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Unidade de Educação a Distância

ECONOMIA

Autora: Joseane de Souza Fernandes

Belo Horizonte / 2013


Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

ESTRUTURA FORMAL DA UNIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA

REITOR
JOAO PAULO BARROS BELDI

VICE-REITORA
JULIANA SALVADOR FERREIRA DE MELLO

COORDENAÇÃO GERAL
SINARA BADARO LEROY

DESIGNER INSTRUCIONAL
DÉBORA CRISTINA CORDEIRO CAMPOS LEAL
PATRICIA MARIA COMBAT BARBOSA

EQUIPE DE WEB DESIGNER


CARLOS ROBERTO DOS SANTOS JÚNIOR
FILIPE AFONSO CALICCHIO SOUZA
GABRIELA SANTOS DA PENHA
LUCIANA REGINA VIEIRA

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
FERNANDA MACEDO DE SOUZA ZOLIO
RIANE RAPHAELLA GONÇALVES GERVASIO

AUXILIAR PEDAGÓGICO
MARÍLIA RODRIGUES BARBOSA
PRISCILA ANTAO DE SANTANA

REVISORA DE TEXTO
MARIA DE LOURDES SOARES MONTEIRO RAMALHO

SECRETARIA
LUANA DOS SANTOS ROSSI
MARIA LUIZA AYRES

MONITORIA
ELZA MARIA GOMES

AUXILIAR ADMINISTRATIVO
MARIANA TAVARES DIAS RIOGA
THAYMON VASCONCELOS SOARES

AUXILIAR DE TUTORIA
FLÁVIA CRISTINA DE MORAIS
MIRIA NERES PEREIRA
VANESSA OLIVEIRA BARBOSA

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Sumário

Unidade 1: Introdução à Teoria Microeconômica 5


Unidade 2: Noções de Macroeconomia 32
Unidade 3: Noções de Economia Internacional 60
Unidade 4: Economia Brasileira 76
Unidade 5: Economia Brasileira: População, Emprego e Distribuição de Renda 101

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Ícones

Comentários Reflexão

Dica Lembrete

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Unidade 1: Introdução à Teoria Microeconômica


1. Conteúdo Didático

Caro aluno, vamos dar início à disciplina de Economia, enfatizando a análise microeconômica.

Começaremos pelas questões econômicas fundamentais: o que produzir? Como produzir? Quanto
produzir? Para quem produzir? Algumas dessas perguntas são respondidas através da Curva de
Possibilidade de Produção, objeto de estudo do nosso primeiro tópico. Está animado para começar?
Já, já iremos compartilhar conhecimentos, aguarde!!!

Em seguida, iremos analisar as leis fundamentais da economia – Lei da OFERTA e Lei da


PROCURA – a determinação do equilíbrio de mercado; os vários tipos de mercados definidos pela
teoria econômica; as elasticidades-preço da oferta e da procura e a elasticidade-renda da procura e
suas aplicações para resolver alguns problemas no nosso dia a dia.

1.1. Os recursos econômicos e o processo de produção: os fatores de


produção e a curva de possibilidade de produção

As questões principais que são respondidas através do estudo da curva de possibilidade de produção
são: o que produzir? Quanto produzir? Devemos ter sempre em mente que os recursos econômicos
são escassos diante das necessidades humanas. Em outras palavras, com uma quantidade fixa de
recursos, os produtores devem produzir bens e serviços que satisfaçam essas necessidades,
consideradas ilimitadas.

Por que as necessidades humanas são ilimitadas? Devemos lembrar que algumas necessidades são
básicas, tais como: alimentação, moradia e vestuário. Não significa que sejam fixas ao longo do
tempo! Aliás, a economia considera as necessidades humanas ilimitadas, pois, a partir do momento
em que o indivíduo consegue satisfazer suas necessidades básicas, outras necessidades vão se
apresentando a ele, às vezes impostas pelo mercado, às vezes determinadas por questões pessoais,
culturais, religiosas, sociais, dentre outras.

É muito fácil perceber isso... Há alguns anos, quando a vida na grande cidade era menos violenta, a
maioria dos indivíduos preferia morar em casas e não tinham a preocupação de manter portas
trancadas. Atualmente, as pessoas que residem em grandes cidades preferem morar em
apartamentos, cercados de vários equipamentos de segurança, como alarmes, cercas elétricas,
porteiros 24 horas, etc.

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A questão central é que as necessidades – básicas ou não - devem ser


atendidas e isso implica, necessariamente, a produção de bens e serviços.

Em todo processo produtivo, sempre são utilizados os mesmos fatores de produção: terra, capital e
trabalho. Note que combinações diferenciadas dos fatores de produção resultam em produtos
também diferenciados! É aí que surge a primeira questão: Qual produto produzir, sabendo-se que
devemos usar sempre os mesmos fatores de produção? Em outras palavras, quais as necessidades
humanas que serão atendidas em um determinado momento?

Por mera questão didática, antes de avançarmos nessa discussão, vamos melhor compreender os
fatores de produção.

1.1.1. Fatores de produção

Fatores de produção são recursos utilizados em um processo produtivo. Em geral são divididos em
três tipos: Terra, Capital e Trabalho.

1.1.1.1. Terra

O termo ‘Terra’, quando utilizado para se referir a um fator de produção, tem um significado bastante
abrangente. Envolve não somente a terra, propriamente dita, como também todo o solo agriculturável
e não-agriculturável, urbano e rural, bem como todas as riquezas naturais existentes acima e abaixo
do solo.

Uma jazida mineral (ouro, carvão, diamante, etc); madeiras; espécimes animais e vegetais são
exemplos para esse fator de produção.

Como esse conceito é bastante amplo, usualmente a Economia distingue a terra (solo) dos demais
elementos naturais. Nos processos produtivos os recursos naturais (animais, vegetais e minerais) são
denominados ‘matérias primas’.

1.1.1.2. Capital

O termo capital é utilizado tanto para se referir ao capital monetário, aquele que financia a atividade
produtiva, quanto ao capital fixo, ou seja, às máquinas e equipamentos utilizados nos processos
produtivos.

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1.1.1.3. Trabalho

O último fator de produção é o trabalho, termo que se refere ao esforço humano – físico e/ou mental –
despendido ao longo do processo produtivo.

Retomando a discussão central: se todo processo produtivo envolve a combinação dos fatores de
produção e se os fatores de produção são escassos: Quais necessidades humanas devem ser
atendidas em primeiro lugar? Qual(is) produto(s) produzir? Qual quantidade deve ser produzida de
cada bem ou serviço?

1.2. A curva de Possibilidade de Produção

Para responderem a essas questões, os economistas utilizam uma importante ferramenta: a curva de
possibilidades de produção, também conhecida como fronteira de possibilidades de produção.

Essa curva ilustra, justamente, o problema da escassez: como não existem recursos para
produzirmos tudo, ao mesmo tempo, necessariamente temos que sacrificar a produção de alguns
bens e serviços em detrimento de outros considerados mais necessários, mediante as necessidades
humanas, em determinado período de tempo.

Para a confecção da curva de possibilidade de produção, são admitidos os seguintes pressupostos:


(1) O estoque de capital fixo da empresa é considerado constante, durante determinado período
de tempo (curto prazo). Em outras palavras, por pressuposto a empresa não realiza
investimentos para aumentar sua capacidade produtiva, no curto prazo. É apenas um
pressuposto, não uma proibição!!! É claro que a empresa pode realizar investimentos de
forma a aumentar sua capacidade produtiva, e isso tem reflexos na posição da curva de
possibilidades de produção. No entanto, a economia considera que quando a empresa chega
a realizar investimentos produtivos e altera, de fato, a sua capacidade produtiva, essa
empresa se encontra no longo prazo.
(2) A empresa não realiza investimentos em inovação tecnológica, no curto prazo. Analogamente
não é uma proibição, apenas um pressuposto. Os investimentos em inovação tecnológica são
admitidos apenas no longo prazo.
(3) Por simplificação, a empresa produz apenas dois bens quaisquer, como alimentos e
vestuários; móveis e eletrodomésticos; milho e soja, dentre outros.
(4) Qualquer ponto sobre a curva de possibilidade de produção corresponde a um ponto de pleno
emprego dos fatores de produção, entendendo-se por pleno emprego uma situação na qual
todos os fatores de produção estão sendo empregados, havendo apenas desemprego
voluntário no mercado de trabalho. Desemprego voluntário representa uma situação na qual o
trabalhador se recusa, voluntariamente, a trabalhar em função do nível relativamente baixo
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dos salários pagos no mercado. Em outras palavras, só não trabalha quem não quer
trabalhar, porque acredita que o baixo salário não justifica o esforço físico e/ou mental
exercido ao longo da atividade produtiva.

Vamos imaginar uma economia que produza apenas 2 produtos: soja e milho. De acordo com as
informações da TABELA 1, se a economia (que pode ser uma fazenda ou uma empresa) usar todos
os fatores de produção para produzir apenas milho, a produção de milho correspondente ao nível de
pleno emprego dos fatores de produção, será igual a 8.000 Kg e nenhuma quantidade de soja seria
produzida. Na medida em que for necessário aumentar a produção de soja, a quantidade produzida
de milho necessariamente será reduzida, pois em uma situação de pleno emprego só é possível
aumentar a produção de um bem ou serviço mediante a redução da produção do outro bem. Se a
economia usar todos os seus recursos na produção de soja, serão produzidos 5.000 Kg de soja e
nenhuma quantidade de milho.

TABELA 1: Quantidades produzidas de soja e milho (em Kg)

Soja Milho Custo de


Ponto (Kg) (Kg) oportunidade
A 0 8.000 -
B 1.000 7.500 0,5
C 2.000 6.500 1
D 3.000 5.000 1,5
E 4.000 3.000 2
F 5.000 0 3
Fonte: Passos e Nogami, (2001, p. 24)

GRÁFICO 1: Curva de Possibilidade de Produção

8.000
Produção de milho (Kg)

7.000

6.000

5.000

4.000

3.000

2.000

1.000

0
0 1000 2000 3000 4000 5000

Produção de soja (Kg)

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Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da TABELA 1

Já sabemos, então, que, para produzirmos quantidades adicionais de soja, devemos abrir mão de
quantidades de milho. Para a teoria econômica, a produção sacrificada em função de outra é definida
como custo de oportunidade. Voltando à TABELA 1, podemos verificar que, para produzirmos 1.000
Kg de soja, devemos sacrificar 500 Kg de milho, determinando um custo de oportunidade de 0,5. Em
outras palavras, entre os pontos A e B, para cada quilo de soja produzido devemos deixar de produzir
0,5 Kg de milho.

Observe que o custo de oportunidade é crescente. O que explica esse comportamento? Nesse caso,
a produtividade da terra na produção do milho é menor em relação à produção da soja.
Genericamente, “recursos utilizados em uma atividade podem não ter a mesma eficiência quando
transferidos para outra atividade” (PASSOS e NOGAMI, 2001, p. 26). Em função do comportamento
do custo de oportunidade, a fronteira de possibilidade de produção será sempre uma curva côncava
em relação à origem.

Até o presente momento consideramos apenas os pontos sobre a curva de possibilidade de


produção, ou seja, os pontos de pleno emprego. No entanto, a economia pode estar operando em
algum ponto abaixo da curva e desejar alcançar algum ponto acima dela.

Se a economia estiver operando em algum ponto abaixo da curva, ela está em situações abaixo do
pleno emprego (subemprego). Nesse caso, a economia pode aumentar a produção dos dois bens
sem que nenhuma produção seja sacrificada, ou seja, sem incorrer em custo de oportunidade.

Se desejar alcançar algum ponto acima da curva, deve realizar investimentos em inovações
tecnológicas e/ou em aumento do estoque de capital fixo. Fazendo isso a curva se desloca para cima
(para a direita), indicando que sua capacidade produtiva se elevou, deslocando o ponto de pleno
emprego para cima. Em outras palavras, a economia poderá, após a realização desse investimento,
produzir quantidades maiores dos dois bens.

A decisão do que produzir e do quanto produzir depende, é claro, do mercado. Por isso vamos agora
estudar o conceito de mercado, os vários tipos de mercados existentes e suas estruturas. Animado?
Vamos continuar nosso estudo e qualquer dúvida entre em contato com seu professor através do
ambiente virtual!

1.3. Mercado: conceito, tipologias e estruturas

Por mercado, a economia entende “um grupo de compradores e vendedores de um dado bem ou
serviço” (MANKIW, 2001, p. 66); “um local ou contexto em que compradores (o lado da procura) e

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vendedores (o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos estabelecem contato e realizam


transações” (PASSOS e NOGAMI, 2001, p. 16).
A teoria econômica identifica 4 tipos básicos de mercado: concorrencial
perfeito (ou de competição perfeita), monopolista, oligopolista e
concorrência monopolística.

Um mercado concorrencial perfeito se estrutura na existência de um grande número de empresas


de pequeno porte e um grande número de compradores. Nesse mercado, os produtos são
homogêneos (não há nenhum tipo de diferenciação de produto nem da qualidade do produto); os
agentes econômicos (empresas e consumidores) não têm nenhum poder de determinação do nível de
preços desse mercado, sendo este determinado pela interação entre as forças de mercado, ou seja,
pela oferta e pela procura. Os preços tendem
a ser baixos (no limite, tendem a zero), o lucro
das empresas é extremamente baixo e
corresponde ao custo de oportunidade. É um
mercado caracterizado pela perfeita mobilidade
de fatores, ou seja, empresas podem entrar e
sair do mercado, sem restrições ou barreiras,
assim como os trabalhadores estão aptos a
realizarem qualquer atividade produtiva em
qualquer empresa ou setor desse mercado. Fonte: Disponível em: <
http://www.gustavodourado.com.br/feira1.jpg> Acesso em:
29/10/2009
No mundo atual, mercados em concorrência perfeita são praticamente inexistentes. Imagine uma feira
livre na rua onde você mora! Os vendedores possuem barracas e vendem exatamente o mesmo
produto em pequenas quantidades, não permitindo qualquer tipo de controle de preços. Os
consumidores, por sua vez, demandam pequenas quantidades do produto, e, por esse motivo, não
conseguem negociar preços. Todas as barracas tenderão a praticar o mesmo preço, sem qualquer
tipo de combinação prévia.

Um mercado monopolista se caracteriza pela existência de uma única grande empresa responsável
pela produção de determinado produto. Nesse contexto, a empresa produtora tem total controle
sobre o nível de preços e os consumidores se veem obrigados a pagar o preço determinado pela
empresa monopolista, uma vez que não há concorrência. São mercados normalmente caracterizados
pela existência de barreiras à entrada de novas empresas, impostas pelo alto valor dos investimentos
necessários para garantir um mínimo de concorrência no mercado.
Além disso, podem existir barreiras de natureza jurídica.

No Brasil, temos vários exemplos de mercados monopolísticos:


PETROBRÁS na extração e refino de petróleo; em Minas Gerais, a
CEMIG na produção e distribuição de energia elétrica; na Região

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Metropolitana de Belo Horizonte, a COPASA na captação, tratamento e distribuição de água; dentre


outros.

Uma variação do mercado monopolista é o mercado


monopsônico, caracterizado pela existência de um único
comprador, que tem total poder de determinação do preço do
produto a ser adquirido, pois se a empresa não vender toda a
sua produção para esse comprador, não venderá para nenhum
outro. Esse tipo de mercado é mais comum na indústria
automobilística, onde uma pequena empresa produz uma peça
para um modelo específico de automóvel, sendo monopsonista a
montadora desse veículo. Como exemplo, podemos mencionar
uma empresa que produza o volante específico do Idea, da FIAT
Automóveis. Nesse caso, a FIAT Automóveis é uma empresa
monopsonista.

Um mercado oligopolístico se caracteriza pela existência de poucas grandes empresas


responsáveis pela produção de um determinado bem ou serviço. Como são poucas e grandes, as
empresas podem controlar o nível de preços, desde que estabeleçam acordos informais entre si.
Também nesse caso os consumidores se vêem obrigados a pagar o preço determinado pelas
empresas, uma vez que a concorrência existe, mas na prática é controlada e pequena. Assim como
no mercado monopolístico existem barreiras à entrada de novas empresas no mercado, impostas
principalmente pelo alto valor dos investimentos. Nesse caso, não há barreiras de natureza jurídica.

No Brasil são inúmeros os mercados oligopolísticos: indústria


automobilística; de bebidas e alimentos; química e farmacêutica; de papel
e celulose; metalúrgica e siderúrgica, dentre outros.

Uma variação do mercado oligopolístico é o mercado oligopsônico,


caracterizado pela existência de um pequeno número de compradores,
com grande poder de interferência no nível de preços, até porque há uma
tendência para o estabelecimento de acordos entre as empresas sobre o
preço a ser estabelecido nesse mercado. Como exemplos, podemos
mencionar indústria de bebidas quando consomem garrafas específicas
para cerveja; indústrias farmacêuticas quando adquirem embalagens
próprias para comprimidos, etc.

Um mercado concorrencial monopolista, ou concorrencial imperfeito, caracteriza-se por um


número relativamente grande vendedores e compradores. Os produtos produzidos pelas empresas

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que operam nesse mercado são diferenciados, ou seja, possuem características físicas distintas,
embalagens diferentes, etc. Por outro lado, são substitutos próximos para o consumo.

Nesse mercado, há uma grande concorrência e, por esse motivo, pode-se dizer que as firmas têm
baixo poder de determinação dos preços. Na tentativa de controlarem os preços as firmas procuram
inovar constantemente.

Como estratégias mais comuns de inovação, podemos mencionar a mudança da embalagem, o


lançamento do mesmo produto com sabor, cor e formato diferenciado, a inclusão de brindes
promocionais, a utilização de estratégias diferenciadas de marketing para a valorização do produto,
dentre outros. Teoricamente, não há barreiras à entrada de novas firmas nesse mercado, embora na
prática as barreiras econômicas possam existir.

Bons exemplos para esse tipo de mercado são os mercados de refrigerantes, cigarros, sabonetes,
cremes dental, arroz, dentre outros.

Independentemente do tipo e da estrutura do mercado, em todo mercado sempre há dois agentes


econômicos: vendedores (ofertantes) e compradores (demandantes). Vamos, então, estudar cada um
destes agentes para compreendermos o funcionamento dos mercados.

1.4. Teoria Elementar da Demanda

A demanda (ou a procura) individual é comumente definida como “a quantidade de um determinado


bem ou serviço que um consumidor deseja adquirir em certo período de tempo” (PINHO,
VASCONCELOS et al, 2003, p. 133). Não se deve confundir demanda com compra... A demanda
efetiva se refere à quantidade de bens e serviços que o indivíduo realmente adquiriu no mercado.

Como se viu, através dos tipos e das estruturas de mercado, na maioria dos
mercados existem vários demandantes. Então, em vez de trabalharmos com
a demanda individual, devemos trabalhar com a demanda de mercado
definida como sendo a soma das demandas individuais. Observe, também,
que a demanda está localizada no tempo.

A demanda depende de alguns fatores... Depende da necessidade, da preferência e dos preços dos
bens substitutos e complementares. Para um determinado nível de preços, quanto maior a
necessidade, maior a preferência (ou gosto), quanto maior o preço dos bens substitutos e menor o
preço dos bens complementares, maior a demanda por um bem ou serviço específico.

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Você sabe o que é um bem substituto? E um bem complementar? Para


melhor entender esses conceitos, considere dois produtos quaisquer, aqui
denominados A e B.

• Esses bens serão substitutos se, após um aumento do preço do bem A, verificarmos um
aumento da demanda por B. Substituições acontecem diariamente... Quando um consumidor
vai ao supermercado e verifica um aumento no preço da manteiga é comum a substituição da
mesma por margarina; isso também acontece com marcas diferenciadas de arroz, de feijão,
óleo e açúcar e uma infinidade de outros produtos.

• Esses bens serão complementares se, após um aumento do preço do bem, verificarmos
uma redução da demanda por B. Na realidade, os consumidores demandarão menos dos
dois bens A e B, pois como são complementares, sempre que ele adquirir o bem A adquirirá
também o bem B. São também vários os exemplos de bens complementares... Sempre que o
consumidor demanda um café ele consome açúcar (ou adoçante), sempre que compra um
carro passa a consumir combustível; quando pede uma cerveja (ou uma cachaça) sempre
compra um tira-gosto.

Uma vez que o consumidor decidiu que vai realmente adquirir um bem ou serviço específico, a
quantidade adquirida (quantidade demandada) desse bem dependerá do preço do próprio bem.

Com raras exceções, o comportamento do consumidor é expresso através


da LEI DA DEMANDA:

Quanto maior o preço de determinado bem ou serviço, menor a quantidade demandada desse bem
ou serviço. Analogamente, quanto menor o preço de determinado bem ou serviço, maior a quantidade
demandada desse bem ou serviço. Segundo a LEI DA DEMANDA, a quantidade demandada varia
inversamente com o nível de preços.

