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Luana E. Arrieche1
Resumo:
O texto versa sobre corpo em Foucault (2014) e Le Breton (2013) refletindo as
representações e os investimentos impostos ao corpo, no qual é capturado por
dispositivos. Propõem refletir sobre dispositivo e contradispositivo de Agambem (2009)
como possibilidade de perceber as experiências do processo criativo do trabalho “Sem
pé nem cabeça” e a obra como profanação ou contradispositivo impulsionando modos
de ser capturado reflexivamente, para tal também reitero a autobiografia de Brandão
(2008) e biografia visual de Cunha (2010) ao narrar meu processo criativo e refletir
sobre os modos de ver o mundo através do repertório visual.
Palavras chaves: Processo criativo, autobiografia, dispositivo, corpo, videodança
1. Corpos capturados
São através de pequenas ações, regras, gestos, entre outras, que o individuo
torna-se sujeito. Recordo-me que ao entrar para o curso de graduação em Dança foi
solicitado em várias aulas a retirar os calçados, para então realizar as atividades com
os pés descalços, o que me causava “certa” resistência, pois estava condicionada a
estar calçada. Utilizar um calçado pode ser visto como uma ação de higienização,
ordem, gênero, classe, etc, pois através do objeto/ação é possível atrelar ao sujeito
uma série de significações.
Penso, que ao perceber que há uma representação sobre corpo que é “uma
herança histórica do retraimento na concepção da pessoa” (Le Breton, 2013, p.33), ou
seja, se há uma representação, é porque a concepção sobre corpo não é um dado fixo
e sim construído. E ao existir outras concepções, o individuo pode refletir o modo que
opera no mundo e perceber os dispositivos que captura e produz sujeições.
2. A profanação
Faremos uma pausa na narrativa conceitual que venho propor nesse texto para
descrever o meu processo criativo no trabalho “Sem pé nem Cabeça”, apesar deste
ser composto e atravessado por outras narrativas, pois trata-se de uma criação
coletiva, na qual estiveram presentes colegas do mestrado: Fernanda Fedrizzi, Isadora
Bortolossi e Renata Sopena. Minha narrativa transpassa por elas, e abrange todo o
processo realizado até a composição final que se faz em vídeo, no programa de
edição Whondershare filmadora, com três minutos e dezessete segundos de vídeo.
Minha função era de alguma forma preparar as colegas para acessar seu
arcabouço visual, suas memórias, lembranças afetivas vivenciadas na infância de
brincadeiras coletivas ou individuais. Por acreditar que “somos um corpo” e também
por ser bailarina e professora de dança, todas as atividades ocorrem em movimento e
assim começamos.
Partilho aqui minha memória (re)criada: eu deveria estar com seis anos, mas
não sei exatamente, lembro de estar na sala em que costumava brincar, ao lado da
lavanderia, distante do corpo principal da casa. Esta sala era a entrada para um
mundo imaginado, lá estavam bonecas, mesas, cadeiras, papéis, máquina de escrever
(faltavam algumas letras), um quadro negro que ganhei no natal, giz, etc. Era lá
também, que as bonecas tinham vida, eu ocupava o lugar de professora, ensinava
algo a elas, apesar de não lembrar o que era ensinado. Mas lembro de entregar
papéis que muitas vezes tinham desenhos e letras para serem reproduzidos e
pintados com cópias mimeografadas e xerocadas.
Como diz Cunha (2010) suas referências visuais, sejam elas de imagens
capturadas pela experiência, filmes, espetáculos e pelas muitas imagens que
compuseram seu modo de ver o mundo. Posso perceber muitas das imagens que
atravessam meu modo de ver: seja pelas brincadeiras de faz de conta, pelos
desenhos “Tom e Jerry” e “Mickey Mause”, programa de auditório “Xuxa”, pelos muitos
filmes em videocassete emprestados de uma locadora, pelas estórias que escrevi, os
romances que li, vídeos e fotos permeiam meu modo de interpretar o mundo.
b) Quebra-cabeça virtual
2 SemPeneMcaBeca https://www.youtube.com/watch?v=HzeRaiPwMz4&t=129s
Rosemberg em uma entrevista realizada por Cerbino; Brum (2016) ao dizer que as
universidades são espaços para laboratórios:
3. Corpos encantados
REFERENCIAS:
BRANDÃO, Vera Maria Antonieta Tordino. Labirintos da memória: Quem sou? - São
Paulo: Paulus, 2008.
BRUM, Leonel. Videodança: Uma Arte do Devir. In: Dança em Foco. Ensaios
Contemporâneos de Videodança. 2012. p. 74 - 113.
CUNHA, Susana Rangel Vieira. Cultura visual e infância. In: [organizador] Gilberto Icle.
Pedagogia da arte: entre-lugares da criação. – Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2010.