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MGE 25 MONICA PAULO 100312 Versao 25.03.2010
MGE 25 MONICA PAULO 100312 Versao 25.03.2010
Mônica Mattos
Paulo Bueno de Mendonça
Coordenação:
Prof. Dr. Almir Ferreira de Sousa
Prof. Dr. Adelino de Bortoli Neto
Orientação:
Prof. Dr. Eduardo Armando
RESUMO
Foi conduzido um estudo de caso com uma empresa de tecnologia com foco em
serviços de desenvolvimento de sistemas para empresas do segmento financeiro, e que
adquiriu várias empresas nos últimos anos como estratégia de crescimento e
complementação do portfólio de soluções.
1.3. Situação-problema 10
1.4 Objetivo 12
1.5 Justificativas 13
1.6 O caso 15
2.1. Origem 23
2.2. Empreendedorismo 25
2.3. Empreendedor 31
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70
Já o início das atividades da entidade Softex pode ser confundido com a história
do empreendedorismo no Brasil na década de 1990. O objetivo da organização era levar
as empresas de softwares nacionais ao mercado externo, por meio de diversas ações que
visavam proporcionar ao empresário de informática a capacitação em gestão e
tecnologia (DORNELAS, 2001).
Ações recentes nesta área têm sido desenvolvidas no Brasil. Seguem alguns
exemplos (DORNELAS, 2001):
• o programa Geração de Novas Empresas de Software, Informação e Serviços
(Genesis), que apoia atividades de empreendedorismo em software, estimulando o
ensino da disciplina em universidades e a geração de novas empresas do gênero (start-
ups);
• ações voltadas à capacitação do empreendedor, como os programas Empretec e
Jovem Empreendedor do Sebrae. E ainda o programa Brasil Empreendedor, do Governo
Federal, voltado à capacitação de mais de 1 milhão de empreendedores em todo o país e
que destina recursos financeiros ao setor, totalizando um investimento de 8 bilhões de
reais;
• diversos cursos e programas estão sendo criados nas universidades brasileiras
para o ensino do empreendedorismo. É o caso de Santa Catarina, com o programa
Engenheiro Empreendedor, que capacita alunos de graduação em engenharia. Destaca-
se também o programa Reune, da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), de
difusão do empreendedorismo nas escolas de ensino superior do país, presente em mais
de duzentas instituições brasileiras;
• a recente explosão de criação de empresas em internet no país, motivando o
surgimento de entidades como o Instituto e-cobra, de apoio aos empreendedores das
ponto.com (empresas baseadas em internet ), que ministra cursos, palestras e até oferece
prêmios aos melhores planos de negócios de empresas start-ups de internet,
desenvolvidos por jovens empreendedores;
• o enorme crescimento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias
Avançadas (Anprotec) mostram que em 2000, havia mais 135 incubadoras de empresas
no país, sem considerar as na internet, totalizando mais de 1.100 empresas incubadas,
que juntas geram mais de 5.200 empregos diretos.
Para a empresa
• Maior faturamento;
• Aumento da participação no mercado;
• Maior rentabilidade;
• Maior produtividade;
• Maior flexibilidade;
• Redução de custos.
Pesquisas internacionais, realizadas nos últimos dez anos, indicam que mais da
metade das fusões e aquisições não conseguiram alcançar os objetivos de adição de
valor planejados após serem fusionadas. A principal razão é a fraca integração cultural
entre as organizações envolvidas. O estudo apontou também a falta de um diagnóstico
prévio sobre as compatibilidades culturais entre as organizações a serem integradas,
conhecido como Due Diligence Cultural e de um plano sistêmico e sistemático de
integração cultural.
