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Resumos de Psicologia Social I (teóricas)

Atitudes:

As atitudes organizam-nos, nós construímos atitudes que têm esta relação essencial
sendo disposições de natureza individual (cada um organiza as suas próprias atitudes) em
relação a TODOS os aspectos da nossa actividade.
Sendo que essas atitudes, na sequência do que acontece com a forma como
construímos a personalidade, identidade, etc, são sempre processos infiltrados socialmente,
estas disposições individuais têm origem social.
Não há atitudes que sejam genéticas, as pessoas não nascem propriamente com
atitudes embora alguns autores afirmam que há algumas atitudes que são genéticas.
Por exemplo: Há atitudes defensivas que são genéticas, esses autores referem-se a
existirem alguns reflexos condicionados que fazem parte das capacidades precoces, como por
exemplo, reflexo de sucção, ou seja, nós não nascemos completamente desarmados mas sim
com alguns comportamentos que são reflexos, que são arcaicos, que se perdem pouco depois
pelo processo de maturação do sistema nervoso e na altura eram identificados como atitude.
Sendo certo que os bebés não tem todos exactamente o mesmo comportamento
embora partilhem deste tipo de reflexos, verdadeiramente não é atitude na medida em que
atitude incorpora conteúdos que são de natureza avaliativa, (isto é, quando tomamos uma
atitude positiva ou negativa relativamente a um objecto que gostamos ou não gostamos) e
tem um conteúdo social e portanto os bebés não tendo isso, não se pode verdadeiramente
falar de atitude.
As atitudes têm sempre de ter uma origem social, (as atitudes que nós organizamos
são individuais mas tem uma origem social) o que tornou este tema central na psicologia social
exactamente porque cruza a psicologia da personalidade com as dimensões sociais da
psicologia.

1. Processos de Inferência: São construtos hipotéticos, as atitudes não são directamente


observáveis, isto é, são uma variável latente explicativa da relação entre a situação em que as
pessoas se encontram e o seu comportamento. Trata-se assim de uma inferência sobre os
processos psicológicos internos de um indivíduo, feita a partir da observação dos seus
comportamentos (verbais ou outros).

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Ex. Dois colegas a cumprimentarem-se de forma afectuosa, com base neste
comportamento inferimos que eles têm uma atitude positiva um em relação ao outro,
observamos assim comportamentos e “adivinhamos” a atitude.
Isto significa que as atitudes, que nós identificamos nos outros são permeáveis a erro de
inferência, isto é, podemos observar um determinado comportamento e ao inferir a atitude
enganarmo-nos nesse processo de inferência, sendo que o comportamento que observamos
pode não significar aquela atitude.
Por exemplo, uma pessoa pode ter um comportamento agressivo e nós inferirmos que a
pessoa é agressiva esta inferência pode estar errada bastando para isso que o comportamento
tenha sido uma reacção, isto é, uma resposta provocada pelo contexto, pode haver alguma
coisa que tenha provocado um comportamento mais agressivo sem que isso signifique que a
pessoa tem uma atitude agressiva.
Por isso quando nós medimos atitude, o que nós estamos a medir verdadeiramente são
comportamentos, que não são atitudes, mas assumimos que estamos a medir atitudes,
acontece porem que há atitudes que são implícitas no comportamento e há atitudes que são
explícitas. Criou-se então medidas directas (para as atitudes explícitas) e indirectas (para as
atitudes implícitas).

2. Disposição pessoal (relativamente) estável: Uma disposição relativamente estável,


não é propriamente uma ideia ou uma opinião.

Atitude ≠ Opinião

Atitude Opinião
Para além do conteúdo cognitivo, Essencialmente um conteúdo cognitivo
existe o conteúdo emocional/afectivo, (natureza cognitiva), eu sei porque tenho
dimensão comportamental e a orientação essa opinião e elaboro essa opinião.
para a acção.

Mais estável - Nós podemos estar anos Mais facilmente alterável, nós mudamos
com uma atitude favorável ou desfavorável mais facilmente de opinião, isto é, se alguém
relativamente a um determinado objecto, a tiver argumentos que sustentam opiniões
atitude não muda, e é muito mais estável. contrárias nós não temos problema de mudar
de opinião, sinal de inteligência, olhar para os
argumentos e perceber que estava enganado,
mudar de opinião é um conteúdo cognitivo
que não é mudar de atitude mas que
incorpora a atitude.

E há uma dimensão comportamental, associada à atitude, há-de existir uma relação entre
atitude e comportamento, se não, não existiria sentido em aferir atitudes a partir de
comportamento. Isto dá estabilidade as atitudes.

Atitude ≠ Traços de personalidade

As atitudes são tão estáveis ao ponto de se confundir com traços da personalidade e


muitas vezes confunde-se.
Exemplo: Esta pessoa tem uma atitude honesta, isto é, tem um comportamento honesto
sistematicamente e dizer isso não é a mesma coisa do que dizer a pessoa é honesta, porque o

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ser honesto é algo do domínio do traço de personalidade que é ainda mais estável do que as
atitudes.
Nós podemos considerar que a pessoa é honesta sem ter tido uma atitude honesta,
bastando ver comportamentos honestos, que as vezes, podem ser contra-atitudinais.
Mas os traços de personalidade são ainda mais estáveis que as atitudes.

Comportamento contra-atitudinal

Eu posso ter um comportamento que seja contra atitudinal e justificar isso, por exemplo
se eu tenho uma atitude racista, quero a exclusão da raça negra, por exemplo, mas se tiver
inserida numa sociedade e num grupo que promove o comportamento de inclusão posso ter
esse comportamento, ou seja, tenho um comportamento contra atitudinal.
Este comportamento contra atitudinal só pode ser verificado a partir de medidas das
atitudes implícitas pois estas não são manipuláveis pelo sujeito, uma vez que se tornam
automáticas. Se só for analisado as atitudes explícitas (caso da escala de Likert, falava mais à
frente) o sujeito manipula a sua resposta.

Atitude ≠ Estados emocionais


A maior diferença entre atitude e estados emocionais, prende-se com o facto dos estado
emocionais serem menos estáveis.

Resumos: Traços de personalidade, Atitude e Estados emocionais

Traços de Personalidade

Menos estável Atitude Mais estável

Estados emocionais

3. Tem uma dimensão avaliativa: Não há nenhuma atitude neutra, apesar de na escala
de Likert existir a atitude neutra, em 5 pontos o 3 é neutro, e pode colocar-se a questão: se a
atitude tem uma valência emocional, faz sentido avaliar, mas fará sentido ter um ponto
neutro? Do ponto de vista de Likert, faz sentido: não só do ponto de vista da medida
(propriedades psicométricas da medida, que faz sentido ter aquele ponto) é também do ponto
de vista da reflexão que se faz sobre a realidade psicológica (é que, por vezes, nós sobre um
objecto, há momentos de indecisão, existem prós e contras do ponto de vista cognitivo que
nos deixa do ponto de vista emocional hesitantes, esperando para ver, ainda não sei bem,
existem coisas que gosto, outras que não gosto), logo tem logica que a escala de Likert tenha
esse ponto, apesar de se dizer que as atitudes ou são a favor ou são contra mas no seu
processo evolutivo á momentos de 0, dai que a escala de Likert seja preferida em relação a
outras escalas, porque se aproxima mais do constructo psicológico.

4. São dirigidas a objectos específicos: Não existe uma atitude por si só, existe uma
atitude em relação a alguma coisa, só fazemos atitudes relativamente a realidades não temos
atitudes no vazio, isso não existe.

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1. Direcção (favorável/desfavorável)

2. Intensidade (posições extremadas/posições fracas)

Ex: É possível conceber duas pessoas com posições favoráveis relativamente à


despenalização do consumo de drogas (isto é, tenham atitudes com a mesma direcção), mas
que uma defenda posições mais radicais do que a outra (isto é, tenham intensidades
diferentes de atitude). Uma pessoa que defenda a despenalização do consumo de qualquer
droga, enquanto que a outra pessoa apenas a das drogas ligeiras.

3. Acessibilidade (Probabilidade de ser activada automaticamente da memória quando o


sujeito se encontra com o objecto atitudinal).
Esta dimensão das atitudes está associada à sua força, à forma como foi aprendida e à
frequência com que é utilizada pelo sujeito.

Ex: Podemos ter uma atitude muito favorável relativamente à produção de milho
geneticamente manipulado, que formámos com base num artigo que lemos num jornal. No
entanto, como é uma atitude que usamos raramente, o tempo de acesso ao nosso próprio
posicionamento atitudinal é mais lento do que o de uma outra atitude com a qual já nos
tenhamos confrontado mais vezes, ou que tenhamos adquirido por experiência directa (Ex. A
atitude face à despenalização da interrupção voluntária da gravidez).

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A atitude expressa-se sempre por respostas avaliativas, e estas respostas avaliativas
podem ter vários tipos.
A separação destas três modalidades de respostas avaliativas, correspondem a outras
formas de expressão das atitudes:

Cognitiva: Referimo-nos a pensamentos, ideias, opiniões, crenças que ligam o objecto


atitudinal aos seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais ou menos
favorável.
Ex: A manipulação genética dos cereais permite resolver a fome no mundo.

Afectiva: Referem-se às emoções e sentimentos provocados pelo objecto atitudinal.


Ex: Só de pensar na manipulação genética de cereais fico assustado.

Comportamental: Referem-se aos comportamentos ou às intenções comportamentais


em que as atitudes se podem manifestar.
Ex: Se houver um abaixo-assinado contra a manipulação genética de cerais não
tenciono assinar.

No entanto, a investigação tem mostrado que essas três classes de respostas não
representam três factores independentes e que não é necessário que as três classes estejam
representadas numa atitude.
Ex: uma atitude pode consistir apenas numa componente afectiva.

Eagly e Chaiken (1993) propõem que essas componentes exerçam relações de sinergia
entre si, reforçando-se mutuamente.

Atitudes Sociais: Referem-se a grupos sociais específicos (atitudes face aos negros/
atitudes sobre as manifestações).

Atitudes políticas: As atitudes que se referem a objectos que têm implicações políticas
(as atitudes face ao governo/ atitudes face a políticos).

Atitudes organizacionais: Referentes a objectos de índole organizacional (atitude em


relação à empresa/ SCP/ ONU).

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Atitudes relativamente a pessoas específicas: são normalmente enquadradas dentro
do campo de estudos que se designa atracção interpessoal (e assim o amor seria um caso
extremo de atitude positiva face a um indivíduo/ atitude face a Mandela)

Atitudes face ao próprio: Auto-estima

Em relação aos grupos (Estereótipos) são a manifestação negativa em relação a um


grupo que coocorre em relação a outros grupos.
Ex: Uma pessoa xenófoba tem coocorrência se ser uma pessoa racista, etc… (pois são
pessoas que tem uma atitude de não gostar da diferença).

Eagly e Chaiken (1993) citado Vala e Monteiro (2013) explicitam ainda que as atitudes são
uma tendência psicológica, o que nos permite distinguir as atitudes de outros constructos
hipotéticos.
Por tendência psicológica entende-se um estado interior, tem alguma estabilidade
temporal. A grande maioria dos autores considera as atitudes como aprendidas e, portanto
alteráveis
A definição apresentada explica que as atitudes se referem sempre a objectos
específicos que estão presentes ou que são lembrados através de um indício do objecto.
Assim, quando encontro uma fotografia ou uma carta de um amigo que já não vejo há
muito tempo, é activada a minha atitude face a essa pessoa, tal como quando a encontro
pessoalmente.

