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A ideia do livro não é apresentar um conceito

fechado sobre o que seria a memória social;

“Pensamos ao contrário, que se trata de um


conceito complexo, inacabado, em permanente
processo de construção. [...] A memória, aqui (no
livro), está inserida em um campo de lutas e de
relações de poder, configurando um contínuo
embate entre lembrança e esquecimento.”
(GONDAR, DODEBEI, 2005, p. 7)
● Relações com o pensamento de Benjamin (memória,
experiência), Foucault (relações de poder), Bakhtin
(arena de disputa, linguagem, discurso);

● Halbwachs: memória social como coesão social. No


entanto, na pós-modernidade a própria concepção de
coesão social pode ser questionada. As posições sociais e
as relações entre os grupos parecem mais movediças.
● Pierre Nora (memória como ancoragem das identidades
nacionais). A crítica feita é a de que o autor francês lamenta
a perda dessas memórias que ancoravam as identidades
nacionais, usando, portanto, um tom essencialista.

● Organização do livro: 8 artigos resultados de pesquisas


do PPG em Memória Social (UNIRIO) e 2 artigos de
professores convidados, Eduardo Viveiro de Castro e
Mauricio Lissovsky.
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Regina Abreu – Antropóloga . Doutora em Antropologia


Social ( Museu Nacional). Professora do Programa de
Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO.
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Walter Benjamin e sua tese “ O Drama Barroco


Alemão”, rejeitada na Universidade de Frankfurt.
Fragmentária e sem rigor científico.
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL
Questões que instigaram Benjamin

- É possível misturar tradições teóricas diferentes quando nos


dedicamos a um determinado tema?

- Como trabalhar com os autores que os antecederam ?

- De que modo estabelecer interlocuções com pensadores que


muitas vezes são divulgados precariamente?

- Como citar autores com os quais dialogamos?

- É possível avaliar se nossas interpretações e tradições


correspondem ao que os autores quiseram dizer?
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Primeiro Parâmetro: O diálogo permanente entre teoria


e pesquisa

TEORIA + PESQUISA = CONTRIBUIÇÃO PARA UMA


TRADIÇÃO DE PENSAMENTO

Segundo Parâmetro: O autor e seu quadro de


referência teórica

AUTOR: Coerência teórica;


Situar no tempo e no espaço
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Terceiro Parâmetro: autores não são argumentos de


autoridade
Situá-los fazer referências a suas obras, nomes
completos, mencionar as diferenças entre os autores e
mencionar com quais teses irá dialogar
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Quarto Parâmetro: Autores clássicos e autores com


contribuições pontuais

Não se pode por exemplo, comparar ou colocar na


mesma linha autores como Maurice Halbwachs, Pierre
Bourdieu, Pierre Nora e Michel Pollack. (p.32)
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Quinto Parâmetro: A diferença entre autores e


conceitos

Os conceitos são fundamentais para as pesquisas, pois


as conduzem à reflexão; são gerados em determinados
quadros teóricos. (p.32)
2 - CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Sexto Parâmetro: Os conceitos também são


polissêmicos

O Conceito de cultura é um bom exemplo de


polissemia, com enormes diferenças entre dois ou mais de
seus usos. (p. 33)
Ocorre o mesmo com os conceitos de memória e, em
particular, memória social. Este conceito foi criado em uma
vertente sociológica de pensamento, com o intuito de
qualificar a diferença entre estudos biológicos, psicológicos
ou filosóficos da memória, e um estudo da memória como
fenômeno social. (p. 34)
CHICLETES EU MISTURO COM BANANAS? ACERCA
DA RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Sétimo Parâmetro: Os autores são homens de sua


temporalidade

Textos clássicos como Os quadros sociais da


memória, de Maurice Halbwachs, guardam sempre
atualidade e, por isso, podem ser revisitados sem se
tornarem obsoletos (...) são homens de seu tempo,
marcados por indagações gestadas nas sociedades em que
viveram. (p.36)
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Oitavo Parâmetro: As teorias e os conceitos são


postos à prova nas pesquisas

As teorias e conceitos podem ser adequados ou


inadequados para uma pesquisa. Tudo depende do tipo
de sociedade que estudo, das questões que formulo, dos
meus objetivos de pesquisa. (p.37)
CHICLETES EU MISTURO COM
BANANAS? ACERCA DA RELAÇÃO
ENTRE TEORIA E PESQUISA EM
MEMÓRIA SOCIAL

Nono Parâmetro: As pesquisas em memória social são


tão variáveis quanto as sociedade analisadas por elas.

