Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
26 de Setembro de 2006
2
Índice
6 Apêndice A 213
6.1 Funções Trigonométricas Inversas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 213
7 Apêndice B 217
7.1 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
7.2 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
7.2.1 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Capı́tulo 1
a- e a a+ e
Definição 1.1.2 Sejam a ∈ R e A um conjunto de números reais. Diz-se que a é interior a A se existir
uma vizinhança de a contida em A. Diz-se que a é fronteiro a A se toda a vizinhança de a intersecta
A e R \ A. Diz-se que a é exterior a A se existir uma vizinhança de a contida em R \ A.
Definição 1.1.3 O conjunto dos pontos interiores a A chama-se interior de A e representa-se por
int(A). O conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A e representa-se por ext(A). O
conjunto dos pontos fronteiros a A chama-se fronteira de A e representa-se por fr(A).
NOTA: Qualquer que seja A ⊂ R tem-se: int(A) ∩ ext(A) = ∅, int(A) ∩ fr(A) = ∅, fr(A) ∩ ext(A) = ∅ e
int(A) ∪ fr(A) ∪ ext(A) = R.
EXEMPLO 1: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. Então int(A) = int(B) = int(C) =
int(D) =]0, 1[, fr(A) = fr(B) = fr(C) = fr(D) = {0, 1}, ext(A) = ext(B) = ext(C) = ext(D) =
] − ∞, 0[∪]1, +∞[.
a b a b
0 a- e a+ e 1 b- e b + e 0 a- e a+ e 1 b- e b + e
a b a b
0 a- e a+ e 1 b- e b + e 0 a- e a+ e 1 b - e b+ e
e e
a - a+ b
0 1 1 1 a 1 1 e e
5 4 3 2 b- b+
1
EXEMPLO 2: Seja A = , n ∈ N . Então int(A) = ∅, ext(A) = R \ (A ∪ {0}) e fr(A) = A ∪ {0}.
n
EXEMPLO 3: Seja A = Q 1 . Então int(A) = ext(A) = ∅, fr(A) = R.
NOTAS:
EXEMPLO 4: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. B é fechado, D é aberto, A e C não são
fechados nem abertos.
1
EXEMPLO 5: A = , n ∈ N não é fechado nem aberto (note que fr(A) = A ∪ {0}).
n
1
EXEMPLO 6: A = , n ∈ N ∪ {0} é fechado.
n
1
EXEMPLO 7: Seja A = , n ∈ N . 0 é ponto de acumulação de A. Todos os pontos de A são isolados.
n
EXEMPLO 8: Seja A = [0, 1[ ∪ {2}. O conjunto dos pontos de acumulação de A é [0, 1]. 2 é ponto isolado
de A.
Definição 1.1.8 Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A é majorado se admitir majorantes. Diz-se
que A é minorado se admitir minorantes. Se A for majorado e minorado, diz-se que A é limitado.
1 Note que entre dois racionais, por mais próximos que estejam, existem infinitos racionais e infinitos irracionais. Também
entre dois irracionais existem infinitos irracionais e infinitos racionais. O mesmo acontece entre um racional e um irracional.
1.1 Noções topológicas em R 3
EXEMPLO 12: A = {x ∈ R : |x| > 1} =] − ∞, −1[ ∪ ]1, +∞[ não é majorado nem minorado.
EXEMPLO 13: Seja A = {x ∈ R : x2 < 1}. Então inf(A) = −1 e sup(A) = 1. A não tem máximo nem
mı́nimo.
n(n + 1)
1 + 2 + 3 + ···+ n = , ∀n ∈ N.
2
Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira. A hipótese de indução é
n(n + 1)
1 + 2+ 3+ ···+ n =
2
e a tese de indução é
(n + 1)(n + 2)
1 + 2 + 3 + · · · + n + (n + 1) = .
2
Então
n(n + 1) (n + 1)(n + 2)
1 + 2 + 3 + · · · + n + (n + 1) = + (n + 1) = ,
2 2
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n(n + 1)
1 + 2 + 3 + ···+ n = , ∀n ∈ N.
2
n(n + 1)(2n + 1)
1 2 + 2 2 + 3 2 + · · · + n2 = , ∀n ∈ N.
6
Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira. A hipótese de indução é
n(n + 1)(2n + 1)
1 2 + 2 2 + 3 2 + · · · + n2 =
6
e a tese de indução é
(n + 1)(n + 2)(2n + 3)
12 + 22 + 32 + · · · + n2 + (n + 1)2 = .
6
1.2 Indução matemática 5
Então
10n+2 + 3 × 10n+1 + 5 = 9k ′
Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira. A hipótese de indução é
n
X
(3 + 4k) = 2n2 + 5n
k=1
e a tese de indução é
n+1
X
(3 + 4k) = 2(n + 1)2 + 5(n + 1).
k=1
Então
n+1
X n
X
(3 + 4k) = (3 + 4k) + 3 + 4(n + 1) = 2n2 + 5n + 3 + 4(n + 1)
k=1 k=1
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n
X
(3 + 4k) = 2n2 + 5n, ∀n ∈ N.
k=1
3n ≥ 2n+1 + 1, ∀n ∈ N \ {1}.
Seja p(n) a proposição anterior. Comecemos por verificar que p(2) é verdadeira. Substituindo n por 2
obtemos 9 ≥ 8 que é uma proposição verdadeira. A hipótese de indução é
3n ≥ 2n+1 + 1
e a tese de indução é
3n+1 ≥ 2n+2 + 1.
Então
3n+1 = 3n × 3 ≥ 3 (2n+1 + 1) = 2n+1 3 + 3 ≥ 2n+1 3 + 1 ≥ 2n+1 2 + 1 = 2n+2 + 1
Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
3n ≥ 2n+1 + 1, ∀n ∈ N \ {1}.
EXEMPLO 6: Vamos mostrar, usando o Princı́pio de Indução Matemática, a fórmula da soma de uma
progressão geométrica:
n
X 1 − an
se a 6= 1 então ap = a , ∀n ∈ N
p=1
1−a
1−a
1) Se n = 1, a fórmula é trivial: a = a1 = a .
1−a
2) Se admitirmos que a propriedade é válida para n, então:
n+1 n
X
p
X
p n+1 1 − an 1 − an
a = a +a =a + an+1 = a + an =
p=1 p=1
1−a 1−a
1 − an + an − an+1 1 − an+1
=a =a
1−a 1−a
Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que a propriedade é válida para todo o n ∈ N.
1) Se n = 1, a propriedade é válida: a + b = 1 C0 a + 1 C1 b.
2) Vamos agora admitir que a propriedade é válida para n; então
n
X
n
(a + b)n+1 = (a + b) (a + b)n = (a + b) Cp an−p bp =
p=0
n
X n
X
n
= Cp an+1−p bp + n
Cp an−p bp+1 =
p=0 p=0
1.2 Indução matemática 7
(fazendo p + 1 = s)
n
X n+1
X
n
= Cp an+1−p bp + n
Cs−1 an−s+1 bs =
p=0 s=1
Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que a propriedade é válida para todo o n ∈ N.
8 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
NOTA: É usual designarem-se os termos de uma sucessão u por un , em detrimento da notação u(n),
habitual para as aplicações em geral. Representa-se uma sucessão u por (un )n∈N ou, mais simplesmente,
por (un ). Sendo uma aplicação, o seu gráfico é o conjunto formado pelos pares ordenados da forma
(n, un ), n ∈ N.
Definição 1.3.2 A expressão designatória que define a sucessão chama-se termo geral da sucessão.
NOTA: Uma sucessão pode ser definida sem explicitar o termo geral. É o caso da definição por re-
corrência. Por exemplo, u1 = 1, u2 = 2, un+2 = un+1 + un , n ∈ N (sucessão dos números de Fibonacci).
Por vezes dão-se apenas alguns termos da sucessão que induzem o leitor a “inferir” os restantes. Por
exemplo: 1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, . . . .
Há sucessões que não estão definidas para um número finito de valores de n ∈ N. Por exemplo, a
1
sucessão de termo geral un = , só está definida para n > 3.
n−3
Definição 1.3.3 Uma sucessão diz-se limitada superiormente se o conjunto dos seus termos for
majorado; diz-se limitada inferiormente se o conjunto dos seus termos for minorado; diz-se limitada
se o conjunto dos seus termos for limitado.
1.3 Sucessões de números reais 9
Teorema 1.3.1 Uma sucessão u é limitada se, e só se, existe M ∈ R tal que |un | ≤ M , ∀n ∈ N.
EXEMPLO 2: A sucessão un = n2 é limitada inferiormente, mas não superiormente (ver Figura 1.5).
Definição 1.3.5 Uma sucessão u diz-se crescente se un ≤ un+1 , ∀n ∈ N; diz-se estritamente cres-
cente se un < un+1 , ∀n ∈ N; diz-se decrescente se un ≥ un+1 , ∀n ∈ N; diz-se estritamente decres-
cente se un > un+1 , ∀n ∈ N; diz-se monótona se for crescente ou decrescente; diz-se estritamente
monótona se for estritamente crescente ou estritamente decrescente.
2n
EXEMPLO 7: A sucessão un = é crescente. De facto,
3n + 7
2n + 2 2n (2n + 2)(3n + 7) − 2n(3n + 10) 14
un+1 − un = − = = > 0, ∀n ∈ N.
3n + 10 3n + 7 (3n + 10)(3n + 7) (3n + 10)(3n + 7)
n + (−1)n
EXEMPLO 11: A sucessão un = (−1)n não é monótona.
n2
n+1−1 n+1 n3 + (n + 1)3
−
2
− 2
=− 2 < 0, se n é par
un+1 − un = (n + 1) n n (n + 1)2
n+1+1 n−1
+ > 0, se n é ı́mpar
(n + 1)2 n2
10 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
n + (−1)n n + (−1)n
Figura 1.6 As sucessões (−1)n e .
n2 n2
n + (−1)n
EXEMPLO 12: A sucessão un = não é monótona.
n2
n+1−1 n+1 n3 − (n + 1)3
2
− 2
= < 0, se n é par
(n + 1) n n2 (n + 1)2
un+1 − un =
n+1+1 n−1 n2 + n + 1
2
− 2
= 2 > 0, se n é ı́mpar
(n + 1) n n (n + 1)2
Dadas duas sucessões u e v, se v é uma sucessão de números naturais, a composição u ◦ v ainda é uma
sucessão, de termo geral uvn . Por exemplo, se u é a sucessão 1, 2, 1, 3, 1, 4, . . . e vn = 2n − 1, então
uvn = 1; se zn = 2n, então uzn = n + 1; se sn = 4, então usn = 3.
Obtém-se uma subsucessão de uma sucessão omitindo alguns dos seus termos mantendo os restantes na
ordem original. Vejamos uma definição mais formal.
Definição 1.3.6 Dadas duas sucessões u e w, dizemos que w é subsucessão de u se existir v, sucessão
de números naturais, estritamente crescente, tal que w = u ◦ v.
NOTAS:
1. Toda a subsucessão de uma sucessão limitada é limitada.
2. Uma sucessão pode não ser limitada e ter subsucessões limitadas. Exemplo:
n, se n par
un = 1
, se n ı́mpar
n
Definição 1.3.7 Diz-se que a sucessão u é um infinitamente grande positivo (ou que tende para
+∞), e escreve-se un → +∞ ou lim un = +∞, se
∀ L ∈ R+ ∃ p ∈ N : n > p ⇒ un > L.
Diz-se que u é um infinitamente grande negativo (ou que tende para −∞), e escreve-se un → −∞
ou lim un = −∞, se
∀ L ∈ R+ ∃ p ∈ N : n > p ⇒ un < −L.
NOTAS:
3. O facto de un → +∞ não implica que u seja crescente (nem que exista uma ordem a partir da qual
seja crescente), como se pode ver pela Figura 1.8.
Teorema 1.3.2 Sejam u e v sucessões tais que, a partir de certa ordem, un ≤ vn . Então,
a) un → +∞ ⇒ vn → +∞,
b) vn → −∞ ⇒ un → −∞.
12 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
Como
1 1 1 1 √
1 + √ + √ + ···+ √ ≥ n × √ = n
2 3 n n
√ 1 1 1
e n → +∞ podemos afirmar que 1 + √ + √ + · · · + √ → +∞ (veja-se a Figura 1.9).
2 3 n
Teorema 1.3.3 Sejam u e v dois infinitamente grandes positivos e w um infinitamente grande negativo.
Então
a) lim(un + vn ) = +∞;
b) lim(un vn ) = +∞;
c) lim(un wn ) = −∞;
d) lim upn = +∞, ∀p ∈ N;
e) lim |un | = lim |vn | = lim |wn | = +∞.
Definição 1.3.8 Sejam u uma sucessão e a ∈ R. Diz-se que u converge para a (ou tende para a ou,
ainda, que o limite da sucessão é a), e escreve-se un → a ou lim un = a, se
∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : n > p ⇒ |un − a| < ε.
1.3 Sucessões de números reais 13
Isto é, podemos escolher p tal que todos os termos de un estão no intervalo ]a − ε, a + ε[ qualquer que
seja n > p.
1 1
2
EXEMPLO 16: Provemos que un = → 0. De facto, seja ε > 0, qualquer; se p = Int então, para
n ε
1 1
n > p tem-se ≤ < ε.
n p+1
1
Figura 1.11 Se ε = 0, 1 então −ε < n < ε se n > 10.
NOTAS:
1. Em linguagem de vizinhanças, a definição é equivalente a:
∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a).
1
vizinhança ε de +∞ ao conjunto Vε (+∞) = ε , +∞ . Chama-se vizinhança ε de −∞ ao conjunto
Vε (−∞) = −∞, − 1ε .
Com as definições dadas atrás, podemos unificar, do ponto de vista formal, as definições 1.3.7 e
1.3.8:
xn → a (a ∈ R) se, e só se, ∀ ε > 0 ∃ p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a).
c) lim(un )p = (lim un )p , p ∈ N;
un lim un
d ) lim = , se vn 6= 0, ∀n ∈ N e lim vn 6= 0;
vn lim vn
e) lim(un )1/p = (lim un )1/p (se p for par deverá ser un ≥ 0, ∀n ∈ N);
Demonstração: Seja M > 0 tal que |vn | ≤ M, ∀n ∈ N. Dado δ > 0, qualquer, seja p ∈ N, tal que
|un | < δ/M, ∀n > p. Então |un vn | < δ, ∀n > p.
−2 + 4 cos(n)
EXEMPLO 17: Calculemos o limite da sucessão an = . Sabemos que −1 ≤ cos(n) ≤ 1 o
n
1
que implica que −6 ≤ −2 + 4 cos(n) ≤ 2, isto é, a sucessão é limitada. Sabemos que a sucessão é um
n
infinitésimo. Pelo Teorema 1.3.6 podemos afirmar que
−2 + 4 cos(n)
lim = 0.
n
(ver Figura 1.12)
NOTA: A recı́proca não é verdadeira. Por exemplo, a sucessão un = cos(nπ) é limitada, mas não é
convergente.
∃p3 ∈ N : n > p3 ⇒ un ≤ wn ≤ vn .
−2 + 4 cos(n)
EXEMPLO 18: Calculemos o limite de an = . Sabemos que −1 ≤ cos(n) ≤ 1 o que implica
n
que
6 −2 + 4 cos(n) 2
− ≤ ≤ .
n n n
1 −2 + 4 cos(n)
Dado que → 0, podemos afirmar que lim = 0.
n n
Teorema 1.3.11
u1 + · · · + un
a) Se un → u (u ∈ R ) então → u.
n
√
b) Se a ∈ R, a > 0, então n
a → 1.
un+1 √
c) Se un > 0, ∀n ∈ N e → b, (b ∈ R) então n un → b.
un
NOTAS:
√
1. Vê-se facilmente, utilizando a alı́nea (c) do teorema anterior, que n
n → 1.
√ un+1
un → b 6⇒
2. O recı́proco da alı́nea (c) do teorema anterior não se verifica, isto é,
n
→ b (un > 0,
un
−n−(−1)n
∀n ∈ N). Para o comprovar basta considerar a sucessão un = e :
√ (−1)n
n
un = e−1− n → e−1
e
un+1 n
= e−1+2(−1)
un
não tem limite.
Teorema 1.3.12 Toda a subsucessão de uma sucessão convergente é convergente para o mesmo limite.
Teorema 1.3.13 Um conjunto X ⊂ R é fechado se, e só se, todos os limites das sucessões convergentes,
de elementos de X, pertencem a X.
NOTA: A recı́proca não é verdadeira, isto é, há sucessões não monótonas que são convergentes. Por
1
exemplo, a sucessão un = (−1)n converge para 0 e não é monótona (Figura 1.14).
n
1.3 Sucessões de números reais 17
Definição 1.3.10 Diz-se que a ∈ R é sublimite da sucessão u se existir uma subsucessão de u que
converge para a.
1
EXEMPLO 19 : −1 e 1 são sublimites da sucessão un = (−1)n + .
n
1
Figura 1.15 Sublimites da sucessão un = (−1)n + .
n
1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4, 5, . . .
então S = N.
18 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
Teorema 1.3.16 O conjunto dos sublimites de uma sucessão limitada tem máximo e mı́nimo.
Definição 1.3.11 Sejam u uma sucessão limitada e S o conjunto dos sublimites de u. Chama-se li-
mite máximo ou limite superior de u ao máximo de S e representa-se lim un = lim sup un = max(S).
Chama-se limite mı́nimo ou limite inferior de u ao mı́nimo de S e representa-se lim un = lim inf un =
min(S). Se u não for limitada superiormente, define-se lim un = +∞. Se u não for limitada inferior-
mente, define-se lim un = −∞. Se un → +∞ define-se lim un = lim un = +∞. Se un → −∞ define-se
lim un = lim un = −∞.
Teorema 1.3.17 Uma sucessão limitada é convergente se, e só se, lim un = lim un .
B = {x ∈ R : |x − 1| < 3}.
log(x2 )
A = {x ∈ R : ≥ 0} e B = {x ∈ R : |x2 − 1| < 1}.
|x2 − 4|
B = {x ∈ R : |x + 1| < 1}.
B = {x ∈ R : 0 < |x + 1| ≤ 4}.
RESOLUÇÃO
1. (a) O conjunto A é o conjunto dos valores de x para os quais a expressão faz sentido, isto é,
x2 − 4x + 3 ≥ 0 ⇔ (x − 1)(x − 3) ≥ 0
Os números 1 e 3 dividem a recta em três intervalos: ] − ∞, 1[, ]1, 3[ e ]3, +∞[. Em cada
um desses intervalos o produto (x − 1)(x − 3) toma o sinal que se pode ver na Figura 1.16,
portanto,
(x − 1)(x − 3) ≥ 0 ⇔ x ≤ 1 ∨ x ≥ 3.
+++++++++0----------------0+++++++++
1 3
Figura 1.16
A = {x ∈ R : (x ≤ 1 ∨ x ≥ 3) ∧ x > −2 ∧ x 6= −1}
= ] − ∞, 1] ∪ [3, +∞[ ∩ ] − 2, +∞[ ∩ ] − ∞, −1[ ∪ ] − 1, +∞[
1 3
-2 -1
Figura 1.17
a+2 4-a
-2 a 4
Figura 1.18
-2 -1 1 3
-2 4
Figura 1.19
= {x ∈ R : x2 ≥ 1 ∧ x 6= 0 ∧ x2 − 4 6= 0}
= {x ∈ R : x2 − 1 ≥ 0 ∧ x 6= 0 ∧ x 6= 2 ∧ x 6= −2}
+++++++++0----------------0+++++++++
-1 1
Figura 1.20
Finalmente,
A = {x ∈ R : x ≤ −1 ∨ x ≥ 1 ∧ x 6= 0 ∧ x 6= 2 ∧ x 6= −2}
= ] − ∞, −1] ∪ [1, +∞[ \ {−2, 0, 2}
+++++++++0----------------0+++++++++
- 2 2
Figura 1.21
√ √
A∩B = ] − ∞, −2[ ∪ ] − 2, −1] ∪ [1, 2[ ∪ ]2, +∞[ ∩ ]− 2, 0 [ ∪ ] 0, 2[
√ √
= ]− 2, −1[ ∪ ]1, 2[.
√ √
A∪B = ] − ∞, −2[ ∪ ] − 2, −1] ∪ [1, 2[ ∪ ]2, +∞[ ∪ ]− 2, 0 [ ∪ ] 0, 2[
-2 -1 1 2
- 2 0 2
Figura 1.22
√
√ √ de A ∩ B é o conjunto ] − ∞, − 2], o interior de A ∪ B é A ∪ B e
O conjunto dos minorantes
o derivado de B é [− 2, 2].
3. (a) O conjunto A é o conjunto dos valores de x para os quais a expressão faz sentido, isto é,
A = {x ∈ R : x2 − 9 > 0 ∧ log(x2 − 9) 6= 0}
+++++++++0----------------0+++++++++
-3 3
Figura 1.23
1.4 Exercı́cios Resolvidos 23
√ √
Como log(x2 − 9) 6= 0 ⇔ x2 − 9 6= 1 ⇔ x2 6= 10 ⇔ x 6= 10 ∧ x 6= − 10, temos
√ √
A = {x ∈ R : (x < −3 ∨ x > 3) ∧ x 6= 10 ∧ x 6= − 10}
√ √
= ] − ∞, −3[ ∪ ]3, +∞[ \ {− 10, 10}
√ √ √ √
= ] − ∞, − 10[ ∪ ] − 10, −3[ ∪ ]3, 10[ ∪ ] 10, +∞[.
- 10 -3 3 10
-2 0
Figura 1.24
√ √
Os pontos fronteiros de A ∪ B formam o conjunto {− 10, −3, −2, 0, 3, 10}. Como nenhum
dos pontos fronteiros pertence a A ∪ B podemos concluir que int(A ∪ B) = A ∪ B, ou seja, o
conjunto é aberto.
4. (a) O conjunto A pode escrever-se como
π
A = {x ∈ R : arctg(x) ≥ 4 ∨ arctg(x) ≤ − π4 }
= {x ∈ R : x ≥ 1 ∨ x ≤ −1}
p
2
p
4
-4 -2 -1 1 2 4
-p
4
-p
2
+++++++++0----------------0+++++++++
-3 1
Figura 1.26
+++++++++0----------------0+++++++++
-3 3
Figura 1.27
+++++++++0----------------0+++++++++
1 2
Figura 1.28
A = {x ∈ R : −1 ≤ 2x − 3 ≤ 1 ∧ x2 − 1 > 0 ∧ log(x2 − 1) 6= 0}
+++++++++0----------------0+++++++++
-1 1
Figura 1.29
√ √ √ √ √ √ √
Como | 2x| ≤ 6 ⇔ |x| ≤ 3 ⇔ − 3 ≤ x ≤ 3, portanto, B = [− 3, 3].
Determinemos A ∩ B.
√ √ √ √ √ √ √
A ∩ B = ]1, 2[ ∪ ] 2, 2[ ∩ [− 3, 3] = ]1, 2[ ∪ ] 2, 3[.
√ √
(b) A fronteira de A ∩ B é o conjunto {1, 2, 3}. Como os elementos da fronteira não pertencem
a A ∩ B, este conjunto não é fechado.
26 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
(a) 2 + 4 + 6 + · · · + 2n = n2 + n, ∀n ∈ N;
1 1 1 1 1
(b) + + + · · · + n = 1 − n , ∀n ∈ N;
2 4 8 2 2
1 1 1 1 n
(c) + + + ···+ = , ∀n ∈ N.
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) n+1
2. Prove, pelo método de indução matemática, que
n
X 1 n
(a) = , ∀n ∈ N;
4k 2
−1 2n + 1
k=1
n
X k k−1
(b) − k−1 = n3−n , ∀n ∈ N;
3k 3
k=1
n
Y (2n)!
(c) (2k − 1) = , ∀n ∈ N.
2n n!
k=1
RESOLUÇÃO
1. (a) Vamos mostrar, usando o Princı́pio de Indução Matemática, que 2 + 4 + 6 + · · · + 2n = n2 + n,
∀n ∈ N. Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira: 2×1 = 12 +1.
A hipótese de indução é
2 + 4 + 6 + · · · + 2n = n2 + n
e a tese de indução é
2 + 4 + 6 + · · · + 2n + 2(n + 2) = (n + 1)2 + n + 1.
1.4 Exercı́cios Resolvidos 27
Então
2 + 4 + 6 + · · · + 2n + 2(n + 2) = n2 + n + 2n + 2 = n2 + 2n + 1 + n + 1 = (n + 1)2 + n + 1,
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
2 + 4 + 6 + · · · + 2n = n2 + n, ∀n ∈ N.
1 1 1 1 1
(b) Vamos mostrar, usando o Princı́pio de Indução Matemática, que + + +· · ·+ n = 1− n ,
2 4 8 2 2
1 1
∀n ∈ N. Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira: = 1 − .
2 2
A hipótese de indução é
1 1 1 1 1
+ + + ···+ n = 1 − n
2 4 8 2 2
e a tese de indução é
1 1 1 1 1 1
+ + + · · · + n + n+1 = 1 − n+1 .
2 4 8 2 2 2
Então
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + · · · + n + n+1 = 1 − n + n+1 = 1 − n 1− = 1 − n · = 1 − n+1 ,
2 4 8 2 2 2 2 2 2 2 2 2
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
1 1 1 1 1
+ + + · · · + n = 1 − n , ∀n ∈ N.
2 4 8 2 2
(c) Vamos mostrar, usando o Princı́pio de Indução Matemática, que
1 1 1 1 n
+ + + ···+ =
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) n+1
1 1
∀n ∈ N. Seja p(n) a proposição anterior. Vê-se facilmente que p(1) é verdadeira: = .
1×2 2
A hipótese de indução é
1 1 1 1 n
+ + + ···+ =
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) n+1
e a tese de indução é
1 1 1 1 1 n+1
+ + + ···+ + = .
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) (n + 1)(n + 2) n+2
Então
1 1 1 1 1
+ + + ···+ +
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) (n + 1)(n + 2)
n 1 n(n + 2) + 1 (n + 1)2
= + = =
n + 1 (n + 1)(n + 2) (n + 1)(n + 2) (n + 1)(n + 2)
n+1
= ,
n+2
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
1 1 1 1 n
+ + + ··· + = , ∀n ∈ N.
1×2 2×3 3×4 n(n + 1) n+1
28 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
A hipótese de indução é
n
X 1 n
=
4k 2 − 1 2n + 1
k=1
e a tese de indução é
n+1
X 1 n+1
= .
4k 2−1 2(n + 1) + 1
k=1
Então
n+1 n
X 1 X 1 1 n 1
= + = +
4k 2 − 1 4k 2 − 1 4(n + 1)2 − 1 2n + 1 (2(n + 1) − 1)(2(n + 1) + 1)
k=1 k=1
n 1 n(2n + 3) + 1 2n2 + 3n + 1
= + = =
2n + 1 (2n + 1)(2n + 3) (2n + 1)(2n + 3) (2n + 1)(2n + 3)
(n + 1)(2n + 1) n+1
= =
(2n + 1)(2n + 3) 2n + 3
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n
X 1 n
= , ∀n ∈ N.
4k 2 −1 2n + 1
k=1
A hipótese de indução é
n
X k k−1
− = n 3−n
3k 3k−1
k=1
e a tese de indução é
n+1
X
k k−1
− k−1 = (n + 1)3−(n+1) .
3k 3
k=1
1.4 Exercı́cios Resolvidos 29
Então
n+1
X n
k k−1 X k k−1 n+1 n
− k−1 = − k−1 + − n
3k 3 3k 3 3n+1 3
k=1 k=1
−n n+1 n
= n3 + − n
3n+1 3
n + 1 − 3n n+1
= n 3−n + n+1
= n+1 = (n + 1) 3−(n+1)
3 3
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n
X k k−1
− = n3−n , ∀n ∈ N.
3k 3k−1
k=1
1
Y 2×1
(2k − 1) = 2 × 1 − 1 = 1 = .
21 × 1!
k=1
A hipótese de indução é
n
Y (2n)!
(2k − 1) =
2n n!
k=1
e a tese de indução é
n+1
Y (2(n + 1))!
(2k − 1) = .
2n+1 (n + 1)!
k=1
Então
n+1 n
!
Y Y (2n)!
(2k − 1) = (2k − 1) 2(n + 1) − 1 = n · 2n + 1
2 n!
k=1 k=1
24(n+1)−2 + 1 = 5k ′
= 42 5k + 24 − 1 = 5(42 k + 3).
24(n+1)−2 + 1 = 5k ′
3n ≥ 2n + 10n, ∀n ≥ 4.
Seja p(n) a proposição anterior. Comecemos por verificar que p(4) é verdadeira. Substituindo
n por 4 obtemos 34 = 81 ≥ 56 = 24 + 40 que é uma proposição verdadeira. A hipótese de
indução é
3n ≥ 2n + 10n
1.4 Exercı́cios Resolvidos 31
e a tese de indução é
3n+1 ≥ 2n+1 + 10(n + 1).
Então
3n ≥ 2n + 10n, ∀n ≥ 4.
n3
12 + 22 + · · · + (n − 1)2 < , ∀n ∈ N.
3
Seja p(n) a proposição anterior. Comecemos por verificar que p(1) é verdadeira. Substituindo
1
n por 1 obtemos 02 = 0 ≥ que é uma proposição verdadeira. A hipótese de indução é
3
n3
12 + 22 + · · · + (n − 1)2 <
3
e a tese de indução é
(n + 1)3
12 + 22 + · · · + (n − 1)2 + n2 < .
3
Então
n3 n3 + 3n2 n3 + 3n2 + 3n + 1 (n + 1)3
12 + 22 + · · · + (n − 1)2 + n2 < + n2 = < =
3 3 3 3
Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n3
12 + 22 + · · · + (n − 1)2 < , ∀n ∈ N.
3
Seja p(n) a proposição anterior. Comecemos por verificar que p(1) é verdadeira. Substituindo
1
X (1 + 1)2
n por 1 obtemos k=1<2= que é uma proposição verdadeira. A hipótese de
2
k=1
indução é
n
X (n + 1)2
k<
2
k=1
e a tese de indução é
n+1
X (n + 2)2
k< .
2
k=1
32 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
Então
n+1 n
X X (n + 1)2 n2 + 4n + 3 n2 + 4n + 4 (n + 2)2
k= k + (n + 1) < + (n + 1) = < =
2 2 2 2
k=1 k=1
A hipótese de indução é n
1+i n π
= cis
1−i 2
e a tese de indução é
n+1
1+i (n + 1) π
= cis .
1−i 2
Então
n+1 n
1+i 1+i 1+i nπ π
= ) · cis( )
= cis(
1−i 1−i 1−i 2 2
nπ π (n + 1) π
= cis( + ) = cis
2 2 2
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
n+1
1+i (n + 1) π
= cis , ∀n ∈ N.
1−i 2
A hipótese de indução é
π
(−sen(α) + i cos(α))n = cis(n( + α))
2
1.4 Exercı́cios Resolvidos 33
e a tese de indução é
π
(−sen(α) + i cos(α))n+1 = cis((n + 1)( + α)).
