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Autoagressão em adolescente: como posso ajudar?

29/11/2017 às 11h19

A adolescência é uma época propícia para que determinados comportamentos que fogem à regra
apareçam, sendo que alguns deles podem virar moda. Basta observarmos alguns adolescentes: todos
se vestem e se penteiam da mesma forma. Outras coisas também são copiadas por eles, como cortar
o próprio corpo.
Esse tipo de agressão é conhecido como cutting – palavra inglesa que significa coisa cortada,
incisão e talho, entre outros. Realmente, tem aumentado a incidência deste fenômeno entre a
população mais jovem. Há, inclusive, blogs na internet em que seus praticantes contam o que fazem
e postam fotos.
Apesar de ser mais comum na forma de pequenos cortes pelo corpo, a autoagressão consiste em
qualquer autolesão, como queimar-se, morder-se ou bater-se.
Neste caso, porém, não devemos banalizar e achar que é apenas uma moda passageira. Este
problema deve ser considerado como algo preocupante. O indivíduo que se corta geralmente
apresenta um transtorno de personalidade e se auto agredir é um de seus sintomas. Mesmo não
sendo regra, em alguns casos mais graves o indivíduo pode tentar se ferir de maneira mais violenta,
levando a danos maiores e até fatais.
A incapacidade de lidar com os próprios sentimentos se reflete nas marcas do corpo. E esse
sofrimento pode inclusive estar associado a uma dificuldade ou situação que o adolescente está
passando.
A autoagressão é um distúrbio de comportamento que faz com que o paciente agrida o próprio
corpo ao sentir profunda tristeza, raiva, nervosismo ou viver um trauma.
Trata-se de um transtorno psiquiátrico que exige tratamento, terapia e medicação. está associado de
maneira independente com sintomas de depressão e ansiedade, comportamento antissocial, de alto
risco de uso de álcool, drogas e cigarro.
A detecção precoce e tratamento dos transtornos mentais comuns durante a adolescência podem
constituir um componente importante e até então não reconhecido de prevenção do suicídio em
adultos jovens. O número assusta quando vemos que um em cada 12 jovens se mutila, com
agressões como cortes, queimaduras e batidas do corpo contra a parede. Para aqueles que se auto
agridem, a prática é uma tentativa de aliviar sensações como angústia, raiva ou frustração. O
problema é mais comum entre mulheres de 15 a 24 anos
Mas por que um adolescente, chega ao ponto de se cortar?
Algumas hipóteses tentam explicar o fenômeno, como por exemplo, a de estar no controle de sua
própria dor. A física é mais fácil de dominar que a psíquica.
O ato de se cortar não acontece de forma isolada. Geralmente associa-se a sentimentos como
impulsividade, instabilidade, dificuldade para falar sobre os próprios sentimentos, conflitos
interpessoais, vergonha, autocrítica exacerbada.
Estudos científicos apontam que a motivação para esse comportamento está relacionada à percepção
de alguma perda interpessoal e o sentimento de que “as coisas vão acabar mal e eu tenho culpa
nisso”. Os adolescentes costumam relatar que antes do episódio sentem medo, raiva, ambivalência
entre magoar alguém ou magoar a si mesmos, culpa e um forte sentimento de não pertencimento ou
de não ser adequado.
Tais sentimentos são vividos de forma tão intensa, que provocar a dor física é o mecanismo
utilizado em busca de alívio. É um mecanismo psicológico complexo para lidar com sentimentos
negativos si mesmo e sobre os relacionamentos interpessoais.
As dores da alma não conseguimos localizar, ou colocar algum remédio. De certo modo, isso vai de
encontro à busca através da dor de se sentir vivo. Às vezes a angústia exacerbada leva a certo estado
de não se sentir real, como se a dimensão física não existisse. A dor lembra que ele tem um corpo –
existência concreta e real.
Outra ideia é de que a intenção de quem se fere é de se punir por algo que fez.
