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FONTES & METODOLOGIA

a) FONTES

As fontes a serem utilizadas no projeto são periódicos, especificamente revistas e


jornais que circularam na década de 1930 no Brasil e apresentaram posições a respeito da
dinâmica política que envolveu as ações e representações do movimento Ação Integralista
Brasileira (AIB) no campo político. O papel da chamada “imprensa verde” para o
integralismo assume uma importância vital para a análise histórica, pois, o jornalismo se
destacou na AIB, constituindo-se como elemento fundamental de atenção constante por
parte de sua direção. De forma que, a ininterrupta menção às publicações verdes em seus
próprios periódicos e o aparato administrativo de controle sobre as mesmas construíram
uma memória de grandiosidade em torno dessa estrutura de imprensa.1
O periódico A Offensiva (1934-1938)2 circulou na cidade do Rio de Janeiro entre
17 de maio de 1934 e 19 de março de 1938, quando foi definitivamente extinto pelo
Estado Novo (1937-1945). O periódico será adotado como fonte, pois, sua importância
para compreensão da AIB em sua estrutura política e ideológica é notável, sobretudo no
que diz respeito às projeções políticas de lideranças significativas do movimento, com
destaque para Plínio Salgado que ocupou a direção do periódico de divulgação de ideias
e ideais da extrema direita.3 Importante apontar que o periódico serviu para a construção
de uma lógica propagandística e consolidação da cultura política do movimento.
Outro importante impresso de divulgação integralista foi a revista Anauê! (1935-
1937), produzida no Rio de Janeiro.4 O periódico se insere na lógica propagandística
realizada pela AIB e possuí um forte caráter didático em suas apresentações e abordagens
referentes aos mais variados temas que percorriam os diferentes âmbitos da sociedade do
período, como política, cultura e economia.5 A revista traz uma série de informações

1
Sobre a importância da imprensa para o movimento, ver: OLIVEIRA, Rodrigo Santos de. Imprensa
integralista, imprensa militante (1932‐1937). (Tese de Doutorado em História). Porto Alegre, RS: PUC‐
RS, 2009.
2
Os periódicos podem ser acessados diretamente, de forma digitalizada na Biblioteca Nacional Digital
Brasil: http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html. Acesso em: 03/02/2018.
3
Sobre a dinâmica política da extrema direita e a importância do periódico A Offensiva, ver: SIMÕES,
Renata Duarte, GONÇALVES, Leandro Pereira. A Propaganda no jornal A Offensiva. In: VICTOR,
Rogério Lustosa (org.). À direita da direita: estudos sobre o extremismo político no Brasil. Goiânia: Editora
PUC-Goiás, 2011, p. 97-116.
4
A revista Anauê! pode ser acessada de forma digitalizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
5
FIORUCCI, Rodolfo. A Revista Anauê! (1935-1937) e Sua Organização dentro da estrutura de Imprensa
Integralista. In: Rogério Lustosa (org.). Op. cit., p. 117-140.

1
textuais e imagéticas e foi crucial para a formação de um imaginário político relacionado
às ideias da extrema direita da AIB.6

b) METODOLOGIA

Na historiografia contemporânea, o retorno à história política tornou-se


preocupação pertinente entre os historiadores, haja vista que essa renovação pretendida
por uma “nova história política” se apresenta por meio de amplas análises e aberturas
sempre em movimento (novos temas, novos objetos e novas fontes) na medida em que
adota uma concepção bem distante de uma “velha história política” dita “positivista” que
predominou no século XIX e privilegiou análises políticas tradicionais concebidas de
forma imóvel.7 A “nova história política”, se assim se pode chamá-la, preocupa-se,
sobretudo, com abordagens interdisciplinares (sociologia, linguística e antropologia) que
reorientaram as interpretações na historiografia entre 1970 e 1980, trazendo a luz questões
como: a atuação e representação dos movimentos operários, a representação partidária,
atuação dos intelectuais no campo da cultura política, novos estudos sobre ideias e
ideologias políticas e questões de ordem biográficas.8
Os métodos adotados para interpretar o material selecionado concentram-se,
sobretudo, em referenciais da “História da Imprensa”.9 O deslocamento dos estudos
históricos da década de 1970, ainda sob forte influência da Escola dos Annales, inseriu
de forma definitiva a imprensa como documento, que passou a ser tratado a partir de
diferentes perspectivas, constituindo uma “história dos, nos e por meio dos periódicos”10,
como jornais e revistas. As reflexões buscarão seguir percursos metodológicos já
percorridos por diferentes historiadores da imprensa que a partir de 1970/1980 realizaram

