico Norman Fairclough que, segundo a autora, defende uma articulação entre a
linguística e a ciência social crítica.
Na segunda, Resende discorre sobre os problemas sociais no que se refere as
pessoas em situação de rua em que enfatiza que a classificação de como essas pessoas
agem é essência, pois discursos que falam de pessoas “sem-teto” ou “meninos de rua”
terminam por naturalizar essa situação como permanentes, já que elas são e não estão
nessa situação. Irá versar também sobre as desigualdades sociais bem como a falta de
políticas públicas que ponham luz sobre a questão ou que tentem de alguma maneira
buscar uma espécie de solução para o assunto.
Na terceira, ela faz uma contextualização da área onde se encontra o condomínio
e os comércios locais e onde as pessoas em situação de rua passaram a ficar.
Na quarta e última ela apresenta as categorias de analise e a analise propriamente dita dos
dados; na primeira parte ela vai dizer que Fairclough (2005) distingue pré-generos de
gêneros situados, em que o primeiro se refere a categorias mais abstratas que transcendem
redes particulares de práticas sociais que estão de alguma forma participando na
composição de diversos gêneros situados (narrativa, argumentação descrição e
conversação são alguns deles). Os segundos são categorias concretas, utilizadas para
definir gêneros que são específicos de uma rede de prática particular, como a circular de
condomínio.
Já na análise a autora diz que a utilização dos verbos no passado se referindo a
presença de autoridades do governo do Distrito Federal funciona como argumento de
autoridade para legitimar as posturas ali tomadas. E embora o trecho citado se refira a
uma narração, o pré-gênero predominante é a argumentação, que assume a aparência de
troca de informações, já que a base subjetiva dos argumentos não é explicitada; o texto
do circular é predominantemente categórico.
Em uma segunda parte do texto analisado a autora afirma que é clara a
pressuposição de que as pessoas em situação de rua são oportunistas pois há a aparente
ideia de que sua situação é “fácil”; e perigosas pelo fato de haverem ex-presidiários entre
eles o que já revela um preconceito para com as pessoas egressas do sistema carcerário.
No trecho do circular há ainda segundo a autora uma espécie de miopia social e
uma espécie de justificativa ao passo que quem redigiu o documento utiliza a frase não é
falta de humanidade para justificar o pedido de que os moradores não deem comida ou
dinheiro aos moradores de rua pois com fins a dificultar a permanência do grupo na
região. No documento há ainda a menção de que é de responsabilidade dos próprios
moradores o fato dessas pessoas estarem ocupando o espaço. Essa declaração para a
autora reflete unicamente uma responsabilização de incomodo por eles estarem ali e não
uma responsabilização mobilizadora que poderia levar a um movimento em favor dos
direitos da pessoa em situação de rua.
A autora finaliza afirmando que aquelas pessoas são avaliadas como oportunistas
e responsáveis por sua própria situação social, o que justifica a miopia social e a
invisibilidade dessas pessoas. O documento mostra também que que a preocupação está
para o deslocamento dessas pessoas da área, porem sem levar em conta que efeitos isso a
de ter sobre essas pessoas, focalizando, portanto, apenas o efeito produzido em pessoas
de grupos socioeconomicamente incluídos.

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