O que tem corroboração na história da própria igreja católica, com a prática do autoflagelo: o
indivíduo se tornava mais puro e pagava seus pecados. Provavelmente cada indivíduo que o pratica
poderá dar uma explicação para suas próprias ações. O certo é que há um sofrimento que não pode
ser desprezado. Alguns dos adolescentes que partilham em consulta que se auto agridem admitem
que já o faziam há algum tempo antes de os pais terem tomado conhecimento. Na maioria das vezes
os pais referem mesmo não terem identificado quaisquer sinais de alarme, ficando muito assustados
e imersos numa grande preocupação e desorientação quando confrontados com a partilha do filho. A
dor de um adolescente que se auto agride é grande.
E por isso pais e outros adultos cuidadores anseiam por orientações que acalmem a própria
angústia, possibilitando um apoio adequado ao jovem.
É moda?
Não, não é. É muito importante que a escola e a família estejam atentas aos adolescentes que
venham praticar o cutting. Caso a escola seja a primeira a perceber, deve comunicar os pais e não
simplesmente achar que é um fenômeno passageiro ou da moda.
Pode acontecer de um imitar o outro?
Sim, mas mesmo se for uma imitação, podemos pensar que ao menos naquele momento há algo
preocupante com o filho. É possível imitar tantas coisas, se escolhemos o sofrimento, podemos
colocar em dúvida a normalidade desta escolha.
Por que a autoagressão atinge, na maioria das vezes, os adolescentes?
Os adolescentes têm uma tendência natural de repetir o comportamento do grupo uma vez que não
estão com a personalidade formada e com o desenvolvimento cerebral ainda imaturo. Assumem um
comportamento diferente e logo viraliza com a globalização permitindo que isso seja divulgado, Na
internet e , sites de todas as formas ensinam e divulgam comportamento anoréticos e até suicidas,
Os Adolescentes são plásticos...alguns se cortam uma vez e param outros por um período e outros
se tornam dependentes e o quadro evolui se não houver tratamento
É uma tentativa de chamar a atenção?
Na verdade, é um pedido de ajuda. É um sinal de que o adolescente precisa de ajuda para lidar com
suas emoções e desenvolver habilidades para expressá-las. Sentem alívio após a autoagressão e é
uma forma de mostrar o que sente, Como se dissesse: “Estou sofrendo, preciso de ajuda”. É uma via
de comunicação muito sofrida e que cria dependência, de forma isolada.
O adolescente que se autoagressão está tentando suicídio?
O DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) classifica a autoagressão
como uma autolesão não suicida. Significa que ela não está diretamente associada à tentativa de
suicídio, mas, tem estreita relação com outros quadros de sofrimento psicológico e depressões.
Estes sim, associados a um conjunto de fatores podem aumentar o risco de suicídio. Por isso, não
podemos afirmar que todo adolescente que se auto agride está tentando suicídio.
Como identificar os fatores de risco para a autoagressão do adolescente?
Não existe apenas um comportamento – relatos sobre vivências de bullying onde o adolescente tem
poucos recursos para lidar com tais situações; conflitos familiares em que ele refere não pertencer
ou não se sentir parte da família associados a relatos recorrentes de tristeza, sentimento de
inadequação e solidão, instabilidade emocional, não consegue falar sobre o assunto, não chora.
Autodepreciarão, vergonha, baixa autoestima, culpa estão associados aos riscos para esse
comportamento. Há perda de interesse nas atividades sociais, escolares, agressividade. Se expõem a
situações de risco. Revelam que algo não vai bem e que necessitam de auxilio e atenção.
O adolescente que se auto agride deixa pistas?
Sinais físicos recorrentes descritos como pequenos arranhões que aumentam de frequência, uso de
moletons mesmo em dias quentes e inapropriados, pedidos constantes de substituição de
apontadores e objetos cortantes de uso escolar, além de mudanças bruscas de
comportamentos podem ser indícios de que esse comportamento esteja acontecendo. Uso de muitas
pulseiras e cordões para esconder as lesões. Histórias mal contadas sobre as justificativas das lesões.
