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2010/11

Tânia Patrícia Faria Gonçalves


Dias da Silva

Hilla e Bernd Becher

“ESCULTURAS ANÓNIMAS”
DE HILLA E BERND BECHER
Pretendo com este trabalho fazer uma abordagem a um, entre muitos trabalhos realizados por
Bernd e Hilla Becher no fim da década de 60 do séc. XX.

Estes artistas tinham a preocupação, antes de mais, em articular a ideia da constituição de uma
memória. Buscaram apresentar, remontar, repertoriar e discutir a sua experiência, tanto
individual quanto histórica, repensando estratégias de compartilhamento da sua forma de estar
no mundo. Ou seja, Bernd e Hilla Becher, através dos seus inúmeros trabalhos fotográficos,
tentam sair de um sistema das “Belas Artes”, montando uma situação histórica precisa como
representação. São um exemplo de uma cisão de certos artistas com as correntes abstraccionistas
e formalistas defendidas anteriormente pela crítica de arte norte-americana e que deram energia
ao movimento de resistência, com um enfoque mais conceptual e crítico que buscava dar
atenção aos contextos de inserção da obra, tanto quanto à importância dadas aos meios de
comunicação tanto nas questões da arte e da cultura. Isto veio a facilitar a inclusão da fotografia
nos trabalhos dos artistas. Hilla e Bernd Becher são fotógrafos que agem como inventariantes,
narradores e editores de um certo olhar sobre o mundo que os rodeia. Dão especial interesse ao
enfoque da memória, do arquivo e da publicação.

A Arte Conceptual é uma forma de teoria da arte na década de 1960 e mais tarde, é o
desenvolvimento lógico da Arte Minimalista. Questiona a ideia de arte, se tem
referência fora de si mesmo e, principalmente, a validade do objecto de arte tradicional,
utiliza conceitos como o seu material. A forma física não é essencial na apresentação de
conceitos, e como um conceito geralmente é o ponto de partida da obra de arte, artistas
conceptualistas propõem que o médium tradicional e as manifestações físicas (objectos)
são desnecessários. Ideias e informações são assim apresentadas por propostas escritas,
fotografias, documentos, gráficos, mapas, filmes e vídeo e, sobretudo, pela própria
linguagem.

Normalmente, as fotografias de ambos têm uma sequência de imagens que formam capítulos,
são acompanhadas por uma legenda muito discreta, que indica o local do objecto fotografado e a
data. Com frenesi memorialista, os Becher irão produzir um vasto inventário de edifícios em
obsolescência, que no entanto persistem pela sua monumentalidade nos cenários de vida
da sociedade contemporânea, trazendo ao presente o testemunho de modos de vida do
passado. Eles convidam a reconhecer, através da publicação dos trabalhos, nas suas
“esculturas anónimas” e nas construções que apresentam, as funções e usos que vão
desaparecendo de certos edifícios. Segundo salienta Anne Moeglin-Delcroix, “(…) a
publicação permitiria uma apreciação crítica sobre o que desejamos conservar, visto que
testemunha as obras da aventura humana.”
Segundo Wulf Herzogenrath, “três linhas convergem na obra de Bernd e Hilla Becher,
dotando-a de extraordinária actualidade: primeiro, a fotografia como instrumento de um
fazer documental e artístico; segundo, a tipologia, a sequência pictural, a série e, deste
modo, a comparação de imagens como princípio do seu trabalho; e finalmente, o
conteúdo arquitectónico, funcional e, ao mesmo tempo, histórico-económico das suas
fotografias – construções arquitectónicas e objectos funcionais de grandes dimensões,
pertencentes a um mundo da indústria pesada e mineira em vias de extinção, com os
seus altos-fornos, torres de refrigeração, depósitos de água, torres de extracção,
gasómetros, silos, armazéns, assim como objectos em áreas urbanas, ou ainda exemplos
de outro grande tema, as habitações unifamiliares.” Bernd e Hilla Becher defendem que
o seu trabalho não reivindica a conservação de todos esses objectos e construções;
procura antes fazer um inventário o mais completo e objectivo possível de um mundo
que praticamente desapareceu por ter perdido utilidade funcional. Diz Bernd Becher:
“Não pretendemos transformar em relíquias estes velhos edifícios industriais, mas sim
criar uma sequência mais ou menos completa das suas diferentes formas construtivas.”
Os Becher coleccionaram, desde muito cedo, fotografias de indústria antigas das
construções que os seus homólogos fotografavam e, desse modo, confrontaram-se com
o estilo fotográfico conciso dos primeiros fotógrafos de indústria, dos quais adoptaram
conscientemente algumas características: a perspectiva abrangente, quando possível a
partir de um ponto ligeiramente elevado; a acentuação das partes funcionais da
arquitectura e não do trabalho humano; a escolha deliberada do estado do tempo para a
captura da imagem, isto é, os dias cinzentos favoreciam com a sua luz uniforme a
ausência de sombras; a profundidade de focagem dos pormenores, etc.. Para dar a ideia
de terem sido retocadas e para salientar de maneira mais individualizada e eficaz a
importância de cada objecto.

A sucessão de imagens na fotografia não é uma repetição constante, como representação teatral
mas é, antes de mais, uma metáfora das estratégias de renovação. Isso pode explicar por que
eles logo substituíram a fotografia composta com uma combinação única de duas ordens
de fotografia estilo modernista: a tradicionalmente trabalhada, de impressão de imagem
única e princípio da sequência ou a imagem em série. De agora em diante as suas
fotografias serão exibidas em dois arranjos diferentes e formais: ou no que o Becher
chamam de "tipologia" (em geral uma série de nove, doze, quinze ou mais imagens do
mesmo tipo de estrutura arquitectónica, como nove diferentes fornos de cal ou quinze
diferentes torres de resfriamento.)

Bernd and Hilla Becher, Cooling Towers, 1993 (fig. 1)

Estas fotografias de torres de refrigeração pertencem a uma colecção que contém


igualmente outras séries análogas de torres de extracção, depósitos de água, gasómetros,
altos-fornos, fornos de cal, silos, bombas de óleo, postes de alta tensão, empresas
transformadoras e refinarias. O que estes objectos têm em comum é o facto de terem
sido construídos sem olhar a relações de escala. Neste exemplo (fig.1), os Becher
apresentam-nos 15 imagens sequenciais de torres de refrigeração, todas elas diferentes
entre si e todas com a mesma função para a qual foram construídas. Estas imagens
sucessivas sugerem uma animação, como se uma única torre existisse e se adquirisse
outras formas. Naturalmente foram construídas de forma semelhante, obedecendo a um
pré- requisito, mas que no entanto dá a ideia de originalidade a cada uma em particular.

Segundo Helder Gomes, “Deparamo-nos com uma multiplicidade de opções formais


que determina a individualidade e especificidade morfológica de cada objecto. Apesar
de matriz técnica e formal comum, cada construção possui uma especificidade
morfológica que lhe advém menos de exigências citadas pela função, do que das opções
formais que em cada caso presidiram à sua edificação.”
BIBLIOGRAFIA

Gomes, Helder, “O Plural do Nome: Práticas de Fronteira na Arte Contemporânea” -


Arte e Teoria, Revista do Mestrado em Teorias da Arte da Faculdade de Belas Artes da
Universidade de Lisboa, nº 9, ano 2007,

Read, Herbert, Dictionary of Art and Artists, Thames & Hudson

Foster, Hal, Krauss, Rosalind, Arte Since 1900 – Modernism, Antimodernism,


Postmodernism, Thames & Hudson

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