Quase tudo pode ser objecto de atitudes:

- Entidades abstractas (honestidade)


- Entidades concretas (ficha de avaliação)

- Específicas (o gato da vizinha)


- Gerais (todos os gatos)

- Comportamentos: (Praticar musculação)


- Classes de comportamentos: Conjunto de competências da mesma categoria
(Praticar desporto)

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Para que servem as atitudes? A resposta para esta pergunta tem sido encontrada por
quatro vias:

- Teorias que salientam o papel de orientação para a acção

- Teorias que salientam as funções motivacionais das atitudes

- Teorias que salientam as funções cognitivas das atitudes

- Teorias que salientam as funções sociais das atitudes

No início do estudo das atitudes, estava implícita na perspectiva dos seus autores a
coerência entre atitudes e comportamentos, e por isso, a construção por parte dos psicólogos
socias de escalas de atitudes.
Porém, a questão do poder preditivo das atitudes avaliadas por questionários foi
claramente colocada por LaPierre (1934), nos anos 30, em que havia um forte preconceito
contra os Chineses nos EUA (havia lojas com uma placa à porta com a seguinte inscrição “É
proibida a entrada a chineses e a cães”). LaPierre, viajou para os EUA acompanhado por um
casal de chineses, anotando as reacções dos funcionários dos diversos estabelecimentos
hoteleiros que utilizaram. Nesta viagem foram atendidos em 66 hotéis e em 184 restaurantes
e cafés, tendo apenas sofrido uma recusa num hotel. Algum tempo depois foi enviada uma
carta a cada um destes estabelecimentos, perguntando se aceitariam chineses como clientes.
Dos 81 restaurantes e 47 hotéis que responderam, 92% disseram que não, tendo os restantes
afirmado que dependia das circunstâncias.
Estes resultados mostraram que é possível haver uma manifestação de tolerância ao
nível comportamental e, simultaneamente, uma expressão de intolerância ao nível atitudinal,
pelo que foram interpretados como reflectindo uma inconsistência entre atitudes e
comportamentos.

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Esta discrepância entre atitudes e comportamentos está bem ilustrada empiricamente,
quer por réplicas do estudo de LaPierre, que por estudos de orientação psicométrica, relativos
à validade preditiva de escalas de atitudes.

Atitude ≠ Comportamento

Na teoria da acção reflectida, Fishbein e Ajzen (1975) consideram que todo o


comportamento é uma escolha, uma opção ponderada entre várias alternativas, pelo que o
melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental.

Intenção:
Pires (2007) mostrou para o caso da predição do exercício físico, a atitude específica
seria apenas um dos dois factores importantes na decisão.
Esta atitude face ao comportamento é vista neste modelo, de acordo com as
perspectivas de expectativa-valor, ou seja, como o resultado do somatório das crenças acerca
das consequências do comportamento (expectativa) pesadas pela avaliação dessas
consequências (valor).

Norma subjectiva:
Outro factor importante na definição da intenção comportamental tenta integrar as
pressões sociais e refere-se à norma subjectiva face ao comportamento, isto é, às pressões
percebidas por parte de outros significantes que afectam a realização do comportamento.
Também esta norma subjectiva é vista como o resultado do somatório das crenças normativas
(Expectativas acerca do comportamento que os outros significantes pretendem que o
indivíduo adopte), e também pelo valor destas crenças (a motivação para seguir um dos
referentes).

Correlações entre intenção e comportamento:

Em estudos de Eagly e Chaiken, encontraram correlações bastante elevadas entre a


intenção e o comportamento, variando, no entanto, com a proximidade temporal do
comportamento, da especificidade da situação apresentada, e da experiência anterior do
sujeito na situação. As atitudes gerais do sujeito, tal como outras variáveis de nível mais global,
aparecem no modelo como preditores relativamente fracos do comportamento específico,
relativamente à norma subjectiva e à atitude específica.

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Atitude:

Deste modo, a teoria da acção reflectida vê a atitude específica como um dos


preditores do comportamento, podendo ter mais ou menos pesos na determinação da
intenção comportamental.
Ex: Melhor preditor da intenção de usar o preservativo não é a atitude mas a norma
subjectiva referente ao parceiro sexual.
Por isso, o modelo da acção reflectida inclui ainda uma variável intermédia, referente
ao peso relativo das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental.

Componente não falada em aula: Comportamento anterior do indivíduo

Apesar disso, outros estudos demonstram que a previsão de comportamentos é


significativamente melhorada com a introdução de uma variável externa ao modelo: o
comportamento anterior do indivíduo.
Face a estas críticas, os autores salientam que a teoria se aplica a situações de tomada
de decisão e não a comportamentos habituais, onde a componente de decisão é muito menor.

Outra componente não falada em aula: Controlo percebido sobre o comportamento

Numa tentativa de alargar a teoria a outro tipo de comportamentos, Ajzen reformula o


modelo, acrescentando como determinante na intenção comportamental uma nova variável.
Esta variável, corresponde à dificuldade percebida na realização do comportamento,
corresponde em grande parte ao conceito de auto-eficácia, e permite incluir, indirectamente, a
experiência anterior com o comportamento (comportamentos habituais são percebidos como
fáceis de por em prática e portanto com elevados níveis de controlo percebido).

Self
As atitudes têm uma origem social (é quase um retracto, algo psicológico que a gente
adquire) mas que tem origem social.
A maneira como nós pensamos a realidade também é determinada socialmente, na
medida em que nós não processamos toda a informação disponível, e aquela que processamos
é guiada pelas nossas atitudes.
A maneira como nós sentimos é ainda determinada socialmente, as nossas emoções, a
nossa sensibilidade é determinada socialmente.

Haverá qualquer coisa na nossa arquitectura individual que determina a nossa maneira
de pensar ou a nossa maneira de pensar é cultural? A segunda.

As emoções não tem a mesma dimensão em todo o lado, há variações culturais


importantes, a capacidade de sentir medo, não é idêntica em todo o lado, o que significa que o
bebé não nasce propriamente tímido pode nascer com algum processo de maturação mais
desenvolvido ou menos.

O bebé quando nasce nós começamos a elaborar conceitos, projectamos


inclusivamente a nossa própria expectativa. “Parecido com a mãe ou com o pai… etc”

São construídas socialmente, o que leva a reafirmar que a nossa identidade é social, é
construída socialmente, há uma identidade individual mas será possível construir essa
identidade sem ser com base nos outros?

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Quem é que verdadeiramente nós somos? Seremos pessoas honestas? O que é que
isso quer dizer ao certo? Mentir é uma coisa honesta? Entao e somos arrogantes e humildes ao
mesmo tempo?

O que nos define? Quem é que nós somos? Vejam o que dizia este autor, ainda no
século XIX:

O autor diz que nós somos o conjunto de características relativamente às quais nós
desenvolvemos uma noção de eu, somos um conhecimento a cerca de nós.
Este processo de nos conhecermos, o autor diz que somos simultaneamente o livro e o
leitor, somos um conteúdo e ao mesmo tempo o processo de conhecimento sobre esse
próprio conteúdo, nós pensamos sobre nós próprios, temos um conceito de nós (self) e pelo
processo do reconhecimento de nós.
O autor afirma que somos conjugados para nos dar um sentimento coerente de nós
próprios, apesar de que este conceito já não se usa esta terminologia.

O Me corresponde a este conteúdo ou conhecimento de nós próprios, eu sei de mim,


ou gosto de pensar que sei de mim.

E este conhecimento de nós próprios vem da introspecção, da terapia, quando


estamos mais centrados em nós do que nos outros. (self-awareness).

Nos vamos aprendendo um conteúdo que define o nosso próprio auto-conceito, que
conhecimento tenho de mim (self).

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Tendo estas características todas, reconhecemo-nos mais numas do que noutras, de
facto, o honesto e o desonesto é um contínuo, nós não estamos nos extremos, somos as duas
coisas, e estamos algures nesse contínuo.

O desonesto é alguém incapaz de algum acto de honestidade e o honesto alguém


incapaz de algum acto de desonestidade e isso não existe.

“As pessoas fazem o que podem para chegar a casa” isto é, fazem o que podem para ir
ao encontro de um conjunto de valores que são culturalmente definidos.

Ser honesto é uma coisa boa, tímido é uma coisa má, etc… Existem coisas na lista em
cima que valorizamos mais e outras menos.

Arrogante é uma coisa má, mas não temos todos de vez em quando actos de
arrogância? Temos, mas isso não faz com que pensemos em nós como pessoas arrogantes.
Não quer dizer que os outros não vejam em nós arrogância só significa que o nosso
autoconceito é definido no cruzamento destas características com valorização cultural cujos
valores estão associados a cada uma destas características.

Podemos ter um autoconceito muito ajustado e o meu comportamento traduz o meu


autoconceito ou posso ter um comportamento que viola o autoconceito.

Construímos uma unidade de sentido ex. self , uma unidade coerente com sentido.

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Esta teoria de Self-awareness o que nos diz é que quando nos centramos em nós,
comparamos os nosso valores padrão, isto é, as características e valores associados que é
definido culturalmente com o nosso comportamento para ver se “bate certo”.
Uma pessoa pode cometer ex. batota, não é grave mas não está certo.
Se eu tenho o auto-conceito de que sou honesto e depois digo que não aguentei ela
era tão linda, o que o sujeito está a fazer é a encontrar uma discrepância nesta avaliação que
faz do seu comportamento e dos seus valores, cria um cenário de auto-centração aversiva.

Auto-centração aversiva: O sujeito vê-se como pessoa honesta, com valores ex.
casamento para toda a vida, e pula a cerca, o sujeito procura reduzir o desconforto que gera
esta auto-centração, a consciência de si. Ou introduz uma mudança de valores, uma variação
do auto-conceito e reconhece que não é quem pensava que era, e este processo de mudança é
sempre difícil, ou então, encontra explicações para o seu comportamento que atenuem este
desconforto/dimensão agressiva do comportamento, que tem consequências muito negativas,
algo pode ser tão aversivo que o sujeito evita pensar nisso.
Discrepância entre o que pensava que era e o que me vejo a ser. O sujeito não nasce
assim, incorpora um conjunto de valores, de conteúdos/ de características que faz com que de
repente, se surpreenda com comportamentos que não acompanhem o auto-conceito.

Auto-centração consistente: O sujeito pensa “sou o melhor”, em cenários que fazem


parte do auto-conceito temos um desempenho que faz uma demonstração inequívoca dessa
competência.
Tem um efeito positivo no nosso bem-estar interior.

Essa consciência de si tem uma demonstração confirmatória, este processo de


definição do auto-conceito tem uma origem também na introspecção (processo de auto-
consciência/ metanalise de mim em que me coloco como objecto de observação), que não
chega, é preciso informação do exterior.

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A teoria da causalidade está relacionada com a auto-centração aversiva onde o sujeito
procura explicações causais para explicar as nossas acções.

As teorias causais têm uma base cultural, a nossa cultura (do fadista) já não tem esse
efeito, é uma explicação causal que está relacionada com valores e parte social. Temos
tendência para dizer “eu não sou assim”. É uma explicação com base cultural e social.

Ex 1. O ruído explica a avaliação da qualidade de um filme


Os autores fizeram uma experiência simples onde o grupo de controle vê um filme sem
qualquer interrupção e o grupo experimental vê o filme mas a partir de uma altura começa a
trabalhar uma moto-serra mesmo ao pé da sala de cinema, até que o experimentar manda
embora o senhor da moto-serra e as pessoas vêm o filme até ao fim.
O que estão há espera? Quando pedem para avaliarem a qualidade do filme, esperam
que as pessoas que tiveram as interrupções dêem uma nota mais baixa do que os que não
foram interrompidos.
Mas não foi isso que encontraram, os resultados demonstram que o grupo de controlo
avalia o filme da mesma maneira que o grupo experimental.
Quando perguntaram ao grupo experimental se avaliariam o filme de outra maneira se
não tivessem sido interrompidos, e respondem que sim. Convencidos que iam gostar mais do
filme se não tivesse o ruído, verdadeiramente o ruído não foi causa de nada, mas a percepção
da realidade foi outra.

