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Resumo – O enquadramento dos corpos d'água em classes, que é um dos instrumentos de gestão
estabelecidos pela Política Nacional de Recursos Hídricos, visa assegurar às águas qualidade
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à
poluição das águas, mediante ações preventivas. O enquadramento estabelece o nível de qualidade a
ser alcançado ou mantido ao longo do tempo por trechos de um rio. Uma forma de avaliar a situação
de um corpo hídrico com relação às metas de qualidade estabelecidas pelo enquadramento é a utilização
do índice de conformidade ao enquadramento (ICE), a fim de facilitar a compreensão da análise. Este
trabalho avaliou o cumprimento das metas de enquadramento em dois trechos da bacia do Rio das
Velhas, dentro do município de Ouro Preto - MG, por meio do cálculo do ICE no período de 2007 a
2013. O ICE no Ribeirão Funil variou de Péssimo para Ruim e o ICE no Rio das Velhas variou de
Péssimo para Bom, indicando uma melhora na qualidade da água na bacia, mas que, no caso do
Ribeirão Funil, ainda é insuficiente para cumprir a meta estabelecida pelo enquadramento.
1
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental - ProAmb - UFOP - lauraifmg@gmail.com
2
Departamento de Engenharia Civil - Escola de Minas - UFOP - cefmello@gmail.com
* Autor Correspondente
A bacia do Rio das Velhas, em função do seu potencial e da sua fragilidade, foi umas das
primeiras a ter uma proposta de enquadramento. A bacia possui uma vasta extensão e abriga
grandes núcleos habitacionais e industriais. O primeiro enquadramento da bacia hidrográfica do rio
das Velhas ocorreu em 1997, por meio da Deliberação Normativa número 020 de 24/06/97 do
COPAM. Posteriormente, sua atualização ocorreu em 2004, através da elaboração do Plano Diretor
de Recursos Hídricos, onde foram alterados apenas alguns trechos (IGAM, 2014).
Em Minas Gerias, o órgão responsável pela gestão e monitoramento das águas é o Instituto
Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), que utiliza os seguintes índices para avaliar as condições da
qualidade da água: Índice de Qualidade das Águas (IQA), Índice de Conformidade ao
Enquadramento (ICE), Índice de Qualidade da Água Bruta para fins de Abastecimento Público (IAP),
Índice de Estado Trófico (IET), Índice de Contaminação por Tóxicos, Índice de Balneabilidade (IB) e
Índice de Qualidade de Água para a Proteção da Vida Aquática (IVA).
Este trabalho teve como objetivo avaliar o cumprimento das metas de enquadramento em dois
trechos da bacia do Rio das Velhas, dentro do município de Ouro Preto - MG, por meio do cálculo do
ICE no período de 2007 a 2013.
O estudo foi realizado na bacia do Rio das Velhas, localizada na região central do Estado de
Minas Gerais, entre as latitudes 17°15'S e 20°25'S e longitudes 43°25'W e 44°50'W. A população
da Bacia do Rio das Velhas, estimada em 4.406.190 habitantes, está distribuída nos 51 municípios
cortados pelo rio e seus afluentes (CBH VELHAS, 2014). A área de estudo corresponde aos trechos
Ribeirão Funil (a montante do rio das Velhas) e Rio das Velhas (a jusante do ribeirão do Funil),
ambos situados no município de Ouro Preto, como mostra a Figura 1.
O município de Ouro Preto, que drena as águas do alto Rio das Velhas, abriga as seguintes
atividades econômicas: atividades agrícolas, turismo, pecuária, extração de ferro, bauxita,
manganês, talco e mármore, a hematita, a dolomita, turmalina, pirita, muscovita, topázio e topázio
imperial (IBGE, 2014). Mas, apesar da importância deste município para o Rio das Velhas, este
vem sofrendo há décadas diversos impactos ambientais, sendo os principais impactos: o despejo de
efluentes domésticos e industriais nos cursos d’água, alterações e aumento de sedimentos em
suspensão nos cursos d’água; desmatamentos; descaracterização do relevo; formação de cavas;
assoreamento dos cursos d'água; destruição de áreas de preservação permanente (APP's); destruição
da fauna e da flora; alteração do meio atmosférico, através da quantidade de poeira em suspensão
no ar; alteração dos processos geológicos, como a ocorrência de erosão e formação de voçorocas
(ECOPLAN-SKILL, 2013).
