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AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA E DEFORMABILIDADE DE SOLOS

MELHORADOS COM ESTACAS DE AREIA E BRITA

Paula Gracinete de O. Passos1; Raimundo Leidimar Bezerra2; Alexandre Duarte Gusmão3;


Erinaldo Hilário Cavalcante4.

RESUMO
O presente trabalho analisa o comportamento de um depósito arenoso submetido a um melhoramento com
estacas de compactação, localizado em Recife, onde estão sendo construídos dois prédios com 27 pavimentos. Foram
realizadas provas de carga sobre placas apenas nas estacas, no solo entre as estacas, e no conjunto solo mais estacas. Os
resultados permitiram uma análise da rigidez do solo, bem como do mecanismo de transferência de carga de uma
fundação assente no solo melhorado. Finalmente, apresenta-se uma metodologia para simular a curva carga-recalque de
sapatas assentes nesse solo.

ABSTRACT
This paper analyses the behavior of a sandy deposit treated with compacted piles in Recife, where it is being
constructed two 27 floors buildings. Plate bearing capacity tests were done over individual pile, in the soil between the
piles and over the complete set of piles as well. The results obtained allowed analyzes of the stiffness of the soil and
also of the mechanism of load transference to the improved soil. Finally, this paper shows one methodology to simulate
load-settlement relationship for footing over the type of soil studied.

PALAVRAS-CHAVE: estacas de compactação, provas de carga sobre placas.

INTRODUÇÃO
A técnica de melhoramento de terrenos arenosos com estacas de compactação tem sido bastante utilizada em
várias cidades nordestinas, tais como João Pessoa/PB e Recife/PE. Essa técnica tem possibilitado a adoção de fundações
superficiais em substituição às estacas convencionais que são, na maioria das vezes, muito mais caras.
Em João Pessoa, 90 % das obras de fundações têm sido projetadas em sapatas com melhoramento prévio do
solo, através da técnica de compactação com estacas de areia e brita, possibilitando o aumento, em até cinco vezes, da
tensão admissível do solo e permitindo a construção de edifícios com até trinta pavimentos.
Em Recife, essa técnica vem sendo utilizada com sucesso desde a Década de 70. Porém, poucas pesquisas têm
sido desenvolvidas para se avaliar o real comportamento geotécnico desses solos melhorados. Por se tratar de uma
técnica regional, os aspectos de projeto, execução e controle têm sido determinados com base em relações empíricas e
na própria experiência acumulada, não havendo, portanto, normalização de procedimentos.
Acredita-se que as sapatas assentes no solo melhorado comportam-se de maneira semelhante às “sapatas
estaqueadas” – termo utilizado quando o elemento de fundação é composto por uma sapata ligada a uma ou mais
estacas com o intuito de suportar os esforços de um único pilar. Porém, a análise desse tipo de fundação não é feita de
forma simples e direta, pois envolve diversos tipos de interação entre as partes constituintes do elemento de fundação.
Portanto, para explicar o comportamento desse tipo de fundação, faz-se necessária a observação do desempenho das
partes constituintes do sistema de fundação. Essa observação geralmente é feita através de ensaios em campo e/ou em
laboratório.
Os ensaios em laboratório não são rotineiramente usados nos estudos e projetos de fundações. A utilização dos
ensaios in situ está, muitas vezes, atrelada à experiência regional, sem que se leve em conta fatores importantes quanto
ao tipo de solo e às peculiaridades do ensaio.
A eficiência do melhoramento geralmente é avaliada através de ensaios in situ. Em João Pessoa, o aumento de
resistência obtido é verificado a partir de ensaios SPT (Standard Penetration Test). Em Recife, apesar do grande custo e
dificuldades de sistemas de reações que suportem grandes cargas, em alguns casos, além do SPT, utilizam-se também
provas de carga sobre placas na avaliação do terreno melhorado.
As provas de carga sobre placas servem para avaliar o desempenho de elementos isolados, bem como associados
na forma de grupo ou sapatas estaqueadas. Para isso, devem ser realizadas em diferentes posições, ou seja, entre estacas
(apenas no solo), sobre uma estaca e sobre grupos de estacas.
Diante desse contexto, este trabalho analisa o comportamento carga-recalque de um depósito arenoso submetido
a um melhoramento com estacas de areia, brita e cimento, a partir de resultados de provas de carga sobre placas.