Nós usamos a explicação causal que nos parece razoável (o barulho é uma coisa
incomodativa logo é natural que baixe a apreciação do filme) na verdade não baixa, mas serve
de explicação na mesma, porque tem um efeito no auto-conceito (eu podia ter apreciado
melhor se não fosse este ruído).

As explicações causais explicam algumas comparações aversivas (incapacidade de


apreciar mais o filme) com a noção que tenho de conceito de mim.

Ex 2: O humor é influenciado pelas horas de sono.


Os investigadores pediram a um grupo de estudantes que monitora-se durante uma
semana as horas de sono e ao mesmo tempo regista-se episódios de pior humor, e quando

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recolheu os dados perguntou-lhes se achavam que as horas de sono iam influenciar o humor,
ao que responderam que sim.
Os dados demonstram que, apesar de se esperar uma correlação entre as duas
variáveis, tal não ocorre, não existe correlação.
Na verdade as horas de sono não influenciam o estado de espírito e, pelo contrário até
havia uma tendência inversa em que sujeitos reportam que durante a semana nas noites em
que dormiram pior andavam mais “spidados”.

Ou seja a nossa percepção nem sempre correspondem com a realidade.

Temos causas que são socialmente apreendidas (teorias causais) mas existem causas
que não tem nenhum suporte social, as que tem suporte social evitam que eu seja forçado a
mudar de auto-conceito, explicam o meu comportamento. Quando não existe suporte social,
aos poucos vou mudando a noção que tenho de mim.

Estabilidade do auto-conceito: As pessoas quando dizem que são pessoas de confiança


não é nesse momento que descobriram isso, a estabilidade está ligada à consistência no
tempo (ou em episódio repetidos que demonstram isso ou em situações de menor fiabilidade
conseguiu encontrar razões que o satisfação).

O Mecanismo de protecção do self é a procura dessa teoria causal.

No processo do conhecimento do si, não há só a introspecção, a autocentração esta


consciência de si, há mais do que isso.

As teorias que temos dado até aqui permitem-nos chegamos a conhecer-nos e a


definirmo-nos a nós próprios como uma entidade, isto é, como é que nós aprendemos a
descrever-nos de alguma maneira.

A teoria de auto-percepção leva o sujeito a descobrir quem é através dos


comportamentos sobretudo voluntários.

O exemplo é auto-descritivo desta teoria, cada um sabe do que gosta e isso faz parte
da auto-descrição que cada sujeito faz de si, do auto-conceito.

Mas como aprendemos a definir estas coisas? Muito com base nas nossas experiências
pessoais, os comportamentos que nós vamos tendo, observando as consequências desses
comportamentos.

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Se eu oiço uma música no carro e digo que gostei posso me descrever como um tipo
de pessoa que houve esse tipo de música? Eu de facto posso dizer isso porque ouvi e gostei,
mas a circunstancia em que me encontro também interferiu (a filha gosta de Evanescence e
pôs o pai a ouvir), se o sujeito voluntariamente não ouve esse tipo de música, não vou por no
rádio uma estação que só passe esse tipo de música.

O que a teoria da auto-percepção nos diz é que vamos experimentando coisas, que
resulta numa experiência emocional, mas em alguns casos, isso é condicionado pela
circunstância, não é que o sujeito o procure voluntariamente, logo não isso que o
autodescreve.

A teoria assenta na ideia que nós somos observadores do nosso próprio


comportamento, como somos avaliadores do nosso comportamento, e tiramos conclusões
sobre quem é que nós somos, da nossa identidade.

O sujeito que tenha uma motivação

Uma motivação extrínseca é gerada por uma recompensa, ex: come a sopa toda que a
seguir comes gelado, a criança come a sopa mas a sua motivação não é por ter gosto em fazer
mas só faz porque tem a recompensa.

É o que se passa com a leitura, os professores sabem que ler é uma coisa muito boa,
para isso acontecer, os professores tem a tendência a premiar as crianças que lêem, o que vai
acontecer é que as crianças só lêem porque vão receber algo em troca.

Se são motivados por prémios exteriores, não significa que sejam assim.

A motivação intrínseca é algo que não precisam que me dêem um prémio, ex. se gosto
de brincar com este brinquedo não preciso de ter recompensa para o fazer.

Estas motivações que são interiormente determinadas, são mais descritivas de mim do
que a motivação extrínseca.

Relacionando com a teoria da auto-percepção, eu apercebo-me de mim, que gosto de


coisas e não preciso de prémios.

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A “história” do prémio tem um dark side, estas estratégias que eram utilizadas para as
crianças lerem os livros, tem uma espécie de ricochete, que é chamado o efeito de sobre-
justificação.

Há uma experiência feita por estes autores, com crianças de um jardim-de-infância que
brincavam, identificavam o que é que as crianças brincavam preferencialmente, o grupo de
controlo continuavam a brincar, e ao grupo experimental os experimentadores premiavam-nos
cada vez que eles brincavam com um brinquedo em específico, de tal maneira, que as crianças
perceberam que tinham um valor experimental ao brincar com um brinquedo em específico,
isto é, pouco e pouco eles deixaram de sentir que brincar porque gostam mas sim brincavam
com aquele brinquedo porque eram premiados por isso.

O que é que acontece quando eles retiram o prémio? O grupo de controlo contínuo a
brincar como brincavam, mas os do grupo experimental caiu a pique as vezes que iam brincar
com esse boneco a partir do momento que deixaram de ter prémio, é como se através da
retirada do prémio tomassem consciência que não são o tipo de criança que brinca com esse
tipo de brinquedo.

Este é um efeito, que regra geral os educadores não têm em conta, o recurso
sistemático do prémio quando ainda a criança não descobriu o interesse por essa coisa
(motivação intrínseca) leva a um efeito estilo ricochete em que pode até fazer sentir um
dessentido quando o prémio é retirado.

A nossa cultura (em Portugal) funciona muito á base do prémio, e da punição externa.

Exemplo: Quando andamos na auto-estrada e sabemos que tem um limite de


velocidade máxima, ou dentro da cidade que tem um limite de 50 km/h o que acontece? Se
tiver lá um radar as pessoas abrandam a partir do momento em que o radar deixa de estar
activo as pessoas exageram na velocidade.

Nos vivemos muito com base neste tipo de punição, de consequência externa, e
portanto, a nossa motivação está longe de ser intrínseca, de bom cidadão. Porque a educação
se não vai a bem vai a mal.

A motivação extrínseca vem do condicionamento clássico, condicionamento operante,


Skinner dos anos 30, bom comportamento-prémio, para reforçar o comportamento. Isto é
uma ideia que serve para animais, mas que para pessoas tem esta consequência o efeito de
sobre-justificação do comportamento.

Do ponto de vista, da maneira como eu me vejo, eu não me vejo cumpridor, a menos


que veja ex. o polícia.

Como nós, tentamos ser coerentes com a nossa auto-percepção temos tendência a
fazer comportamentos que não são adequados, a menos que haja a tal punição.

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Outra maneira de nos autodescrevermo-nos é através do Mindsets.

A autora, Carol Dwerk, o que nos diz é nos temos um estigma cognitivo para nos
conhecermos, por exemplo, há pessoas que se autodescrevem como competentes, e
abençoadas por Deus, há qualquer coisa de inato, temos jeito para, e não tenho jeito para, e
nós descrevemo-nos dessa maneira.

Há pessoas que não se descrevem dessa maneira, isto é, descrevem-se mais próximo
daquilo que é chamado ética protestante do trabalho, que nos diz que se eu quero posso fazer
acontecer, com muito trabalho consegue-se chegar onde quisermos.

A nossa cultura favorece o Mindset Fixo: ex. não tens jeito nenhum para desenho, e
como não tenho jeito para desenho não vou para arquitecto, mas o desenho treina-se.

Mindset desenvolvimental: Eu posso vir a ser diferente amanha trabalhando as minhas


qualidade e/ou defeitos no presente. O auto-conceito é plástico desde que nos esforcemos e
trabalharmos para isso.

Mas há comportamentos precoces, que não são possíveis de explicar, pela teoria do
Mindset desenvolvimental, há miúdos com três anos que conseguem ler, sem ninguém ter tido
a noção de os ter ensinado.

17
Aquilo que os outros dizem de mim também tem uma grande importância. Uma das
coisas mais importantes no auto-conceito e na auto-estima, que vamos falar a seguir, é a
importância dos outros.

Os outros é que nos vão devolver sistematicamente, vão ajudar-me na avaliação do


meu comportamento e apercebo-me do que sou comparando-me com os outros (Teoria da
comparação Social).

Ex. Eu só sei que desenho mal porque comparo os meus desenhos com os outros e
vejo que existem pessoas que fazem os desenhos mais perfeitos que os meus.

Eu começo assim a perceber, que há certas habilidades e certos comportamentos que


eu não tenho, em comparação com os outros.

Mas isto também pode ocorrer a nível dos valores, eu sou uma pessoa generosa?
Como é que eu chego à conclusão de que sou generoso? Ex. Campanha de arredondar do Lidl
se eu arredondo de 16,99 para 17€ dou 0,01€, isso é ser generoso? É mais generoso do que eu
dizer que não quero arredondar, e que o Estado é que está lá para ajudar as pessoas que
precisam.

E se o arredondamento fosse 100€? Sou assim tao generoso?

O que define uma pessoa generosa? Valor mais do que comportamento, e nos
definimos isso comparando-nos com os outros, vêem o que os outros fazem e logo se medem.

E a altura, eu sou pequeno em relação aos outros por comparação, mas e se eu me


comparar com os miúdos do jardim-de-infância? Eu sou alto, a minha comparação alterava a
minha auto-percepção.

Quando é que nos comparamos? Não existe um padrão claro, é ambíguo. Podem dar
5€ e numa circunstância as pessoas ficam a pensar que somos generosos e noutras
circunstâncias não (ex. dar 5€ a um mendigo vs. Ir para um leilão para a caridade e só dar 5€).

Dois tipos de comparação:

- Ascendente: Olho para cima, para os que são melhores que eu, e defino um ideal de
eu. Ex. Comparo-me com pessoas que tiveram notas superiores à minha.

Define níveis de aspiração mais altos, que estão correlacionados com melhor
sucesso seja em que área for. Maior aspiração – Maior desempenho.

- Descendente: Olho para baixo, para os que são piores que eu. Ex. Comparo-me com
pessoas que tiveram notas inferiores à minha.

Quem faz este tipo de comparação tem tendência a não investir muito,
vantagem de deixar confortável.

18
Seja qual for a comparação, isto permite inferir as minhas qualidades, tenho um
espelho que os outros me dão do que é a minha competência.

O Looking-Glass Self é um conceito relativamente antigo, que nos diz que nos vemos
com os olhos dos outros, quer dizer que os outros relevantes na nossa vida (pais, professores,
pares) e se eles olham para mim e “torcem o nariz” começo a definir o auto-conceito
empobrecido, mas se os outros olham para mim e me favorecem eu acho que sou um máximo.

Este conceito deu origem a outro chamado Social tuning que afinações sociais, se eu
vejo os outros a comportarem-se de uma determinada maneira que não a minha eu tenho
tendência a conformar-me/afinar a minha atitude à determinado comportamento, se os
outros são relevantes, isto é, eu tenho uma pessoa relevante que tem comportamentos de
grande responsabilidade, eu conformo-me a esse comportamento, isto é, afino por esse
padrão.