2
Então
π π
= cis(n( + α))(cis( + α))
2 2
π
= cis((n + 1)( + α))
2
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
π
(−sen(α) + i cos(α))n = cis(n( + α)), ∀n ∈ N.
2
A hipótese de indução é
4n
X 1
=0
ik
k=1
e a tese de indução é
4n+4
X 1
= 0.
ik
k=1
Então
4n+4 4n
X 1 X 1 1 1 1 1 1 1 1 1
= + 4n+1 + 4n+2 + 4n+3 + 4n+4 = + 2 + 3 + 4 = 0
ik ik i i i i i i i i
k=1 k=1
portanto, a proposição p(n + 1) é válida. Pelo Princı́pio de indução podemos concluir que
4n
X 1
= 0, ∀n ∈ N.
ik
k=1
34 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
1.4.3 Sucessões
1. Calcule, justificando, os limites das seguintes sucessões
√ √
3
n2 + n + n √ n((−1)n + n)
(a) √ √ + n n; (e) √ ;
4 4
2n +1+ n 2 + n3 + 1
√
n3 + 2n4 + 1 − n √
(b) √ ; 3
−2n2 + 3 n2 + 3 n2 + 2
n
√ √ (f) 2 ;
n + 1 (1 + 2 n ) n + (−1)n n
(c) √ ;
n+ 3n
√
3
1 − 27n3 2 n e1/n
(d) ; (g) √ .
1 + 4n (−1)n + n2 + 5
3n sen(23n + 1) √
n4
n4
(a) ; (e)
n
n2 e−n − ;
23n + 1 4
n +1
1
(b) cos(n + 1) log(n); n sen(n)
n (f) √ ;
n2 + 3 p 2n 5n3 + 1
(c) √ cos( n3 + 2); p
3
n n +2 (g) n2 + 2n − n;
1√n
n
3 −5
(d) n!; (h) n .
n 5 +3
6. Considere a sucessão p
n
un = 1 + 2(−1)n n
(a) Escreva a subsucessão dos termos de ı́ndice par e calcule o seu limite.
(b) Escreva a subsucessão dos termos de ı́ndice ı́mpar e calcule o seu limite.
(c) Calcule lim un e lim un .
(d) Tendo em conta as alı́neas anteriores, que pode concluir quanto à convergência da sucessão?
7. Considere a sucessão, definida por recorrência
√
u1 = 2√
un+1 = 2 un , ∀n ∈ N.
(a) Prove, por indução, que 0 < un < 2, ∀n ∈ N.
(b) Prove que a sucessão é crescente.
(c) Prove que a sucessão é convergente.
(d) Calcule o limite da sucessão.
8. Considere a sucessão √
a1 = 2 √
an+1 = ( 2)an , ∀n ∈ N.
√
(a) Mostre, por indução, que 2 ≤ an < 2, ∀n ∈ N.
(b) Mostre, por indução, que a sucessão é crescente.
(c) Mostre que existe a ≤ 2 tal que an → a.
9. Seja a ∈ R um número positivo. Considere a sucessão de números reais definida, por recorrência,
x1 = a
xn+1 = xn , ∀n ∈ N.
2 + xn
(a) Mostre, por indução, que xn > 0, ∀n ∈ N.
(b) Mostre que a sucessão é decrescente.
(c) Mostre que a sucessão é convergente e calcule o seu limite.
10. Seja a ∈ R um número positivo. Considere a sucessão de números reais, definida por recorrência,
x = 0, x = a
0 1
x = x + x2 , ∀n ∈ N.
n+1 n n−1
RESOLUÇÃO
√
3
n2 + n + n
1. (a) Seja an = √ 4 √ . Vamos dividir o numerador e o denominador da fracção que define
2n4 + 1 + n
a sucessão pela maior potência de n:
√ r
2
r
3 1 1
3
√ n2 + n + n 3 n + n
3 +1 + +1
n2 + n + n n n 3 n n2
an = √
4
√ = √
4
√ = r r = r r .
2n4 + 1 + n 2n4 + 1 + n 4
4 2n + 1 n 4 1 1
+ 2+ 4 +
n n4 n2 n n
Logo:
1
lim an = √
4
.
2
√
n
Como lim n = 1 podemos concluir que
√ !
3
n2 + n + n √ 1
lim √
4
√ + nn = √
4
+ 1.
4
2n + 1 + n 2
√
n3 + 2n4 + 1 − n
(b) Seja an = √ . Vamos dividir o numerador e o denominador da fracção que
−2n2 + 3 n2 + 3
define a sucessão pela maior potência de n:
√ r r
√ n3 + 2n4 + 1 − n n3 + 2n4 + 1 1 1 1 1
3 4 − +2+ 4 −
n + 2n + 1 − n 2
n√ 4
nr n = n n n
an = √ = = r .
−2n2 + 3 n2 + 3 −2n2 + 3 n2 + 3 2
3 n + 3 3 1 3
−2 + −2 + + 6
n2 n6 n4 n
Logo:
√
2
lim an = − .
2
1.4 Exercı́cios Resolvidos 37
√ √
n + 1 (1 + 2 n )
(c) Seja an = √ . Vamos dividir o numerador e o denominador do quociente que
n+ 3n
define a sucessão an por n elevado à maior potência:
√ √ √ √ r
n + 1 (1 + 2 n ) n + 1 (1 + 2 n ) 1 1
√ √ √ √ 1+ √ +2
n + 1 (1 + 2 n ) n√ n n n n
an = √ = = r = r .
n+ 3 n n+ 3n n 3 1
1+ 3 3 1+
n n n2
Logo:
lim an = 2.
√
3
1 − 27n3
(d) Seja an = . Vamos dividir o numerador e o denominador do quociente que define
1 + 4n
a sucessão an por n elevado à maior potência:
√ r
3
r
√
3
1 − 27n3 3 1 − 27n 3 1
3 − 27
1 − 27n3 n n 3 n3
an = = = = .
1 + 4n 1 + 4n 1 1
+4 +4
n n n
Logo:
3
lim an = − .
4
√
n((−1)n + n)
(e) Seja an = √ . Vamos dividir o numerador e o denominador da fracção que define
2 + n3 + 1
a sucessão pela maior potência de n:
√ √
n((−1)n + n) (−1)n + n (−1)n
n
√ √ +1
n((−1) + n) 3
n2 nr
1
2 n
an = √ = √ = = r .
2 + n3 + 1 2 + n3 + 1 2 n3 + 1 2 1
3 √ + √ + 1+ 3
n2 n3 n3 n3 n
Logo:
lim an = 1.
√
3
n n2 + 2
(f) Seja an = 2 . Vamos dividir o numerador e o denominador da fracção que define a
n + (−1)n n
sucessão pela maior potência de n:
√ √ r
2
r
n 3 n2 + 2 3 1 2
3
√ n2 + 2 3 n + 2
+ 3
n 3 n2 + 2 n 2 n n 3 n n
an = 2 = 2 = = = .
n + (−1)n n n + (−1)n n (−1)n (−1)n (−1)n
1+ 1+ 1+
n2 n n n
Logo:
lim an = 0.
2 n e1/n 2n
(g) Seja an = √ = √ · e1/n = bn · e1/n . Vamos dividir o numerador
(−1)n + n2 + 5 (−1)n + n2 + 5
e o denominador da fracção que define a sucessão bn pela maior potência de n:
2n 2 2 2
bn = √ = √ = r = r .
(−1)n + n2 + 5 (−1)n + n2 + 5 (−1)n 2
n +5 (−1)n
5
+ + 1+ 2
n n n2 n n
38 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
Logo:
lim bn = 2.
2 n e1/n
lim √ = 2.
(−1)n + n2 + 5
(b) Temos
n 1/2n
5 2
2n
2n n 5 2
4n − 5 4 1− n 1−
an =
= 4
= 4n
, ∀n ∈ N,
4n + 3 3
3 2
2n
4n 1 + n 1+
4 4n
portanto,
0
e−5
lim an = = 1.
e3
(c) Temos
2 n+1 2 n+1
2 n 2
n+2
n+1 n 1+ 1+ 1+ 1+
an =
= n
= n = n · n , ∀n ∈ N,
4 4 4 n 4
n+4
n 1+ 1+ 1+ 1+
n n n n
portanto,
e2
lim an = = e−2 .
e4
(d) Vamos pôr n em evidência na expressão que define a sucessão:
2 n
2 n
n 1+ 1
n 1+
an = n
= n .
1 5 1 n
5n 1 + 1+
n n
Portanto,
n 2
1 e
lim an = lim = 0.e = 0.
5 e
1.4 Exercı́cios Resolvidos 39
(e) Temos
1 n 1 n 1 3n 1/3
3n+1
n 3n 1 + 1+ 1+
an =
= 3n
= 3n
= 3n
, ∀n ∈ N,
3n+2 2 2 2 3n
3n 1 + 1+ 1+
3n 3n 3n
portanto,
e 1/3
lim an = = e−1/3 .
e2
(f) Temos
n 4
1 4n 1
4n−2 3 − 2 − 1−
2n + 1 n n
an = 3 − = = , ∀n ∈ N,
n 1 2 1 2
3−2− 1−
n n
logo é evidente que:
lim an = e−4 .
(g) Temos
1/2
5 n+4 5 2n 5 4
2n + 5
n+4 2n 1 + 1 + 1+
an =
= 2n
= 2n · 2n , ∀n ∈ N,
2n + 1 1 1 1
2n 1 + 1+ 1+
2n 2n 2n
portanto,
1/2
e5
lim an = = e2 .
e
(h) Vamos pôr n2 em evidência na expressão que define a sucessão:
3 n
n
2 n n 2
1 + n 1 + 3
n +3 n2 1 n2 earctg(n)
earctg(n) = arctg(n)
an = e =
2
2n + 1 1 2 1 n
2n2 1 + 2 1+ 2
2n 2n
2 1/n
3 n
n 1+ 2
1 n
= 2 1/2n
earctg(n)
2
1 2n
1+ 2
2n
logo: n 3 0
1 (e ) π/2
lim an = lim e = 0.eπ/2 = 0.
2 e0
3n sen(23n + 1) 3n
3. (a) Seja an = = · sen(23n + 1). Sabemos que:
23n + 1 23n + 1
0 ≤ |sen(n)| ≤ 1, ∀n ∈ N,
3n
portanto, a sucessão sen(23n + 1) é uma sucessão limitada. Provemos que a sucessão
23n+1
é um infinitésimo. 3 n
n n
3 3 8 = 0.
lim = lim n = lim
23n + 1 8 +1 1 n
1+
8
40 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
Podemos concluir que a sucessão dada é um infinitésimo por ser o produto de um infinitésimo
por uma sucessão limitada.
(b) Vamos utilizar o facto de a função coseno ser limitada. Temos:
|cos(n + 1)| ≤ 1, ∀n ∈ N
logo:
1 log (n) √
0 ≤ |αn | = cos (n + 1) log (n) ≤ = log( n n), ∀n ∈ N.
n n
Como sabemos que: √
lim log( n n) = 0,
n→∞
lim αn = 0.
n→∞
n2 + 3 p
(c) Seja an = √ cos( n3 + 2). Para todo n, temos :
n n3 + 2
p
cos ( n3 + 2) ≤ 1,
lim an = 0.
r
1√n n n! n!
(d) Seja an = n! = n
. Seja bn = n . É evidente que bn > 0, ∀n ∈ N.
n n n
(n + 1)!
n
bn+1 (n + 1)n+1 (n + 1)! nn n 1
lim = lim = lim = lim = .
bn n! (n + 1)n+1 n! n+1 e
nn
1
Podemos concluir que lim an = .
e
√ n4
n n4
(e) Seja an = n2 e−n − . Seja bn = n2 e−n . É evidente que bn > 0, ∀n ∈ N.
n4 + 1
(n + 1)2 2
2 n
bn+1 en+1 = lim (n + 1) e = 1 lim n + 1 1
lim = lim 2 n+1 2
= .
bn n e n e n e
en
1.4 Exercı́cios Resolvidos 41
√
n 1
Podemos concluir que lim n2 e−n = .
e
n4
n4 1 1 1
lim = lim n4 = lim n4 = e .
n4 + 1 4
n +1 1
4
1+ 4
n n
1 1
Temos que lim an = − = 0.
e e
n sen(n) 1 n n
(f) Seja an = √ = ·√ · sen(n). Sabemos que
n 3
2 5n + 1 2 5n3 + 1
0 ≤ |sen(n)| ≤ 1, ∀n ∈ N,
n
portanto, a sucessão sen(n) é uma sucessão limitada. Provemos que a sucessão √ é
5n3 + 1
um infinitésimo.
n 1 1
√ √
n 3
n n
= lim √ n
2
lim √ = lim r = lim r = 0.
5n3 + 1 5n3 + 1 3
5n + 1 1
3 5 +
n2 n3 n3
1 n
Como lim = 0, temos
2
1 n n
lim ·√ = 0.
2 5n3 + 1
Podemos concluir que a sucessão dada é um infinitésimo por ser o produto de um infinitésimo
por uma sucessão limitada.
(g)
√ √
p
2
( n2 + 2n − n)( n2 + 2n + n) n2 + 2n − n2
lim( n + 2n − n) = lim √ = lim √
n2 + 2n + n n2 + 2n + n
2n
2n n 2 2
= lim √ = lim √ = lim r = lim r =1
2
n + 2n + n 2
n + 2n + n 2 2
n + 2n
+1 1+ +1
n n2 n
3n − 5
(h) Seja an = .
5n + 3
3n − 5 3 n 1 n−1
3n − 5 n
−
lim n = lim n5 = lim 5 35n = 0.
5 +3 5 +3
1 +
5n 5
sen2 (n)
4. (a) O termo geral an da sucessão está definido como a soma de k = 1 a k = n − 1 de .
n2 + 3k 2
Vamos calcular um enquadramento deste termo de forma a fazer desaparecer a variável k. De
maneira evidente temos para todos n e k em N: n2 + 3k 2 > n2 . Para todo n e k tal que
k ≤ n − 1, temos da mesma forma: n2 + 3k 2 ≤ n2 + 3(n − 1)2 .
42 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
1 1 1
n2 < n2 + 3k 2 ≤ n2 + 3(n − 1)2 ⇒ 2
> 2 2
≥ 2
n n + 3k n + 3(n − 1)2
sen2 (n) sen2 (n) sen2 (n)
⇒ > ≥
n2 n2 + 3k 2 n2 + 3(n − 1)2
n−1
X sen2 (n)
n−1 2 n−1
⇔ 2 2
· sen (n) ≤ < · sen2 (n), ∀n ∈ N
n + 3(n − 1) n2 + 3k 2 n2
k=1
n−1
X sen2 (n)
n−1 2 1 1
⇔ 2 · sen (n) ≤ < − · sen2 (n), ∀n ∈ N.
n + 3(n − 1)2 n2 + 3k 2 n n2
k=1
n−1 n−1
Seja bn = 2 2
= 2
. Dividindo por n2 o numerador e o denominador
n + 3(n − 1) 4n − 6n + 3
da fracção que define a sucessão temos:
1 1 1 1
n−1 − 2 − 2
lim 2 = lim n n = lim n n = 0.
4n − 6n + 3 4n2 − 6n + 3 6 3
4− + 2
n2 n n
1 1
Seja cn = − . É evidente que lim cn = 0.
n n2
Como a sucessão sen2 (n) é uma sucessão limitada, 0 ≤ |sen2 (n)| ≤ 1, ∀n ∈ N, e o produto de
um infinitésimo por uma sucessão limitada é um infinitésimo, podemos afirmar que as sucessões
n−1
· sen2 (n)
n2 + 3(n − 1)2
e
1 1
− · sen2 (n)
n n2
são infinitésimos. Finalmente, como os dois limites são iguais, o Teorema das Sucessões En-
quadradas permite-nos concluir que:
lim an = 0.
5n
(b) O termo geral an da sucessão está definido como a soma de k = 1 a k = n de √ . Vamos
n4 + k
calcular um enquadramento deste termo p
de forma a fazer desaparecer a variável k. De maneira
4 2
√ todos n e√k em N: n + k > n . Para todo n e k tal que k ≤ n, temos
evidente temos para
4
da mesma forma: n + k ≤ n + n. 4
p p 1 1 1
n2 < n4 + k ≤ n4 + n ⇒ 2 > √ ≥ √
n 4
n +k 4
n +n
5n 5n 5n
⇒ >√ ≥√
n2 n4 + k n4 + n
1.4 Exercı́cios Resolvidos 43
n
5n2 X 5n 5n2
⇔√ ≤ √ < 2 = 5, ∀n ∈ N.
n4 + n k=1 n4 + k n
r
5n2 n4
Seja bn = √ = 5· . Dividindo o numerador e o denominador do radicando
n4 + n n4 + n
4
desta sucessão por n temos:
v
u 1
lim bn = lim 5 · u = 5.
t 1
1+ 3
n
Finalmente, como os dois limites são iguais, o Teorema das Sucessões Enquadradas permite-nos
concluir que:
lim an = 5.
√
3
2n
(c) O termo geral da sucessão está definido como a soma de k = 1 a k = n de √ 3
. Vamos
4
n +k
calcular um enquadramento deste termo√de forma a√ fazer desaparecer a variável k. De maneira
3
evidente temos para todos n e k em N: n 4 + k > 3 n4 . Para todo n e k tal que k ≤ n, temos
√
3
√
3
da mesma forma: n4 + k ≤ n4 + n.
Logo para todo n e 1 ≤ k ≤ n, temos:
√
3
√3
√
3 1 1 1
n4 < n4 + k ≤ n4 + n ⇒ √ 3
> √
3
≥ √
3
n 4 4
n +k 4
n +n
√
3
√
3
√
3
2n 2n 2n
⇒ √
3
> √ 3
≥ √3
n4 n4 + k n4 + n
|cos(n)| ≤ 1, ∀n ∈ N,
Além disso,
√ √ √ √
√ √ ( 2n + 1 − 2n)( 2n + 1 + 2n) 2n + 1 − 2n
lim( 2n + 1 − 2n) = lim √ √ = lim √ √
2n + 1 + 2n 2n + 1 + 2n
1
= lim √ √ =0
2n + 1 + 2n
Podemos concluir que a sucessão an é um infinitésimo por ser o produto de uma sucessão
limitada por um infinitésimo.
(b)
−1, n = 4k − 1, k ∈ N
nπ
an = sen = 0, n = 2k, k ∈ N
2
1, n = 4k − 3, k ∈ N
A sucessão an tem os sublimites −1, 0, 1, visto que tem subsucessões convergentes
nπ para esses
π
números reais. A sucessão cn = arctg(n) tem limite . A sucessão bn = sen · arctg(n)
2 2
π π
tem os sublimites − , 0, .
2 2
6. (a) Seja p
n
un = 1 + 2(−1)n n .
A subsucessão dos termos de ı́ndice par de un é a sucessão
p
2k
p
2k
u2k = 1 + 2(−1)2k 2k = 1 + 22k , k ∈ N.
√
Consideremos a sucessão an = n 1 + 2n . Como 1 + 2n > 0, ∀n ∈ N, podemos calcular o limite
de an recorrendo ao cálculo de
1 + 2n+1 1
1 + 2n+1 n+1
1 + n+1
lim = lim 2 = lim 2 = 2.
1 + 2n 1 + 2n 1 1
+
2n+1 2 2n+1
A sucessão an tem limite 2, portanto, todas as suas subsucessões têm esse limite. Em particular,
a subsucessão dos termos de ı́ndice par tem limite 2. Mas essa subsucessão é igual à sucessão
u2k . Podemos afirmar que u2k tem limite 2.
(b) A subsucessão dos termos de ı́ndice ı́mpar de un é a sucessão
r
2k+1
p p
2k+1 2k+1 1
u2k+1 = 1 + 2(−1)2k+1 (2k+1) = 1 + 2−(2k+1) = 1+ , k ∈ N,
22k+1
e lim u2k+1 = 1.
(c) Pelos resultados obtidos nas alı́neas anteriores,
lim un = 1 e lim un = 2.
1.4 Exercı́cios Resolvidos 45
0 < un < 2, ∀n ∈ N.
Para n = 1, a fórmula é trivial:
√ √ √
0= 0< 2 = u1 < 4 = 2.
Se admitirmos (hipótese de indução) que a propriedade é válida para n ∈ N, então:
h √ √ √ i
[0 < un < 2] ⇒ 0 = 2.0 < 2un = un+1 < 2.2 = 2 ,
√
utilizando o facto da função f (x) = 2x ser crescente. Logo a propriedade é válida para n + 1.
O Princı́pio de Indução Matemática permite-nos concluir que ela é válida para todo o n ∈ N.
(b) Vamos mostrar que
un+1 − un > 0, ∀n ∈ N.
De facto, para qualquer número natural n,
√
√ 2un − un √ 2un − u2n un .(2 − un )
un+1 − un = 2un − un = √ .( 2un + un ) = √ = √ >0
2un + un 2un + un 2un + un
porque na alı́nea (a) vimos que un > 0 e 2 − un > 0. Logo a sucessão é crescente.
(c) Na alı́nea (a) vimos que a sucessão é limitada e na alı́nea (b) demonstramos que ela é crescente,
como toda sucessão monótona limitada é convergente podemos concluir que a sucessão de termo
geral un é convergente.
(d) Seja l ∈ R, o limite da sucessão. Como toda subsucessão de uma sucessão convergente é
convergente para o mesmo limite, é fácil ver que:
lim un+1 = l.
n→∞
an < an+1 , ∀n ∈ N.
Nota: É possı́vel calcular o valor de l. Vejamos √ algumas indicações para o fazer. Primeiro,
mostra-se que l satisfaz a equação logl l = log ( 2) e adivinha-se um valor possı́vel de l. Depois
√
estuda-se a monotonia e o contradomı́nio da função g(x) = logx x definida no intervalo [ 2, 2]
√
e conclui-se que a precedente equação tem uma única solução para l ∈ [ 2, 2].
9. (a) Para n = 1: x1 = a > 0 por hipótese, logo x1 > 0.
xn
Se a sucessão é convergente para l, tem-se também lim xn+1 = l. Por outro lado, é
2 + xn
convergente pois é o quociente de duas sucessões convergentes onde o denominador nunca se
anula e tem limite diferente de zero.
Então
xn lim xn l
lim xn+1 = lim ⇔ lim xn+1 = ⇔l=
2 + xn lim 2 + xn 2+l
l 2l + l2 − l l2 + l
⇔l− =0⇔ =0⇔ = 0 ⇔ l2 + l = 0 (l 6= −2)
2+l 2+l 2+l
⇔ l(l + 1) = 0 ⇔ l = 0 ∨ l = −1.
Mas a sucessão é de termos maiores ou iguais a zero, pelo que, o seu limite também é maior
ou igual a zero. Portanto, lim xn = 0.
10. (a) Queremos mostrar que xn+1 −xn ≥ 0 para qualquer n ∈ N0 . Ora, se n = 0 vem x1 −x0 = a > 0.
Se n ≥ 1 então
xn+1 − xn = xn + x2n−1 − xn = x2n−1 ≥ 0.
Demonstração: Tem-se que xn+1 = xn + x2n−1 . Ora, por hipótese de indução, xn > 0, e
sabemos que x2n−1 ≥ 0, portanto, xn+1 > 0.
11. (a) Comecemos por analisar a diferença x2 − x1 para sabermos se a sucessão é monótona crescente
x1 1 1 1
ou decrescente. Como x2 − x1 = + − x1 = 1 + − 2 = − < 0, pretendemos mostrar
2 x1 2 2
que a sucessão é decrescente, isto é, xn+1 − xn < 0, ∀n ∈ N.
xn 1 xn 1 −x2n + 2
xn+1 − xn = + − xn = − + =
2 xn 2 xn 2xn
√
Por hipótese, xn > 2, ∀n ∈ N, portanto, −x2n + 2 < 0, ∀n ∈ N. Então xn+1 − xn < 0, ∀n ∈ N,
provando-se assim que a sucessão é monótona decrescente.
(b) Se uma sucessão é decrescente, o seu primeiro termo é o máximo do conjunto
√ dos termos da
sucessão, portanto, x1 = 2 ≥ xn , ∀n ∈ N. Temos que xn é limitada: 2 < xn ≤ 2, ∀n ∈ N.
Podemos concluir que xn é convergente por ser monótona e limitada.
48 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
(c) Seja a = lim xn . Sendo convergente todas as suas subsucessões têm limite a e
xn 1 a 1 a2 + 1
a = lim xn+1 = lim( + )= + = .
2 xn 2 a 2a
a2 + 1 √ √ √
Resolvendo a equação a = obtemos a = − 2 e a = 2. Como xn > 2 concluı́mos
√ 2a
que a = 2.
√
12. (a) Vamos mostrar por indução que xn − 3 ≥ 0, ∀n ∈ N.
√
Se n = 1 vem x1 = 3 > 3 e está verificada a proposição.
√
Hipótese de indução: xn − 3≥0
√
Tese de indução: xn+1 − 3≥0
√
√ x2 + 3 √ (xn − 3)2 √
Demonstração: Tem-se que xn+1 − 3= n − 3= . Sabemos que xn ≥ 3,
2x√n 2xn
portanto, xn > 0, o que implica que xn+1 − 3 ≥ 0.
√
Então, pelo Princı́pio de Indução, provámos que xn − 3 > 0, ∀n ∈ N.
(b) Pretendemos mostrar que a sucessão é decrescente, isto é, xn+1 − xn ≤ 0, ∀n ∈ N. Comecemos
x2 + 3
por analisar a diferença x2 − x1 : x2 − x1 = n − x1 = −1 < 0. Se n > 1 então
2 xn
x2n + 3 −x2n + 3
xn+1 − xn = − xn =
2 xn 2xn
√
Por hipótese, xn ≥ 3, ∀n ∈ N, portanto, −x2n + 3 ≤ 0, ∀n ∈ N. Então xn+1 − xn ≤ 0, ∀n ∈ N,
provando-se assim que a sucessão é monótona decrescente.
(c) Se uma sucessão é decrescente, o seu primeiro termo é o máximo do conjunto
√ dos termos da
sucessão, portanto, x1 = 3 ≥ xn , ∀n ∈ N. Temos que xn é limitada: 3 ≤ xn ≤ 3, ∀n ∈ N.
Podemos concluir que xn é convergente por ser monótona e limitada.
(d) Seja a = lim xn . Sendo convergente todas as suas subsucessões têm limite a e
x2n + 3 a2 + 3
a = lim xn+1 = lim = .
2 xn 2a
a2 + 3 √ √ √
Resolvendo a equação a = obtemos a = − 3 e a = 3. Como xn ≥ 3 concluı́mos
√ 2a
que a = 3.
1.5 Exercı́cios Propostos 49
5. Dado o conjunto
(−1)n 1 3 (−1)n
C = x∈R: x=1− ∧n∈N ∪ , ∪ x∈R: x=2+ ∧ n ∈ N
n 3 4 n2
Determine:
(a) int(A ∪ B);
′
(b) (A ∪ B) .
Relativamente a B indique quais os pontos fronteiros e averigúe se o conjunto é limitado.
7. Dados os conjuntos
1 − 1 1 + 1 < 1 1 + 2n
A= x∈R: e B = y ∈ R : y = ∧ n ∈ N
x x x2 2n
8. Dado o conjunto
( 3n )
n+1 1 2n + 1
B = x ∈ R : x = (−1) 1+ ,n∈N ∪ x∈R: x= , n∈N
n 2n − 1
determine:
′
(a) B e B;
(b) int(B);
(c) ext(B).
Justifique que o conjunto B é limitado, indicando o ı́nfimo e o supremo de B.
sen2 (x −
xπ) e seja
9. Considere a expressão designatória definida, no conjunto dos números reais, por
1 − cos
2
A o seu domı́nio.
(a) Determine o interior, o exterior, a fronteira e o derivado de A.
(b) Diga, justificando, se A é um conjunto aberto ou fechado.
h i
10. Seja A o conjunto dos termos da sucessão un = sen n π 4 , n ∈ N e B = − 1 , 1 . Determine o
2
supremo, o ı́nfimo, o interior e a fronteira do conjunto A ∪ B.
(a) 1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2 , ∀n ≥ 1.
2
3 3 3 3 n(n + 1)
(b) 1 + 2 + 3 + · · · + n = , ∀n ≥ 1.
2
2. Prove que
(a) n(n2 + 5) é divisı́vel por 6 qualquer que seja n ∈ N.
(b) 52n − 6n + 8 é divisı́vel por 9 qualquer que seja n ∈ N.
3. Prove que:
(a) n < 2n , ∀n ∈ N;
(b) 1 + 2n ≤ 3n , ∀n ∈ N;
1
(c) 1 + 2 + 3 + · · · + n < (2n + 1)2 , ∀n ∈ N;
8
a n+1 a n
(d) Se 0 < a < b, então < , ∀n ∈ N.
b b
4. Prove que
log(a1 a2 . . . an ) = log a1 + log a2 + · · · + log an ,
para todo o n ≥ 2, onde cada ai é um real positivo.
5. Prove, usando o método de indução matemática, as seguintes afirmações caso sejam verdadeiras.
Caso contrário dê um contra-exemplo.
(a) Todo o número natural ı́mpar é primo.
(b) O número n2 + n + 17 é primo, ∀n ∈ N.
(c) (n + 1)2 > n2 + 1, ∀n ∈ N.
(d) n3 − n + 3 é múltiplo de 3 qualquer que seja n ∈ N.
(e) n4 − n + 4 é múltiplo de 4 qualquer que seja n ∈ N.
52 1. Noções Topológicas, Indução Matemática e Sucessões
1.5.3 Sucessões
1. Prove, por definição, que as sucessões de termos geral un são infinitamente grandes positivos, ou
seja, que lim un = +∞:
√
(a) un = n; (c) un = n;
2 n
(b) un = n ; (d) un = 2 .
2. Prove, por definição, que as sucessões de termo geral un são infinitésimos, ou seja, que lim un = 0:
1 1
(a) un = ; (c) un = √ ;
n n
1 1
(b) un = 2 ; (d) un = n .
n 2
1−n −n3 + 2
(a) un = ; (d) un = ;
4n + 3 4n3 − 7
n2 + 2 n2 + 3n n2 − 1
(b) un = ; (e) un = − .
3n + 1 n+2 n
3n
(c) un = ;
4n3 + 1
5. Sejam u e v dois infinitamente grandes positivos. Diz-se que a sucessão u é um infinitamente grande
un
de ordem superior à de v se → +∞ (Também se diz que “a sucessão u cresce mais rapidamente
vn
do que a sucessão v”).
(a) Prove que nn é um infinitamente grande de ordem superior à de n!.
(b) Prove que n! é um infinitamente grande de ordem superior à de en .
(c) Coloque por ordem decrescente, quanto à rapidez de convergência, as sucessões de termos
gerais: √ √
2 n, 10 n, 2n , en , n!, log(n), n, n3 , nn .
un
6. Sejam u e v dois infinitésimos, vn 6= 0 ∀n ∈ N. Diz-se que u é de ordem superior a v se lim = 0.
vn
Ordene os seguintes infinitésimos:
1 1 1 1 1 1 1 1 1
, √ , , , , , √ , , .