As diferentes concepções de memória nos levam a


diferentes direções.

Ex: Nietzche, Benjamin, Bourdieu, Bakhtin, etc..


NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

MIGUEL ANGEL DE BARRENECHEA - Doutor em


Filosofia (UFRJ). Professor do Programa de
Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO
NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

CONCEPÇÃO MÍTICA ARCAICA DE MEMÓRIA E


ESQUECIMENTO
- Mnemosine e os Poetas

- Platão: Livro X da República e Fédon


NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

Os Primórdios da Memória Social: Nietzsche e a


genealogia da memória

Nascimento da Memória:
Em Genealogia da Mora (1887)l, Nietzsche analisou
como a memória teve seu aparecimento devido a
condicionamentos sociais: Dificuldades coletivas, graves
ameaças, grupos rivais, animais agressivos, catástrofes
naturais.
NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

OS PRIMÓRDIOS DA MEMÓRIA SOCIAL:


NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA

LINGUAGEM – MEMÓRIA - CONSCIÊNCIA -> Criações


Contemporâneas - são frutos tardios, não fazem parte das
condições iniciais do homem. O homem era esquecido,
instintivo e espontâneo.(p.63)

“ O nascimento da memória é um
momento extraordinário” (p.64)
NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

OS PRIMÓRDIOS DA MEMÓRIA SOCIAL:


NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA MEMÓRIA

A Importância da comunicação:
Signos - Sons - Palavras

Relações contratuais de Devedor-Credor

“ Nietzsche apresenta a tese de que há um deslocamento


da noção econômica de dívida para a interpretação
moral de culpa. O indivíduo culpado é aquele que deve
algo; a noção de má consciência nasce do conceito
material de dívida.” (p. 65)
NIETZSCHE E A GENEALOGIA DA
MEMÓRIA SOCIAL

MEMÓRIA E RESSENTIMENTO

Origem: Pecado Original → Culpa judaico-cristã

Nietzsche: Aristocracia guerreira e Aristocracia


sacerdotal

O ESQUECIMENTO E A CRIAÇÃO
Memória, Culpa, má consciência, ressentimento →
Homem é um bicho q relembra seus atos; memorizar
continuamente é um peso, uma doença. Daí então, a
necessidade do esquecimento, condição para o desenvolvimento
harmônico de um organismo sadio. (p.69)
Em Assim falou Zaratustra → 3 transformações do
espírito ( Camelo – Leão - Criança)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM
DIÁLOGO PROMISSOR

CARMEN IRENE CORREA DE OLIVEIRA - Mestre em Memória


Social e Documento pela (UNIRIO) e Doutoranda em Ciência da
Informação (IBCT/UFF)

EVELYN GOYANNES DILL ORICO - Linguísta. Doutora em


Ciência da Informação (IBICT/UFRJ). Professora do Programa
de Pós-Graduação em Memória Social.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM
DIÁLOGO PROMISSOR

● Revisão teórica sobre as relações entre memória e


linguagem.
““O instante não permanece, daí o papel da sensação e da
marca que nos ficam na instância memorial” (OLIVEIRA;
ORRICO, 2005, p. 73)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

- A linguagem teria importante papel na manutenção de


conceitos, de pontos de referência, ela ajudaria a formar o
‘cimento social’, mas também nos impondo regras e ordens
de funcionamento.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

DISCURSO: MOVIMENTO EM CURSO

- O discurso como elemento que constitui a memória e a


identidade.
- Etimologia da palavra discurso para enfatizar a ideia de ação
presente no sufixo (discursos – us = ação).
- Contribuição da Análise do Discurso “[o discurso] como
caminho fundamental para análise da subjetividade e da
expressividade do indivíduo e dos grupos.” (OLIVEIRA;
ORRICO, 2005, p. 75).
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

Um pouco de história

● A aproximação entre as áreas de humanidades por meio


do estudo do discurso como língua em movimento (ação).

● Crescimento das correntes pragmáticas impulsionam os


estudos do discurso para além de sua estrutura.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

A NOVIDADE INTRODUZIDA POR BAKHTIN

● O uso concreto da língua, a língua usada socialmente. O


discurso como acontecimento.