LEVANTAMENTO DE DADOS
Para o cálculo do ICE, utilizaram-se 7 anos de dados de amostragens nas duas estações
convencionais do IGAM (Figura 1 e Tabela 1), em Ouro Preto, no período de 2007 a 2013. Nestas
estações foram registradas 4 medições anuais, uma para cada estação climática.
Tabela 2- Parâmetros selecionados para aplicação do ICE na bacia do Rio das Velhas. Fonte: Próprio autor.
Fator 3 - Amplitude: representa a quantidade pela qual o valor testado falhou, isto é, a
diferença entre o valor mensurado e o valor a ser alcançado de acordo com o objetivo de qualidade
da água. O fator F3 é calculado em três etapas:
1) O número de vezes em que a concentração individual é maior que (ou menor que, quando o
objetivo é um mínimo),ou seja, quando o valor do teste não deve exceder o objetivo (Equação 3).
Objetivos i
Vi variação * 100
Valor test ado que falhou (4)
V
i 1
i
snv
Número total de testes (5)
3) O valor de F3 é calculado pela soma normalizada das variações dos objetivos (snv), sendo
que estas foram reduzidas a uma variável entre 0 e 100 (Equação 6).
snv
F3
0,01 x snv + 0,01 (6)
Portanto, o índice pode ser obtido através da Equação 7, sendo o fator 1,732 empregado de
forma a normalizar o resultado, pois cada um dos três fatores individuais pode chegar a 100.
F2 F2 F2
ICE 100 1 2 3
1,732
(7)
Tabela 3 - Classes do ICE e seus Significados. Fonte: CCME (2001) apud ANA (2012).
Valor do ICE Classes Significado
A qualidade de água está protegida com virtual ausência de impactos. A qualidade da água
95 ≤ ICE ≤ 100 Ótimo
está muito próxima da condição natural.
A qualidade de água está protegida, apresentando apenas um pequeno grau de impacto. A
80 ≤ ICE < 95 Bom qualidade da água raramente se desvia da condição natural ou dos padrões estabelecidos pelo
enquadramento.
A qualidade da água está protegida, mas ocasionalmente ocorrem impactos. A qualidade da
65 ≤ ICE < 80 Regular
água se desvia dos padrões estabelecidos pelo enquadramento.
A qualidade da água é frequentemente afetada. Com frequência os parâmetros de qualidade
45 ≤ ICE < 65 Ruim
de água não atendem os padrões estabelecidos pelo enquadramento.
A qualidade da água quase sempre está alterada. Os parâmetros de qualidade frequentemente
ICE < 45 Péssimo
não atendem os padrões estabelecidos pelo enquadramento.
RESULTADOS E DICUSSÕES
A Figura 2 apresenta os resultados do ICE para a estação AV007. Pode-se observar que nos
anos de 2007, 2009 e 2010 o Ribeirão Funil apresentou um ICE "Péssimo". Isso demonstra que a
Verifica-se na Figura 2 uma melhora do ICE ao longo dos anos, sendo que no ano de 2007, o
Ribeirão apresentou um ICE de 38, enquanto no ano de 2013, o valor do ICE foi de 58, ou seja, um
aumento de 20 pontos, passando de “Péssimo” para “Ruim”. Mas apesar desta melhoria, o Ribeirão
Funil encontra-se muito afastado dos padrões estabelecidos para classe 1. Esta constante
desconformidade é decorrente de uma grande degradação ambiental na bacia do Ribeirão Funil.
Este curso d’água vem sofrendo ao longo dos anos constantes e intensas alterações das suas
características naturais, tais como: poluição de carga difusa, esgoto doméstico, extração de minerais
não metálicos, supressão da vegetação. Portanto, essas atividades corroboram significativamente
para constante violação dos limites legais e o não atendimento ao enquadramento de classe 1.
