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Mestranda em História pela Universidade Federal de Sergipe, Museóloga e professora auxiliar do Núcleo de
Museologia da Universidade Federal de Sergipe, Campus de Laranjeiras. E-mail: suracarmo@yahoo.com.br
divisa; a população desta cidade nomeia a fazenda em que o poeta nasceu de Curralinho e não
Cabaceiras.
Toda esta discussão é para ter a honra de ser a cidade em que o poeta passou os
seus primeiros anos, pois na fase escolar mudou-se para Salvador. Sobre a vida e obra do
poeta é desnecessário no corpo deste texto traçar um perfil demasiadamente longo, mas
ressaltar que apesar dos mais de 150 anos de seu nascimento e de sua curta vida, sua obra e
suas paixões juvenis pelas mulheres e pelo divertimento são exaltadas não apenas na Bahia,
mas em diversas regiões do país.
Para quem visita a cidade, conhece a sua história de emancipação e gestão não há
como desvencilhá-la do poeta Castro Alves. A municipalidade, apesar de o museu ser do
Estado, vinculado ao IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural), em diferentes
gestões, contribui para a sua manutenção do museu como único equipamento cultural da
cidade. A parceria entre os cidadãos ainda está relacionada à atração de novos públicos, pois
mesmo quem está de passagem pela cidade apenas para atravessar de balsa o rio Paraguassú é
convidado há dispor um tempo para conhecer a antiga casa do poeta.
Além desta classificação de 1934 ainda há outra mais recente, que divide os
museus-casa em oito subcategorias principais, em que podemos aplicar a diversos museus-
casa no Brasil e no mundo. De acordo com Pavoni são elas:
palácios, casas de pessoas célebres, casas de artistas, casas ilustrando
períodos e estilos particulares, casas de colecionadores, casas familiares
ilustrando a passagem do tempo e a sedimentação das gerações, casas
características de grupos sociais homogéneos, residências históricas onde
são conservadas colecções sem ligação particular com a história da casa em
si mesma(PAVONI, 2001, p.18).
O Museu Parque Histórico Castro Alves insere-se na classificação de 1934 nos museus
casa de interesse biográfico, pois além da casa são expostos manuscritos, objetos pessoais,
uma mesa de trabalho e objetos da família. No caso da classificação da autora citada acima
(PAVONI, 2001, p.18) entraria na segunda tipologia, a casa de pessoas célebres, vista a
importância do poeta para o Romantismo brasileiro.
Este ponto pode ser exemplificado com o filme Os Narradores de Javé (2003), em
que uma cidade ameaçada pela força das águas de uma represa passa a ter seus moradores a
contar a história do local para mostrar as autoridades competentes a sua importância. No fim,
quando as histórias contadas (memórias) têm rumos distintos, conclui-se que não existe uma
história única para cidade, mas diversas, a depender do ponto de vista de cada um (vivências
familiares, gostos, etc.). No caso da cidade de Cabaceiras do Paraguassú, no momento, as
memórias circulam no entorno da figura do poeta Castro Alves, contudo, isso não quer dizer
que vai perdurar por toda a vida ou que elas (as memórias) são idênticas, o slogan do filme é
“o povo aumenta, mas não inventa”.As memórias são coletivas, mas, se diferenciam em
alguns pontos umas das outras, a chamada memória individual, que segundo Halbwachs, “o
primeiro testemunho a que podemos recorrer será sempre o nosso” (HALBWACHS, 2006,
p.29). Para o autor, as memórias são construídas coletivamente ao longo do tempo, sendo a
memória social dinâmica, coletiva e mutável.
REFERÊNCIAS:
BOSI, E. O tempo vivo da memória: ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê, 2003.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. Trad. de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Jacques Le Goff, tradução Bernardo Leitão ..[et al.]
– Editora UNICAMP: São Paulo, 1990.
OS Narradores de Javé. Direção: Eliane Caffé. Produção Vania Catani. 2003. 100 minutos.
PAVONI, Rosana. Pour une définitionet ne typologie dês demeures historiques transformés
em musées: 2001, p. 16-21.
VARINE, Hughes De. O Tempo Social. Trad. Fernanda de Camargo-Moro e Lourdes Rego
Novaes. Rio de Janeiro: Livraria Eça Editora, 1987.