Esta visão perigosamente míope pode levar a uma fraca e demorada integração
organizacional, caracterizada por: choque cultural entre grupos, perda de capital
humano e memória organizacional, diminuição da confiança e cooperação
dentro e fora da organização emergente. (MONTEIRO, 2009)
1.3. Situação-problema
Estudo da KPMG (2007) revela que no ano de 1994 foram realizadas 172
operações de fusões e aquisições no Brasil. No ano de 2006, essas operações passaram
para 4.032, ou seja, um crescimento de mais de 2.200% em doze anos. Essas transações
de F&A apresentam-se como elementos de destaque nas estratégias adotadas pelo setor
de alimentos, bebidas e fumo, o que pode ser constatado no ranking da KPMG (2007),
no qual esse setor ocupa o primeiro lugar.
Uma transação de fusão e aquisição não pode ser vista como uma solução
simples para problemas internos ou externos, devido ao elevado risco, à incerteza e ao
nível de complexidade que interpõem essas operações. Barros e Cançado (2003)
consideram que as principais dificuldades enfrentadas pela empresa compradora se
apresentam na fase de integração, pois a definição do tipo de programa de recursos
humanos pode conter demissões ou retenção dos executivos da empresa comprada.
Para responder a esta pergunta foi estudado o caso de uma empresa do setor de
serviços de tecnologia da informação que presta serviços para o mercado financeiro. O
segmento de empresas de Tecnologia da Informação é bastante recente no Brasil, e é
composto por centenas de micros e pequenas empresas que têm menos de cinqüenta
colaboradores e menos de quinze anos de existência.
São empresas com pouco acesso ao crédito e com muita dificuldade para crescer
e se profissionalizar. Para elas, o processo de fusão representa uma das alternativas mais
viáveis. Trata-se de um segmento que tem uma boa reputação internacional e que é visto
como um dos mais modernos do mundo, mas que apesar da sua importância limita os
resultados encontrados a situação investigada.
1.5. Justificativas
Desta forma, ele acaba perdendo muito de suas características iniciais, pois fica
sem oportunidade para inovar, deixa de ter ousadia e coragem, preocupando-se apenas
com sua manutenção no mercado e com a busca de segurança. Passado algum tempo,
percebe-se que o ex-empresário não tem mais a mesma performance, acaba perdendo o
seu espaço na nova empresa e logo desincompatibiliza-se com a nova estrutura e pede
seu afastamento.
Foi escolhido o setor de informática pela sua importância para a economia e pelo
reconhecimento no mercado internacional como sendo um dos mais desenvolvidos do
mundo; especialmente quando se trata de informática voltada para o mercado
financeiro. Outro fator que recaiu sobre a escolha do tema foi por ser um dos setores
mais fragmentados, composto por centenas de pequenas e médias empresas
desenvolvedoras de software aplicativo, e com poucas empresas em condições de
disputar o mercado internacional.
1.6. O caso
No prazo de três anos, de 2004 a 2007, a empresa tornou seu software referência
para o setor, fez quatro aquisições e assumiu posição de liderança no mercado, tanto em
abrangência de soluções, quanto em quantidade de clientes e faturamento. Com recentes
aquisições, a Empresa X atingiu faturamento anual da ordem de R$ 30 milhões e
apresentou nos últimos três anos crescimento orgânico médio de 28% ao ano.
Considerando as aquisições, o crescimento médio no período foi de 77 % ao ano.
Produtos e serviços
Dados do setor
Concorrência e posicionamento
Existem mais de 150 empresas de software que atendem o setor financeiro, com
alto grau de segmentação e especialização, com faturamento médio de R$ 6
milhões/ano, baixa capacidade de investimentos e pouco acesso a recursos financeiros.
Enfrentam uma grande barreira de entrada para empresas internacionais, em razão do
alto grau de especificidade do mercado brasileiro em relação ao mercado global.
Objetivos e metas
Estratégia de crescimento
A empresa X definiu como vetores para seu crescimento nos próximos anos as
seguintes ações:
• ampliar a oferta através de aquisição de empresas com portfólio de soluções
complementares;
• ampliar a oferta através de investimento contínuo em desenvolvimento de novos
produtos e serviços;
• vender mais;
• ampliar a base de clientes;
• ampliar as operações internacionais, especialmente na América Latina, Índia e
China.