“[...] O pensador russo concebe a língua como algo que se


oferece aos locutores em momentos de enunciação –
concretização do sistema em situações de fala – que implicam
‘sempre um contexto ideológico preciso’.
(OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 76)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

● Polifonia e dialogia;

● Mesmo quando uma pessoa apenas fala, o discurso não


deixa de ser dialógico, pois o que essa pessoa diz está
em constante diálogo, tensão, acordo, com os demais
discursos, com as demais vozes

● Não nos colocamos como inaugurais na linguagem, ela


nos precede. Mesmo que possamos utilizar a língua de um modo
“nosso”, a base comum está cercada de regras que temos de
obedecer. A arena de disputa ideológica nos coloca diante de
palavras que carregam uma carga semântica, uma história que
nos precede.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

● O DISCURSO: LINGUAGEM, LÍNGUA, CONTEXTO


HISTÓRICO, AÇÃO…

● O discurso como estudo do sujeito, as questões
ideológicas e as condições de produção dos discursos;

● Formações discursivas;
“Para Pêcheux, a formação discursiva é tudo que pode ser dito
ou deve ser dito (sob qualquer forma) em determinada formação
ideológica, ou seja, a partir de uma posição dada em uma
determinada conjuntura” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 80)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

O DISCURSO COMO EVENTO OU ACONTECIMENTO

● Discurso: sujeitos, contextos, sentidos


“[O sujeito] está necessariamente enredado nas teias das
formações ideológicas e discursivas que determinam seu
discurso em suas diferentes manifestações: o que é dito, como é
dito e quando é dito. O contexto em que o sujeito se expressa é
determinante, pois é nele que podemos detectar, em ação, os
elementos de tais formações.” (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p.
80)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE


● Exteriorização; transmissão cultural, representação

● Henri Bergson:

● Percepção: estímulos que tenho, mas que não exteriorizo


em forma de ação no mundo.

● Lembrança: algo que estava submerso e surge


através de uma percepção que se dá no presente.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE

● O passado pode ser reinterpretado, repercebido por meio


da linguagem, pois é sempre no presente que o passado
acontece.

● Memória-hábito: esquemas necessários e memorizados


mecanicamente (escovar os dentes, ir para o trabalho
por tal caminho, etc.)

● Lembrança pura: memória de um acontecimento único.


MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR
A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE

● Maurice Halbwachs:

● Memória individual e memória coletiva: ambas dependem


do outro, o outro como sujeito, o outro como discurso.

● Gérard Namer:

● Memória diálogo: a) necessidade de lembrar


(provocado por nós mesmos ou por terceiros); b)
exterioridade do objeto lembrado (ou seja, eu reconstruo
aquele objeto/situação/pessoa a que não tenho acesso
físico por meio da linguagem)
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

A MEMÓRIA E SUA EXTERIORIDADE

● Portanto, toda a memória seria social na medida em que


depende de fatores não apenas individuais, embora
estes componham o quadro da memória por meio das
percepções internas.

● Os autores citam Todorov para enfatizar a disputa pelo


passado e o risco de seu apagamento.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO


PROJETO

● Como se dão a construção e a exteriorização da memória;

● O estudo de Jean-Jacques Courtine sobre discursos do


Partido Comunista Francês aos cristãos de 1936 a 1976;

● Memória discursiva.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO


PROJETO

Courtine, então, define memória discursiva como ‘a existência


histórica do enunciado no seio de práticas discursivas reguladas
por aparelhos ideológicos’” - (OLIVEIRA; ORRICO, 2005, p. 86)

Repetição: o interdiscurso, aquilo que remete a outros discursos.

Comemoração: discurso que está ligado diretamente à sua


referência no passado.
MEMÓRIA E DISCURSO: UM DIÁLOGO
PROMISSOR

O DISCURSO E OS INDÍCIOS DA MEMÓRIA COMO


PROJETO

No fim os autores enfatizam a importância dos estudos


sobre linguagem e memória nas construções identitárias
e culturais.
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

NILSON ALVES DE MORAES – Sociólogo. Doutor em


Ciências Sociais (UFRJ). Professor do Programa de
Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

Objetivos deste artigo:

Refletir sobre a possibilidade de produção,


recuperação e veiculação da Memória Social
como parte do processo de constituição política
e como objeto de intervenção intelectual.
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