O estudo destes autores Sinclair et al, que demonstra que isto funciona mesmo
quando nós não estamos com consciência disso, alias normalmente não tem consciência disso.
No IAT (que mede atitudes implícitas) escapa a nossa consciência, as reacções que temos vai
muito a deduzir uma atitude implícita que nós nem temos noção que a temos, e que nos
desgosta.

O que Sinclair fez é algo parecido, os sujeitos tinham de carregar numa tecla, numa
coisa que significava bom e clicar noutra quando a coisa significava algo mau, e punha no ecrã
a palavra bom ou mau esta era a tarefa que deu aos dois grupos de sujeitos, o que ela fez foi
no grupo experimental fez uma apresentação subliminar com imagens de uma pessoa branca e
uma pessoa negra. Se as pessoas fossem enviesadas relativamente aos brancos ou aos negros
tendiam mais rapidamente e com menos erros a carregar no bom quando a palavra bom
aparecia quando a imagem subliminar (aquelas imagens que passam tão rápido que nos
pensamos que não vimos mas que o cérebro processou esta informação) fosse de uma pessoa
branca, se for consistente. Assim vemos se há enviesamentos de natureza racista.

Relativamente ao Social Tunning, quando as pessoas entram do laboratório, o


experimentador dá num dos casos dá rebocados (pessoa simpática) e no outro diz às pessoas

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vocês já ganham ECT’s por participarem por isso não vos dou rebocados (pessoa antipática). O
que acontece é que a pessoa simpática tem uma t-shirt que diz não ao racismo, nunca fala a
pessoa de racismo, aquilo que acontece é que as pessoas que estavam com este
experimentador simpático são muito menos enviesadas do que as que estavam com o
antipático.

O facto de eu identificar numa pessoa de quem eu gosto e que manifesta uma atitude
positiva relativamente à integração racial influencia-me através do Social Tunning sem que eu
me aperceba, assumo uma atitude mais favorável à integração racial, mostrando até onde vai
esta nossa necessidade de nos identificarmos aos outros.

Isto, ilustra a ideia do Looking-glass Self ao ponto de nós verificarmos que


determinadas crianças têm determinados comportamentos que na verdade são reproduções
de comportamentos da família.

Há miúdos que tem comportamento educado, sensível e depois conhecem os pais e


percebem que têm o mesmo universo, como se definíssemos o nosso autoconceito, olhando
para os outros e então vou comportar-me dessa maneira.

Quando uma pessoa que é valorizada pelo sujeito a nível emocional que tenha atitudes
em alguns aspectos diferentes da do sujeito, até que se oponham ao sujeito, fica tão
insuportável que ocorre uma das seguintes hipóteses:

- Ou eu mudo um pouco, e nem me apercebo que mudei, que é o que acontece regra
geral.

- Ou então deixo de me dar com a pessoa, mas quando me vou embora, vou-me
embora um pouco diferente, devido ao Social Tunning não vou da mesma maneira.

Auto-estima

O auto-conceito (a maneira como eu me descrevo) é só uma parte da história, as


pessoas não se limitam a descrever-se e a apresentar-se (sou o fulano tal, gosto de vestir
aquilo, etc) temos sempre uma avaliação daquilo que somos.

Para simplificar, existem pessoas que gostam muito pouco de si mesmas, definem um
auto-conceito, identificam as características que tem e desgostam-se por causa disso,
gostariam de ser diferentes, gostavam de ter 1,80 olhos verdes, etc, vêem-se ao espelho e não
se gostam, acham que os outros também não gostam, tem tendência a isolar-se. E acabam por
receber em Looking- Glass Self dos outros essa imagem de antipático, etc.

20
Não é só a maneira como eu me descrevo, a maneira como eu me descrevo em si
mesmo, não é bom nem é mau, a maneira como eu avalio essa descrição é que é relevante, e é
isso chama-se estima de si, ou auto-estima.

Auto-estima é o sentimento de valor próprio, quando já sei quem sou mas isso vale
alguma coisa? Há professores no ISPA que publicam em poucos anos muitos artigos científicos,
outros não, isto estabelece inevitavelmente comparações avaliativas, que incorporam o nosso
comportamento, os nossos valores, a nossa maneira de sentir e de pensar a vida é influenciado
por essa auto-estima.

Eu posso ser muito competente e achar que isso não vale nada, ex. eu posso ser muito
bom a jogar carica, agora quando me apresento não digo “Olá, sou o sou “fulano de tal” e jogo
muito bem à carica”, eu realmente sou muito bom mas não vale nada, não chega ser muito
bom, um aluno pode ter 19 a todas as cadeiras e continuar com um sentimento de
insuficiência, não é difícil chegar a esse ponto, basta ter nascido num ambiente me que
chegam a casa com um 19 e a resposta é porque é que não tiraste 20.

A auto-estima tem um papel decisivo na nossa vida, um sentimento de bem estar.

Felizmente, as pessoas temos capacidade de resistir às ameaças da nossa auto-estima,


Kunda (1987) chama a atenção para as pessoas que valorizam a ideia de ser inteligente e
desvalorizam a popularidade, quer é ser respeitado pela sua inteligência. Regra geral, as
pessoas têm este tipo de interpretações acabam por investir sobretudo em tarefas de
realização intelectual, ajudando assim a manter a auto-estima, isto é, se eu desvalorizar coisas
em que eu não sou bom e valorizar as coisas em que me sinto bom, a minha auto-estima
melhora.

Pelo contrário, se sou popular e tenho fracas capacidades académicas, digo que para
ser feliz é preciso é ser popular, estar com os outros e não ser rato da biblioteca e passar o dia
a ler, e a desperdiçar a vida, ou seja, faço uma interpretação totalmente oposta, para que? É
sempre no sentido de manter uma auto-estima positiva.

Nós não fazemos só isso com a compreensão das nossas competências, desvalorizar
aquelas em que não somos bons e valorizar aquelas em que somos bons, nós fazemos mesmo

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comparações enviesadas com os outros, neste estudo de Weinstein o que foi pedido é que
cada sujeito dissesse o que o futuro lhe reserva daqui a 20 anos, se vai viver bem, se vai ter
emprego, etc, cada um faz de si, e depois cada um foi-lhes perguntado se dos colegas
presentes se acham que o sonho vai acontecer no futuro. Aquilo que as pessoas fazem é uma
desvalorização, na conjectura actual, alguns sim outros não, isto é, quando nós comparamo-
nos com os outros sobrevalorizamos a nossa probabilidade de sucesso no futuro, quando nos
comparamos com os outros.

Ninguém anda a estudar a pensar que vai ser um desempregado qualificado, as


pessoas tendem a valorizar o sucesso para si próprio, mas quando olhamos para os outros com
a mesma estatística por detrás nos pensamos, aquele consegue, aquele não vai conseguir,
relativamente aos outros não somos tão optimistas, e isto provoca uma comparação
valorizada de mim, é uma estratégia para manter a auto estima.

Esta maneira de funcionar automática tem riscos de desvalorizar os perigos inerentes,


isto é, sabemos que temos de trabalhar para chegar lá mas achamos que são “favas contadas”
e não pensamos das dificuldades. Quando as adversidades acontecem o risco é termos
dificuldade de negociar e cairmos em desvalorização do Self, ex. existem pessoas que saem do
curso e pensam que é só esperar uma chamada e que vão encontrar emprego assim, e não
encontram plasticidade em sí para mudar o comportamento e ir à luta, e de repente aquilo
que era um sucesso garantido transforma-se num insucesso e isso tem um impacto abrasador
sobre o sentimento de valor próprio.

A preocupação de Tajfel é com a insensibilidade aos outros, que são processos de infra
humanização em relação aos outros, “os outros não sentem o mesmo que nós”, cria-se assim
uma cegueira social, através do qual se pode ocorrer processos de violência extrema.

Nós não construímos a autoestima isolados, têm que existir grupos nos quais nos
incluamos, esta autoestima é criada em “grupo”, e é através do mesmo que construímos uma
identidade social.

22
Os processos cognitivos na formação de uma identidade social são:

- Categorização: Juntamo-nos a semelhantes.

- Identificação social: É a incorporação de valores, cria-se uma identificação ao grupo


através dos “sinais somáticos” da existência do grupo, passagem de pensamentos, ideias,
imagem, etc. O produto eu, cria-se a partir de comportamentos próprios que se traduzem no
“ideal do grupo”.

- Comparação social: Eu comparo-me com os outros diferentes de mim e do meu


grupo. Existe uma discriminação negativa dos outros grupos (sentimo-nos superiores) e isso
cria um impacto sobre a auto-estima.

23
Mudar de grupo

O que é mau se transforma em bom, inverto


o critério de comparação.

Embora nos esforcemos por nos distinguirmos dos outros e por nos vermos com
entidades separadas, o certo é que somos seres sociais e por isso não podemos dispensar as
outras pessoas. Isto é verdade no que se refere à nossa identidade, pois uma parte daquilo
que nos serve para nos definirmos serve também para definirmos outras pessoas com quem
estabelecemos laços de afinidade e com quem nos identificamos pelo menos em alguns
aspectos importantes para a nossa auto-imagem. A nossa identidade, tem portanto, uma
componente social a que se chama identidade social. A teoria da identidade social abordada
por Tajfel (1982), é considerada como a teoria mais importante no quadro actual dos modelos
sobre as relações intergrupais em psicologia social. A perspectiva da identidade social veio dar
um contributo notável à psicologia social uma vez que renovou certos conceitos: a relação
indivíduo-grupo, os processos grupo, a questão do preconceito e das relação intergrupais, o
auto-conceito e a personalidade.

A identidade social é, em larga medida, relacional e comparativa, faz parte do nosso


auto-conceito que resulta ao mesmo tempo de sabermos que pertencemos a um dado grupo
social. Esta teoria estipula, que os indivíduos procuram construir uma identidade social
positiva mediante comparações entre o seu grupo e outros grupos, sendo estas comparações
baseadas em dimensões associadas a valores sociais dominantes e conduzindo ao favoritismo
pelo grupo de pertença.

Segundo Tajfel (1982), supõe-se que um membro do grupo tende a manter-se como
membro e a procurar a pertencer a novos grupos se esses grupos contribuírem de alguma
maneira para as aspectos positivos da sua identidade social. Em contra partida, o que muitas
vezes acontece, se o grupo não preenche esse requisito, o individuo tenderá a abandoná-lo a
não ser que não seja possível abandoná-lo por razoes objectivas ou por essa decisão entrar em
conflito com valores importantes e que compõem a auto-imagem aceitável do “eu” (do
próprio individuo).

24
Como traduzimos comparações enviesadas em relação a outros grupos, mesmo que
sem critérios de afinidade, existe uma invasão de grupos artificialmente na medida em que a
organização de escolha não é da sua auto-estima.

Falamos da importância da construção da identidade social para manter a auto-estima


em valores aceitáveis, da importância que tem o processo de categorização para a
identificação dos grupos, e como o processo de categorização mesmo feito com base num
critério neutro produz uma apreciação desvalorizada do outro grupo. Esse processo de
desvalorização do outro grupo é uma maneira de manter a auto-estima alta.

Pertencer a um grupo é mais do que o paradigma do “grupo mínimo”, quando nós


pertencemos ao grupo, não chega dizer que se pertence ao grupo, regra geral exige observar
um determinado grupo de normas e respeitá-las, desempenhando papéis.

Ex. Nós fazemos papel de aluno, e o professor representa um papel de professor. O


nosso comportamento é influenciado pela representação que o professor tem sobre o que é
um aluno e da expectativa sobre nós.