Atenção: não é o preço que varia com a quantidade demandada... A


quantidade demandada é que varia em função da variação do preço.

Refletindo essa relação inversa, a curva de demanda (tanto a individual quanto a de mercado) é
negativamente inclinada.

TABELA 2: Quantidade demandada de milho, por nível de preço


Pontos Preço por Quantidade demandada
quilo (R$) (1.000/Kg)
A 1 130

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B 2 110
C 4 80
D 7 50
F 10 20
Fonte: TRÓSTER e MOCHÓN, 2002, p. 49

GRÁFICO 2: Curva de Demanda por milho

10
9
8
7
6
Preço

5
4
3
2
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
Quantidade demandada (1.000/Kg)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da TABELA 2.

Atenção: como se mencionou anteriormente, há apenas duas exceções...


são os chamados bens de Giffen e bens de Veblen! A quantidade
demandada desses bens aumenta com o aumento do preço, contrariando a
LEI DA DEMANDA.

Bens de Giffen são, em geral, produtos baratos, que têm grande importância no orçamento das
famílias mais pobres. Quando o preço do bem de Giffen aumenta, os consumidores tendem a adquirir
quantidades maiores deste bem, porque apesar da elevação do preço ele é ainda mais barato
comparativamente a outros produtos.

Já os bens de Veblen são bens de luxo, como obras de arte e jóias. Normalmente, o objetivo do
consumidor ao adquirir determinados bens é mostrar para a sociedade sua riqueza... sendo assim,
quanto maior o preço destes bens, maiores quantidades serão adquiridas pelo consumidor ostensivo.
Nesses casos, a curva de demanda é positivamente inclinada, refletindo a relação direta entre a
quantidade demandada desses bens e o preço dos mesmos.

Atenção: Graficamente, a variação da demanda é representada pelo


deslocamento da curva de demanda. Se a demanda aumentar (em função
de uma maior necessidade ou em decorrência de um aumento da renda, por

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exemplo), a curva de demanda se desloca para cima e para a direita


(Gráfico 3.1). Se a demanda diminuir, a curva se desloca para baixo e para
a esquerda (Gráfico 3.2)

GRÁFICO 3: Deslocamentos da Curva de Demanda por milho

GRÁFICO 3.1 - Aumento da Demanda


Preço (R$)

10
9
8
7
6
5
4
3 Demanda
2 Demanda Final
1 Inicial

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
Quantidade Dem andada

Gráfico 3.2 - Redução da Demanda


Preço (R$)

10
9
8
7
6
5
4
3
Demanda
2 Demanda Inicial
1 Final
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
Quantidade Dem andada

Fonte: Elaboração própria, a partir da manipulação dos dados da Tabela 2.

Se os preços variarem, a quantidade demandada varia, não a demanda. Por esse motivo, observam-
se deslocamentos sobre a própria curva. Se os preços diminuírem a quantidade demandada aumenta
e será observado um deslocamento de cima para baixo na curva de demanda (Figura 1.1); se os
preços aumentarem a quantidade demandada diminui e será observado um deslocamento de baixo
para cima na curva de demanda (Figura 1.2)

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FIGURA 1: Deslocamentos sobre a curva de Demanda

Figura 1.1 - Aumento da Figura 1.2 - Redução da


Quantidade demandada Quantidade demanda
P
P
10,00
10,00

4,00
4,00 D0
D0

20 80
20 80
Quantidade
Quantidade

Fonte: Elaboração própria, a partir da manipulação dos dados da Tabela 2.

Até aqui estudamos um componente do mercado: a Demanda. Vimos porque, em geral, ela é
negativamente inclinada, os motivos que provocam o seu aumento e, também, o fator que provoca
variações nas quantidades demandadas. Passemos agora ao estudo do outro componente do
mercado: a Oferta.

Cuidado... muito cuidado para não misturar e confundir as coisas... são componentes distintos, que
interagem entre si e influenciam no equilíbrio de mercado, a ser estudado mais tarde.

1.5. Teoria Elementar da Oferta

A oferta é definida como sendo “a quantidade de bens e serviços que os produtores desejam vender
por unidade de tempo” (PINHO, VASCONCELOS et al, 2003, p. 138). Assim, como o conceito de
demanda, o conceito de oferta se refere a um desejo e não a uma venda concreta, já realizada. Esse
conceito também faz alusão ao tempo, indicando que a oferta, assim como a demanda, varia em
função do tempo.

Cuidado, ainda, para não confundir oferta com liquidação.

Como vimos anteriormente, na maioria dos mercados existem vários ofertantes. Para analisarmos o
mercado vamos, então, considerar a oferta de mercado, que nada mais é do que a soma das ofertas
das firmas individuais. É claro que no caso dos monopólios, a oferta de mercado coincide com a
oferta da firma monopolística.

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A oferta é determinada pela tecnologia utilizada pelas empresas em seus processos produtivos,
sendo que, para um dado nível de preços, quanto mais avançada for a tecnologia da empresa, maior
a oferta de bens e serviços no mercado.

Além da tecnologia, a oferta depende, também, do preço dos fatores produtivos (terra, capital e
trabalho) que influenciam nos custos de produção e, portanto, no lucro auferido pela empresa com a
comercialização do produto. Ceteris paribus, quanto menor o custo dos fatores de produção, maior a
oferta de bens e serviços na economia.

A expressão ceteris paribus lhe é familiar? Sabe o que significa? É uma


expressão latina bastante usada pelos economistas. Seu significado: ... se
tudo o mais permanecer constante... É usada para simplificar o raciocínio...

Uma vez que a empresa já decidiu qual produto vai produzir e disponibilizar no mercado, a
quantidade a ser produzida dependerá do nível de preços de mercado do bem a ser produzido. O
comportamento da empresa é expresso através da LEI DA OFERTA: Quanto maior o preço, maior a
quantidade ofertada de bens e serviços pela empresa. Do mesmo modo, quanto menor o preço,
menor a quantidade ofertada de bens e serviços. Nesse caso há uma relação direta entre o preço do
bem ou serviço e a quantidade ofertada dos mesmos pela empresa no mercado. A curva de oferta de
mercado é positivamente inclinada, como reflexo desta lei.

TABELA 3: Quantidade Ofertada de Milho, por nível de preço


Preço
Quantidade
por
demandada
quilo
(1.000/Kg)
Pontos (R$)
G 1 20
H 2 40
I 4 80
J 7 120
K 10 150
Fonte: TRÓSTER e MOCHÓN, 2002, p. 51

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GRÁFICO 3: Curva de Oferta de Milho

10
9
8
7
6
Preço

5
4
3
2
1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130

Quantidade ofertada (1.000/Kg)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da TABELA 3

Atenção: Graficamente, a variação da oferta é representada pelo


deslocamento da curva de oferta. Choques positivos de oferta - como a
redução do preço dos fatores de produção assim como a introdução de uma
inovação tecnológica no processo produtivo – deslocam a curva de oferta
para baixo e para a direita, indicando ter havido um aumento da oferta, para
um dado nível de preços (Gráfico 4.1). Já os choques negativos de oferta –
como o aumento do preço dos fatores de produção – deslocam a curva de
oferta para cima e para a esquerda, indicando ter havido uma redução da
oferta, para um dado nível de preços (Gráfico 4.2).

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Disciplina: Economia
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GRÁFICO 4: Deslocamentos da Curva de Oferta de Milho

Gráfico 3.1 - Aumento da Oferta Oferta Oferta


Inicial Final
Preço (R$) 10

9
8
7
6
5
4
3
2

1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
Quantidade Ofertada

Gráfico 3.2 - Redução da Oferta


10 Oferta
Preço (R$)

Oferta
9 Final Inicial

8
7

6
5
4
3
2

1
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200

Quantidade Ofertada

Fonte: Elaboração própria, a partir da manipulação dos dados da Tabela 3.

Se os preços variarem, a quantidade ofertada varia. Nesse caso, serão observados deslocamentos
sobre a curva de oferta. Se os preços aumentarem, as firmas ofertarão quantidades maiores de seus
produtos (Figura 2.1), implicando redução da ociosidade da capacidade produtiva da empresa. Se os
preços diminuírem, as firmas ofertarão quantidades menores (figura 2.2), aumentando a capacidade
ociosa na empresa.

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

FIGURA 2: Deslocamentos sobre a curva de Oferta

P
P
Oferta
Oferta

7,00
7,00

4,00
4,00

80 120
Quantidade ofertada 80 120
Quantidade ofertada

Fonte: Elaboração própria, a partir da manipulação dos dados da Tabela 3.

Agora que sabemos os conceitos e as informações básicas sobre Demanda e Oferta, vamos analisar
como essas variáveis se interagem e determinam, conjuntamente, o ponto de equilíbrio do mercado.
(atenção: inclusão, seguindo a orientação anterior, no fechamento da unidade 2.5).

1.6. O equilíbrio de mercado

Um mercado estará em equilíbrio quando, a um determinado nível de preços, a quantidade ofertada


no mercado for exatamente igual à quantidade demanda nesse mercado. Quando um mercado
encontra-se em equilíbrio não existem pressões – descendentes nem ascendentes – sobre o nível de
preços.

GRÁFICO 4: EQUILÍBRIO NO MERCADO DE MILHO

10
Preço (R$)

9
Oferta
8

7 Ponto de
Equilíbrio
6

2
Demanda
1

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130

Quantidade (1.000/Kg)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das TABELAS 2 e 3

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Deve-se ressaltar que raramente um mercado estará em equilíbrio, dado o dinamismo da economia e
às imperfeições das informações. Na maioria das vezes os mercados se encontram em desequilíbrio.
No entanto, segundo a teoria econômica, algumas forças sempre empurram o mercado para aquele
ponto, ainda que na prática ele jamais se verifique. A situação de equilíbrio é, então, sempre tomada
como referência!

Vamos entender essas forças de mercado - também conhecidas pelo termo


‘mão invisível’ - que sempre atuam no sentido de induzi-lo ao ponto de
equilíbrio.

Sempre que o preço de mercado estiver abaixo do preço de equilíbrio, haverá um excesso de
demanda nesse mercado, ou seja, muitos indivíduos desejando adquirir uma quantidade de
determinado produto que, para aquele nível de preços, encontra-se limitada, reduzida. Em
decorrência do excesso de demanda em relação à oferta, os preços dos produtos subirão,
estimulando as empresas a ofertarem uma maior quantidade do produto e desestimulando a
demanda deles (muitos consumidores deixarão de comprar o produto e outros comprarão
quantidades significativamente menores comparativamente à que compraria se o seu preço
permanecesse constante).

O efeito simultâneo da elevação dos preços sobre as quantidades ofertadas e demandadas (de
acordo com as leis da oferta e procura, respectivamente) levaria o mercado ao equilíbrio, ou seja, ao
ponto no qual as quantidades que as firmas desejam vender coincidem com as quantidades que os
consumidores desejam comprar.

Do mesmo modo, quando o preço de mercado estiver acima do preço de equilíbrio, haverá um
excesso de oferta nesse mercado, ou seja, a quantidade que as firmas desejam vender encontra-se,
para aquele nível de preços, superior à quantidade que os consumidores desejam comprar. Nesse
caso, os preços tenderão a diminuir, estimulando a demanda por parte dos consumidores e,
simultaneamente, desestimulando a oferta por parte dos produtores, até o momento em que os
interesses dos dois agentes coincidem.

Viu como é fácil? Mas não deixe de praticar... Isso o ajudará a fixar melhor os conceitos, a
desenvolver o raciocínio abstrato e, é claro, a entender o comportamento dos demandantes e
ofertantes em cada mercado.

Peça ao professor tutor a indicação de exercícios de fixação. Com certeza, a prática o ajudará muito!
Dando continuidade à matéria, já sabemos que o ponto de equilíbrio é apenas uma referência e que,
na maioria das vezes, os mercados se encontram em desequilíbrio.

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Vamos, então, no próximo tópico analisar como os mercados, uma vez desequilibrados, retornam ao
equilíbrio. Mas, para isso, as questões anteriormente expostas devem estar bem assimiladas por
você!!!

1.7. Mudanças no ponto de equilíbrio e os mecanismos para o reequilíbrio

Já sabemos, então, que um mercado é formado por duas variáveis básicas: Oferta e demanda.
Sabemos, também, que a oferta varia ao longo do tempo, em decorrência de mudanças tecnológicas
e de variações nos preços dos fatores de produção. Vimos que a demanda também varia com o
passar do tempo, em decorrência de mudanças na renda do consumidor e de variações no gosto e
nas necessidades individuais. A questão é que sempre que a demanda e/ou a oferta se alterarem, o
ponto de equilíbrio do mercado também irá se modificar... O ponto de equilíbrio de mercado não é um
ponto estático, varia no tempo em resposta às mudanças das características das variáveis
econômicas (oferta e demanda).

Vamos entender o processo de reequilíbrio!

Considere, por exemplo, o aumento na renda dos consumidores. Como vimos, quando isso acontece
os consumidores desejarão adquirir quantidades maiores de determinados bens e serviços, aos
preços verificados no mercado. Com isso, haverá um excesso de demanda em relação à oferta
daquele bem ou serviço, naquele momento e, como conseqüência desse desequilíbrio, o preço de
mercado irá aumentar. O aumento do nível de preços irá estimular a produção por parte das firmas,
que aumentarão a quantidade ofertada desse produto no mercado. Ao mesmo tempo, muitos
consumidores se sentirão desestimulados a comprarem quantidades adicionais do produto, dada a
elevação dos preços (estariam dispostos a fazer isso se os preços estivessem constantes), sendo
verificada, nesse momento uma redução na quantidade demandada. Devido à ação da LEI DA
OFERTA E PROCURA o mercado se reequilibrará... Isso ocorrerá com níveis de preço e quantidades
de equilíbrio maiores comparativamente àqueles do momento inicial. (FIGURA 3)

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FIGURA 3: Processo de re-equilíbrio do mercado (I)

10
Oferta
Preço (R$)

7 Equilíbrio
Final

5 Excesso de
Demanda
Equilíbrio
4
Inicial

2
Demanda Demanda
Inicial Final
1

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340
Quantidade

Fonte: Elaboração própria a partir da manipulação dos dados das TABELAS 2 e 3

Considere, agora, uma fazenda, na região Nordeste do país, que adote técnicas de irrigação no
cultivo de milho. Nesse caso, a oferta de milho no mercado nordestino e brasileiro irá aumentar,
gerando um excesso de oferta, ao nível de preços praticados no mercado. O excesso de oferta
obrigará os produtores a reduzirem os preços para permitirem a venda dos estoques. A redução do
preço aumentará a quantidade demandada e reduzirá a quantidade ofertada. Esse mercado irá se
reequilibrar com preços mais baixos, comparativamente ao momento inicial, e com níveis maiores de
quantidades ofertadas e demandadas (FIGURA 2)

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FIGURA 4: Processo de re-equilíbrio do mercado (II)

Oferta Oferta
Preço

10
Inicial Final
9
8
7
6
Equilíbrio
5 Inicial
Excesso
de Oferta
4
3
Equilíbrio
2 Final
1 Demanda
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Quantidade

Fonte: Elaboração própria a partir da manipulação dos dados das TABELAS 2 e 3

Procure, após cada mudança, identificar o EXCESSO. Através dele, você


conseguirá explicar o processo de reequilíbrio, como fizemos nos exemplos
acima.

Que tal avançarmos um pouco mais em nossa disciplina agora que você já conhece os conceitos
fundamentais da teoria microeconômica e o mecanismo de (re)equilíbrio de mercado?

Vamos introduzir novos conceitos que nos ajudarão a entender os processos de (re)equilíbrio,
considerando-se as especificidades dos vários tipos de mercados. São os conceitos de elasticidade!
Está pronto para essa próxima etapa?

Então, vamos lá...

1.8. O Estudo da Elasticidade

Finalmente, vamos entender um conceito muito importante e útil para melhor compreensão dos
mecanismos de funcionamento dos mercados: o conceito de elasticidade.

Por elasticidade entendemos, de modo geral, a sensibilidade de uma variável em relação à outra, ou
seja, em que medida uma variável varia em função da variação da outra. Aqui trataremos dos 3

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principais tipos de elasticidade: elasticidade-preço da demanda, elasticidade-preço da oferta e


elasticidade-renda da demanda. Vamos lá! Continue a leitura!

1.8.1. Elasticidade-Preço da Demanda

O coeficiente de elasticidade-preço da demanda mede a sensibilidade da demanda por um produto


em relação às variações nos preços do mesmo. Matematicamente, a elasticidade-preço da demanda
é estimada pela fórmula:

Εp = ∆Qd/Qd ÷ ∆P/P
Onde:
Ep = Elasticidade Preço da Demanda
Qd = Quantidade demandada
P = Preço

Esse coeficiente varia de – ∞ a 0 assumindo, portanto, valores negativos (apesar de nos manuais de
economia ser apresentado em módulo) refletindo a relação inversa entre preços e quantidade
demandada. Como interpretar os resultados?

• Se o coeficiente de elasticidade-preço da demanda for menor do que -1, a demanda por um


determinado produto é elástica em relação ao preço, significando que a uma pequena
variação no preço será observada uma grande variação na quantidade demandada. Se por
exemplo, o coeficiente de elasticidade-preço da demanda por cinema para Joaquim for -2 (ou
2, se vier expresso em módulo), se os preços das entradas sofrerem uma redução de 10%,
Joaquim aumentará sua demanda por cinema em 20%.

• Se o coeficiente for maior que -1 e inferior a zero, a demanda é inelástica em relação ao


preço. Significa dizer que a variação percentual da quantidade demandada é inferior à
variação percentual do preço. Se por exemplo, o coeficiente de elasticidade-preço da
demanda por energia elétrica for 0,5 e se a Cemig aumentar o preço da tarifa de energia
elétrica em 10%, Maria irá reduzir seu consumo de energia elétrica em apenas 5%.

• Casos especiais: Se o coeficiente for 0, a demanda será completamente inelástica e a


quantidade consumida será constante, independentemente do preço. No outro extremo, se o
coeficiente for infinito, a quantidade demandada varia, ainda que o preço permaneça
constante.

Você deve estar se perguntando: Por que isso é importante? Para que isso
serve? Para ajudá-lo a pensar sobre a questão, vou lhe fazer uma pergunta:
Por que um produto tem demanda elástica e outro tem demanda inelástica?

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O que determina essa elasticidade ou inelasticidade é a estrutura de mercado. Como vimos


anteriormente, uma estrutura de mercado mais competitiva, concorrencial, torna a demanda pelos
produtos mais elástica. Por quê? Como o mercado é competitivo, existe uma grande quantidade de
bens substitutos, permitindo ao consumidor escolher, dentre todos, os produtos mais baratos. Por
outro lado, em mercados menos competitivos, ou, se preferir, mais monopolísticos, como a
quantidade de bens substitutos é pequena, ou inexistente, ao consumidor não resta escolha,
tornando a demanda pelo produto inelástica.

Isso, se raciocinarmos em relação aos interesses do consumidor.

E o produtor, onde entra nesta história? Esses coeficientes são também de extrema importância para
os produtores... Você sabia que nem sempre um aumento de preço implica em aumento da receita
advinda das vendas, para o produtor? Ás vezes um aumento dos preços reduz a receita e, portanto,
os lucros da firma. Isso acontece porque alguns produtos são elásticos e outros inelásticos.

Uma firma que comercializa produtos de demanda inelástica em relação ao preço aumenta sua
receita e lucro quando aumenta os preços dos produtos, pois como não há bens substitutos os
consumidores se vêem obrigados a pagarem o preço imposto pela firma. Nesse caso, eles deixam de
consumir outros produtos para manterem o consumo do produto em questão.

No caso dos produtos elásticos, um aumento do preço provoca uma redução nas receitas e nos
lucros das firmas e isso acontece porque o consumidor pode substituir o produto que ficou mais caro
por um produto substituto, mais barato.

O coeficiente de elasticidade-preço nos dá a inclinação da curva de


demanda. Sendo assim, para avaliar o equilíbrio e re-equilíbrio em um
mercado faça curvas de demanda mais inclinadas para mercados onde a
concorrência é pequena ou nula e menos inclinas para mercados onde a
concorrência é maior.

1.8.2. Elasticidade-Preço da Oferta

O coeficiente de elasticidade-preço da oferta mede a sensibilidade da oferta de um produto em


relação às variações nos preços do mesmo. Matematicamente, a elasticidade-preço da oferta é
estimada pela fórmula:
Εο = ∆Qο/Qο ÷ ∆P/P

Onde:

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Eo = Elasticidade Preço da Oferta


Qo = Quantidade ofertada
P = Preço

Ao contrário da elasticidade preço da demanda, a elasticidade-preço da oferta é sempre positiva,


tendo em vista a relação direta entre o preço e a quantidade ofertada, como preconiza a Lei da
Oferta. Esse coeficiente varia de 0 a +∞.