Família e escola precisam estar atentas.
Adolescentes que se auto agridem desejam relações de proximidade e segurança, mas temem
profundamente a rejeição e abandono. Algumas vezes, por não saber o que fazer, a família acaba
invalidando as emoções que ele relata. Por isso, é importante permitir que ele fale sobre o assunto.
A ajuda profissional nesse momento faz toda a diferença para que a família desenvolva uma relação
de ajuda e fortaleça vínculos com esse adolescente em sofrimento.
E no caso de sabermos que os colegas dos nossos filhos praticam isso, devemos proibir a
amizade?
Com os adolescentes é o pior caminho. Até porque, este amigo vai precisar de seus amigos. No
entanto, é preciso que seja esclarecido ao jovem o quadro pelo qual seu colega passa, sem
recriminações ou julgamentos morais.
Se o seu filho tem essa possibilidade de conversa com você, muito provavelmente ele não assumirá
essa atitude. Ele sente que é possível confiar no outro e pedir-lhe ajuda. Que bom que ele tem pais
que possam ouvi-lo.
Como as instituições devem proceder diante de casos de autoagressão?
A integração do sistema educacional com a família e saúde é fundamental. É preciso que os
professores se atualizem e tenham um olhar diferente sobre esses casos, levar a discussão para sala
de aula e mostrar interesse em auxiliar. Não esconder que o fato está ocorrendo entre os
adolescentes. Procurar auxilio com profissionais de saúde e comunicar de forma adequada as
famílias.
O que fazer ao perceber que seu (sua) filho(a) ou amigo( a) está se auto agredindo?
Acreditar. Pois é muito mais fácil minimizar os fatos do que admitir que algo esta acontecendo de
errado podendo procurar ajuda profissional. Cada caso é um caso e com o tempo os adolescentes
aprendem que os sentimentos ruins sempre vão aparecer porem é preciso lidar com eles de forma
saudável. elaborar com o adolescente um plano de emergência. O objetivo é se colocar como uma
pessoa de referência a quem o adolescente pode recorrer sempre que se sentir “invadido” pelos
sentimentos negativos.
O que a família poderá fazer?
“A comunicação eficaz dentro da família é verdadeiramente importante para que o adolescente
se sinta seguro, valorizado e confiante, pelo que se sugere a existência de um momento diário,
nas rotinas da família, em que todos se sintam livres e aceites na partilha de ideias, duvidas,
preocupações e conquistas”
A empatia é sempre importante para que os adolescentes se sintam confortáveis para compartilhar
como estão se sentindo e o que está se passando. Criar um ambiente acolhedor para esse
adolescente é fundamental. Ao identificar que um(a) filho (a)está se cortando, o primeiro passo é
manter a calma. É preciso ter uma atitude acolhedora para tentar entender de onde parte o
comportamento, pois uma reação excessiva pode fazê-lo sentir-se ainda mais sozinho o que poderá
agravar ainda mais a sensação de desconforto do adolescente.
“Antes de se preocupar com o que dizer, é importante escutar ativamente e sem julgamentos”
Apesar de não necessariamente haver um transtorno psiquiátrico, geralmente há uma tristeza
envolvida.
A família deve ter muita sensibilidade ao buscar saber o que está se passando com seu (sua) filho(a).
Ao tomar consciência da situação do filho, os pais devem procurar ajuda profissional. Geralmente
uma ajuda psiquiátrica é necessária, aliada a psicoterapia.
“As principais vias de prevenção estão relacionadas à manutenção do bem-estar psicológico.
Cuidados com o clima escolar, clima familiar, o estímulo ao autoconhecimento e a criação de
estratégias que facilitem o diálogo sobre as emoções são caminhos bem-sucedidos para a
prevenção”
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