6
Os estudos acerca da importância da revista Anauê! São relativamente amplos, visto o significado do
periódico para o AIB, para tanto, ver: FIORUCCI, Rodolfo. A trajetória da revista Anauê! (1935-1937): o
jornalismo partidário e ilustrado da ação integralista brasileira – a “netinha” que não cresceu. (Tese de
Doutorado em História). Universidade Federal de Goiás, 2014; SILVA, Rogério Souza. A política como
espetáculo: a reinvenção da história brasileira e a consolidação dos discursos e das imagens integralistas na
revista Anauê! Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 25, n. 50, p. 61-95, 2005.
7
CAPELATO, Maria Helena Rolim. História do Brasil e revisões historiográficas. Revista Anos 90, Porto
Alegre, v.23, n. 43, p. 21-37, jul. 2016.
8
RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 7-10.
9
Um dos mais importantes estudos foi realizado pelo historiador Nelson Werneck Sodré, no qual percorre
desde do período colonial à segunda metade do século XX, destacando as transformações ocorridas na
imprensa e seu impacto na cultura política brasileira. Ver: SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa
no Brasil. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Mauad, 1999.
10
LUCA, Tania Regina de. Fontes impressas: história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSK, Carla
Bassanezi. (Org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005, p. 118.

2
trabalhos como O Bravo Matutino11 e apontaram para a necessidade de tomar a imprensa
como fonte e dependendo do caso, como objeto, destacando seu papel como ator político.
A importância de jornais e revistas para a pesquisa história, analisados a partir de
novas orientações metodológicas revelam a importância dos periódicos no debate político
da vida nacional e na constituição da cidadania. Em relação ao âmbito político é de
fundamental importância se aprofundar nos discursos produzidos e difundidos pela
imprensa, de forma a apreender sua relação com o espaço público e o impacto de suas
ideologias na política. Não é possível pensar e escrever a história por meio de periódicos
sem estabelecer suas relações com a trajetória política, econômica e cultural do país,
independente do período analisado.12
Ao se deparar com jornais e revistas, o historiador deve levar em consideração as
condições específicas de produção dos periódicos, sua materialidade e os sentidos que
assume no momento de sua circulação. Esses aspectos são de importância crucial, pois
permite uma análise mais profunda e interativa com o significado político e ideológico
dos periódicos. Como destaca Luca, “deve-se ter em vista que a grande variação na
aparência, imediatamente apreensível pelo olhar diacrônico, resulta da interação entre
métodos de impressão disponíveis num dado momento e o lugar social ocupado pelos
periódicos”.13 De modo que, “historicizar a fonte requer ter em conta, portanto, as
condições técnicas de produção vigentes e a averiguação, dentre tudo que se dispunha, do
que foi escolhido e por quê”.14
Em ralação as fontes adotadas para essa proposta, o jornal A Offensiva e a revista
Anauê!, busca-se levar em consideração qual era o papel da imprensa política nos anos
1930 e de que maneira sua produção e circulação estavam relacionadas com o projeto
ideológico da AIB. O conteúdo encontrado deve ser pensado conjuntamente com a ação
política de seus idealizadores, de modo que será considerado com especial atenção “as
motivações que levaram à decisão de dar publicidade a alguma coisa”15, no que diz
respeito às ações e representações políticas da direção da AIB.

11
CAPELATO, Maria Helena Rolim; PRADO, Maria Ligia Coelho. O Bravo Matutino: imprensa e
ideologia no jornal “O Estado de S. Paulo”. São Paulo. Alfa-Ômega, 1980.
12
MARTINS, Ana Luiza. LUCA, Tania Regina de (Org.). História da imprensa no Brasil. São Paulo.
Contexto, 2008, p. 8.
13
LUCA, Tania Regina de. Op. cit., 2005, p. 132.
14
Idem.
15
Ibid., p. 139.

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