• Se o coeficiente for maior que zero e menor que 1 a oferta é inelástica. Isso vai acontecer
sempre que as firmas estiverem trabalhando em um ponto abaixo, porém muito próximo da
curva de possibilidade de produção, ou seja, quando as firmas estiverem operando com
quase toda a sua capacidade produtiva.

• Se o coeficiente for maior que 1 a oferta é elástica. Nesse caso, a empresa estará operando
em um ponto muito abaixo da curva de possibilidade de produção, ou seja, em um ponto de
grande capacidade ociosa, o que torna possível aumentar significativamente a produção em
função de pequenos aumentos nos níveis de preços.

• Casos especiais: Se o coeficiente for igual a 0 a oferta é completamente inelástica. Nesse


caso, a empresa estaria operando em um ponto sobre a curva de possibilidade de produção.
Se o coeficiente for infinito, a oferta será completamente elástica.

O coeficiente de elasticidade-preço da oferta determina a inclinação da


curva de oferta. Para representar situação de grande capacidade ociosa
faça uma curva de oferta mais plana, mais horizontal, para representar uma
oferta mais elástica; para representar firmas ou mercados próximos ao
pleno emprego, faça curvas de oferta mais inclinadas.

1.8.3. Elasticidade-Renda da Demanda

Seguindo o mesmo raciocínio, o coeficiente de elasticidade-renda reflete as variações na demanda


em função das variações na renda do consumidor. De modo geral, um aumento na renda eleva a
demanda, mas essa afirmativa não é verdadeira para todos os produtos. Você sabe por quê?

Quando a renda do indivíduo aumenta, a sua demanda por alguns produtos, considerados de
consumo saciado, não sofrerá ou sofrerá apenas um pequeno impacto. Pense no consumo de arroz
para a maioria dos brasileiros: você esperaria um grande aumento no consumo de arroz se a renda
do brasileiro aumentasse? É provável que não! Mesmo que a renda do brasileiro aumentasse, o
aumento do consumo de arroz seria relativamente pequeno, em relação ao aumento da renda, pois

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Disciplina: Economia
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esse produto, arroz, é um prato tradicional da cozinha brasileira e é consumido por pessoas de todas
as classes de renda, em quantidades que satisfazem a maioria dos consumidores. Sendo assim, a
demanda por arroz é inelástica em relação à renda. Pensando em valores, o coeficiente de
elasticidade estaria entre 0 e +1, sendo arroz classificado como um bem normal de consumo
saciado.

Vejamos agora outra situação... Quando a renda do indivíduo aumenta, a demanda por alguns
produtos se eleva significativamente. Alcançando determinado nível de renda, os indivíduos tendem
a consumir produtos que não consumiam antes, como transportes aéreos, hospedagem em hotéis de
luxo, aparelhos televisores de LCD, notebooks, dentre outros. O consumo destes produtos só é
possível após o aumento da renda e, portanto, esses bens são considerados bens de luxo.
Pensando em valores, o coeficiente de elasticidade-renda seria positivo e maior que 1.

Finalmente, após experimentar um aumento de renda, o consumidor pode deixar de consumir alguns
produtos e substituir por outros de melhor qualidade, mais caros, mais luxuosos. Nesse caso, o
coeficiente de elasticidade-renda seria negativo (menor que 0) e o bem seria classificado como um
bem inferior. É comum o indivíduo deixar de andar de ônibus, quando atinge um nível de renda que
o permite comprar um carro ou uma motocicleta; também é comum deixar de consumir carne de
segunda e substituir por carne de primeira. Viagens de ônibus e carnes de segunda seriam exemplos
de bens inferiores.

Matematicamente o coeficiente de elasticidade-renda da demanda seria expresso por:

Εy = ∆Qd/Qd ÷ ∆Y/Y

Onde:
Ey = Elasticidade renda da demanda
Qd = Quantidade demandada
Y = renda

Aprendemos, nesta unidade, os conceitos fundamentais da teoria microeconômica. São conceitos


muito importantes que nos ajudarão a compreender as demais unidades do nosso curso. Mas, antes
de passarmos para frente, para a análise macroeconômica, seria bom verificarmos a aplicabilidade
desses conceitos. Você vai perceber que tratamos aqui de questões que fazem parte do nosso
cotidiano. Você já deve ter percebido que Economia não é um bicho de sete cabeças!

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2. Teoria na Prática

Vamos pensar a respeito do Fordismo, um modelo de produção criado por Henry Ford e implantado
em sua fábrica em Detroit, EUA, na primeira década do século XX. Sua principal característica é se
basear na produção e no consumo em massa e sua implantação revolucionou a indústria
automobilística tanto nos Estados Unidos quanto no resto do mundo.

A lógica do fordismo é a produção em série através da adoção da linha de montagem que permitiu
significativa redução do custo de produção do automóvel. Além disso, uma grande preocupação de
Henry Ford era permitir que os próprios operários de sua fábrica tivessem condições de adquirir os
veículos que produziam e para atingir esse objetivo ele aumentou – dobrou - os salários de seus
empregados.

Os argumentos de Ford se basearam nos estudos vistos nessa unidade. A redução do custo de
produção do automóvel obtido pelo fordismo permitiu que o preço dos automóveis fosse reduzido
sensivelmente pelo aumento da oferta, fazendo com que a demanda do automóvel fosse aumentada.

Além disso, o aumento dos salários pagos pela Ford afetou um importante determinante da demanda,
que é a renda. Nessa situação, dois fatores importantes foram alterados para possibilitar o aumento
das vendas de automóveis Ford: o preço do produto pelo aumento da oferta e a renda dos
consumidores pelo aumento nos salários pagos.

Para você, uma ideia: a produção de automóveis Ford nos primeiros anos da década de 20 superou a
casa dos 2 milhões de unidades.

Diante dessa situação provocada pela implantação do fordismo, as demais empresas produtoras de
veículos se viram obrigadas a também implementarem o fordismo em suas linhas de produção para
que pudessem competir com esse crescente volume de produção obtido pela Ford. Com isso, o
produto automóvel, pelo aumento da concorrência, se tornou um produto de demanda elástica
contribuindo ainda mais para a popularização do automóvel na nossa sociedade.

Como podemos perceber, a lógica do fordismo se baseia na lógica do mercado no qual operam tanto
forças no lado da oferta quanto forças no lado da demanda.

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Outro ponto importante que podemos analisar, tendo o fordismo como nossa referência, diz respeito
ao processo de concentração de mercado pelo qual passou – e continua passando - a indústria
automobilística brasileira.

Como a competição entre as empresas produtoras de automóveis aumentou em função do aumento


da oferta de automóveis existe uma pressão para baixo nos preços dos veículos. Ao longo do tempo,
portanto, ocorre um processo de fusão entre empresas, reduzindo o número de empresas produtoras
de automóveis e assim tornando esse mercado mais concentrado e facilitando que as empresas se
organizassem em cartéis com o intuito de manipular o preço dos seus produtos no mercado.

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3. Recapitulando

Na Unidade I, aprendemos alguns conceitos importantes em Economia: entendemos a importância e


o significado da curva de possibilidade de produção e o conceito de custo de oportunidade. Vimos
que qualquer escolha implica em custos de oportunidade.

Aprendemos que existem vários tipos e estruturas de mercado, e que essas variações têm reflexos
sobre a determinação de preços e quantidades de equilíbrio. No mercado monopolístico a empresa
tem total poder de determinar o preço do produto, cabendo ao consumidor pagar pelo mesmo, se
quiser ter acesso a esse produto. Os mercados concorrenciais são mais favoráveis aos
consumidores, já que os preços praticados pelas firmas tendem a ser mais baixos.

Entendemos, também, que um mercado é composto por duas variáveis fundamentais: oferta e
demanda. Cada variável tem suas características específicas, mas no mercado interagem e, em
conjunto, determinam os preços e as quantidades de equilíbrio. Aprendemos, ainda, que raramente
um mercado estará em equilíbrio, mas a teoria econômica acredita que há uma tendência para
convergir em sua direção e, por esse motivo, a situação de equilíbrio é sempre tomada como
referência.

Aprendemos, contrariando o senso comum, que nem sempre aumentar o preço é uma boa estratégia
para o produtor. Às vezes, a melhor estratégia para aumentar a lucratividade de uma empresa é
justamente a redução do preço dos produtos por ela comercializados. Para isso, trabalhamos com o
conceito de elasticidade-preço da demanda.

Vimos, também, que o aumento da renda eleva a demanda de alguns produtos, mas não de todos.
Para isso, analisamos o conceito de elasticidade-renda da demanda.

Finalmente, compreendemos que nem sempre o aumento do preço do produto implicará o aumento
da produção dele. A empresa só conseguirá expandir sua produção após o aumento do preço, se
houver capacidade ociosa.

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Unidade 2: Noções de Macroeconomia

1. Conteúdo Didático

Caro aluno, na Unidade I estudamos os conceitos fundamentais da microeconomia e, uma vez que já
assimilamos esses conceitos, estamos preparados para avançarmos em nossos conhecimentos.
Muitos deles, apesar de relacionados à microeconomia, serão úteis nesta unidade... Sabe por quê?

Porque, na realidade, as análises micro e macro se referem à mesma coisa... mas com focos
diferenciados. Como vimos, a análise micro nos fornece detalhes de um mercado específico.
Observe, no entanto, que no mundo real existem vários mercados - o mercado de automóveis,
imobiliário, de computadores, de eletrodomésticos, de vestuário, de alimentos e bebidas, de trabalho,
dentre outros – que se relacionam entre si, na medida em que a produção de um serve de insumo
para o outro; na medida em que o funcionamento de um não só depende, mas influencia o
comportamento do outro.

A análise macro é mais abrangente. Ela trata esses mercados conjuntamente, ou seja, não faz a
distinção entre o mercado de automóveis e o mercado imobiliário, por exemplo. Isso nos permite
compreender as características globais (macro) de um sistema econômico.

Antes de entramos na análise macroeconômica propriamente dita, precisamos compreender alguns


conceitos fundamentais. Por esse motivo, vamos estudar, neste primeiro tópico, alguns conceitos de
Contabilidade Social.

1.1. Noções de Contabilidade Social

Contabilidade Social:
trata da mensuração da atividade econômica e social em seus
múltiplos aspectos. É a matéria que define e sistematiza regras para a
produção e a organização contínua de informações relevantes
(agregados macroeconômicos, indicadores de desenvolvimento) para
a economia como um todo, orientando assim a tomada de decisões
públicas e privadas (FEIJÓ et al, 2003, p. 3).

Você está pronto para começar? Então, vamos lá!

1.1.1. Valor adicionado, renda e dispêndio

Você sabe por que o pão de sal custa mais caro que a farinha de trigo e por que a farinha de trigo
custa mais caro que o grão de trigo? A resposta a esta pergunta está na transformação pela qual
passa cada um destes produtos nas várias etapas da cadeia produtiva. Por exemplo, o grão de trigo é

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beneficiado e moído e se transforma na farinha de trigo que, por sua vez, é beneficiada e combinada
a outros insumos (como açúcar, fermento, leite e ovos) pelo panificador que a transforma em
pãozinho francês, consumidos por nós, habitualmente, no café da manhã. Observe que, na primeira
etapa, foi adicionado valor ao trigo, na sua transformação em farinha, tendo ocorrido o mesmo na
segunda etapa, quando a farinha foi transformada em pãozinho de sal.

Valor adicionado é isso... É o valor agregado ao produto em cada etapa do processo produtivo.

Renda, na macroeconomia, não se refere somente ao salário do indivíduo. Aqui esse conceito é mais
amplo e se refere a toda e qualquer remuneração pagas pela utilização dos fatores de produção.

Você se lembra dos fatores de produção estudados na Unidade 1, Terra,


capital e trabalho?

A cada um dos fatores corresponde uma remuneração específica.

O proprietário da terra recebe como renda um aluguel pelo seu uso. Por exemplo: é muito comum, na
nossa agricultura, a figura do meeiro, que é aquele agricultor que, por não possuir terra própria, se
utiliza da terra de outras pessoas e paga por esse uso. Esse pagamento pode ser feito em espécie
(parte da mercadoria produzida nessa terra) ou em dinheiro.

O proprietário do capital recebe como renda o lucro, o pró-labore, os juros ou os dividendos, sendo:

• Os proprietários de capitais convertidos em máquinas e equipamentos recebem lucro;


• O esforço do proprietário da empresa na sua gestão tem como remuneração o pró-labore
(pelo trabalho, traduzindo livremente do latim para o português);
• Os proprietários de capitais aplicados no mercado financeiro (bancos, corretoras de
valores, dentre outros) recebem juros;
• Os proprietários de capitais aplicados no mercado de capitais (bolsa de valores) recebem
dividendos.

Os trabalhadores, proprietários da força de trabalho, recebem salários ou honorários.


• Os salários são pagos pelos empregadores àqueles realizam atividade produtiva;
• Os profissionais liberais, prestadores de serviços, recebem honorários.

Matematicamente, a renda é expressa por:

Y=W+A+L+J

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Onde:
W = salários
A = Aluguéis
L = lucros
J = Juros

O dispêndio, por sua vez, representa um gasto que pode ser tanto dos consumidores, quanto do
governo como das empresas privadas.

O gasto dos consumidores é denominado consumo; os dispêndios do governo são tratados como
gastos governamentais ou gastos públicos e os dispêndios das empresas privadas são considerados
investimentos.

O dispêndio total, também conhecido como demanda agregada, é a soma dos dispêndios privados
com os dispêndios públicos, como se pode notar pela fórmula:

DA = C + I + G
Sendo:
DA = Demanda Agregada
C = Consumo privado
I = Investimento privado
G = Gastos governamentais

Uma vez que conhecemos o conceito dessas três variáveis, conseguimos compreender o fluxo
circular da renda e da produção, representado na figura abaixo. Ele se inicia pela contratação dos
fatores de produção, por parte da empresa, determinando a existência da renda dos fatores de
produção. Em um sistema econômico, toda a produção é transferida, através das remunerações dos
respectivos fatores, para as famílias proprietárias deles. Sendo assim, as famílias proprietárias de
empresas recebem lucros e pró-labore; os proprietários de terra recebem os aluguéis; os proprietários
de capitais monetários recebem juros; e, finalmente, os trabalhadores recebem os salários e
honorários.

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Fluxo Circular da Renda e da Produção

Y = W + A+ L + J

FAMÍLIAS EMPRESAS

CONSUMO (C)

POUPANÇA (S) INVESTIMENTO (I)


INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS

IMPOSTOS (T) GASTOS (G)


GOVERNO

Fonte: FROYEN, Richard (1999: 95)

Como se pode observar no Fluxo Circular, uma vez possuidores de renda na forma de moeda, cada
agente econômico incorrerá em dispêndios.

Os trabalhadores gastarão uma parcela da renda monetária com a aquisição de bens e serviços, e a
outra parcela será poupada. Note que nem todas as famílias poderão poupar, já que a capacidade de
poupança depende da renda do indivíduo e/ou da família. No entanto, considerando o sistema
econômico em seu conjunto, sempre haverá poupança, porque sempre haverá famílias com
capacidade de poupar. As poupanças são, por sua vez, realizadas em alguma instituição financeira...

Você já viu alguém guardar dinheiro debaixo do colchão? Mesmo se já viu,


isso não é poupança! Em Economia isso se chama entesouramento.

Os empresários adquirirão novas máquinas, equipamentos e matérias-primas para darem início a um


novo ciclo produtivo, ou seja, realizarão investimentos. Mesmo os empresários que não têm recursos
próprios para o financiamento do investimento poderão realizá-lo. Sabe como? Buscando
empréstimos no sistema financeiro. De onde saem os recursos que os bancos emprestam para os
empresários? Das poupanças realizadas pelas famílias... incrível, não é?

Não podemos esquecer que uma parte da renda dos indivíduos é destinada ao pagamento de
impostos ao governo. Por que pagamos impostos? Para podermos ter à nossa disposição os serviços

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

públicos essenciais à nossa vida em sociedade, como escolas, hospitais, segurança pública, vias
pavimentadas, etc... O governo também utiliza os recursos arrecadados através de impostos para o
pagamento das aposentadorias e das pensões e para os programas de transferência de renda, como
é o caso do programa bolsa família.

Espero que você esteja compreendendo esses conceitos. Como mencionei


anteriormente, eles são imprescindíveis para que você consiga entender a
análise macroeconômica.

Alguns novos conceitos, relacionados a estes serão também estudados. Você já deve ter ouvido falar
em PIB, em PNB... Você sabe realmente o significado desses termos? É sobre eles que
conversaremos no próximo tópico. Vamos lá, não desanime!!!

1.1.2. PIB, PNB, PIL, RN e RPD

Você sabe o que é PIB?

Imagino que deve você deve estar pensando na seguinte resposta: PIB é o Produto Interno Bruto....
Muito bem, você está certo! Mas você saberia dizer o que o PIB representa? O PIB é um dos
principais agregados macroeconômicos e, por definição, é constituído por todos os bens e serviços
finais produzidos dentro dos limites territoriais de um país, por todas as unidades produtivas (públicas
e privadas) durante determinado período de tempo (FEIJÓ et al, 2003). Observe que são
contabilizados apenas os bens e serviços finais, ou seja, aqueles que já estão prontos para serem
disponibilizados no mercado consumidor e adquiridos pelas famílias.

O PIB é expresso em valores monetários. Para entender isso, imagine como


seria a contabilização da produção interna brasileira se considerarmos as
quantidades de mesas, cadeiras, tesouras, lápis, batatas, automóveis,
serviços diversos produzidos no país... Como seria possível somar as
quantidades produzidas de produtos tão distintos? A melhor forma é
converter todas essas quantidades em valores monetários, a partir dos
preços praticados nos mercados de cada uma dessas mercadorias. É isso
que define a medida do PIB a preços de mercado.

Para você ter uma ideia do que estamos falando, o PIB brasileiro em 2008 foi de R$2,9 trilhões!!!

Devemos salientar que a contabilização do PIB de um país sofre algumas limitações. Pense nas
seguintes questões: como contabilizar a produção de uma dona de casa? E aquela realizada pelos
trabalhadores no mercado informal de trabalho? Essas atividades estão fora da contabilização do

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PIB... Além desses exemplos, temos ainda problemas com a contabilização das transações
econômicas que envolvem bens que foram produzidos em períodos anteriores. Nesses casos, são
contabilizados como produção corrente apenas os valores referentes à corretagem, se houver.

Esse é o conceito de PIB. Mas existe outro agregado econômico também muito utilizado, o PNB.

Você saberia o conceito de PNB? E a diferença entre PIB e PNB?

PNB ou Produto Nacional Bruto é constituído por todos os bens e serviços finais produzidos por
fatores de produção pertencentes aos residentes de um país, podendo essa produção acontecer
dentro dos limites geográficos do país ou mesmo fora dele. A PETROBRÁS é uma empresa
brasileira. A produção realizada por ela é contabilizada no PNB brasileiro, ainda que parte de sua
produção tenha ocorrido em território estrangeiro, como aconteceu até recentemente na exploração
de gás natural na Bolívia por essa empresa. Analogamente, a produção da FIAT, no município de
Betim/MG, é contabilizada no Produto Interno Bruto brasileiro e no Produto Nacional Bruto Italiano.

No caso brasileiro, o PIB é considerado como agregado macroeconômico mais relevante para a
avaliação do desempenho da nossa economia ao longo do tempo. Isso ocorre pelo fato de que há
mais empresas estrangeiras instaladas no território do que empresas brasileiras instaladas em
território estrangeiro. Nos EUA, por exemplo, o PNB é considerado um agregado macroeconômico
mais relevante do que PIB, uma vez que há empresas americanas não apenas nos EUA, mas em
praticamente todos os países do mundo.

Como derivação do PIB, tem-se outro agregado macroeconômico denominado PIL – Produto Interno
Líquido.

Você deve estar se perguntado: qual a diferença entre eles?

Para o PIB ser produzido são utilizados máquinas e equipamentos que se depreciam, se desgastam,
ao longo de cada período produtivo. Esse desgaste é denominado depreciação do capital fixo.
Dessa forma, no final do período, esse desgaste deve ser reposto e, por isso, desconta-se do PIB o
valor monetário correspondente a essa depreciação. Sendo assim, podemos entender o PIL através
de uma equação extremamente simples:

PIL = PIB – Depreciação

Outro agregado macroeconômico importante é a Renda Nacional (RN), definida como a renda
disponível para os residentes deste país. O cálculo da Renda Nacional é derivado do PIL. Como isso
é feito? Como já vimos, existem empresas estrangeiras instaladas no Brasil, que aqui geram lucros.
Normalmente parte dos lucros destas empresas é enviada para suas matrizes, no exterior. Por outro
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lado, existem empresas brasileiras instaladas em outros países, gerando lucro lá fora e enviando
parte deles para suas matrizes instaladas em território brasileiro.

