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Buracos Negros (3 Parte)
Buracos Negros (3 Parte)
As Estrelas
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Buracos Negros As estrelas
ninguém tinha qualquer ideia sobre quão quente seria o seu interior. Essa questão não
tinha sequer aflorado a mente da maior parte dos astrónomos. Inclusivamente, o
primeiro interesse do próprio Eddington não foi o interior das estrelas; este interesse
surgiu-lhe indirectamente. Ele tentava explicar as estranhas pulsações das Cefeides
variáveis (estrelas enormes que sofrem alterações periódicas de brilho), e que viriam a
ser fundamentais na conclusão de Hubble de que o Universo se encontra em expansão,
quando rapidamente se apercebeu de que quase nada era conhecido da sua estrutura
interna ou da estrutura interna de qualquer outra estrela. Tinha, pois, de abordar
primeiro esse problema.
Figura 17
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Buracos Negros As estrelas
Figura 19
Representação de uma superfície esférica de espessura r onde se considera um cilindro de área
de superfície A.
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Buracos Negros As estrelas
F P.A
Fg g.m
d 2r
F Fg F p m 2
dt
têm de se anular forçosamente, como dissemos, dado que, se assim não fosse, notar-se-
ia uma variação nas dimensões da estrela. Daqui resulta que:
Fg F p
e como:
m V
dP
g
dr
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A camada exterior em r é maior, para a mesma secção, e por isso, tem um peso maior. Se assim não fosse, não
haveria gradiente de pressão.
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Buracos Negros As estrelas
d 2r Gm
2
2
dt r
Gm
e como g , obtínhamos:
r2
t
d 2r dr
g g t 0
dr dr
gt
t
dt 0
2
dt dt dt t 0
dr
Assinale-se que 0 porque se pressupõe que o ponto à superfície se
dt t 0
encontra inicialmente em repouso. Temos então que a velocidade do ponto à
superfície, durante a implosão é dada por:
dr
gt
dt
Integrando:
r g t 2 0 r t R gt 2
t 1 t 1
0
2 2
Para o Sol, por exemplo, este tempo de queda livre seria igual a
aproximadamente 37 minutos. De referir que não é isto que acontece num buraco
negro, dado que, nesse caso, a pressão, ainda que não uma pressão térmica, continua a
existir, embora não seja suficiente para suster a gravidade.
Foi também a partir desta equação que Eddington calculou a temperatura no
centro do Sol. A equação do equilíbrio hidrostático diz-nos que a pressão no centro do
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Buracos Negros As estrelas
Sol deve igualar o peso do material que está por cima, que é dado pelo peso de uma
coluna de 1cm2 de área de secção, altura R e densidade média =1 gcm-3:
Fg Pg
ou seja:
_ _
Pg g R
o que nos dá, se considerarmos o g médio igual a duas vezes o valor do g do Sol à
superfície, um valor de 41015 dyn cm-2 para a pressão central do Sol. Se depois
usarmos a equação de estado dum gás ideal, podemos calcular a temperatura no centro:
RT
Pg
onde R é a constante dos gases ideias, a densidade e o peso atómico médio, que
para o centro do Sol, onde as partículas estarão totalmente ionizadas, será
aproximadamente igual a 0,6. Com estes valores obtemos então a tal temperatura de
1,5107 K, para o centro do Sol, calculada por Eddington.
Por outro lado, como é evidente, a massa de qualquer anel esférico é igual à
massa da esfera completa menos a massa da esfera delimitada pela circunferência
interior, ou:
mr r mr m
ou, na forma diferencial:
m dm
4r 2 4r 2 r
r dr
L 4r 2 .r
ou, na forma diferencial:
dL
4r 2
dr
28
A luminosidade de uma estrela é a energia total irradiada por unidade de tempo.
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Buracos Negros As estrelas
dT 3 kL
. 2 3
dr 16ac r T
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Buracos Negros As estrelas
Por definição, a energia potencial gravitacional (U) dum sistema pode ser
expressa da forma que já vimos atrás, ou alterando variáveis:
M
GM
U dm
0 r
m r
escrevendo q , 0 q 1 e x , 0 x 1 , temos que:
M R
1
GqM GM 2 1 q
U
R 0 x
Mdq dq
0 xR
1
q
e designando dq , obtemos:
0 x
GM 2
U
R
4 3 M
m r 3 xR Mx 3 q x 3
3
3 R
logo:
1
x3
1 1
x5 3
3 x 2 dx 3 x 4 dx 3
0 x 0 5 0 5
3 GM 2
U .
5 R
U GM 2
tG .
L RL
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Recorde-se que a energia potencial é máxima quando as partículas estão infinitamente afastadas, sendo igual a
0 (zero), e diminui para valores negativos, à medida que as partículas vão caindo umas de encontro às outras.