Uma vez por ano é feito um workshop de investimento onde cada diretor
defende os projetos que são mais interessantes para a sua unidade. Os mais alinhados
com a estratégia corporativa e os de maiores retornos são eleitos para o investimento no
ano seguinte.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1. Origem
Por volta de 1800, o economista francês Jean Batist Say utilizou novamente o
termo empreendedor em seu livro Tratado de Economia Política. O empreendedor
definido por Say (apud DRUCKER, 1987) é o responsável por “reunir todos os fatores
de produção e descobrir no valor dos produtos a reorganização de todo capital que ele
emprega, o valor dos salários, o juro, o aluguel que ele paga, bem como os lucros que
lhe pertencem”.
Contudo, foi a Inglaterra o país que mais dedicou esforços para definir
explicitamente a função do empreendedor no desenvolvimento econômico. Dentre os
ilustres teóricos que ofereceram uma grande contribuição para o entendimento do
fenômeno do empreendedorismo ressaltam-se Adam Smith e Alfred Marshall.
2.2. Empreendedorismo
De acordo com o autor existem sete fontes para uma oportunidade inovadora:
inesperado, contradição entre o que é e o que deveria ser uma necessidade, mudança
estrutural, mudanças demográficas, mudança na percepção e conhecimento científico
novo.
A globalização foi outro fator relevante e responsável por fazer com que grandes
empresas, antes gigantes e abarrotadas de mão-de-obra, reduzissem seus custos na busca
de produtos mais baratos e competitivos, gerando um enorme contingente de mão-de-
obra desempregada. Para escapar do desemprego estas pessoas optaram por iniciar seu
próprio negócio, muitas vezes sem experiência, mas com algum recurso financeiro
proveniente de demissão.
2.3. O empreendededor
Dolabela (1999 a, p. 37) afirma que “... não existem padrões definitivos,
princípios gerais ou fundamentos que possam assegurar de maneira cabal o
conhecimento na área”. Ainda segundo Dolabela (1999 a) o questionamento que
movimenta pesquisadores e estudiosos é: Quais são as características dos
empreendedores de sucesso? Eles têm algum diferencial dos demais profissionais?
Sob o enfoque de Filion (1999) não se pode ainda avaliar um indivíduo e
afirmar, com certeza, que o mesmo vai ser bem-sucedido enquanto empreendedor ou
não. Mas pode-se dizer se esse indivíduo tem as características mais comumente
encontradas nos empreendedores.
Nas palavras do autor: “Embora nenhum perfil científico tenha sido traçado, as
pesquisas têm sido fonte de várias linhas-mestras para futuros empreendedores,
ajudando-os a se situarem melhor. A pesquisa sobre empreendedores bem-sucedidos
permite aos empreendedores em potencial e aos empreendedores de fato identificarem
as características que devem ser aperfeiçoadas para obtenção de sucesso”. (FILION,
1999, p. 10).
O empreendedor é definido por Dolabela (1999a) como alguém que sabe o que
quer fazer e em que contexto será feito. Ao definir o que vai fazer, ele leva em
consideração sonhos, desejos, preferências e o estilo de vida que quer ter. Dedicando-se
intensamente a esta empreitada, já que trabalho se confunde com prazer. “O
empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma
visão futura da organização” (DORNELAS, 2001, p. 15).
Todo empreendedor é acima de tudo altamente criativo e ávido por coisas novas, para
isto é necessário que, muitas vezes, ele se coloque no papel dos outros. O empreendedor
vê a mudança como norma e como sendo sadia. Geralmente, ele não provoca a mudança
por si mesmo. Mas, e isto define o empreendedor e o empreendimento, o empreendedor
sempre está buscando a mudança, reage a ela e a explora como sendo uma oportunidade
(DRUCKER, 1987, p. 36).