A Renda Nacional, portanto, é definida quando excluímos do PIL a renda das empresas estrangeiras
instaladas no Brasil, que é enviada ao exterior e incluímos a renda que as empresas instaladas no
exterior remetem ao Brasil. Matematicamente, a Renda Nacional é expressa pela fórmula:

RN = PIL – REE + RRE


Onde:
REE = Renda Enviada ao Exterior
RRE = Renda Recebida do Exterior

Partindo da Renda Nacional, podemos determinar outro agregado macroeconômico: a Renda


Pessoal Disponível (RPD). Ela é estimada pela dedução dos impostos diretos pagos pelas famílias,
da Renda Nacional, lembrando que impostos diretos são, por definição, aqueles descontados
diretamente da renda das famílias, como é o caso do Imposto de Renda no Brasil.

RPD = RN – Impostos Diretos

Esses são, então, os principais agregados macroeconômicos. Mas devemos fazer aqui uma pergunta:
como podemos comparar o PIB de um ano com o PIB do ano anterior, se os preços dos bens e
serviços oscilam ao longo do tempo? É sobre isso que conversaremos no próximo tópico.

1.1.3. A diferença entre o real e o nominal

Como se mencionou anteriormente, o PIB é medido a preços de mercado e oscilam ao longo do


tempo. Você percebe a oscilação dos preços no seu dia a dia quando vai ao mercado, ao açougue, à
feira, etc.

Sendo assim, conclusões acerca do comportamento da economia não podem ser tiradas a partir de
comparações diretas entre PIB’s de um mesmo país em anos diferentes. Como saber, então, se a
economia está crescendo ou não?

Quando o governo publica o valor do PIB, ele normalmente divulga o PIB a preços de mercado. Em
economia, consideramos essa variável como nominal. Pense em um exemplo... dissemos acima que
o PIB brasileiro de 2008 foi de R$2,9 trilhões. Em 2007, o PIB brasileiro foi de R$2,6 trilhões. Como
esses valores são nominais, não podemos afirmar, com certeza, que a economia brasileira cresceu
de 2007 para 2008, pois essa diferença poderia ser causada tanto por variações nos preços dos bens
e serviços comercializados no mercado nacional quanto por oscilações nas quantidades produzidas
de bens e serviços. Se considerarmos esses valores nominais, diríamos que a economia cresceu em

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aproximadamente 11% de 2007 para 2008, o que não é verdade. Não podemos nos esquecer da
variação dos preços.

Você deve estar se perguntado: Como é, então, medido o crescimento de


uma economia? Veja bem: desse crescimento de 11% devemos descontar a
variação dos preços no mesmo período. Em economia, esse processo é
conhecido pelo termo “deflacionar”.

Segundo o IBGE, o crescimento do PIB brasileiro entre 2007 e 2008 foi de 5,1% e não de 11%, como
dissemos acima. A diferença entre essas duas taxas corresponde à inflação brasileira no mesmo
período. Então, entre 2007 e 2008 os preços, no Brasil, aumentaram, em média, em 5,9%.

Feito esse cálculo, podemos diferenciar o PIB nominal do PIB real. O PIB nominal é aquele estimado
com preços do ano corrente, enquanto o PIB real é estimado com preços do ano-base.

Ano corrente é, por definição, o ano em que o produto foi produzido, ou


seja, 2008.

Ano-Base é o período tomado como referência que, no nosso caso, foi o


ano de 2007.

É importante entender o seguinte: todos os PIB’s estimados com preços do ano-base – no nosso
exemplo, o ano de 2007 – são comparáveis entre si. Isso porque em todas estimativas temos
exatamente os mesmos preços para cada um dos bens e serviços e, portanto, quaisquer variações
nos PIB’s assim estimados refletem oscilações nas quantidades de bens e serviços produzidas no
país, em determinado intervalo de tempo. A partir dessa informação podemos avaliar se houve ou
não crescimento econômico, medido pelo crescimento real do PIB.

Para ficar ainda mais claro, observe o gráfico abaixo. Nele estão plotados os PIB’s brasileiros a
preços de mercado (ou nominais) e a preços de 2008 (ou reais), referentes ao período 1994-2008.

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BRASIL – PRODUTO INTERNO BRUTO REAL E NOMINAL (1994-2008)

3.000.000
(milhões de R$)

2.800.000
2.600.000
2.400.000
2.200.000
2.000.000
1.800.000
1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008
PIB real PIB nominal Ano

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do ipeadata.com.br. Acesso em 13/11/2009.

Considere, inicialmente, o ano de 1994, o primeiro da série. Para aquele ano, o PIB nominal
apresenta-se significativamente inferior ao PIB real. Sabe por quê? Porque, além das variações das
quantidades produzidas, os preços de mercado em 1994 eram inferiores aos preços praticados em
2008. Em 2008, os PIB’s nominal e real são idênticos, pois ele é o ano-base.

Se tomarmos a série nominal como referência, concluiremos – equivocadamente - que a economia


brasileira cresceu aceleradamente entre 1994 e 2008, dada a maior inclinação desta curva. Mas, se
observarmos a série real, veremos que a economia brasileira de fato cresceu ao longo deste período,
mas num ritmo relativamente lento, dada a menor inclinação desta curva. Agora você percebeu a
importância de se diferenciar o PIB real do PIB nominal? De agora em diante, preste bastante
atenção na informação que lhe é passada nos jornais e revistas.

1.2. Noções de macroeconomia fechada

Agora que já sabemos o conceito dos principais agregados, daremos início à análise
macroeconômica. Para isso, vamos considerar, inicialmente, uma economia fechada, ou seja, que
não mantém relações com o mercado externo. Você deve estar se perguntando por que vamos partir
de uma economia fechada se hoje a palavra de ordem é globalização... É apenas um recurso

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didático, para efeito de simplificação. Não podemos começar a estudar a economia aberta... ela é
complexa demais! Para entendê-la é necessário, em primeiro lugar, compreender as relações
macroeconômicas em um mundo mais simples. Vamos lá!

1.2.1. O Modelo Keynesiano simples

Em uma economia fechada existem três agentes econômicos: Governo, empresas e famílias.

O governo representa o setor público, enquanto as firmas e as famílias representam o setor privado.
Como vimos no item anterior, estes três agentes participam do fluxo circular da renda. Naquele fluxo
fica claro que cada agente tem dois papéis no sistema econômico: um do lado da produção, ou seja,
da oferta de bens e serviços e outro do lado da demanda.

Vamos nos concentrar, em primeiro lugar, no lado da produção, aqui denominada oferta agregada por
se referir a toda a produção final realizada em uma economia durante determinado período de tempo.
E, veja bem, se esta economia é fechada, então a sua produção interna bruta é exatamente igual à
sua produção nacional bruta e ambas são exatamente iguais à Renda Nacional, que corresponde à
remuneração dos fatores de produção, como vimos no item anterior.

PIB = PNB = RN

Uma outra noção importante, que aprendemos na Unidade I, se refere à situação de equilíbrio
econômico. Naquela unidade vimos que um mercado se equilibra quando a oferta é exatamente igual
à demanda, não havendo qualquer pressão (ascendente ou descendente) sobre os níveis de preço e
quantidade de equilíbrio. Assim também é na macroeconomia! A diferença é que não se trata do
equilíbrio de um mercado específico, mas do sistema econômico como um todo. Então, uma
economia estará em equilíbrio quando a Oferta Agregada (OA) for exatamente igual à Demanda
Agregada (DA) e ambas forem iguais à Produção (Y). Essa relação pode ser expressa pela
equação:

Y = OA = DA

A Oferta Agregada é composta pela produção destinada ao consumo privado (C); pela produção
destinada ao investimento privado, sendo esta correspondente ao valor da poupança realizada pelas
famílias (S); e pela parcela da produção recolhida pelo governo através dos tributos (T), que irá
financiar pelo menos parte dos gastos públicos:

OA = C + S + T

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A demanda agregada é composta pelo consumo de bens e serviços realizado pelas famílias (C); pelo
consumo das empresas privadas, sendo este correspondente ao valor do investimento (I) realizado
pelas mesmas; e pelos gastos governamentais (G) com bens e serviços de utilidade pública.

DA = C + I + G

Como se mencionou anteriormente, se a economia estiver em equilíbrio, a oferta agregada será


exatamente igual à demanda agregada.

OA = DA
C+S+T=C+I+G
S+T=I+G

Pelas condições de equilíbrio, podemos afirmar que, em uma economia em equilíbrio, a poupança
interna, dada pela soma da poupança privada com os tributos arrecadados pelo governo (S + T), é
exatamente igual ao investimento global, dado pelo investimento do setor privado somado aos
gastos governamentais (I + G), realizado na mesma, em determinado período de tempo.

Note que se a poupança privada for exatamente igual ao valor do investimento privado, a veracidade
da equação só será verificada se o governo gastar exatamente os recursos arrecadados através de
impostos. Essa situação é comumente chamada de Orçamento Público Equilibrado. Mas o
orçamento equilibrado em si não é condição suficiente nem sequer necessária para o equilíbrio
econômico.

O modelo keynesiano parte do pressuposto de que a Demanda Agregada é a mola propulsora de um


sistema econômico, pois considera que se os indivíduos desejarem comprar quantidades cada vez
maiores de bens e serviços, mais bens e serviços serão produzidos... mais empregos serão
gerados... gerando, por sua vez, mais renda, mais poupança, mais investimento, mais consumo, mais
impostos pagos ao governo, mais gastos do governo... Você está percebendo que se trata de um
círculo virtuoso? Que quanto mais as pessoas gastarem comprando bens e serviços, mais bens e
serviços serão produzidos?

Esse é o modelo keynesiano simples, considerado inovador por se tratar de uma nova concepção
acerca do dinamismo econômico. O modelo explica o crescimento econômico através de constantes
estímulos à demanda agregada.

No próximo item, iremos analisar quais são os instrumentos de que o governo utiliza para realizar as
políticas econômicas. Mas não ficaremos apenas nisso... Analisaremos também os efeitos dessas
políticas sobre a demanda agregada e sobre o nível de produção e emprego de uma economia.

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Atenção: John Maynard Keynes (1883-1946) foi um economista britânico que escreveu, em 1936,
uma importante obra denominada “A teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, no qual expressa
uma nova visão da economia, defendendo os efeitos positivos das intervenções governamentais nas
crises econômicas. Considerava o setor privado instável, sendo o papel do governo fundamental para
propiciar o ambiente necessário para o crescimento econômico. Diferentemente da teoria clássica,
não admitia a existência do Pleno Emprego dos fatores de produção. Admitia o equilíbrio no mercado
de bens e serviços, com desequilíbrio no mercado de trabalho.

1.2.2. Os instrumentos de política econômica e seus impactos


sobre os níveis de demanda agregada, produção e emprego em uma
economia fechada

Como adiantamos acima, o modelo keynesiano simples trabalha com a hipótese de que a intervenção
governamental é fundamental e necessária para o crescimento econômico. As ações do governo na
economia são, de forma geral, denominadas políticas econômicas. Na prática, existem três tipos de
políticas econômicas: política monetária, política fiscal e política tributária.

O governo realiza uma política monetária quando adota alguma medida para expandir ou contrair a
quantidade de moeda em circulação no sistema econômico. Você deve estar imaginando o que o
governo pode fazer para aumentar a quantidade de moeda em circulação... Ele pode, por exemplo,
emitir moeda, ou pode reduzir a taxa de depósito compulsório (percentual sobre o total de depósitos à
vista, em contas correntes, que os bancos comerciais são obrigados a recolherem ao Banco Central –
BACEN), ou pode comprar títulos da dívida pública em poder do público. Para reduzir a quantidade
de moeda em circulação o governo deve, então, aumentar a taxa de compulsório ou vender títulos da
dívida pública. A moeda recolhida fica retida no BACEN e não circula no sistema econômico.

O governo realiza uma política fiscal quando altera o volume de seus gastos na atividade
econômica. Você deve estar se perguntando: o que são gastos governamentais? Com que o governo
gasta? Como exemplo, podemos mencionar os gastos públicos com educação, saúde, construção e
manutenção de rodovias, pontes, túneis, segurança pública, iluminação pública. Ah! O governo
também pode ter empresas estatais... Quando o governo aumenta o gasto, dissemos que ele realizou
uma política fiscal expansionista; quando o reduz, dissemos que realizou uma política fiscal restritiva.

Finalmente, o governo realiza uma política tributária quando cria ou elimina impostos existentes ou
quando altera as alíquotas tributárias. Quando o governo cobra mais impostos, dissemos que ele
adotou uma política tributária expansionista, na medida em que expande as alíquotas tributárias e/ou
cria novos tributos; realiza uma política tributária restritiva quando diminui as alíquotas tributárias e/ou
elimina impostos.

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As políticas governamentais têm impacto sobre os níveis de produção e emprego. É o que veremos a
partir de agora.

Para entendermos esse ponto, devemos partir do equilíbrio macroeconômico, que é determinado pela
igualdade entre a oferta e a demanda agregada, como vimos acima. Devemos ter em mente que uma
política monetária expansionista e/ou uma política fiscal expansionista e/ou uma política tributária
restritiva estimulam a demanda agregada da economia.

A figura abaixo ilustra o efeito de uma destas políticas – ou de uma combinação destas políticas –
sobre o nível de renda (Y) e sobre o nível de preços (P). Observe que qualquer política de estímulo à
demanda agregada faz com que o nível de preços e de renda de uma economia se eleve. No curto
prazo é razoável supor que para que o nível de renda aumente, o nível de emprego deve também
aumentar, pois as empresas não realizam inovações tecnológicas que sacrifiquem postos de trabalho
no curto prazo. Por hipótese, as inovações tecnológicas significativas acontecem, então, no longo
prazo.

EFEITO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS SOBRE OS NÍVEIS DE RENDA E PREÇO

Fonte: Elaboração própria.

Você deve estar imaginando o que é curto prazo e longo prazo... Quanto tempo é considerado curto
prazo e a partir de qual momento consideramos longo prazo... Uma das frases mais famosas de
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Keynes é, também, a melhor definição para esses conceitos. Ele dizia o seguinte: “no longo prazo
todos estaremos mortos”... Você conseguiu entender o que é curto e longo prazo em economia?

Para que não fiquem dúvidas, curto prazo é o período durante o qual as características do sistema
econômico permanecem fixas. Quando houver alteração significativa em pelo menos uma
característica, então chegou o longo prazo... Isso pode durar anos... Ou meses... Ou dias... Depende
do caso.

Quando as empresas privadas aumentam o nível de investimentos nos sistemas produtivos da


economia, esse mesmo movimento da curva de demanda agregada é observado. Então, políticas
governamentais que estimulam os investimentos privados também terão impactos sobre os níveis de
preço e produção econômica.

Uma questão importante a acrescentar é a seguinte: quando as firmas realizam investimentos e


quando o governo realiza políticas fiscais e tributárias, visando o aumento da produção e do emprego
ocorre o que denominamos efeito multiplicador. Por definição, o multiplicador é um valor que,
associado às variações dos investimentos – ou dos gastos públicos – nos dá a variação da renda
decorrente da variação destes gastos. A questão central é que, na maioria das situações, o efeito
multiplicador é superior a 1, indicando que as variações da renda são maiores que as variações dos
investimentos e dos gastos públicos. Esse fato acontece porque os setores econômicos são
interligados e interdependentes... Estímulos dados em um setor têm reflexos em outros setores...
fazem-se sentir em outros setores... Quer um exemplo?

Vamos considerar os efeitos da Copa do Mundo de 2014, sobre a economia belo-horizontina. A


Prefeitura, o Estado e também o governo Federal, realizarão gastos em infra-estrutura para garantir a
realização desta competição no país e, especificamente, em Belo Horizonte. Gastos serão realizados
na reforma do Mineirão, transformando-o em um estádio mais moderno, confortável e seguro para o
público; gastos serão realizados na estrutura viária, para facilitar o acesso da população ao Mineirão
para assistir os jogos da copa. Nessas obras serão empregados milhares de trabalhadores que
receberão salários, os quais, por sua vez, serão gastos com a aquisição de bens e serviços para
consumo do trabalhador e de sua família, estimulando o aumento da produção dos mesmos. Para
isso, essas firmas também contratarão novos trabalhadores, que passarão a consumir quantidades
maiores de bens e serviços... e assim sucessivamente.

Dessa forma, o efeito final sobre a renda provocado por um gasto ou


investimento privado será sempre superior ao valor do gasto ou
investimento. O tamanho do efeito multiplicador depende da propensão
marginal a consumir e da alíquota tributária.

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A propensão marginal a consumir mede o percentual da renda gasto com consumo. Se em uma
determinada sociedade os indivíduos gastam 80% da renda com a aquisição de bens e serviços,
então a propensão marginal a consumir dessa sociedade será de 0,8. Os hábitos de consumo variam
significativamente de uma sociedade para outra. Sendo assim, em outra sociedade, os indivíduos
podem apresentar uma propensão marginal a consumir de 0,95, por exemplo, o que significa dizer
que consomem 95% da renda com a aquisição de bens e serviços. De modo geral, quanto maior a
propensão marginal a consumir, maior o efeito multiplicador dessa economia.

A propensão marginal a consumir varia entre 0 e 1. Se igual a 0, significa que os indivíduos poupam
toda a sua renda. Se igual a 1, significa dizer que gastam tudo o que ganham com bens e serviços. É
importante ressaltar que os valores extremos não representam o comportamento de todos os
indivíduos de uma sociedade, mas apenas o comportamento de indivíduos específicos e, por esse
motivo, não refletem o comportamento macroeconômico.

Para a sociedade como um todo, a propensão marginal a consumir sempre será maior que 0 e menor
que 1. Significa dizer que em conjunto, os indivíduos de uma sociedade consomem, normalmente a
maior parte da renda, e poupam o restante. A parcela relativa da renda destinada à poupança é, por
analogia, a propensão marginal a poupar. Observe que a soma das propensões marginais a consumir
e a poupar sempre será igual a 1.

O outro fator determinante do multiplicador dos dispêndios autônomos é a alíquota tributária. De


modo geral, quanto maior a alíquota tributária, menor o efeito multiplicador. Por que isso acontece? A
resposta é muito simples: imagine uma situação na qual o governo aumente a alíquota de retenção
do imposto de renda na fonte. O impacto imediato dessa medida de política tributária é a redução da
renda disponível a ser gasta com a aquisição de bens e serviços ou poupada. Como o multiplicador
depende diretamente do gasto, ainda que os indivíduos sejam propensos a gastarem uma grande
parcela da renda com consumo, a incidência do imposto impede que os indivíduos realizem parte de
seus desejos, já que uma parcela da renda será destinada ao pagamento do mesmo. Sendo assim, a
existência de uma alíquota tributária, bem como o seu aumento, reduz o efeito do multiplicador.

É interessante observar, ainda, que o efeito multiplicador pode ser tanto


positivo quanto negativo. Se por um lado o crescimento de uma empresa
propicia o crescimento de várias outras, por outro lado, a falência de uma
empresa implica na redução da atividade econômica e, inclusive na falência,
de outras empresas. Você já ouviu falar em efeito dominó? Ou em efeito
cascata? Pois é... Esses termos normalmente são usados para se referir ao
efeito multiplicador.

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Nesse tópico discutimos a respeito dos impactos das políticas econômicas sobre os níveis de
produção e emprego. Vimos que políticas monetárias expansionistas, fiscais expansionistas e
tributárias restritivas promovem o aumento da produção e do emprego. Porém nem tudo são flores...
Normalmente uma economia em crescimento experimenta processos inflacionários. Mas, você sabia
que nem toda inflação é prejudicial ao crescimento econômico? As questões relativas à inflação serão
estudadas no próximo tópico. Vamos lá, continue a leitura!

1.2.3. Inflação: conceito, tipologias, causas e conseqüências

Inflação é, por definição, “um aumento persistente e generalizado no índice de preços, ou seja, os
movimentos inflacionários são aumentos contínuos de preços, e não podem ser confundidos com
altas esporádicas de preços, devido a flutuações sazonais, por exemplo”. (VASCONCELLOS e
GARCIA, 1998, p. 181).

Mas o que poderia provocar um aumento persistente no nível de preços? As razões para isso são
várias, mas sempre estarão associadas a fatores relacionados à demanda ou a fatores relacionados à
oferta. Por isso são definidos dois tipos básicos de inflação: inflação de demanda e inflação de
custos. Veremos, em primeiro lugar, o que é uma inflação de demanda.

A inflação de demanda é um processo inflacionário decorrente de um excesso de demanda por bens


e serviços em relação à oferta desses mesmos bens e serviços. Você deve estar se perguntando o
que poderia provocar uma inflação de demanda... Ora, qualquer política econômica que estimule a
demanda agregada, como a política fiscal expansionista, a política tributária restritiva e, é claro, a
política monetária expansionista. Toda vez que o governo aumenta a quantidade de moeda em
circulação na economia, essa medida terá impacto sobre o nível de preços...