25
Existem um conjunto de normas, que não tem necessariamente de serem explícitas,
ex. é proibido estacionar em cima do passeio, isto é uma norma social que nós respeitamos e
que tem uma penalização caso não seja cumprida, mas há normas que não estão escritas em
lado nenhum, e apesar de não estarem escritas em lado nenhum, nós tentamos observar essas
normas porque fazem parte do código de conduta dos nossos grupos, ex. a ideia de
solidariedade.

Outro exemplo, é o da responsabilidade social, se alguém está em aflição, precisa de


ajuda, nós temos tendência a disponibilizar essa ajuda a quem precisa. A norma de saudação,
não é obrigatório, nós não somos avaliados se cumprimentamos ou não, o professor quando
entramos na sala de aula, mas é simpático nós cumprimentarmos alguém quando o vemos,
essa saudação ajuda na integração no grupo. O vestuário não é uma norma de natureza
escrita, mas ninguém vem para as aulas só de bikini. A norma de proximidade, quando falamos
com alguém não estão nariz encostado porque isso é ofensivo, normalmente há uma distância,
não existe uma distância óptima o que se sabe é que dependendo da pessoa a distância é
diferente.

Como exemplo de proximidade, tem-se uma fila para pagar o IRS nas finanças, nessa
fila as pessoas estão próximas, é normal, tão perto que as vezes existem pequenos toques, ou
com a mala, ou com o casaco, etc., mas não se sente um grande desconforto nisso. Se
imaginarmos que é um cenário de apanhados, em que as oito últimas pessoas são comparsas,
e que a um sinal se escondem.

De repente, os últimos dois da fila apercebem-se que estão muito perto um do outro,
e que não está mais ninguém á volta. Nessa situação já se nota estranheza, uma pessoa nesta
situação afasta-se da pessoa que está à sua frente.

Numa fila normal, á medida que o número de pessoas aumenta, a distância entre elas
diminui. Dado que isto acontece sempre, é como se existisse uma norma escrita que explicasse
a distância aceitável para cada situação.

26
O desconforto vem da violação da norma, quando fazemos parte de um grupo,
qualquer violação da norma gera-nos desconforto, que nos leva a repor cenário de satisfação,
de bem-estar (afastar-se) são normas implícitas.

A violação de normas explícitas gera menos desconforto do que a violação de normas


implícitas. Normalmente as normas implícitas não tem uma sanção legal, neste tipo de norma
a sanção é de grupo. Ex. se eu fizer parte de um grupo que nos vestimos todos de preto e eu
visto-me de castanho é violação de uma norma implícita que leva à rejeição do grupo.

As normas explícitas, regra geral têm uma consequência, a violação da norma explícita
resulta de um cenário com consequências, se ninguém vê passa. Ex. Alunos não podem fazer
plágio, se forem apanhados tem uma consequência, se uma pessoa conseguir cabular sem ser
apanhado não tem consequências.

Se a norma fosse implícita, existiam consequências mesmo que não fossem


apanhados, é o mau estar interior que está em jogo.

Norma da responsabilidade
social

Compromisso: Ex. Trabalhos de grupo, quando uma pessoa diz que faz a sua parte nós
esperamos que ela cumpra. A violação do compromisso é altamente penalizadora.

Reciprocidade: Ex. Troca de prendas, se alguém não traz prenda para trocar e mesmo
assim recebe, fica a sentir-se mal.

Responsabilidade social: Norma implícita, quando alguém está em aflição, nós temos
tendência a prestar ajuda, ex. se alguém pergunta as horas, nós temos tendência de dizer as
horas.

Todas estas normas existem, mas nós não as temos igualmente activas, as normas são
activas pela circunstância.

27
Quando eu quero obter um ganho, activo a norma do compromisso e a partir dai
começo a obter aquilo que quero.

Quando estou a pedir um favor, não estou a activar a norma de compromisso mas sim
de responsabilidade social.

Perante um pedido excessivo, as pessoas tendem a dizer que não.

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Depois de dizer que sim, fica mais difícil dizer que não.

Está associado ao telemarketing, onde se faz perguntas básicas no início porque se o


cliente não desligar logo, cria um compromisso para não desligar, por activação da norma de
compromisso.

É mais fácil receber alguma coisa de alguém se dermos nós primeiro.

Ex. Pedidos de casamento, em que homem dá um anel á mulher antes de pedi-la em


casamento.

As normas não têm todas o mesmo valor? E pelos vistos não tem, por exemplo, a
norma de responsabilidade social facilmente é substituída pela norma do comportamento, ou
da reciprocidade.

29
Normas prescritivas implicam uma sanção clara, ex. deitar lixo para o chão, é uma
violação da regra do código, acontece que esta norma é facilmente violada se uma norma de
natureza descritiva for activada.

Fazer o que os outros realmente fazem, por exemplo, não se pode estacionar o carro
em cima do passeio, mas se já estiverem em cima do passeio vários carros, é só mais um, não
há problema, e a tendência é por o nosso carro em cima do passeio.

30
Efeito de espectador - Comporto-me da maneira que os outros se comportam.

Relações intergrupais

Nós organizamos categorias para simplificar a realidade, fazendo um mapa da


realidade, esta categorização é um processo cognitivo que no plano social resulta num efeito,
visto na experiência dos grupos mínimos (um critério único inócuo que organiza dois grupos,
duas categorias, isso ilustra a maneira como nós organizamos grupos, mesmo com um critério
mínimo, e começamos a olhar para outras categorias, para outros grupos, como sendo
diferentes, como derrogados, desvalorizados em relação ao nosso grupo.

A categorização quer identificar entidades mais simples, simplificando a realidade, no


caso da experiencia dos grupos mínimos, a categorização em vez de termos 15 pessoas
diferentes, temos essas 15 pessoas divididas em dois grupos, tendo assim só dois grupos para
pensar e simplificando o pensamento. Isto ocorre fazendo uma generalização das pessoas que
pertencem a esse grupo.

Ex. Eu pertenço ao grupo verde, e os membros do meu grupo e eu; pertencendo todos
ao grupo verde, são diferentes entre si, mas com uma identidade comum. Sendo membros da
mesma categoria vejo como unidades, simplificando apesar de perder alguma informação.

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As pessoas não se limitam a categorizar, isto é, não se limitam a identificar o que nos
separa dos outros grupos têm-se a necessidade de construir a auto-estima com base nisso.
Essa auto-estima “faço-a” a nível da identidade individual.

O processo da identidade social permite as pessoas compararem-se com os outros


grupos e sair a “ganhar” dessa comparação, é isso que cria a auto-estima, perceber que se
pertence a um grupo que é melhor que os outros grupos (neste caso, existe desvalorização do
exogrupo em detrimento do endogrupo). Quando isso não acontece, gera-se uma situação de
identidade social desadequada.

Nós categorizamos, produzimos uma identificação social e comparamo-nos


socialmente, sendo assim, é um processo cognitivo neutro, é um processo que todos nós
fazemos porque não temos recursos cognitivos para processar todos os elementos da
realidade.

Neste processo de manter a auto-estima positiva, gera-se um efeito de enviesamento


do endogrupo (eu tenho tendência a valorizar mais os membros do meu grupo mesmo em
cenário de grupo mínimo, isto é, com o critério mínimo de diferenciação).

Cria-se assim a problemática das relações intergrupais, se é verdade o que foi dito
anteriormente, cria-se um problema entre os grupos, pois os grupos organizam-se não só para
simplificar a realidade, mas para produzir uma diferenciação vantajosa relativamente aos
outros grupos, criando cenários que permitam organizar estereótipos, preconceitos, exclusão,
hostilidade entre grupos, etc.

Todos estes fenómenos, tem constantemente episódios deste género, que nos faz
pensar até que ponto pode-se criar uma sociedade que não organize este tipo de
comportamentos sociais. Porque a nossa arquitectura cognitiva leva á simplificação, a tornar
iguais os membros de um grupo, ver todos os membros da mesma maneira e inferiores ao
meu grupo, o que por extensão, os torna inferiores a mim.

Nos estudos das relações intergrupos, emerge uma questão central é o preconceito
(como se organiza, qual a relação entre preconceito e estereótipo, até que ponto o estereótipo
é realidade).

O pensamento categorial é quando um estímulo simples remete para um universo de


representações sobre a pessoa.

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O Robert Pattinson, é da categoria homem, é um estímulo simples, sem termos
necessidade de pensar sobre o assunto, este estímulo convoca na pessoa pensamentos
completamente diferente do outro sujeito (que até podia ser a mesma pessoa vestida de outra
maneira). Olhando para ambos cria-se uma dificuldade em sentir que fazem parte do mesmo
grupo.

Eles convocam categorias diferentes e, sendo categorias diferentes, não tem para nós
o mesmo valor, quando accionamos categorias cognitivas, atribui-se valor em função da nossa
identidade, isto é, genericamente, as pessoas tendem a ver no Robert Pattinson um sujeito
mais próximo do que somos, do que o sujeito da esquerda (claro que se os sujeitos para quem
estivermos a referir for diferente ex. um grupo de pais de angola, secalhar identificam-se mais
com o sujeito da esquerda.

Quando categorizamos, e nos identificamos, essa identificação é em função dos nossos


valores, atitudes, o que valorizamos, quando comparamos, se a pessoa não for do nosso grupo
é inferior de alguma maneira, de acordo com esta perspectiva que nós desvalorizamos os
membros pertencentes ao exogrupo em detrimento do endogrupo.

As normas estabelecem um padrão de ajustamento social ao grupo, ou seja, violar as


normas é colocar-se fora do grupo, e quando isso acontece (pessoas desviantes), estes
elementos são descriminados, rejeitados e excluídos. Quem viola as normas têm o mesmo
“tratamento” cognitivo do que pessoas de grupos diferentes. Como se a categorização tivesse
o “gene” da discriminação e exclusão.

E organizamos o estereótipo.

Estereótipo:

Sendo que o estereótipo em si é “pegar” numa categoria e atribuir-lhe um significado


do ponto de vista da personalidade dessa categoria.

Existem categorias, ex. britânico, que são vistos como pontual, mas podia ser visto
como hostil, ameaçador, etc., o processo de categorização só por si não gera estereótipos, o
estereótipo ocorre quando as pessoas associação uma característica, atributo ou traço quase
de personalidade social ao grupo e generalizam com base na crença.

33
Cria-se uma expectativa, que vai fazer com que as pessoas se comportem de acordo
com essa expectativa.

Um estereótipo pode ser ou não ajustado á realidade, ex. dizer que uma mulher é
maternal e má a conduzir, são duas características que não têm o mesmo ajustamento à
realidade.

Se a categoria tem uma característica, os membros da categoria também têm essa


característica.

O estereótipo não tem de ser negativo, alguns podem ser elogiosos. Ex. As mulheres
são maternais, mas duas mulheres não têm o mesmo comportamento em relação a uma
criança.

O estereótipo gera uma expectativa de comportamento, quando se viola o estereótipo


esse individuo do grupo esteja a violar uma norma subjectiva do estereótipo, que o próprio
sujeito constrói.

Organiza-se uma expectativa de comportamento, em função dessa expectativa


organiza-se um comportamento, o problema central é que a pessoa visada tende a comportar-
se de acordo com o estereótipo, é como se o estereótipo tende-se a confirmar-se porque as
pessoas organizam o comportamento de acordo com a percepção que têm da expectativa dos
outros. Isto é, o comportamento do sujeito é influenciado pela expectativa desse sujeito.

Ex: Se a minha expectativa é que a mulher seja maternal é como se existisse uma
pressão social para que a mulher se comporte dessa forma.

O estereótipo tem uma origem cultural, é diferente de cultura para cultura, é um


produto social que é organizado socialmente.