2n 10 n 2n en n! log(n) n n3 nn
2n n
n+3 3
(a) un = ; (c) wn = 1 − 2 .
n+1 n
n
n+5
(b) vn = ;
2n + 1
8. Calcule, se existir,
1 p
n
(a) lim (n + 1)!;
2n
1p
(b) lim n n(n + 1) · · · 2n.
n
s
n!
9. Determine p ∈ R tal que lim n
= 3.
(p n)n
11. Quando possı́vel, dê exemplos de sucessões u, v e w tais que, un → +∞, vn → −∞, wn → 0, que
verifiquem as condições indicadas nas alı́neas seguintes:
(a) un + vn → 1;
(b) un + vn → −∞;
(c) un + wn → 1;
(d) un × wn → 0;
(e) vn × wn → +∞;
un
(f) → −1.
wn
12. Sejam u e v duas sucessões de números reais tais que un → a e vn → b. Mostre que a sucessão de
termo geral zn = min{un , vn } converge e que zn → min{a, b}.
{(x, y) : x ∈ D, y ∈ R, y = f (x)}.
Estes valores têm a designação comum de extremos de f . A Figura 2.1 ilustra as definições anteriores.
y
Máximo
Mínimo
x
Ponto de mínimo
Ponto de máximo
∃M ∈ R+ : |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ D.
Definição 2.1.10 Chamam-se zeros da função f os elementos x do domı́nio tais que f (x) = 0.
b+ d
b
b-d
a-e a a+ e x
Definição 2.2.2 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D não é majorado. Diz-se que o limite de f
quando x → +∞ é b se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x > ⇒ |f (x) − b| < δ
ε
e escreve-se lim f (x) = b.
x→+∞
Definição 2.2.3 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D não é minorado. Diz-se que o limite de f
quando x → −∞ é b se
1
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x < − ⇒ |f (x) − b| < δ
ε
e escreve-se lim f (x) = b.
x→−∞
NOTA: As definições de lim f (x) = +∞, lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ e lim f (x) = −∞,
x→+∞ x→−∞ x→+∞ x→−∞
podem dar-se de forma análoga. Em todo o caso, se tivermos em conta a definição de vizinhança em R (ver
página 13), podemos unificar todas as definições do seguinte modo: se a, b ∈ R, diz-se que lim f (x) = b
x→a
se
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (b).
Teorema 2.2.1 Se f : D ⊂ R → R e a ∈ R é um ponto aderente a D, então lim f (x) = b se, e só se,
x→a
para cada sucessão (xn ) de limite a, (xn ) ⊂ D, a sucessão (f (xn )) tem por limite b.
NOTA: Observe-se que não exigimos que a seja ponto de acumulação de D. Se a é ponto isolado de D
então f tem limite igual a f (a) quando x → a. De facto, as únicas sucessões de pontos do domı́nio que
tendem para a são as sucessões que, a partir de certa ordem, são constantemente iguais a a.
NOTAS:
1. Este teorema permite-nos usar a expressão “b é o limite de f (x) quando x tende para a”, em vez
de “b é limite de f (x) quando x tende para a” e permite que se use a notação lim f (x) = b.
x→a
2. Se a ∈ D (isto é, f está definida em a), o limite b, se existe, coincide com f (a). Com efeito, neste
caso, a verifica as condições a ∈ D e |a − a| < ε ∀ε > 0, o que implica que |f (a) − b| < δ, ∀δ > 0,
ou seja, f (a) = b.
Figura 2.3
Teorema 2.2.3 Se lim f (x) = b e lim g(x) = c então:
x→a x→a
c) lim [f (x)g(x)] = b c;
x→a
f (x) b
d) Se c 6= 0, lim = .
x→a g(x) c
2.2 Limites. Limites relativos 59
Teorema 2.2.4 Se lim f (x) = 0 e g é uma função limitada numa vizinhança de a então lim [f (x)g(x)] =
x→a x→a
0.
1
NOTA: O facto de g ser limitada é essencial. Por exemplo, se f (x) = x e g(x) = , lim f (x)g(x) = 1 6= 0,
x x→0
o que não contradiz o teorema, visto g não ser limitada.
1. B = D \ {a}. Diz-se então que f (x) tende para b quando x tende para a por valores diferentes
de a:
lim f (x) = b.
x→a
x 6= a
Os limites à esquerda e à direita recebem a designação comum de limites laterais. Para se poderem
definir estes limites, o ponto a tem que ser ponto de acumulação de B.
NOTAS:
1. lim− f (x) = lim+ f (x) = b ⇔ lim f (x) = b. Mas pode existir só um dos limites laterais (ou os
x→a x→a x→a
x 6= a
dois com valores distintos) sem que exista lim f (x).
x→a
x 6= a
2. lim f (x) = lim f (x) = b não implica que lim f (x) = b a não ser que f (a) = b. No exemplo da
x→a− x→a+ x→a
página 58, f (0− ) = f (0+ ) = 0 e f (0) = 1.
60 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade
3. lim f (x) não se distingue de lim f (x) quando a 6∈ D, devendo então a ser ponto de acumulação
x→a x→a
x 6= a
de D.
-1 1 2 3 4
Figura 2.4
Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 1. Portanto, lim f (x) não existe, e consequentemente,
x→2 x→2 x→2
x 6= 2
também não existe lim f (x).
x→2
Se a < 2 então lim+ f (x) = lim− f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 0.
x→a x→a x→a x→a
x 6= a
Se a > 2 então lim f (x) = lim f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 1.
x→a+ x→a− x→a x→a
x 6= a
5
4
3
2
1
-2 2 4 6 8 10
Figura 2.5
Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 0. Portanto, lim f (x) = 0, mas não existe lim f (x)
x→4 x→4 x→4 x→4
x 6= 4
porque f (4) = 2 6= 0.
EXEMPLO 3: Em R temos:
2.2 Limites. Limites relativos 61
1 1 1
a) lim− = −∞ e lim+ = +∞; lim não existe.
x→a x−a x→a x − a x→a x − a
1 1 1
b) lim− = +∞ e lim+ = +∞; lim = +∞.
x→a (x − a)2 x→a (x − a)2 x→a (x − a)2
1 1
c) lim = 0 = lim .
x→+∞ x x→−∞ x
y
1 1
d) lim (1 + x) x = lim 1+ = e.
x→0+ y→+∞ y
Teorema 2.2.6 Seja f : D ⊂ R → R uma função monótona limitada. Então existem os limites laterais
f (a− ) e f (a+ ) em todo o ponto a onde esses limites possam ser definidos.
A = {x : x ∈ D ∧ x < a}.
Se a ∈ A queremos provar que existe f (a− ), isto é, queremos provar que existe um b ∈ R tal que
∀δ > 0 ∃ε > 0 |x − a| < ε ∧ x < a ⇒ |f (x) − b| < δ. Como, por hipótese, f é limitada, isto é, f (D) é
um conjunto limitado e A ⊂ D, temos que f (A) é um conjunto limitado. Pelo Teorema 1.1.2, f (A) tem
supremo. Seja b = sup f (A) = sup f (x). Pelo Teorema 1.1.3,
x∈A
Como f é crescente
f (x) ≥ f (x0 ) > b − δ ∀x ∈]x0 , a[ ∩ A.
Podemos então escrever
|f (x) − b| < δ ∀x : x ∈ A ∧ |x − a| < a − x0 .
Fazendo ε = a − x0 , concluı́mos que
Teorema 2.2.7 É condição necessária e suficiente para que f tenha limite finito no ponto a que
Como vimos anteriormente, o facto de a ∈ D implica que lim f (x) = f (a). Podemos escrever f é
x→a
contı́nua em a se
NOTAS:
Teorema 2.3.1 Toda a função constante é contı́nua em todos os pontos do seu domı́nio.
Teorema 2.3.2 Se f e g são contı́nuas no ponto a então f + g, f − g e f g são contı́nuas nesse ponto;
f
se g(a) 6= 0 então também é contı́nua em a.
g
Definição 2.3.3 Uma função f diz-se contı́nua no conjunto B ⊂ D se é contı́nua em todos os pontos
de B.
Demonstração: Podemos supor, sem perda de generalidade, que a < b. Consideremos o intervalo [a, b].
Como f (a) 6= f (b) teremos f (a) < f (b) ou f (a) > f (b). Admitamos que f (a) < f (b). Seja k tal que
f (a) < k < f (b).
Seja o conjunto C = {x : x ∈ [a, b] ∧ f (x) < k}. Como f (a) < k, a ∈ C, pelo que C 6= ∅. Visto que
b é um majorante de C podemos afirmar, pelo Teorema 1.1.2 que existe c = sup C. Como C ⊂ [a, b],
2.3 Continuidade: propriedades das funções contı́nuas. Teorema de Bolzano 63
f(b)
k
f(a)
a b x
Figura 2.6
c ∈ [a, b]. Dado que f é contı́nua em [a, b] e c é aderente a C, existem todos os limites relativos tendo-se,
em particular,
lim f (x) = lim f (x) = f (c).
x→c x→c
x∈C
Mas se x ∈ C, f (x) < k, o que implica que lim f (x) = lim f (x) ≤ k, donde
x→c x→c
x∈C
f (c) ≤ k (1)
Por outro lado, c é um ponto aderente a [a, b] \ C. Como b ∈ [a, b] \ C este conjunto é não vazio e
donde
f (c) ≥ k. (2)
De (1) e (2) conclui-se que f (c) = k.
NOTA: Se f não for contı́nua em [a, b], pode existir k ∈ [f (a), f (b)] tal que 6 ∃c ∈ [a, b] : f (c) = k (ver
Figura 2.6).
EXEMPLO: Seja f (x) = x3 − x2 + x. Usando o teorema anterior podemos provar que existe c tal que
f (c) = 10. De facto, como f é contı́nua em R podemos considerar a sua restrição ao intervalo [0, 3] e
facilmente se verifica que f (0) = 0 < 10 < f (3) = 21.
Corolário 1 Se f é contı́nua em [a, b] e f (a) · f (b) < 0, então existe c ∈]a, b[ tal que f (c) = 0.
Demonstração: Podemos supor, sem perda de generalidade, que f (a) < 0 e f (b) > 0. Então f (a) < 0 <
f (b). Como f é contı́nua em [a, b], o teorema anterior permite afirmar que ∃c ∈]a, b[: f (c) = 0.
NOTA: O intervalo f (I) pode ser de tipo diferente do intervalo I como se pode ver nos seguintes
exemplos:
1) f :] − ∞, +∞[→ [−1, 1], f (x) = sen(x)
1
2) f :] − ∞, +∞[→]0, 1], f (x) =
x2 +1
1
0.8
0.6
0.4
0.2
-3 -2 -1 1 2 3
Demonstração: Pelo Corolário 2 do Teorema de Bolzano sabemos que f (I) é um intervalo. Resta-nos
então provar que é fechado e limitado. Dividimos a demonstração em duas partes.
a) f (I) é limitado.
b) f (I) é fechado.
a) Suponhamos que f (I) não é limitado. Então para cada n ∈ N existe xn ∈ I tal que |f (xn )| ≥ n.
Como I é limitado a sucessão (xn ) também é limitada, portanto, (xn ) tem uma subsucessão (xnk )
convergente (Teorema 1.3.15). Seja x = lim f (xnk ); x ∈ I porque I é fechado. Visto que f é contı́nua,
n
lim f (xnk ) = f (x), mas esta conclusão é incompatı́vel com a suposição |f (xn )| ≥ n ∀n ∈ N (Teorema
n
1.3.7)
b) Temos de provar que existem x0 e x1 ∈ I tais que f (x0 ) = sup f (x) e f (x1 ) = inf f (x).
x∈I x∈I
Suponhamos que não existe x0 ∈ I tal que f (x0 ) = sup f (x), isto é, L = sup f (x) não é atingido.
x∈I x∈I
Então L − f (x) 6= 0, ∀x ∈ I. Portanto,
1
g(x) =
L − f (x)
é uma função contı́nua em I. Provámos em a) que toda a função contı́nua num intervalo limitado é
limitada o que implica que g é limitada.
Pelo Teorema 1.1.3 temos que
o que contradiz o facto de g ser limitada. Analogamente, se prova a existência de x1 ∈ I tal que
f (x1 ) = inf f (x). Portanto, f (I) é fechado.
x∈I
Corolário 1 Toda a função contı́nua num intervalo fechado e limitado tem, nesse intervalo, um máximo
e um mı́nimo.
NOTAS:
1. Os dois resultados anteriores mantêm-se válidos se substituirmos “intervalo fechado limitado” por
“conjunto fechado limitado não vazio”.
2. A hipótese intervalo (ou conjunto) fechado é necessária como se pode ver pelos exemplos seguintes:
1) Seja f (x) = x. f é contı́nua em ] − 1, 1[ e não tem nesse intervalo máximo nem mı́nimo.
( 1
, se x 6= 0
2) A função g(x) = x é contı́nua em ]0, 1], mas não tem máximo nesse intervalo.
0, se x = 0
1 1
3) A função h(x) = sen é contı́nua em ]0, 1] e não tem máximo nem mı́nimo nesse intervalo.
x x
Teorema 2.3.6 Se f é uma função contı́nua e injectiva num intervalo I, então a função inversa é
também contı́nua.
66 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade
Definição 2.3.5 Seja a um ponto aderente a D (domı́nio de f ). Diz-se que f é prolongável por
continuidade ao ponto a se existir um prolongamento F de f , com domı́nio D ∪ {a}, sendo F contı́nua
em a.
Teorema 2.3.7 Para que uma função f seja prolongável por continuidade ao ponto a, é necessário e
suficiente que tenha limite nesse ponto.
g : Df ∪({a} → R
f (x), se x ∈ Df
g(x) = lim f (x), se x = a
x→a
sen(x)
EXEMPLO: Consideremos a função f : R \ {0} → R definida por f (x) = (ver Figura 2.7).
x
Sabemos que lim f (x) = 1.
x→0
Figura 2.7
Definição 2.3.6 Diz-se que f tem uma descontinuidade removı́vel no ponto a se existir uma função
g contı́nua em a, que apenas difere de f em a.
EXEMPLO: Seja
x2 − 2x − 3
f (x) = , se x 6= 3
3, x − 3 se x = 3
Como lim f (x) = 4, f tem uma descontinuidade removı́vel em x = 3. A função
x→3
x 6= 3
x2 − 2x − 3
g(x) = , se x 6= 3
4, x − 3 se x = 3
é contı́nua no seu domı́nio.
2.4 Exercı́cios Propostos 67
8. Mostre, recorrendo à definição, que as seguintes funções são contı́nuas nos seus domı́nios:
(a) f (x) = x2 ;
(b) g(x) = cos(x);
(c) h(x) = x + sen(x).
9. Sejam f e g funções contı́nuas em [a, b] tais que f (a) > g(a) e f (b) < g(b). Mostre que os gráficos
de f e g se intersectam num ponto de abcissa c ∈]a, b[.
10. Sejam f e g funções contı́nuas em [a, b] tais que f (a) = g(b), f (b) = g(a) e f (a) 6= g(a). Mostre que
f − g tem pelo menos uma raiz pertencente ao intervalo [a, b].
11. Seja f uma função real de variável real contı́nua em [a, b]. Sabendo que f (a) < a e f (b) > b, prove
que f tem pelo menos um ponto fixo no intervalo ]a, b[.
Obs: c é ponto fixo se f (c) = c.
12. Prove que se h : D ⊂ R → R é uma função contı́nua em x = b, ponto interior a D, se tem:
(a) Se h(b) > 0 então existe uma vizinhança V de b tal que h(x) > 0, ∀x ∈ V .
(b) Se h(b) < 0 então existe uma vizinhança V de b tal que h(x) < 0, ∀x ∈ V .
13. Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua, injectiva e tal que f (a) < f (b). Utilize o teorema do valor
intermédio de Bolzano para concluir que f é estritamente crescente no seu domı́nio.
Sugestão: Comece por mostrar, utilizando o método de redução ao absurdo, que não existe x ∈]a, b[
tal que f (x) < f (a) ou f (x) > f (b).
14. Seja f : [a, +∞[→ R uma função contı́nua. Suponha que existe b ∈ [a, +∞[ tal que, para qualquer
x > b se tem f (x) < f (a). Prove que f tem máximo em [a, +∞[.
f (x)
15. Seja f : R → R uma função com limite finito quando x → 0 e tal que > 0 ∀x ∈ R \ {0}.
x
Indique, justificando, o valor de lim f (x).
x→0
(b) Se na alı́nea a) considerássemos g definida em ]0, +∞[, poderı́amos continuar a garantir para
f a existência de máximo e mı́nimo? Justifique.
20. Seja f uma função contı́nua em R, com limites positivos quando x → −∞ e x → +∞ e tal que
f (0) < 0. Nestas condições mostre que:
(a) a equação f (x) = 0 tem pelo menos duas raı́zes reais.
(b) ∃c ∈ R ∀x ∈ R f (c) ≤ f (x).
Dê um exemplo de uma função que verifique todas as condições exigidas no enunciado – excepto
na continuidade em R, que deve ser substituı́da pela continuidade em R \ {0} – e para a qual as
afirmações expressas nas alı́neas a) e b) sejam falsas.
70 2. Funções Reais de Variável Real: Limites e Continuidade
Capı́tulo 3
( )
Se f é diferenciável no ponto a, chama-se tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) à recta que
passa por este ponto e tem declive igual a f ′ (a); a recta tangente terá então a equação:
f (x) − f (a)
lim
x→a− x−a
ou, fazendo x − a = h,
f (a + h) − f (a)
lim− ,
h→0 h
′ −
e designa-se por f (a ).
Chama-se derivada à direita de f no ponto a ao limite, se existir (em R),
f (x) − f (a)
lim+
x→a x−a
ou, fazendo x − a = h,
f (a + h) − f (a)
lim ,
h→0+ h
e designa-se por f ′ (a+ ).
NOTA: É evidente que f ′ (a) existe se, e só se, existem e são iguais f ′ (a+ ) e f ′ (a− ).
Figura 3.2
f (x) − f (0) x
f ′ (0+ ) = lim+ = lim+ = 1;
x→0 x−0 x→0 x
′ − f (x) − f (0) −x
f (0 ) = lim− = lim− = −1.
x→0 x−0 x→0 x
′ + ′ −
Como f (0 ) 6= f (0 ), f não tem derivada no ponto 0.
3.1 Derivadas. Regras de derivação. 73
não tem derivadas laterais em x = 0 (ver Figura 3.3). De facto, a função definida por
f (x) − f (0) x sen x1 1
= = sen
x−0 x x
não tem limite quando x → 0, não existindo sequer limites laterais.
Figura 3.3
√
EXEMPLO 3: A função f : R → R definida por f (x) = 3 x (ver Figura 3.4) tem derivada +∞ em x = 0,
pois
√ r
′ +
3
x x 1
f (0 ) = lim+ = lim+ 3 3 = lim+ √ = +∞
x→0 x x→0 x x→0
3
x2
√ r
′ −
3
x x 1
f (0 ) = lim = lim 3 3 = lim √ = +∞
x→0− x x 3
x→0− x→0− x2
f não é, pois, diferenciável em 0.
Figura 3.4
√
3
EXEMPLO 4: A função f : R → R definida por f (x) = x2 , e cujo gráfico se apresenta na Figura 3.5,
não tem derivada em 0. De facto,
74 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
√3
r
′ + x2 3 x2 1
f (0 ) = lim = lim = lim √ = +∞
x→0+ x x→0+ x3 x→0 + 3
x
√3
r
′ − x2 3 x2 1
f (0 ) = lim = lim = lim √ = −∞
x→0− x x→0− x3 x→0 − 3
x
Figura 3.5
NOTAS:
1. Uma função pode ser contı́nua num dado ponto e não ter derivada nesse ponto (ver o exemplo
anterior).
2. Se a derivada for infinita, a função pode não ser contı́nua.
Teorema 3.1.2 Se f e g são funções diferenciáveis em a, então f + g e f · g são funções diferenciáveis
em a, e
(f + g)′ (a) = f ′ (a) + g ′ (a)
(f · g)′ (a) = f ′ (a) · g(a) + f (a) · g ′ (a).
Se, além disso, g(a) 6= 0, então f /g é diferenciável em a e
′
f f ′ (a) · g(a) − f (a) · g ′ (a)
(a) = .
g (g(a))2
Demonstração: Sendo finitas as derivadas f ′ (a) e g ′ (a), teremos no caso da soma:
(f + g)(x) − (f + g)(a) f (x) + g(x) − f (a) − g(a)
(f + g)′ (a) = lim = lim
x→a x−a x→a x−a
f (x) − f (a) g(x) − g(a) f (x) − f (a) g(x) − g(a)
= lim + = lim + lim
x→a x−a x−a x→a x−a x→a x−a
= f ′ (a) + g ′ (a)
3.1 Derivadas. Regras de derivação. 75
g(a) − g(x)
g(x) · g(a) g(x) − g(a) 1
= lim = lim · −
x→a x−a x→a x−a g(x) · g(a)
1 1 g(x) − g(a) 1 1
= − · lim · lim =− · · g ′ (a)
g(a) x→a g(x) x→a x−a g(a) g(a)
g ′ (a)
= − .
(g(a))2
f 1
Portanto, notando que = f · , temos:
g g
′ ′
f 1 1
(a) = f ′ (a) · (a) + f (a) · (a)
g g g
p
X
(f1 · f2 · · · fp )′ (a) = f1 (a) · · · fi′ (a) · · · fp (a).
i=1
EXEMPLO 1: Consideremos a função g(x) = arc sen(x), função inversa da função f (x) = sen(x) no
intervalo [− π2 , π2 ]. Teremos então
1 1 1 1 1
g ′ (x) = = = =p =√ .
f ′ (g(x)) cos(g(x)) cos(arc sen(x)) 2
1 − sen (arc sen(x)) 1 − x2
EXEMPLO 2: Consideremos a função g(x) = arc cos(x), função inversa da função f (x) = cos(x) no
intervalo [0, π]. Teremos então
1 1 1
g ′ (x) = =− =−
f ′ (g(x)) sen(g(x)) sen(arc cos(x))
1 1
= −p = −√ .
2
1 − cos (arc cos(x)) 1 − x2
1
(arc tg(x))′ =
1 + x2
e
1
(arc cotg(x))′ = − .
1 + x2
EXEMPLO 2: A função
x2 sen 1 , se x 6= 0
f (x) = x
0, se x = 0
é diferenciável em R,
2 x sen 1 − cos 1 , se x 6= 0
f ′ (x) = x x
0, se x = 0
e f ′ não é contı́nua em 0. Temos, assim, f ∈
/ C 1 (R).
EXEMPLO 4: A derivada de ordem n do produto de duas funções obtém-se pela fórmula de Leibnitz:
n
X
(f g)(n) (x) = n
Cp f (p) (x) g (n−p) (x),
p=0
(0)
onde se convenciona f (x) = f (x). A demonstração desta propriedade faz-se facilmente, por indução
em n, usando a regra de derivação do produto.
b) d(f g) = g df + f dg
c) d(f n ) = n f n−1 df
f g df − f dg
d) d( ) =
g g2
e) d((g ◦ f )(x)) = g ′ (f (x)) · df (x)
78 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
a) Diz-se que f tem um mı́nimo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) é um mı́nimo local, ou
relativo, de f ) se existir uma vizinhança V de a tal que f (x) ≥ f (a), ∀x ∈ V ∩ D.
b) Diz-se que f tem um máximo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) é um máximo local, ou
relativo, de f ) se existir uma vizinhança V de a tal que f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ V ∩ D.
Aos máximos e mı́nimos relativos dá-se a designação comum de extremos relativos (ver Figura 3.6).
Máximo local
Mínimo local
Teorema 3.2.1 Seja f : D ⊂ R → R. Se f (a) for mı́nimo relativo e existirem derivadas laterais em a,
então f ′ (a− ) ≤ 0 e f ′ (a+ ) ≥ 0. Se f for diferenciável em a, então f ′ (a) = 0.
Demonstração: Se f (a) é um mı́nimo relativo então, por definição, ∃ε > 0 : f (x) ≥ f (a) ∀x ∈ Vε (a) ∩ D.
Mas
f (x) − f (a)
≤ 0 ∀x ∈]a − ε, a[ ∩ D,
x−a
o que implica que
f (x) − f (a)
lim ≤ 0,
x→a− x−a
isto é, f ′ (a− ) ≤ 0.
Analogamente,
f (x) − f (a)
≥ 0 ∀x ∈]a, a + ε[ ∩ D,
x−a
o que implica que
f (x) − f (a)
lim ≥ 0,
x→a+ x−a
isto é, f ′ (a+ ) ≥ 0.
Teorema 3.2.2 Se f (a) for máximo relativo e existirem derivadas laterais em a, então f ′ (a− ) ≥ 0 e
f ′ (a+ ) ≤ 0. Se f for diferenciável em a, então f ′ (a) = 0.
NOTA: Se f é diferenciável, a condição f ′ (a) = 0 é necessária, mas não suficiente para que f tenha um
extremo em a. Consideremos, por exemplo, a função f (x) = x3 ; f ′ (0) = 0 e f não tem extremo em 0.
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 79
Demonstração: Pelo Teorema de Weierstrass, a função f , contı́nua no intervalo [a, b], tem máximo M e
mı́nimo m neste intervalo. Se M = m então f é constante em [a, b] e, portanto, f ′ (x) = 0 ∀x ∈]a, b[, não
havendo mais nada a provar.
Se M 6= m, a hipótese f (a) = f (b) implica que ou o máximo ou o mı́nimo é atingido num ponto
c ∈]a, b[. Então, pelos teoremas anteriores, f ′ (c) = 0.
Geometricamente, o teorema afirma que na representação gráfica da função há pelo menos um ponto
em que a tangente é paralela ao eixo dos xx (ver Figura 3.7).
Corolário 1 Entre dois zeros de uma função diferenciável num intervalo há, pelo menos, um zero da
sua derivada.
Corolário 2 Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma função diferenciável num intervalo existe,
no máximo, um zero da função.
Demonstração: Começamos por fazer a demonstração num caso especial e, usando este, passaremos ao
caso geral.
Suponhamos que
f ′ (a) < k = 0 < f ′ (b). (1)
Como f é diferenciável em I, é contı́nua em I, pelo que é contı́nua em [a, b] e, portanto, f tem um ponto
f (x) − f (a) f (x) − f (a)
de mı́nimo em [a, b]. Visto que f ′ (a) = lim < 0, existe ε1 > 0 tal que < 0,
x→a x−a x−a
∀x ∈]a, a + ε1 [, pelo que f (x) < f (a), ∀x ∈]a, a + ε1 [. Analogamente se mostra que existe ε2 > 0 tal que
f (x) < f (b), ∀x ∈]b − ε2 , b[. Conclui-se, assim, que nem a nem b são ponto de mı́nimo de f em [a, b],
isto é, existe c ∈]a, b[ onde f atinge o seu mı́nimo em [a, b]; como f é diferenciável, f ′ (c) = 0. Fica assim
demonstrado o teorema no caso especial de (1).
Obviamente, a demonstração no caso
seria semelhante (mostrar-se-ia, neste caso, que existe um ponto de máximo diferente de a e b).
80 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
A função g(x) = f (x) − kx é diferenciável em I (g ′ (x) = f ′ (x) − k) e g ′ (a) = f ′ (a) − k < 0 < f ′ (b) − k;
estamos assim nas condições do caso (1): existe c ∈]a, b[ tal que g ′ (c) = 0, isto é, f ′ (c) = k.
O caso
f ′ (a) > k > f ′ (b) (4)
resolve-se com a mesma técnica, usando (2).
NOTAS:
1. Apenas com a condição de diferenciabilidade no intervalo (não se pede que a derivada seja contı́nua!),
mostra-se que a derivada verifica uma propriedade semelhante à do Teorema de Bolzano.
2. A derivada pode não ser contı́nua. Por exemplo, a função:
2 1
x sen , se x 6= 0
f (x) = x
0, se x = 0
é diferenciável em R:
1 1
2 x sen − cos , se x 6= 0
f ′ (x) = x x
0, se x = 0
e f ′ não é contı́nua em 0.
NOTA: O Teorema de Rolle é um caso particular deste teorema. Trata-se do caso em que f (a) = f (b).
Corolário 1 Se f tem derivada nula em todos os pontos de um intervalo, então é constante nesse
intervalo.
Corolário 2 Se f e g são duas funções diferenciáveis num intervalo I e se f ′ (x) = g ′ (x), ∀x ∈ I, então
a diferença f − g é constante em I.
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 81
f (b) − f (a)
ϕ(x) = f (x) − g(x).
g(b) − g(a)
Pelo Teorema de Rolle, g(a) 6= g(b) visto que g ′ (x) 6= 0 ∀x ∈]a, b[, pelo que ϕ está bem definida; além
disso, ϕ é contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Como ϕ(a) = ϕ(b), pelo Teorema de Rolle existe
c ∈]a, b[ tal que ϕ′ (c) = 0. Mas
f (b) − f (a) ′
ϕ′ (x) = f ′ (x) − g (x)
g(b) − g(a)
o que implica
3.3 Indeterminações
A partir do Teorema de Cauchy pode-se demonstrar a seguinte regra que é muito usada no cálculo do
f 0 ∞
limite de um quociente quando assume a forma ou .
g 0 ∞
f ′ (x) f (x)
então, se existir lim , também existe lim e estes limites são iguais.
x→a g ′ (x) x→a g(x)
f (x) f ′ (x)
lim = lim ′
x→c g(x) x→c g (x)
x6=c x6=c
f (x) f ′ (x)
NOTA: Convém notar que pode existir lim e não existir lim ′ . É o que acontece com as
x→a g(x) x→a g (x)
funções
1
2
f (x) = x cos , g(x) = x.
x
f (x) 1 f ′ (x) 1 1 f ′ (x)
De facto, lim = lim x cos =0e ′ = 2x cos +sen pelo que não existe lim ′ .
x→0 g(x) x→0 x g (x) x x x→0 g (x)
sen(x)
EXEMPLO 1: Consideremos a função h definida por . Ao calcular lim h(x) encontramos a inde-
x x→0
0
terminação . Sendo f (x) = sen(x) e g(x) = x, estamos nas condições da regra de Cauchy. Como
0
f ′ (x)
lim = lim cos(x) = 1,
x→0 g ′ (x) x→0
ex − 1 ex − 1 0
EXEMPLO 2: Seja h(x) = . No cálculo de lim surge a indeterminação . Tomando
x x→0 x 0
f (x) = ex − 1 e g(x) = x estamos nas condições da regra de Cauchy. Como
(ex − 1)′
lim = lim ex = 1
x→0 (x)′ x→0
ex − 1
podemos concluir que lim = 1.
x→0 x
3.3 Indeterminações 83
tg(x) − 5 ∞
EXEMPLO 3: Ao calcular limπ h(x) = limπ obtemos a indeterminação · Considerando
x→ 2 sec(x) + 4
x→ 2 ∞
f (x) = tg(x) − 5 e g(x) = sec(x) + 4, estamos nas condições da regra de Cauchy. Como
3x − 2x 3x − 2x 0
EXEMPLO 4: Seja h(x) = . Ao calcular lim encontramos a indeterminação . Consi-
x x→0 x 0
derando f (x) = 3x − 2x , g(x) = x e aplicando a regra de Cauchy obtemos
3x − 2x 3
lim = log ,
x→0 x 2
pois
f ′ (x) 3
lim = lim (3x log(3) − 2x log(2)) = log(3) − log(2) = log .
x→0 g ′ (x) x→0 2
EXEMPLO 5 : A indeterminação 0 × ∞ surge ao calcularmos lim h(x) = lim xα log(x), com α > 0.
x→0+ x→0+
Como
log(x)
lim h(x) = lim+ xα log(x) = lim+ 1
x→0+ x→0 x→0
xα
e
1
(log(x))′ x xα
lim+ = lim+
1 ′ α = − lim+ = 0,
x→0 x→0 − xα+1 x→0 α
xα
NOTAS:
1. Pode-se demonstrar a partir da Regra de Cauchy o seguinte resultado, útil quando se pretende
estudar a diferenciabilidade de uma função: Sejam f uma função contı́nua num intervalo I e a um
ponto de I. Se f é diferenciável num intervalo ]a, b[⊂ I e existe lim+ f ′ (x) então f tem derivada à
x→a
′ f (x) − f (a)
direita no ponto a e f (a ) = lim+ f (x). Para tal basta notar que f ′ (a+ ) = lim+
′ +
e
x→a x→a x−a
aplicar a regra de Cauchy.