Observe a figura abaixo e verifique o resultado de sucessivas políticas de estímulo à demanda


agregada sobre os níveis de preço e produção. Pode-se notar que além do aumento dos preços,
houve também aumento da produção e, portanto, do nível de emprego. Sabe por quê? Porque a
cada estímulo à demanda agregada será gerado um excesso de demanda em relação à oferta dos
bens e serviços. Como vimos na Unidade I, sempre que houver excesso de demanda, os preços
subirão... a diferença é que aqui não estamos considerando mercados específicos, mas o nível médio
de preços da economia.

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Inflação de Demanda

P
OA

P
3

P
2

DA3

P0
DA2
DA1
DA0
Y
Y0 Y1 Y2 Y3
Fonte: Elaboração própria.

A inflação de custos é, necessariamente, uma inflação relacionada a choques negativos de oferta.


Um choque negativo de oferta ocorre sempre que houver elevação dos custos de produção,
reduzindo a oferta, para um dado nível de preços. Sendo assim, a curva de oferta se deslocará para
cima e para a esquerda, como se pode observar na figura abaixo. Nesse caso, o aumento do nível
médio de preços é acompanhado por uma redução da produção e do emprego, caracterizando um
processo recessivo nesse sistema econômico. Nesse caso a inflação é prejudicial.

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Inflação de Oferta

OA1

P
OA0

P1

P0

DA

Y
Y1 Y0
Fonte: Elaboração própria.

As causas mais importantes da inflação de custos são: a elevação dos salários dos trabalhadores,
acima do aumento da produtividade desse mesmo trabalhador, implicando aumento dos custos de
produção; aumento do preço das matérias primas; e, ainda, o aumento da concentração de mercado.

Em 1973 e em 1979 tivemos os chamados 'choques do petróleo'... você já


ouviu falar disso? Naqueles períodos o preço do barril do petróleo aumentou
significativamente no mercado internacional e, como o petróleo é um insumo
de produção utilizado em vários setores industriais, houve aumento do custo
de produção de uma infinidade de produtos, que foram repassados aos
preços dos mesmos, gerando uma inflação de custos.

Os processos inflacionários têm impactos perversos sobre a economia. O primeiro deles é a redução
do poder aquisitivo das classes sociais que vivem de renda fixa, como é o caso dos trabalhadores
assalariados, por exemplo. Considerando que o salário nominal do trabalhador permanece fixo
durante 12 meses, a inflação do período corrói o poder de compra destes trabalhadores, ou seja, com
o dinheiro que recebe o trabalhador compra quantidades cada vez menores de bens e serviços, uma

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vez que seus preços se reajustam todos os meses. Perceba o seguinte: apesar de receber
exatamente o mesmo valor nominal, os trabalhadores estão ficando relativamente mais pobres.

É interessante ressaltar que a inflação não atinge igualmente a todos os


agentes econômicos. Aqueles agentes que têm capacidade de proteger
suas rendas do processo inflacionário são menos prejudicados e podem,
inclusive, lucrar com o processo inflacionário.

Você deve estar achando isso muito estranho...

Imagine o dono de um supermercado... Ele compra produtos de seus fornecedores e os disponibiliza


nas prateleiras. Em uma economia inflacionária, os preços desses produtos são remarcados
periodicamente... Sendo assim, o dono do supermercado consegue manter seu poder de compra, em
decorrência da elevação das receitas de suas vendas.

O segundo impacto é sobre o balanço de pagamentos. A elevação dos preços internos torna o
produto nacional mais caro em relação àquele produzido em outro país, havendo, portanto, uma
tendência para aumentar as importações e reduzir as exportações. Sendo assim, deve haver uma
redução do saldo da balança comercial, dado pela diferença entre o valor das exportações e o valor
das importações. Considerando que as demais contas do balanço de pagamentos estão constantes,
o saldo do balanço de pagamentos deve se reduzir, refletindo a redução do saldo da balança
comercial. Se você não conseguiu entender essa questão, não se preocupe... A economia aberta é
assunto de nossa próxima Unidade. Lá trabalharemos detalhadamente esses conceitos.

O terceiro impacto é sobre as finanças públicas. Considerando a existência de um lapso temporal


entre o fator gerador do imposto e seu efetivo recolhimento pelo governo, a existência de uma
inflação nesse período reduz o poder de compra do próprio governo, assim como reduz o poder de
compra dos trabalhadores. Em outras palavras, reduz a capacidade de realização de gastos por parte
da máquina estatal.

Agora que já sabemos os conceitos de PIB real e nominal e de inflação, precisamos compreender e
diferenciar os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico.

1.2.4. A relação entre o crescimento e o desenvolvimento


econômico

Crescimento econômico real já sabemos o que significa... Crescimento econômico nada mais é do
que o aumento da produção interna, medida em termos reais.

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O PIB global indica a riqueza produzida em um país, em determinado período de tempo. De modo
geral, quanto maior o PIB global, mais rica a economia. Com um PIB de US$14,2 Trilhões, os EUA se
destacavam, em 2008, como a maior economia do mundo, posição que ocupa ainda hoje; com um
PIB de US$1.976.632 Milhões o Brasil se destacava, em 2008, como a nona economia mundial. Em
outras palavras, o Brasil era, em 2008, o nono país mais rico do mundo, como se pode observar na
tabela abaixo.
RANKING DOS 10 MAIORES PIB's GLOBAIS*, EM 2008

Países PIB Global


(em milhões US$)
Estados Unidos 14.204.322
China 7.903.235
Japão 4.354.550
Índia 3.388.473
Alemanha 2.925.220
Rússia 2.288.446
Reino Unido 2.176.263
França 2.112.426
Brasil 1.976.632
Itália 1.840.902

Fonte: Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GDP.pdf acessado dia 23/11/2009


* PIB´s estimados pelo método PPP.

Um indicador do crescimento é, então, a variação do PIB global de um ano para o outro, lembrando-
se que devemos usar sempre o PIB real e nunca o PIB nominal. Se o PIB global aumentar, a
economia cresceu; se diminuiu, a economia estará em recessão. Se a recessão for profunda, então
temos uma crise econômica. Em uma economia em recessão (ou em crise) o nível de emprego tende
a se reduzir, implicando no aumento das taxas de desemprego.

Outro indicador de riqueza é o PIB per capita (PIB por pessoa). Você sabe exatamente o significado
de um PIB per capita? Ele nos indica a parcela da renda que cada habitante de uma nação receberia
ao final de um período (ano, por exemplo), caso a renda daquele país fosse distribuída de forma
completamente igualitária.

Considere dois países A e B. O país A apresentou, em 2008, um PÍB de US$1.612,6 bilhões; o país B
apresentou, no mesmo ano, um PIB de US$1.400,1 bilhões (Banco Mundial, 2009). A riqueza
produzida no país A, no ano de 2008, foi indubitavelmente maior que a riqueza produzida no país B,
em termos globais. Por esse critério o país A seria mais rico que o país B. Mas se adotarmos como
referência o PIB per capita chegaremos à conclusão distinta.

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A renda per capita do país A é de US$7.350 mil enquanto a renda per capita do país B é US$41.730
mil, isso porque a população do país A é em torno de 5 vezes maior que a população do país B. Por
esse critério, o país B seria mais rico que o país A. A variação da renda per capita é considerada, por
muitos economistas, um indicador mais apropriado para se avaliar o desempenho de uma economia
justamente pelo fato de levar em consideração não apenas a variação do PIB global como também a
variação do tamanho da população de um país. Ah!!! Já ia me esquecendo... O país A é o Brasil e o
país B, o Canadá...

Considerando-se o PIB per capita, as maiores economias mundiais seriam aquelas apresentadas na
TABELA 2. Observe que a economia americana, a maior economia em termos globais, apresentou,
em 2008, o nono PIB per capita. Por outro lado, Luxemburgo, que nem sequer aparece no ranking
dos maiores PIBs globais apresentou, em 2008, o maior PIB per capita.

Volto a insistir: são apenas critérios diferenciados para se analisar a mesma


coisa!!!

RANKING DOS 10 MAIORES PIB's PER CAPITAS MUNDIAIS*, EM 2008


Países PIB per capita (US$ Mil)

Luxemburgo 64.320

Noruega 58.500

Kuwait 52.610

Macao 52.260

Brunei 50.200

Cingapura 47.940

EUA 46.970

Suíça 46.460

Hong Kong 43.960

Holanda 41.460

Fonte: Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GNIPC.pdf


* PIB´s estimados pelo método PPP.

Muitas pessoas afirmam, erroneamente, que uma renda per capita elevada reflete um alto padrão de
desenvolvimento. Não é bem assim... Países desenvolvidos apresentam rendas per capita elevadas...
Mas nem todo país com renda per capita elevada pode ser considerado desenvolvido... Então vamos
ao conceito de desenvolvimento.

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Uma criança quando cresce ganha peso e altura... Mas seu processo de desenvolvimento envolve,
além do próprio crescimento, outros fatores como aprender a sentar, engatinhar, andar, correr, falar...
Observe que o conceito de desenvolvimento é mais amplo; mais complexo. Assim também é o
processo de desenvolvimento socioeconômico.

Para se desenvolver, uma economia precisa antes de tudo crescer. Mas o crescimento, apesar de
ser uma condição necessária, não é suficiente para o desenvolvimento. Para que haja
desenvolvimento, os habitantes de um país devem se beneficiar do crescimento econômico... Devem
gozar de um alto nível de bem-estar... Sabe exatamente do quê estamos falando aqui? De uma
melhor distribuição da riqueza entre os habitantes de uma nação... Por isso o PIB per capita não
reflete desenvolvimento... Porque ele não reflete a maneira como se dá a distribuição da renda em
um país.

Para avaliarmos o desenvolvimento, temos que associar à renda per capita outros indicadores
socioeconômicos que nos permitem avaliar a qualidade de vida da população, tais como Taxa de
Mortalidade Infantil, grau de analfabetismo, escolaridade média e índice de gini. Em tempo, você sabe
o que significa índice de gini?

O índice de gini é um indicador específico da distribuição de renda. Esse índice varia entre 0 e 1. Se o
índice fosse exatamente igual a zero teríamos uma distribuição perfeita da renda, em outras palavras,
cada indivíduo da população – independentemente do sexo, idade, escolaridade, cor, etc – receberia
o valor correspondente à renda per capita. No outro extremo, se o índice fosse 1, um único indivíduo
receberia sozinho toda a renda produzida na economia, em determinado período. É claro que na
realidade os extremos não se verificam, ou seja, em nenhuma economia real o índice de gini será
igual a zero ou igual a 1. Esses valores nos servem de referência: quanto mais próximo de zero, mais
bem distribuída é a renda; quando mais próximo de 1, maior é a desigualdade. Se tomarmos como
referência o índice de gini, quanto menor o seu valor, mais desenvolvida será a economia.

A distribuição mais igualitária da renda influencia, significativamente, os demais indicadores sócio-


econômicos mencionados. De modo geral, em países onde a renda per capita é elevada e bem
distribuída a taxa de mortalidade infantil e o grau de analfabetismo tendem a ser bastante baixos,
enquanto a escolaridade média da população tende a ser mais elevada.

Atualmente o indicador mais utilizado para se analisar o grau de desenvolvimento de uma economia é
o Índice de Desenvolvimento Humano. O IDH é um índice composto, estimado a partir de 3
indicadores simples: alfabetização, esperança de vida e renda per capita. Segundo AMARTYA SEN,
um de seus criadores, o “IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.
Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da 'felicidade' das
pessoas, nem indica o melhor lugar do mundo para se viver” (PNUD, acesso em 23/11/2009).

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Nesse caso, quanto mais próximo da unidade, mais desenvolvido é o país.

A Noruega, com um IDH de 0,971 era, em 2007, o país com o maior nível de desenvolvimento
humano do mundo.

RANKING DOS 10 PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS (2007)

Países IDH
Noruega 0,971
Austrália 0,970
Islândia 0,969
Canadá 0,966
Irlanda 0,965
Holanda 0,964
Suécia 0,963
França 0,961
Suíça 0,960
Japão 0,960
Fonte: Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/rep
ortagens/index.php?id01=3324&lay=pde> Acesso
em: 23/11/2009

O Brasil, naquele mesmo período, com um IDH igual a 0,813 encontrava-se na 75ª posição, mesma
posição que ocupava em 2006, embora tenha experimentado aumento de seu IDH entre aquele ano e
2007. Com um IDH de 0,813, o Brasil se coloca entre as nações de alto padrão de desenvolvimento
humano.

RANKING DOS 10 PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS (2007)


Países IDH
Moçambique 0,402
Guiné Bissau 0,396
Burundi 0,394
Chade 0,392
República Democrática do Congo 0,389
Burkina Fasso 0,389
Mali 0,371
República Centro-Africana 0,369
Serra Leoa 0,365
Afeganistão 0,352

Fonte: Disponível em:


<http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3324&lay=pde> Acesso em:
23/11/2009

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De modo geral, são considerados países com nível muito elevado de desenvolvimento humano
aqueles com IDH maior ou igual a 0,900; países com alto nível de desenvolvimento humano, aqueles
com IDH inferior a 0,900 e superior a 0,800; países com desenvolvimento humano médio, aqueles
com IDH maior que 0,500 e inferior a 0,800; e, finalmente, países com desenvolvimento humano
baixo aqueles com IDH inferior a 0,500.

Com exceção do Afeganistão, um país do Oriente Médio, todos os demais países do Ranking dos
menores IDH’s são países da África Subsaariana, a região mais pobre do mundo.
Com isso, concluímos o conteúdo desta Unidade do nosso curso de Economia e estamos prontos
para avançarmos um pouco mais em nossa disciplina. Como mencionamos, no início desta unidade,
por uma questão didática, aprendemos primeiro a raciocinar com um modelo mais simples, de
economia fechada.

Atualmente a maioria – se não todas – as economias são abertas, sendo a atividade terciária cada
vez mais intensa e, portanto, cada vez mais importante. No mundo globalizado o comércio é a
principal forma de acesso a bens e serviços produzidos em outros países.

Por esse motivo, estudaremos, na próxima Unidade, os conceitos básicos e as principais


características de uma economia aberta. Mas antes disso vamos praticar as questões aqui discutidas,
para que não fiquem dúvidas e, assim, você consiga compreender mais facilmente o funcionamento
da economia aberta, mais complexa, obviamente, do que esta que aqui estudamos.

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2. Teoria na Prática

Como todos nós sabemos, no final de 2008, a economia mundial foi envolvida em uma crise
econômica que teve início no mercado imobiliário norte-americano e, por causa do alto nível de
integração da economia mundial, se espalhou rapidamente por vários países do mundo e o Brasil não
deixou de ser afetado.

Essa crise se caracterizou por uma redução drástica do crédito ofertado pelo sistema bancário,
levando a uma retração do nível de investimento e de demanda e, por conseqüência, a uma redução
do nível de emprego e renda.

Diante da gravidade da situação, os bancos centrais de vários países rapidamente intervieram no


mercado de crédito, injetando recursos financeiros às instituições com dificuldades de caixa para
impedir que a ocorrência de falências generalizadas tornasse a crise cada vez maior.

Além da ajuda financeira ao sistema bancário, os governos também buscaram reduzir os impactos da
redução do crédito sobre as empresas produtoras de bens e serviços e à atividade comercial, setores
estes com grande capacidade de geração de emprego.

Aqui no Brasil a ação do Banco Central e do poder executivo não foi diferente dos principais países
do mundo. O Banco Central ofertou crédito principalmente às empresas de construção civil além de
determinar que os bancos federais, em uma situação de falência de empresas desse setor se
tornassem sócias das empresas.

Outra ação importante levada a cabo pelo Ministério da Fazenda foi a decisão de reduzir o IPI
(imposto sobre produtos industrializados) incidentes na produção de automóveis e na produção da
linha branca (geladeiras, frezzers, lavadoras, forno de microondas). A argumentação do governo
federal para fundamentar a proposta de redução tributária se baseava na capacidade destes setores
em gerar emprego e renda e também na capacidade, principalmente no setor de linha branca de
proporcionar um aumento do nível de bem estar social.

Uma característica comum entre estes dois setores é a sua notória dependência da disponibilidade de
crédito para proporcionar capacidade de consumo por parte dos indivíduos e empresas.

A produção desses dois setores, elevada nos períodos anteriores à crise, sofreu uma redução
significativa no final de 2008 e nos meses iniciais de 2009 forçando para cima a taxa de desemprego
e a queda no nível de renda. A redução do IPI, por sua vez, ao permitir a redução do preço de

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mercado tanto dos automóveis quanto dos produtos de linha branca estimulou as vendas e por sua
vez a produção dos bens, revertendo o movimento de queda nos investimentos e da renda.
1
Considerando aqui os efeitos “para frente” e “para trás” dos investimentos realizados nestes setores,
pode-se perceber que o efeito multiplicador dos investimento nesses setores é bastante significativo.

Sendo assim, a partir do momento em que o governo decidiu reduzir o IPI na produção de automóveis
e linha branca, os impactos sobre a economia brasileira se tornam significativos, contribuindo para
que os efeitos da crise creditícia sobre nossa economia se desse em menor escala e por um período
de tempo menor do que nas maiores economias do mundo.

O efeito positivo dessa política tributária se faz notar na expansão do PIB, na capacidade de geração
de emprego e renda no Brasil, o que poderá impactar na renda per capita do brasileiro, conduzindo a
um período de crescimento econômico e mesmo a um período de desenvolvimento econômico no
Brasil.

Para se ter uma idéia do impacto sobre o crescimento econômico decorrente das medidas de
intervenção do governo brasileiro, de acordo com o Ministério do Trabalho, no mês de outubro de
2009, foram criados 231 mil novos empregos, maior número para esse mês desde 1992. Ao longo
desse ano, foram criados 1 milhão de novos empregos diante de uma redução de 800 mil vagas
ocorridas durante a crise gerando um saldo positivo na criação de empregos no Brasil. Ainda de
acordo com o Ministério do Trabalho, o setor industrial foi o que gerou maior número de empregos,
seguido da atividade comercial e do setor de construção civil.

Em termos de desenvolvimento econômico, dados gerados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística) mesmo com o impacto da crise econômica, não se verificou uma redução no
2
movimento de queda na taxa de pobreza no Brasil.

De acordo com esse instituto, a taxa de pobreza em março de 2009 foi 1,7% menor do que a de
março de 2008. Mesmo considerando essa taxa entre os trabalhadores desempregados, ocorreu
uma redução de 16,3%, entre janeiro de 2005 e março de 2009, diante de uma redução de 5,5% na
taxa de desemprego no mesmo período. A justificativa para esse comportamento é dada pela
elevação do valor real do salário mínimo e a existência de uma rede de garantia de renda às pessoas
de baixa renda.

1 Entende-se como efeito “para frente” e “para trás”, os efeitos sobre toda a cadeia produtiva tanto na produção de
automóveis quanto na produção de linha branca. Como exemplo dos efeitos “para trás”, tomando como referência a
indústria automotiva, uma maior produção exige maior produção de borracha para produzir pneu, maior produção de
tecido para forração dos bancos, etc. E como exemplo do efeito “para frente” temos a abertura de concessionárias, lojas
de autopeças, oficinas mecânicas, lava-jato, seguradoras, etc.
2 A taxa de pobreza determina o percentual da população de vive com uma renda inferior a meio salário mínimo mensais.

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3. Recapitulando

Nesta Unidade, estudamos os conceitos fundamentais e as relações básicas da macroeconomia que,


diferentemente da microeconomia, nos fornece uma visão global do sistema econômico.

Começamos com os conceitos da contabilidade social: renda nacional, produto interno bruto, produto
nacional bruto, produto interno líquido (e, por analogia, o produto nacional líquido), depreciação,
renda disponível, imposto direto e indireto. Aprendemos, ainda, a importância de se deflacionar os
valores nominais para descontarmos das variações reais, os valores referentes à inflação.

Após estudarmos esses conceitos, passamos à compreensão da economia fechada, para a qual os
valores da Renda Nacional, do Produto Interno Bruto e do Produto Nacional Bruto são idênticos.
Vimos que o governo pode atuar direta e indiretamente sobre o funcionamento do sistema econômico
e faz isso sempre que realiza políticas fiscais, tributárias e monetárias, lembrando-se que essas
políticas podem ser aplicadas individualmente ou em conjunto, combinadas.

Ao realizar gastos o governo interfere diretamente na demanda agregada; ao alterar alíquotas


tributárias e/ou a quantidade de moeda em circulação, o governo interfere indiretamente na demanda
agregada, porque através destas políticas altera o comportamento dos consumidores, e das firmas.

