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SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA PERCOLAÇÃO PELAS FORMULAÇÕES CLÁSSICA E

HIPER-SINGULAR DO MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO COM


ELEMENTOS QUADRÁTICOS DESCONTÍNUOS

1
Carlos Eduardo Ferraz de Mello

RESUMO – A formulação hiper-singular do método dos elementos de contorno (MEC) é uma


alternativa à formulação clássica para resolver vários problemas de engenharia, tais como flexão de
placas, mecânica de fraturas e problemas de potencial. A vantagem principal da formulação hiper-
singular em relação à formulação clássica é a obtenção de uma equação integral de contorno que
permite o cálculo da derivada tangencial no contorno, a qual era normalmente obtida por diferenças
finitas. Este trabalho apresenta a simulação numérica de percolação sob barragens pelas formulações
clássica e hiper-singular do MEC com elementos quadráticos descontínuos. Um exemplo de
percolação sob uma barragem impermeável valida as formulações desenvolvidas e confirmam a
exigência teórica da continuidade do gradiente do potencial no contorno para a formulação hiper-
singular.

ABSTRACT– The hiper-singular formulation of the boundary element method (BEM) is an


alternative to the classical formulation to solve various engineering problems, such as plate bending,
fracture mechanics and potential problems. The main advantage of the hiper-singular formulation in
relation to the classical formulation is a boundary integral equation that allows the calculation of the
tangential derivative on the boundary, which was normally obtained by finite differences. This work
presents a numerical simulation of percolation under dams by BEM classical and hiper-
singular formulations with discontinuous quadratic elements. An example of a percolation beneath
an impervious dam validate the formulations developed and confirm the theoretical requirement
of continuity of the potential gradient on the boundary for the hiper-singular formulation.

Palavras-Chave – formulação hiper-singular, método dos elementos de contorno, percolação.

INTRODUÇÃO

A formulação hiper-singular do método dos elementos de contorno (MEC) é uma alternativa à


formulação clássica para resolver vários problemas de engenharia, como mostram os trabalhos de
Mansur et al. (1997), Feng et al. (2015) e Feng et al. (2019). A vantagem principal da formulação
hiper-singular em relação à formulação clássica é obter uma equação integral de contorno que permite
o cálculo da derivada tangencial no contorno, a qual era normalmente obtida por diferenças finitas e
não pelo próprio MEC.
Vários problemas de recursos hídricos podem ser representados pela teoria potencial, tais como
escoamento subterrâneo, escoamento sob comportas ou sobre vertedores. Este trabalho apresenta a

1) Departamento de Engenharia Civil – Escola de Minas – Universidade Federal de Ouro Preto – Campus Morro do Cruzeiro s/n – CEP: 35400-000 –
Ouro Preto/MG, Brasil – Tel: (31) 3559-1546; e-mail: carlos@ufop.edu.br

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simulação numérica da percolação sob barragens pelas formulações clássica e hiper-singular do MEC
com elementos quadráticos descontínuos.

FORMULAÇÃO CLÁSSICA DO MEC

O MEC consiste em transformar uma equação diferencial e condições de contorno que regem
um determinado problema numa equação integral de contorno, podendo para tal aplicar-se o conceito
de resíduos ponderados (Brebbia et al., 1984; Mansur et al., 1995).
Neste caso, trata-se de um problema de percolação em regime permanente em meio poroso
isotrópico para o caso de escoamento confinado. A equação diferencial em questão é a de Laplace e
deseja-se determinar a distribuição do potencial u em um domínio Ω,

∂2u ∂2u (1)


∇ 2 u( x ) = + =0
∂x 2 ∂y 2
onde x = (x,y) é um ponto genérico do domínio. Para a determinação de soluções particulares da
equação de Laplace é necessário que se prescreva no contorno Γ condições de contorno. Aqui serão
considerados dois tipos de condições de contorno:
• condições de contorno essenciais ou de Dirichlet

u( x ) = u( x ) x ∈ ΓU (2)

• condições de contorno naturais ou de Neumann

∂u ( x ) (3)
pn ( x ) = = pn ( x ) x ∈ ΓP
∂n
onde pn(x) é o valor da derivada do potencial u(x) na direção normal ao contorno.
A equação integral que representa a equação (1) e suas condições de contorno (2) e (3), e que
permite o cálculo das incógnitas u e pn no contorno e no domínio, pode ser escrita na seguinte forma
(Brebbia et al., 1984; Mansur et al., 1995):

c(ξ) u (ξ) = ∫ p n ( x ) u * (ξ ; x )dΓ( x ) − ∫ u ( x ) p *n (ξ ; x )dΓ( x ) (4)