Obviamente, existe um resultado análogo para a derivada à esquerda.
0
e surge a indeterminação .
0
Considerando f (x) = 1 − sen(x), g(x) = cos(x) e aplicando a regra de Cauchy obtemos
pois
f ′ (x) cos(x)
lim = lim = 0.
π
x→ 2 − g ′ (x) x→ π
2
− sen(x)
0
Outra regra importante no estudo de limites, mas que é aplicável somente ao sı́mbolo , é a seguinte:
0
f (x) f ′ (a)
lim = ′ .
x→a g(x) g (a)
EXEMPLO 1: Sejam
1 2
x sen , x 6= 0
f (x) = x
0, x=0
f (x) 0
e g(x) = e2x − 1. Ao calcular o limite lim encontramos a indeterminação . Como
x→0 g(x) 0
1
x2 sen
f (x) − f (0) x 1
f ′ (0) = lim = lim = lim x sen =0
x→0 x x→0 x x→0 x
f (x) f ′ (0)
e g ′ (0) = 2 temos, pela Regra de l’Hospital, lim = ′ =0
x→0 g(x) g (0)
0 ∞
Vimos como resolver indeterminações do tipo e e como converter as indeterminações 0 × ∞ e
0 ∞
∞ − ∞ numa das anteriores. As indeterminações 1 , 0 e ∞0 surgem do cálculo de limites de funções
∞ 0
EXEMPLO 1: Consideremos a função h(x) = xx . A indeterminação que surge ao calcular lim+ h(x) é
x→0
do tipo 00 que podemos converter numa do tipo 0 × ∞:
lim x log(x)
lim xx = e x→0+ = e0 = 1,
x→0+
1
sen(x) sen(x) x2
EXEMPLO 2: Vimos num exemplo anterior que lim = 1, portanto, ao calcular lim
x→0 x x→0 x
surge a indeterminação 1∞ .
1 lim
1
log
sen(x)
sen(x) x2 2
lim = e x→0 x x ;
x→0 x
0
neste último limite surge a indeterminação 0 × ∞ que podemos converter em fazendo
0
sen(x)
1 sen(x) log x
lim 2 log lim
e x→0 x x =e x→0 x2 .
Como
′ sen(x) ′
sen(x) x
log x sen(x)
x cos(x)−sen(x) x
x cos(x) − sen(x)
lim x x2 sen(x)
lim
x→0 (x ) 2 ′ lim lim 2x2 sen(x)
e =e x→0 2x =e x→0 2x =e x→0
,
0
temos novamente a indeterminação . Considerando f (x) = x cos(x)−sen(x) e g(x) = 2x2 sen(x) obtemos
0
f ′ (x) −sen(x)
lim = lim
x→0 g ′ (x) x→0 4 sen(x) + 2x cos(x)
0
aparecendo ainda a indeterminação . Tendo em conta que
0
(−sen(x))′ − cos(x) 1
lim = lim =− ,
x→0 (4 sen(x) + 2x cos(x))′ x→0 6 cos(x) − 2x sen(x) 6
podemos concluir que
1
sen(x) x2 1
lim = e− 6 .
x→0 x
86 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
tg(x)
1
EXEMPLO 3: No cálculo de lim surge a indeterminação ∞0 . Como
x→0+ x
tg(x) 1 log x1
1 lim tg(x) log lim
lim =e x→0+ x = ex→0+ cotg(x)
x→0+ x
∞
e neste limite a indeterminação é primeiro do tipo 0 × ∞ e depois do tipo temos que o limite pedido
∞
é 1 pois
′ 1
log x1 −
x sen2 (x)
lim lim 2 lim −
ex→0 (cotg(x)) = ex→0 cosec (x) = ex→0+ = e0 = 1.
′
+ + x
3.4 Teorema de Taylor 87
(b − x)2 ′′
ϕ(x) = f (b) − [f (x) + (b − x)f ′ (x) + f (x)+
n−1
2! n
(b − x) (b − x)
+···+ f (n−1) (x) + A],
(n − 1)! n!
sendo A uma constante escolhida por forma que ϕ(a) = 0.
ϕ está nas condições do Teorema de Rolle: por construção, é uma função contı́nua em [a, b], dife-
renciável em ]a, b[ e ϕ(a) = 0 = ϕ(b). Então existe c ∈]a, b[ tal que ϕ′ (c) = 0. Mas
(b − x)n−2 (n−1)
ϕ′ (x) = −[ f ′ (x) − f ′ (x) + (b − x)f ′′ (x) − (b − x)f ′′ (x) + · · · − f (x)+
(n − 2)!
(b − x)n−1 (n) (b − x)n−1
+ f (x) − A]
(n − 1)! (n − 1)!
(b − x)n−1 (n) (b − x)n−1
= − f (x) − A
(n − 1)! (n − 1)!
(b − x)n−1 h i
= A − f (n) (x)
(n − 1)!
Então
(b − c)n−1 h i
ϕ′ (c) = 0 ⇔ A − f (n) (c) = 0 ⇔ (b − c)n−1 = 0 ∨ f (n) (c) − A = 0.
(n − 1)!
Como c ∈]a, b[ vem f (n) (c) = A. Por construção de ϕ temos ϕ(a) = 0, portanto,
(b − a)2 ′′
0 = ϕ(a) = f (b) − [f (a) + (b − a)f ′ (a) + f (a)+
n−1
2! n
(b − a) (b − a) (n)
+···+ f (n−1) (a) + f (c)],
(n − 1)! n!
e obtemos assim (∗).
NOTA: A hipótese a < b é desnecessária, como facilmente se observa na demonstração. Apenas foi
introduzida para facilitar o enunciado.
h2 ′′ hn−1 hn (n)
f (a + h) = f (a) + h f ′ (a) + f (a) + · · · + f (n−1) (a) + f (a + θh),
2! (n − 1)! n!
sendo 0 < θ < 1.
88 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
x2 xn−1 xn
f (x) = f (0) + f ′ (0) x + f ′′ (0) + · · · + f (n−1) (0) + f (n) (c) ,
2! (n − 1)! n!
f (x) = ex sen(x).
Como f é uma função de classe C ∞ (R) podemos escrever a sua fórmula de MacLaurin de qualquer ordem.
Em particular, para n = 4 existe c entre 0 e x tal que
x2 x3 x4
f (x) = f (0) + f ′ (0) x + f ′′ (0) + f ′′′ (0) + f (IV ) (c) .
2! 3! 4!
Calculemos as derivadas de f .
(x − π)2
log(| cos(x)|) +
lim 2 ·
x→π (x − π)2
(x − π)2 (x − π)3
f (x) = f (π) + f ′ (π) (x − π) + f ′′ (π) + f ′′′ (c)
2! 3!
Como f (π) = 0 e
sen(x)
f ′ (x) = − = −tg(x) ⇒ f ′ (π) = 0
cos(x)
1
f ′′ (x) = − ⇒ f ′′ (π) = −1
(cos(x))2
2 sen(x) 2 sen(c)
f ′′′ (x) = − ⇒ f ′′′ (c) = −
(cos(x))3 (cos(c))3
temos
(x − π)2 2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2 sen(c) (x − π)3
f (x) = − − · = − − ·
2! (cos(c))3 3! 2 (cos(c))3 3
3.4 Teorema de Taylor 89
(x − 1)2
f (x) < 1 − (x − 1) + 3 ∀x > 1.
2
A função f é de classe C ∞ em D = {x ∈ R+ : 1 + log(x) 6= 0}. Como 1 ∈ D podemos escrever a
fórmula de Taylor de ordem 2 de f em potências de x − 1: existe c entre x e 1 tal que
(x − 1)2
f (x) = f (1) + f ′ (1) (x − 1) + f ′′ (c)
2!
Como f (1) = 1 e
1
f ′ (x) = − ⇒ f ′ (1) = −1
x (1 + log(x))2
3 + log(x) 3 + log(c)
f ′′ (x) = 2 ⇒ f ′′ (c) =
x (1 + log(x))3 c2 (1 + log(c))3
temos
3 + log(c) (x − 1)2
f (x) = 1 − (x − 1) + ·
c2 (1+ log(c))3 2!
Podemos escrever
3 + log(c) 2 + 1 + log(c) 2 1
= 2 = 2 + 2
c2 (1 + log(c))3 c (1 + log(c))3 c (1 + log(c))3 c (1 + log(c))2
Se x > 1 então 1 < c < x, pelo que 1 + log(c) > 1 + log(1) = 1, c2 (1 + log(c))3 > 1 e c2 (1 + log(c))2 > 1.
Então
2 1
2 3
<2 e <1
c (1 + log(c)) c (1 + log(c))2
2
portanto,
(x − 1)2
f (x) < 1 − (x − 1) + 3 ∀x > 1.
2
90 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
Mas
|f (x) − f (a)| < f (a) ⇔ −f (a) < f (x) − f (a) < f (a)
⇔ −f (a) + f (a) < f (x) < f (a) + f (a)
⇔ 0 < f (x) < 2f (a),
ou seja, f (x) > 0 ∀x ∈ Vε (a).
Teorema 3.5.2 Seja f uma função classe C n num intervalo I e a um ponto interior a I. Se
então
a) se n é ı́mpar, f não tem extremo relativo em a;
b) se n é par, f tem máximo relativo em a se f (n) (a) < 0 e tem mı́nimo relativo em a se f (n) (a) > 0.
Demonstração: Se queremos provar a existência de extremo relativo no ponto a, temos de estudar o sinal
de f (x) − f (a). Sabemos que se existir uma vizinhança de a onde f (x) − f (a) mantém o sinal então f (a)
é extremo relativo de f , e que se tal não acontecer então f (a) não é extremo relativo.
Como f (n) (x) é contı́nua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhança V de a, V ⊂ I, onde f (n) (x) toma o
sinal de f (n) (a), isto é, se f (n) (a) > 0 então f (n) (x) > 0 ∀x ∈ V , se f (n) (a) < 0 então f (n) (x) < 0 ∀x ∈ V .
Seja x ∈ V . Visto que f é n vezes diferenciável em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor existe c ∈ V
tal que
ou seja,
(x − a)n
f (x) − f (a) = f (n) (c) ·
n!
Se n é ı́mpar e f (n) (a) > 0 então f (x) − f (a) < 0 se x < a, x ∈ V , e f (x) − f (a) > 0 se x > a, x ∈ V ,
ou seja, f (a) não é extremo relativo.
Se n é ı́mpar e f (n) (a) < 0 obtemos relações análogas, com as desigualdades invertidas.
Se n é par e f (n) (a) > 0 então f (x) − f (a) > 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a) é mı́nimo relativo.
Se n é par e f (n) (a) < 0 então f (x) − f (a) < 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a) é máximo
relativo.
3 2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = x3 − x .
2
f ′ (x) = 0 ⇔ 3x2 − 3x = 0 ⇔ 3x(x − 1) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1.
Como f ′′ (x) = 3(2x − 1) temos f ′′ (0) = −3 e f ′′ (1) = 3. Pelo teorema anterior concluı́mos que f (0) é
um máximo relativo e f (1) é um mı́nimo relativo.
1
EXEMPLO 2: Seja f (x) = x − sen(x).
2
1 1 π π
f ′ (x) = 0 ⇔ − cos(x) = 0 ⇔ cos(x) = ⇔ x = + 2kπ ∨ x = − + 2kπ, k ∈ Z.
2 2 3 3
√ √
Como f ′′ (x) = sen(x) temos f ′′ ( π3 +2kπ) = 23 e f ′′ (− π3 +2kπ) = − 23 . Pelo teorema anterior concluı́mos
que f ( π3 + 2kπ) é mı́nimo relativo ∀k ∈ Z e f (− π3 + 2kπ) é máximo relativo, ∀k ∈ Z.
x4 + 1
EXEMPLO 3: Seja f (x) = .
x2
2(x4 − 1)
f ′ (x) = 0 ⇔ = 0 ⇔ x4 − 1 = 0 ⇔ x = −1 ∨ x = 1.
x3
x4 + 3
Como f ′′ (x) = 2 > 0, ∀x ∈ R \ {0} temos que f (−1) = f (1) é mı́nimo relativo.
x4
EXEMPLO 4: Seja f (x) = x2 (x − 1)3 .
2
f ′ (x) = 0 ⇔ x(x − 1)2 (5x − 2) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1 ∨ x = ·
5
Como f ′′ (x) = 2(x − 1)(10x2 − 8x + 1) temos f ′′ (0) = −2 e f ′′ ( 25 ) = 18
25 · Pelo teorema anterior concluı́mos
que f (0) é um máximo relativo e f ( 52 ) é um mı́nimo relativo. Mas f ′′ (1) = 0, portanto, temos de calcular
f ′′′ . Como f ′′′ (x) = 6(10x2 − 12x + 3), f ′′′ (1) = 6 o que implica que f (1) não é extremo de f .
que f ( π6 + 2kπ) é máximo relativo de f e f ( 65 π + 2kπ) é mı́nimo relativo de f , qualquer que seja k ∈ Z.
Mas f ′′ ( 23 π + 2kπ) = 0 pelo que recorremos à terceira derivada: f ′′′ (x) = 16 sen2 (x) + 2 sen(x) − 8,
portanto, f ′′′ ( 32 π + 2kπ) = 6, podendo concluir-se que f ( 23 π + 2kπ) não é extremo.
92 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
Figura 3.9
Definição 3.5.2 Dadas duas funções f e g, definidas num intervalo I, diz-se que o gráfico de f fica
acima do gráfico de g num ponto a ∈ I se f (a) > g(a) e fica abaixo do gráfico de g num ponto b ∈ I se
f (b) < g(b).
Se J ⊂ I e f (x) > g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gráfico de f fica acima do gráfico de g em J e se
f (x) < g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gráfico de f fica abaixo do gráfico de g em J.
Seja f uma função definida e diferenciável num intervalo I. Queremos determinar a posição do gráfico
de f em relação à tangente a esse gráfico num ponto a ∈ int(I). Trata-se, portanto, de estudar a diferença
Definição 3.5.3 Seja f uma função definida num intervalo I, diferenciável em a ∈ I e seja r(x) =
f (x) − (f (a) + f ′ (a) (x − a)).
a) Se existir uma vizinhança V de a, V ⊂ I, tal que r(x) > 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que f tem a
concavidade voltada para cima em a;
b) Se existir uma vizinhança V de a, V ⊂ I, tal que r(x) < 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que f tem a
concavidade voltada para baixo em a.
Teorema 3.5.3 Sejam I um intervalo e f ∈ C 2 (I). O gráfico de f tem a concavidade voltada para cima
(respectivamente, para baixo) em todos os pontos x, interiores a I, tais que f ′′ (x) > 0 (respectivamente,
f ′′ (x) < 0).
Demonstração: Seja a um ponto interior a I tal que f ′′ (a) 6= 0. Como f ∈ C 2 (I) e f ′′ (a) 6= 0, existe
uma vizinhança V de a, V ⊂ I, onde f ′′ (x) toma o sinal de f ′′ (a), isto é, se f ′′ (a) > 0 então f ′′ (x) > 0,
∀x ∈ V , se f ′′ (a) < 0 então f ′′ (x) < 0, ∀x ∈ V .
Seja x ∈ V . Pelo Teorema de Taylor, existe c ∈ V tal que
(x − a)2
f (x) = f (a) + f ′ (a) (x − a) + f ′′ (c) ·
2!
3.5 Aplicações da fórmula de Taylor 93
Corolário 1 Se f ∈ C 2 (I) e tem um ponto de inflexão num ponto a, interior a I, então f ′′ (a) = 0.
Teorema 3.5.4 Sejam I um intervalo e f ∈ C n (I), n > 2. Se a é um ponto interior a I tal que
então
a) se n é par, f tem a concavidade voltada para cima se f (n) (a) > 0 e tem a concavidade voltada para
baixo se f (n) (a) < 0;
b) se n é ı́mpar, a é ponto de inflexão.
Demonstração: Como f (n) (x) é contı́nua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhança V de a, V ⊂ I, onde
f (n) (x) toma o sinal de f (n) (a), isto é, se f (n) (a) > 0 então f (n) (x) > 0, ∀x ∈ V , se f (n) (a) < 0 então
f (n) (x) < 0, ∀x ∈ V .
Seja x ∈ V . Como f é n vezes diferenciável em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor existe c ∈ V tal
que
(x − a)n
f (x) = f (a) + f ′ (a) (x − a) + f (n) (c) ·
n!
Queremos estudar o sinal de r(x):
EXEMPLO 2: Consideremos novamente a função f (x) = x2 (x−1)3 . Como f ′′ (x) = 2(x−1)(10x2 −8x+1)
temos √ √
′′ 4+ 6 4− 6
f (x) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ∨x = ·
10 10
Mas f ′′′ (x) = 6(10x2 − 12x + 3), portanto,
√ √
6− 6 6+ 6
f ′′′ (x) = 0 ⇔ x = ∨x= ,
10 10
√ √
o que implica que f ′′′ (1) 6= 0, f ′′′ ( 4−10 6 ) 6= 0 e f ′′′ ( 4+10 6 ) 6= 0. Pelo teorema anterior concluı́mos que
estes três pontos são pontos de inflexão.
3.6 Exercı́cios Propostos I 95
log(1 + 1 )
log(x)
1
(a) lim 1+ ; 1 x2
x→+∞ x (g) lim ;
x→+∞ x
!1
r 1
1+x x
(b) lim ;
x→0 1−x (h) lim (1 + sen(x)) log(x + 1) ;
x→0
tg(2x) x
(c) limπ (tg(x)) ; (i) lim+ (− log(x)) ;
x→ 4 x→0
cotg(x)
(d) lim (1 + sen(4x))
x→0
; (j) lim (1 − cos(x))sen(x) ;
x→0
1 1
2. Escreva a fórmula de Taylor, em torno do ponto a dado, com resto de ordem n, das seguintes funções
(a) f (x) = (x − 1) log(x − 1), a = 2, n = 4;
1 − log(x)
(b) f (x) = , a = e, n = 3;
x
π
(c) f (x) = e3x sen(x), a = , n = 2.
2
3. Utilizando a fórmula de Taylor, mostre que
√
π 2
cos( + h) > (1 − h),
4 2
para |h| suficientemente pequeno.
4. Considere a função f (x) = arctg(x).
5. (a) Escreva o desenvolvimento de Taylor da função e1/x em torno do ponto 1, com resto de ordem
2.
(b) Utilizando a alı́nea (a), calcule
e1/x − e
lim
x→1 x − 1
6. (a) Escreva a fórmula de Taylor, com resto de ordem 3 da função log(| cos(x)|) em torno do ponto
π.
(b) Use a alı́nea (a) para calcular
(x−π)2
log(| cos(x)|) + 2
lim
x→π (x − π)2
3 (x − π)3
(c) Mostre que se π < x < π, então − sec2 (x)tg(x) < R3 (x) < 0
2 3
7. (a) Escreva a fórmula de McLaurin, com resto de ordem 4 da função f (x) = ex sen(x).
(b) Mostre, por indução, que f (4k) (x) = (−1)k 4k ex sen(x), ∀k ∈ N.
4k
x
(c) Mostre que, para x < 0, |R4k (x)| ≤ 4k , ∀k ∈ N.
(4k)!
8. Considere a função f (x) = arctg(x).
98 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
(x − 1)2
f (x) < 1 − (x − 1) + 3 , ∀x > 1
2
(c) Qual o sentido da concavidade de f no ponto 1?
10. (a) Seja f (x) = sen4 (x) + cos4 (x). Mostre, por indução, que
nπ
f (n) (x) = 4n−1 cos 4x + .
2
(b) Escreva a fórmula de MacLaurin, com resto de ordem n, de f .
11. Considere a função
f (x) = x sen(x)
(a) Escreva a fórmula de Taylor, com resto de ordem 4, de f , em torno do ponto π.
(b) Use a alı́nea (a) para mostrar que existe uma vizinhança de π, Vε (π), tal que
π (x − π)3
f (x) > −π(x − π) − (x − π)2 + , ∀x ∈ Vε (π) \ {π}
6
Nota: não necessita de determinar explicitamente ε.
12. Considere a função
f (x) = x e−x
(a) Escreva a fórmula de MacLaurin, com resto de ordem 4, de f .
(b) Use a alı́nea (a) para mostrar que
x3
x e−x ≤ x − x2 + , ∀x < 4
2
13. Considere a função
f (x) = (x − 1) log(x) − x.
(a) Prove, por indução, que
(n − 2)! (n − 1)!
f (n) (x) = (−1)n + , ∀n ≥ 2.
xn−1 xn
f (x) ≤ 1 + ex, ∀x ≥ 0.
(b) Escreva a fórmula de Taylor de f , em torno do ponto a = 1, com resto de Lagrange de ordem
n.
x
23. Considere a função real de variável real definida por f (x) = log(x).
2
(a) Prove, usando o Teorema de Lagrange, a seguinte desigualdade:
x x2 − 1
log(x) < , ∀x > 1.
2 2
100 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
(b) Escreva a Fórmula de Taylor da função f , no ponto a = 1, com resto de Lagrange de ordem 3.
(c) Estude, usando o Teorema de Taylor, a existência de extremos relativos da função f .
1 1
24. Seja f a função real de variável real definida por f (x) = − .
x x+1
(a) Prove por indução matemática que
(n) n+1 1 1
f (x) = (−1) n! n+1
− n+1 , ∀n ∈ N.
(x + 1) x
(b) Escreva a fórmula de Taylor de f com resto de Lagrange de ordem 3 em torno do ponto a = 1.
3.6 Exercı́cios Propostos I 101
2. Considere a função
|x − 1| ex se x ≤ 2,
f (x) =
(x − 2)2 + e2 se x > 2.
3. Considere a função
−π − 1 − x se x ≤ −π,
f (x) = cos(x) se − π < x < 0,
1
se x ≥ 0
1 + x2
(a) Estude a continuidade e derivabilidade de f .
(b) Determine os extremos, intervalos de monotonia e pontos de inflexão de f .
(c) Esboce o gráfico de f .
log(x)
4. Considere a função f (x) = .
x
(a) Estude a continuidade e derivabilidade de f .
(b) Determine os extremos e intervalos de monotonia de f .
(c) Determine os pontos de inflexão e as concavidades de f .
5. Considere a função
2x
se x ≤ 0,
f (x) = 1 + x2
1 − e3x
se x > 0
6. Considere a função
2 arctg 1 ,
se x < 0,
f (x) = π x
x2 − x − 1 se x ≥ 0
7. Considere a função
x
f (x) =
1 + log(x)
(a) Determine o domı́nio de f .
(b) Estude a continuidade de f ;
(c) Estude a diferenciabilidade de f ;
(d) Determine os extremos e intervalos de monotonia de f ;
(e) Determine os pontos de inflexão e concavidades de f .
(f) Determine o contradomı́nio de f .
8. Considere a função
x ex , se x ≤ 0,
f (x) =
x log4 (x) se x > 0
9. Considere a função
log(4 − x2 ), se |x| < 2,
f (x) = 1
se x > 2
4 − x2
(a) Estude a continuidade de f ;
(b) Estude a diferenciabilidade de f ;
(c) Determine os extremos e intervalos de monotonia de f ;
(d) Determine os pontos de inflexão e concavidades de f .
(e) Determine o contradomı́nio de f .
3.6 Exercı́cios Propostos I 103
30. Seja g : R → R uma função cuja derivada é dada, em todos os pontos de R, por
x−1
g ′ (x) = .
x2 + 3
32. Seja g : R → R uma função cuja derivada é dada, em todos os pontos de R, por
x
g ′ (x) = − .
(2 + x2 )2
34. Seja g : R → R uma função cuja derivada é dada, em todos os pontos de R, por
g ′ (x) = x2 e−2x .
36. Seja g : R → R uma função cuja derivada é dada, em todos os pontos de R, por
g ′ (x) = arctg(ex − ex ).
f ′ (x) = arccotg(cos(x)).
(a) Mostre que, no intervalo [1, 3], a função f satisfaz as condições do teorema de Rolle e que g
não satisfaz.
(b) Determine as coordenadas do ponto do gráfico de f onde a tangente à curva é horizontal.
16. Considere a seguinte função real de variável real,
ex−1 , se x ≤ 1
f (x) =
1 + log(x), se x > 1.
Mostre que:
(a) f é contı́nua em R;
(b) f tem derivada finita em R;
(c) em nenhum intervalo de R é aplicável a f o teorema de Rolle.
17. Considere a função real de variável real, definida por:
2
ex −x−2 , se x ∈ [−1, 2]
f (x) = 6 x
arc sen , se x ∈]2, 4].
π 4
(a) Averigúe se é possı́vel aplicar o teorema de Rolle ao intervalo [−1, 2] . Em caso afirmativo
determine o número de Rolle correspondente.
(b) Prove que f é limitada.
18. Seja f uma função definida e diferenciável num intervalo I e g(x) = f (cos(x)) f (sen(x)). Suponha-
mos ainda que I contém os pontos −1 e 1 por forma a que g tenha por domı́nio R.
(a) Calcule g ′ (x) e mostre que, em qualquer ponto (a, b) do gráfico de g tal que tg(a) = 1, a
tangente a esse gráfico é horizontal.
(b) Admitindo que f era duas vezes diferenciável em I, o que poderı́amos dizer sobre o número de
raı́zes da equação g ′′ (x) = 0?
19. Em cada um dos seguintes casos verificar se o teorema do valor médio de Lagrange se aplica. Em
f (b) − f (a)
caso afirmativo encontrar o número c em tal que f ′ (c) = .
b−a
1
(a) f (x) = , a = 2, b = 3
x
1
(b) f (x) = , a = −1, b = 3
x
π
(c) f (x) = cos(x), a = 0, b =
2
116 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
π 3π
(d) f (x) = tg(x), a= , b=
4 4
√
(e) f (x) = 1 − x2 , a = −1, b = 0
√
(f) f (x) = 3 x, a = −1, b = 1
(g) f (x) = |x|, a = −1, b = 1
2
20. Considere a função g(x) = ex −4
+ x.
(a) Determine as coordenadas dos pontos do gráfico da função que têm abcissa -1, 1.
(b) A função está nas condições do teorema de Lagrange no intervalo [−1, 1]?
(c) Determine uma equação da recta tangente ao gráfico de g, paralela à recta definida pelos
pontos considerados em a).
21. Seja f : R → R a função definida por:
5 − x2 , se x ≤ 1
f (x) =
3 + x, se x > 1.
x
(a) Mostre, a partir da derivada de f , que a função é contı́nua em R.
(b) Aplique o teorema do valor médio de Lagrange ao intervalo [0, 3]. Determine os valores de c a
que se refere o teorema.
tg(a + x) − tg(a − x)
lim .
x→0 arc tg(a + x) − arc tg(a − x)
27. Seja f uma função contı́nua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[. Demonstre as seguintes afirmações:
(a) Se f ′ (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[, então f é injectiva em [a, b].
(b) Se f ′ (x) ≤ 0 (resp. f ′ (x) ≥ 0), ∀x ∈]a, b[ então f é função decrescente (resp. crescente).
28. Sejam f e g duas funções contı́nuas num intervalo [a, b] e diferenciáveis em ]a, b[. Mostre que:
(a) se f ′ (x) ≤ g ′ (x), ∀x ∈]a, b[, então f (b) − f (a) ≤ g(b) − g(a).
(b) se |f ′ (x)| ≤ g ′ (x), ∀x ∈]a, b[, então |f (b) − f (a)| ≤ g(b) − g(a).
29. Calcule os seguintes limites:
h π i
(a) lim (1 + 3 tg2 (x))cotg(x) ; (i) lim x tg (1 − x) ;
x→0 x→0 2
x − tg(x)
(b) lim ; log x −x ex
x − sen(x)
x→0 (j) lim √ + (1 − e ) ;
x→+∞ 4
x
log x+2
x
(c) lim ; x
x→+∞ log x−2 1 2
x (k) lim x + 1 − x ;
ex
1 x→+∞ x
(d) lim ;
x→0+ cotg(x) x−1 log x
(l) lim (log x) + ;
(e) lim xsen(x) ; x→1 sen(πx)
x→0
1
sen(x) −1
sen(x) ( x−sen(x) )
(f) lim (x + 1) log x ;
x→+∞
(m) lim ;
1 x→0 x
(g) lim | cos(x)| x−π ;
x→π
x1
log(sen(4x)) a x + b x + cx
(h) lim ; (n) lim , a, b, c ∈ R+ .
x→0 log(sen(3x)) x→0 3
sen(ax) − x
lim
x→0 x3 + bx2
seja um número real diferente de zero.
31. Determine os números reais a e b de forma que
cos(x) ax + b
lim − = 0.
x→0 log(x + 1) x
118 3. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Diferencial
Definição 4.1.2 Uma função f diz-se primitivável num intervalo I se existir uma primitiva de f ,
definida em I.
NOTA: Há funções que não são primitiváveis. Por exemplo, a função f : R → R definida por
0, se x < 2
f (x) =
1, se x ≥ 2
não é primitivável em R. De facto, a existência de uma função F : R → R tal que F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ R,
contradiz o Teorema de Darboux: f não toma nenhum valor entre 0 e 1.
Teorema 4.1.1 Se F é primitiva de f , num intervalo I, então, qualquer que seja C ∈ R, a função
G(x) = F (x) + C é também primitiva de f em I.
Demonstração: Usa-se o Corolário 2 do Teorema de Lagrange, notando que F ′ (x) = G′ (x) = f (x),
∀x ∈ I.
NOTAS:
1. Como consequência dos teoremas anteriores temos que todas as primitivas de f são da forma F + C
com F uma primitiva de f e C ∈ R.
2. Se F é uma primitiva de f no intervalo I, designamos por P f qualquer primitiva de f em I, isto
é, P f = F + C, com C ∈ R, qualquer.
122 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
a b
Figura 4.1
Considerando C > 0, podemos fazer a interpretação geométrica que se pode ver na Figura 4.1.