1
Doutoranda, Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental;
2
Professor Adjunto, Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia Civil;
3
Professor Assistente, POLI/UPE e CEFET/PE;
4
Doutorando, COPPE/UFRJ; Engenheiro Civil da ATECEL/UFPB.
1
DEPÓSITO ENSAIADO
A campanha de ensaios foi realizada em um terreno na zona sul de Recife, localizado no Bairro de Boa Viagem,
onde estão sendo construídos dois edifícios, cujas sapatas foram dimensionadas para uma tensão de trabalho
permanente de 450 kPa.
Trata-se de um terreno preponderantemente arenoso, com compacidade variando de fofa a pouco compacta,
existindo uma camada de argila orgânica siltosa, de consistência muito mole a mole, entre 3 e 5 m de profundidade. O
nível d’água encontra-se a 1 m de profundidade.

EXECUÇÃO DO MELHORAMENTO
O melhoramento do terreno consistiu no uso de estacas mistas, ou seja, estacas de pó de pedra e brita 50, com
traço em volume de 3 (pó de pedra) : 1 (brita), executadas entre as cotas –9,00 m e –5,00 m. Em seguida, o tubo era
recravado até a cota –6,00 m e as estacas de argamassa com traço em volume de 1 (cimento) : 8 (areia) : 4 (brita 50)
eram executadas até o nível do terreno, conforme mostrado na Figura 1.
O processo executivo das estacas de compactação consistiu na cravação dinâmica de um tubo metálico, com 320
mm de diâmetro interno e 9 m de comprimento, de ponta fechada com bucha seca, em um processo semelhante ao da
execução de uma estaca Franki. Após a cravação do tubo, a bucha era expulsa e introduzidos o pó de pedra e a brita no
tubo. A compactação era feita através da queda livre de um martelo de 18 kN, caindo de uma altura de 3 m. À medida
que o material era compactado, o tubo ia sendo levantado até ser atingida a superfície do terreno.
As estacas foram executadas segundo uma malha quadrada de 0,80 m de lado na projeção das sapatas,
totalizando 850 estacas.

Figura 1 – Esquema das estacas de compactação.

PROVAS DE CARGA REALIZADAS


Foram realizadas várias provas de carga sobre placas após o melhoramento do solo. Destas, foram escolhidas
três (uma entre as estacas de compactação, uma sobre quatro estacas de compactação e uma sobre uma única estaca de
compactação) para simular, analiticamente, o mecanismo de transferência de cargas no solo melhorado.
Todas as provas de carga realizadas são descritas por Passos [1].
A Figura 2 mostra o comportamento da curva carga x recalque obtida do ensaio realizado com uma placa de 0,60
m de diâmetro, posicionada entre quatro estacas de compactação.

Carga (kN)
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300
0
2
E1 E2
4
6 Placa
8
Recalque (mm)

10
E3 E4
12
14
16
18
20
22
24

Figura 2 – Curva carga x recalque apenas do solo.


2
As Figuras 3 e 4 mostram o comportamento da curva obtida do ensaio com uma placa quadrada de 1m x 1m,
posicionada sobre quatro estacas de compactação e o comportamento da curva obtida do ensaio com uma placa de 0,30
m de diâmetro, posicionada sobre uma única estaca de compactação, respectivamente.

Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
0
2
4 E1 E2
6
Recalque (mm) 8 Placa
10
E3 E4
12
14
16
18
20
22
24

Figura 3 – Curva carga x recalque do solo mais estacas.

Carga (kN)
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
0
4 Placa E2

8
Recalque (mm)

12
16 E3 E4

20
24
28
32

Figura 4 – Curva carga x recalque de uma única estaca.

ANÁLISE DA RIGIDEZ
Segundo Décourt [2], a rigidez (R) de uma fundação corresponde a relação entre a carga a ela aplicada (Q) e o
recalque (S) que ela provoca, ou seja, R = Q/S. Ainda segundo o autor, para qualquer tipo de fundação, geralmente a
rigidez diminui à medida que os recalques aumentam.
As Figuras 5a e 5b mostram, respectivamente, o comportamento R (rigidez) x Q (carga aplicada) dos ensaios
realizados apenas no solo e no conjunto solo + estacas.

360
360
R=Q/S (kN/mm)

300
R=Q/S (kN/mm)

300
240 240
180 180
120 120
60 60
0 0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 0 80 160 240 320 400 480 560 640
Q (kN) Q (kN)

(a) (b)
Figura 5 – Gráfico de rigidez: (a) apenas do solo e (b) do solo + estacas.

3
As Figuras 6a e 6b mostram, respectivamente, o comportamento R (rigidez) x Q (carga aplicada) dos ensaios
realizados em uma única estaca de compactação, quando submetida a níveis de carregamento inferior (6a) e superior
(6b) a 160kN.