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Buracos Negros As estrelas
o que, partindo do princípio de que o Sol sempre emitiu a quantidade de energia que
hoje emite, daria um tempo de vida para a nossa estrela da ordem dos 20 milhões de
anos. Todavia, devido a considerações de que aqui não nos ocuparemos, um corpo em
contracção gravitacional terá de libertar “apenas” metade da sua energia potencial
gravitacional o que reduz o tempo da contracção para 10 milhões de anos. Ora é
sabido, e já o era (de forma aproximada) no início do século, que o Sol existe há cerca
de 5000 milhões de anos (500 vezes mais), pelo que se torna evidente que tomar para
fonte da luminosidade solar a energia potencial gravitacional das suas partículas, está
fora de questão. Podemos, ainda, se alterarmos a variável dependente, e sabendo que
ao longo da sua vida, até hoje, o Sol libertou um total de 61050 erg (obtido
multiplicando a luminosidade pelo tempo total em segundos) determinar que, para que
o Sol conseguisse obter toda a sua energia, ao longo de todo este tempo, a partir da
energia gravitacional perdida, teria de se comprimir até um raio igual a 100 Km, e,
para além disso, teria de arranjar uma forma eficaz de gestão dessa energia perdida.
No entanto, embora a energia potencial gravitacional não seja a resposta para a
fonte de energia do Sol (e por inerência das outras estrelas na mesma fase de vida), ela
foi útil nos primeiros tempos da vida da estrela.
O espaço interestelar está juncado de nuvens frias e irregulares, de gases e
poeiras que rodam lentamente, umas primordiais (resultantes do Big-Bang), e outras
provenientes da explosão de estrelas antigas. Por vezes, ocorre uma perturbação numa
dessas nuvens, devida à onda de choque de uma supernova, ou à passagem de uma
estrela pelas imediações. Essa perturbação pode conduzir à formação de pequenos
núcleos mais densos que, por terem mais massa, exercem uma força gravitacional
maior do que a média, atraindo para si cada vez mais poeiras, e crescendo num efeito
tipo bola de neve, designado por acreção gravitacional. À medida que a gravidade o
faz fechar-se sobre si mesmo, a velocidade de rotação desse núcleo aumenta e a sua
forma torna-se grosseiramente esférica. Possivelmente, a força (dirigida para o
exterior) criada pela rotação impede a continuação do processo de colapso num dos
planos do espaço. Porém, o gás que se encontra nos outros planos continua em queda
livre até que a nuvem se transforma num disco gigante com uma grande alto, na zona
central. À medida que o gás dessa zona se condensa, o centro da nuvem aquece,
devido à contracção que leva à perda de energia potencial gravitacional, e a radiação
daí resultante começa a atravessar a zona gasosa que o rodeia. A princípio, a nuvem é
transparente, pelo que toda a radiação libertada, se perde para o espaço, e a nuvem em
colapso embora aqueça mantém temperaturas relativamente baixas. Mas
progressivamente, com o aumento da matéria acretada, a nuvem vai-se tornando
opaca, acumulando radiação no seu interior, e aquecendo. O aquecimento produz
pressão, que impede a região central de continuar a implodir. No entanto, as regiões
periféricas continuam a cair para o centro, aumentando a densidade e a opacidade da
nuvem. Quando a velocidade de contracção do material mais interior da nuvem excede
a velocidade do som, produz-se uma onda de choque, e forma-se um corpo muito
brilhante, designado por proto-estrela. Nessa altura, já a quantidade de radiação
acumulada no interior da nuvem é suficiente para aquecer a altíssimas temperaturas as
regiões circundantes, que emitem luz devido ao calor. A proto-estrela continua o seu
colapso, produzindo grandes quantidades de energia à custa da contracção
gravitacional. Ainda assim, a radiação que começa a ser emitida pelas camadas
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Buracos Negros As estrelas
o que daria para o Sol viver, pelo menos, cerca de 15 vezes mais do que o que já viveu.
Se a isto juntarmos o facto de que o Sol irá também fundir hélio para obter carbono,
ganhando com isso mais energia, podemos compreender que este processo de obtenção
de energia é altamente eficiente, e responde completamente às necessidades.
Contudo, uma estrela apenas consegue realizar a fusão nuclear desde que a
temperatura seja superior a 15 milhões de graus. Ora essa temperatura apenas se atinge
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Dado que a energia libertada por contracção gravitacional depende da massa da nuvem em contracção,
algumas nuvens não terão massa suficiente para esta temperatura. Entram então num estado de equilíbrio e são
designadas por anãs castanhas.
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Na realidade, não são as partículas em si que são mais pesadas ou mais leves. O que se passa é que, nos
núcleos, os protões e os neutrões, encontram-se ligados graças a uma energia de ligação (que tem uma massa). A
energia de ligação, neste caso do hélio, é inferior à do hidrogénio (eu aqui não uso a notação habitual de energia
de ligação como a energia que é necessário fornecer para quebrar a ligação, mas sim no sentido de energia
potencial), e por isso, quando se funde hidrogénio em hélio, há energia libertada.
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no núcleo, que constitui cerca de 10 % da massa total de uma estrela como o Sol. Daí
que, o Sol, só vá viver no máximo, um tempo igual ao que já viveu, ou seja no total, 10
mil milhões de anos.