Definição 4.1.3 Chamam-se primitivas imediatas as que se deduzem directamente de uma regra de
derivação.
f (x) P f (x)
xα+1
xα , α 6= −1 +C
α+1
(u(x))α+1
(u(x))α u′ (x), α 6= −1 +C
α+1
1
log(|x|) + C
x
u′ (x)
log(|u(x)|) + C
u(x)
ex ex + C
ax
ax , (a > 0) +C
log(a)
4.1 Primitivas imediatas 123
au(x)
au(x) u′ (x), (a > 0) +C
log(a)
cos(x) sen(x) + C
sen(x) − cos(x) + C
1
√ arcsen(x) + C
1 − x2
u′ (x)
p arcsen(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
−√ arccos(x) + C
1 − x2
u′ (x)
−p arccos(u(x)) + C
1 − (u(x))2
1
arctg(x) + C
1 + x2
u′ (x)
arctg(u(x)) + C
1 + (u(x))2
EXEMPLOS:
x3 x2
P (x2 + x + 1) = P x2 + P x + P 1 = + + x + C;
3 2
2 1 + cos(2x) 1 1 sen(2x)
P cos (x) = P = (P 1 + P cos(2x)) = x+ + C;
2 2 2 2
124 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
1
√ 1 (x2 + 3) 3 +1 3 p
+ C = (x2 + 3) x2 + 3 + C;
3
P 2x 3 x2 + 3 = P 2x(x2 + 3) 3 = 1
3 + 1 4
3x2
P = log |x3 + 1| + C;
x3 + 1
1 1
P e5x = P 5 e5x = e5x + C;
5 5
P 10x cos(5x2 + 7) = sen(5x2 + 7) + C;
2
P = arc tg(2x) + C;
1 + (2x)2
2
P (cos(x) − 2 e3x ) = P cos(x) − 2P e3x = sen(x) − e3x + C;
3
1
x2 1 1 (x3 − 1)− 3 +1 1p
P √ = P x2 (x3 − 1)− 3 = · 1 + C = 3 (x3 − 1)2 + C.
3 3
x −1 3 −3 + 1 2
Teorema 4.1.4 Seja f uma função primitivável num intervalo I. Então, para cada x0 ∈ I e cada
y0 ∈ R, existe uma, e uma só, primitiva F de f tal que F (x0 ) = y0 . Em particular, existe uma, e uma
só, primitiva de f que se anula em x0 .
√
EXEMPLO 1: Calculemos f sabendo que f ′ (x) = x x e f (1) = 2.
Comecemos por calcular as primitivas F de f ′ , pois f é uma dessas funções.
2 5
F (x) = x 2 + C.
5
Mas
2 8
f (1) = 2 ⇔ +C =2⇔C = ,
5 5
2 5 8
portanto, f (x) = x2 + ·
5 5
P (f g) = F g − P (F g ′ )
EXEMPLO 1: Seja h(x) = x log(x). Calculemos a primitiva de h por partes: consideremos f (x) = x e
g(x) = log(x).
2
x2 x 1 x2 1 x2 x2
P (x log(x)) = log(x) − P · = log(x) − P (x) = log(x) − + C.
2 2 x 2 2 2 4
EXEMPLO 2: Podemos primitivar a função h(x) = log(x) usando este método. Sejam f (x) = 1 e
g(x) = log(x).
1
P (log(x)) = P (1. log(x)) = x log(x) − P x = x log(x) − P (1) = x log(x) − x + C.
x
EXEMPLO 3: Seja h(x) = cos(x) log(sen(x)). Sejam f (x) = cos(x) e g(x) = log(sen(x)). Então
cos(x)
P (cos(x) log(sen(x))) = sen(x) log(sen(x)) − P sen(x)
sen(x)
e, portanto,
2 P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)),
ou seja,
x
P (cos(log(x))) = (cos(log(x)) + sen(log(x))) + C.
2
Primitivando novamente por partes, e usando o resultado obtido anteriormente para P (log(x)), obtemos
Teorema 4.2.2 (Primitivação por substituição) Sejam f uma função primitivável num intervalo J
e ϕ uma função bijectiva e diferenciável no intervalo I tal que ϕ(I) = J. Seja Φ(t) = P (f (ϕ(t))ϕ′ (t)).
Então a função F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) é uma primitiva de f em J.
Demonstração: Seja F uma primitiva de f . Como, por hipótese, x = ϕ(t) temos F (x) = F (ϕ(t)). Pela
regra de derivação da função composta
ou ainda,
F (ϕ(t)) = Φ(t) + C,
o que implica que
F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) + C.
x3 √
EXEMPLO 1: Seja f (x) = √ . Para calcular a primitiva de f façamos x − 1 = t, isto é,
x−1
ϕ(t) = 1 + t2 = x.
(1 + t2 )3 t5 t7
P (f (ϕ(t)).ϕ′ (t)) = P 2t = 2 P (1 + t2 )3 = 2 P (1 + 3t2 + 3t4 + t6 ) = 2(t + t3 + 3 + ).
t 5 7
Assim,
x3 √ √ 3 3 √ 5 1 √ 7
P√ =2 x − 1 + ( x − 1) + ( x − 1) + ( x − 1) + C.
x−1 5 7
1
EXEMPLO 2: Consideremos f (x) = · Podemos calcular a sua primitiva fazendo ex = t, isto é,
ex + e−x
ϕ(t) = log(t).
1 1 1
P (f (ϕ(t)).ϕ′ (t)) = P −1
· =P = arc tg(t).
t+t t 1 + t2
Consequentemente,
P f (x) = arc tg(ex ) + C.
NOTA: Usamos, por vezes a notação
Definição 4.3.1 Chama-se função racional toda a função f : D ⊂ R → R que pode ser expressa na
forma
P (x)
f (x) =
Q(x)
em que P e Q são polinómios e D = {x ∈ R : Q(x) 6= 0}.
P (x) = Q(x), ∀x ∈ R ⇔ n = m ∧ an = bm , . . . , a1 = b1 , a0 = b0 .
Definição 4.3.3 Um polinómio P de grau maior ou igual a 1 diz-se redutı́vel se existem polinómios P1
e P2 tais que grau de Pi < grau de P (i = 1, 2) e P (x) = P1 (x)P2 (x). O polinómio P diz-se irredutı́vel
se não for redutı́vel.
É possı́vel determinar quais são precisamente os polinómios irredutı́veis. Considere-se, sem perda de
generalidade, os polinómios unitários (com coeficiente an = 1): P (x) = xn + an−1 xn−1 + · · ·+ a1 x + a0 .
• Um polinómio de grau 2, P (x) = x2 + bx + c é irredutı́vel se, e só se, não tem raı́zes reais, isto é,
b2 − 4ac < 0. Assim os polinómios de grau 2 irredutı́veis são precisamente os polinómios da forma
P (x) = (x − α)2 + β 2 , α, β ∈ R, β 6= 0, associado às duas raı́zes complexas conjugadas α ± iβ.
• Os únicos polinómios irredutı́veis são os considerados e mostra-se que todo o polinómio P (x) com
grau maior ou igual a 1 é produto de polinómios irredutı́veis:
P (x)
Definição 4.3.4 Uma função racional f (x) = diz-se irredutı́vel se P e Q não tiverem raı́zes
Q(x)
comuns.
4x2 + x + 1
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x3 − x
3
Como o número de raı́zes de um polinómio não ultrapassa o seu grau e x − x admite as raı́zes x = 0,
x = −1 e x = 1, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1. Então
4x2 + x + 1 A B C
= + +
x3 − x x x−1 x+1
(A + B + C)x2 + (B − C)x − A
=
x3 − x
4.3 Primitivação de funções racionais 129
Assim:
4x2 + x + 1 −1 3 2
= + +
x3 − x x x−1 x+1
e 2
4x + x + 1 −1 3 2
P = P +P +P
x3 − x x x−1 x+1
(x − 1)3
= log (x + 1)2 + C.
x
2o caso: Q tem raı́zes reais de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite x − a, com a ∈ R, como divisor p
vezes. Na decomposição, a cada raiz a de Q de multiplicidade p vai corresponder uma soma de p parcelas
com a seguinte forma:
Ap Ap−1 A1
+ + ···+ ,
(x − a)p (x − a)p−1 x−a
com Ap , Ap−1 , . . . , A1 constantes a determinar.
2x3 + 5x2 + 6x + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
x(x + 1)3
Como x(x + 1)3 admite as raı́zes x = 0, x = −1 e x + 1 aparece 3 vezes na factorização do polinómio,
podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e multiplicidade 3, respectivamente. Então
2x3 + 5x2 + 6x + 2 A B C D
= + + +
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2 x+1
Assim:
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 −1
= + +
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2
130 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
e
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 1 1
P = P +P − P
x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2
1 1 1
= 2 log |x| − + +C
2 (x + 1)2 x+1
1 1 1
= log x2 − + + C.
2 (x + 1)2 x+1
P (x) M r x + Nr M 1 x + N1 H(x)
= + ···+ + ∗
Q(x) [(x − α)2 + β 2 ]r (x − α)2 + β 2 Q (x)
onde H e Q∗ são polinómios tais que o grau de H é menor que o grau de Q∗, Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , são
números reais e nem α + iβ nem α − iβ são raı́zes do polinómio Q∗ .
1o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade 1, isto é, Q admite como divisores polinómios de grau
2, (uma única vez cada polinómio), que não têm raı́zes reais. Na decomposição, a cada par de raı́zes
(α + iβ, α − iβ) vai corresponder uma parcela com a seguinte forma:
Ax + B
(x − α)2 + β 2
com A e B constantes a determinar.
x2 + 2
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da função f definida por f (x) = ·
(x − 1)(x2 + x + 1)
Como √
2 1 3
(x − 1)(x + x + 1) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = − ± i
2 2
podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1. Então
x2 + 2 A Bx + C
= +
(x − 1)(x2 + x + 1) x − 1 (x + 21 )2 + 3
4
(A + B)x2 + (A − B + C)x + A − C
=
(x − 1)(x2 + x + 1)
Pelo método dos coeficientes indeterminados temos
A+B
= 1
A = 1
A−B+C = 0 ⇔ B = 0
A−C
= 2 C = −1
4.3 Primitivação de funções racionais 131
Assim:
x2 + 2 1 −1
= +
(x − 1)(x2 + x + 1) x − 1 (x + 21 )2 + 3
4
e
x2 + 2 1 −1
P = P +P
(x − 1)(x2 + x + 1) x−1 (x + 12 )2 + 3
4
1
= log |x − 1| − P 1 2 3 .
(x + 2 ) + 4
A primitiva
1
P
(x + 12 )2 + 3
4
√ √
1 3 3 1
calcula-se fazendo a substituição x + = t, isto é, ϕ(t) = t − · (No caso geral, sendo a + ib a
2 2 2 2
raiz, a substituição é x − a = bt). Então
√ !
1 3 2 1 2
P f (ϕ(t)).ϕ′ (t) = P √ · = √ P 2 = √ arc tg(t),
3 2
( t) + 3 2 3 t + 1 3
2 4
portanto,
1 2 2 1
P = √ arc tg √ x+ √ .
(x + 12 )2 + 3
4 3 3 3
Finalmente,
2 2 1
P f (x) = log |x − 1| − √ arc tg √ x+ √ + C.
3 3 3
2o caso: Q tem raı́zes complexas de multiplicidade p, p > 1, isto é, Q admite como divisores polinómios
de grau 2 que não têm raı́zes reais, aparecendo p vezes cada polinómio na factorização de Q. Na decom-
posição, a cada par de raı́zes (α + iβ, α − iβ) vai corresponder uma soma de parcelas com a seguinte
forma:
Ap x + Bp Ap−1 x + Bp−1 A1 x + B1
+ + ···+
((x − α)2 + β 2 )p ((x − α)2 + β 2 )p−1 (x − α)2 + β 2
com Ap , Ap−1 , . . . , A1 , Bp , Bp−1 , . . . , B1 constantes a determinar.
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7
f (x) = ·
(x − 1)(x2 + 2)2
Como √
(x − 1)(x2 + 2)2 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ±i 2
e (x − 1)(x2 + 2)2 tem grau 5, podemos concluir que estas raı́zes têm multiplicidade 1 e multiplicidade 2,
respectivamente. Então
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 A Bx + C Dx + E
= + + 2
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x2 + 2)2 x +2
Assim:
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
= + + 2
(x − 1)(x2 + 2)2 x − 1 (x2 + 2)2 x +2
e
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 1 x−1 −1
P =P +P +P
(x − 1)(x2 + 2)2 x−1 (x2 + 2)2 2
x +2
!
1
x−1 2
= log |x − 1| + P −P x2
(x2 + 2)2 1+ 2
√1
x−1 1 2
= log |x − 1| + P −√ P 2
(x2 + 2)2 2 1 + √x2
x−1 1 x
= log |x − 1| + P − √ arc tg √ .
(x2 + 2)2 2 2
A primitiva
!
x−1 x−1
P =P √ 2
(x2 + 2)2 (x2 + 2 )2
√ √
calcula-se fazendo a substituição x = 2 t, isto é, ϕ(t) = 2 t. Então
√ ! √ √ !
′ 2t−1 √ 2 2t−1
P f (ϕ(t)).ϕ (t) = P 2 2
· 2 = P
(2t + 2) 4 (t2 + 1)2
√ √ ! √ √ !
2 2t 1 2 2t 1
= P − 2 = P 2 −P 2
4 (t2 + 1)2 (t + 1)2 4 (t + 1)2 (t + 1)2
√ √ ! √ √ !
2 2 2 −2 1 2 2 2 −1 1 + t2 − t2
= P 2t(t + 1) − P 2 2
= − (t + 1) − P
4 2 (t + 1) 4 2 (t2 + 1)2
√ √
1 1 2 1 + t2 t2 1 1 2 1 t 2t
= − 2 − P 2 − P = − − P − P
4t +1 4 (t + 1)2 (t2 + 1)2 4 t2 + 1 4 t2 + 1 2 (t2 + 1)2
√
1 1 2 1 t 1 1
= − − arc tg(t) − − + P
4 t2 + 1 4 t2 + 1 2 2 t2 + 1
√ √ √ √ √
1 1 2 2 t 2 2t + 2 2
= − 2 − arc tg(t) − + arc tg(t) = − 2 − arc tg(t),
4t +1 4 4 2(t2 + 1) 8 8(t + 1) 8
4.3 Primitivação de funções racionais 133
portanto, √
x−1 x+2 2 x
P =− − arc tg √ .
(x2 + 2)2 4(x2 + 2) 8 2
Finalmente, √
5 2 x x+2
P f (x) = log |x − 1| − arc tg √ − 2 + 2)
+ C.
8 2 4(x
P (x)
NOTA: Se admite uma decomposição da forma que aparece neste teorema, a sua primitiva pode
Q(x)
ser calculada recorrendo a primitivas de funções da forma
Ax + B Cx + D
e , p > 1.
(x − α)2 + β 2 [(x − α)2 + β 2 ]p
A (α + βt) + B A α + B + A βt
Pt ·β =P
β 2 t2 + β 2 β(t2 + 1)
Aα+B A βt
=P 2
+P
β(t + 1) β(t2 + 1)
Aα+B 1 t
= P 2 +AP 2
β t +1 t +1
Aα+B A
= arctg(t) + log(t2 + 1)
β 2
Portanto,
" 2 #
Ax + B Aα+B x−α A x−α
P = arctg + log + 1 + C.
(x − α)2 + β 2 β β 2 β
No segundo caso, usando a mesma substituição,
Cx + D C(α + βt) + D
P = Pt · β .
[(x − α)2 + β 2 ]p (β 2 t2 + β 2 )p t= x−α β
C (α + βt) + D C α + D + C βt
Pt ·β =P
(β 2 t2 + β 2 )p β 2p−1 (t2 + 1)p
C α+D C βt
=P + P 2p−1 2
β 2p−1 (t2
+ 1)p β (t + 1)p
C α+D 1 C t
= P 2 + 2p−2 P 2
β 2p−1 (t + 1)p β (t + 1)p
C α+D 1 C 1 1
= P 2 − 2p−2 · ·
β 2p−1 (t + 1)p 2β p − 1 (t2 + 1)p−1
1
Resta-nos calcular P ·
(t2 + 1)p
134 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
Mas
1 1 + t2 − t2 1 t2
= = 2 − 2
(t2 + 1)p 2
(t + 1) p (t + 1)p−1 (t + 1)p
o que implica que
1 1 t2
P =P −P 2
(t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t + 1)p
1 t 2t
=P −P · 2
(t2 + 1)p−1 2 (t + 1)p
1 t 1
=P + −P
(t2 + 1)p−1 2(p − 1)(t2 + 1)p−1 2(p − 1)(t2 + 1)p−1
t 2p − 3 1
= 2 p−1
+ P 2 ,
2(p − 1)(t + 1) 2p − 2 (t + 1)p−1
1 1
isto é, o cálculo da primitiva de ficou apenas dependente do cálculo da primitiva de 2 ,
(t2 + 1)p (t + 1)p−1
1
que por sua vez pode, de modo análogo, fazer-se depender do cálculo da primitiva de 2 , e assim
(t + 1)p−2
1
sucessivamente até chegarmos à primitiva de que é imediata.
1 + t2
P (x)
Teorema 4.3.3 Se é uma função racional irredutı́vel, se o grau de P é menor que o grau de Q e
Q(x)
se
Q(x) = a0 (x − a)p · · · (x − b)q [(x − α)2 + β 2 ]r · · · [(x − γ)2 + δ 2 ]s
então a função é decomponı́vel numa soma da forma
P (x) Ap A1 Bq B1
= p
+ ···+ + ···+ q
+ ···+ +
Q(x) (x − a) x−a (x − b) x−b
M r x + Nr M 1 x + N1
+ + ···+ + ···+
[(x − α)2 + β 2 ]r (x − α)2 + β 2
Vs x + Zs V1 x + Z1
+ 2 2 s
+ ···+
[(x − γ) + δ ] (x − γ)2 + δ 2
onde Ap , . . . , A1 , Bq , . . . , B1 , Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , Vs , Zs , . . . , V1 , Z1 são números reais.
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 135
Definição 4.4.1 Designa-se por polinómio em duas variáveis , x e y, com coeficientes reais, a
aplicação P : R × R → R, dada por
com m, n ∈ N0 , aij ∈ R. Define-se o grau de P como o maior inteiro i + j tal que aij 6= 0.
Mais geralmente define-se, de modo análogo, polinómio em p variáveis u1 , . . . , up , como a apli-
cação P : R × · · · × R → R, dada por
| {z }
p vezes
X
P (u1 , . . . , up ) = ai1 ...ip ui11 . . . uipp ,
i1 ,...,ip
X
i1 , . . . , ip ∈ N0 , ai1 ...ip ∈ R e uma soma finita em i1 , . . . , ip .
i1 ,...,ip
Definição 4.4.2 Se P (u1 , . . . , up ) e Q(u1 , . . . , up ) são dois polinómios em p variáveis, chama-se função
racional em p variáveis a uma aplicação da forma
P (u1 , . . . , up )
R(u1 , . . . , up ) =
Q(u1 , . . . , up )
Analisemos então algumas classes de funções susceptı́veis de serem racionalizadas por convenientes
mudanças de variável. No que se segue R designa uma função racional dos seus argumentos.
Expressão Substituição
m p r
f (x) = R(x n , x q , . . . , x s ) x = tµ
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}
m p r
a x+b n a x+b q a x+b s a x+b
f (x) = R x, c x+d , c x+d , . . . , c x+d c x+d = tµ
µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}
f (x) = xα (a + b xβ )γ xβ = t
1 1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ √ = 1 1 · A substituição a usar é x = ϕ(t) =
x+ x 3
x2 + x3
t6 e a primitiva a calcular é
′ 1 5 6t5 t3 2 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P 3 · 6t = P 2 =6P =6 P t −t+1−
t + t2 t (t + 1) t+1 t+1
136 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
t3 t2
=6 − + t − log |t + 1| = 2t3 − 3t2 + 6t − 6 log |t + 1|
3 2
tendo-se assim
1 √ √ √ √
P√ √ = 3 x − 3 3 x + 6 6 x − 6 log( 6 x + 1) + C.
x+ x
3
√
2x + 3
EXEMPLO 2: Seja f (x) = √ · A substituição 2x + 3 = t4 permite resolver o problema. Temos
1 − 4 2x + 3
′ t2 t5 1
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 2t3 = −2 P = −2P 4 3 2
t +t +t +t+1+
1−t t−1 t−1
t5 t4 t3 t2
= −2 + + + + t + log |t − 1|
5 4 3 2
√ √ √ √
( 4 2x + 3)5 ( 4 2x + 3)4 ( 4 2x + 3)3 ( 4 2x + 3)2 √
P f (x) = −2 + + + + 4 2x + 3
5 4 3 2
√
+ log( 4 2x + 3) + C
p√ 2
3
EXEMPLO 3: Seja f (x) = x x2 + 2. Façamos a substituição x 3 = t. Obtemos:
3 1 3 1 3 √
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P t 2 (2 + t) 2 t 2 = P t2 2 + t
2 2
que, como vimos anteriormente (exemplo 2), se resolve fazendo a substituição 2 + t = z 2 , isto é,
3 √ 3
P t2 2 + t = Pz (z 2 − 2)2 · z · 2z z=√2+t
2 2
3
= Pz 2(z 6 − 4z 4 + 4z 2 ) z=√2+t
2
7
z z5 z3
= 3 −4 +4
7 5 3 z=√2+t
3 √ 7 12 √ 5 √ 3
= 2+t − 2+t +4 2+t
7 5
tendo-se finalmente
q√ q 7 q 5 q 3
3 3 2 12 2 2
Px x2 + 2 = x3 + 2 − x3 + 2 +4 x3 + 2 + C.
7 5
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 137
Expressão Substituição
√ √
a x2 + b x + c = a x + t
se a > 0
√ √
a x2 + b x + c = t x + c
√
f (x) = R(x, a x2 + b x + c) se c > 0
√
a x2 + b x + c = t (x − α)
√
ou a x2 + b x + c = t (x − β)
se α e β são zeros reais
distintos de a x2 + b x + c
1
EXEMPLO 1: Consideremos a função f (x) = √ . Como a = 3 podemos usar a substituição
2
x 3x − x + 1
√ √
3x2 − x + 1 = 3 x + t, tendo-se:
√
3x2 − x√+ 1 = 3x2 + 2 3xt + t2
−x − 2 3xt = t2 − 1
1 − t2
x= √ = ϕ(t)
1 + 2 3t
√ √
′ −2 3t2 − 2t − 2 3
o que implica ϕ (t) = √ ·
(2 3t + 1)2
A primitiva a calcular é
√ √
1 −2 3t2 − 2t − 2 3
P · √
1 − t2 √ 1 − t2 (2 3t + 1)2
√ 3· √ +t
1 + 2 3t √ 1+2 √ 3t
2
−2 3t − 2t − 2 3
= P√ √
3(1 − t2 )2 + t(1 − t2 )(2 3t + 1
√ √
−2( 3t2 + t + 3)
= P √ √ √
( 3 − 3t2 + 2 3t2 + t)(1 − t2 )
1 1
1 2
= −2P = −2P + 2
1 − t2 1−t 1+t
1 − t
= log |1 − t| − log |1 + t| = log
1 + t
o que implica que
1 − √3x2 − x + 1 + √3x
1
P √ = log √ √ + C.
x 3x2 − x + 1 1 + 3x2 − x + 1 − 3x
1
EXEMPLO 2: Primitivemos a função f (x) = √ · Tendo em conta que −x2 + 4x − 3 =
2
x√ −x + 4x − 3
0 ⇔ x = 1 ∨ x = 3 podemos usar a substituição −x2 + 4x − 3 = t(x − 3).
138 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
√
−x2 + 4x − 3 = t(x − 3)
p
−(x − 3)(x − 1) = t(x − 3)
−(x − 1) = t2 (x − 3)
3t2 + 1
x= = ϕ(t)
t2 + 1
4t
o que implica ϕ′ (t) = ·
(t2
+ 1)2
A primitiva a calcular é
1 4t
P 2
2 · 2
3t + 1 3t + 1 (t + 1)2
2
·t 2
−3
t +1 t +1
4
= P
(3t + 1)(3t + 1 − 3t2 − 3)
2 2
−2 2 √
= P 2 = − √ arc tg( 3t)
3t + 1 3
o que implica que
√
1 2 √ −x2 + 4x − 3
P √ = − √ arc tg( 3 · ) + C.
x −x2 + 4x − 3 3 x−3
Expressão Substituição
√
a2 − x2 x = a cos(t) ou x = a sen(t)
√
x2 − a2 x = a sec(t) ou x = a cosec(t)
√
x2 + a2 x = a tg(t) ou x = a cotg(t)
√
9 − x2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = · Façamos a substituição x = 3 sen(t) = ϕ(t). Temos ϕ′ (t) = 3 cos(t)
x2
e p p
′ 9 − 9 sen2 (t) 1 − sen2 (t)
P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 3 cos(t) = P · cos(t)
9 sen2 (t) sen2 (t)
cos2 (t)
= P = P cotg2 (t) = P (cosec2 (t) − 1)
sen2 (t)
= −cotg(t) − t
e, assim,
√ √
9 − x2 x x 9 − x2 x
P 2
= −cotg(arc sen( )) − arc sen( ) + C = − − arc sen( ) + C
x 3 3 x 3
4.4 Primitivação de funções algébricas irracionais 139
1
EXEMPLO 2: Consideremos a função f (x) = √ e a substituição x = 4 sec(t) = ϕ(t). Temos
x3 x2 − 16
ϕ′ (t) = 4 sec(t) tg(t) e
1
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P p · 4 sec(t) tg(t)
43 sec3 (t)
16 sec2 (t) − 16
tg(t) tg(t)
= P p =P 3 2
3 2 2
4 sec (t) sec (t) − 1 4 sec (t) tg(t)
1 1 1
= P = 3 P cos2 (t)
43 sec2 (t) 4
1 t sen(2 t)
= +
43 2 4
e, assim,
1 1 1 x sen(2 arc sec( x4 ))
P √ = 3 arc sec( ) + +C
x3 2
x − 16 4 2 4 4
1
EXEMPLO 3: Para calcular as primitivas de f (x) = √ podemos fazer a substituição x =
x2 x2 + 4
2 tg(t) = ϕ(t). Temos ϕ′ (t) = 2 sec2 (t) e
1
P f (ϕ(t))ϕ′ (t) = P p · 2 sec2 (t)
4 tg (t) 4 tg2 (t) + 4
2
Expressão Substituição
f (x) = R(ex ) ex = t
x
A substituição tg = t conduz a uma função racional de t. De facto, de
2
x
x x tg 2 1
sen(x) = 2 sen . cos =2q ·q
2 2 1 + tg2 x
1 + tg2 x
2 2
tg x2 2t
= 2 x
=
1 + tg2 2
1 + t2
e
2
x
2
x 1 tg2 x2
cos(x) = cos − sen = x −
2
2 1 + tg2 2 1 + tg2 x2
x
1 − tg2 2 1 − t2
= x =
1 + tg2 2
1 + t2
conclui-se, tendo em conta que
x 2
tg = t ⇒ x = 2 arc tg(t) = ϕ(t) ⇒ ϕ′ (t) = ,
2 1 + t2
2t 1 − t2 2
P f (x) = Pt R , .
1 + t 1 + t2
2 1 + t2 tg( x
2 )=t
A substituição indicada serve no caso geral, mas em certos casos particulares são preferı́veis outras
substituições. Assim, por exemplo, se R(sen(x), cos(x)) é função par em sen(x) e cos(x) (isto é, se não
se altera ao mudarmos simultaneamente sen(x) para −sen(x) e cos(x) para − cos(x)), pode fazer-se a
substituição tg(x) = t, ou seja, ϕ(t) = arc tg(t) e
t 1
sen(x) = √ e cos(x) = √ ·
1 + t2 1 + t2
1 x
EXEMPLO 1: Calculemos as primitivas de f (x) = · A substituição indicada é tg = t:
2 cos(x) + 1 2
1 2 2
P · =P
1 − t2 1 + t2 3 − t2
2 +1
1 +t2
1 1 1
= √ P √ +√
3 3−t 3+t √
1 √ √ 1 3 + t
= √ (− log | 3 − t| + log | 3 + t|) = √ log √
3 3 3 − t
4.5 Primitivação de funções transcendentes 141
EXEMPLO:
P sen(3x) cos(5x)sen(6x)
1
= P (sen(8x) + sen(−2x)) sen(6x)
2
1 1 1 1
= P (cos(2x) − cos(14x)) − P (cos(−4x) − cos(8x))
2 2 2 2
1 1 1 1
= P cos(2x) − P cos(14x) − P cos(4x) + P cos(8x)
4 4 4 4
1 sen(14x) sen(4x) sen(8x)
= 8 sen(2x) − 7
−
2
+
4
+C
142 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
1 1
P (x2 + 2x + 1)e3x = (x2 + 2x + 1)e3x − P (2x + 2)e3x
3 3
1 1 1
= (x2 + 2x + 1)e3x − (2x + 2)e3x + P 2e3x
3 3 3
1 3x 1 2
= e (x2 + 2x + 1) − (2x + 2) + + C.
3 3 9
As primitivas que obtivemos foram sempre funções elementares, isto é, funções algébricas, a função
exponencial, as funções trigonométricas e as trigonométricas inversas e, de um modo geral, as funções que
se possam obter por composição destas em número finito. Por outras palavras, aprendemos a calcular
primitivas de funções elementarmente primitiváveis. Nem todas as funções estão nesta situação. No
entanto,
Teorema 4.5.4 Toda a função contı́nua num intervalo [a, b] é primitivável nesse intervalo.
4.6 Exercı́cios Propostos 143
3. Primitive, por substituição, usando em cada caso a substituição indicada, as funções definidas por :
x3 √
(a) √ ( x − 1 = t);
x−1
x2
(b) √ (x = 2 sen(t));
4 − x2
r r
1 x+2 x+2
(c) =t ;
x+4 x+4 x+4
1
(d) x (ex = t);
e + e−x
1 x
(e) (tg = t).
sen(x) + cos(x) 2
4. Determine as primitivas das funções racionais definidas pelas expressões analı́ticas seguintes :
x5 x+2
(a) ; (c) ;
2x + 1 3x2 − 12x + 12
x2 + 1 1
(b) ; (d) ;
12 + 3x2 x2 −9
144 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
2x 3x
(e) ; (h) ;
(x + 2)(x − 3) −x2 + x + 6
x3 + x2 + x + 3 t+1
(f) ; (i) 4 ;
x4 + 2x2 − 3 t + t2
x4 2x3
(g) ; (j) .
3 2
2x − 4x + 8x − 16 (x2 + 1)2
(tg(x))n−1
P (tg(x))n = − P (tg(x))n−2 , n ≥ 2.
n−1
xn
14. Seja fn (x) = √ . Mostre que :
a + bx
√
2xn a + bx 2na
P fn (x) = − P fn−1 (x).
(2n + 1)b (2n + 1)b
146 4. Funções Reais de Variável Real: Primitivação
Capı́tulo 5
NOTAS:
2. A partição P fica bem definida pelo conjunto P = {a = x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn , xn+1 = b} pelo que
podemos identificar a partição P com o conjunto P . É claro que, pelo modo como definimos a
partição, consideramos o conjunto P ordenado, isto é, xi < xi+1 , i = 0, 1, . . . , n.