SOLIDARIEDADE MECÂNICA E A SOLIDARIEDADE


ORGÂNICA

“ A resistência e a reinvenção cultural passaram a


compor faces ‘naturais’ do social. Um movimento
criativo da desordem se instalou e ocupou o cotidiano,
e a voz única e unificada se tornou polifônica” (p.90)
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

- Memória Social passa a ser considerada como uma


possibilidade de multiplicação dos significados dos
processos em curso, segundo tendências geradas pela
tecnologia e pelos meios de comunicação; estratégia para
consolidar identidades e expectativas sociorrelacionais.
(p.91)
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

ESPAÇO – TEMPO – DISCURSO

Le Goff(1994) - “Tornar-se senhores da memória e do


esquecimento é uma das grandes preocupações das classes,
dos grupos, dos indivíduos que dominam as sociedades
históricas” (p.94)

Berger e Luckmann (1985) -Tempo vivido -


Ressignificação de conteúdos a partir de processos de
socialização, correspondendo às experiências do sujeito no
curso da história pessoal e da vida social. (p.94)
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE SENTIDOS

Pierre Nora (p.94, 95): “Nas sociedades tradicionais a


memória regulava o futuro e estava incorporada ao cotidiano
dos indivíduos e grupos sociais pelas vivências da tradição e
dos costumes, regulando o futuro. No mundo mundo moderno
ela é incorporada a outros espaços e processos sociais”

Huyssen (p.95): “Nas últimas décadas, o mundo ocidental


presencia e favorece constituição de um “boom da memória”.
A emergência das tecnologias, os espaços urbanos e os meios
de comunicação promovem a aceleração do tempo e esgotam
os padrões tradicionais q imperavam”
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO DA MEMÓRIA SOCIAL


“ Toda memória é produzida na perspectiva de uma disputa em
que algumas ideias, estratégias e sentidos são permitidos,
enquanto outros são omitidos, silenciados, ocultos ou
manipulados.” (p.96)

Para Melo Santos, “ a memória se constitui, em um conjunto de


percepções e representações que iluminam a compreensão da
espacialidade da vida social, como um elemento fundamental
para conhecer a estruturação desses espaços e sua valorização
diferencial.” (p.96)
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

Outras perspectivas de memória:

- Sentido bakhtinano -
- Memória ofical -
- Memórias sociais subterrâneas -
MEMÓRIA SOCIAL: SOLIDARIEDADE
ORGÂNICA E DISPUTAS DE
SENTIDOS

“Bourdieu é fundamental para a de processos e estratégias


sociais em que a imposição de um projeto se faz por uma
resistência organizada, uma luta, exigindo uma negociação de
sentidos em que a memória social constitui fator de mobilização
e de produção de significados e sentidos” (p.92)

“ A memória social também é resistência, reinventa a identidade


e a cidadania de grupos sociais” (p.102)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

Eduardo Viveiros de Castro – Antropólogo. Doutor em


Antropologia Social (Museu Nacional). Professor do
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do
Museu Nacional, Rio de Janeiro.
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO
AS PORTAS DO DOMINIO MUSEAL E PATRIMONIAL

“ O domínio patrimonial, ao invés de restringir-se


dilatou-se a ponto de se transformar em um terreno de
fronteiras imprecisas, terreno brumoso e com um nível
de opacidade peculiar.” (p.115)

A palavra 'patrimônio' e suas qualidades semânticas -

Patrimônio e Museu (p.116)-

A noção de posse (p.117)-


CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

PATRIMÔNIOS & MUSEUS: PERIGOS, VALORES E


PORTAS
Perigo e Valor – Palavras-chave para a ação
preservacionista:
a) Perigo - A tentativa de preservação da ordem e da paz a
todo custo tende a pôr em perigo a paz e a própria
ordenação social; a tentativa de preservar a vida por meio
de ritos políticos de limpeza tende a deixar a própria vida
em perigo. Ex: Walter Benjamin durante a ascenção do
nazismo. (p.118)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

PATRIMÔNIOS & MUSEUS: PERIGOS, VALORES E


PORTAS
Perigo e Valor – Palavras-chave para a ação
preservacionista:
b) Valor - Para haver preservação, deve haver a identificação
de um valor qualquer, seja este mágico, econômico, simbólico,
artístico, histórico, científico, afetivo ou cognitivo.
“Um povo só preserva aquilo que ama. um povo só ama
aquilo que conhece”(p.119)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

Hierarquia de Valores: Mobilizada politicamente para


justificar a preservação ou a destruição dois chamados bens
culturais.