Para Barros (2001), a comunicação cumpre diferentes objetivos nas várias fases
das operações de F&A. Em um primeiro momento, o objetivo é informar de maneira
abrangente a todos, a fim de minimizar especulações. As especulações geram
insegurança, inquietude e ansiedade, sentimentos que podem intensificar as reações de
tensão, a ponto de prejudicar a performance dos funcionários. Posteriormente, a
comunicação deve sinalizar a direção a ser tomada, bem como divulgar os valores, as
crenças e os princípios que regerão a nova organização. Essas informações ajudam os
funcionários a situarem-se e a minimizarem suas tensões frente ao futuro que os espera.
Não muito diferente, de acordo com Barros et alli (2003), em pesquisa realizada
no Brasil, a área de RH participou apenas de 20% das operações e, especificamente na
fase de due diligence, os participantes não ocuparam posição de decisão na equipe.
Segundo as autoras, as equipes responsáveis por outras etapas que não a de integração,
caracterizaram-se pelo caráter exclusivamente financeiro. A ausência de
multidisciplinaridade faz com que aspectos importantes para a operação como, por
exemplo, a avaliação da qualidade dos recursos humanos, sejam frequentemente
deixados de lado.
Essa última condição talvez seja a grande dificuldade encontrada pela pesquisa
social e o mérito maior do método. Os valores do pesquisador podem, eventualmente,
interferir na condução da pesquisa, na análise dos dados e, consequentemente, nas
conclusões. Como ensinam Selltiz et al.:
Este item visa demonstrar as categorias de análise, bem como as dimensões e/ou
fatores que podem servir de base para o estudo de determinado fenômeno.
Os fatores a serem analisados são aqueles ligados aos motivos que fazem com
que um empreendedor perca no decorrer de sua jornada as suas características mais
importantes e vitais, e que fazem dele um verdadeiro empreendedor.
Os pontos investigados dizem respeito à visão dos sócios das empresas adquiridas
com relação:
• à manifestação original do espírito empreendedor que deu origem à empresa
adquirida;
• aos motivos que levaram à fusão e como foi o processo de incorporação;
• à percepção em relação aos resultados obtidos;
• à percepção atual do executivo com relação às características do
empreendedorismo.
Assim, podem ser clarificados os motivos que tenham ficado ambíguos, além de
propiciar uma visão mais crítica do processo, com aprofundamento nas questões que
envolvem a aquisição. Nesse plano devem constar a estrutura organizacional e
hierarquia, a composição do time de integração, o cronograma de ações e a seleção dos
envolvidos que terão a responsabilidade de fazer a combinação das duas empresas.
“As expectativas no início eram modestas, mas a demanda do mercado era bem
maior (clientes em SP, RJ, Brasília e até internacionais) e isso fez com que
repensássemos nossa estratégia e começássemos a pensar grande.” (sócio da empresa
B)
“Os ideais eram de criar uma empresa que pudéssemos imprimir nosso DNA e
obter sucesso tanto financeiro quanto institucional, principalmente pelo fato de que
éramos pioneiros na oferta deste tipo de solução no Brasil e tínhamos um
relacionamento bem forte com a Microsoft.” (sócio da empresa D)
Desafios e,
Motivações,
“Acho que o que nos movia era o prazer de ter nossa solução funcionando em
grandes empresas, em saber que nossas soluções rodam do outro lado do mundo (na
China e Índia). É bem legal poder contar para os seus pais que algo tão abstrato, como
um software, ajuda empresas em todo o mundo.” (sócio da empresa B)
“Criar uma empresa de software moderna e com tecnologia avançada era algo
bem motivador. O dinheiro vinha como consequência.” (sócio da empresa C)
“Esta é uma resposta que exigiria uma reflexão profunda, pois a maturidade
‘ideal’ nunca é verdadeiramente atingida. Podemos, porém, dizer que após a
implantação de uma série de controles e metas que foram acontecendo durante os dois
anos seguintes às rodadas de investimento, a empresa ficou em um nível de maturidade
interessante (inclusive para o crescimento e segurança de seus sócios). Estes controles
foram sendo amadurecidos com as sugestões e (porque não dizer) interferências de
diversos dos sócios e que foram dando forma ao que a empresa se tornou com o
tempo.” (sócio da empresa C)
“Permitir a expansão dos negócios com um novo sócio que tivesse alinhamento
com os mesmos interesses.” (sócio da empresa C)
“A princípio agiram com receio, mas nosso time sempre foi bem unido e o
processo de comunicação foi muito bem conduzido. Eles ficaram muito entusiasmados e
cheios de planos após a incorporação. Lembro as conversas que tínhamos na época,
eram muito boas.” (sócio da empresa B)
Contudo, passados quatro anos da primeira aquisição, ainda não podemos dizer
que a integração esteja completa, ainda há núcleos funcionais que reagem com
saudosismo a uma empresa que não existe mais.