Γ Γ

A função u*(ξ; x) é a chamada solução fundamental, i.e., solução da equação de Poisson para
uma fonte concentrada unitária em um ponto ξ, sendo ξ e x pontos pertencentes a um domínio Ω* que
contenha Ω. Os pontos ξ e x são denominados, respectivamente, fonte e campo. A função p *n (ξ;x) é

a derivada de u*(ξ; x) na direção normal ao contorno. Em duas dimensões temos:

1 1 ∂u * 1 ∂ν (5)
u ( ξ; x ) =
*
ln  ; p ( ξ; x ) =
*
=−
2π  r  ∂n 2πr ∂n
n

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onde r é a distância Euclidiana entre o ponto fonte ξ e o ponto campo x; e ν é o vetor unitário na
direção de ξ para x (Figura 1).
A equação (4) é válida para pontos ξ internos ou pertencentes a Γ desde que se observe que:

0 se ξ ∉ (Ω ∪ Γ) (6)

c(ξ) = β 2π se ξ ∈ Γ
1 se ξ ∈Ω

onde β é o ângulo interno no ponto ξ. Se o contorno é suave em ξ, β = π e c(ξ) = 0,5.
A derivada do potencial no ponto interno ξ numa direção genérica m (Figura 1),
p m (ξ) = ∂u / ∂m(ξ) , pode ser obtida calculando-se a derivada direcional de todos os termos que

aparecem na equação (4) na direção do vetor unitário m(ξ). Neste caso:

p m (ξ) = ∫ u *,m (ξ, x )p n ( x )dΓ( x ) − ∫ p *n ,m (ξ, x )u ( x )dΓ( x ) (7)


Γ Γ

Figura 1 - Definições para cálculo de u(ξ) e pm(ξ)

As derivadas direcionais de u* e pn* são dadas por (Mansur et al., 1995):

u *,m =
1
ν•m ; p *n ,m = −
1
[2(ν • m )(ν • n ) − m • n ] (8)
2πr 2πr 2
Em particular, as derivadas p x (ξ) = ∂u / ∂ξ x e p y (ξ) = ∂u / ∂ξ y em pontos internos podem ser

calculadas fazendo-se m igual aos unitários nas direções x e y, respectivamente, e substituindo as


expressões (8) em (7):

∂u * ∂p * ∂u * ∂p * (9)
p x ( ξ) = ∫ p n dΓ( x ) − ∫ u n dΓ( x ) ; p y (ξ) = ∫ p n dΓ( x ) − ∫ u n dΓ( x )
Γ ∂x ξ Γ ∂x ξ Γ ∂y ξ Γ ∂y ξ
sendo

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 ∂u * 1  ∂p*n 1 (10)
 ∂x = 2πr ν x  ∂x = − 2πr 2 [2(ν • n )ν x − n x ]
 ξ  ξ
 * ;  *
 ∂u = 1 ν y  ∂p n = − 1 [2(ν • n )ν y − n y ]
 ∂y ξ 2πr  ∂y ξ 2πr 2

onde nx e ny são as projeções do vetor unitário normal nas direções x e y; νx e νy são as projeções de
ν em x e y.

Discretização espacial
O contorno Γ original é discretizado por um conjunto de elementos quadráticos de contorno.
Os elementos quadráticos podem ser classificados da seguinte forma (Figura 2):
tipo 1 → elemento descontínuo com os nós funcionais inicial e final deslocados;
tipo 2 → elemento descontínuo com nó funcional inicial deslocado;
tipo 3 → elemento descontínuo com nó funcional final deslocado;
tipo 4 → elemento contínuo.

Figura 2 – Tipos de elementos quadráticos

Todo o processo de discretização e aproximação numérica da equação (4), e que conduz a um


sistema de equações lineares em função das incógnitas u e pn dos nós funcionais no contorno, está
descrito detalhadamente em Mello (1999). Uma vez conhecidos todos os valores de u e pn no
contorno, pode-se calcular os valores do potencial e sua derivada nos pontos internos.