Com a finalidade de detalhar o conjunto de parâmetros que mais contribuíram para a baixa
qualidade das águas nesta estação, calculou-se o percentual de ocorrência dos parâmetros com
resultados não conformes em relação aos padrões de qualidade da classe do enquadramento (Figura
3).
0% 2013
Figura 3 - Percentual não conformes com a classe de enquadramento da estação - AV007. Fonte: Próprio autor.
A Figura 4 apresenta os resultados do ICE para a estação AV010. Pode-se observar que nos
anos de 2007 e 2010 o Rio das Velhas apresentou um ICE "Péssimo". Isso demonstra que a
qualidade da água quase sempre estava alterada, ou seja, os parâmetros de qualidade
frequentemente não atendiam os padrões estabelecidos pelo enquadramento.
Verifica-se na Figura 4 uma melhora do ICE ao longo dos anos, sendo que no ano de 2007, o
Rio das Velhas apresentou um ICE de 40, enquanto no ano de 2013, o valor do ICE foi de 86, ou
seja, um aumento de 46 pontos, passando de “Péssimo” para “Bom”. Mas, apesar desta melhora, o
Rio das Velhas não atingiu a classe “Ótimo”. Portanto, ainda encontra-se afastado dos padrões
estabelecidos para classe 1. Esta desconformidade é decorrente da degradação ambiental na bacia
do Rio das Velhas, que sofre diversos impactos e intensas alterações das suas características
naturais, tais como: atividade minerária, assoreamento, carga difusa e esgoto doméstico. Essas
atividades contribuem para a susceptibilidade do rio não atender os limites legais e
consequentemente o não atendimento ao enquadramento de classe 1.
Em todos os anos analisados, o parâmetro manganês apresentou valores que violam o limite
da classe de enquadramento, tendo apresentado um percentual médio de 75%. Portanto, as
atividades mineradoras realizadas em Ouro Preto podem estar contribuindo, significativamente,
para o não atendimento da classe de enquadramento.
Figura 5 - Percentual não conformes com a classe de enquadramento da estação - AV010. Fonte: Próprio autor.
CONCLUSÃO
Os resultados do ICE, nos trechos do Ribeirão Funil e do Rio das Velhas em Ouro Preto,
mostram que, no geral, está ocorrendo uma melhora da qualidade da água. Entretanto, a bacia ainda
sofre constantemente diversas ações que contribuem para uma desconformidade no atendimento aos
padrões de qualidade da água, como o fato do município de Ouro Preto ainda não possuir sistema de
tratamento de esgoto e abrigar diversas atividades mineradoras.
REFERÊNCIAS
ANA – Agência Nacional das Águas. Portal da Qualidade das Águas. 2011. Disponível em:
<http://pnqa.ana.gov.br/IndicadoresQA/introdu%C3%A7%C3%A3o.aspx>. Acesso em: 21/08/2014..
CBH VELHAS, Comitê De Bacia Rio Das Velhas, A Bacia hidrográfica do rio das Velhas. Disponível em:
<http://www.cbhvelhas.org.br/index.php/more-about-joomla/a-bacia> Acesso em 21/08/2014.
CCME – Canadian Council of Ministers of the Environment. Water Quality Index: Technical Report. In: Canadian
Water Quality Guidelines for the Protection of Aquatic Life. 2001. Disponível em:
http://www.ccme.ca/assets/pdf/wqi_techrprtfctsht_e.pdf. Acesso em: 21/08/2014.
ECOPLAN-SKILL – Elaboração do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas:
Relatório de Diagnóstico Específico das UTEs. Contrato nº 021/2012, 2013. Disponível em: <
http://cbhvelhas.org.br/index.php/dummy-item/atualizacao-plano-diretor.html > Acesso em: 21/08/2014.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 21/08/2014.
IGAM - INSTITUTO MINEIRO DE GESTÃO DAS ÁGUAS. Gestão das Águas. Disponível em:<
http://www.igam.mg.gov.br/gestao-das-aguas/enquadramento>. Acesso em: 21/08/2014.