Atrás referimos que a proto-estrela se transforma em estrela quando pára a
contracção gravitacional. Agora percebemos que a contracção gravitacional é
bloqueada pela ignição das reacções de fusão no núcleo, que atingiu os 15 milhões de
graus requeridos. E essas reacções de fusão irão, a partir daí, fornecer a energia
suficiente para gerar a pressão capaz de suportar o peso da estrela. A partir do
momento em que começa a fundir hidrogénio no núcleo, a estrela entra na fase mais
longa da sua vida. Essa fase designa-se por Sequência Principal (SP), e nela
encontram-se as estrelas da diagonal característica do diagrama de Hertzsprung-
Russell. Mas como se processa afinal, a fusão do hidrogénio em hélio?
Em 1938, Hans Bethe estudou em pormenor essas reacções em relação ao caso
do Sol. Demonstrou que o hidrogénio é convertido em hélio numa série de reacções
que geram uma quantidade extraordinária de energia. Essa energia leva muito tempo a
caminhar do núcleo para a superfície da estrela e, quando a atinge, é depois irradiada
para o espaço. Claro que o nosso Sol é apenas uma estrela de entre outras centenas de
estrelas que podemos ver no céu numa noite de boa visibilidade. É um milhão de vezes
maior que a Terra mas mesmo assim não passa de uma estrela de tamanho médio.
Existem estrelas gigantes vermelhas, milhares de vezes maiores que o Sol e pequenas
anãs brancas pouco maiores do que a Terra.
Os núcleos atómicos são partículas muito menores que o átomo em si, e
possuem, invariavelmente, carga eléctrica positiva devido à presença de protões. Um
dado núcleo atómico pode-se caracterizar pelo seu número atómico (Z), que é igual ao
número de protões, e pelo seu número de massa (A), que é igual à soma do número de
protões com o número de neutrões, e constitui uma medida aproximada, do número de
vezes que o núcleo é mais pesado que o núcleo de H1. Desde Coulomb que sabemos
que, cargas eléctricas com o mesmo sinal se repelem. Ora, sempre que dois núcleos se
aproximam, a sua tendência natural, devido à interacção eléctrica é para se repelirem.
Daí que seja extremamente difícil fazer com que dois núcleos choquem, e ainda mais
difícil fazer com que eles se fundam um no outro, reorganizando-se, e dando origem a
um núcleo diferente. Como a temperatura do meio está directamente relacionada com
a energia cinética das partículas presentes nesse meio, quanto maior for a temperatura,
maior será a velocidade a que os núcleos se deslocarão e, em caso de choque, maiores
serão as probabilidades de grande interacção entre eles. Acontece, e isto só foi
descoberto por Yukawa na década de 40, que as partículas dentro do núcleo se
encontram ligadas não por interacção eléctrica, nem tampouco gravitacional, mas
devido a uma força completamente nova chamada força forte ou interacção nuclear
forte. A força forte tem uma intensidade muito maior do que a eléctrica (sendo que a
eléctrica já tinha uma intensidade muito maior do que a gravitacional), e é sempre
atractiva. Contudo, e dado que, a intensidade de uma força é inversamente
proporcional ao seu raio de acção, a interacção forte actua a uma distância muito curta
(cerca de 10-15 m). Daí que, se um núcleo tiver velocidade suficiente para, ao chocar
com outro núcleo, interagir suficientemente perto com ele, para que a força nuclear
forte entre em acção, a repulsão eléctrica deixa de ter importância e os núcleos
fundem-se. É por isso que as reacções nucleares só ocorrem a temperaturas tão
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elevadas. Abaixo desses valores a interacção forte não actua, porque os núcleos que se
poderiam fundir não têm velocidade suficiente para, vencendo a repulsão eléctrica, se
aproximarem até à distância requerida. Uma vez atingida essa temperatura, começam a
ocorrer reacções em cadeia. A que ocorre logo imediatamente designa-se por cadeia
PP I (protão-protão I):
H1 + H 1 D2 + e + + (1,41010 anos)
D2 + H1 He3 + (6 s)
e depois:
He3 + He3 He4 + H1 + H1 (106 anos)
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Buracos Negros As estrelas
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Buracos Negros As estrelas
Como a reacção envolve três núcleos de hélio, partículas alfas, designa-se por
reacção de triplo-alfa.
À medida que o núcleo continuar a arder, a sua temperatura continuará a
aumentar. Em resultado, as camadas exteriores expandir-se-ão e arrefecerão ainda
mais. Chegará a altura em que estarão suficientemente frias para que os electrões e os
núcleos se voltem a juntar em átomos. Os fotões (partículas de radiação) serão
emitidos durante esse processo, gerando calor apreciável. Em breve, o processo
deixará de estar controlado e toda a camada externa do Sol será empurrada para o
espaço.
