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As Teorias Da Justiça PDF
As Teorias Da Justiça PDF
Sumário
1. Introdução. 2. A teoria positivista de Hans
Kelsen. 3. A teoria discursiva de Jürgen Haber-
mas. 4. A teoria formal de Chaïm Perelman.
5. A relação entre as teorias de Hans Kelsen e
Chaïm Perelman. 6. A teoria social de John
Rawls. 7. Conclusão
John Rawls
1. Introdução
Pretende este trabalho examinar as teo-
rias sobre a justiça formuladas no século XX,
tanto no meio jurídico, como no meio filosó-
fico, o que aqui se fará com relação às obras
de Hans Kelsen, Jürgen Habermas, Chaïm
Perelman e John Rawls.
A escolha desses autores se justifica, ten-
do em vista que, além de grandes pensado-
res, dedicaram-se com profundidade tanto
à ciência jurídica quanto à justiça, deixan-
do notáveis contribuições ao desenvolvi-
mento recente desses temas.
Assim, examina-se, inicialmente, neste
Amandino Teixeira Nunes Junior é Con-
estudo, a concepção de justiça em Kelsen,
sultor Legislativo da Câmara dos Deputados, de cunho positivista, exposta na obra “O
Mestre em Direito pela UFMG, doutorando em que é justiça?”, que procura expurgar do
Direito pela UFPE e professor do UniCEUB e interior da teoria jurídica as teorias jusna-
do IESB. turalistas edificadas ao longo de séculos.
Brasília a. 39 n. 156 out./dez. 2002 53
Em seguida, analisa-se a concepção de coincide, portanto, com a questão o que é
justiça em Habermas, baseada na sua teoria bom ou que é o Bem? Várias tentativas são
da ação comunicativa e presente em “Direi- feitas por Platão, em seus diálogos, para res-
to e democracia: entre facticidade e valida- ponder a essa questão de modo racional,
de”, na qual Habermas intenta compreen- mas nenhuma delas leva a um resultado
der a dualidade do Direito moderno. definitivo”(2001, p. 12).
Adiante, aborda-se a concepção de justi- Um outro exemplo, para KELSEN, da ten-
ça em Perelman, a partir da lógica formal, tativa infrutífera de elaborar um conteúdo
exposta em “Ética e Direito”. definível de justiça, por meio de um método
Segue-se, logo após, a análise da concep- racional ou científico, é a ética de Aristóte-
ção de justiça em Rawls, contida na obra les. “Trata-se de uma ética da virtude, ou
“Uma teoria da justiça”, considerada uma seja, ele visa a um sistema de virtudes, entre
das mais importantes desenvolvidas no sé- as quais a justiça é a virtude máxima, a vir-
culo XX. tude plena” (p. 20).
Finalmente, à guisa de conclusão, pro- Com relação ao Direito natural, KELSEN
cura-se apresentar uma síntese das concep- sustenta que essa doutrina “afirma existir
ções de justiça abordadas no corpo do tra- uma regulamentação absolutamente justa
balho. das relações humanas que parte da nature-
Convém salientar, ainda, que não cons- za em geral ou da natureza do homem como
titui propósito do presente estudo submeter ser dotado de razão”(p. 21).
a um aprofundado exame crítico das com- E, adiante, aduz:
plexas teorias desses renomados pensado- “A natureza é apresentada como
res. O que se objetiva aqui é uma exposição uma autoridade normativa, como uma
das linhas fundamentais dessas concepções espécie de legislador. Por meio de uma
sobre a justiça que contribuíram sobremodo análise cuidadosa da natureza, pode-
para a doutrina jusfilosófica recente. remos encontrar as normas a ela ima-
nentes, que prescrevem a conduta
2. A teoria positivista de Hans Kelsen humana correta, ou seja, justa. Se se
supõe que a natureza é criação divi-
2.1. A crítica kelseniana na, então as normas a ela imanentes –
o Direito natural – são a expressão da
Ao elaborar sua teoria da justiça, KEL- vontade de Deus. A doutrina do Di-
SEN (2001) realiza um exame crítico e pro- reito apresentaria, portanto, um cará-
fundo das teorias que se produziram desde ter metafísico. Se, todavia, o Direito
a Antigüidade clássica até a primeira meta- natural deve ser deduzido da nature-
de do século XX sobre o tema. za do homem enquanto ser dotado de
Avaliando a justiça em Platão, KELSEN razão – sem considerar a origem divi-
sustenta que a quase totalidade de seus diá- na dessa razão –, se se supõe que o
logos busca precisamente a pergunta: “o que princípio da justiça pode ser encon-
é o Bem?” (na qual se insere, também, a per- trado na razão humana, sem recorrer
gunta: “o que é a justiça?”). Afirma que o a uma vontade divina, então aquela
método dialético ensinado e praticado nos doutrina se reveste de um caráter ra-
diálogos platônicos não chegou a elaborar cionalista” (p. 21).
um conteúdo definível de justiça. Conclui o insigne mestre da Escola de
A conclusão de KELSEN é que “a idéia Viena:
do Bem inclui a de justiça, aquela justiça a “Do ponto de vista de uma ciência
cujo conhecimento aludem todos os diálo- racional do Direito, o método religio-
gos de Platão. A questão ‘o que é justiça?’ so-metafísico da doutrina do Direito
KELSEN, Hans. O que é justiça?: a justiça, o direito TORDESILHAS, Alonso. Perelman, Platão e os sofis-
e a política no espelho da ciência. São Paulo: Mar- tas: justiça e nova retórica. Revista Reflexão, Cam-
tins Fontes, 2001. pinas, n. 49, p. 109-130, jan./abr. 1991.