FORMULAÇÃO HIPER-SINGULAR DO MEC

Assim como na formulação clássica levou-se, através de um processo limite, o potencial em


pontos internos para pontos do contorno, leva-se a derivada do potencial em pontos internos para
pontos no contorno, analogamente numa direção m qualquer. A formulação obtida por este processo
de derivação e limite é conhecida como formulação hiper-singular do MEC, pois os núcleos das
integrais passam a ter singularidades de ordem superior (1/r e 1/r2) às que existem na formulação
clássica (lnr e 1/r). Este processo limite está descrito em detalhes por Fleury Jr. (1996) e Mansur et
al. (1997) e pode ser indicado pela expressão abaixo (ver Figura 3):

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
[ ]
p m (ξ) + lim ∫ p *n ,m (ξ, x )u ( x ) − u *,m (ξ, x )p n ( x ) dΓ( x )+ (11)
ε →0
Γ −Γε


∫ [p ]
(ξ; x )u ( x ) − u *,m (ξ; x )p n ( x ) d Γε ( x ) = 0
*
n ,m
Γe 
Através do desenvolvimento da equação (11) (Fleury Jr., 1996, Mansur et al., 1997) e
considerando que para ξ localizado em cantos, os resultados dependem do ângulo interno β e dos
vetores unitários m, o, n1, n2, t1 e t2 definidos nas proximidades de ξ (Figura 4), chega-se à seguinte
expressão:

β
2π 2π
[ ][ 2 1

]
p m (ξ) − p m (ξ){ m(ξ) • t (ξ) m(ξ) • n (ξ) }1 − p o (ξ) m(ξ) • n (ξ)
1 2
{[ ]} =
1
2
(12)

{ [
VP ∫ u ,m (ξ; x )p n ( x ) − p n ,m (ξ; x ) u ( x ) − u (ξ) dΓ( x )
* *
]}
Γ

Figura 3 - Domínio Ω aumentado de um setor Figura 4 - Definição dos vetores unitários n1, n2, t1 e t2
circular de raio ε

onde o é a direção perpendicular a m com m×o = k ; t é o vetor unitário tangencial ao contorno; os


índices 1 e 2 representam, respectivamente, o contorno imediatamente antes e depois do ponto ξ
(canto); e VP significa a integral no valor principal de Cauchy.

A expressão (12) requer que o gradiente de u seja contínuo em cada ponto fonte ξ (Fleury Jr.,
1996, Mansur et al., 1997). Fazendo-se m = n, obtém-se uma equação integral de contorno que
relaciona valores de u e pn no contorno, servindo de alternativa à equação integral de potencial da
formulação clássica usada para determinar as incógnitas no contorno. No caso de cantos artificiais,
introduzidos pela discretização espacial, é usada uma técnica simples que melhora a convergência e
reduz os erros (Fleury Jr., 1996). Trata-se de fazer m ao longo da bissetriz do ângulo entre as duas
normais dos elementos vizinhos, como o vetor normal unitário na equação (12).

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A equação integral de contorno hiper-singular da derivada normal para pontos em cantos, com
a simplificação da bissetriz, fica:

 β + sen β 
 p n (ξ) = VP ∫
1
[ ]
ν • n (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + (13)
 2π  Γ
2π r

∫Γ π r 2 [ν • n (ξ)][ν • n (x )][u (x ) − u (ξ)]dΓ(x ) − VP ∫Γ 2π r 2 [n (ξ) • n (x )][u (x ) − u (ξ)]dΓ(x )


1 1

Já para contornos suaves temos:

0,5 p n (ξ) = ∫
1
2π r
[ ] [ ] [ ]
ν • n (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + ∫ 2 ν • n (ξ) [ν • n ( x )] u ( x ) − u (ξ) dΓ( x ) −
πr
1
(14)
Γ Γ

VP ∫
1
2π r 2
[ ][ ]
n (ξ) • n ( x ) u ( x ) − u (ξ) dΓ( x )
Γ

A derivada tangencial do potencial é obtida numa etapa de pós-processamento substituindo-se


m por t na equação (12). A equação integral de contorno hiper-singular da derivada tangencial para
pontos em cantos, também com a simplificação da bissetriz, resulta:

 β − sen β 
 p t (ξ) = VP ∫
1
[ ]
ν • t (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + (15)
 2π  Γ
2π r