Definição 5.1.2 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições P1 e P2 , diz-se que P1 é mais fina que
P2 se todos os elementos de P1 estão contidos em elementos de P2 .
NOTA: Tendo em conta a Nota 2, a seguir à definição anterior, se P1 e P2 forem os conjuntos de pontos
que definem P1 e P2 , respectivamente, a Definição 5.1.2 poderia ser enunciada do seguinte modo: P1 é
mais fina que P2 se P2 ⊂ P1 .
Proposição 1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas partições de [a, b], P1 e P2 , existe uma partição de
[a, b], P3 , mais fina que P1 e P2 .
Demonstração: Tendo em conta a Nota 2 a seguir à Definição 5.1.1 e a nota a seguir à Definição 5.1.2,
se P1 e P2 são os conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , basta tomar a partição P3 definida por
P3 = P1 ∪ P2 .
Definição 5.1.3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada e P uma partição de [a, b].
Chama-se soma inferior de Darboux de f , relativa à partição P a
n
X
sP (f ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ]
i=0
148 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
NOTAS:
1. As somas superior e inferior estão bem definidas. Como f é limitada em [a, b], f é limitada em
[xi , xi+1 ], isto é, o conjunto {f (x) : x ∈ [xi , xi+1 ]} é limitado e, portanto, tem ı́nfimo e supremo.
2. É óbvio que sP (f ) ≤ SP (f ). Veremos que esta propriedade se pode generalizar: para uma função
limitada em [a, b], qualquer soma superior é maior ou igual a qualquer soma inferior.
3. Se f é uma função não negativa em [a, b], dada uma partição P, a soma inferior de Darboux é
igual à soma das áreas dos rectângulos cujos lados têm comprimento xi+1 − xi e inf f (x) (ver
x∈[xi ,xi+1 ]
Figura 5.1).
Analogamente, a soma superior de Darboux é igual à soma das áreas dos rectângulos cujos lados
têm comprimento xi+1 − xi e sup f (x) (ver Figura 5.2).
x∈[xi ,xi+1 ]
Demonstração: Da Definição 5.1.2, para cada [xi , xi+1 ] ∈ P2 , existem [yj , yj+1 ] ∈ P1 , j = ki , . . . , pi , tais
que ∪pj=k
i
i
[yj , yj+1 ] = [xi , xi+1 ]. Então
pelo que
pi
X pi
X
(yj+1 − yj ) inf f (x) ≥ (yj+1 − yj ) inf f (x) =
x∈[yj ,yj+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki j=ki
pi
X
= inf f (x) (yj+1 − yj ) = (xi+1 − xi ) inf f (x).
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
j=ki
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 149
NOTA: Resulta desta proposição que se a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R é uma função limitada, o conjunto
das somas superiores é minorado (todas as somas inferiores são minorantes) e o conjunto das somas
inferiores é majorado (todas as somas superiores são majorantes); estes conjuntos têm, pois, ı́nfimo e
supremo, respectivamente.
Definição 5.1.4 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Ao ı́nfimo do conjunto
Rb
das somas superiores de f chama-se integral superior de f em [a, b] e representa-se por a f (x) dx. Ao
supremo do conjunto das somas inferiores de f chama-se integral inferior de f em [a, b] e representa-se
Rb Rb Rb
por a f (x) dx. Se a f (x) dx = a f (x) dx, diz-se que f é integrável à Riemann em [a, b]; a este número
Rb Rb Rb
chama-se integral de f em [a, b] e representa-se a f (x) dx = a f (x) dx = a f (x) dx.
NOTAS:
1. Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. O integral superior de f em [a, b] e o
integral inferior de f em [a, b] existem (ver nota antes da definição). No entanto a função pode não
ser integrável; consideremos, por exemplo, a função
1, x ∈ [0, 1] ∩ Q
f (x) =
0, x ∈ [0, 1] \ Q
Como entre quaisquer dois pontos existem racionais e irracionais, dada uma partição qualquer, P,
Z 1 Z 1
inf f (x) = 0 e sup f (x) = 1, pelo que f (x) dx = 0 e f (x) dx = 1.
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] 0 0
2. Se f é contı́nua, não negativa e integrável em [a, b], o integral de f é igual à área da figura limitada
pelo gráfico de f e pelas rectas x = a, x = b e y = 0 (eixo dos xx) (ver Figura 5.3). Para nos
150 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
convencermos deste facto, basta ter em conta as figuras 5.1 e 5.2 e a definição. O integral é o ı́nfimo
do conjunto das somas superiores, que são todas maiores ou iguais que aquela área (ver Figura
5.2), portanto o integral é maior ou igual que a área da figura referida. Por outro lado, o integral
também é o supremo do conjunto das somas inferiores, que são todas menores ou iguais que aquela
área (ver Figura 5.1) portanto o integral é menor ou igual que a área da figura referida. Conclui-se
assim que o integral é igual à área da figura.
Rb
Proposição 4 Se a < b e f (x) = c, ∀x ∈ [a, b], então a
f (x) dx = c (b − a)
Proposição 5 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] tais que f (x) ≤
Rb Rb
g(x), ∀x ∈ [a, b], então a f (x) dx ≤ a g(x) dx.
Demonstração: Qualquer que seja a partição P, sP (f ) ≤ sP (g) pelo que, os integrais, (que, por hipótese,
existem e são iguais aos supremos dos conjuntos das somas inferiores) verificam a desigualdade.
Proposição 6 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. f é integrável se, e só se,
para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que SP (f ) − sP (f ) < ε.
Demonstração: Suponhamos que f é integrável e seja ε > 0, qualquer. Visto que o integral é o supremo
do conjunto das somas inferiores, existe uma partição P1 tal que
Z b
sP1 (f ) > f (x) dx − ε/2; (1)
a
analogamente, visto que o integral é o ı́nfimo do conjunto das somas superiores, existe uma partição P2
tal que
Z b
SP2 (f ) < f (x) dx + ε/2. (2)
a
Rb
Então, SP2 (f ) − ε/2 < a f (x) dx < sP1 (f ) + ε/2 donde obtemos SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε. Se tomarmos uma
partição P, mais fina que P1 e P2 então, pela Proposição 2, SP (f ) ≤ SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε ≤ sP (f ) + ε.
Reciprocamente, suponhamos que para todo o ε > 0 existe uma partição P tal que SP (f )− sP (f ) < ε,
Rb Rb
isto é, SP (f ) < sP (f ) + ε. Então, a f (x) dx ≤ SP (f ) < sP (f ) + ε ≤ a f (x) dx + ε, pelo que, para todo
Rb Rb Rb Rb
o ε > 0, 0 ≤ a f (x) dx − a f (x) dx ≤ ε, o que só é possı́vel se a f (x) dx = a f (x) dx.
5.1 Integral de Riemann: Definição e propriedades 151
Proposição 7 Se a < b e f, g : [a, b] → R são duas funcões integráveis em [a, b] então f + g é integrável
Rb Rb Rb
em [a, b] e a (f + g)(x) dx = a f (x) dx + a g(x) dx.
e
inf g(x) ≤ g(x) ≤ sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
então
inf f (x) + inf g(x) ≤ f (x) + g(x) ≤ sup f (x) + sup g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
pelo que
inf f (x) + inf g(x) ≤ inf (f (x) + g(x)) ≤
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
inf (cf (x)) = c inf (f (x)) e sup (cf (x)) = c sup (f (x)),
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]
152 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
então sP (cf ) = c sP (f ) e SP (cf ) = c SP (f ). Tomando o supremo das somas inferiores e o ı́nfimo das
somas superiores, obtemos:
Z b Z b Z b Z b Z b
(c f )(x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = c f (x) dx = (c f )(x) dx
a a a a a
Se c = −1, inf (−f (x)) = − sup (f (x)) e sup (−f (x)) = − inf (f (x)), pelo que sP (−f ) =
[xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ] [xi ,xi+1 ]
−SP (f ) e SP (−f ) = −sP (f ); então,
Z b Z b Z b Z b
(−f )(x) dx = − f (x) dx e (−f )(x) dx = − f (x) dx
a a a a
Rb Rb
e destas igualdades concluı́mos que a (−f )(x) dx = − a f (x) dx.
Tendo em conta os casos estudados a proposição fica demonstrada (se c < 0, basta observar que
c = −1 (−c) e aplicar o que se mostrou anteriormente).
Demonstração: Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma partição P1 de [a, b] tal que SP1 (f )−sP1 (f ) < ε/2
(Proposição 6). Se ao conjunto dos pontos que definem P1 acrescentarmos c e d, obtemos uma partição
P, mais fina que P1 , pelo que SP (f ) − sP (f ) < ε/2.
Se considerarmos agora a partição P ′ de [c, d], que se obtém de P por considerar apenas os elementos
contidos em [c, d], verifica-se obviamente SP ′ (f ) − sP ′ (f ) < ε/2. Pela Proposição 6, deduzimos que f é
integrável em [c, d].
Falta-nos demonstrar a igualdade dos integrais. Supomos que a < c < d < b. Se a = c ou d = b,
as adaptações (de facto, simplificações) são evidentes. Procedemos, agora, de modo semelhante ao da
demonstração da Proposição 9. Sejam M tal que |g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b] e P2 uma partição de [a, b], mais
fina que P, tal que os elementos de P2 em que c é extremo direito e os elementos de P2 em que d é extremo
esquerdo têm comprimento menor ou igual a ε/(2M ). Se P2′ é a partição de [c, d] que se obtém de P2
por considerar apenas os elementos contidos em [c, d], sP2′ (f ) e sP2 (g) apenas diferem (eventualmente)
em duas parcelas: as que correspondem ao elemento de P2 em que c é extremo direito e ao elemento de
P2 em que d é extremo esquerdo. O mesmo acontece em relação a SP2′ (f ) e SP2 (g). Então,
Demonstração: Se a < c < b, trata-se da Proposição 11. Se c < a < b, então, pela Proposição 11,
Rb Ra Rb Rc Rb
c
f (x) dx = c f (x) dx+ a f (x) dx = − a f (x) dx+ a f (x) dx, donde obtemos o resultado. Os restantes
casos resolvem-se do mesmo modo.
Proposição 13 Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f, g : [a, b] → R são duas funções integráveis em [a, b], então
f g é integrável em [a, b].
Não demonstraremos esta proposição. A sua demonstração, embora possı́vel a este nı́vel, seria dema-
siado longa para os propósitos deste curso.
154 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Demonstração: Pelo Teorema de Cantor, f é uniformemente contı́nua em [a, b]. Dado ε > 0, qualquer,
existe θ > 0 tal que ∀x, y ∈ [a, b], |x − y| < θ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε/(b − a). Se tomarmos uma partição, P,
em que todos os seus elementos tenham comprimento menor que θ, então |f (x)−f (y)| < ε/(b−a), ∀x, y ∈
[xi , xi+1 ], i = 0, . . . , n, pelo que
sup f (x) − inf f (x) = max f (x) − min f (x) < ε/(b − a), i = 0, . . . , n.
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
n
X ε ε
< (xi+1 − xi ) = (b − a) = ε.
i=0
b−a b−a
Pela Proposição 6, f é integrável em [a, b].
Teorema 5.2.2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é contı́nua em [a, b],
excepto num número finito de pontos, então é integrável em [a, b].
Demonstração: Suponhamos que f é contı́nua em [a, b] excepto num ponto c ∈]a, b[. Sejam ε > 0, qualquer
e M > 0 tal que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b]. Então pelo Teorema 5.2.1, f é integrável em [a, c − ε/(12M )] e
em [c + ε/(12M ), b] (podemos sempre tomar ε suficientemente pequeno para nenhum destes intervalos ser
vazio ou se reduzir a um ponto), pelo que, pela Proposição 6, existem partições P1 e P2 de [a, c−ε/(12M )]
e [c + ε/(12M ), b], respectivamente, tais que SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/3 e SP2 (f ) − sP2 (f ) < ε/3. Se
considerarmos a partição P, de [a, b], formada pelos elementos de P1 , por C = [c − ε/(12M ), c + ε/(12M )]
e pelos elementos de P2 , então SP (f ) − sP (f ) < ε (note-se que sup f (x) − inf f (x) ≤ 2 M e que o
x∈C x∈C
comprimento de C é ε/(6M )). Tendo em conta a Proposição 6, f é integrável em [a, b].
Se f não for contı́nua num dos extremos do intervalo, procede-se do mesmo modo, com as adaptações
evidentes. O mesmo acontece para o caso em que há vários pontos de descontinuidade. Apenas temos
que considerar vários conjuntos “C”, um para cada ponto de descontinuidade, e adaptar as constantes.
Teorema 5.2.3 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma função limitada. Se f é monótona em [a, b],
então é integrável em [a, b].
Demonstração: Vamos fazer a demonstração supondo que f é crescente. Para f decrescente, as técnicas
são as mesmas com as adaptações evidentes.
Sejam ε > 0 e M = sup f (x) − inf f (x) = f (b) − f (a). Se M = 0, então f é constante em [a, b],
x∈[a,b] x∈[a,b]
pelo que é integrável. Se M > 0, seja P uma partição de [a, b] tal que todos os seus elementos têm
comprimento menor que ε/M .
Como f é crescente, então inf f (x) = f (xi ) e sup f (x) = f (xi+1 ), pelo que
x∈[xi ,xi+1 ] x∈[xi ,xi+1 ]
n
X n
X
sP = (xi+1 − xi ) f (xi ) e SP = (xi+1 − xi ) f (xi+1 )
i=0 i=0
n
ε X ε
= (f (xi+1 ) − f (xi )) = (f (b) − f (a)) = ε.
M i=0 M
EXEMPLO: A função
0, se x = 0,
f (x) =
1 1 1
, se <x≤ , n∈N
n n+1 n
tem uma infinidade de descontinuidades em [0, 1], mas é integrável, visto ser crescente.
156 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Demonstração: Como f é contı́nua, sabemos que é integrável e que tem máximo e mı́nimo em [a, b]:
existem x0 ∈ [a, b] e x1 ∈ [a, b] tais que
Pelas Proposições 4 e 5,
Z b Z b Z b
f (x0 ) (b − a) = f (x0 ) dx ≤ f (x) dx ≤ f (x1 ) dx = f (x1 ) (b − a)
a a a
isto é,
Z b
f (x) dx
a
f (x0 ) ≤ ≤ f (x1 ).
b−a
Pelo Teorema de Bolzano existe c, entre x0 e x1 , tal que
Z b
f (x) dx
a
f (c) =
b−a
F (x + h) − F (x)
F ′ (x) = lim = lim f (c) = f (x)
h→0 h c→x
(note-se que, para cada h, c está entre x e x + h, pelo que, quando h tende para 0, c tende para x).
NOTA: Do Teorema anterior obtemos, em particular, que toda a função contı́nua em [a, b] é pri-
mitivável em [a, b].
5.3 Teoremas Fundamentais 157
Demonstração: Como o produto de funções contı́nuas é uma função contı́nua, tanto f g com F g ′ são
integráveis em [a, b].
b
Como (F g)′ (x) = F ′ (x) g(x)+F (x) g ′ (x) = f (x) g(x)+F (x) g ′ (x), pela Regra de Barrow, [F (x) g(x)]a
Rb Rb
= a f (x) g(x) dx + a F (x) g ′ (x) donde se conclui o resultado pretendido.
Teorema 5.3.4 (Integração por substituição) Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma função
contı́nua em [a, b] e φ : [α, β] → [a, b] uma função de classe C 1 tal que φ(α) = a e φ(β) = b. Então
Z b Z β
f (x) dx = f (φ(t)) φ′ (t) dt
a α
Demonstração: Sejam G : [a, b] → R uma primitiva de f e H : [α, β] → R a função definida por H(t) =
Rβ
G(φ(t)). Então H ′ (t) = G′ (φ(t)) φ′ (t) = f (φ(t)) φ′ (t), pelo que, pela Regra de Barrow, α f (φ(t)) φ′ (t) dt
Rb
= H(β) − H(α) = G(φ(β)) − G(φ(α)) = G(b) − G(a) e a f (x) dx = G(b) − G(a).
158 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = , pelo eixo dos xx e pelo gráfico
√ 4
R π4 π 2
de cos(x) é dada por: 0 cos(x) dx = sen( ) − sen(0) = .
4 2
2o CASO
Se f é integrável em [a, b] e f (x) ≤ 0, ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a,
Rb
x = b, pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f (Figura 5.4) é dada por − a f (x) dx. De facto, se considerarmos
a simetria em relação ao eixo dos xx, obtemos uma figura com a mesma área (a simetria em relação a
uma recta mantém as áreas invariantes), que é limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos xx e pelo
gráfico de −f (Figura 5.5). Visto que a função −f é não negativa em [a, b], estamos reduzidos ao 1o caso
Rb Rb
e a área é dada por a −f (x) dx = − a f (x) dx.
Figura 5.4
π
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = , x = π, pelo eixo dos xx e pelo gráfico
2
Rπ π π
de cos(x) é dada por: − π cos(x) dx = −(sen(π) − sen( )) = sen( ) = 1.
2 2 2
Figura 5.5
5.4 Áreas de figuras planas 159
NOTAS:
1. Não esquecer que a área de uma figura não degenerada (isto é, não reduzida a um ponto ou segmento
de recta ou curva, etc.) é um número positivo.
Rb
2. Em ambos os casos, 1 e 2, a área é dada por a |f (x)| dx.
3o CASO
Figura 5.6
Se f é integrável em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo eixo dos
Rb
xx e pelo gráfico de f (figura 5.4) é dada por a |f (x)| dx (note-se que os casos anteriores são casos
particulares deste). De facto, se f muda de sinal em [a, b] (figura 5.6), consideramos os subintervalos em
que f é positiva (nestes subintervalos a área é dada pelo integral de f , isto é de |f |) e os subintervalos
em que f é negativa (nestes subintervalos a área é dada pelo integral de −f , isto é de |f |); a área total,
Rb
que é a soma de todas estas áreas é, pois, dada por a |f (x)| dx (Proposição 11).
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = 2 π, pelo eixo dos xx e pelo
R 2π R π/2 R 3π/2 R 2π
gráfico de cos(x) é dada por: 0 | cos(x)| dx = 0 cos(x) dx + π/2 − cos(x) dx + 3π/2 cos(x) dx =
sen(π/2) − sen(0) + (−sen(3π/2) + sen(π/2)) + sen(2π) − sen(3π/2) = 1 − 0 − (−1) + 1 + 0 − (−1) = 4.
4o CASO
Figura 5.7
Se f e g são integráveis em [a, b] e f (x) ≥ g(x), ∀x ∈ [a, b], a área da figura plana limitada pelas
Rb
rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f e pelo gráfico de g (figura 5.7) é dada por a (f (x) − g(x)) dx
Rb
(= a |f (x) − g(x)| dx visto que f (x) − g(x) ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]). Vamos justificar este resultado. Seja k ∈ R
160 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
tal que g(x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b]; então f (x) + k ≥ g(x) + k ≥ 0, ∀x ∈ [a, b] e a área pretendida é igual
à área da figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico de f + k e pelo gráfico de g + k
(trata-se de uma translação da figura anterior). Mas a figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b,
pelo eixo dos xx e pelo gráfico de f + k contém a figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo
eixo dos xx e pelo gráfico de g + k. A área pretendida é, pois, a diferença entre as áreas destas duas
Rb Rb Rb
figuras, isto é, a f (x) − a g(x) dx = a (f (x) − g(x)) dx.
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = 1, pelo gráfico de f (x) = ex e pelo
R1
gráfico de cos(x) é dada por 0 (ex − cos(x)) dx = e1 − sen(1) − e0 + sen(0) = e − sen(1) − 1.
5o CASO
g g
f
g
f f
a c d b
Figura 5.8
Se f e g são integráveis em [a, b], a área da figura plana limitada pelas rectas x = a, x = b, pelo gráfico
Rb
de f e pelo gráfico de g (figura 5.8) é dada por a |f (x) − g(x)| dx. Raciocinamos de modo idêntico ao
do 3o caso. Se f − g muda de sinal em [a, b] (figura 5.8), consideramos os subintervalos em que f ≥ g
(nestes subintervalos a área é dada pelo integral de f − g, isto é de |f − g|) e os subintervalos em que
f < g (nestes subintervalos a área é dada pelo integral de f − g, isto é de |g − f |); a área total, que é a
Rb
soma de todas estas áreas é, pois, dada por a |f (x) − g(x)| dx (Proposição 11).
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelas rectas x = 0, x = π, pelo gráfico de cos(x) e pelo gráfico
Rπ R π/4 Rπ
de sen(x) é dada por: 0 |sen(x) − cos(x)| dx = 0 (cos(x) − sen(x)) dx + π/4 (sen(x) − cos(x)) dx =
√ √
sen(π/4) + cos(π/4)
√ √− sen(0) −
√ cos(0) − cos(π) − sen(π) + cos(π/4) + sen(π/4) = 2/2 + 2/2 − 0 − 1 −
(−1) − 0 + 2/2 + 2/2 = 2 2.
6o CASO
g g
f
g
f f
a c d b
Figura 5.9
5.4 Áreas de figuras planas 161
Se f e g são integráveis, a área da figura plana limitada pelos gráficos de f e g (figura 5.9) é calculada
do seguinte modo: em primeiro lugar calculamos os pontos de intersecção dos gráficos; consideramos as
abcissas destes pontos, isto é, os y ∈ R tais que f (y) = g(y); sejam a o menor dos y e b o maior; a área
Rb
pretendida é dada por a |f (x) − g(x)| dx (trata-se do 5o caso, porque as rectas x = a e x = b têm, cada
uma, um ponto comum com a figura). Note-se que a existência de a e b é garantida pelo facto de a figura
ser limitada.
R1
EXEMPLO: A área da figura plana limitada pelos gráficos das funções x2 e 2 − x2 é dada por −1
((2 −
R1
x2 ) − x2 ) dx = −1 (2 − 2x2 ) dx = 2 · 1 − 2 · 1/3 − (2 · (−1) − 2 · (−1)/3) = 4 − 4/3 = 8/3.
162 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
De modo análogo, se g for uma função integrável no intervalo [a, x], ∀x > a, e se o integral indefinido
Z x
g(t) dt
a
Definição 5.5.1 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo [a, +∞[. Suponhamos que f é
integrável em qualquer intervalo [a, x] com x > a. Seja, para cada x > a,
Z x
F (x) = f (t) dt.
a
e designa-se por Z +∞
f (t) dt.
a
a) Se F (x) tem limite finito quando x → +∞, diz-se que f é integrável (em sentido impróprio) no
Z +∞
intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem sentido ou é convergente.
a
b) Se F (x) não tem limite ou tem limite infinito quando x → +∞, diz-se que f não é integrável no
Z +∞
intervalo [a, +∞[ ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou é divergente.
a
5.5 Integrais impróprios 163
Z +∞
EXEMPLO 1: Consideremos o integral cos(x) dx. Este integral é divergente porque:
0
Z x
lim f (t) dt = lim [ sen(t) ]x0 = lim sen(x)
x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞
Z +∞
Nota: Se o integral f (x) dx é convergente então
a
a) o limite de f quando x → +∞, se existir, é igual a zero;
b) qualquer que seja h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor médio de f no mesmo
intervalo), tende para zero quando x → +∞.
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.1 Se f e g são tais que os integrais f (t) dt e g(t) dt são convergentes e se
Z +∞ a a
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.2 Se o integral f (t) dt é convergente e se b > a então o integral f (t) dt é
a b
convergente e
Z +∞ Z b Z +∞
f (t) dt = f (t) dt + f (t) dt.
a a b
Nem sempre nos interessa saber o valor do integral impróprio e outras vezes não é possı́vel
Z +∞ calculá-lo
2
porque a função não é elementarmente primitivável (considere-se, por exemplo, o integral e−x dx).
0
Precisamos então de critérios que nos permitam saber se um determinado integral impróprio é ou não
convergente. Esses critérios chamam-se critérios de convergência.
Z +∞
Teorema 5.5.3 O integral impróprio de 1 espécie
a
f (t) dt, com f (t) ≥ 0, ∀t ≥ a, é convergente
a
se, e só se, existe uma constante M tal que
Z x
f (t) dt ≤ M, ∀x > a.
a
Z x
Demonstração: Seja F (x) = f (t) dt. Como f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a, F (x) ≥ 0, ∀x ≥ a. Por definição, o
Z +∞ a
porque f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a.
Suponhamos que F é limitada superiormente, isto é, existe uma constante M tal que F (x) ≤ M ,
∀x ≥ a. Como F é crescente, existe e é finito o limite lim F (x) 1 . Além disso, lim F (x) ≤ M .
x→+∞ x→+∞
Se F não é limitada superiormente então para cada M existe sempre um x tal que F (x) > M . Como
Z +∞
F é crescente lim F (x) = +∞, o que significa que f (t) dt é divergente.
x→+∞ a
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.4 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie com funções
a b
integrandas não negativas e suponhamos que existe c ∈ R tal que f (x) ≤ g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b
1 Toda a função real f limitada e monótona numa parte não majorada X de R tem limite quando x → +∞ e lim f (x) =
x→+∞
sup f (x) ou lim f (x) = inf f (x) conforme f é crescente ou decrescente.
x∈X x→+∞ x∈X
5.5 Integrais impróprios 165
Z +∞ Z +∞
Corolário 1 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie com funções
a b
integrandas não negativas e suponhamos que existem c, k ∈ R tais que f (x) ≤ k g(x), ∀x > c.
Z +∞ Z +∞
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a b
Como se pode ver pelo exemplo anterior, é útil conhecer a natureza de alguns integrais impróprios de
modo a facilitar o uso dos critérios de convergência. Um exemplo de tais integrais é o seguinte:
Z +∞
1
EXEMPLO 3: Consideremos o integral √ dx. É um integral impróprio de 1a espécie e a
0 1 + x3
função integranda é positiva no intervalo [0, +∞[. Como
p √ 1 1
1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ 0 < √ < √ , ∀x > 0
1 + x3 x3
Z +∞
1
e √ dx é convergente, podemos concluir, pelo Teorema 5.5.4, que o integral em estudo é conver-
1 x3
gente.
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.5 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie com funções
a b
integrandas positivas e suponhamos que o limite
f (x)
lim
x→+∞ g(x)
existe finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são ambos convergentes
ou ambos divergentes.
f (x)
Demonstração: Seja lim = L, L ∈ R+ . Por definição,
x→+∞ g(x)
f (x)
∀δ > 0 ∃M > 0, x ≥ M ⇒ − L < δ.
g(x)
L
Seja δ = . Então existe M > 0 tal que
2
f (x) L
g(x) − L < , ∀x ≥ M,
2
ou seja, ∀x ≥ M ,
L f (x) L
< −L< −
2 g(x) 2
L f (x) 3L
⇔ < <
2 g(x) 2
L 3L
⇔ g(x) < f (x) < g(x).
2 2
Pelo Teorema 5.5.1 e pelo Corolário do Teorema 5.5.4 temos o resultado pretendido.
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.6 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 1a espécie com funções
a b
integrandas positivas. Se
f (x)
lim = 0,
x→+∞ g(x)
então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é convergente, f (x) dx é convergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é divergente, g(x) dx é divergente.
a b
5.5 Integrais impróprios 167
Se
f (x)
lim = +∞,
x→+∞ g(x)
então
Z +∞ Z +∞
a) se g(x) dx é divergente, f (x) dx é divergente.
b a
Z +∞ Z +∞
b) se f (x) dx é convergente, g(x) dx é convergente.
a b
Demonstração:
f (x) f (x)
lim = 0 ⇔ ∀δ > 0 ∃M > 0 x ≥ M ⇒
< δ.
x→+∞ g(x) g(x)
Mas como as funções são ambas positivas,
f (x) f (x)
g(x) < δ ⇔ g(x) < δ ⇔ f (x) < δg(x).
Z 1
+∞
EXEMPLO 3: O integral
2
e−x dx é um integral impróprio de 1a espécie. Como lim ex2 =
0 x→+∞ 1
Z x2
+∞
x2 1
lim 2 = 0 e 2
dx é convergente, podemos concluir que o integral em estudo é convergente.
x→+∞ ex 1 x
Z +∞ Z +∞
Teorema 5.5.7 Se o integral |f (x)| dx é convergente então o integral f (x) dx é convergente
a a
e verifica-se a desigualdade: Z Z
+∞ +∞
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a
168 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Demonstração: 0 ≤ |f (x)| − f (x) ≤ 2|f (x)|, ∀x ≥ a. Seja g(x) = |f (x)| − f (x). Visto que o integral
Z +∞ Z +∞
|f (x)| dx é convergente, o mesmo acontece ao integral 2 |f (x)| dx e, pelo Teorema 5.5.4,
a Z +∞ Z +∞ a
ou seja, Z Z
+∞ +∞
f (x) dx ≤ |f (x)| dx.
a a
Z +∞
Definição 5.5.2 Diz-se que o integral f (x) dx é absolutamente convergente se o integral
Z +∞ a Z +∞
|f (x)| dx é convergente. Diz-se que o integral f (x) dx é simplesmente convergente se
a Z +∞ a
Z +∞
1
e o integral dx é convergente. Pelo Teorema 5.5.4 o integral
1 x2
Z +∞
sen(x)
x2 dx
1
é convergente. Pelo Teorema 5.5.7 o integral em estudo é convergente e diz-se absolutamente convergente.
Definição 5.5.3 Sejam a ∈ R e f uma função definida no intervalo I =] − ∞, a]. Suponhamos que f é
integrável em qualquer intervalo [x, a] com x < a. Seja
Z a
G(x) = f (t) dt.
x
a) Se G(x) tem limite finito quandoZx → −∞, diz-se que f é integrável (em sentido impróprio) no
a
intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt existe, tem sentido ou é convergente.
−∞
Z a infinito quando x → −∞, diz-se que f não é integrável no
b) Se G(x) não tem limite ou tem limite
intervalo I ou que o integral impróprio f (t) dt não existe ou é divergente.
−∞
A estes integrais também se dá o nome de integrais impróprios de 1a espécie.
5.5 Integrais impróprios 169
É óbvio que o estudo dos integrais impróprios com intervalo de integração ] − ∞, a] é idêntico ao dos
integrais sobre intervalos do tipo [a, +∞[. De resto, qualquer integral daquela forma pode reduzir-se a
Z +∞
um desta última: basta efectuar no integral f (x) dx a substituição x = −t para se concluir que os
a
integrais Z Z
a +∞
f (x) dx e f (−x) dx
−∞ −a
Definição 5.5.4 Seja f : R → R uma função integrável em qualquer intervalo limitado. Diz-se que o
integral de f em R é convergente se existe a ∈ R tal que os dois integrais
Z a Z +∞
f (x) dx e f (x) dx
−∞ a
são convergentes.
= f (x) dx + f (x) dx
−∞ a
Este facto legitima que, em caso de convergência, o integral seja definido pela expressão:
Z +∞ Z a Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ −∞ a
Como
Z x Z 0 0
1 1 at 1 1 ax 1
lim e−at dt = e lim eat dt = lim e = lim − e =
x→+∞ 0 a x→−∞ x x→−∞ a x
x→−∞ a a a
o integral considerado é convergente e
Z +∞
2
e−a|x| dx = .