Actualmente, utilizando telescópios, podemos ver muitas estrelas que se
encontram nessa fase. São chamadas nebulosas planetárias. A camada emitida pelo
Sol passará pela Terra, ultrapassará os gigantes de gás e dissipar-se-á no espaço. Com
a perda das suas camadas exteriores mais frias, a temperatura superficial do Sol subirá
em flecha, de uns poucos milhares a cerca de 50 000 graus. No núcleo, o hélio
continuará a arder e tal como o hidrogénio também deixará cinzas: carbono, como
vimos, e algum e oxigénio.
O carbono e o oxigénio, como são mais pesados do que o hélio, irão repetir o
processo de queda para o centro. O hélio em breve estará a queimar, numa camada à
volta deles. O carbono e o oxigénio arderão também, se a temperatura atingir 3000
milhões de graus. No entanto, o núcleo do Sol nunca ficará tão quente. O Sol queima
hidrogénio e hélio mas não é suficientemente massivo para ir mais longe. O que é que
lhe acontecerá então? Tal como todas as estrelas morrerá. Mas a sua morte será lenta e
pacífica. A sua fornalha nuclear apagar-se-á e principiará a contrair-se lentamente
sobre si mesmo. Ao longo de milhões de anos tornar-se-á progressivamente mais
denso, atingindo finalmente densidades da ordem das toneladas por polegada cúbica.
Tornar-se-á naquilo que é conhecido por Anã Branca.
Durante a sua vida, Eddington recebeu multas honrarias: doze graus académicos
honorários, a medalha de prata da Royal Astronomical Society, foi nomeado cavaleiro
em 1930, e recebeu a prestigiosa ordem de mérito em 1938.
A sua morte foi súbita e inesperada. Já ia adiantado o ano de 1944 quando o seu
estado de saúde começou a deteriorar-se; tentou continuar a andar de bicicleta mas em
breve teve de deixar de o fazer. Por uns tempos, calou as dores, mas chegou a uma
altura em que estava tão fraco que teve de consultar um médico. Este operou-o
imediatamente e encontrou um cancro incurável. Pouco depois, Eddington morria.
Em 1928, Subrahmanyan Chandrasekhar tinha 17 anos, e era aluno da
Universidade de Madras no sudeste da Índia. Era um jovem alto e bem parecido,
orgulhoso dos seus feitos académicos, e com uma paixão verdadeiramente
avassaladora pela Física, Química e pela Matemática. Tinha recentemente lido o livro,
hoje clássico, Atomic Structure and Atomic Lines de Arnold Sommerfeld, quando
soube que o físico se deslocaria da sua casa em Munique, para visitar Madras. Ansioso
por um contacto pessoal, Chandrasekhar não pensou duas vezes: entrou no quarto de
hotel de Sommerfeld e solicitou uma entrevista. Foi-lhe concedida, e dias depois,
voltaram-se a encontrar. Chandrasekhar, confiante nos seus conhecimentos de Física,
entrou no quarto de Sommerfeld, disposto a debater alguns assuntos de igual para
igual. Mas teve uma surpresa. Sommerfeld cumprimentou-o com afabilidade, e
começou por o interrogar sobre os seus estudos. Depois disparou: A Física que tens
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Buracos Negros As estrelas
estado a estudar é coisa do passado. A Física mudou toda nos últimos cinco anos,
desde que o meu livro foi escrito.
Explicou-lhe então, que tinha havido uma revolução na forma como os físicos
entendiam as leis que governavam o reino do muito pequeno: dos átomos, moléculas,
electrões e protões. Neste reino, as leis de Newton tinham falhado por completo, e sido
substituídas por novas leis que no conjunto levavam o nome de Mecânica Quântica,
mecânica porque tratava comportamentos e quântica porque se aplicavam às partículas
fundamentais da matéria – os quanta.
O livro de Sommerfeld, que Chandrasekhar tinha lido, tratava da primeira
versão dessas leis, que tinha sido insatisfatória, porque concordava com a experiência
para átomos ou moléculas simples, como o hidrogénio, mas falhava redondamente no
tratamento de partículas mais complexas. A nova versão das leis, ainda que
radicalmente diferente, parecia bastante mais promissora.
Quando se separaram, naquela tarde, Sommerfeld deixou um artigo técnico
acabado de escrever, que continha a derivação das leis da mecânica quântica que
governavam o comportamento de um grande número de electrões comprimidos num
volume muito pequeno, num metal, por exemplo. Chandrasekhar leu fascinado o
artigo, e passou vários dias na biblioteca da Universidade a estudar todos os artigos
relacionados com ele. Especialmente interessante era um texto publicado no número
de 10 de Dezembro de 1926 do Monthly Notices of the Royal Astronomical Society
pelo físico inglês R. H. Fowler, intitulado On dense matter. O artigo de Fowler
remeteu Chandrasekhar para um livro ainda mais interessante: The Internal
Constitution of the Stars, o tal livro de Eddington de que já falamos, onde se
encontrava uma descrição do mistério das Anãs-Brancas.