- Museus Nacional do Iraque (saques: a Cabeça de

nobre de Níneve e a Harpa da rainha de Ur)

- Destruição ou morte social (p.121)

- Retrato do Dr. Gachet por Vincent Van Gogh (p.122)


CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

Hierarquia de Valores
Domínio Patrimonial (p.122):

- O Catador de pregos, Manoel de Barros;

“ O minúsculo, porta estreita por excelência abre um


mundo. O pormenor de uma coisa pode ser o signo
de um mundo novo, de um mundo que, como todos
os mundos, contém os atributos da grandeza”
( Bachelard, p. 123)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

Hierarquia de Valores

As portas ligam e desligam mundos distintos,


preparam o terreno para duas referências históricas
distantes no tempo e no espaço (...) uma porta
francesa e uma brasileira. Uma no fim do século
XVIII e a outra na primeira metade do século XX,
transformadas em emblemas de disputas do
imaginário, em corpos mediadores do combate pela
construção simbólica da memória e do patrimônio.
(p.124)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

PRIMEIRA REFERÊNCIA: A PORTA DE SAINT-DENIS


(FRANÇA)

“A capacidade de os corpos patrimoniais


encarnarem múltiplos sentidos contribui para a
ampliação de tensões e conflitos” (p.124)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

SEGUNDA REFERÊNCIA: A PORTA DA VELHA


IGREJA DE SÃO MIGUEL, SP (BRASIL)

“ Desta colunas quero denunciar o atentado! Quero


denunciá-lo, com as reservas necessárias, pois é
inacreditável a revelação! Ao que parece o golpe partiu
de um padre da paróquia de S.Miguel[...]. A porta da
sacristia, uma pesada porta de cobre, toda ela
trabalhada a mão, documento da tosca, ingênua, suave,
deliciosa escultura antiga; uma grande cômoda[...]e,
mais ainda, um precioso sacrário da igreja acabam de
ser vendidos” (p.126) ( publicado por Paulo Duarte,
1937)
CASAS E PORTAS DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO

A CIDADELA PATRIMONIAL E O BASTIÃO MUSEAL

“ O que está em jogo nos museus, e também no domínio


do patrimônio cultural, é memória, esquecimento,
resistência e poder, perigo e valor, múltiplos significados
e funções, silêncio e fala, destruição e preservação. Por
tudo isso, interessa compreendê-los em sua dinâmica
social e interessa compreender o que se pode fazer com
eles, contra eles, apesar deles e a partir deles.” (p.132)
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

● Walter Benjamin e a fragmentação, o acontecimento:


pensamento é iluminação; conceito é imagem cintilante,
dissertação é prosa interrompida.

● O autor irá abordar dois textos de Benjamin: “Sobre alguns


tema em Baudelaire” (1939) e “Sobre o conceito de história”
(1940).
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

A uma passante (Charles Baudelaire 1821-1867)

A rua em torno era um frenético alarido.

Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,

Uma mulher passou, com sua mão suntuosa

Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e fina.

Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia

No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,

A doçura que envolve e o prazer que assassina.


A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade


Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez!


Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

● A história processual x a história como poética do


acontecimento (narração).

● A primeira substitui a memória, a segunda depende dela.


“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo
‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma
reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um
perigo.” (citando Benjamin).
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

É, portanto, a linguagem que pode nos permitir esse


relampejo e eco.

“Cada acontecimento abriga uma semente de eternidade que é


como uma ‘reserva do porvir’ infiltrada nele pelo passado”
(LISSOVSKY, 2005, p. 137)

- Olhamos para o passado, mas o passado também olha para o


futuro.
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

“A forma dos acontecimentos poeticamente transfigurados pela


memória, aprendidos, como imagem, no instante em que são
‘reconhecidos’, isto é, no agora que esse reconhecimento
inaugura. As imagens da história que Benjamin oferece não
resultam da descoberta ou da rememoração, mas desse
reencontro.” (LISSOVSKY, 2005, p. 141)

● O papel da memória, portanto, seria o de forjar desse


reencontro entre o que já estava presente em nós e sua
exteriorização no agora que o reinaugura.
A MEMÓRIA E AS CONDIÇÕES
POÉTICAS DO ACONTECIMENTO

● O choque oferece à memória uma lembrança da qual


busca-se a exclusão da experiência. (pessoas que voltavam
da guerra, silêncio, trauma, lembrança consciente
esterilizada).

