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17 1[2013 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de pós-graduação do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp
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Parâmetros de projeto (patterns) de Christopher Alexander traduzidos para o português
Figura 1: “Bairro Identificá- para o alemão e, no ano de 1984, para o japonês de sua trajetória profissional em diferentes países,
vel”, ilustrado por Alexander
(Kajima Institute Publishing Co. Ltd.), pois Alexander entre outros: Estados Unidos, Japão, Peru, México
como o “padrão 14” no
livro “A Pattern Language” e sua equipe engendravam, na época, um de seus e Venezuela.
(1977). Fonte: SALVATERRA
processos participativos na implantação de um novo
2013, p. 80.
campus universitário, nas imediações de Tóquio. A narrativa sobre esses processos foi conteúdo
Décadas à frente, no ano de 2013, estudiosos e de alguns de seus livros como “The Production of
difusores da produção de Christopher Alexander Houses” que relata o projeto de Alexander para
contam com a versão de “A Pattern Language” em Mexicali (México) e, também recentemente, o uso da
português: “Uma Linguagem de Padrões: a pattern Linguagem de Padrões na concepção e construção
language”, com tradução de Alexandre Salvaterra de um campus universitário no Japão (Eishin) foi
e consultoria, supervisão e revisão técnica de Doris publicado no livro “The Battle for the Life and Beauty
Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski e Raquel of the World” (2012). Aos elementos projetuais em
Regina Martini Paula Barros. questão, Alexander deu o título de padrões e somam
253, descritos e justificados em “Uma Linguagem de
A Linguagem de Padrões constitui-se uma compilação Padrões”, como parâmetros a serem utilizados nos
de parâmetros projetuais estabelecidos pelo arquiteto processos de projeto de edificações, áreas externas e
e sua equipe, com o intuito principal de auxiliar comunidades. Este montante de padrões subdivide-
a interlocução entre profissionais e usuários de se em temáticas específicas, basicamente definidas
edificações e empreendimentos urbanísticos, em por escalas projetuais como região, cidades, bairros,
processos participativos. Esta prática do envolvimento áreas comuns externas e o edifício.
de ambos nos processos de projeto e construção
representa o principal legado de Christopher Observa-se um curioso “contraste” entre as teorias
Alexander. Seu currículo contém inúmeros processos fundamentadas por Alexander e os métodos
nos quais esta linguagem foi incorporada, ao longo implementados por ele, como foi o caso da
Linguagem de Padrões. Afinal, doze anos antes entendimento desta tarefa: o primeiro de que,
de lançar este livro, o arquiteto publicou o texto através da teoria implementada, as pessoas usariam
“A City is not a Tree” (1965), focalizando sua a Linguagem para produzir o ambiente por elas
crítica na visão dos arquitetos modernistas sobre as mesmas, compartilhando-o; 2. o sentido que cada
cidades. Naquele momento, Christopher Alexander pessoa possui sobre como os edifícios concebidos,
discutira que esses profissionais tratavam as cidades a partir da Linguagem de Padrões, poderiam
como árvores e, portanto, as projetavam com ser realmente belos; 3. a famosa “qualidade”
estruturas artificiais ou em rede. Assim sendo, que, segundo Alexander, fora profundamente
podiam dispor de diretrizes puramente funcionais compreendida, principalmente, por Sara Ishikawa
para essas cidades, determinando suas características e Ingrid Fiksdahl-King, colaboradoras do livro “A
de modo impositivo. Pattern Language”.
Para Alexander, as cidades deveriam ser reconhecidas Os duzentos e cinquenta e três padrões arrolados no
enquanto espaços “naturais”, providos de morfo- livro qualificam a concepção dos espaços regionais,
logia, uso e ocupação do solo, oriundos de de vizinhança e dos edifícios, em alguns casos, com
manifestações espontâneas, impressas na paisagem alguma peculiaridade inovadora como: “núcleos
por seus habitantes, ao longo de suas vidas. excêntricos (padrão 28)” que atendem a diferentes
Semelhante postura este arquiteto assumira em outra densidades nos centros urbanos; “corrente de
produção de sua autoria: “The Oregon Experiment” projetos comunitários (padrão 45)” configurando
(1975), livro que contextualiza sua intervenção na um anel contínuo de serviços e atividades ao redor
reformulação do campus da Universidade de Oregon, de um centro de lazer da comunidade.
em Eugene/EUA. Ao comentar os pressupostos do
processo participativo desenvolvido por ele e sua Todavia, na Linguagem de Padrões, Alexander
equipe nesse campus, explicita o “Princípio do rediscute elementos presentes em outros
Crescimento Orgânico” que, resumidamente, implica movimentos urbanísticos, por exemplo: “área
em uma expansão de ambientes e atividades no local, externa coletiva (padrão 67)” semelhante aos
a partir das necessidades que surgem ao longo da espaços comuns das Cidades Jardins; a “rua de
vida da Universidade, em vez de um crescimento pedestres (padrão 100)” também identificada
rígido, calcado em Planos de Expansão. em projetos de cidades utópicas e, inclusive, nas
produções modernas do início do século XX, cujas
Eis, portanto, o “contraste”: o crescimento es- ideias foram amplamente criticadas por ele. É
pontâneo, o reconhecimento das características oportuno mencionar, que muitos destes padrões
vernaculares do sítio urbano são algo preconizado inspiraram concepções urbanísticas posteriores
por Alexander e, por outro lado, o arquiteto sugere à obra “A Pattern Language”, como os projetos
uma perspectiva universalista que busca a unificação de vizinhanças do New Urbanism, movimento
de conceitos em “parâmetros de projeto”. Seriam que reconfigurou cidades norte-americanas na
justificativas para este contraste: a “flexibilidade” década de 1990.
de adaptação da Linguagem de Padrões a diferentes
processos, uma vez que se selecionam as diretrizes Cotejando-se as edições em inglês e português de
que melhor expressam a realidade de uma comu- “A Pattern Language”, é possível concluir que há
nidade, ou o fato destes parâmetros de projeto terem similaridade na estrutura e conteúdo do livro, com
sido construídos a partir de experiências concretas o emprego correto da terminologia concebida pelos
e com a participação de usuários? autores para os 253 padrões. Consequentemente,
considera-se que esta tradução tornará a obra mais
Segundo Stephen Grabow, a concepção da Lingua- acessível, contemplando pesquisas científicas e outros
gem por Alexander e seus parceiros arquitetos estudos brasileiros sobre a obra de Christopher
do CES permitiu a ele identificar três níveis de Alexander.