−∞ a
−2 Z
1
EXEMPLO 3: O integral √ dx é um integral impróprio de 1a espécie. Consideremos o
x2 − 1
−∞
Z −2
1
integral − dx, que sabemos ser divergente. Como
−∞ x
1
√
2
x −1 −x
lim = lim √ =1
x→−∞ 1 x→−∞ x2 − 1
−
x
o integral dado também é divergente.
⇔ 1 ≤ 1 + x2 sen2 (x) ≤ 1 + x2
1 1
⇔1≥ ≥
1 + x2 sen2 (x) 1 + x2
−x −x
⇔ −x ≥ ≥
1 + x2 sen2 (x) 1 + x2
5.5 Integrais impróprios 171
Z 0 Z −1
−x −1
Estudemos o integral dx. Este integral é divergente porque dx é divergente e
−∞ 1 + x2 −∞ x
−x
1 + x2 = lim x2
lim =1
x→−∞ −1 x→−∞ 1 + x2
x
Dada a última desigualdade podemos concluir que o integral em estudo é divergente.
Z +∞
Nota: Seja f integrável em qualquer intervalo limitado. Diz-se que f (x) dx é convergente em valor
−∞
principal se existe (em R) o limite quando x → +∞ da função
Z x
F (x) = f (t) dt.
−x
Z +∞
É a este limite, se existir, que se chama valor principal de Cauchy do integral f (x) dx, e
−∞
Z +∞
que se designa por vp f (x) dx.
−∞
Se o integral for convergente teremos
Z +∞ Z 0 Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
−∞ Z −∞ Z x 0
0
= lim f (t) dt + lim f (t) dt
x→−∞ −x x→+∞ 0
Z x
= lim f (t) dt
x→+∞ −x
Z +∞
= vp f (x) dx.
−∞
Portanto, se o integral converge então é convergente em valor principal, sendo este valor igual ao
integral. Mas a existência do valor principal de Cauchy não implica que o integral seja convergente. Por
exemplo:
Z +∞
1 + x3
vp 2
dx = π
−∞ 1 + x
Z +∞
1 + x3
e o integral 2
dx é divergente.
−∞ 1 + x
Definição 5.5.5 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervaloZ[a, b − ε], ε > 0, mas
x
não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : [a, b[→ R, F (x) = f (t) dt.
a
Z b
Ao integral f (x) dx chama-se integral impróprio de 2a espécie. Se existir finito o limite
a
Z x
lim− f (t) dt
x→b a
172 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2a espécie é divergente.
Tal como no caso dos integrais impróprios de 1a espécie, é útil o conhecimento da natureza de alguns
integrais, como por exemplo:
Z b
1
EXEMPLO: α
dx, α ∈ R. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann, mas se α > 0 a
a (b − x)
função integranda tem limite infinito quando x tende para b e o integral só terá sentido se existir e for
finito o limite Z x
1
lim− α
dt.
x→b a (b − t)
Se α = 1 Z x
1 x
dt = [ − log(b − t) ]a = − log(b − x) + log(b − a)
a b−t
e se α 6= 1 Z x
x
1 (b − t)−α+1 (b − x)−α+1 (b − a)−α+1
dt = − =− +
a (b − t)α −α + 1 a −α + 1 −α + 1
tendo-se
Z x
+∞, se α ≥ 1
1
lim dx = −α+1
x→b− a (b − t)α (b − a)
, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.
Definição 5.5.6 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a + ε, b], ε > 0, mas
Z b
não é integrável em [a, b]. Fica assim definida uma função F : ]a, b] → R, F (x) = f (t) dt.
Z b x
Se o limite não existir ou não for finito diz-se que o integral impróprio de 2a espécie é divergente.
Z b
1
EXEMPLO: O integral α
dx, α ∈ R, é um integral impróprio de 2a espécie se, e só se, α > 0.
a (x − a)
Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann. O integral só terá sentido se existir e for finito o limite
Z b
1
lim+ α
dt.
x→a x (t − a)
Se α = 1 Z b
1 b
dt = [ log(t − a) ]x = log(b − a) − log(x − a)
x t−a
5.5 Integrais impróprios 173
e se α 6= 1
Z b b
1 (t − a)−α+1 (b − a)−α+1 (x − a)−α+1
dt = = −
x (t − a)α −α + 1 x −α + 1 −α + 1
tendo-se
Z x
+∞, se α ≥ 1
1
lim dx = −α+1
x→a+ a (t − a)α (b − a)
, se α < 1
−α + 1
Então o integral converge se, e só se, α < 1.
Definição 5.5.7 Suponhamos que a função f é integrável em qualquer intervalo [a+ε1 , b−ε2], ε1 , ε2 > 0,
mas não é integrável em [a, b − ε2 ] nem em [a + ε1 , b]. Define-se
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx, a < c < b.
a a c
Definição 5.5.8 Se c é um ponto interior do intervalo [a, b] e f é uma função integrável em qualquer
intervalo [a, c − ε1 ], ε1 > 0, e [c + ε2 , b], ε2 > 0, mas não é integrável em [a, b], define-se o integral
impróprio de 2a espécie
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
O integral do primeiro membro é convergente se, e só se, os dois integrais do segundo membro forem
convergentes. Se algum dos integrais do segundo membro for divergente, então o integral do primeiro
membro é divergente.
Z 1
1 1
EXEMPLO: O integral √
3
dx é um integral impróprio de 2a espécie porque lim √
3
= +∞.
−1 x 2 x→0 x2
Temos de estudar os dois integrais
Z 0 Z 1
1 1
√
3
dx e √
3
dx.
−1 x2 0 x2
174 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z x h √ ix
1 3
√
lim √
3 2
dt = lim 3 t = lim 3 3 x + 3 = 3
x→0− −1 t x→0− −1 x→0−
Z 1
h √ i1
1 3
√
√
lim3
dt = lim 3 t = lim 3 − 3 3 x = 3
x→0+ x t2 x→0+ x x→0+
Z 1
1
Portanto, o integral dado é convergente e √
3
dx = 6.
−1 x2
a
Para os integrais impróprios de 2 espécie, os critérios de convergência são idênticos aos obtidos para
os integrais impróprios de 1a espécie. As demonstrações podem ser efectuadas de maneira semelhante,
com adaptações evidentes, pelo que as omitimos.
Z b Z b
Teorema 5.5.9 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie (no mesmo
a a
limite de integração) com funções integrandas não negativas e suponhamos que f (x) ≤ g(x), ∀a ≤ x < b
(ou, ∀a < x ≤ b).
Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a
Z b Z b
Teorema 5.5.10 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie (no mesmo
a a
limite de integração) com funções integrandas positivas e suponhamos que o limite
f (x) f (x)
lim ou, lim+
x→b− g(x) x→a g(x)
é finito e diferente de zero. Então os integrais são da mesma natureza, isto é, são ambos convergentes
ou ambos divergentes.
EXEMPLO 1: O integral
Z 1
1
√ dx
1
2
1 − x4
é impróprio de 2a espécie, porque para x = 1 a função integranda se torna infinita. Consideremos o
integral impróprio de 2a espécie convergente
Z 1
1
1 dx.
1
2
(1 − x) 2
5.5 Integrais impróprios 175
1
√ 1
1 − x4 (1 − x) 2 1 1
lim− = lim− 1 = lim 1 =
x→1 1 1 1
x→1 (1 − x) 2 (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2
1
x→1− (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2 2
1
(1 − x) 2
podemos concluir que os dois integrais têm a mesma natureza, ou seja, o integral dado é convergente.
EXEMPLO 2: O integral
Z 2
1
3 dx
0 (2x − x2 ) 2
é um integral impróprio de 2a espécie nos dois limites de integração. Estudemos os integrais
Z 1 Z 2
1 1
3 dx e 3 dx.
0 (2x − x2 ) 2 1 (2x − x2 ) 2
Z 1
1
Como o integral 3 dx é divergente e
0 x2
1
3 3
(2x − x2 ) 2 x2 1 1
lim = lim 3 3 = lim 3 =
x→0+ 1 x→0+ x 2 (2 − x) 2 x→0+ (2 − x) 2 22
3
3
x2
Z 2
1
o integral 3 dx é divergente. Podemos então concluir que o integral dado inicialmente é
1 (2x − x2 ) 2
divergente.
Z b Z b
Teorema 5.5.11 Sejam f (x) dx e g(x) dx dois integrais impróprios de 2a espécie (no mesmo
a a
limite de integração) com funções integrandas positivas. Suponhamos que
f (x) f (x)
lim =0 ou, lim+ =0 .
x→b− g(x) x→a g(x)
Z b Z b
a) Se g(x) dx é convergente então f (x) dx é convergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é divergente então g(x) dx é divergente.
a a
Suponhamos que
f (x) f (x)
lim = +∞ ou, lim+ = +∞ .
x→b− g(x) x→a g(x)
Z b Z b
a) Se g(x) dx é divergente então f (x) dx é divergente.
a a
Z b Z b
b) Se f (x) dx é convergente então g(x) dx é convergente.
a a
176 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z b Z b
Teorema 5.5.12 Seja f (x) dx um integral impróprio de 2 espécie. Se o integral a
|f (x)| dx é
a Z b a
Z b
Definição 5.5.9 Diz-se que o integral impróprio de 2 espécie f (x) dx é absolutamente conver-
a
Z b Z ba Z b
gente se o integral |f (x)| dx é convergente. Se o integral f (x) dx é convergente e |f (x)| dx é
a Z b a a
Estudemos o integral
Z 1 Z 1
1 1
√ dx = 1 1 dx.
0 1 − x2 0 (1 − x) (1 + x) 2
2
Z 1
1
O integral 1 dx é convergente e
0 (1 − x) 2
1
1 1
(1 − x) (1 + x) 2
2 1 1
lim− = lim− 1 = √ ,
x→1 1 x→1 (1 + x) 2 2
1
(1 − x) 2
Z 1
1
o que implica que o integral √ dx é convergente. Pelo Teorema 5.5.9, o integral
0 1 − x2
Z 1
cos(πx)
√
1 − x2 dx
0
é convergente. Pelo Teorema 5.5.12, o integral dado é convergente e diz-se absolutamente convergente.
Podem ainda considerar-se integrais impróprios mistos: por exemplo, com algum limite de integração
infinito e em que a função integranda se torne ilimitada num número finito de pontos do intervalo de
integração. Neste caso, a definição do integral faz-se dividindo o intervalo de integração por forma que
se obtenham integrais dos tipos anteriores; se os integrais assim obtidos são convergentes diz-se que o
integral misto é convergente e o seu valor é igual à soma dos valores dos integrais correspondentes aos
subintervalos. Se algum dos integrais obtidos é divergente o integral misto é divergente.
5.5 Integrais impróprios 177
Z +∞
1
EXEMPLO 1: O integral 3+1
dx é um integral impróprio misto porque x3 +1 = (x+1)(x2 −x+1),
−2 x
podendo fazer-se a decomposição
Z +∞ Z −1 Z 1 Z +∞
1 1 1 1
3
dx = 3
dx + 3
dx + 3
dx,
−2 x +1 −2 x + 1 −1 x + 1 1 x +1
sendo os dois primeiros integrais do 2o membro de 2a espécie e o último de 1a espécie.
Z −1
1
Como o integral dx é divergente e
−2 −x − 1
1
lim x3 + 1 = lim 1 + x = lim 1+x
= lim
1
=
1
x→−1− 1 x→−1− x3 + 1 x→−1− (1 + x)(x2 − x + 1) x→−1− x2 − x + 1 3
1+x
Z −1
1
o integral dx é divergente. Então o integral misto é divergente.
−2 +1 x3
Z −1
1
EXEMPLO 2: O integral 3 dx é um integral impróprio misto, tendo-se
2
−∞ (x − 4) 5
Z −1 Z −3 Z −2 Z −1
1 1 1 1
3 dx = 3 dx + 3 dx + 3 dx.
2 2 2 2
−∞ (x − 4) 5 −∞ (x − 4) 5 −3 (x − 4) 5 −2 (x − 4) 5
Temos
1
3 6
(x2 − 4) 5 x5
lim = lim 3 = 1
x→−∞ 1 2
x→−∞ (x − 4) 5
6
x5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
−∞ (x2 − 4) 5
Z −2
1
O integral de 2a espécie 3 dx é convergente e
−3 (−2 − x) 5
1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim = lim − 3 =
x→−2− 1 x→−2 (x − 2) 5 45
3
3
(−2 − x) 5
Z −3
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
2
(x − 4) 5
Z −2
−1
1
O integral de 2a espécie 3 dx é convergente e
−2 (x + 2) 5
−1
3
(x2 − 4) 5 −1 1
lim = lim 3 =
x→−2+ 1 x→−2+ (x − 2) 5 45
3
3
(x + 2) 5
178 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z −1
1
o que implica que o integral 3 dx é convergente.
− 4) 5 −2 (x2
Podemos então concluir que o integral dado é convergente.
1
x−3p (x2 − 2x + 5) 1 1
lim = lim+ 2 =
x→0+ 1 x→0 x − 2x + 5 5
x−3p
1
o integral (6) converge se, e só se, p > − .
3
Se p ≥ 0, o integral que acabámos de estudar é de Riemann. Podemos então concluir que o integral
1
(6) converge se, e só se, p > − .
Z +∞ 3
1 1
O integral 2−3p
dx converge se, e só se, 2 − 3p > 1, isto é, p < e
1 x 3
x3p
x2 − 2x + 5 = lim x2
lim =1
x→+∞ 1 x→+∞ x2 − 2x + 5
x2−3p
1
pelo que podemos concluir que o integral de 1a espécie converge se, e só se, p < .
3
1 1
Então o integral (5) converge se, e só se, − < p < .
3 3
Consideremos o integral
Z 3
7
α (3 − x)β+1
dx. (7)
−2 (x + 2)
5.5 Integrais impróprios 179
7
(x + 2)α (3 − x)β+1 7 7
lim + = lim + = β+1
x→−2 1 x→−2 (3 − x)β+1 5
(x + 2)α
7
(x + 2)α (3 − x)β+1 7 7
lim− = lim− = α
x→3 1 x→3 (x + 2)α 5
(3 − x)β+1
podemos concluir que o segundo integral converge se, e só se, β < 0 e α ∈ R.
O integral (7) será convergente se, e só se, α < 1 e β < 0.
Entre os integrais com parâmetros há dois especialmente importantes:
Z +∞ Z 1
p−1 −x
Γ(p) = x e dx e β(p, q) = xp−1 (1 − x)q−1 dx,
0 0
p, q ∈ R. Estes integrais, quando convergentes, definem duas funções: a função Gama, no primeiro
caso, e a função Beta, no segundo. Pretendemos estudar o domı́nio destas funções, isto é, saber para
que valores dos parâmetros são convergentes os integrais que as definem.
Comecemos por estudar o integral
Z +∞
Γ(p) = xp−1 e−x dx (8)
0
xp−1 e−x
lim = 0, ∀p ∈ R
x→+∞ 1
x2
podemos concluir que o integral de 1a espécie é convergente qualquer que seja p ∈ R.
180 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z 1
a 1
O integral impróprio de 2 espécie dx é convergente se, e só se, 1 − p < 1, isto é, p > 0. Além
0 x1−p
disso,
xp−1 e−x
lim+ = lim+ e−x = 1,
x→0 1 x→0
x1−p
o que implica que o integral de 2a espécie é convergente se,e só se, p > 0.
Então o integral (8) converge se, e só se p > 0, isto é, a função Γ tem domı́nio R+ .
Consideremos o integral
Z 1
xp−1 (1 − x)q−1 dx (9)
0
xp−1 (1 − x)q−1
lim+ = lim+ (1 − x)q−1 = 1
x→0 1 x→0
x1−p
podemos concluir que o primeiro integral é convergente se, e só se, p > 0.
Z 1
1
O integral dx converge se, e só se, 1 − q < 1, isto é, q > 0. Como
1 (1 − x)1−q
2
xp−1 (1 − x)q−1
lim = lim xp−1 = 1
x→1− 1 x→1−
(1 − x) 1−q
podemos concluir que o segundo integral é convergente se, e só se, q > 0.
Então o integral (9) converge se, e só se, p > 0 e q > 0, isto é, a função Beta tem sentido para p > 0
e q > 0.
1
EXEMPLO 1: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) = eo
1 + x2
eixo dos xx (ver Figura 5.10).
O valor da área é dado pelo valor do integral impróprio
Z +∞
1
dx.
−∞ 1 + x2
5.5 Integrais impróprios 181
Figura 5.10
Z +∞ Z 0 Z +∞
1 1 1
dx = dx + dx
−∞ 1 + x2 −∞ 1 + x2 0 1 + x2
Z +∞ Z x
1 1
= 2 dx = 2 lim dt
0 1 + x2 x→+∞ 0 1 + t2
x
= 2 lim [ arc tg(t) ]0 = 2 lim arc tg(x) = π
x→+∞ x→+∞
1
EXEMPLO 2: Calculemos a área do domı́nio determinado pela imagem da função f (x) = p , as rectas
|x|
x = −3 e x = 2 e o eixo dos xx (ver Figura 5.11).
Figura 5.11
Z 2
1
p dx.
−3 |x|
182 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z 2 Z 0 Z 2 Z x Z 2
1 1 1 1 1
p dx = p dx + p dx = lim √ dt + lim √ dt
−3 |x| −3 |x| 0 |x| x→0− −3 −t x→0+ x t
√ x h √ i2
= lim −2 −t −3 + lim 2 t
x→0− x→0+ x
√ √ √ √ √ √
= lim −2 −x + 2 3 + lim 2 2 − 2 x = 2 3 + 2 2
x→0− x→0+
5.6 Exercı́cios Propostos I 183
4. Calcule
√ Z
Z (3 3)/2 16
x2 1
(a) √ dx; (h) √ √ dx;
3/2 9 − x2 1
4
x+ x
Z 1
Z π/3
tg(x) x3
(b) dx; (i) √ dx;
0 3 + sen2 (x) 0 9 − x2
Z −π
Z log 4
e 3x 3 cos(x)
(c) dx; (j) dx;
log 3 (1 + e2 x )(ex − 2) −π
2
cos2 (x) + sen(x) − 1
Z π/4 Z π/4
sen2 (x) x
(d) dx; (k) dx;
0 1 + cos2 (x) 0 cos2 (x)
Z 3 Z π/2
1 cos(x)
(e) √ dx; (l) dx;
1 4 x − x2 0 1 + cos(x)
Z π/2 Z log(2)
1 ex + 2
(f) dx; (m) dx;
π/3 1 + sen(x) − cos(x) 0 e2 x+ ex
Z π/3 Z 2
tg(x) ex
(g) dx; (n) dx.
0 3 + sen2 (x) 1 (e2x + 2) (ex − 1)
5. Calcule
Z 1 Z log 6
e3x + e2x − 3ex e2x
(a) dx; (f) dx;
0 (ex + 1)(e2x + 2) log 3 (ex − 2)(e2x + 1)
Z 1 Z π
1 2 1
(b) √ dx; (g) dx;
2
x 4x + 3x + 2
1
2 0 3 + 2 cos(x)
Z 16 √ Z π
4
x 4 sen2 (x)
(c) √ dx; (h) dx;
1 1 + x 0 1 + 2 sen(x) cos(x)
Z 1 Z 16 √
x2 x+2
(d) √ dx; (i) √ dx;
−1 4 − x2 9 (x − 4)2 x
Z 2 Z 1 √
e3x + 1 x+1+1
(e) dx; (j) dx.
1 (ex − 1)(e2x + 1) 0 x+2
6. Considere a função
0,
se x = 0,
f (x) = 2 x log(x)
, se x > 0.
(1 + x2 )2
(a) Mostre que f é contı́nua em [0, 1].
(b) Calcule F , primitiva de f , tal que F (0) = 1.
R1
(c) Calcule 0 f (x) dx.
5.6 Exercı́cios Propostos I 185
(a) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções y = cos(x) e y = cos2 (x), entre os pontos
de abcissa 0 e π.
(b) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções f (x) = x4 − 2 x2 + 1 e g(x) = 1 − x2 .
1 1
(c) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = √ , y = √ e
2+ x 2− x
x = 1.
√
√ x+1
(d) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = 2 − x e y = √ .
2 x
1 3
(e) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = e y = −x + .
x+1 2
(f) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções f (x) = x2 − x − 2 e g(x) = x + 1.
(g) Domı́nio plano limitado pelo eixo dos yy e pelos gráficos das funções f (x) = e2x e g(x) =
e−(x+1) .
(h) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = x − 2 e y = (x2 − 1)(x − 2).
186 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
π 2
(i) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções f (x) = arctg(x) e g(x) = x .
4
(j) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = e3x e y = x2 e3x .
(k) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = x3 − 6x + 1 e y = x2 + 1.
(l) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções f (x) = log(x), g(x) = − log(x) e as rectas
1
x = e x = e.
2
√
(m) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = x2 − 1 e y = x2 − 1.
(x − 2)2
(n) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = 4 − e y = x2 .
4
(o) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das funções f (x) = log(3x) e g(x) = log(x2 + 2).
(p) Domı́nio plano limitado pelos gráficos das curvas de equação y = arctg(x), y = arctg(−x),
x = −1 e x = 1.
(q) Domı́nio plano limitado pelo gráfico da função real de variável real f (x) = x log(x) no semi-
plano x ≤ e.
x2 y2 x2
3. Calcule a área da porção da elipse de equação
+ = 1, exterior à elipse de equação + y 2 = 1.
4 16 4
√ √
4. Calcule a área da figura do primeiro quadrante, limitada pelas curvas y = 1 − x2 , y = 33 (x + 1),
x = 0 e y = 0.
5. Calcule a área da figura do 1o quadrante limitada pelo eixo dos xx, pelo eixo dos yy, pela recta de
equação y = 2 x − 1 e pela parábola de equação y = −x2 + 2 x + 3.
6. Calcule a área da figura do primeiro quadrante limitada pelos gráficos das curvas de equação x2 −
1
y + 1 = 0, y = , y = −x + 7 e x = 4.
x+1
7. Considere a restrição principal da função real de variável real f (x) = tg(x). Calcule a área da figura
limitada pelos gráficos das curvas de equação y = tg(x), y = tg(−x) e y = 1.
8. Considere a função real de variável real definida por f (x) = (1 − x)e−x . Calcule a área do domı́nio
plano limitado pelo gráfico da função f e pela recta y = 0, no intervalo [0, 5].
5.6 Exercı́cios Propostos I 187
Z 1 s
2 Z 1
log(x2 + 1)
(e) dx. (i) dx.
0 x(1 − x2 ) x3
0
Z +∞ √ Z +∞
3 x log (x)
(o) √ dx (r) √ dx.
1 x4 − 1 2 x 3 x2 − 4
Z +∞ Z +∞
2x + 1 sen(x)
(p) 2
√ dx. (s) √ dx.
2 (x + 3) x − 2 3 (x2 − 2) x − 3
Z +∞
√
x2 − 1
(q) 3
dx.
1 (x + 2)(x − 1)
Z +∞
5. Determine o valor de β de modo que β e−3|x−1| dx = 2.
−∞
12. Seja a ∈ R+ e f uma função real de variável real contı́nua em [0, +∞[. Mostre que os integrais
Z +∞ Z +∞
f (x) dx e √ 2xf (x2 ) dx têm a mesma natureza.
a a
Z +∞
f (t)
13. Seja f : [0, +∞[→ R uma função contı́nua tal que dt é convergente. Mostre que
1 t
Z +∞
f (kt)
dt é convergente, se u e k são números reais estritamente positivos.
u t
Z +∞
14. A função Gama, Γ, é definida por Γ(x) = tx−1 e−t dt. O domı́nio desta função é R+ .
0
ex
15. Calcule a área da região definida pelo gráfico da função f (x) = e pelo eixo dos xx.
1 + e2x
16. Calcule a área da região definida pelos gráficos das funções f (x) = log(x), g(x) = − log(x), no
semiplano x ≤ 1.
1
17. Calcule a área da região definida, no semiplano x ≥ 1, pelos gráficos das funções f (x) = 2 e
x
1
g(x) = 3 .
x
1
18. Calcule a área da região definida pelo gráfico da função f (x) = e pelo eixo dos xx.
x(1 + log2 (x))
x
19. Calcule a área da região do plano situada entre a recta y = 0 e o gráfico da função f (x) = √ .
1 − 9x2
arctg(x)
20. Calcule a área da região do plano situada entre a recta y = 0 e o gráfico da função f (x) = .
1 + x2
x
21. Calcule a área da região definida pelo gráfico da função f (x) = p e pelo eixo dos xx.
(x + 1)3
2
22. Calcule a área da região do plano situada entre a recta y = 0 e o gráfico da função f (x) = e−|x| .
earctg(x)
23. Calcule a área da região do plano situada entre a recta y = 0 e o gráfico da função f (x) = .
1 + x2
1
24. Calcule a área da região do plano situada entre a recta y = 0 e o gráfico da função f (x) = .
1 + (2x)2
25. Calcule a área da região do 1o quadrante definida pelo gráfico da função f (x) = xe−x e pelo eixo
dos xx.
1
26. Calcule a área da região do 1o quadrante definida pelo gráfico da função f (x) = .
(x + 1)2
1
27. Domı́nio plano ilimitado definido pelo gráfico da função y = e pelo eixo do xx.
1 + x2
190 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
RESOLUÇÃO
e Z Z Z x
0 x
ex et et
√ dx = lim √ dt = lim p dt
−1 1 − e2x x→0− −1 1 − e2t x→0− −1 1 − (et )2
x
= lim− arcsen(et ) −1 = lim− arcsen(ex ) − arcsen(e−1 )
x→0 x→0
π
= − arcsen(e−1 ).
2
5.6 Exercı́cios Propostos I 191
Portanto,
Z 0
ex π π
√ dx = arcsen(e−1 ) + − arcsen(e−1 ) = ,
−∞ 1−e 2x 2 2
ou seja, o integral é convergente.
2. (a) Dado que a função arctg(x) tem domı́nio R e é contı́nua nesse conjunto, o integral
Z +∞
π
− arctg(x) dx
0 2
é um integral impróprio de 1a espécie. Por definição,
Z +∞ Z x
π π
− arctg(x) dx = lim − arctg(t) dt =
0 2 x→+∞ 0 2
x
π 1
= lim t − t arctg(t) + log(1 + t2 ) =
x→+∞ 2 2
0
π 1 2
= lim x − x arctg(x) + log(1 + x ) = +∞
x→+∞ 2 2
Sendo este limite infinito, o integral em estudo é divergente.
Nota 1: O cálculo da primitiva da função arctg(x) faz-se por primitivação por partes obtendo-
1
se o resultado P arctg(x) = x arctg(x) − log(1 + x2 ).
2
π
π − arctg(x)
Nota 2: No cálculo do valor do limite lim x − x arctg(x) = lim 2 = 1
x→+∞ 2 x→+∞ 1
x
utilizou-se a Regra de Cauchy.
3. (a) Consideremos o integral impróprio
Z 1
1
√ dx.
0 x (1 − x)2/3
Podemos escrever
Z 1 Z 12 Z 1
1 1 1
√ dx = √ dx + √ dx.
0 x (1 − x)2/3 0 x (1 − x)2/3 1
2
x (1 − x)2/3
Z 1
2 1
O integral √ dx é um integral impróprio de 2a espécie no limite inferior de
0 x (1 − x)2/3
1
integração, porque lim+ √ = +∞.
x→0 x (1 − x)2/3
Z 1
1
O integral √ 2/3
dx é um integral impróprio de 2a espécie no limite superior de
1
2
x (1 − x)
1
integração, porque lim− √ = +∞.
x→1 x (1 − x)2/3
Z 12
1
Estudemos o integral impróprio de 2a espécie √ dx. Consideremos o integral
0 x (1 − x)2/3
Z 12
1
1 dx que sabemos ser convergente. O limite
0 x 2
1
√
x (1 − x)2/3 1
lim = lim = 1,
x→0 + 1 x→0 (1 − x)2/3
+
1
x2
192 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
é finito e diferente de zero, o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma
Z 12
1
natureza, sendo, portanto, convergente o integral √ dx.
0 x (1 − x)2/3
Z 1
1
Para estudar a natureza do integral impróprio de 2a espécie √ dx vamos com-
1
2
x (1 − x)2/3
Z 1
1
pará-lo com o integral dx, que é convergente.
1 (1 − x)2/3
2
Como
1
√
x (1 − x)2/3 1
lim = lim √ = 1
x→1 − 1 x→1 − x
(1 − x)2/3
os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
Z 1
1
√ dx
1
2
x (1 − x)2/3
é convergente.
Concluı́mos, assim, que o integral dado converge.
(b) O integral
Z π/2 √
x
dx
0 sen(x)
√ √
x x
é impróprio de 2a espécie porque lim+ = +∞ e é contı́nua em ]0, π2 ]. Como
x→0 sen(x) sen(x)
a função integranda é positiva no intervalo de integração podemos aplicar um critério de
Z π/2
1
comparação. Consideremos o integral 1 dx que sabemos ser convergente. O limite
0 x2
√
x
sen(x) x
lim = lim = 1,
x→0+ 1 x→0+ sen(x)
1
x2
é finito e diferente de zero, o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma
Z π/2 √
x
natureza, sendo, portanto, convergente o integral dx.
0 sen(x)
(c) O integral
Z π/2
sen(x)
dx
0 1 − cos(x)
sen(x)
é um integral impróprio de 2a espécie porque lim = +∞ e a função integranda é
x→0+ 1 − cos(x)
contı́nua em ]0, π2 ].
Por definição,
Z π/2 Z π/2
sen(x) sen(t) π/2
dx = lim+ dt = lim+ [log(1 − cos(t))]x =
0 1 − cos(x) x→0 x 1 − cos(t) x→0
4. (a) O integral
Z +∞
1
√ dx
1 x x−1
1
é um integral impróprio misto. De facto, lim √ = +∞ e o intervalo de integração é
x→1+ x x−1
ilimitado. Podemos escrever
Z +∞ Z 2 Z +∞
1 1 1
√ dx = √ dx + √ dx.
1 x x − 1 1 x x − 1 2 x x −1
O integral
Z 2
1
√ dx
1 x x−1
é um integral impróprio de 2a espécie no limite inferior de integração.
O integral
Z +∞
1
√ dx
2 x x−1
é um integral impróprio de 1a espécie.
Z 2 Z 2
1 1
Estudemos o integral impróprio de 2a espécie √ dx. O integral 1 dx é
1 x x−1 1 (x − 1) 2
1
convergente pois α = < 1. O limite
2
1
√
x x−1 1
lim+ = lim+ = 1,
x→1 1 x→1 x
1
(x − 1) 2
é finito e diferente de zero, o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma
Z 2
1
natureza, sendo, portanto, convergente o integral √ dx.
1 x x−1
Z +∞
1
Para estudar a natureza do integral impróprio de 1a espécie √ dx vamos compará-
Z +∞ 2 x x−1
1
lo com o integral 3 dx, que é convergente.