Os estereótipos organizam não só o comportamento de quem têm este estereótipo


como também ajuda a estruturar o comportamento do outro (o alvo do estereótipo) através
do efeito de expectativa.

34
Se organizo um estereótipo perante o outro o meu comportamento organiza-se. Ex. Se
eu acho que aquela pessoa é assustadora eu organizo um comportamento para evitar aquela
pessoa, que por sua vez vai perceber este comportamento de evitamento e se afasta, o que
gera clivagens (afastamentos) entre grupos sociais.

O que define um estereótipo como “positivo” ou “negativo” é a valência (positiva ou


negativa) da categoria.

Existem estereótipos mais ou menos ajustados, o que os define desta maneira é a


adequação á realidade. A percepção da realidade não é comum para todas as pessoas, o
mesmo objecto pode ser definido em categorias diferentes por pessoas diferentes, apesar
disso, a realidade existe na mesma, tendo ou não instrumentos mais ou menos aferidos para a
medir.

Os estereótipos têm tendência a ser menos ajustado à realidade, uma vez que é difícil
de definir a realidade associada a eles, mas isso só faz com que existam uns estereótipos mais
próximo da realidade e outros mais distantes, porque essa realidade existe mesmo não
sabendo exactamente o que ela é.

Ou seja, podemos questionar a correcção dos estereótipos essencialmente com base


em dois factores, a natureza dos conteúdos e os critérios de mensuração dos estereótipos. O
primeiro, a veracidade de um estereótipo pode sr questionada desde logo pelo facto de que a
maioria dos seus conteúdos são traços de personalidade, no segundo ponto, coloca-se um
problema de objectividade, pois não existem critérios objectivos para atestar a veracidade dos
estereótipos nem medidas que permitam aferir objectivamente características colectivas dos
grupos.

A confusão entre a componente racional e a componente valorativa dos estereótipos


passa a desempenhar uma poderosa função de justificação da estrutura social, levando-nos a
tratar como se fossem objectivas informações que não são racionais. Essas informações
justificam os nossos preconceitos e, permitem-nos criar uma “compreensão” do mundo que
justifica as posições objectivamente ocupadas pelos diferentes grupos na dinâmica social.

Para Allport, esta estreita interdependência de elementos denotativos e conotativos é


ainda facilitada pela forte necessidade de simplificação da informação proveniente da
estimulação humana, extremamente rica e complexa, que culmina em generalizações abusivas
(exagero de certos indícios perceptivos e a sua atribuição indiscriminada a todos os membros
de um grupo), e por outro, a justificação das diferenças sociais (transformação de indícios
racionais em valores explicativos da posição relativa dos grupos na estrutura social), sendo
estes a base de um estereótipo.

Preconceito:
Allport (1954) definiu inicialmente o preconceito de uma forma simples: “pensar mal
dos outros sem fundamento suficiente”, mas uma análise aprofundada do significado dessa
frase, no contexto da sua centração sobre os problemas interétnicos, levou a uma primeira
definição mais precisa, que colocou o preconceito no domínio das relações intergrupais.

35
Presume-se que ela tem características censuráveis atribuídas a esse grupo. Esta
definição acentua o facto de o preconceito étnico da vida quotidiana ter a ver com as pessoas
enquanto indivíduos, mas simultaneamente conter uma ideia infundamentada em relação a
um grupo como um todo.

O que permite distinguir o preconceito de outras atitudes negativas em relação a


membros de outros grupos é ser uma ideia infundamentada. Além disso, se a pessoa for capaz
de rectificar o seu julgamento à luz de novas provas, isso não é um preconceito.

A capacidade de construir uma visão partilhada de uma identidade comum do grupo


de quem estereotipa e do grupo que é alvo do estereótipo revela-se muito eficaz na redução
do preconceito e da discriminação. (Gaertner e Dovidio, 2005)

É fácil adoptar atitudes preconceituosas porque 1) decorrem da generalização errada


de uma categorização e de sentimentos de hostilidade; 2) a generalização e a hostilidade são
capacidades naturais e comuns na mente humana.

A origem da formação de preconceitos na infância está relacionada com a


aprendizagem social, na identificação com os pais, nas normas sociais onde a criança cresce, na
educação autoritária na infância ou na articulação entre as dimensões cognitiva-emocional e
do estatuto relativo dos grupos.

O preconceito só passa ao acto se tiver suporte social.

Efeitos Pigmalião (auto-realização de profecias) as pessoas comportam-se em função


da expectativa que os outros têm delas, menos suporte social.

Se o grupo é percebido de alguma maneira como hostil, é provável que organize um


comportamento, que seja percebido como hostil.

36
Esses traços de personalidade de um grupo geram conteúdos emocionais, não nos
limitamos a dizer que determinadas pessoas são perigosas/hostis isso gera medo e
insegurança, e como isso é algo que queremos anular afastamo-nos destes grupos, e isso
afasta ainda mais culturas diferentes.

O nosso comportamento organiza-se em função deste tipo de representação.

De certa maneira parece estrutural á pessoa (quase natureza humana porque não
conseguimos fazer não parte de um grupo e fazer parte do grupo sem olhar para os outros de
uma maneira diminuída) quando pensamos na teoria de identidade social, percepcionar que as
pessoas quando organizam grupos começam a diminuir os outros grupos, sendo que isso
acontece por várias razões; uma delas tem a ver com a necessidade de nós mantermos uma
identidade social adequada, ajustada e beneficiar a nossa auto-estima, como se para manter
uma boa auto-estima preciso de olhar para os outros grupos como sendo inferiores.

Ex. Paradigma dos grupos mínimos.

A psicologia social, praticamente sempre se debruçou sobre este problema da origem


sobretudo do conflito e da violência sendo que estes exercidos sobre grupos que são
considerados inferiores de alguma maneira, isto é, as pessoas não desencadeiam violência
contra indivíduos que fazem parte de grupos privilegiados. Quase como adoptamos uma
atitude quase como, “aqueles que nos são inferiores nós podemos tratar mal”.

Existe então uma explicação social com base social e cognitiva na teoria da identidade
social. Mas fazendo nós parte de grupos, não somos todos iguais, podemos ter preconceitos
(impossível não ter algum tipo de preconceito) mas somos capazes de controlar esse
preconceito não passando ao acto constantemente (não temos de ser violentos).

Havendo uma explicação social, há certamente algo individual no exercício da violência


(passagem ao acto do preconceito). Dando origem a modelos teóricos explicativos do
preconceito e da agressão centrados mais no indivíduo do quem variáveis de natureza social.

Teoria da Frustração-Agressão (Dollard, et al. 1939)

37
A teoria da frustração-agressão diz-nos que a agressão resulta sempre de uma
frustração e a frustração tende sempre á agressão, ou seja, as pessoas reagem agressivamente
porque sentem alguma espécie de frustração.

Frustração é tudo aquilo que são barreiras à concretização da vontade, da aspiração da


pessoa.

Se alguém está na origem dessa frustração, essa pessoa é alvo de agressão. – Princípio
genérico.

O problema desta teoria é que em contexto social as pessoas vivem permanentemente


em cenário de frustração ou pré-frustração, isto porque as pessoas não têm interesses
coincidentes, e o contacto social é potencialmente gerador de frustração que significa que
todo o contacto social é potenciador de agressão. Isto é, o problema é como cada individuo
gere a sua frustração.

Ex. Princípio da realidade e do prazer: a realidade impõe um limite que pode não ser
agradável, e a negociação desses limites é gerador de alguma frustração e as pessoas
aprendem a negociar esses limites resolvendo a frustração.

Do ponto de vista dessa agressão maciça, o controlo social exige que as pessoas não
passem ao acto dependendo não só da maneira como a pessoa lida com a frustração mas
também do alvo.

Ex: Se o alvo de frustração for o chefe que traz mau estar e frustração mas a pessoa
não tem necessariamente de passar ao acto de agressão, do ponto de vista desta teoria, o que
as pessoas fazem é não passar ao acto com essa pessoa por causa das questões do controlo
social mas deslocam para alvos mais acessíveis, sendo estes, os mais vulneráveis, os mais
próximos e os diferentes (os que não configuram a norma).

A teoria sustenta que a agressão é sistemática, tem uma base social mas é activada
individualmente, sendo activada individualmente. Ideia da análise sincrónica (que é simultanea
no tempo). Esta análise explica a violência em relação de grupos dirigida a esse próprio grupo,
isto é, existem cenários de violência interna entre grupos (ex. guerra civil – grupo de pessoas
de determinada nacionalidade): um é o effect black sheep que corresponde aos grupos com
base na norma, um elemento que não esteja ao nível da espectativa definida pela norma é
“atacado” internamente ao grupo.

Quando a análise sincrónica é prolongada no tempo tende a torna-se externa ao


grupo, um exemplo é o estado do nosso país neste momento que tem três saídas possíveis: 1)
a conflitualidade interna baixa, isto é, a crise dá sinais de abrandamento; 2) entramos em
guerra civil, conflitualidade interna; 3) entramos em guerra com outro país.

Berkowitz: Qualquer cenário de frustração, na verdade, qualquer emoção negativa é


geradora de potencial de agressão. Faz estudos, do ponto de vista metodológico com falhas,
mas a verdade é que encontra correlações, como por exemplo, os níveis de temperatura
ambiente e índices de criminalidade (em alterações ambientais que nos provocam desconforto

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elevam os níveis de criminalidade e baixa os índices de resistência à frustração de onde resulta
mais agressão).

Teoria da personalidade Autoritária

Personalidade Autoritária, isto é, as pessoas que tem um código de valores demasiado


restritos têm tendia a gerar uma relação mais estrita, as personalidades autoritárias tendem a
valorizar como critérios sociais a obediência que implica hierarquia (quase personalidade
militar) mas sobretudo uma hierarquia inquestionável, porque isso é questionar os
fundamentos da organização social. Sendo que para a personalidade autoritária, existir quem
mande e quem obedeça é um princípio dogmático (preto e branco).

Esse tipo de educação muito rígida, em que os horários tem de ser cumpridos
rigorosamente, estruturação através de rotina mas absoluta.

Desenvolvemos estratégias relacionais com base no tipo de personalidade, e quando


sentimos superioridade em relação aos outros, diminuímos a percepção de respeito aos
outros, torna-se mais fácil agredi-lo.

Congruência de crenças (Rokeach, 1948)

Normalmente uma pessoa que tem um preconceito racional tem outro tipo de
preconceito do mesmo género. Por exemplo, uma pessoa homofóbica muito facilmente é
racista, etc, com base na ideia da personalidade autoritária e no facto de as pessoas que
desenvolvem este tipo de alteração relativamente aos outros, normalmente tendem a

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procurar outros que confirmem a sua crença, uma pessoa racista tende a associar-se a outras
pessoas que tem o mesmo tipo de crença que confirme a sua.

A pessoa confirma que tem razão, que os outros são inferiores, porque encontra
alguém que tem a mesma atitude em relação aos outros, criando grupos tipo skined, criando
crenças que se tornam resistentes até a maneira que olham para figuras publicas que
evidenciam características positivas (racistas contra o Obama), criando representações da
realidade iguais as crenças que se têm.

A crença é muito difícil de mudar mesmo com nova informação, e sobretudo torna-a
socialmente legítima.

Teoria da Privação Relativa (Stouffer, et al. 1949)


Esta teoria surge para explicar o conflito com base em preconceito, surge uma realidade onde
as pessoas nem sempre entram em conflito porque, por exemplo, partilham de maneira
desigual da riqueza, isto é, as pessoas não vivem numa sociedade igualitária, e isso não faz
com que as pessoas se sintam pressionadas a conflito, nem a sua personalidade ser autoritária
(sendo que pessoas com este tipo de personalidade têm tendência a desenvolver maior
preconceito e conflito).

