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Carlos Eduardo Ferraz de Mello
INTRODUÇÃO
1) Departamento de Engenharia Civil – Escola de Minas – Universidade Federal de Ouro Preto – Campus Morro do Cruzeiro s/n – CEP: 35400-000 –
Ouro Preto/MG, Brasil – Tel: (31) 3559-1546; e-mail: carlos@ufop.edu.br
O MEC consiste em transformar uma equação diferencial e condições de contorno que regem
um determinado problema numa equação integral de contorno, podendo para tal aplicar-se o conceito
de resíduos ponderados (Brebbia et al., 1984; Mansur et al., 1995).
Neste caso, trata-se de um problema de percolação em regime permanente em meio poroso
isotrópico para o caso de escoamento confinado. A equação diferencial em questão é a de Laplace e
deseja-se determinar a distribuição do potencial u em um domínio Ω,
u( x ) = u( x ) x ∈ ΓU (2)
∂u ( x ) (3)
pn ( x ) = = pn ( x ) x ∈ ΓP
∂n
onde pn(x) é o valor da derivada do potencial u(x) na direção normal ao contorno.
A equação integral que representa a equação (1) e suas condições de contorno (2) e (3), e que
permite o cálculo das incógnitas u e pn no contorno e no domínio, pode ser escrita na seguinte forma
(Brebbia et al., 1984; Mansur et al., 1995):
A função u*(ξ; x) é a chamada solução fundamental, i.e., solução da equação de Poisson para
uma fonte concentrada unitária em um ponto ξ, sendo ξ e x pontos pertencentes a um domínio Ω* que
contenha Ω. Os pontos ξ e x são denominados, respectivamente, fonte e campo. A função p *n (ξ;x) é
1 1 ∂u * 1 ∂ν (5)
u ( ξ; x ) =
*
ln ; p ( ξ; x ) =
*
=−
2π r ∂n 2πr ∂n
n
0 se ξ ∉ (Ω ∪ Γ) (6)
c(ξ) = β 2π se ξ ∈ Γ
1 se ξ ∈Ω
onde β é o ângulo interno no ponto ξ. Se o contorno é suave em ξ, β = π e c(ξ) = 0,5.
A derivada do potencial no ponto interno ξ numa direção genérica m (Figura 1),
p m (ξ) = ∂u / ∂m(ξ) , pode ser obtida calculando-se a derivada direcional de todos os termos que
u *,m =
1
ν•m ; p *n ,m = −
1
[2(ν • m )(ν • n ) − m • n ] (8)
2πr 2πr 2
Em particular, as derivadas p x (ξ) = ∂u / ∂ξ x e p y (ξ) = ∂u / ∂ξ y em pontos internos podem ser
∂u * ∂p * ∂u * ∂p * (9)
p x ( ξ) = ∫ p n dΓ( x ) − ∫ u n dΓ( x ) ; p y (ξ) = ∫ p n dΓ( x ) − ∫ u n dΓ( x )
Γ ∂x ξ Γ ∂x ξ Γ ∂y ξ Γ ∂y ξ
sendo
onde nx e ny são as projeções do vetor unitário normal nas direções x e y; νx e νy são as projeções de
ν em x e y.
Discretização espacial
O contorno Γ original é discretizado por um conjunto de elementos quadráticos de contorno.
Os elementos quadráticos podem ser classificados da seguinte forma (Figura 2):
tipo 1 → elemento descontínuo com os nós funcionais inicial e final deslocados;
tipo 2 → elemento descontínuo com nó funcional inicial deslocado;
tipo 3 → elemento descontínuo com nó funcional final deslocado;
tipo 4 → elemento contínuo.
∫ [p ]
(ξ; x )u ( x ) − u *,m (ξ; x )p n ( x ) d Γε ( x ) = 0
*
n ,m
Γe
Através do desenvolvimento da equação (11) (Fleury Jr., 1996, Mansur et al., 1997) e
considerando que para ξ localizado em cantos, os resultados dependem do ângulo interno β e dos
vetores unitários m, o, n1, n2, t1 e t2 definidos nas proximidades de ξ (Figura 4), chega-se à seguinte
expressão:
β
2π 2π
[ ][ 2 1
2π
]
p m (ξ) − p m (ξ){ m(ξ) • t (ξ) m(ξ) • n (ξ) }1 − p o (ξ) m(ξ) • n (ξ)
1 2
{[ ]} =
1
2
(12)
{ [
VP ∫ u ,m (ξ; x )p n ( x ) − p n ,m (ξ; x ) u ( x ) − u (ξ) dΓ( x )
* *
]}
Γ
Figura 3 - Domínio Ω aumentado de um setor Figura 4 - Definição dos vetores unitários n1, n2, t1 e t2
circular de raio ε
A expressão (12) requer que o gradiente de u seja contínuo em cada ponto fonte ξ (Fleury Jr.,
1996, Mansur et al., 1997). Fazendo-se m = n, obtém-se uma equação integral de contorno que
relaciona valores de u e pn no contorno, servindo de alternativa à equação integral de potencial da
formulação clássica usada para determinar as incógnitas no contorno. No caso de cantos artificiais,
introduzidos pela discretização espacial, é usada uma técnica simples que melhora a convergência e
reduz os erros (Fleury Jr., 1996). Trata-se de fazer m ao longo da bissetriz do ângulo entre as duas
normais dos elementos vizinhos, como o vetor normal unitário na equação (12).