2 x 2
Como
1
√ √ r
x x−1 x x x
lim = lim √ = lim =1
x→+∞ 1 x→+∞ x x − 1 x→+∞ x−1
3
x2
os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
Z +∞
1
√ dx
2 x x−1
O integral
Z 2
sen(x)
√ dx
1 x4 − 1
a
é um integral impróprio de 2 espécie no limite inferior de integração.
O integral
Z +∞
sen(x)
√ dx
2 x4 − 1
a
é um integral impróprio de 1 espécie.
2 Z
a sen(x)
Estudemos o integral impróprio de 2 espécie √ dx. Consideremos o integral
Z 2 1 x4 − 1
1
1 dx que sabemos ser convergente. O limite
1 (x − 1) 2
sen(x)
√ 1
x4 − 1 (x − 1) 2 sen(x) sen(x) sen(1)
lim = lim 1 = lim 1 = ,
x→1+ 1 1 1
x→1+ (x − 1) 2 (x + 1) 2 (x2 + 1) 2
1
x→1+ (x + 1) 2 (x2 + 1) 2 2
1
(x − 1) 2
Z +∞ Z +∞
1 1
estudemos o integral √ dx. Para isso vamos compará-lo com o integral 2
dx,
2
4
x −1 2 x
que é convergente.
Sendo o limite
1
√
x4 − 1 x2
lim = lim √ =1
x→+∞ 1 x→+∞ x4 − 1
x2
finito
Z +∞ e diferente de zero, os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
1
√ dx é convergente, pelo que, pelo Critério Geral de Comparação, o integral
x4−1
Z2 +∞ Z +∞
sen(x) sen(x)
√ dx é convergente, o que implica que √ dx é absolutamente con-
x4 − 1 x4 − 1
2 2
vergente.
Concluı́mos, assim, que o integral dado converge.
5.6 Exercı́cios Propostos I 195
Z +∞
1 1
(c) O integral dx é um integral impróprio de 1a espécie porque a função
2 x log(x) x log(x)
é contı́nua em [2, +∞[ e o intervalo de integração é ilimitado. Por definição,
Z +∞ Z x 1
1 t x
dx = lim dt = lim [log(log(t))]2
2 x log(x) x→+∞ 2 log(t) x→+∞
O integral
Z 4
cos(x)
√ dx
3 (x − 1) x − 3
a
é um integral impróprio de 2 espécie no limite inferior de integração.
O integral
Z +∞
cos(x)
√ dx
4 (x − 1) x − 3
é um integral impróprio de 1a espécie.
Z 4
cos(x)
Estudemos o integral impróprio de 2a espécie √ dx. Consideremos o integral
3 (x − 1) x − 3
Z 4
1
1 dx que sabemos ser convergente. O limite
3 (x − 3) 2
− cos(x)
√ 1
(x − 1) x − 3 − cos(x) (x − 3) 2 − cos(x) cos(3)
lim+ = lim+ = lim+ =− ,
x→3 1 x→3
1
(x − 3) 2 (x − 1) x→3 x−1 2
1
(x − 3) 2
pertence a R+ , o que nos permiteZconcluir que os dois integrais têm a mesma natureza, sendo,
4
cos(x)
portanto, convergente o integral √ dx.
3 (x − 1) x − 3
Sabemos que 0 ≤ | cos(x)| ≤ 1, ∀x ∈ R, portanto,
cos(x) 1
(x − 1) x − 3 ≤ (x − 1) √x − 3 ∀x ∈ [4, +∞[.
√
Z +∞
1
Estudemos o integral √ dx. Para isso, vamos compará-lo com o integral
4 (x − 1) x − 3
196 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Z +∞
1
3 dx, que é convergente. Como
4 x2
1
√ 3
(x − 1) x − 3 x2
lim = lim √ =1
x→+∞ 1 x→+∞ (x − 1) x − 3
3
x2
Z +∞
1
os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que √ dx é
(x − 1) x − 3
Z +∞ 4
cos(x)
convergente. Pelo Critério Geral de Comparação, o integral (x − 1) √x − 3 dx é con-
4
Z +∞
cos(x)
vergente, o que implica que o integral √ dx é absolutamente convergente.
4 (x − 1) x − 3
Concluı́mos, assim, que o integral dado converge.
x − 1, se x − 1 ≥ 0
|x − 1| =
−(x − 1), se x − 1 < 0
x − 1, se x ≥ 1
=
−(x − 1), se x < 1
Z +∞ Z 1 Z +∞
β e−3|x−1| dx = β e−3|x−1| dx + β e−3|x−1| dx
−∞ −∞ 1
Z 1 Z t
3(x−1)
= lim βe dx + lim β e−3(x−1) dx
y→−∞ y t→+∞ 1
1 −3(x−1) t
e3(x−1) −e
= lim β + lim β
y→−∞ 3 y
t→+∞ 3 1
3(y−1)
−3(t−1)
1−e −e +1
= lim β + lim β
y→−∞ 3 t→+∞ 3
β β
= +
3 3
2β
=
3
2β
Como queremos que o valor deste integral seja 2 fazemos = 2, ou seja, β = 3.
3
5.6 Exercı́cios Propostos I 197
a
1o caso: b − 2a = 0. Neste caso, f (x) = > 0, ∀x ∈ [1, +∞[. Consideremos o
x(x + a)
Z +∞
1
integral impróprio de 1a espécie 2
dx que sabemos ser convergente. O limite
1 x
a
x(x + a) ax2
lim = lim =a
x→+∞ 1 x→+∞ x(x + a)
x2
é um número real positivo, portanto, os dois integrais têm a mesma natureza, o que implica
que I é convergente.
2o caso: b − 2a > 0. Neste caso, f (x) > 0, ∀x ∈ [1, +∞[. Consideremos o integral
Z +∞
1
impróprio de 1a espécie dx que sabemos ser divergente. O limite
1 x
(b − 2a)x + a
x(x + a) (b − 2a)x + a
lim = lim = b − 2a
x→+∞ 1 x→+∞ x+a
x
é um número real positivo, portanto, os dois integrais têm a mesma natureza, o que implica
que I é divergente.
a
3o caso: b − 2a < 0. Facilmente se verifica que f (x) = 0 ⇔ x = − , o que implica
b − 2a
a a
que f (x) < 0, ∀x > − . Sendo M = max{− , 1} temos de estudar o integral
b − 2a b − 2a
Z +∞
(−f (x)) dx.
M
a
Este
Z +∞integral e I têm a mesma natureza. Consideremos o integral impróprio de 1 espécie
1
dx que sabemos ser divergente. O limite
M x
(b − 2a)x + a
−
x(x + a) (b − 2a)x + a
lim = − lim = −(b − 2a)
x→+∞ 1 x→+∞ x+a
x
é um número real positivo, portanto, os dois integrais têm a mesma natureza, o que implica
que I é divergente.
Conclusão: Para que I seja convergente tem que se verificar b − 2a = 0.
198 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
a
(ii) Pela alı́nea anterior, o integral é convergente se, e só se, b = 2a. Então, como =
x(x + a)
1 1
− ,
x x+a
Z +∞ Z +∞ Z x
a 1 1 1 1
I = dx = − dx = lim − dt
1 x(x + a) 1 x x+a x→+∞ 1 t t+a
x
x t
= lim [log(t) − log(t + a)]1 = lim log
x→+∞ x→+∞ t+a 1
x 1 1
= lim log − log = − log .
x→+∞ x+a 1+a 1+a
Portanto,
1
I = 1 ⇔ − log = 1 ⇔ log(1 + a) = 1 ⇔ 1 + a = e ⇔ a = e − 1.
1+a
Como b = 2a temos que b = 2e − 2.
7. (a) Consideremos o integral impróprio
Z +∞
(1 + x)α
√ dx.
0 x (x2 + 1)
(1 + x)α
A função integranda tem domı́nio R+ , é positiva no seu domı́nio e lim √ = +∞,
x→0 x(x2 + 1)
∀α ∈ R. Como o intervalo de integração é [0, +∞[, este integral é impróprio misto seja qual
for o valor do parâmetro real α. Consideremos os integrais
Z 1 Z +∞
(1 + x)α (1 + x)α
√ dx e √ dx.
0 x (x2 + 1) 1 x (x2 + 1)
Z 1
a (1 + x)α
Comecemos por estudar o integral impróprio de 2 espécie √ dx. Sabemos que
0 x (x2 + 1)
Z 1
1
o integral √ dx é convergente e
0 x
(1 + x)α
√
x (x2 + 1) (1 + x)α
lim = lim = 1, ∀α ∈ R,
x→0+ 1 x→0+ x2 + 1
√
x
pertence a R+ , o que nos permiteZconcluir que os dois integrais têm a mesma natureza, sendo,
1
(1 + x)α
portanto, convergente o integral √ dx, ∀α ∈ R.
0 x (x2 + 1)
Z +∞
a (1 + x)α
Para estudar a natureza do integral impróprio de 1 espécie √ dx vamos com-
1 x (x2 + 1)
Z +∞
1 5 3
pará-lo com o integral 5 dx, que converge se, e só se, − α > 1, isto é, α < .
1 x 2 −α 2 2
Como
(1 + x)α
√ 5
x (x2 + 1) (1 + x)α x 2 −α
lim = lim √ = 1, ∀α ∈ R,
x→+∞ 1 x→+∞ x (x2 + 1)
5
x 2 −α
5.6 Exercı́cios Propostos I 199
é finito e diferente de zero, os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
Z +∞
(1 + x)α
√ dx
1 x (x2 + 1)
3
converge se, e só se, α < .
2
3
Concluı́mos, assim, que o integral dado converge se, e só se, α < ,e
2
Z +∞ Z 1 Z +∞
(1 + x)α (1 + x)α (1 + x)α
√ dx = √ dx + √ dx.
0 x (x2 + 1) 0 x (x2 + 1) 1 x (x2 + 1)
e o integral dado é convergente se, e só se, forem convergentes os dois integrais do lado direito
da igualdade.
O integral
Z 12
1
α
√ dx
0 x 1−x
é um integral impróprio de 2a espécie no limite inferior de integração se α > 0 porque, neste
1 1
caso, lim+ α √ = +∞, e de Riemann se α ≤ 0, pois, nesta situação, α √ é
x→0 x 1−x x 1−x
1
contı́nua em [0, ].
2
O integral
Z 1
1
√ dx
1 xα 1−x
2
é um integral impróprio de 2a espécie no limite superior de integração seja qual for o valor do
1
parâmetro real α, porque lim α √ = +∞.
x→1 x
−
1−x
Z 12
1
Seja α > 0. Estudemos o integral impróprio de 2a espécie √
α 1−x
dx. Sabemos que o
Z 1 0 x
1
integral α
dx é convergente se, e só se, α < 1. O limite
0 x
1
√
xα 1 − x 1
lim = lim+ √ = 1,
x→0+ 1 x→0 1−x
xα
é finito e diferente de zero, o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma
Z 12
1
natureza, sendo, portanto, convergente o integral α
√ dx se, e só se, α < 1. Como
0 x 1−x
200 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
no caso em que α ≤ 0 se trata de um integral de Riemann, podemos dizer que este integral
tem sentido se, e só se, α < 1.
Z 1
1
Para estudar a natureza do integral impróprio de 2a espécie √ dx vamos compará-
1 xα 1−x
2
Z 1
1
lo com o integral 1 dx, que é convergente.
1 (1 − x) 2
2
Como o limite
1
√
xα 1 − x 1
lim = lim α = 1, ∀α ∈ R,
x→1− 1 x→1− x
1
(1 − x) 2
é finito e diferente de zero, os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
Z 1
1
√ dx
1 xα 1−x
2
1 1
se α > 0 então lim+ α √ = +∞ e se α ≤ 0, α √ é contı́nua em [0, 1] o que nos
x→0x 3 3 xα + 1 x 3 3 xα + 1
permite afirmar que o primeiro integral é um integral impróprio de 2a espécie se α > 0 e de
Riemann se α ≤ 0; o segundo é impróprio de 1a espécie seja qual for o valor do parâmetro real
1
α, porque a função α √ é contı́nua em [1, +∞[. Consideremos o integral impróprio de
x 3
3
xα + 1
a
2 espécie Z 1
1
α dx,
0 x3
α
que sabemos ser convergente se, e só se, < 1, isto é, se, e só se, α < 3. Como o limite
3
1
√α 3
x xα + 1
3 1
lim = lim √ =1
x→0 + 1 x→0 + 3 α
x +1
α
x3
é finito e diferente de zero, os dois integrais têm a mesma natureza, o que nos permite concluir
que o integral Z 1
1
α √ dx
0 x 3
3
xα + 1
é convergente se, e só se, α < 3.
Consideremos o integral impróprio de 1a espécie
Z +∞
1
2α dx,
1 x 3
5.6 Exercı́cios Propostos I 201
2α 3
que sabemos ser convergente se, e só se, > 1, isto é, se, e só se, α > . Como o limite
3 2
1 s
√ α
α 3
x x +1
3 x2α
lim = lim 3 α α =1
x→+∞ 1 x→+∞ x (x + 1)
2α
x 3
é finito e diferente de zero, os dois integrais têm a mesma natureza, o que nos permite concluir
que o integral Z +∞
1
α √ dx
x 3
3
xα+1
1
3
é convergente se, e só se, α > .
2
Conclusão: o integral Z +∞
1
√
3
dx
0 x + xα
2α
3
converge se, e só se, < α < 3.
2
(d) Consideremos o integral
Z +∞
e−x
dx.
1 x
a
É um integral impróprio de 1 espécie, pois a função integranda é contı́nua no intervalo de
integração que é ilimitado. Estudemos a natureza deste integral comparando-o com o integral
Z +∞
1
dx
1 x2
e−x
−x 2
lim x = lim e x = lim x = 0
x→+∞ 1 x→+∞ x x→+∞ ex
x2
é a natureza do integral Z +∞
e−αx
dx.
1 1 − e−x
Este integral é um integral impróprio de 1a espécie, pois, qualquer que seja o valor do parâmetro
real α, a função integranda é contı́nua no intervalo de integração que é ilimitado.
1o caso: α = 0. Por definição,
Z +∞ Z +∞ Z t
1 ex ex
dx = dx = lim dx =
1 1 − e−x 1 ex − 1 t→+∞ 1 ex − 1
202 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
= lim [log(ex − 1)]t1 = lim log(et − 1) − log(e − 1) = +∞
t→+∞ t→+∞
Z 1
2 1
contı́nua em [0, 12 ]. Sabemos que o integral dx é convergente se, e só se, α < 1 e o
0 xα
limite
1
√ −
3
xα
x2 − 1 −xα −1
lim+ = lim+ √ = lim √ = 1,
x→0 1 x→0 xα
3
x2 − 1 x→0+ 3 x2 − 1
xα
é finito e diferente de zero, o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma
Z 12
1
natureza, sendo, portanto, convergente o integral √3
dx se, e só se, α < 1.
α x2 − 1
0 x
Z 1
1
O integral √3
dx é impróprio de 2a espécie seja qual for o valor do parâmetro
1 x α x 2−1
2
Z 1
1 1
real α, porque lim− √
3
= −∞, ∀α ∈ R. Sabemos que o integral 1 dx é
x→1 x α 2
x −1 1 (1 − x) 3
2
convergente e
1
− √ 1
xα 3
x2 − 1 −(1 − x) 3 1 1
lim = lim 1 = lim 1 = √ , ∀α ∈ R,
x→1− 1 α 1
x→1 x (x − 1) 3 (x + 1) 3
− α
x→1 x (x + 1) 3
− 3
2
1
(1 − x) 3
pertence a R+ , o que nos permite concluir que os dois integrais têm a mesma natureza, sendo,
Z 12
1
portanto, convergente o integral √
3
dx, ∀α ∈ R.
α x2 − 1
0 x
Z 2
1
O integral √
3
dx, é impróprio de 2a espécie seja qual for o valor do parâmetro
α x2 − 1
1 x Z 2
1 1
real α, porque lim √
3
= +∞, ∀α ∈ R. Sabemos que o integral 1 dx é
x→1+ xα x2 − 1 1 (x − 1) 3
convergente e
1
√ 1
xα 3
x2 − 1 (x − 1) 3 1 1
lim = lim 1 = lim 1 = √ , ∀α ∈ R,
x→1+ 1 α 1
x→1 x (x − 1) 3 (x + 1) 3
+ α
x→1 x (x + 1) 3
+ 3
2
1
(x − 1) 3
pertence a R+ , o que nos permiteZconcluir que os dois integrais têm a mesma natureza, sendo,
2
1
portanto, convergente o integral √
3
dx, ∀α ∈ R.
α x2 − 1
1 x
Z +∞
a 1
Para estudar a natureza do integral impróprio de 1 espécie √
3
dx vamos com-
xα x2 − 1
Z +∞ 2
1 2 1
pará-lo com o integral 2 dx, que converge se, e só se, α + > 1, isto é, α > .
2
α+
x 3 3 3
Como
1
√ 2 2
xα 3
x2 − 1 xα+ 3 x3
lim = lim √ = lim √ = 1, ∀α ∈ R,
x→+∞ 1 x→+∞ xα 3 x2 − 1 x→+∞ 3 x2 − 1
2
xα+ 3
os dois integrais têm a mesma natureza. Podemos afirmar que
Z +∞
1
√
3
dx
xα x2 − 1
1
204 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
1
converge se, e só se, α > .
3
1
Concluı́mos, assim, que o integral dado converge se, e só se, < α < 1.
3
8. O integral Z +∞
sen(x)
dx
0 x
sen(x)
é um integral impróprio de 1a espécie porque a função g(x) = tem domı́nio R \ {0}, é
x
contı́nua em ]0, +∞[ e o intervalo de integração é ilimitado. Mas analisando a decomposição
Z +∞ Z π Z +∞
sen(x) sen(x) sen(x)
dx = dx + dx
0 x 0 x π x
vemos que o integral Z π
sen(x)
dx
0 x
é um integral de Riemann, pois, se
sen(x) , se x ∈ [0, π]
f (x) = x
1, se x = 0
sen(x)
temos que função f é contı́nua em [0, π] porque lim = 1 e g difere de f apenas num ponto,
x
x→0
o que implica que Z Z π
π
sen(x)
dx = f (x) dx
0 x 0
O integral Z +∞
sen(x)
dx
π x
é um integral improprio de 1a espécie. Por definição e integrando por partes,
Z +∞ Z t t Z t !
sen(x) sen(x) 1 −1
dx = lim dx = lim (− cos(x)) − 2
(− cos(x)) dx =
π x t→+∞ π x t→+∞ x π π x
Z t Z t
cos(t) cos(π) cos(x) 1 cos(x)
= lim − + − 2
dx = − − lim dx.
t→+∞ t π π x π t→+∞ π x2
Para provar que o integral é convergente basta provar que este último limite existe e é finito. Mas
cos(x) 1
x2 ≤ x2 , ∀x ∈ R \ {0}
e sendo o integral Z +∞
1
2
dx
π x
um integral impróprio de 1a espécie convergente, temos, pelo Critério de Comparação, que o integral
Z +∞
cos(x)
x2 dx
π
5.6 Exercı́cios Propostos I 205
9. Seja f : [0, +∞[→ R uma função de classe C 1 , isto é, f ′ é contı́nua em [0, +∞[. Então f ′ é integrável
Z +∞
à Riemann em qualquer intervalo [0, x], x > 0, o que nos prmite dizer que o integral f ′ (x) dx
0
é um integral impróprio de 1a espécie. Por definição e usando a Regra de Barrow (possı́vel porque
f ′ é contı́nua) temos
Z +∞ Z x
′
f (x) dx = lim f ′ (t) dt = lim [f (t)]x0 = lim (f (x) − f (0)).
0 x→+∞ 0 x→+∞ x→+∞
Z +∞
Como, por hipótese, f (x) dx é convergente e existe lim f (x), sabemos que lim f (x) = 0.
0 x→+∞ x→+∞
Portanto, Z +∞
f ′ (x) dx = −f (0),
0
Z +∞
isto é, o integral f ′ (x) dx é convergente e o seu valor é −f (0).
0
206 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Mostre que a função x → |f (x) − 21 | é integrável no intervalo [0, 1] , mas o mesmo não acontece com
a função x → f (x) − 12 .
7. (a) Seja f uma função contı́nua e crescente em [1, +∞[. Mostre que:
Z x
(x − 1)f (1) < f (t) dt < (x − 1)f (x).
1
(b) Utilizando o resultado da alı́nea anterior e sendo f (t) = log(t) mostre que ex−1 < xx < (ex)x−1 .
8. Sendo f uma função real definida e diferenciável em [0, 1], mostre que
Z 1 Z 1
xf ′ (1 − x) dx = f (x) dx − f (0).
0 0
Z x2 +x+1
sen(t)
(c) F (x) = dt, no ponto em que x = 1.
1 t
Z x2 + 34
et (t − 74 )
10. Considere a função f (x) = dt. Determine:
1 t
(a) O seu domı́nio e a equação da recta tangente à linha que é a sua representação gráfica no
ponto em que x = 1/2.
(b) Os pontos em que a função tem extremo relativo e, em cada ponto, a natureza do extremo.
11. Calcule Z x
sen(t3 ) dt
0
lim .
x→0 x4
12. Calcule Z xp
1
lim 3t2 + 5 dt.
x→0+ x 0
Z π
2
13. Seja n um inteiro não negativo e seja In = (sen(x))n dx.
0
n+1
(a) Mostre que In+2 = In .
n+2
(b) A partir do resultado da alı́nea anterior conclua que com k inteiro positivo se tem
Z π
2 (2k − 1)(2k − 3)....3 × 1 π
(sen(x))2k dx = ×
0 2k(2k − 2)....4 × 2 2
e Z π
2 2k(2k − 2)....4 × 2
(sen(x))2k+1 dx = .
0 (2k + 1)(2k − 1)...3 × 1
π
(c) Usando a substituição x = 2 − t , mostre que
Z π
2
In = (cos(x))n dx.
0
5.7 Exercı́cios Propostos 209
3. Estude pormenorizadamente para que valores dos parâmetros reais p e q tem sentido cada um dos
seguintes integrais:
Z +∞ Z +∞
xp+1
(a) e−x xp dx (e) dx
e 0 x2 − 4 x + 13
Z +∞ 2 Z π/2
log (x)
(b) dx (f) (cos(x))p dx
1 x1+p 0
Z 1 Z 2 p+1
3 p 2−x 1
(c) x (1 − x) dx (g) dx
0 1 x−1 x
Z Z 0
1
1 (−x)p
(d) dx (h) dx
0 x2 − p −2 (x + 2)q
4. Seja f uma função contı́nua não negativa para x > a > 0 e suponha que existem constantes reais
M > 0 e K > 1 tais que
M
f (x) ≤ K , ∀x > a
x
5.7 Exercı́cios Propostos 211
Z +∞
(a) Mostre que, nestas condições, o integral impróprio f (x) dx é convergente.
a
Z +∞
1
(b) Aplique o resultado da alı́nea anterior para mostrar que o integral √ √ dx
1 1+ x2 1 + x3
é convergente.
Z x
5. Determine uma representação analı́tica da função F (x) = g(t) dt
−∞
onde
2,
se |x| ≥ 1
g(x) = x2
2, se |x| ≤ 1
(a) S = {(x, y) : x ≤ 0 ∧ 0 ≤ y ≤ ex }
n o
(b) S = (x, y) : x ≥ −2 ∧ 0 ≤ y ≤ e−x/2
Z +∞
1
8. (a) Calcule o valor do integral impróprio dx
0 (x2 + 1) (x + 1)
Z 1
1
(b) Estude a convergência do integral dx
−1 (sen(x))1/3
9. (a) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z 1
xα
√ dx
2 2
0 (1 + x ) 1 − x
Z +∞
1
(b) Estude a convergência do integral dx
0 (x − 1) (x + 1)1/3
2 1/3
Z π/2
cos(x)
10. (a) Calcule o valor do integral impróprio p dx
0 sen(x)
(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z +∞
(x − 1)α x2 α dx
1
11. (a) Calcule a área do domı́nio plano ilimitado definido pelo gráfico da função
1
y= e pelo eixo dos xx.
1 + x2
(b) Estude, em função do parâmetro real α, a convergência do integral
Z 2
x1−2α (2 − x)α/2 dx
0
212 5. Funções Reais de Variável Real: Cálculo Integral
Apêndice A
1. Calcule:
√
(a) arc sen − 23 ;
(b) cotg arc sen 12
13 ;
√
(c) π 3
3 − arc tg − 3 ;
h i
(d) sen 21 arc cotg 43 ;
h i
(e) tg 3 arc tg − 23 ;
(f) arc tg(x) + arc tg x1 .
4. Mostre que:
214 6. Apêndice A
Apêndice B
Figura 7.1
Concluı́mos assim que dado δ > 0 não podemos escolher ε > 0 que, na definição de limite, seja válido
simultaneamente para todos os xi , i = 1, 2, 3, . . ..
EXEMPLO 1: A função f (x) = sen(x) é uniformemente contı́nua em R, isto é, é verdadeira a proposição
De facto, sendo δ > 0 bastará escolher ε = δ e sabendo que |sen(x)| ≤ |x| ∀x ∈ R temos:
x+y x − y
|sen(x) − sen(y)| = 2 cos
sen
2 2
x + y x − y
= 2 cos sen
2 2
x − y
≤ 2 sen
2
x − y
≤ 2 = |x − y|.
2
1
EXEMPLO 2: A função f (x) = não é uniformemente contı́nua em ]0, 2[, como vimos atrás.
x
EXEMPLO 3: A função f (x) = x2 (Figura 7.3) não é uniformemente contı́nua em R, isto é, é falsa a
proposição
∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ R, |x − y| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < δ.
Da igualdade |x2 − y 2 | = |x − y||x + y| podemos concluir que x e y podem estar tão próximos quanto
se queira e a diferença entre as suas imagens ser arbitrariamente grande (basta pensar em pontos x e y
cuja diferença seja sempre inferior a ε, mas que estejam arbitrariamente longe da origem).
Os gráficos da Figura 7.4 procuram ilustrar esta situação.
7.1 Continuidade uniforme 219
50 50 50
40 40 40
30 30 30
20 20 20
10 10 10
50 50 50
40 40 40
30 30 30
20 20 20
10 10 10
50 50 50
40 40 40
30 30 30
20 20 20
10 10 10
Figura 7.2
220 7. Apêndice B
Figura 7.3
Figura 7.4
teremos
|x − y| < ε ⇒ |7 − x2 − (7 − y 2 )| < δ
δ
se ε < .
20
A função é pois uniformemente contı́nua em [0, 1]. Vimos atrás que f (x) = x2 não é uniformemente
contı́nua em R.
O facto da função ser uniformemente contı́nua depende do conjunto. É claro que se uma função for
uniformemente contı́nua num conjunto C é uniformemente contı́nua em todos os subconjuntos de C.
1 1 1
EXEMPLO 1: Consideremos novamente a função f (x) = no intervalo ]0, 1]. Sejam xn = e yn = ,
x n 2n
1 1 1
n ∈ N. São sucessões de elementos do intervalo ]0, 1] e lim(xn − yn ) = lim − = lim = 0. No
n 2n 2n
entanto, lim(f (xn ) − f (yn )) = lim(n − 2n) = lim(−n) = −∞, o que implica, pelo teorema anterior, que
f não é uniformemente contı́nua no intervalo considerado.
√ √
EXEMPLO 2: Seja f (x) = x2 . Considerando as sucessões de números reais xn = n + 1 e yn = n
temos
√ √
lim(xn − yn ) = lim( n + 1 − n)
√ √ √ √
( n + 1 − n)( n + 1 + n)
= lim √ √
( n + 1 + n)
n+1−n
= lim √ √ =0
n+1+ n
e
√ √
lim(f (xn ) − f (yn )) = lim ( n + 1)2 − ( n)2
= lim (n + 1 − n) = 1,
222 7. Apêndice B
Demonstração: Suponhamos que f é contı́nua, mas não uniformemente contı́nua, em X, fechado limitado.
Sendo falsa a proposição
podemos afirmar que existe δ > 0 tal que, para qualquer ε > 0, existem x, y ∈ X, para os quais se verifica
Como (xn ) é uma sucessão de elementos de X e este conjunto é limitado podemos concluir que (xn ) é
limitada. Pelo Teorema 1.3.15, (xn ) tem uma subsucessão (xnk ) convergente para um certo x ∈ R; além
1
disso, x ∈ X porque X é fechado. Mas |xnk − ynk | < , o que implica que ynk → x. Como f é contı́nua
nk
em X temos
lim f (xnk ) = lim f (ynk ) = f (x),
o que implica que
lim (f (xnk ) − f (ynk )) = 0,
o que contradiz
|f (xnk ) − f (ynk )| ≥ δ > 0.
EXEMPLO: Seja f uma função contı́nua em R. Provemos que f é uniformemente contı́nua em todo o
subconjunto limitado de R.
Seja A ⊂ R um conjunto limitado. Se A for fechado, estamos nas condições do Teorema de Cantor.
Suponhamos que A não é fechado e l = inf(A) e L = sup(A). Consideremos o intervalo [l, L]. É um
subconjunto fechado limitado de R. Como f é contı́nua em R, f é contı́nua em [l, L]. Pelo Teorema
de Cantor, f é uniformemente contı́nua nesse intervalo, sendo, portanto, uniformemente contı́nua em
A ⊂ [l, L].
7.2 Exercı́cios Propostos 223
R, 13 decrescente, 55
diferenciável, 71
aderência, 2 estritamente crescente, 55
estritamente decrescente, 55
binómio de Newton, 6 estritamente monótona, 56
injectiva, 56
conjunto
limitada, 56
aberto, 2
dos termos da sucessão., 8 monótona, 56
fechado, 2 par, 56
limitado, 2 primitivável, 121
majorado, 2 prolongável por continuidade, 66
minorado, 2 racional, 127
contradomı́nio, 55 real de variável real, 55
critérios de convergência, 163 sobrejectiva, 56
uniformemente contı́nua, 218
derivada, 71 de classe C 1 , 76
à direita, 72 de classe C n , 76
à esquerda, 72 de classe C ∞ , 76
de ordem n, 76 derivada, 76
segunda, 76 integrável, 149
derivado, 2 função Beta, 179
descontinuidade removı́vel, 66 função Gama, 179
domı́nio, 55 função racional
de definição, 55 em p variáveis, 135
irredutı́vel, 127
expressão analı́tica, 55
exterior, 1 gráfico, 55
extremos, 56 grau de multiplicidade, 127
extremos relativos, 78
hipótese de indução, 4
fórmula de Leibnitz, 77
fórmula de MacLaurin, 88 indeterminações, 82
fórmula de Taylor, 87 Indução matemática, 4
fecho, 2 ı́nfimo, 3
fronteira, 1 infinitésimo, 14
função, 55 infinitamente grande em módulo, 11
ı́mpar, 56 infinitamente grande negativo, 11
bijectiva, 56 infinitamente grande positivo, 11
contı́nua, 62 Integração
à direita, 62 por partes, 157
à esquerda, 62 por substituição, 157
no conjunto B, 62 integral, 149
crescente, 55 impróprio de 1a espécie
ÍNDICE REMISSIVO 227