A teoria da privação relativa vem explicar que a questão central não é não ter alguma
coisa, mas sim, eu não ter alguma coisa e achar que devia ter. Ideia que quando existe uma
comparação, o indivíduo acha que tem tanto direito a ter algo como ao indivíduo do lado, e se
não têm cria-se uma situação de privação relativa.

Para Durkheim o que é preciso para reinar a ordem social é que a grande massa das
pessoas esteja satisfeita com aquilo que tem. Mas para que elas estejam satisfeitas não é
preciso que tenham mais ou menos, mas sim que estejam convencidas de que não têm direito
a mais”.

O que cria preconceito e conflito não é umas pessoas terem muito e outras terem
pouco, é sim, as pessoas que têm tendo muito ou pouco acharem que não têm aquilo que
merecem – princípio central da teoria da privação relativa. Isto gera um sentimento de estar a
ser excluído de alguma maneira, e a percepção de estar a ser excluído não depende daquilo
que me cabe mas sim do que me cabe comparando com o que cabe aos outros.

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Pode existir conflito no topo (os que têm mais) relativamente a quem tem menos, para
isso basta os que têm mais olhem para quem têm menos e achem que os que têm menos têm
mais do que o que merecem, isto explica porque é que pessoas que estão no topo da pirâmide
social desenvolvem preconceito e atitude conflituantes relativamente a grupos
desfavorecidos. Ex. Descontentamento quando se faz discriminação positiva, que nem sempre
é vista de uma maneira aceitável. A discriminação é dar a uns e não dar a outros, a
discriminação viola um princípio de justiça social, quem tem o papel de fazer a discriminação
positiva na nossa sociedade é o estado pois é o regulador que tenta atenuar injustiças e
desigualdades sociais, por exemplo, o estado assegura que exista escolas mesmo para as
crianças que não têm direito a ir a escola, o dar livros não é para todas as crianças é só para
algumas.

O princípio da escola obrigatória é um princípio de universalidade (universal e


obrigatória), de todas as crianças há algumas que têm mais dificuldade e o estado ajuda mais
essas crianças (ex. dando livros, aulas de compensação, comida, transporte, etc.), mas não é
para todos, é só para alguns, para os que precisam mais, no sentido de encontrar uma
igualdade para todos as mesmas oportunidades.

Não significa que todas as pessoas concordem com esta discriminação positiva, é uma
maneira de atenuar desigualdades mas há pessoas que se questionam sobre essas
desigualdades, do porquê deles necessitarem desse apoio, e chegam a conclusão que as
pessoas que são discriminadas positivamente necessitam desse apoio porque não merecem,
que o princípio de justiça social é meritocrático (há um critério de distribuição de riqueza em
que quem merece mais tem mais, quem merece menos tem menos), este tipo de discurso é
pessoas que estão em cima da pirâmide social e acham que os que estão por baixo têm mais
do que merecem, o que gera conflitualidade.

Não é só privação que gera conflitualidade e preconceito, é a comparação com os


outros grupos sentindo que “ a nós não nos estão a dar, estão a dar aos outros porquê?”,
sentindo-se injustiçados. Esta reacção a medidas de discriminação positiva muito
frequentemente tem por base uma ideia de justiça, que deve ser igual para todos.

Teoria dos Conflitos Realistas (Sherif, 1961)


Há conflitos que ocorrem devido a bens escassos, ex. a água potável tem de se pagar
por ser um bem escasso.

A teoria dos conflitos realistas explica que os grupos quando se organizam e entre eles
existe necessidades comuns, ou seja, os dois grupos pretendem um bem escasso, disputam-no
entrando em conflito.

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Sempre que há competição, a competição lança as bases sociais da discriminação, do
conflito e do preconceito.

O importante já não é uma percepção relativa mas sim a apropriação, isto é, quando
dois grupos se organizam em confronto e disputam o mesmo objectivo entram em conflito, na
perspectiva estrita dos conflitos realistas.

Interesses divergentes porque


Ex. eu quero esta cadeira e outra
pessoa também quer, e não pode
ficar para os dois (não pode ser
convergente).

É divergente porque ou é para


um, ou é para o outro. E espero
que seja para mim enquanto
grupo.

Mas sendo interesse divergente


o interesse é o mesmo.

Sempre que os recursos sejam divergentes, mas os grupos precisarem de interagir para
os defender, ou sempre que os interesses forem convergentes, mas os recursos forem
limitados ou indivisíveis, é possível predizer que se desenha uma relação de conflito, traduzida
em atitudes intergrupais etnocêntricas e competitivas que podem atingir formas elevadas de
hostilidade, de discriminação e até mesmo de agressão. Pelo contrário, quando os interesses
objectivos de dois grupos forem convergentes e os recursos suficientes, é possível predizer
que se desenha uma relação de cooperação, sendo então as atitudes e os comportamentos
menos etnocêntricos, mais centrados na resolução de problemas do que nas características
estereotípicas dos grupos e na sua diferenciação.

Robbers cave experiment (Sherif, 1961)

Exemplo de uma experiência clássica em Psicologia Social, que foi organizada por
Sherif com grupos de rapazes de 12 anos e fez uma experiência dos grupos mínimos,
organizando dois grupos ao acaso e permitiu que os grupos escolhessem um nome, criassem
sinais secundários de identidade (hino, bandeira, etc.) e organizou jogos de competição que
começaram por rivalidade (discriminação derrogada do outro grupo) e no quadro dos jogos

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competitivos em que um ganha e o outro perde gerou-se agressão e retaliação (violência)
sobre o outro grupo, chegando a queimar sinais secundários de outro grupo (queimando a
bandeira).

Quando depois se colocaram em grupos em jogos onde era necessário cooperação


(onde os grupos tinham um campo de jogo dividido ao meio e onde os elementos de um grupo
não podiam sair do seu espaço, mas era necessário fazer uma captação da água de um lado do
campo para o outro), a hostilidade mantem-se podendo existir boicote do trabalho do outro
grupo.

Em princípio, em trabalhos de cooperação não se espera este tipo de atitudes, mas


quando se instala a rivalidade entre grupos só se resolve com cenários de interdependência
em que se criam objectivos supra-ordenados (tarefas superiores ao interesse do próprio
grupo) em que a redução da hostilidade se consegue porque existe um objectivo maior, ex. a
tarefa é: dois grupos em competição directa e um grupo para marcar pontos tem que oferecer
alguma coisa ao outro grupo, ou tem de arranjar uma maneira de valorizar o outro grupo.

Este estudo foi repetido várias vezes com variantes mas o padrão básico é este, só a
interdependência é que resolve problemas de rivalidade intergrupos.

Racismo
O racismo é um preconceito racial, apesar de já não existir com tanta frequência um
racismo mais explícito, existe racismo mas de uma maneira mais subtil.

O que caracteriza os conceitos de racismo simbólico, racismo moderno, racismo


aversivo e racismo ambivalente é o reconhecimento pela sociedade norte-americana da
emergência de novas formas, mais sofisticadas, de manutenção e expressão do preconceito
racial contra minorias étnicas, tendentes a ultrapassar as dificuldades criadas pela consagração
legal do princípio da igualdade de tratamento e de oportunidades para todos os grupos raciais.

Para além deste reconhecimento, estes conceitos propõem diferentes explicações para
as formas que o preconceito assume para lidar com o conflito interno descrito por Allport, mas
mantêm o pressuposto segundo o qual a maioria lida com esse conflito adoptando
comportamentos que podem ser justificados por outras razões que não o preconceito racial.

Racismo moderno, simbólico aversivo e ambivalente

Identifica-se uma inconsistência entre o que é o meu entendimento da realidade


(cognição) ex. Nós achamos que todos os seres humanos têm os mesmos direitos consagrados
pela carta dos direitos humanos, ou seja, do ponto de vista cognitivo percebemos que todos
temos os mesmos direitos mas do ponto de vista emocional as pessoas não têm o mesmo
comportamento, deste ponto de vista as pessoas associam-se as pessoas que lhe estão mais

43
próximas, e as pessoas que nos estão mais próximas são aquelas que circulam no mesmo
espaço que nós.

Apesar de não termos um sistema de castas, os casamentos inter-raciais são notados,


apesar de não impedirem, em casos de racismo subtil, não manifesto algumas pessoas pensam
“os negros devem ser felizes mas na terra deles”.

Formas subtis de racismo

Apesar de estarem referenciados no livro base da cadeira estes quatro tipos de


racismo, a autora desenvolve os dois tipos que estão a cores, fazendo isso porque há grande
proximidade conceptual dois a dois.

O racismo simbólico tem a ver com a ideia da oposição ao subsídio para as pessoas que
fazem parte de minorias, todas as medidas de discriminação positiva, por as pessoas terem as
coisas mas estragam, sendo que não partilham os mesmos valores.

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Este tipo de racismo continua a ser subtil, já não é assumido na medida em que não é
por exemplo um racismo onde as pessoas não deixem entrar um negro no restaurante mas
demonstram o seu racismo através de ideias onde por exemplo, tem ideia que as minorias são
mais criminosos que as pessoas que não são das minorias.

Correlações ilusórias: As pessoas têm tendência a correlacionar mentalmente dois


eventos que ocorrem menos, isto é, os grupos minoritários são minorias e a criminalidade
também não é norma, tendo tendência a associar um crime cometido por uma pessoa das
minorias, ex. um cigano, à comunidade, como se eles cometessem mais crime do que os
outros grupos.

Infra-humanização dos exogrupos (J-P Leyens)

Isto é, como se os membros dos outros grupos sendo humanos e tendo as mesmas
características, mesma capacidade emocional têm só ao nível das emoções primárias como se
determinados grupos não fossem capazes de sublime. Ex. Não se vê muitas pessoas de etnia
cigana num museu a olhar para um quadro. Mas isso não significa que não são capazes de ter
boa percepção estética.

Múltiplos estudos em que se pede as características da natureza humana e da essência


humana esta divisão aparece e, quando se pergunta sobre grupos minoritários que
características emocionais eles têm os grupos minoritários estão mais associados e emoções
naturais do que sentimentos humanos, estes estudos utilizam escalas tipo Likert tendo por
exemplo a palavra amor e o alvo: negro, não se diz que não é capaz de amor mas situa-o num
nível mais baixo do que for uma pessoa pertencente ao meu grupo.

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O enviesamento perceptivo por infra-humanização do exogrupo acontece quando, por
exemplo, ouvimos uma notícia onde 20 pessoas morreram na Síria, não é a mesma coisa do
que quando morre uma pessoa que nós conhecemos, é como se existisse uma percepção de
infra-humanização da capacidade de sofrimento dos outros, temos tendência a criar um
processo de derrogação do exogrupo. É mais fácil ter um gesto de agressão a uma pessoa que
está a ser infra-humanizada (ex. extremo é a escravatura).

Os processos de infra-humanização agravam todas as formas de preconceito e são de


racismo simbólico.

Redução do Preconceito
Criou-se modelos para perceber como se pode reduzir o preconceito:

- Modelo de descategorização

- Modelo da mútua diferenciação intergrupal

- Modelo da identidade endogrupal comum

- Modelo da dupla identidade

Todos eles têm inconvenientes e todos funcionam, não existe um que é melhor que os
outros, em determinados contextos pode não funcionar uma abordagem mas funcionar outra.

Modelo de Descategorização (Brewer & Miller, 1984)

Neste modelo que assenta no princípio de identidade social em que fazemos uma
categorização produzindo um enviesamento endogrupo, sendo que isso é um preconceito.
Para resolver isso, de acordo com este princípio, conseguir desmontar o processo de
categorização, sendo certo que os seres humanos categorizam, é um processo automático
(não consciente) e categorizam para simplificar a realidade compreensível e controlável.