[ ] [ ] [ ][ ]
∫Γ π r 2 ν • t (ξ) [ν • n (x )] u (x ) − u (ξ) dΓ(x ) − VP ∫Γ 2π r 2 t (ξ) • n (x ) u (x ) − u (ξ) dΓ(x )
1 1

No caso de contornos suaves temos:

0,5 p t (ξ) = VP ∫
2
1
π r
[ ]
ν • t ( ξ ) p n ( x ) dΓ ( x ) + (16)
Γ

∫ 2π r {2[ν • t (ξ)][ν • n (x )] − [t (ξ) • n (x )]}[u (x ) − u (ξ)]dΓ(x )


1
2
Γ

As integrais indicadas como valor principal de Cauchy (VP) são resolvidas numericamente
através do conceito de Parte Finita (Hadamard, 1952) e removendo-se analiticamente as
singularidades pelo esquema proposto por Brandão (1987).

As expressões (15) e (16) podem ser utilizadas para calcular a derivada tangencial do potencial
no contorno independentemente de u e pn terem sido obtidos pela formulação clássica ou hiper-
singular.

O cálculo do potencial u e suas derivadas px e py para pontos internos é feito pelas mesmas
equações apresentadas na formulação clássica. Toda a implementação computacional desta
formulação está detalhada no trabalho de Mello (1999).

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RESULTADOS

A fim de verificar a eficiência das formulações desenvolvidas, alguns exemplos foram


simulados e os resultados numéricos de um deles são aqui apresentados. O exemplo mostra a
aplicação de interesse deste trabalho, isto é, o caso de percolação sob uma barragem. Elementos
descontínuos foram usados para se considerar os dois valores de pn em todos os cantos reais.

Exemplo
Este exemplo representa um caso de percolação sob uma barragem considerada impermeável,
com fundação a 10 m num solo poroso isotrópico (coeficiente de permeabilidade k = 0,75x10-5 m/s)
de 90 m de espessura (Figura 5). A montante da barragem está represada uma coluna de água de 20
m e a jusante existe uma de 5 m. O contorno do domínio foi discretizado por 34 elementos, sendo
estes descontínuos nos cantos. A Figura 6 ilustra esta discretização e também mostra as condições de
contorno adotadas. Foram definidos 194 pontos no interior do domínio para representar a percolação.

110 m
110

100 U = 20 U=5
95 m
90 barragem impermeável Pn = 0 Pn = 0

80 Pn = 0
70
60
50
LEGENDA
Pn = 0 - nó extremo Pn = 0
40 - nó central
30
20
10
rocha impermeável Pn = 0
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Figura 5 – Esquema da barragem, do domínio do Figura 6 – Discretização e condições de contorno


problema e níveis d’água

As Figuras 7 a 10 apresentam o traçado das equipotenciais e das velocidades de percolação para as formulações
clássica e hiper-singular.
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Figura 7 – Traçado das equipotenciais – formulação Figura 8 – Traçado das equipotenciais – formulação
clássica hiper-singular

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-5 -5
Escala: 0,12 x10 m/s Escala: 0,12 x10 m/s
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Figura 9 – Velocidades de percolação – formulação Figura 10 – Velocidades de percolação – formulação


clássica hiper-singular
Para cada ponto interno a velocidade de percolação foi calculada pela expressão:

v = k p 2x + p 2y (17)

Pode-se verificar que as duas formulações apresentaram valores de potencial e velocidade


semelhantes e bem próximos do comportamento esperado para as condições do problema. Ocorreu
uma maior divergência dos resultados apenas nos cantos inferiores do domínio, e que confirma a
maior dificuldade da formulação hiper-singular em lidar com cantos. O elemento quadrático é
perturbado pela aproximação inerente aos elementos contínuos que exigem a continuidade de pn em
contornos retos, ao mesmo tempo que falha em garantir a continuidade de pt. Um refinamento da
malha não é suficiente para eliminar os erros da interpolação do elemento, a qual não satisfaz
totalmente as exigências de continuidade da formulação hiper-singular (Mansur et al., 1997, Fleury
Jr., 1996).
Para permitir uma comparação mais detalhada dos resultados das duas formulações, foram
selecionadas algumas linhas horizontais e verticais no domínio e foram traçados os perfis do potencial
(Figuras 11 e 12).
20 90
Y (m) - formul.
19
80 - clas.
80
18 80 - hsing.