A primeira anã branca foi descoberta por Friedrich Bessel, nos princípios da
década de 40 do século XVIII. Ao estudar, durante muitos anos, o movimento de
Sirius notou que a sua trajectória não era como se poderia esperar uma linha recta:
apresentava um ligeiro desvio que Bessel acreditava ser causado por uma estrela
próxima, invisível. Em 1862, o construtor de telescópios americano, Alvin Clark,
descobriu um ténue ponto luminoso perto de Sirius. Chamamos-lhe, agora, Sirius B e à
companheira mais brilhante, já referida, Sirius A. Sirius é a sexta ou sétima estrela
mais próxima do Sol, a cerca de 8,6 anos-luz32 de distância, e é a estrela mais brilhante
visível no céu terrestre. Na altura, os astrónomos ficaram intrigados com a estrela
ténue especulando se ela seria ou não uma estrela moribunda. O espanto aumentou
ainda mais quando, em 1915, Walter Adams, do Observatório do Monte Wilson,
analisou a sua luz com um telescópio e mostrou que a temperatura da sua superfície
era de 8000 graus centígrados.
Como poderia um objecto tão ténue ter uma temperatura tão elevada? Com uma
superfície tão quente não podia ser de maneira nenhuma uma estrela moribunda. Além
disso tinha de ser muito mais pequeno do que aquilo que se pensava. No seu livro,
Eddington descreve como é que os astrónomos determinaram que a sua massa era de
0,85 vezes a do Sol, e o seu raio era de cerca de 19000 Km, o que dava uma densidade
cerca de 61000 vezes maior que a da água. Eddington alertava ainda para o facto de
que, de acordo com a relatividade de Einstein, uma estrela com tal densidade, deveria
forçosamente, apresentar um desvio para o vermelho de 6 partes em 100000, trinta
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Um ano-luz é a distância que a luz percorre num ano e é igual a 9,46 biliões de quilómetros.
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Buracos Negros As estrelas
vezes mais do que para o Sol, que seria facilmente detectável na época. E isso tinha, de
facto, sido feito. Pouco antes do livro ir para o editor, em 1925, W. S. Adams do
Observatório do Monte Wilson em Pasadena, Califórnia, detectou o desvio previsto
pela teoria. Eddington escreveu: O professor Adams matou dois coelhos com uma
cajadada: apresentou uma nova verificação da teoria da relatividade, e confirmou as
nossas suspeitas de que uma densidade 2000 vezes superior à da platina não só é
possível, como realmente existe no nosso Universo.
Chandrasekhar encontrou, ainda nesse livro, a descrição de Eddington, de como
a estrela sustenta a gravidade por acção da pressão. A dada altura Eddington chamava
a atenção para um paradoxo relacionado com esse equilíbrio e com as anãs brancas, e
que estava a causar sérios problemas. Eddington acreditava, assim como todos os
astrónomos, em 1925, que a pressão interna era gerada pelo calor (o que, para todas as
estrelas normais, corresponde à verdade, como vimos). Se a estrela não tiver uma fonte
de energia interna, como é o caso de uma anã branca, à medida que arrefece, emitindo
radiação para o espaço, os átomos que a constituem, mover-se-ão cada vez mais
lentamente, a pressão interna irá diminuir, e o peso das camadas exteriores irá fazer
com que o volume da estrela diminua. Este encolhimento, contudo, aquece-a de novo,
levando a um novo aumento da pressão e a um novo estado de equilíbrio, desta vez
com a estrela ligeiramente mais pequena. Desta forma, Sirius B, à medida que
continua a arrefecer radiando para o espaço, vai encolhendo.
Eddington pergunta: Como é que este encolhimento progressivo acaba? Qual
será o destino de Sirius B? A resposta mais óbvia, ainda que errada, era que a estrela
vai encolher de tal forma, que eventualmente acabará por se transformar num buraco
negro. Mas Eddington era de tal forma avesso a este cenário que se recusou
terminantemente a colocá-lo. A outra resposta razoável era a de que a estrela deve
arrefecer completamente, ficando fria, e depois suportar o seu peso, não por pressão
termal (devida ao calor ou, mais profundamente, à agitação das partículas) mas sim
pelo único tipo alternativo de pressão conhecido em 1925: a pressão que encontramos
entre objectos sólidos, e que se deve à repulsão electrostática entre átomos adjacentes.
Mas esta pressão do tipo da das rochas só era possível, de acordo com o que Eddington
acreditava (mais uma vez incorrectamente), se a densidade da matéria fosse
aproximadamente igual à densidade das rochas, cerca de 10000 vezes menor do que a
densidade de Sirius B.
Foi esta linha de raciocínio que conduziu Eddington ao paradoxo. Para
conseguir atingir uma densidade da ordem da das rochas, e assim conseguir suportar o
seu peso quando arrefecer, a anã branca tem forçosamente de expandir. Mas isso
implica realizar uma enorme quantidade de trabalho contra a gravidade, e não era
conhecida qualquer fonte de energia dentro da anã, capaz de realizar tal trabalho.