Outra questão interessante se refere ao efeito multiplicador. Esse é um dos principais conceitos da
macroeconomia. É fundamental entender que quando o governo ou uma empresa realiza um
investimento no setor produtivo, a renda gerada através deste investimento é maior – em alguns
casos muito maior – do que o valor do investimento, pois os mercados, apesar de independentes e
autônomos são interligados.

Vimos também, que uma economia em crescimento é, normalmente, inflacionária. So não haverá
inflação se houver uma capacidade ociosa tão grande que permita a elevação da produção sem
qualquer alteração no nível de preços. Para as demais economias, sempre que houver crescimento
da produção haverá aumento do preço.

A inflação se torna prejudicial quando se torna elevada. A inflação decorrente de um choque negativo
de oferta também é prejudicial... Também é preocupante... Nesse caso, além do aumento do nível
médio de preços será observada uma redução da produção e aumento do nível de desemprego.
Nesse caso é realmente ruim... Realmente prejudicial... Muitos trabalhadores desempregados!!! E
para aqueles que permanecem no mercado de trabalho, uma redução do poder de compra...
Devemos lembrar, ainda, que o efeito multiplicador também se aplica nesses casos...

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Finalmente, verificamos que os conceitos de crescimento e desenvolvimento, embora interligados são


significativamente diferentes. Crescimento é, simplesmente, o incremento do PIB; desenvolvimento se
refere à melhoria da qualidade de vida da população... Desenvolvimento acontece quando a
população se beneficia, de fato, do incremento do PIB. Para analisarmos o crescimento normalmente
tomamos como referência a variação do PIB global ou do PIB per capita, ao longo do tempo.

Para analisarmos o desenvolvimento, outros indicadores devem ser associados à renda per capita,
uma vez que esta não reflete o padrão distributivo de um país e, portanto, a qualidade de vida da
população. Na atualidade, os pesquisadores têm priorizado o uso do IDH, um índice composto que
mede o nível de desenvolvimento humano de um país.

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Unidade 3: Noções de Economia Internacional

1. Conteúdo Didático

Na Unidade 2, estudamos alguns conceitos fundamentais da contabilidade social e da


macroeconomia, considerando uma economia fechada. Mas, como mencionamos anteriormente,
atualmente a palavra de ordem é globalização. Você sabe o significado desse termo? Ele se refere à
intensificação das relações estabelecidas entre os países no sistema internacional, a partir do fim da
guerra fria, no final dos anos 80. Essa intensificação se tornou possível graças aos avanços
tecnológicos no setor de transporte e comunicação, que muito contribuíram para reduzir as barreiras
econômicas e não-econômicas existentes entre os países. No mundo globalizado, as relações
comerciais tendem a predominar nas relações internacionais, pois é, dessa forma, que todos os
países têm acesso a bens e serviços produzidos fora de seus limites territoriais.

Significa dizer que a maioria dos sistemas econômicos da atualidade é


aberto, ou seja, mantém relações econômicas – comerciais e/ou financeiras
– com outros países. Essas relações econômicas são determinadas por
alguns fatores internos e externos e têm forte impacto nas economias dos
países envolvidos. É sobre isso que iremos discutir nesta Unidade. Você já
está preparado para começar? Então, vamos lá!

1.1. O modelo geral de equilíbrio do produto, da renda e do emprego

Na Unidade 2, trabalhamos com o modelo geral de equilíbrio, considerando uma economia fechada.
Você se lembra?

Naquele modelo, a renda nacional (RN) era exatamente igual à Produção Interna (PIB) que, por sua
vez, era exatamente igual ao Produto Nacional Bruto (PNB).

RN = PIB = PNB

Vimos ainda que, em equilíbrio, a Demanda Agregada é exatamente igual à Oferta Agregada, que por
sua vez é igual à Renda Nacional.

DA = OA = RN

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A Demanda Agregada foi definida como sendo:

DA = C + I + G

De onde concluímos que:


Y=C+I+G

No entanto, esse modelo representa uma economia fechada. Como nossa


discussão agora envolve economias abertas, como o modelo exposto acima
seria alterado, considerando que todos os países comercializam entre si?
Vamos... Pense...

Em primeiro lugar, devemos ter em mente que um país vende bens e serviços para o resto do mundo
e, ao mesmo tempo, compra bens e serviços produzidos em outros países. A venda de bens e
serviços produzidos em um país, para o resto do mundo, é definida como EXPORTAÇÕES, enquanto
a compra de bens e serviços é definida como IMPORTAÇÕES. Em segundo lugar, devemos pensar
de que maneira as exportações e as importações afetam o nível de demanda agregada, o nível de
renda e de emprego em uma economia qualquer.

Com as importações, a oferta interna de bens e serviços tende a aumentar, porque se refere tanto
aos bens e serviços produzidos internamente quanto aos bens e serviços produzidos em outros
países, e que foram importados pela economia local para serem comercializados internamente. As
exportações, por sua vez, se referem à parte da produção interna que será comercializada em
mercados consumidores de outros países.

Vamos voltar agora ao modelo macroeconômico fechado... Vamos analisar


como ele será alterado com a introdução destas duas novas variáveis
(importação e exportação). A condição de equilíbrio econômico permanece
a mesma, ou seja:

DA = OA = Y

Acontece que a composição da demanda e da oferta agregada é alterada pelas importações e


exportações. As exportações tendem a aumentar a produção e, por esse motivo, a Oferta Agregada
passa a ser assim definida:

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OA = C + S + T + X
Onde:
C = Consumo privado
S = Poupança privada
T = Tributos
X = Exportações

Por outro lado, as importações elevam a Demanda Agregada, que passa a ser reescrita:

DA = C + I + G + M
Onde:
C = Consumo privado
I = Investimento privado
G = Gastos governamentais
M = Importações

De acordo com a condição de equilíbrio, temos:

C+S+T+X=C+I+G+M
S+T+X=I+G+M
S+T=I+G+M–X

Note que, em uma economia aberta, a poupança interna (S + T) é exatamente igual ao investimento
global (I + G) somado à poupança externa (M – X).

Mas, vamos nos concentrar na Produção. Na economia aberta, temos:

Y=C+I+G+X–M
Onde:
X – M = a diferença entre o valor das exportações e o valor das importações, que representa o saldo
da balança comercial.

Atenção: o conceito de balança comercial será trabalhado no próximo tópico


desta Unidade.

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Como se pode notar, a renda nacional depende do consumo privado, dos investimentos privados e
dos gastos governamentais realizados nesta economia, bem como das exportações e das
importações.

Já estudamos, na Unidade 2, o efeito do consumo privado, dos investimentos privados e dos gastos
governamentais sobre a renda nacional. Você se lembra? Se ainda tiver dúvidas, volte à Unidade 2
antes de prosseguir com a leitura... Todas aquelas afirmativas permanecem válidas!
Agora vamos aprofundar um pouco mais.e analisar os efeitos das exportações e das importações
sobre o produto e a renda nacional. Fique atento!

• Observe que, na equação acima, as exportações são acompanhadas


de um sinal positivo.
Sabe o que isso significa? Significa qu,e, caso ocorra um aumento na
demanda externa pelos produtos nacionais, o nível de renda e emprego
internos serão aumentados. Sabe por quê? Porque as empresas deverão
produzir mais para atender à demanda externa...

• Observe, ainda, que as importações entram com sinal negativo.


Você já percebeu por quê? Caso ocorra um aumento da demanda interna
por produtos produzidos externamente, a renda nacional e o nível de
emprego serão reduzidos.

Agora que já sabemos que as importações e exportações afetam os níveis de renda e emprego,
vamos verificar seus impactos sobre o efeito multiplicador.

Você se lembra do conceito de multiplicador? Na Unidade 2, definimo-nos


como um valor que, associado às variações dos investimentos – ou dos
gastos públicos –, nos dá a variação da renda decorrente da variação
desses gastos. Lembrou? Então, vamos em frente...

Em uma economia aberta, o multiplicador tende a ser mais elevado quando a propensão marginal a
importar é baixa e tende a ser mais baixo quando a Propensão Marginal a Importar é alta. Temos um
novo conceito:

Propensão Marginal a Importar representa a parcela da renda que é


gasta com a aquisição de bens e serviços produzidos externamente.

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Um aumento na propensão marginal a importar implica que uma maior parcela da renda interna é
gasta com produtos importados e, portanto, ocorre um gasto menor com bens e serviços produzidos
internamente. O efeito contrário é verificado sempre que há uma redução na Propensão Marginal a
Importar.

1.2. O balanço de pagamentos: conceito e estrutura

Quando você ouve o termo Balanço de Pagamentos, o que vem à sua


mente? Pense um pouco sobre isso... Nesta parte do curso, vamos
aprender sobre o Balanço de Pagamentos. Esteja atento às informações a
seguir.

O Balanço de Pagamentos é o registro contábil de todas as transações econômicas – comerciais e


financeiras – entre os residentes de um país e o resto do mundo. Por residentes entendem-se as
empresas, os indivíduos e os órgãos governamentais domiciliados legalmente em um país.
(CARBAUGH, 2004). No Brasil, o Banco Central (BACEN) é o responsável pela elaboração e
divulgação do Balanço de Pagamentos.

O Balanço de Pagamentos é estruturado em duas grandes contas - a conta ‘Transações Correntes’ e


a conta ‘Capital e Financeira’ – e os lançamentos contábeis se baseiam no método das partidas
dobradas. Em outras palavras, para cada transação de crédito deve haver o registro de um débito
correspondente. Agora que já sabemos que o registro contábil do Balanço de Pagamentos se baseia
no método das partidas dobradas, vamos entender cada uma de suas contas.

Na primeira conta do Balanço de Pagamentos, denominada conta ‘Transações Correntes’ ou


simplesmente ‘Conta Corrente’ temos três subcontas:

• Balanço Comercial  são contabilizados o valor de todas as mercadorias


importadas e exportadas pelo país. O valor das exportações entra como
crédito e o valor das importações como débito, na ‘conta caixa’. Seu saldo é
dado pela diferença entre o valor das exportações e importações (X – M),
como se mencionou anteriormente. Sendo o saldo negativo (déficit
comercial), as importações superaram em valor as exportações; sendo o
saldo positivo (superávit comercial) as exportações superaram em valor as
importações.

• Balanço de Serviços  são contabilizados os valores de todos os serviços


adquiridos ou prestados pelo país ao resto do mundo. Como exemplos de
serviços a serem contabilizados, podemos citar os serviços de: Transportes,
Financeiros, Bancários, Viagens Internacionais (para fins educacionais, por
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

motivo de saúde, turismo, etc.), Fretes, Seguros, Comunicações, dentre


outros. Quando residentes de um país prestam serviços ao resto do mundo,
o valor recebido por esse serviço é registrado como um crédito, na ‘conta
caixa’; quando consomem serviços prestados por residentes no exterior, o
valor pago é contabilizado como um débito na ‘conta caixa’.

• Transferências Unilaterais Correntes são contabilizados os valores de


todas as transferências correntes – realizadas ou recebidas por residentes
em um país – sem contrapartida no Balanço de Pagamentos. As
transferências recebidas pelos residentes de um país são contabilizadas
como um crédito na ‘conta caixa’, enquanto as transferências concedidas
são contabilizadas como débito. Com exemplo de transferências unilaterais
podemos mencionar os donativos de qualquer natureza como alimentos,
medicamentos, recursos destinados a reparações de guerras, transferências
de migrantes a seus familiares, etc.

O saldo da conta transações correntes é dado pelo somatório dos saldos das três contas individuais:

TC = BC + BS + TU

Onde:
TC = saldo da conta transações correntes
BC = saldo do balanço comercial
BS = saldo do balanço de serviços
TU = saldo das transferências unilaterais

Na segunda conta do Balanço de Pagamentos, denominada conta ‘Capital e Financeira’, também


conhecida como conta ‘Movimento de Capitais’, temos o registro de toda a movimentação de capital
entre um país e o resto do mundo, referentes à compra e à venda de ativos, tanto por parte do
governo quanto por parte do setor privado. Como exemplos de ativos, podemos mencionar títulos do
governo, depósitos em bancos comerciais, ações de empresas, etc. A conta ‘Capital e Financeira’ é
também dividida em duas subcontas:

1. Movimento de Capitais Autônomos ou apenas Capitais Autônomos que


corresponde à contabilização dos empréstimos, financiamentos, investimentos
diretos, amortizações de dívidas do setor privado, especificamente. O valor de
um investimento direto realizado por uma empresa estrangeira em um país é
contabilizado como um crédito na ‘conta caixa’ e como débito na conta
‘Investimento Direto’; a importação de bens de capital através de financiamento
é lançado a crédito na conta ‘financiamento’ e a débito na conta ‘importação’.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

2. Movimento de Capitais Compensatórios ou apenas Capitais


Compensatórios que corresponde ao saldo das reservas internacionais, aos
empréstimos recebidos ou concedidos para ajustes no saldo do balanço de
pagamentos e ao lançamento das dívidas ainda não pagas, de exercícios
anteriores.

O saldo da conta ‘Capital e Financeira’ é dado pela diferença entre o capital que saiu e o que entrou
no país através destas movimentações.

MK = KA + KC

Onde:
MK = saldo da conta de movimento de capitais
KA = saldo da conta de capitais autônomos
KC = saldo da conta de capitais compensatórios

Além dessas duas contas, o Balanço de Pagamentos contém, ainda, a rubrica ‘Erros e Omissões’, na
qual são contabilizadas as transações mal definidas, de forma a garantir que nenhuma relação
estabelecida entre um país e o resto do mundo fique sem ser contabilizada.

O saldo do Balanço de Pagamentos é resultado do somatório dos saldos das duas grandes contas,
incluindo o saldo da rubrica ‘Erros e Omissões’:

BP = TC + KA + EO

Onde:
BP = Saldo do balanço de pagamentos
TC = saldo da conta de transações correntes
KA = saldo da conta de capitais autônomos
EO = Erros e Omissões

Você sabe em que situação o Balanço de Pagamentos de um país estaria


equilibrado? Vamos... Pense... Pense na sua conta particular... Quando é
que ela se equilibra? Quando o valor total de seus gastos corresponde ao
valor da sua renda disponível. Nessas circunstâncias, ao final do mês o
saldo da sua conta corrente seria exatamente igual a zero... Concorda?
Pensando em termos contábeis, essa seria a situação ideal! Esse mesmo
raciocínio se aplica ao Balanço de Pagamentos: ele estará em equilíbrio
quando o saldo total for exatamente igual a zero.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

BP= 0

Mas, na prática, isso raramente acontece. A situação comum é o Balanço de Pagamentos apresentar
superávit ou déficit, havendo, portanto, a necessidade de saída ou entrada de capital compensatório.
Se o Balanço de Pagamentos de um país apresentar superávit o país se torna credor no sistema
internacional, ou seja, ele vai emprestar recursos financeiros para países que apresentaram déficits
em seus balanços de pagamentos, de forma que esses países possam equilibrar seus respectivos
balanços de pagamentos. Observe que, os países com Balanços de Pagamentos deficitários se
tornaram devedores (ou aumentaram suas dívidas). Analogamente, quando o Balanço de
Pagamentos de um país apresenta-se deficitário, esse país deverá contrair uma dívida no exterior, de
valor exatamente igual ao déficit do Balanço de Pagamentos, para atingir o seu equilíbrio. Esse país,
portanto, se tornará devedor no sistema internacional.

BP + KC = 0
Ou

BP = - KC

Até o presente momento, analisamos a estrutura do Balanço de Pagamentos. Não esqueça: o


Balanço de Pagamentos de todos os países apresentam exatamente essa mesma estrutura.

Mas, além disso, é importante conhecermos o efeito das variações da taxa de câmbio sobre o saldo
do Balanço de Pagamentos e também sobre os níveis de preços internos. Esse será o tema do
nosso próximo tópico.

1.3. A taxa de câmbio, o balanço de pagamentos e os preços internos

No comércio internacional, assim como em toda transação comercial, há um fluxo monetário e um


fluxo real. O fluxo real diz respeito à transferência de bens e serviços do país exportador ao país
importador, enquanto o fluxo monetário diz respeito à transferência de moeda do país importador para
o país exportador. O esquema a seguir referente ajudará você a compreender e fixar essa ideia...
Observe que o país A (importador) recebe bens e serviços – fluxo real – do país B (exportador) e
esse, por sua vez, recebe em dinheiro – fluxo monetário - o valor correspondente aos bens e serviços
transferidos ao país A.

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FLUXO MONETÁRIO

País exportador de País importador de


bens e serviços bens e serviços
(B) (A)

FLUXO REAL

Fonte: Elaboração própria.

É preciso considerar que cada país tem sua própria unidade


monetária. No Brasil, nossa moeda é o Real; nos Estados Unidos, o
dólar americano; na China, o Yan; no Japão, o Yene; na União
Européia, o Euro; dentre outras. Dada a existência de uma
infinidade de moedas nacionais, o dólar foi eleito a moeda
(Fonte : Disponível em: >
internacional. Sendo assim, no sistema internacional o dólar é o ativo http://www.asfarn.com.br/novo/area
restrita/upload/mundo%20e%20din
mais líquido. heiro.jpg > Acesso em : 22/12/09.

Por liquidez entendemos a capacidade de um ativo em se transformar em outro ativo ou a sua


aceitação nas transações comerciais. Os ativos podem ser financeiros, como as moedas nacionais,
as ações e os títulos públicos, mas podem ser não-financeiros, como um lote, um carro, um
apartamento ou uma casa. Os ativos financeiros são os mais líquidos... A moeda nacional é o ativo
mais líquido dentro dos limites territoriais de um país, justamente pelo fato de ser aceita em qualquer
transação econômica doméstica. Significa dizer que a moeda é facilmente convertida em outras
moedas e/ou em outros bens e serviços; os ativos não-financeiros apresentam menor liquidez, ou
seja, são mais difíceis de serem aceitos nas transações econômicas, são mais difíceis de serem
convertidos em moeda.

Nas transações comerciais internacionais, todos os preços são convertidos em dólares americanos.
Essa conversão é feita através da taxa de câmbio. Você sabe como acontece esse processo? A
seguir vamos conversar sobre como acontece essa conversão. Fique atento!

A taxa de câmbio nominal é o preço de uma moeda em relação à outra. Mais precisamente, é o preço
de uma unidade da moeda estrangeira em moeda nacional. Por exemplo, no dia 14/12/2009 a
cotação do fechamento do dólar americano foi de R$1,7475 para compra e R$1,7483 para venda 3. No

3
(Fonte: Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/batch/taxas.asp?id=txdolar&id=txdolar> Acesso em:
14/12/2009).
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ia primeiro de Dezembro desse mesmo ano, essas cotações foram de R$1,7285 e de R$1,7293,
respectivamente.

Observe que esses valores não são fixos... Mas poderiam ser... Sabe por
quê? Porque dependem do regime cambial.

Existem três regimes cambiais: Câmbio Fixo, Câmbio Flutuante e Câmbio Administrado. No
Câmbio Fixo o BACEN define uma relação de troca entre a moeda nacional e a estrangeira, ou seja,
define e fixa a taxa de câmbio. Atualmente nenhum país adota esse regime. Nesse caso, a taxa de
câmbio é determinada pela Lei da Oferta e Procura... Aquela que estudamos na Unidade I... Você se
lembra? Por via das dúvidas, vamos recordá-la...

A Lei da Oferta e Procura estabelece uma relação entre o preço de


determinado bem ou serviço e as quantidades ofertadas e demandadas
desse mesmo bem ou serviço. De acordo com essa lei, quanto maior o
preço maior a quantidade ofertada e menor a quantidade demandada e
quanto menor o preço de determinado bem ou serviço, menor a quantidade
ofertada e maior a quantidade demandada de determinado bem ou serviço.

Esse raciocínio se aplica, então, à taxa de câmbio. Mas, nesse caso, temos que considerar a
demanda e a oferta de moeda estrangeira na economia doméstica. Sendo assim, para uma dada
procura, quanto maior as reservas cambiais (pense no eixo da oferta... oferta de dólares na economia
doméstica), menor o valor da taxa de câmbio. Observe a Figura 1 a seguir.

FIGURA 1: O IMPACTO DO AUMENTO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS SOBRE A TAXA DE


CÂMBIO

Ө
dólar
Equilíbrio inicial MS
No Mercado de
Moeda dólar
MS

Excesso de Moeda

1,75

1,55 Equilíbrio final no mercado de


moeda estrangeira

dólar
MD

M1 M2
(Fonte: Elaboração própria.)

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Quando a oferta de dólares na economia brasileira aumenta (deslocamento da curva de oferta de


dólares para baixo e para a direita), cria-se, à taxa de câmbio inicial (R$1,75), um excesso de moeda
estrangeira, o que acaba forçando uma redução dessa taxa (R$1,55). Quando ocorre uma redução
da taxa de câmbio, diz-se que houve uma valorização cambial... Cuidado!!! Muito cuidado para não se
confundir... Vou repetir:

Uma queda da taxa de câmbio é o mesmo que uma valorização cambial.