17 60 - clas.
60 - hsing. 70
16
40 - clas.
15 40 - hsing. 60
20 - clas.
14
potencial U

X (m) - formul.
eixo Y (m)

20 - hsing.
13 50
5 - clas. 20 - clas.
12 5 - hsing. 20 - hsing.
40
60 - clas.
11
60 - hsing.
10 30 90 - clas.
9 90 - hsing.

20 120 - clas.
8
120 - hsing.
7 160 - clas.
10
6 160 - hsing.

5 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5
eixo X (m) potencial U

Figura 11 – Potencial u para diversas horizontais Figura 12 – Potencial u para diversas verticais

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Outro resultado importante das formulações é o cálculo da derivada tangencial pt do potencial no
contorno. As Figuras 13 e 14 mostram os valores de pt no contorno inferior (y = 0) e no contorno de
montante (x = 0) para as duas formulações.

0.01 90

0.00 80 formulação

clássica
-0.01 hiper-singular
70

-0.02
60
-0.03

eixo Y (m)
50
Pt

-0.04
40
-0.05

30
-0.06

-0.07 formulação 20
clássica
-0.08 hiper-singular 10

-0.09
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
-0.09 -0.08 -0.07 -0.06 -0.05 -0.04 -0.03 -0.02 -0.01 0.00 0.01
eixo X (m)
Pt

Figura 13 – Valores de pt para y = 0 Figura 14 – Valores de pt para x = 0

Novamente ficou evidente a maior divergência dos resultados da formulação hiper-singular em


relação à formulação clássica nos cantos do domínio e este comportamento já foi aqui discutido.

CONCLUSÕES

O exemplo da barragem validou a simulação numérica de percolação pelas formulações clássica


e hiper-singular do MEC com elementos quadráticos descontínuos.
Foi usada com sucesso a solução bastante simples da bissetriz na formulação hiper-singular
(Fleury Jr., 1996) para minorar os efeitos da introdução de cantos artificiais decorrentes da
discretização.
Confirmou-se a exigência teórica da continuidade do gradiente do potencial no contorno para a
formulação hiper-singular (Fleury Jr., 1996, Mansur et al., 1997).
A formulação hiper-singular é bastante sensível à determinação da direção normal e para casos
com aproximação de geometria (cantos artificiais), o uso de malhas pouco refinadas não garante
convergência.
O uso de elementos quadráticos ou superiores (cúbicos ou spline) minimizam os problemas com a
exigência da continuidade do gradiente na formulação hiper-singular, melhorando os resultados,
principalmente os da derivada tangencial. Isto só não é verificado quando a discretização é grosseira.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brandão, M.P. (1987). “Improper Integrals in Theoretical Aerodynamics: the Problem Revisited”.
AIAA Journal, v.25 (9), pp. 1258-1260.

Brebbia, C.A.; Telles, J.C.F.; Wrobel, L.C. (1984). Boundary Element Techniques: Theory and
Applications in Engineering. Springer-Verlag, Berlin.

Fleury Jr., P. (1996). Formulação Hiper-singular do Método dos Elementos de Contorno Visando
a Simulação de Ondas Gravitacionais. Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ.

Hadamard, J. (1952). Lectures on Cauchy’s Problem in Linear Partial Differential Equations.


Dover Publication, New York.

Feng, W.Z.; Liu, J.; Gao, X.W. (2015). “An improved direct method for evaluating hypersingular
stress boundary integral equations in BEM”. Engineering Analysis with Boundary Elements.
v.61, pp.274–281.

Feng, W.Z.; Li, H.Y.; Gao, L.F; Qian, W.; Yang, K. (2019). “Hypersingular flux interface integral
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Mansur, W.J.; Fleury Jr., P.; Azevedo, J.P.S. (1997). “A Vector Approach to the Hyper-singular BEM
Formulation for Laplace’s Equation in 2D”. The International Journal of BEM
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Mansur,W.J.; Prodanoff, J.H.A.; Azevedo, J.P.S. (1995). “Método dos Elementos de Contorno em
Recursos Hídricos”. In: Silva, R.C.V.(ed). Métodos Numéricos em Recursos Hídricos 2.
capítulo 1, Rio de Janeiro, ABRH.

Mello, C.E.F. (1999). Implementação Computacional das Formulações Clássica e Hiper-


singular do Método dos Elementos de Contorno para Problemas de Potencial 2D. Seminário
de Doutorado, COPPE/UFRJ.

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