Chandrasekhar viria a encontrar a resposta para o paradoxo, no artigo de 1926
de R. H. Fowler. E essa resolução residia, precisamente no facto, de que as leis da
Física que Eddington utilizara, tinham deixado de ser aplicáveis quando a estrela se
transformou em anã branca. Essas leis tinham de ser substituídas pelas novas leis da
mecânica quântica, que descreve a pressão dentro de Sirius B e de todas as outras anãs
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Buracos Negros As estrelas
brancas como sendo devida, não ao calor, mas sim a um novo fenómeno quântico: o
movimento degenerado dos electrões ou degenerescência dos electrões.33
Como vimos, já na época de Newton, os físicos lutavam para tentar
compreender se a luz era constituída por partículas ou por ondas. Newton acreditava
que a luz era constituída por partículas, a que chamava corpúsculos, e por isso a sua
teoria foi apelidada de corpuscular. Por seu turno, Huygens, foi o principal
impulsionador da teoria ondulatória. Até ao início do século XIX, quiçá graças à
grande influência de Newton, a teoria corpuscular foi a que teve mais adeptos. Surgiu
então Thomas Young e a sua experiência em que provava a interferência da luz,
convertendo toda a gente à teoria ondulatória de Huygens. Nos anos 90 de século
passado, contudo, Max Planck deu conta de alguns pormenores na forma do espectro
de emissão de um corpo negro,34 que pareciam indicar que algo faltava na
compreensão que os físicos tinham da luz. Em 1905, quando publicou o seu artigo
sobre o efeito fotoeléctrico, Einstein mostrou o que faltava: a luz comporta-se umas
vezes como uma onda, e outras como uma partícula, a que foi dado o nome de fotão.
Comporta-se como onda quando interfere consigo mesma e como partícula no efeito
fotoeléctrico, por exemplo. Mas nessa altura, ainda ninguém podia imaginar que, um
comportamento tão estranho como esse da luz, se podia estender à próprias partículas
subatómicas, como o electrão, o protão e o neutrão. Quem o reconheceu foi Louis de
Broglie em 1923, que conjecturou que cada partícula tem a si associada uma onda cujo
comprimento é dado por:
h
mv
33
Aqui degenerado não tem a conotação moral que se lhe costuma atribuir, mas antes significa que os electrões
atingiram o estado mais baixo de energia possível.
34
Um corpo negro absorve toda a luz nele incidente, e emite só devido ao calor.
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Buracos Negros As estrelas
electrão!35 Como podemos inferir da equação acima, para ter um comprimento de onda
pequeno, o electrão terá de ter uma grande velocidade. E é este tipo de comportamento
que se denomina degenerescência, sendo intrínseco à própria natureza da matéria, e
não depende da energia fornecida ao meio, pelo que não pode ser anulado por
arrefecimento. A degenerescência é inevitável quando se comprime a matéria, e a
única forma de a anular seria diminuir a densidade. Trata-se de algo com que Newton
nunca teria sonhado, e nem Eddington, quando escreveu o seu livro, possuía esses
conhecimentos de mecânica quântica, pelo que não conseguiu entender que para Sirius
B, e para todas as outras anãs brancas, não constituía qualquer problema o facto de não
terem uma fonte interna de energia capaz de sustentar o seu próprio peso, porque,
mesmo quando arrefecessem, a degenerescência dos electrões continuaria a fazê-lo.
Chandrasekhar leu o artigo de Fowler atentamente, retirando dele todas as
ilações possíveis, e perseguiu com afinco o intento de dominar toda a matemática
subjacente. Interessou-se tanto pelo trabalho de Fowler, que escreveria um artigo em
que explorava novas consequências da mecânica quântica, e enviou-o para Cambridge
onde foi publicado. Em 1930, com 19 anos, terminou o curso de bacharel, e, na última
semana de Julho embarcou rumo a Inglaterra, para prosseguir estudos precisamente, na
Universidade de Cambridge.
Esses dezoito dias de viagem, no mar, entre Madras e Southampton, constituíam
a sua primeira oportunidade de pensar sobre Física, sem a pressão das aulas e dos
exames. Chandrasekhar sentia-se inspirado. Tão inspirado, na realidade, que esses
dezoito dias foram decisivos para que viesse a ganhar o prémio Nobel, 54 anos mais
tarde.
A bordo do barco vapor, Chandrasekhar debruçou-se intensamente sobre as
anãs brancas, o paradoxo de Eddington e a resolução de Fowler. A resolução estava,
de certeza correcta, dado que não havia nada a obscurecê-la, mas como Fowler não
tinha calculado a relação existente entre a pressão e a gravidade, nem a forma como a
pressão, a densidade e a gravidade, variam desde a superfície até ao centro da estrela,
Chandrasekhar achou que tal seria uma interessante tarefa para passar o tempo da
viagem. O ponto de partida foi tentar perceber de que forma a anã reagiria se se
aumentasse a densidade de, digamos, 1 %. Certamente que a pressão de
degenerescência iria aumentar. Mas quanto? O resultado foi claro: se a densidade
aumentar 1 %, a pressão aumenta 1,667 %, o que era um valor surpreendente, dado
que, o esperado, seria que os aumentos fossem iguais. Com os seus cálculos, e as
equações de Eddington, ainda pode calcular que, a densidade no centro de Sirius B era
de 3 toneladas por centímetro cúbico, e que a velocidade dos electrões era igual a 57 %
da velocidade da luz. Este valor para a velocidade era preocupantemente elevado.