240 240
R=Q/S (kN/mm)

R=Q/S (kN/mm)
210 210
180 180
150 150
120 120
90 90
60 60
30 30
0 0
0 40 80 120 160 200 0 50 100 150 200 250 300 350
Q (kN) Q (kN)

(a) (b)
Figura 6 – Gráfico de rigidez da estaca: (a) para um nível de carregamento inferior a 160kN e (b) superior
a 160kN.

Observa-se das Figuras 5b e 6a que a estaca apresenta rigidez superior à rigidez do conjunto solo + estacas para
um nível de carregamento inferior a 80kN, sendo que para este carregamento, praticamente não há diferença de rigidez
entre o solo melhorado e o “elemento estrutural”. A partir daí a estaca começa a perder rigidez de uma forma acentuada,
verificando-se uma rigidez maior para o conjunto solo + estacas. Observa-se ainda que, para um nível de carregamento
em torno de 150kN, a rigidez apenas do solo (Figura 5a) e da estaca equivalem-se, ou seja, são aproximadamente iguais
a 30kN/mm, confirmando ser o conjunto solo + estacas o maior responsável pela absorção de cargas. Acredita-se que
para um nível de carregamento superior a 160kN ocorre um esmagamento da cabeça da estaca, já que ao se ensaiar
novamente a estaca, após descarregamento, observa-se, conforme mostrado na Figura 6b, rigidez praticamente nula.

METODOLOGIA PROPOSTA PARA OBTENÇÃO DA CURVA CARGA X RECALQUE DO SOLO


MELHORADO
Teixeira [3], baseando-se nas experiências de Décourt et al. [4], mostrou que o diagrama carga x recalque de
uma estaca-T, por compatibilização de recalques, corresponde à soma das parcelas de carga recebidas pela sapata e pela
estaca, sendo a sapata menos rígida do que a estaca.
Briaud & Jeanjean [5], apud Briaud & Gibbens [6], mostraram que a partir da curva normalizada tensão versus
S/B, sendo S os recalques e B a largura da fundação, pode-se obter a curva carga x recalque de uma outra fundação para
qualquer B.
Acredita-se, portanto, que se pode simular o mecanismo de transferência de carga de uma fundação de qualquer
dimensão assente no solo melhorado, a partir das curvas carga x recalque apenas do solo e apenas da estaca, conforme
sugestões de Teixeira [3] e Briaud & Jeanjean [5].
Então, baseando-se nas análises das provas de cargas realizadas no solo entre quatro estacas, sobre quatro estacas
e na estaca, propõe-se a seguinte metodologia para simular a curva carga recalque do solo melhorado com estacas de
compactação:
1) A contribuição do solo no carregamento global poderia ser obtida a partir da curva carga x recalque do ensaio
com a placa posicionada apenas no terreno, extrapolando-a para uma placa cuja área correspondesse a parcela de solo
solicitada pela fundação, isto é, com a curva carga x recalque da placa posicionada entre as quatro estacas de
compactação, teríamos a seguinte curva normalizada:

Tensão (kN/m2)

Sendo:
S = recalques;
D = diâmetro da placa.

S/D

2) Esta curva normalizada seria válida para placas de outras dimensões ([5] apud [6]). Isto é, a partir, por
exemplo, de um ensaio realizado com uma placa de 60cm de diâmetro, pode-se extrapolar os resultados para uma placa
quadrada de 1m x 1m, a partir das Equações 1 e 2, da seguinte forma:

4
S 60
xD100 = S100 (1)
D 60
tensão x área (100 x100) = Q100 (2)
Sendo:
S60 = recalques verificados no ensaio com a placa de 60cm de diâmetro;
D60 = diâmetro da placa de 60cm;
D100 = diâmetro da placa de 1m x 1m;
S100 = recalques para uma placa de 1m x 1m;
tensão = tensão aplicada no ensaio com a placa posicionada apenas no terreno (60 cm);
área(100x100) = área da placa de 1m x 1m;
Q100 = cargas para a placa de 1m x 1m.

Obtendo-se assim a seguinte curva:

Q100

Sendo:
Q100 = cargas p/ placa de 100cm de lado;
S100 = recalques p/ placa de 100cm de lado.

S100

3) O efeito das estacas seria levado em conta através da curva carga x recalque do ensaio na estaca, multiplicado
pelo número de estacas.
Q1estaca Q4estacas

X 4X

Y 4Y

S1estaca S4estacas

Sendo:
Q1estaca = cargas aplicadas apenas na estaca;
S1estaca = recalques verificados apenas na estaca;
Q4estacas = cargas aplicadas apenas na estaca multiplicadas por quatro;
S4estacas = recalques correspondentes a quatro estacas.