● A interrupção seria o contrário disso, um momento que


acontece, que surge e para o qual não estamos
preparados.
"A ‘memória coletiva’ de que fala Benjamin não é aquela que
informa o que foi, mas aquela que transmite o legado do que
‘poderia ter sido’. Essa memória abriga, sobretudo, como cada
época sonhou o seu futuro irrealizado.” (LISSOVSKY, 2005, p.
143)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

O que é antropologia?

● O antropólogo compara antropologias, ou seja, sistemas


culturais, sociais de povos.

● O problema da tradução cultural. A antropologia realiza


comparações para traduzir e não para explicar.

● O perspectivismo ameríndio que entende a tradução como


um processo de equivocação controlada.
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

Perspectivismo

- O povos da América indígena não se vêm, como nós,


diferentes dos outros animais, dotados de uma inteligência
superior. Para eles todos os seres são dotados de alma, de
alguma humanidade, eles se veem e se percebem como
humanos. A alma é o fundo comum do ser.
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

- Quando o jaguar diz “cerveja de mandioca”, embora ele esteja


falando de um outro referente para nós (o sangue) a ideia, a
representação é a mesma: uma bebida nutritiva e embriagadora.
Ou seja, os sentidos são os mesmos, mas as referências são
diferentes. Assim, o que o antropólogo faria ao traduzir seria
explicitar o equívoco entre as duas proposições, embora ambas
sejam dotadas do mesmo sentido e queiram se referir (tanto
para o jaguar como para o homem) a uma bebida.

[...] o perspectivismo supõe uma epistemologia constante e


ontologias variáveis; mesmas representações, outros objetos,
sentido único, referências múltiplas.” (VIVEIROS, 2005, p. 149)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

O equívoco e a perspectiva
- O equívoco não é algo a ser evitado, como uma ameaça à
comunicação do antropólogo com o nativo, ele é, antes, um
constitutivo do seu trabalho. O equívoco é a condição e
possibilidade do discurso antropológico.

“Traduzir é presumir que há desde sempre e para sempre um


equívoco; é comunicar pela diferença, em vez de silenciar o
Outro, ao presumir uma univocalidade originária e uma
redundância última – uma semelhança essencial – entre o que
ele e nós ‘estávamos dizendo’”. (p. 153)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

Duas imagens da relação

- O caso de Milton Nascimento e a palavra “txai”.


“O modelo amazônico da Relação não poderia ser mais
diferente disso. ‘Diferente’ é a palavra certa, pois as ontologias
amazônicas postulam a diferença entre eles. [...]Em suma,
‘primo-cunhado’ é o termo que cria uma relação onde antes
não havia nenhuma; ele é a forma pela qual o ‘desconhecido’
se dá a conhecer.” (p. 158)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

“Aqui, traduzir é encontrar o que os discursos têm em comum, e


que só está ‘dentro deles’ porque está (e já estava antes deles)
‘lá fora’; as diferenças entre os discursos não são mais que o
resíduo que impede uma ‘tradução perfeita’, isto é, uma
superposição identitária absoluta entre eles.” (p. 159)

“[...] só pode haver relação entre o que difere, e porque difere.


Nesse caso, a tradução passa a ser uma operação de
diferenciação – de produção da diferença que liga os dois
discursos na exata medida em que eles não estão dizendo a
mesma coisa, em que eles visam exterioridades discordantes,
para além das homonímias equívocas entre eles.” (p. 159)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

“A identidade entre a ‘cerveja’ do jaguar e a ‘cerveja’ dos


humanos só é posta para que melhor se veja a diferença
entre os jaguares e os humanos. [...] Traduzir, nesse caso, é
presumir a diferença. A diferença, por exemplo, entre os dois
modos de tradução que lhes apresentei aqui.” (p. 160)
EQUÍVOCOS DA IDENTIDADE

A memória é uma espécie de tradução nos termos de


Viveiros, ou seja, ao rememorarmos algo, ao utilizarmos a
linguagem para expressar a memória de um fato passado,
estamos realizando uma tradução. Há, portanto, o que
ocorreu, momento irrecuperável, há o que lembramos e
expressamos sobre o que ocorreu, e o resultado é uma
terceira coisa que surge da diferença entre esses dois
movimentos e que surge sem que ambos se apaguem.

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