Até então, tinha tratado o problema com o auxílio da mecânica quântica, mas
ignorando a relatividade, por julgar que não seria necessário levar em linha de conta
efeitos relativísticos. Contudo, para uma partícula a mover-se a uma tal velocidade, o
mais provável era que a relatividade desempenhasse já um papel assinalável. Ainda
por cima, Sirius B não parecia ser, nem de longe nem de perto, a única anã branca do
céu, e, com toda a certeza, existiria anãs mais massivas, que requereriam uma maior
pressão que por sua vez resultava numa velocidade proporcionalmente maior para os
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Este enunciado, constitui outra forma de apresentar o Princípio da exclusão de Pauli formulado em 1925 por
Wolfgang Pauli.
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Outra forma de vermos o problema: para que o comprimento de onda diminua, a energia deve aumentar -
c
Eh - ou seja, a velocidade deve aumentar.
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Quando chegou a Inglaterra, teve de esperar por Fowler que estava de férias no
campo. Em Setembro, pode finalmente apresentar-lhe os seus artigos e explicar-lhe as
suas conclusões. O primeiro artigo, sobre Sirius B, foi aprovado, por Fowler, para
publicação no Philosophical Magazine, mas o segundo, sobre a massa limite, suscitou
sérias dúvidas, e como nem o astrónomo E. A. Milne o conseguisse compreender, foi
rejeitado.
Chandrasekhar ficou muito desapontado, mas não desistiu. Dois meses mais
tarde, enviou o seu artigo para a América, para publicação no Astrophysical Journal.
Na volta do correio, recebeu uma carta do físico Carl Eckart, em que lhe era solicitada
uma derivação Matemática da sua conclusão de que a pressão aumentava apenas
1,333 % quando a densidade era elevada, em vês dos 1,667 % habituais. Segundo
Eckart, tal dedução, que não tinha sido incluída no artigo original, era fundamental,
dado que se o valor não estivesse correcto, o teorema da massa limite caía por terra, e
as anãs brancas podiam ser tão massivas quanto quisessem. Chandrasekhar disparou
uma dedução matematicamente pormenorizada, e o seu artigo foi, finalmente
publicado. Passara-se entretanto um ano desde que chegara a Inglaterra.
Continuou a trabalhar no problema e completou a sua tese de doutoramento em
1933. Foi eleito membro do Trinity College e permaneceu em Cambridge durante
vários anos. Durante a sua estada relacionou-se com Eddington que se interessou
bastante pelo seu trabalho, visitando-o quase diariamente. Chandrasekhar respeitava
bastante Eddington que na época era um dos gigantes da astronomia. O seu trabalho
pioneiro sobre o interior das estrelas tinha-o tornado mundialmente famoso.
Por essa altura, Chandrasekhar, decidiu que a melhor maneira de convencer os
outros cientistas da justeza da ideia de massa crítica era desenvolver
pormenorizadamente a sua teoria. Completou essa tarefa monumental em 1934 e
enviou duas breves comunicações para a Royal Astronomical Society. Em Janeiro de
1935, foi convidado para proferir uma conferência. Nessa altura, já estava
suficientemente confiante e tinha a certeza de que o seu trabalho seria imediatamente
aceite. Mas, terminada a conferência e para sua surpresa, Eddington, que se encontrava
totalmente familiarizado com o seu trabalho, subiu ao estrado para fazer uma
comunicação. Principiou-a definindo e explicando os dois tipos de degenerações: a
ordinária e a relativista (degeneração de electrões que se movem a velocidades
desprezáveis, e não desprezáveis em relação à velocidade da luz). E prosseguiu
afirmando: Não sei se sairei vivo desta reunião mas a essência da minha comunicação
é que a degeneração relativista não existe.
Chandrasekhar ficou chocado e furioso. Era óbvio que o seu trabalho não
convencera Eddington mas que este, em vez de lho dizer em privado, estava a fazer
pouco dele publicamente. Chandrasekhar queria contra-atacar, mas apercebeu-se de
que o prestígio de Eddington era tão grande, que quase tudo o que dizia tinha para a
assistência um cunho de certeza absoluta. Abandonou a conferência deprimido. Quase
parecia que a sua carreira ia acabar mesmo antes de ter começado. Vários anos de
trabalho duro tinham sido demolidos numa única noite.
Estranhamente, o ataque de Eddington não se resumiu à conferência: continuou
a referir-se ao trabalho de Chandrasekhar como sendo uma heresia, embora os
argumentos que empregava contra ele fossem vagos e circulares. Nem Chandrasekhar
nem mais ninguém conseguia percebê-los.
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O colapso é de tal forma violento que o a queda de um tamanho igual ao da Terra, até um raio de 100 Km
demora 10 segundos.
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Hoje esta força, da qual já aqui falamos, é conhecida por força nuclear forte. Existe ainda a força nuclear fraca,
que intervêm nos decaimentos radioactivos, e é responsável, por exemplo, pela emissão de neutrinos.
