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Considerai agora o lado propriamente politico dessa vasta questão, que mal
podemos esboçar. Dispensando, contendo ou repellindo a iniciativa
particular, annullando os varios fócos de actividade nacional, as associações,
os municipios, as provincias, economisando o progresso, regulando o ar e a
luz, em uma palavra, convertendo as sociedades modernas em
phalansterios como certas cidades do mundo pagão, a centralisação não
corrompe o caracter dos povos, transformando em rebanho as sociedades
humanas, sem sujeita-las desde logo a uma certa fórma de despotismo mais
ou menos diissimulado. Por isso é que, transplantada do império romano, a
centralisação cresceu com o absolutimo nas monarchias modernas e com
elle perpetuou-se em todas, tirante a Inglaterra. Por isso é que não póde
coexistir com a republica uma similhante organisação do poder. Assim,
absolutismo, centralisação, imperio, são, neste sentido, expressões
synonimas.(BASTOS, 1870, p. 8)
[...] para ser cumprida e realizada - esta lei exigia dos trabalhadores rurais e
dos patrões (fazendeiros) uma modalidade nova de comportamento,
estranha inteiramente às suas tradições seculares e mesmo à sua formação
cultural, que é, como vimos, nitidamente individualista.
Embora estabelecendo ou exigindo uma atitude solidarista para estas
classes, não estabelecia esta lei, porém, nenhuma obrigação de
solidariedade para eles: - era, como se diz, uma lei liberal. Quer dizer: - às
nossas classes rurais é que incumbia mudarem, espontaneamente, de
conduta, abandonando a sua velha tradição de isolamento, de particularismo
e de insolidariedade social - e encaminhando-se para a aquisição de novos
hábitos, que a política da dita lei tinha em mente criar na massa rural.
Hábitos estes que não eram, entretanto, de modo algum nossos; hábitos de
solidariedade, que são de povos estranhos, de povos de outra formação
social que não a nossa; povos em cujas tradições o associacionismo o
cooperativismo, a solidariedade local, como vimos, é dominante e está nos
costumes; - e isto por mil e uma causas que não tiveram atuação entre nós.
Segundo Coser(2008), foi desta conjuntura que então surge uma série de
propostas de parlamentares liberais, de cunho federalista, tais como: criação da
Guarda Nacional, aos moldes das milícias norte-americanas; mudanças na
constituição, aprovadas pelo Ato Adicional de 1834, onde prioriza os interesses
das províncias; assim como a promulgação do Código do Processo Criminal(1832),
que reorganiza o sistema judiciário do país. Estas legislações dão ao todo mais
autonomia político-administrativa às províncias e municípios para fazerem frente,
segundo o pensamento federalista, aos problemas locais.
Lei de 18 de agosto de 1831, que cria as guardas nacionais e extingue os corpos de milícias, guardas municipais e
ordenanças.
centralizar num poder supremo todos os órgãos do governo da colônia, conforme
se verifica no seu relato a seguir:
Na República, desde 1889 até os anos 1930, esta situação das forças
policiais iria mais longe, por exemplo, no Rio Grande do Sul havia serviço militar
obrigatório de âmbito estadual e, nos demais estados da federação, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, os governos estaduais transformaram
suas polícias à forma das forças da União, como se buscassem se aparelhar e
defender o território dos seus Estados à semelhança de como se defende uma
nação contra um inimigo externo. Organizando as forças policiais nas mesmas
armas - isto é, de infantaria, cavalaria e artilharia -, para isso, são dotadas com o
mesmo tipo de armamento e outros equipamentos de emprego militar, o mesmo
padrão de instrução militar, passando pelas mesmas técnicas e métodos e sob as
mesmas regras militares 4 , conservando apenas a denominação de
polícia(TORRES, 1961).
4
Até nos dias atuais, verifica-se que a legislação, a formação, a instrução, a linguagem e, em parte, o ethos e o armamento
empregados pelas polícias estaduais são características muito semelhantes aos dos militares das Forças Armadas.
20 e 30 do século XX, que ele considerava "verdadeiras Prússia"(FREYRE, 1947,
p. 154 apud TORRES, 1961, p. 237):
Referências
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COSER, Ivo. Visconde do Uruguai: centralização e federalismo no Brasil. Belo
Horizonte: Editora da UFMG; Rio de Janeiro: Iuperj, 2008.
MORSE, Richard. O Espelho de Próspero. São Paulo: Companhia das Letras,
1988.
ROCHA, Carlos Vasconcelos. Federalismo. Dilemas de uma definição conceitual.
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TORRES, Alberto. A Organização Nacional. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1938.
TORRES, J. C. de Oliveira. A Formação do Federalismo no Brasil. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1961.
VIANNA, Luis Werneck. “Americanistas e Iberistas: A Polêmica de Oliveira
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VIANNA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Brasília: Senado Federal,
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_______, Oliveira. O ocaso do Império. Rio de Janeiro: ABL, 2006.