“Sim. Acredito que ter passado antes por outro processo de incorporação, fez
com que nossas expectativas para esta nova incorporação fossem mais maduras e
consistentes, sem ‘viagens’”. (sócio da empresa B)
“Na maior parte dos aspectos, sim. Obviamente houve um ajuste na velocidade
em que elas se confirmaram. Algumas coisas imaginávamos que ocorreria antes do que
realmente ocorreu e, outras, chegavam a acontecer de forma tão rápida que assustava
alguns componentes do time. Na média, todos se ajustaram bem no final.” (sócio da
empresa C)
“Em parte. Os principais, trabalhar menos e ganhar mais, ainda não...”. (sócio
da empresa A)
“Acreditamos que sim, por dois motivos. Com a saída dos acionistas
desalinhados, a empresa voltou a tomar decisões de risco e de maneira alinhada entre
todos os participantes. Por outro lado, os resultados após dois anos mostram a volta a
uma curva de crescimento das receitas e dentro de uma organização mais estruturada e
condizente com um mercado de tecnologia que é por natureza muito competitivo.”
(sócio da empresa C)
Apesar de não ter sido requisito na transação de fusão e aquisição, o fato é que a
maioria dos proprietários das empresas adquiridas são do sexo masculino, pertencem a
uma mesma faixa etária e mesmo grupo social, o que fez com que houvesse uma
sintonia no sentido de senso comum de que é necessário enfrentar desafios, inovar e
assumir riscos.
“Fazer algo novo, idealizar e realizar e para isso é necessário planejar bem,
definir objetivos e metas, saber com clareza onde, quando e como chegar ao resultado
esperado. Penso ser um erro focar diversas direções esperando acertar no alvo, o
melhor é concentrar nas metas do planejamento traçado.” (sócio da empresa A)
“Aquela pessoa que consegue enxergar uma oportunidade onde ninguém vê. E
que consegue mobilizar pessoas ao seu redor para este objetivo, o de conseguir realizar
este sonho.” (sócio da empresa B)
“Empreender é assumir riscos e tentar criar o que ainda não existe. Dentro
desta visão, a cautela e o controle estão presentes, mas elas nunca eliminam esta visão
primordial.” (sócio da empresa C)
Uma diferença clara, que teve que ser enfrentada pelos sócios oriundos das
empresas adquiridas, estava relacionada ao grau de liberdade perdido anteriormente à
aquisição. A disposição e o hábito em enfrentar riscos se contrapunham às rígidas regras
de ação na nova configuração societária, principalmente quando se é parte minoritária
de uma grande empresa. Um dos grandes desafios foi o de absorver a perda da
liberdade, e a adaptação, certamente, levou algum tempo.
Aceitar ser somente executivo na empresa que fundou e geriu por vários anos é
algo que leva um bom tempo e que demanda atenção e cuidados.
“É difícil, mas agora acho que é possível, o negócio de uma empresa que não
era a minha, foquei primeiro em conhecê-la para mantê-la e agora estou
transformando-a com a minha visão e adequando-a aos meus objetivos.” (sócio da
empresa A)
“Sim, mas muitas vezes o empreendedor não deixa, e isto seria um defeito. O
ideal é que o empreendedor sempre pense em seu negócio sem a sua presença, do
contrário ele pode se considerar imprescindível e isto seria um erro.” (sócio da
empresa C)
Ainda hoje o alinhamento entre os objetivos corporativos e os interesses dos sócios das
empresas adquiridas é um grande desafio.