4) Admitindo-se a placa como rígida, a curva carga x recalque da placa com 4 (quatro) estacas seria a soma, para
um mesmo recalque, da curva do terreno com a curva de 4 estacas, ([3]).
5) Essa curva simulada seria então comparada à curva da prova de carga realizada com a placa de 1m x 1m
posicionada sobre quatro estacas de compactação.

SIMULAÇÃO DA CURVA CARGA X RECALQUE DO SOLO MELHORADO ATRAVÉS DA


METODOLOGIA PROPOSTA
Consideram-se, a seguir, duas hipóteses na tentativa de obtenção da curva carga x recalque do solo melhorado: i)
supõe-se inicialmente que a rigidez da estaca é muito superior à rigidez do solo e, ii) supõe-se que a estaca apresenta
rigidez semelhante à rigidez do solo (conforme mostrado anteriormente através dos gráficos de rigidez).
Considerando-se que a curva carga x recalque obtida do ensaio com a placa de 1m x 1m representa o
comportamento de uma sapata isolada assente no solo melhorado, e que a rigidez das estacas de compactação é muito
maior que a rigidez do solo, obtiveram-se as curvas da Figura 7, de acordo com a metodologia proposta, observando-se
o seguinte:
1) contribuição do solo → curva obtida a partir da curva normalizada da prova de carga realizada apenas no solo
com a placa de 60cm, extrapolando-a para uma placa de 1m2, menos 0,283m2 (área correspondente a quatro estacas de
compactação), ou seja, 0,717m2. Esta área corresponde a uma placa circular com aproximadamente 96cm de diâmetro
ou uma placa quadrada com 85cm de lado. Como a forma da placa praticamente não exerce influência nos resultados,
adotou-se a placa circular;
2) curva das estacas → obtida multiplicando-se a curva carga x recalque do ensaio em uma estaca por quatro;
5
3) curva simulada → por compatibilização de recalques, seria a soma da contribuição do solo mais a
contribuição das estacas, ou seja, a curva obtida da soma, para um mesmo recalque, da curva do solo mais a curva das
quatro estacas.
Analisando-se as curvas da Figura 7, observa-se que, para um nível de carregamento muito pequeno (inferior a
100kN) a curva simulada se aproxima muito da curva da sapata que, por sua vez, é praticamente coincidente com a
curva do solo. Para esta faixa de carga a curva das estacas é sempre inferior às demais, indicando uma menor rigidez
das estacas neste intervalo e, portanto, uma pequena contribuição das estacas quando comparada com a contribuição
mais relevante do solo melhorado.

Carga (kN)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
0
2
4
6
Recalque (mm)

8
10
12
14
16
18
20
22
24
26

Contribuição das estacas Curva simulada (solo+estacas)


"Sapata" 1m x 1m Contribuição do terreno

Figura 7 – Curvas obtidas da metodologia proposta.

A partir de 100kN e até, aproximadamente, 800kN, observa-se que a curva simulada é defasada da curva das
estacas de cerca de 200kN, indicando ser esta a contribuição do solo na absorção do carregamento global. De fato, a
partir de 100kN a rigidez do solo sofre uma queda acentuada, ilustrada pelo aspecto verticalizado da curva designada
como contribuição do terreno.
Após 800kN, a curva simulada volta a crescer de forma mais significativa, distanciando-se da curva das estacas,
o que indica o início do comportamento plástico das estacas, passando a carga a ser transferida mais intensamente para
o solo, que passa, então, a contribuir com cerca de 500kN da carga global.
Admitindo-se, agora, que a rigidez das estacas é aproximadamente igual à rigidez do solo e, lembrando-se que o
diâmetro das estacas é 0,30m e o espaçamento entre elas é 0,80m, tem-se o esquema mostrado na Figura 8.

0,80
0,30m

1,10m

Figura 8 – Malha quadrada com quatro estacas de compactação.

Nesse caso, a área de influência de uma estaca é igual a (0,80m)2, que corresponde a 0,64m2. Então, para que o
ensaio sobre as estacas de compactação representasse o comportamento de uma malha quadrada com quatro estacas,
dever-se-ia usar uma placa quadrada de 1,60m de lado, correspondente a uma área de 2,56m2.
Como se utilizou uma placa quadrada de 1m x 1m, a área correspondente é apenas 1,0m2. Se 2,56m2 corresponde
a área de influência de 4 estacas, então, para 1,0m2 tem-se 1,56 estacas.
Sabe-se que a área de uma estaca é igual a 0,071m2, logo, 1,56 estacas corresponde a 0,11m2. Portanto, se
AESTACAS+SOLO é igual a 1,0m2 e AESTACAS é igual a 0,11m2, tem-se, então, que ASOLO é igual a 0,89m2.