β + sen β
p n (ξ) = VP ∫
1
[ ]
ν • n (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + (13)
2π Γ
2π r
0,5 p n (ξ) = ∫
1
2π r
[ ] [ ] [ ]
ν • n (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + ∫ 2 ν • n (ξ) [ν • n ( x )] u ( x ) − u (ξ) dΓ( x ) −
πr
1
(14)
Γ Γ
VP ∫
1
2π r 2
[ ][ ]
n (ξ) • n ( x ) u ( x ) − u (ξ) dΓ( x )
Γ
β − sen β
p t (ξ) = VP ∫
1
[ ]
ν • t (ξ) p n ( x )dΓ( x ) + (15)
2π Γ
2π r
[ ] [ ] [ ][ ]
∫Γ π r 2 ν • t (ξ) [ν • n (x )] u (x ) − u (ξ) dΓ(x ) − VP ∫Γ 2π r 2 t (ξ) • n (x ) u (x ) − u (ξ) dΓ(x )
1 1
0,5 p t (ξ) = VP ∫
2
1
π r
[ ]
ν • t ( ξ ) p n ( x ) dΓ ( x ) + (16)
Γ
As integrais indicadas como valor principal de Cauchy (VP) são resolvidas numericamente
através do conceito de Parte Finita (Hadamard, 1952) e removendo-se analiticamente as
singularidades pelo esquema proposto por Brandão (1987).
As expressões (15) e (16) podem ser utilizadas para calcular a derivada tangencial do potencial
no contorno independentemente de u e pn terem sido obtidos pela formulação clássica ou hiper-
singular.
O cálculo do potencial u e suas derivadas px e py para pontos internos é feito pelas mesmas
equações apresentadas na formulação clássica. Toda a implementação computacional desta
formulação está detalhada no trabalho de Mello (1999).
Exemplo
Este exemplo representa um caso de percolação sob uma barragem considerada impermeável,
com fundação a 10 m num solo poroso isotrópico (coeficiente de permeabilidade k = 0,75x10-5 m/s)
de 90 m de espessura (Figura 5). A montante da barragem está represada uma coluna de água de 20
m e a jusante existe uma de 5 m. O contorno do domínio foi discretizado por 34 elementos, sendo
estes descontínuos nos cantos. A Figura 6 ilustra esta discretização e também mostra as condições de
contorno adotadas. Foram definidos 194 pontos no interior do domínio para representar a percolação.
110 m
110
100 U = 20 U=5
95 m
90 barragem impermeável Pn = 0 Pn = 0
80 Pn = 0
70
60
50
LEGENDA
Pn = 0 - nó extremo Pn = 0
40 - nó central
30
20
10
rocha impermeável Pn = 0
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
As Figuras 7 a 10 apresentam o traçado das equipotenciais e das velocidades de percolação para as formulações
clássica e hiper-singular.
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Figura 7 – Traçado das equipotenciais – formulação Figura 8 – Traçado das equipotenciais – formulação
clássica hiper-singular
v = k p 2x + p 2y (17)
17 60 - clas.
60 - hsing. 70
16
40 - clas.
15 40 - hsing. 60
20 - clas.
14
potencial U
X (m) - formul.
eixo Y (m)
20 - hsing.
13 50
5 - clas. 20 - clas.
12 5 - hsing. 20 - hsing.
40
60 - clas.
11
60 - hsing.
10 30 90 - clas.
9 90 - hsing.
20 120 - clas.
8
120 - hsing.
7 160 - clas.
10
6 160 - hsing.
5 0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5
eixo X (m) potencial U
Figura 11 – Potencial u para diversas horizontais Figura 12 – Potencial u para diversas verticais
0.01 90
0.00 80 formulação
clássica
-0.01 hiper-singular
70
-0.02
60
-0.03
eixo Y (m)
50
Pt
-0.04
40
-0.05
30
-0.06
-0.07 formulação 20
clássica
-0.08 hiper-singular 10
-0.09
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
-0.09 -0.08 -0.07 -0.06 -0.05 -0.04 -0.03 -0.02 -0.01 0.00 0.01
eixo X (m)
Pt
CONCLUSÕES
Brandão, M.P. (1987). “Improper Integrals in Theoretical Aerodynamics: the Problem Revisited”.
AIAA Journal, v.25 (9), pp. 1258-1260.
Brebbia, C.A.; Telles, J.C.F.; Wrobel, L.C. (1984). Boundary Element Techniques: Theory and
Applications in Engineering. Springer-Verlag, Berlin.
Fleury Jr., P. (1996). Formulação Hiper-singular do Método dos Elementos de Contorno Visando
a Simulação de Ondas Gravitacionais. Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ.
Feng, W.Z.; Liu, J.; Gao, X.W. (2015). “An improved direct method for evaluating hypersingular
stress boundary integral equations in BEM”. Engineering Analysis with Boundary Elements.
v.61, pp.274–281.
Feng, W.Z.; Li, H.Y.; Gao, L.F; Qian, W.; Yang, K. (2019). “Hypersingular flux interface integral
equation for multi-medium heat transfer analysis”. International Journal of Heat and Mass
Transfer. v.138, pp.852–865.
Mansur, W.J.; Fleury Jr., P.; Azevedo, J.P.S. (1997). “A Vector Approach to the Hyper-singular BEM
Formulation for Laplace’s Equation in 2D”. The International Journal of BEM
Communications. v.8, pp. 239-250.
Mansur,W.J.; Prodanoff, J.H.A.; Azevedo, J.P.S. (1995). “Método dos Elementos de Contorno em
Recursos Hídricos”. In: Silva, R.C.V.(ed). Métodos Numéricos em Recursos Hídricos 2.
capítulo 1, Rio de Janeiro, ABRH.