Como fica o lado do empreendedor quando não se está mais na direção da empresa?
“Uma vez empreendedor não se muda, mas nesta condição ele precisa
aperfeiçoar o lado negociador– vendedor.” (sócio da empresa A)
“Para mim são coisas muito bem separadas. Meu sonho como empreendedor é
utilizar a informática para facilitar a vida do cliente, ter produtos que possam ser
vendidos em escala, e que o valor da empresa seja reconhecido pelos clientes. Meu
sonho não é ser presidente de uma empresa.” (sócio da empresa B)
O empreendedor está muito mais acostumado com liberdade, com falta total de
processos e também com a possibilidade de inovar, buscar a realização usando recursos
que não existem, costuma ser muito ágil, muito efetivo. E essas características eram
muito desenvolvidas nas empresas adquiridas antes da fusão.
“O que acontece é que passamos a não ter tempo para pensar e atuar no novo
com a mesma flexibilidade, se a ideia é boa, podemos “convencer” e realizar, só que
não será com a mesma agilidade.” (sócio da empresa A)
“Há uma perda aparente de não se ter acesso à inovação, mas isto é apenas
aparência. Na realidade, inovar pode ser aplicado a qualquer função que se exerça e,
dentro de um escopo menor, às vezes de uma maneira ainda mais eficiente e com
resultados mais notáveis.” (sócio da empresa C)
“Quando ocorre uma mudança brusca da função e não existe mais autonomia
na tomada de decisões, a veia empreendedora fica obstruída e, na minha opinião, para
um empreendedor nato, não existe chance de sucesso. Porém, se seu escopo de trabalho
envolve responsabilidades e atribuições ligadas a trazer resultado, sempre é possível
inovar e criar meios para se diferenciar da concorrência. Isso normalmente não ocorre
porque as pessoas responsáveis pela gestão operacional, se envolvem em demasia no
dia a dia e deixam de buscar novas formas de otimimizar o trabalho.” (sócio da
empresa D)
Na empresa X as decisões, como as de investir em novos negócios, são bastante
discutidas internamente, em um processo considerado até certo ponto demorado para se
chegar à conclusão, mas que agrega um componente de consenso e unicidade de direção
facilitando o envolvimento das pessoas para um objetivo comum. No entanto, as
equipes das empresas adquiridas acostumadas com agilidade e rapidez na decisão
alegavam perda da criatividade, da liderança e do espírito empreendedor.
Há perda da criatividade?
“O que acontece é que passamos a não ter tempo para pensar e atuar no novo
com a mesma flexibilidade, se a ideia é boa, podemos “convencer” e realizar, só que
não será com a mesma agilidade.” (sócio da empresa A)
“Não considero que haja perda de criatividade e sim a necessidade de que esta
criatividade seja coordenada com um time maior de pessoas, o que pode ser mais
difícil.” (sócio da empresa C)
“Não. Talvez haja uma diminuição do espaço para exercer sua criatividade,
tendo em vista que você não está mais envolvido nas decisões estratégicas, mas ainda
assim pode colaborar com a otimização recorrente dos processos de negócios em que
está envolvido.” (sócio da empresa D)
Há perda da liderança?
“Sim. Por conta de uma diminuição do escopo, mas também com uma diferença
importante, se comparado com a criatividade e empreendedorismo... no caso de uma
diminuição grande de escopo, algumas pessoas não conseguem trabalhar em ambientes
que não possam imprimir seu ritmo e tenham que trabalhar apenas fazendo papéis
burocráticos.” (sócio da empresa D)
Há perda do espírito empreendedor?
“Não. Ser empreendedor não significa ter uma empresa ou ser o presidente
dela. O espírito empreendedor continua independentemente do cargo que está sendo
ocupado.” (sócio da empresa B)
A integração de duas empresas seja por motivo de fusão ou aquisição consiste num
grande desafio para os executivos de ambas, mesmo com bom planejamento não é algo que
possa ser rápida ou indolor, mudará o destino das empresas e de seus colaboradores. Sabendo
disto a empresa X inicia o planejamento da incorporação ainda na fase de due dilligence antes
mesmo da parte jurídica estar finalizada. Para os sócios das empresas adquiridas consiste numa
experiência única.