Sabe por quê? Porque com uma menor quantidade de moeda nacional
adquirimos uma mesma quantidade de moeda estrangeira... A moeda
estrangeira se tornou mais barata na economia doméstica. Em outras
palavras, houve uma valorização da moeda nacional.

Analogamente, quanto menor as reservas cambiais, maior o valor da taxa de câmbio. Para melhor
entendimento da questão, observe a FIGURA 2.

FIGURA 2: O IMPACTO DO AUMENTO DAS RESERVAS INTERNACIONAIS SOBRE A TAXA DE


CÂMBIO

MS dólar 1
Ө Equilíbrio final no
Mercado de MS dólar 0
Moeda estrangeira

1,95

1,75 Equilíbrio inicial no mercado de


Moeda estrangeira

Excesso de
Demanda por
Moeda
estrangeira
MD dólar 0

Moeda Estrangeira
M2 M1

Fonte: Elaboração própria.

No caso descrito na figura acima, diz-se que houve uma desvalorização cambial, porque a moeda
estrangeira se tornou mais cara para os residentes no país. Em outras palavras, para adquirirmos
uma unidade de moeda estrangeira necessitaremos de uma maior quantidade da moeda nacional...
Então ela desvalorizou.

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O terceiro regime de taxa de câmbio é o câmbio administrado, também conhecido como regime de
‘Bandas Cambiais’, onde o BACEN permite a livre flutuação do câmbio, dentro de um intervalo pré-
estabelecido. Quando a taxa de câmbio atinge o limite mínimo ou máximo o BACEN intervém no
mercado cambial. Você deve estar se perguntando: como o BACEN realiza essa intervenção... Ora!
Comprando ou vendendo moeda estrangeira no mercado.

Dentre os três regimes cambiais, o mais praticado atualmente é o regime flutuante. Esse é o regime
cambial atualmente adotado Brasil.

As flutuações da taxa de câmbio influenciam diretamente o saldo do balanço de pagamentos, porque


influenciam o saldo da conta de transações correntes. Vamos então analisar esta questão.

Quando há uma valorização na taxa de câmbio, o valor do dólar em moeda nacional é diminuído.
Dessa forma, gasta-se menos moeda nacional para adquirir produtos produzidos no exterior, o
que significa dizer que uma valorização da taxa de câmbio estimula as importações. Por outro lado, a
valorização cambial desestimula as exportações, pois os produtos nacionais se tornam
relativamente mais caros no mercado internacional. Sendo assim, um aumento das importações e
uma redução das exportações geram um déficit na conta de transações correntes, podendo levar a
um saldo também deficitário do balanço de pagamentos.

(Fonte: Disponível em :
http://kalikalache.files.wordpress.com/2008/10/resumao-
da-semana.jpg >Acesso em: 22/12/09).

Quando há uma desvalorização do câmbio, ou seja, quando a taxa de câmbio nominal aumenta,
isso faz com que o produto nacional se torne mais barato no mercado internacional, estimulando,
portanto, as exportações. Por outro lado, as importações são reduzidas, já que os produtos externos
se tornam mais caros para nós. Em outras palavras, necessitaremos de mais Reais para

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adquirirmos a mesma quantidade de produtos estrangeiros. O saldo da conta de transações


correntes tenderá a se tornar superavitário, podendo levar a um saldo positivo do balanço de
pagamentos.

Como ficam os preços internos, nessas circunstâncias? Para responder a


essa questão vamos pensar, novamente, na valorização e na
desvalorização cambial...

Se há uma valorização cambial, as importações tendem a aumentar e, ao mesmo tempo, as


exportações tendem a diminuir. Certo? Sendo assim, há um aumento na oferta interna de produtos,
tanto nacionais quanto estrangeiros. Nesse caso, os preços internos tenderão a cair... Sabe por
quê? Vamos lá... Pense... Novamente a resposta se encontra no funcionamento das leis da oferta e
procura... Quando há um aumento da oferta, para um dado nível de demanda, os preços
tenderão a cair.

Se há uma desvalorização cambial, as importações tendem a reduzir e, ao mesmo tempo, as


exportações tendem a aumentar. Nesse caso, haverá uma redução da oferta interna, tanto de
produtos nacionais quanto de produtos estrangeiros e, por esse motivo, os preços tenderão a subir.

Com isso, finalizamos esta unidade. Aqui foram considerados diversos conceitos fundamentais
pertinentes à economia aberta, além de algumas aplicações práticas. Para incrementar ainda mais
seus conhecimentos sobre esse tema leia, atentamente, as seções Teoria na Prática e
Recapitulando.

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2. Teoria na Prática

Vamos considerar o desempenho do setor de eletroeletrônicos no Brasil ao longo do ano de 2009. De


acordo com dados apresentados pela ABINEE, no primeiro semestre de 2009, o faturamento do setor
eletroeletrônico sofreu uma retração de 13% em relação a igual período de 2008 e essa queda no
faturamento tem suas razões determinadas pela crise econômica mundial que se iniciou no final do
ano passado.

De todas as áreas desse setor, todas elas apresentaram queda de faturamento nesse período com
exceção do setor de informática que apresentou um crescimento de 2% relação ao primeiro semestre
de 2009.

A questão a ser pensada aqui é porque o setor de informática apresentou um comportamento distinto
dos demais produtos que compõem o setor de eletroeletrônicos?

Para entendermos essa questão, devemos ter em mente que, em média, 93% dos componentes de
um computador estão vinculados ao comportamento da moeda americana, ou seja, como cerca de
93% dos preços desses componentes sofrem alterações decorrentes de alterações cambiais e se
considerarmos que ao longo de 2009 a moeda brasileira vem se valorizando diante do dólar norte-
americano, devemos concluir que essa valorização da moeda nacional permite que os componentes
sejam importados a preços menores, tornando menores os preços dos produtos produzidos com
esses componentes.

Por outro lado, a valorização da nossa moeda provoca um encarecimento de produtos que são
produzidos com insumos importados. Como exemplo dessa situação, podemos considerar o pão de
sal, produto tradicional nas nossas mesas no café da manhã. Como o insumo básico do pão de sal é
o trigo e considerando que o Brasil não tem condições de produzir trigo na quantidade desejada por
questões climáticas, o setor de panificadoras depende da importação do trigo o que vem provocando
um aumento do preço do pão de sal e, portanto, uma queda no seu consumo.

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3. Recapitulando

Nesta unidade, estudamos o modelo de uma economia aberta. Em primeiro lugar, analisamos os
impactos das importações e das exportações sobre os níveis de renda e produção internas. Vimos
que, quando as importações aumentam muito, a produção e a renda interna tendem a diminuir, pois
em vez de produzirmos internamente, estaremos consumindo produtos estrangeiros. Por outro lado,
um aumento das exportações tende a elevar a produção e a renda interna, uma vez que a produção
interna deve ser suficiente para suprir a demanda nacional e também a estrangeira pelos produtos
nacionais.

Em seguida, conceituamos ‘Balanço de Pagamentos’ e estudamos sua estrutura. Vimos que ele é
constituído por duas grandes contas: a conta de transações correntes - da qual fazem parte a balança
comercial, a balança de serviços e as transferências unilaterais - e a conta de movimentação de
capitais – da qual fazem parte a conta de movimento de capitais autônomos e a conta de movimento
de capitais compensatórios.

Em equilíbrio, o saldo do Balanço de Pagamentos deve ser igual a zero, mas na prática um Balanço
de Pagamentos raramente se equilibrando. Normalmente, o saldo do Balanço de Pagamentos é
deficitário ou superavitário, daí a existência da conta de movimento de capitais compensatórios. Se o
saldo do Balanço de Pagamentos se apresentar deficitário, o país buscará recursos no sistema
financeiro internacional para se equilibrar; por outro lado, se o saldo do Balanço de Pagamentos se
apresentar superavitário, o país se tornará credor, ou seja, emprestará recursos para países que
apresentaram déficits em seus balanços de pagamentos.

Em seguida, conceituamos taxa de câmbio e definimos os três regimes cambiais existentes, a saber:
regime de câmbio fixo, regime de câmbio flutuante e regime de bandas cambiais. Vimos que, na
atualidade, o regime de câmbio fixo se encontra em desuso, predominando o regime de câmbio
flutuante.

As flutuações das taxas de câmbio interferem no saldo do balanço de pagamentos e nos preços do
mercado interno. Uma desvalorização do câmbio estimula as exportações e desestimula as
importações. O resultado disso é um aumento dos preços internos e um saldo superavitário da conta
de transações correntes, aumentando a possibilidade de saldo superavitário do balanço de
pagamentos. Uma valorização do câmbio estimula as importações e desestimula as exportações.
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Disciplina: Economia
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Como consequência, os preços internos tenderão a cair e o saldo da conta de transações correntes
deve se tornar deficitário, aumentando a possibilidade de um saldo deficitário do balanço de
pagamentos.

Convém lembrar ainda que o comércio internacional tem assumido importância significativa para
todos os países. Através dele, os paises têm acesso a bens e serviços que não conseguem produzir
internamente ou que seriam produzidos a um custo muito elevado.

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Unidade 4: Economia Brasileira

1. Conteúdo Didático

Através dos conteúdos estudados nas Unidades I, II e III, aprendemos alguns conceitos fundamentais
das Ciências Econômicas. Com essas informações, torna-se possível melhor compreender o
processo de desenvolvimento da economia brasileira. Tomaremos, como ponto de partida, a década
de 50, mais precisamente o governo JK, pois, apenas a partir daquele momento, o Brasil passa a ser
considerado um país industrializado e urbano.

Antes desse período, predominava uma economia voltada para a atividade agrário-exportadora, com
predomínio da cultura de café. Nos anos 50, o país se industrializa e atualmente se encontra entre as
principais economias mundiais. Segundo o Banco Mundial, a economia brasileira era, em 2008, a
oitava economia do mundo, estando atrás apenas dos EUA, Japão , China, Alemanha, França, Reino
Unido e Itália.

Nesta unidade, vamos estudar, portanto, as ações de política econômica que conduziram nosso país
a essa posição. Você já está pronto para seguir em frente? Seria interessante que você fizesse uma
revisão do conteúdo ministrado nas unidades anteriores.

Para facilitar sua compreensão, esta unidade foi dividida em duas partes. A primeira analisa a
economia brasileira entre 1950 e 1994. Como se trata de um período muito grande e heterogêneo,
julgou-se necessário subdividi-lo em 4 subunidades. Na primeira subunidade, estudaremos o governo
JK e o Plano de Metas; na segunda, a economia brasileira entre 1961 e 1963, por se tratar de um
período de grande instabilidade política, que resulta no golpe militar, em 1964; na terceira, os planos
econômicos do governo militar e, na quarta, a economia brasileira dos anos 80 até 1994, antes da
implantação do Plano Real.

A segunda parte desta unidade analisa a economia brasileira a partir da implantação do Plano Real,
ao momento atual.

1.1. O período 1950-1994

Neste tópico, vamos analisar o Plano de Metas, o plano econômico implementado por JK; o período
política e economicamente conturbado dos governos Jânio Quadros e João Goulart, que culmina com
o golpe militar em 1964; as principais características e resultados dos planos econômicos
implementados nos governos militares de Castello Branco, Costa e Silva, Geisel e Figueiredo; e a

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condução da política econômica desde a redemocratização até o período imediatamente anterior ao


Plano Real, ainda em vigor. Como se pode notar, temos muito trabalho pela frente. Então, vamos lá!

1.1.1. A política econômica do governo JK e o saldo do Plano de Metas

Juscelino Kubitscheck, nascido em Diamantina, Minas Gerais, foi prefeito de


Belo Horizonte e Governador do Estado de Minas Gerais antes de assumir a
presidência da República. Em 1955, foi eleito presidente pelo Partido Social
Democrata (PSD)

Seu governo foi marcado pelo lema “50 anos em 5”.

Fonte: Disponível em :
http://soaress.files.wordpress.com/2007/1
0/juscelino.jpg > Acesso em 02/02/2010

Você já ouviu essa frase?


Imagino que sim... Mas você sabe o seu significado?

Ela traduz a principal meta de Juscelino Kubitscheck: promover 50 anos de desenvolvimento, em


apenas 5 anos de governo. Para alcançar essa meta, JK incentivou o crescimento industrial. Para
isso, implantou o “Plano de Metas”, que se baseava no processo de industrialização via substituição
de importações, facilitando as importações de bens de capital e dificultando as importações de bens
de consumo.

Você deve estar pensando:


• Como ele fez isso?
• Que mecanismos usou?
• Que políticas econômicas adotou?

A política cambial foi a principal política econômica do Plano de Metas. Naquele período, o governo
adotou um sistema de taxas múltiplas de câmbio:

• Taxas de câmbio desvalorizadas para dificultar as importações de produtos


selecionados, principalmente de bens de consumo, com o objetivo de estimular a produção
interna para suprir a demanda da população por tais produtos. Ao mesmo tempo, as taxas de
câmbio desvalorizadas estimulavam a exportação de alguns produtos, principalmente de produtos
primários como o café.

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É importante ter em mente que essa política não tinha as exportações como
meta central, por outro lado não podemos esquecer que a renda gerada
pelas exportações era fundamental para financiar as importações de bens
de capital e, portanto, o crescimento econômico interno, principalmente o
industrial, nos moldes traçados pelo governo JK.

• Taxas de câmbio valorizadas para estimular as importações de máquinas e


equipamentos.

4
A entrada de bens de capital foi também incentivada pela Instrução 113 da SUMOC , a qual
possibilitava investimentos estrangeiros no país, sem cobertura cambial.

No Plano de Metas, foi definido o setor de energia e transportes como área prioritária de investimento,
para o qual deveriam ser destinados 71% do total dos investimentos; a indústria de base, que deveria
receber 23% e o setor de educação e alimentação, para o qual foram destinados 6% dos
investimentos totais realizados pelo governo. Além disso, estava também definida como prioritária a
construção da nova Capital Federal.

GRÁFICO 1: Plano de Metas –


(%) Investimentos previstos, segundo os setores prioritários

Para a realização dos investimentos, estava prevista a participação do setor público (50%), do setor
privado (35%) e de agências internacionais, como, por exemplo, o Banco Mundial (15%).

Na prática, foi dado um tratamento preferencial para a iniciativa privada, especialmente para o capital
estrangeiro. A ele foi permitida a importação de máquinas e equipamentos obsoletos - como se
fossem novos – das matrizes, pelas filiais aqui instaladas. Ao capital privado – nacional e estrangeiro
– foram dados incentivos à importação de bens de capital não apenas através da política cambial já
4
SUMOC: Superintendência da Moeda e do Crédito, criada em 1945, em cumprimento às exigências do FMI e do Banco
Mundial. Sua finalidade era controlar a política monetária brasileira, o que envolvia, inclusive, o controle sobre a emissão de
moeda.

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mencionada, como também através da concessão de créditos subsidiados, da expansão dos meios
de pagamentos e concessão de aval para a obtenção de empréstimos no exterior.

Naquele período, o setor público ampliou significativamente sua participação na formação bruta de
capital fixo, tendo financiado seus gastos através de emissão monetária e de endividamento externo,
basicamente. Foi observada, ainda, uma ampliação do capital estrangeiro na economia brasileira.

Como resultado do Plano de Metas, o PIB


brasileiro apresentou crescimento médio
anual de 8%, entre 1956 e 1960, uma
elevação da renda per capita de 5,1% ao
ano e uma inflação média de 24% ao ano,
enquanto a inflação média prevista era de
13% ao ano.

Sem dúvida, verificou-se, no período, uma expressiva ampliação e modernização da estrutura


produtiva brasileira. Foi naquele período que se instalaram as primeiras indústrias automobilísticas
no país, assim como a indústria de construção naval, de material elétrico e de máquinas e
equipamentos. Naquele mesmo período, as indústrias de base – siderurgia, metais não-ferrosos
(alumínio, cobre e chumbo), química pesada, petróleo, papel e celulose – se expandiram
significativamente. O período marca, ainda, o controle do Estado sobre a produção de aço, produção
e refino de petróleo, produção e exportação de minério de ferro, produção de soda cáustica, energia
elétrica, transporte (rodoviário, ferroviário e de navegação de cabotagem) e comunicação.

A questão é que o PIB não apenas cresceu a taxas significativamente elevadas como se verificou
uma mudança em sua composição interna. Note, na tabela 1, que a agropecuária e, em menor
proporção, o setor de serviços perderam importância relativa, compensada pelo crescimento do setor
industrial, notadamente pela indústria da transformação.

Tabela 1: Brasil – Composição Relativa do PIB (1950 – 1960)


Setor Produtivo 1950 1955 1960
Agropecuária 24,26 23,47 17,76
Indústria 24,15 25,64 32,24
Serviços 51,59 50,89 50,01
Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: ipeadata.gov.br (acesso em 22/02/2010).

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Como principais pontos negativos, podem-se apontar:


• Acentuação dos desequilíbrios estruturais, dado o diferencial
de crescimento entre os vários setores produtivos;
• Acentuação dos desequilíbrios regionais, dada a
concentração do crescimento econômico das regiões Sudeste e Sul,
respectivamente;
• Agravamento da desigualdade na distribuição da renda;
aumento da inflação, acima das previsões realizadas;
• Endividamento do setor público; e
• Déficits crescentes no Balanço de Pagamentos.

1.1.2. A economia brasileira no período 1961-1963

Em Janeiro de 1961, assume a Presidência da República o Sr. Jânio


Quadros, que tinha como vice João Goulart. Como vimos anteriormente,
Jânio Quadros herda de JK uma economia inflacionária, com déficit fiscal
(dívida interna) e com o balanço de pagamentos deteriorado (dívida
externa). Buscando-se estabilizar a economia brasileira e recuperar o

Fonte: Disponível em:


crédito externo, o governo implantou um novo plano econômico.
http://aquemseatreve.file
s.wordpress.com/2009/0
3/janio1.jpg >Acesso em:
03/02/2010.

Tal plano era constituído por um conjunto de medidas ortodoxas:


• Em relação à política cambial, verificou-se uma unificação cambial - em substituição
às taxas múltiplas do Plano de Metas - para balizar as negociações internacionais. Além disso, o
novo plano se baseava na desvalorização do câmbio, buscando-se inibir as importações de
quaisquer bens e serviços e estimular as exportações brasileiras.
• Em relação à política fiscal e monetária, pode-se dizer que ambas apresentavam
caráter restritivo. Verificou-se uma contenção dos gastos públicos, um controle sobre a emissão
de moeda, uma redução da moeda em circulação e uma política creditícia restritiva.
• Em relação ao crescimento econômico, pode-se dizer que esse deveria ocorrer em
decorrência dos investimentos estrangeiros no país.

Tais políticas econômicas foram bem recebidas pelos credores internacionais e especialmente pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), o que tornou possível a renegociação da dívida externa, bem
como a aquisição de novos empréstimos.

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Por questões políticas, Jânio Quadros renunciou em


25 de agosto de 1961, assumindo o cargo o seu
vice, João Goulart (Jango).

Jango era filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), um partido de


esquerda, e sua posse só se tornou possível mediante acordo político que
resultou na mudança de sistema de governo de Presidencialismo para
Parlamentarismo, com Tancredo Neves como primeiro-ministro.

Entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, o Parlamentarismo era, então, o

Fonte: Disponível em: <


sistema de governo vigente no país. Em Janeiro de 1963, foi realizado um
http://www.revistabula.co plebiscito e o país voltou a ter o Presidencialismo como sistema de governo.
m/arquivos/posts/images/
272/JoaoGoulart.jpg>
Acesso: 03/02/2010
Entre 1961 e 1963, a instabilidade política teve sérias repercussões na economia brasileira. Pode-se
mencionar, dentre as mais graves,: a deterioração do Balanço de Pagamentos, devido à queda
significativa das exportações; perda de controle das contas do governo; elevada expansão da base
monetária; redução no ritmo de crescimento e aumento da inflação.

Apenas no final de 1962 o governo implantou o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e


Social, elaborado por Celso Furtado, um economista ligado à Comissão Econômica para o
Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CEPAL).

O Plano Trienal tinha como objetivos principais:


• Alcançar uma taxa de crescimento de 5,2% ao ano, através da continuidade do
processo de Substituição de Importações, iniciado por JK;
• Reduzir a inflação de 25% em 1963 para 10% em 1965;
• Promover um aumento do salário real da classe trabalhadora;
• Realizar uma reforma agrária, buscando-se resolver a crise social;
• Renegociar a dívida externa.

Para alcançar tais metas, o Plano Trienal trazia um novo pacote de políticas ortodoxas como controle
de gastos públicos, visando à redução do déficit público e também o controle da inflação,
diagnosticada como demanda resultante dos excessivos gastos realizados por governos anteriores.
Ainda visando ao controle das taxas inflacionárias, o Plano se baseava, também, em uma política
restritiva de crédito ao setor privado.