Se conseguíssemos descategorizar desaparecia a origem da discriminação e do


preconceito, sendo que teríamos de retirar o carácter de categorização de um determinado
grupo e em vez disso, torna-lo sem identidade de grupo, isto é, conseguir que as pessoas em
vez de se relacionem com um grupo se relacionem com o indivíduo do grupo e perceber que
essa pessoa não é tão diferente de si, pois no processo de categorização o que se aprofunda
são as diferenças.

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O que existiria para descrever os outros grupos não era ex. cabo-verdianos, angolanos,
etc., mas sim esta pessoa tem estes atributos, tem este tipo de personalidade, etc. Trazendo o
conhecimento dos outros independentemente da sua origem.

Uma crítica a este modelo é a homogeneização que este provoca, ou seja, não existe
origem, não existe distinção como se existisse um exercício de etnocentrismo em que a cultura
dominante descaracteriza os outros como pretexto de reduzir o preconceito, pois se eles
forem iguais a mim deixo de ter preconceito.

Apesar disso, não quer dizer que este modelo não funcione, pois é eficaz na medida de
uma desconstrução do processo de categorização.

Modelo de mútua diferenciação intergrupal (Hewstone & Brown, 1986)

Este modelo afirma que devíamos acentuar o processo de categorização mas,


acentuando as diferenças e valorizando-as, isto é, se não adoptarmos a visão etnocêntrica
podemos concluir que o crioulo é rico no ponto de vista lexical será? Só o intuito de conhecer
em vez de simplesmente excluir valoriza essa dimensão cultural. Podemos valorizar os outros,
valorizando a sua identidade de grupo e querendo saber mais sobre os rituais, hobby’s,
cultura, etc., enriquecendo todos.

Assenta no princípio de que se eu tiver uma relação do outro grupo enquanto grupo, o
meu grupo enriquece com isso. Este modelo evita a homogeneização, mantendo os traços de
identidade cultural.

Críticas a este modelo são relativamente a ele manter a separação, não criando
autonomia na relação com outros grupos.

Modelo de identidade endogrupal comum (Gaertner & Dovídeo, 2000)

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Este modelo procura é eliminar os processos de categorização, não para relacionarmo-
nos elemento com elemento mas criando uma categorização superior, ex. uns são do norte
outros são do sul, mas existe algo que nos engloba que é Portugal.

Quando se cria a supraidentidade diminui o processo de categorização, mas não o


elimina, isso permite o acesso mas diminui os processos de diferenciação intergrupos. Ex.
Ouvir pronúncias diferentes, mas existe algo que nos une nesta diversidade é a identidade da
pátria. Montar programas de integração que preservem a identidade debaixo de um conceito
partilhado em que todos temos a mesma identidade, é como construirmos um grupo maior.

A crítica a este modelo é este limite exige outros limites, isto é, exige competição com
outros grupos, ex. os nacionalismos são fundados nisso. Porque não há limites de grupo que
não exija outro grupo com o qual se define.

Dilemas Sociais
A questão dos dilemas sociais é uma questão de ética, explica qual a motivação que
levou os seres humanos a organizar-se, a formar associações, comunidades, nações e grupos,
essa motivação foi pela protecção e concretização de objectivos, isto é, as pessoas juntam-se
na medida em que sentem que é mais exequível cumprir as suas aspirações se tiverem em
sociedade do que se estiverem sozinhos.

A ideia de protecção e de cumprimento de objectivos é o que leva as pessoas a


juntarem-se, desde sempre as sociedades organizam-se para proteger uns aos outros e em
particular os mais fracos, isso exige a constituição de normas de funcionamento, sendo que
essas normas regulam a vida em grupo, e colocam como princípio que o interesse do colectivo
que está acima do interesse individual. O interesse do grupo é o valor mais alto porque é a
melhor maneira de garantir a protecção dos mais fracos em termos individuais.

O princípio de organização social é determinado por uma necessidade de valorização


do endogrupo, a traição ao grupo significa o mesmo da violação de uma norma social, isto é,
existem normas sociais cuja violação determina o fenómeno de ovelha negra (perseguição,
exclusão, bode expiatório), e por isso evitamos violar normas.

O conflito individual gera o dilema, isto é, quando o interesse individual conflitua com
o interesse do grupo gera-se o dilema social.

Exemplos de dilemas sociais:

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Ex. Nós queremos uma democracia, gostamos de pensar que quem nos governa tem
esse poder porque o povo o escolheu, e preferimos uma democracia a uma ditadura, o
interesse do grupo é manter a democracia, o dever cívico é ir votar, dados os níveis de
abstenção existem pessoas que não foram votar criando um dilema social. Se todos deixarem
de ir votar num determinado momento a democracia colapsa. A minha retirada relativamente
a um dever cívico orientada pelo interesse individual contende a manter o grupo em que me
incluo.

Sempre que existe um conflito em que o sujeito toma a decisão mais vantajosa para si,
uma medida autocentrada, tem um efeito negativo cuja escala não se percebe, só se percebe
se a maioria dos indivíduos tomarem essa decisão.

Existe uma relação custo/benefício, tem de existir espaço para o interesse individual,
apesar de ter de existir uma regulação do grupo mas também gostamos que exista poder de
escolha dentro dessa regulação, tem de existir um equilíbrio (tensão dialéctica) entre o
interesse individual (pulsão individual) e a necessidade de proteger o interesse do grupo que
resulta me dilema social.

Dilema dos prisioneiros:


Um exemplo típico, de onde pode ir a pulsão individual. Há um jogo clássico chamado
dilema dos prisioneiros, onde dois assaltantes são capturados e são interrogados
individualmente, onde é dito ao indivíduo que se confessar atenua-se a sua pena e aumenta-se
a do parceiro, explicando que se o colega confessar primeiro o contrário também ocorre. Não
tendo contacto com o parceiro, se confiar nele não digo nada e consegue-se safar-se.

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Estando na posição 1 tem duas opções (uma opção X e uma opção Y) se escolher a
opção X é o que acontece a este sujeito e a opção Y é o que acontece ao parceiro. Se o sujeito
escolher a opção X pode ganhar 3 qual é, ou pode perder seis dependendo da opção do outro
que não se sabe qual é. Se escolher a opção Y pode ganhar 6 ou pode perder 1.

No jogo, a partida sabe-se os ganhos e as perdas potenciais, as pessoas de uma


maneira muito sistemática tendem para a opção Y, isto é, coloca-se em primeiro o interesse
individual, o risco é mínimo e a probabilidade de ganhar é a mais alta. As pessoas tendem não
a pensar sobre o outro mas sim a relativamente a si próprio (condição necessária para a nossa
sobrevivência mas é autocentrada). Quando o sujeito entra em dilema social tende a
sobrevalorizar a opção mais vantajosa para o sujeito.

Social loafing:

O esforço que cada um faz quando está em grupo é menor do que o esforço que faz
sozinho, o trabalhar em grupo a probabilidade de ter melhor resultado é grande, sendo que,
cada um dos elementos investe menos do que se tivesse sozinho. Isso não significa que o
resultado do trabalho de grupo seja pior do que um trabalho individual significa que fazemos
loafing (relaxamento) quando estamos em grupo.

Existe alguma tolerância relativamente ao relaxamento dos outros quando


trabalhamos em grupo.

Dilema de renovação de recursos

O dilema clássico é o dilema de renovação de recursos que nos diz que existem uma
série de recursos que são renováveis se soubermos gerir esses recursos. Ex. O pescado, se
tivermos cuidado o peixe não desaparece, renova-se e é um património mundial.

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Se analisarmos do ponto de vista da relação custo/benefício podem acontecer dois
cenários diferentes, o primeiro é pescar o mais possível enquanto dure porque já não vai durar
muito, é um comportamento predador sobre os recursos naturais, se isso acontecer vai chegar
a um ponto que já ninguém tem o que pescar. O segundo cenário é tomar consciência e a
decisão de não pescar só pensando em mim utilizando conscienciosamente os recursos,
podendo acontecer que os outros não tenham esta consciência o que vai provocar uma dupla
penalização, na medida em que, não só deixo de poder pescar como não ganhei tanto como
poderia ter ganho se tivesse pescado sem consciencialização anteriormente, dado que o
resultado seria o mesmo. O comportamento lógico é pescar o mais possível, pois pensando nas
opções que se tem, fica-se a ganhar se pescar o mais possível antes do peixe esgotar.

Dilema dos bens públicos


Este dilema está relacionado, por exemplo com os impostos, os impostos é algo
importante para todos os cidadãos, para isso é necessário que todos contribuam.

Num cenário experimental, formam-se grupos de sete pessoas e o experimentador dá


cinco euros a cada um, e explica que se existir pelo menos quatro pessoas que devolve os
cinco euros, todos recebem um prémio de dez euros, sendo que ninguém sabe qual vai ser o
comportamento do outro.

Se só três entregarem os cinco euros de volta, os que deram o dinheiro perdem o


mesmo, sendo que os outros ficam iguais.

A maioria dos grupos experimentais não devolveu o dinheiro, como se existisse uma
desconfiança.

Explicações possíveis:

Será que é o medo que motiva as pessoas ou será que é a vontade de ter mais? A
pessoa pensa “eu não vou dar porque depois ninguém dá e eu vou perder os cinco euros” ou
pensam “eu não vou dar porque as pessoas vão dar e assim em vez de ganhar cinco euros
ganho quinze”.

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Era de esperar que as pessoas, não tendo este medo, dessem os seus cinco euros, pois
esses estavam garantidos, contudo o comportamento não se alterou. Chegando-se a conclusão
que não é por medo de perder o dinheiro pois esse medo foi anulado.

Nos grupos em que foi neutralizada a avidez o comportamento alterou-se, ou seja,


parece que o motivo que leva as pessoas nesta relação custo/benefício a privilegiar o interesse
individual não é o medo mas sim a avidez, a ganancia. Ou seja, nós queremo-nos sobrepor aos
outros.

Ex. Grupos mínimos em que as experiencias demonstram que as pessoas querem ter
uma vantagem relativa onde a pessoa tem menos mas os outros também tem menos. O
modelo da mútua diferenciação intergrupal, onde o que interessava não era ter muito mas sim
ter mais do que os outros, onde existe uma comparação sistemática.

É como se o sujeito se organiza-se em competição sistemática com os outros, não


existindo um grupo, comporta-se individualmente.

Outras explicações:

Há sociedades que são mais cooperativas e outras mais competitivas, sociedades mais
concentradas na meritocracia, isto é, na distinção individual são mais competitivas, para alem
disso, o mérito individual tem uma natureza normativa.

Existem estudos que comprovam que as mulheres são mais cooperativas do que os
homens. Os homens tem tendência a ser mais competitivos.

Existem diferenças individuais, isto é, num grupo por exemplo só de mulheres, existem
mulheres mais competitivas do que outras.

Não é algo genético, é construído, esta orientação para o grupo ou mais individualista,
é algo construído, “nós não somos assim, nós fazemo-nos”.

Resolução de dilemas sociais


Há duas maneiras de resolver os dilemas sociais:

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Interdependência de tarefas:

Quem utiliza paga, como as pessoas fogem aos impostos, passamos a ninguém pagar
imposto e cada vez que precisam de algo tem de pagar. Ex. Portagens para andar nas auto-
estradas.

Interdependência Social:

Contribuir para reforçar a convicção de que se o meu grupo tiver qualidade vou
recolher dividendos, se a minha pool de formação for boa, vou beneficiar desse prestígio.

Quanto mais reforçar a identidade social menor é o risco de resolver o dilema numa
perspectiva individualista.

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