Valeu a pena?
“Sim, valeu. A experiência de ter passado por uma aquisição anterior ajudou a
decidirmos por este segundo processo com a empresa X. Já sabíamos claramente o que
queríamos e o que não queríamos e quais seriam os prós e contras. A negociação foi
muito tranquila e o processo pós-incorporação não foi nenhuma novidade. Eu
recomendo.” (sócio da empresa B)
O espaço físico
Num primeiro caso tem-se a primeira e a última empresa incorporadas. Para elas
a empresa reservou um espaço físico distinto, respectivamente o segundo e o décimo
quarto andares. Ambas as empresas adquiridas constituíram unidades em torno da qual
se desenvolveu uma identidade específica e um misto de cultura ou, talvez, uma cultura
de transição entre a antiga e a nova empresa e nesses casos houve uma maior aderência
dos líderes e das equipes à cultura organizacional da nova empresa.
Retenção de pessoas
Essas medidas parecem ter sido eficientes tanto na adesão – já que a quantidade
de pessoas que aceitou a transferência foi insignificante –, como para a manutenção do
quadro uma vez que não houve rotatividade além do considerado normal nas estatísticas
das empresas.
Uma possível explicação para esse fato pode estar no próprio segmento de
negócio em que atuavam as empresas adquiridas e, consequentemente, no perfil dessas
empresas e de seus sócios. A empresa X adquiriu empresas ligadas à tecnologia da
informação com menos de dez anos de atividade. O tipo de cada uma das adquiridas
refletia a característica de seus empreendedores. Os ex-sócios não tinham experiência
no ambiente corporativo, ao contrário dos executivos, estavam acostumados com a
liberdade de ação, inovação e agilidade. Por outro lado, não utilizavam conceitos
gerenciais mais fundamentados, não se preocupam com a estruturação de processos e
com mecanismos de controle.
Perda da liberdade
Os sócios oriundos das empresas adquiridas tiveram que enfrentar certa perda de
liberdade. A disposição e o hábito de enfrentar riscos aprendidos na gestão de suas
empresas, se contrapunham às rígidas regras de ação na nova configuração societária.
Um dos grandes desafios, o de absorver a perda da liberdade, certamente, levou algum
tempo.
Outro desconforto dizia respeito à necessidade de reconstruir uma condição de
reconhecimento profissional, sendo necessário tempo e exposição para que as
capacidades dos que vieram fossem reconhecidas e valorizadas.
Cultura
Liderança
Comunicação
Resumo
5. CONCLUSÃO
O estudo mostrou que uma pequena empresa reage como um time, responde
ativamente ao seu líder, que tem autonomia e poderes para executar qualquer atividade.
Entre o líder empreendedor e sua equipe não há muitos níveis de hierarquia, o que
facilita o acesso em ambos os sentidos e agiliza o operacional da empresa.
Os colaboradores são facilmente envolvidos num sonho comum e
comprometem-se coletivamente para o atingimento dos objetivos. Manter este vínculo é
vital para a manutenção da estrutura como um todo.
Fatores críticos
Modelo de gestão
Espaço físico
Conforme foi exposto no estudo, ainda há muito a ser aprendido com os processos
que estão em andamento na empresa X, no entanto alguns aprendizados já se mostram
relevantes:
Apesar da conclusão de que uma fusão e/ou aquisição de empresas pode ser
bem-sucedida sobre vários pontos de vista, seja mercadológico, econômico-financeiro
ou tecnológico, do ponto de vista humano, no que tange a empreendedores e
colaboradores, ainda há muito que se investigar.
Sugere-se que sejam realizados estudos para delinear uma metodologia que
consiga levar em conta, além da obtenção dos resultados financeiros, a preservação da
maior quantidade possível do capital intelectual e a manutenção do espírito
empreendedor.
REFERÊNCIAS
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