6
Deve-se então, nesse caso, extrapolar a curva normalizada obtida da prova de carga apenas no solo para uma
placa cuja área seja igual a 0,89m2, que corresponde a uma placa circular com diâmetro igual a 1,06m ou uma placa
quadrada com lado igual a 0,94m.
A Figura 9 mostra as curvas obtidas de acordo com a metodologia proposta, supondo-se que, nesse caso, as
estacas e o solo apresentam rigidezes semelhantes e que a contribuição do solo pode ser estimada extrapolando-se a
curva normalizada para uma placa circular com diâmetro igual a 1,06m. Assim como na Figura 7, para um nível de
carregamento inferior a 100kN, as curvas do solo, da “sapata” e a simulada são semelhantes. A curva que representa o
comportamento das estacas é sempre inferior às demais, indicando uma pequena contribuição das estacas quando
comparada com a contribuição mais relevante do solo melhorado.

Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
0
2
4
6
8
Recalque (mm)

10
12
14
16
18
20
22
24
26

Contribuição das estacas Curva simulada (solo+estacas)


"Sapata" 1m x 1m Contribuição do terreno

Figura 9 – Curvas obtidas da metodologia proposta (placa circular).

Observa-se que até, aproximadamente 200kN, o carregamento é praticamente suportado apenas pelo solo. A
partir desse nível de carregamento, a rigidez do solo começa a diminuir e as estacas começam a contribuir de maneira
mais significativa. Porém, observa-se uma queda acentuada na rigidez das estacas, ilustrada pelo aspecto verticalizado
da curva designada como contribuição das estacas, entre 300kN e 350kN, indicando, provavelmente, o esmagamento da
cabeça das estacas. A partir deste nível de carregamento, a curva do terreno volta a crescer, o que indica o início do
comportamento plástico das estacas e, novamente, a carga passa a ser transferida mais intensamente para o solo.

CONCLUSÕES
A quantidade de ensaios, assim como a impossibilidade de realização de novos ensaios, limitaram bastante a
interpretação dos resultados obtidos, e, conseqüentemente, as conclusões do trabalho.
Quando se considera a rigidez das estacas muito superior à do solo, a metodologia proposta para se estimar a
curva carga x recalque do solo melhorado não é adequada. Porém, considerando-se a rigidez das estacas da mesma
ordem de grandeza do solo, a metodologia apresenta-se coerente.
Certamente mais ensaios e trabalhos de pesquisas ainda são necessários para melhor compreensão do tema aqui
abordado. Mas acredita-se que este trabalho pode ser considerado como uma contribuição para o entendimento do
comportamento geotécnico de terrenos melhorados com estacas de compactação, haja vista que se trata de uma técnica
regional baseada apenas em relações empíricas e em experiência local acumulada.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à ATECEL – Associação Técnica Científica Ernesto Luiz de Oliveira Júnior, pela ajuda
financeira que tornou possível a realização deste trabalho, à FUNDACEL – Fundações Especiais Ltda, pelo apoio na
realização dos ensaios e à empresa Gusmão Engenheiros Associados pelo apoio logístico concedido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Passos, P.G. (2001), “Contribuição ao Estudo do Melhoramento de Depósitos Arenosos Através da Utilização de
Ensaios de Placa”, Dissertação de Mestrado, UFPB, Campina Grande, PB.

[2] Décourt, L. (1996), “A Ruptura de Fundações Avaliada com Base no Conceito de Rigidez”, In: SEFE III, São
Paulo, SP, CD.

[3] Teixeira, A. H. (1996), “Projeto e Execução de Fundações”, In: SEFE III, São Paulo, SP, CD.

7
[4] Décourt, L., Niyama, S., Campos, G. C., Taioli, F., Dourado, J. C. (1995), “Experimental Behaviour of a Piled
Footing”, In: X Congresso Panamericano de Mecánica de Suelos e Ingenieria de Cimentaciones, Guadalajara,
México, Vol. 2.

[5] Briaud, J. L., Jeanjean, P. (1994), “Load – Settlement Curve Method for Spread Footings on Sand”, In: Proc. of
Vertical and Horizontal Deformations of Foundations and Embankments, Vol. 2, College Station, Texas, pp. 1774
– 1804.

[6] Briaud, J. L., Gibbens, R. (1999), “Behavior of Five Large Spread Footings in Sand”, In: Journal of Geotechnical
and Geoenvironmental Engineering, Volume 125, Number 9, pp. 787 – 796.

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