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Trata-se de decaimentos -, nos quais um neutrão decai num protão, que fica no núcleo, aumentando o número
atómico, num electrão e num anti-neutrino que saem.
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Figura 23
A hipótese de Fritz Zwicky para o gatilho que faz despoletar a explosão de supernova: a energia explosiva
provem da implosão de uma estrela com um núcleo de densidade normal para formar uma estrela de neutrões.
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Um dos físicos alertados por Landau para o problema das estrelas de neutrões
foi, J. R. Oppenheimer, da Universidade da Califórnia. Leu o artigo do russo no
número de 19 de Fevereiro de 1938 da revista Nature. Se tivesse vindo de Zwicky, tê-
lo-ia achado especulativo, mas como foi publicado por Landau, mereceu-lhe uma
atenção redobrada.
Oppenheimer era um trabalhador de equipa. Tinha um grupo que consistia em 8
ou 10 estudantes licenciados e cerca de meia dúzia de recém doutorados. Quando
chegava, escutava cada um deles, e sugeria-lhes caminhos a seguir na investigação que
desenvolviam. Todas as primaveras Oppenheimer enchia o seu descapotável de livros
e, com alguns estudantes, ia até Pasadena, alugava apartamentos em Berkeley a 25
dólares por mês e mergulhava na Física.
Para trabalhar no problema do núcleo das estrelas feito de neutrões,
Oppenheimer escolheu Robert Serber um dos seus investigadores doutorados.
Rapidamente perceberam que, se o Sol tivesse um núcleo de neutrões no seu centro, e
se a massa do núcleo fosse uma fracção apreciável da massa total, então o Sol seria
muito mais pequeno do que na realidade é, porque o núcleo puxaria as camadas mais
externas com grande intensidade. Por isso, a ideia de Landau de um núcleo de neutrões
só seria possível se a massa desse núcleo fosse muito pequena. E isto conduziu-os à
próxima pergunta: quão pequena pode ser a massa de um núcleo de neutrões?
Essa massa já tinha sido estimada por Landau, que levou em linha de conta a
atracção gravitacional dentro e na vizinhança do núcleo e as forças de pressão
resultantes do movimento degenerativo dos neutrões. Mas não contou com a força
nuclear forte exercida pelos neutrões uns nos outros, e quando Oppenheimer e Serber
introduziram essa componente, descobriram que, se um núcleo de neutrões fosse mais
leve do que 1/10 da massa do Sol, então o núcleo explodiria. E esta era a massa
mínima: um décimo da massa solar. E uma massa desta ordem de grandeza
inviabilizava a possibilidade de o Sol ter um núcleo deste tipo. Se o tivesse, parecer-
nos-ia a nós, que o vemos da Terra, muito diferente do que é, mais pequeno, de
certeza. Por isso, a energia que mantém o Sol a brilhar não vinha de um núcleo de
neutrões do tipo que Landau sugeriu. Foi nessa altura, 1938, que Hans Bethe
apresentou as equações da fusão nuclear que já conhecemos. Eddington tinha razão,
Landau estava errado.
As estrelas de neutrões de Zwicky e os núcleos de neutrões de Landau eram, no
fundo a mesma coisa. A única diferença era que os núcleos tinham acima deles as
camadas subsequentes da estrela, mas a nível de tratamento matemático, eram muito
semelhantes e, por isso, não foi difícil a Oppenheimer entrar definitivamente no trilho
das estrelas de neutrões. Rapidamente percebeu qual era a pergunta que faltava, e
embarcou numa análise completa para perceber se existia uma massa máxima para as
estrelas de neutrões. Se existisse, qualquer estrela que tivesse uma massa maior teria o
destino selado, transformando-se inevitavelmente num buraco negro, porque nada
mais poderia suster a força da sua gravidade; se não tivesse, então qualquer estrela
com uma massa superior ao limite de Chandrasekhar transformar-se-ia numa estrela de
neutrões.
Oppenheimer podia regular o seu estudo pelo estudo feito por Chandrasekhar
para as anãs brancas, mas antes tinha de fazer duas alterações cruciais: como nas anãs
brancas temos electrões e nas estrelas de neutrões temos neutrões, a equação de estado
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Este artigo foi escrito dois meses depois do artigo de Einstein a que já fizemos referência em que o autor da
teoria da relatividade nega a possibilidade de existência dos buracos negros.
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De realçar que, em nenhum lugar do artigo é mencionado o nome de Zwicky, tal a animosidade que ele
merecia, e é Landau que é referido como o inspirador do trabalho. Zwicky escreveria um artigo duas vezes e
meia mais longo, sobre a mesma matéria, na mesma revista, a 15 de Abril. Quase tudo o que acrescentava em
relação ao que havia sido dito por Oppenheimer e colegas estava errado. Ainda assim, Zwicky é hoje venerado
por ter inventado o conceito de estrela de neutrões, e por ter reconhecido, em primeiro lugar, que elas se formam
aquando de uma supernova.
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