De modo geral, pode-se dizer que o plano foi um fracasso! O governo brasileiro teve sérias
dificuldades para renegociar a dívida e obter novos empréstimos junto aos credores internacionais,
devido à resistência dos EUA em relação ao governo Jango e à instabilidade política que se instalara
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no país, naquele período. Por esses mesmos motivos, os investimentos estrangeiros diminuíram
significativamente no período, implicando na redução da taxa de crescimento do PIB de 6,6%, em
1962, para 0,6%, em 1963.

Contrariamente ao que havia sido previsto, a inflação brasileira aumentou


atingindo, em 1963, o patamar de 80%, sendo a maior causa deste aumento
a rápida expansão da oferta de moeda que se verificou no país, naquele
período. As contas públicas permaneceram descontroladas, sendo o
aumento dos vencimentos do setor público – de 60% - e do salário mínimo –
de 56% - os maiores responsáveis pelo aumento da dívida interna.

O Balanço de Pagamentos (BP) permaneceu deteriorado, apesar do aumento das exportações


brasileiras no período. Como estudamos na Unidade 3, o saldo do BP é dado pelo saldo de suas
duas contas... Então, naquele período, o déficit do BP se explica pela redução da entrada de capital
estrangeiro no país, em resposta à instabilidade política e também à política que restringia a remessa
de lucros a 10% sobre o capital registrado.

O fracasso do Plano Trienal agravou ainda mais a instabilidade política que se instalara no país
desde o governo Jânio Quadros. Nesse contexto, o capital privado se aliou às forças armadas e
financiou o golpe militar, em 1964.

Nesse primeiro item, analisamos o comportamento da economia brasileira do governo JK até o


período imediatamente anterior ao golpe militar. Como se pode notar, durante o governo JK, a
economia brasileira se modernizou... Industrializou-se. Como resultado, verificou-se uma significativa
mudança na composição relativa do PIB, passando a indústria (principalmente a indústria da
transformação) a responder por uma maior parcela do PIB brasileiro.

Por outro lado, Jânio Quadros herda de JK uma economia pouco saudável. Por motivos políticos, não
conseguiu conduzir o país até o final do seu mandato e renunciou ao governo brasileiro sete meses
após assumir o cargo. Após a renúncia de Jânio Quadros, João Goulart, aliado a um partido de
esquerda, assume a Presidência da República. Também por motivos políticos, foi obrigado a deixar o
cargo, com o golpe militar, em 1964.

No tópico seguinte, vamos analisar o comportamento da economia brasileira durante todo o período
militar. Vamos conhecer as características principais de cada plano econômico e também os seus
principais resultados.

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1.1.3. Os planos econômicos do governo militar:

O período militar no Brasil durou 20 anos, de 1964 a 1984. Em 1985 teve início o processo de
redemocratização. No plano econômico, esse período foi marcado pela implantação de vários planos
econômicos, basicamente para estimular o crescimento da economia brasileira. Planos de
estabilização monetária só se verificaram a partir de 1986, já no período de redemocratização. É
sobre isso que conversaremos agora.

O primeiro presidente militar foi Castelo Branco (1964-1967), que utilizou os


Atos Institucionais como instrumentos de governo e, principalmente, de
repressão. Através dos AI’s, o governo suspendeu os direitos políticos dos
opositores ao regime militar; implantou a eleição indireta para a Presidência
da República e, posteriormente, para Governador, Vice-Governador e
Prefeito das Capitais; instituiu o bi-partidarismo com a existência da ARENA
e do MDB; fechou associações, proibiu greves, interviu nos sindicatos; criou
o Sistema Nacional de Informações (SNI); extinguiu as ligas camponesas,

Fonte: Disponível em: < as centrais de trabalhadores, a União Nacional e Estadual dos Estudantes
http://2.bp.blogspot.com/_
SGgyDp8-
(UNI e UEE, respectivamente); e fechou universidades.
vMQ/SHuBDMik07I/AAAA
AAAAABE/swCkXLD775k/
S660/castelo.jpg> Acesso
em: 03/02/210
No plano econômico, o governo formulou e executou o Programa de Ação Econômica do Governo
(PAEG), com o objetivo acelerar o ritmo de crescimento, controlar a inflação, controlar os déficits no
Balanço de Pagamentos e criar empregos para uma população economicamente ativa cada vez mais
numerosa. Para tanto, foram implementadas políticas monetárias e fiscais restritivas, uma política
cambial que visava à desvalorização do câmbio para estimular as exportações, e uma política
tributária expansionista, aumentando a carga tributária brasileira de 16% do PIB em 1963 para 21%
em 1967.

Nesse sentido, foram criados alguns impostos, como o ISS (imposto sobre serviços), ISOF (imposto
sobre operações financeiras), ISTC (imposto sobre serviços de transporte e comunicações), IUM
(imposto único sobre minerais); alguns foram mantidos, como o IPTR (imposto sobre a propriedade
territorial rural), o IR (imposto de renda), e o ITBI (imposto sobre a transferência de bens imobiliários);
e outros foram modificados (o imposto de vendas e consignações foi transformado em ICM e o
imposto de consumo em IPI).

É importante ressaltar que alguns impostos - como o imposto sobre indústria


e profissão, imposto do selo, imposto de licença e o imposto sobre
diversões públicas - foram extintos.

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Esse governo criou o fundo de participação dos municípios,


centralizando nas mãos da União as decisões sobre as
aplicações dos recursos estaduais e municipais.

Outra importante ação realizada no período foi a reforma bancária, com a criação do Banco Central
Brasileiro, em dezembro de 1964. O BACEN, a autoridade monetária do país, passou a realizar
operações de redesconto, de compulsório e de open market, controlando, portanto, os instrumentos
de política monetária e influenciando a taxa de juros.

Como política creditícia, o governo buscou expandir e facilitar a concessão de crédito, principalmente
através da criação do fundo de democratização do capital das empresas (FUNDECE), do fundo de
financiamento para aquisição de màquinas e equipamentos industriais (FINAME), do fundo de
financiamento de estudos de projetos e programas (FINEP) e da Coordenação Nacional de Crédito
Rural (CNCR).

Como principais resultados do PAEG, temos:

• A redução do déficit governamental de 4,2% do PIB, em 1964, para 1,1%, em 1966


ressaltando-se que o déficit público passou a ser financiado através de endividamento interno.
• Aumento dos impostos diretos e indiretos.
• Perda do controle sobre o ritmo do crescimento econômico, devido à adoção de
políticas monetárias e creditícias vinculadas ao controle inflacionário (políticas que ficaram
conhecidas como ‘stop and go’).
• Sucesso em relação ao controle inflacionário, com uma queda da taxa de inflação de
92% em 1964 para 39% em 1966.

• Redução das importações e aumento das exportações, melhorando a situação do BP.


• Concentração regional e pessoal da renda e riqueza.

No período 1967-1969, o Brasil foi governado por Costa e Silva. Ele extinguiu, através da
Constituição Federal de 1967, os 4 Atos Institucionais instituídos por Castelo Branco e implementou o
AI-5, através do qual fechou o parlamento, cassou políticos opositores ao regime militar e
institucionalizou a repressão no país.

No plano econômico, foi implantado, em 1968, o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED) que
tinha como objetivos a estabilizar o nível de preços, fortalecer o setor privado, consolidar a
infraestrutura, ampliar o mercado interno e aumentar as exportações.

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Nesse período, o governo obteve sucesso no controle da inflação - de 39%


em 1966 para 25,5% em 1968 e para menos de 20% em 1969 - através do
controle dos custos de produção e da elevação da produção agrícola.

É importante enfatizar que o sucesso não se restringiu ao controle


inflacionário... Iniciava-se o “Milagre Econômico” ou “Milagre Brasileiro”.

Através da política cambial, o governo promoveu minidesvalorizações cambiais, estimulando cada


vez mais as exportações e desestimulando, paulatinamente, as importações. A política monetária
expansionista fazia com que as taxas de juros internas permanecessem em baixos patamares,
favorecendo os investimentos – nacionais e estrangeiros, lembrando-se que os militares não
permitiam a atuação do capital estrangeiro em setores considerados estratégicos – nos setores
produtivos, principalmente no setor industrial. A política creditícia expansionista, com facilidades de
crédito para o consumidor, ampliava o mercado interno. E, como política fiscal, o governo priorizou
investimentos através das empresas estatais, contribuindo, inclusive, para a geração de inúmeros
novos postos de trabalho.

Entre 1968 e 1969, a economia brasileira apresentou desempenho simplesmente espetacular! O PIB
cresceu 9,8% , em 1968, e 9,5%, em 1969, graças, principalmente, ao desempenho do setor
industrial (Tabela 2).

Tabela 2: Brasil – Taxas de Crescimento do PIB Setorial e Total (1968-1969)


Ano PIB Industrial PIB agricultura PIB serviços PIB Total
1968 14,2 1,4 9,9 9,8
1969 11,2 6,0 9,5 9,5
Fonte: GREMAUD, VASCONCELLOS e JÚNIOR (2009).

As exportações atingiram a taxa de 22,9% do PIB e seu bom desempenho, associado à redução das
importações, resultou em um aumento do saldo da balança comercial de US$26 para US$ 318
milhões. Esses resultados indicam aumento da capacidade de pagamento da dívida externa e,
portanto, da recuperação do crédito brasileiro no sistema financeiro internacional.

Entende agora o termo “Milagre Econômico”? Mas, lembre: estamos


apenas no início desse processo... O melhor ainda está por vir...

Por motivos de saúde, Costa e Silva foi afastado da Presidência da


República em agosto de 1969, vindo a falecer em Dezembro daquele
mesmo ano. Foi substituído por uma Junta Militar e, posteriormente, por
Emílio Garrastazu Médici.
Fonte: Disponível em:< http://www.passado.com.br/ntc/fotos/emilio-medici.jpg> Acesso:
03/02/2010.

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Médici governou o país de Outubro de 1969 a Março de 1974. Foi o período mais duro – o período
negro – da ditadura militar, quando as perseguições políticas e a prática de tortura contra presos
políticos se tornaram constantes.

No plano econômico, foi instituído o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), buscando-se a


sustentabilidade da expansão econômica observada no período 1967-1969. O I PND, elaborado por
Delfim Neto, era constituído por um conjunto de políticas econômicas heterodoxas: o governo
continuou - ele mesmo - realizando investimentos nos setores produtivos, considerados estratégicos,
criando emprego e gerando renda; manteve uma política creditícia expansionista, buscando aumentar
o mercado interno; estimulou a indústria da construção civil, facilitando a aquisição da casa própria;
promoveu a modernização do setor agrícola, visando o aumento da produtividade da terra; estimulou
investimentos em capital fixo, buscando-se a ampliação da capacidade produtiva brasileira; manteve
as minidesvalorizações cambiais para estimular as exportações e reduzir, paulatinamente as
importações, pelo menos dos bens de consumo duráveis.

Os resultados dessas medidas foram simplesmente fantásticos!


Como se pode notar na Tabela 3, a economia brasileira
cresceu como nunca havia crescido... Um verdadeiro Milagre!!!
O setor industrial, sem dúvida, foi, durante todo o período, o
grande responsável por tal desempenho... Lembrando que,
durante todo o período, a inflação se manteve sob controle,
com o governo segurando os custos de produção, por entendê-
la uma inflação de custos. A inflação, que estava em torno de
25% em 1968, encontrava-se em torno de 15%, em 1973.

Cartaz impresso e distribuído pelo Serviço Social da Indústria (SESI) para a Semana da Pátria, em setembro de
1974, durante o governo Médici. Fonte: Disponível em: < http://histoblogsu.blogspot.com/2009/08/brasil-o-
economico.html> Acessado em: 03/02/2010.

TABELA 3: Brasil – Taxas de Crescimento do PIB Setorial e Total (1970-1973)


Ano PIB Industrial PIB agricultura PIB serviços PIB Total
1970 11,9 5,6 10,5 10,4
1971 11,9 10,2 11,5 11,3
1972 14,0 4,0 12,1 12,1
1973 16,6 0,0 13,4 14,0
Fonte: GREMAUD, VASCONCELLOS e JÚNIOR (2009)

Mas, nem tudo são flores... Se por um lado as exportações brasileiras aumentaram
significativamente – devido à expansão do comércio internacional e à melhoria dos termos de troca –
por outro lado, a balança comercial apresentou déficits elevados em 1971 e em 1972, porque as

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importações aumentaram, mesmo com as minidesvalorizações cambiais. Trata-se das importações


de bens de capital e de bens, necessárias para elevar a capacidade produtiva do país, e de bens
intermediários, como insumos básicos, petróleo, trigo, dentre outros.

Tabela 4: Brasil – Balança Comercial e Transações Correntes (1970-1973)


Ano Exportação Importação Balança comercial Transações
correntes
1970 2.739 2.507 232 -562
1971 2.904 3.245 -341 -1.037
1972 3.991 4.235 -244 -1.489
1973 6.199 6.192 7 -1.688
Fonte: GREMAUD, VASCONCELLOS e JÚNIOR (2009).

Deve-se lembrar ainda que na conta Transações Correntes está computado o pagamento dos juros
da dívida externa, a qual aumentou significativamente ao longo do período. Como se pode verificar na
TABELA 5, a dívida externa brasileira aumentou de 5.295 bilhões de dólares para 12.571 bilhões de
dólares, em apenas 4 anos.

Tabela 5: Brasil – Dívida Externa e Variações de Reserva (1970-1973)

Ano Conta capital Variação das reservas Dívida externa


(em milhões
US$)
1970 1.015,00 378 5.295,2
1971 1.846,00 483 6.621,6
1972 3.492,00 2.369 9.521,0
1973 3.512,1 2.145 12.571,5
Fonte: GREMAUD, VASCONCELLOS e JÚNIOR (2009).

Em 1974, já sob o governo Geisel, foi implantado o II Plano Nacional de


Desenvolvimento (II PND), objetivando o prolongamento do período do
Milagre Brasileiro. Na realidade, o II PND veio para fortalecer a indústria de
base, para sustentar o crescimento que era baseado no setor de bens de
consumo duráveis. Através deste plano o governo incentiva a indústria
siderúrgica, química pesada, de metais não-ferrosos e de minerais não-
metálicos. Além desses setores, também recebem atenção especial do
governo, no II PND, o setor petrolífero (exploração e produção), de energia
Fonte: Disponível em:<
http://bahiapress.com.br/
hidrelétrica e energia alternativa (como a produção de álcool). O governo
wordpress/wp- realizou investimentos, ainda, no setor de infra-estrutura (ampliação e
content/uploads/2009/05/
geisel.jpg> Acesso em:
04/02/2010.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

abertura de rodovias; malha ferroviária, telecomunicações) para viabilizar


tanto a produção quanto a comercialização do setor agrícola.

As ações do setor público foram financiadas basicamente através de recursos orçamentários e,


principalmente, por endividamento externo. Os investimentos privados realizados no período seriam
financiados por recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE).
Infelizmente, os resultados do II PND foram comprometidos por uma conjuntura externa desfavorável:
em 1973 os preços do petróleo se elevaram significativamente no mercado internacional, gerando
grande instabilidade econômica e financeira no sistema internacional. As taxas de juros internacionais
subiram, assim como a inflação mundial. O resultado disso foi o aumento simplesmente assustador
da dívida externa brasileira, ao longo desse período (Tabela 6).

Tabela 6: Brasil – Dívida Externa (1974-1979)


Ano Inflação Dívida externa (em
milhões US$)
1974 34,5 17.165
1975 29,4 21.171
1976 46,3 25.985
1977 38,6 32.037
1978 40,5 43.510
1979 77,2 49.904
Fonte: GREMAUD, VASCONCELLOS e JÚNIOR (2009).

É imprescindível ressaltar que a taxa de crescimento econômico médio


anual de 6,7% ao ano, apesar de inferior àquelas verificadas ao longo do
milagre econômico, ainda era considerada elevada refletindo, portanto, o
bom desempenho da economia brasileira naquele cenário de crise
internacional.

A inflação volta a subir...


Ela, que se encontrava no patamar dos 15%, em 1973,
chega a 77,2%, em 1979... O governo começava a perder o
controle sobre o nível de preços.

Apesar do contexto em que assume a presidência da República em 1979,


Figueiredo esperava concluir com êxito o projeto “Brasil - Potência”, com a
implantação do III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND), que tinha
como características fundamentais aquelas mesmas dos dois planos de
desenvolvimento anteriores. No entanto, o sucesso do III PND dependia de

Unidade de Educação a Distância | Newton 88 | P áFonte:


g i n aDisponível em: <
http://pstucatalao.zip.net
/images/presidente-
figueiredo.jpg> Acesso
em 04/02/2010
Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

medidas econômicas voltadas para o controle inflacionário. Significa dizer


que as políticas antiinflacionárias ocuparam papel principal na condução
das políticas econômicas.

Dentre as principais medidas para controle da inflação, podem-se mencionar o controle das taxas de
juros; a expansão do crédito para agricultura, para conter os preços dos alimentos via aumento da
oferta; saneamento econômico-financeiro das empresas estatais endividadas através da aceleração
dos reajustes dos preços públicos e do controle dos gastos das empresas estatais; pré-fixação da
correção monetária e cambial – em 50% e 45%, respectivamente – para o ano de 1980;
estabelecimento da semestralidade para os reajustes salariais, como medida de controle de custos.

Fonte: Disponível em:


http://3.bp.blogspot.com/_PaeGFK5b1uQ/SEI
s4kxsT5I/AAAAAAAAMzU/98TEkHRlivs/s400
/charge_grd_1265.jpg> Acesso em:
04/02/2010.

Em 1979, a economia brasileira cresceu a uma taxa de 7,2% e, em 1980, a uma taxa de 9,1%, ambas
refletindo medidas adotadas no II PND. Mas, a partir de 1981 há uma reversão nas taxas de
crescimento... Elas diminuíram e só apresentaram alguma recuperação a partir de 1984, refletindo a
recuperação da economia mundial após os dois choques do petróleo.

A inflação dispara
Ela alcança 93% em 1980, dispara, atingindo o patamar de
223,9%, em 1984.
Uma verdadeira crise econômica, após um Milagre...

Durante o período militar, a economia brasileira apresentou as maiores taxas de crescimento de toda
a sua história e, por esse motivo, muitos indivíduos – hoje idosos – sentem saudades e falam tão bem
daquele período. No entanto, é preciso ressaltar que os custos sociais daquele crescimento foram
enormes para a sociedade brasileira. Os esforços militares, financiados principalmente por
endividamento externo, levaram a economia brasileira a uma de suas principais crises: a crise dos
anos 80... A década perdida. Esse será o tema de nosso próximo tópico.

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1.1.4. A economia brasileira dos anos 80: a década perdida

Durante o governo Figueiredo, ocorreu o processo de


redemocratização da sociedade brasileira e, em 1984, através de
eleições indiretas foi eleito o primeiro presidente civil, Tancredo
Neves, após 20 anos de ditadura militar. Em virtude de sua doença o
vice-presidente eleito, José Sarney, é empossado presidente em 15

Fonte: Disponível em: < de março de 1985. Com o falecimento de Tancredo, em 21 de Abril
http://cosmo.uol.com.br/noticia/4143
9/2009-11-15/ha-20-anos-os-
daquele ano, Sarney permanece no cargo, cumprindo todo o
brasileiros-retornavam-as- mandato.
urnas.html> Acesso em 04/02/2010.

No plano econômico, os primeiros meses do governo Sarney foram marcados por verdadeiro
imobilismo. Francisco Dornelles, liderando o Ministério da Fazenda, apresentou como proposta de
política econômica o controle do déficit público, através de cortes abruptos nos gastos
governamentais... Praticamente isso... Uma proposta muito modesta para uma economia em crise.
Naquele período, tendo em vista o cenário econômico deixado por Figueiredo, a principal meta
econômica deveria ser, sem dúvida, o controle inflacionário.

Ciente de que a inflação se tornara um problema maior do que a promoção do crescimento


econômico, José Sarney substitui Dornelles por Dílson Funaro, em 1986, e implanta o Plano
Cruzado, um plano de estabilização econômica, considerado heterodoxo por tentar conciliar políticas
de controle inflacionário com políticas de geração de renda e emprego.

Dílson Funaro percebia a inflação do período como tendo um componente inercial, em outras
palavras, admitia que a cada mês a inflação era realimentada pelas expectativas inflacionárias dos
agentes econômicos, o que altera significativamente a estrutura de preços relativos, dado que as
expectativas inflacionárias – como qualquer expectativa - são disformes. Além do componente
inercial, admitia a influência dos custos, da demanda agregada e de outros fatores sobre os níveis de
preços.

Com o Plano Cruzado o governo substituiu o Cruzeiro pelo Cruzado (CZ$ 1,00 = CR$1.000,00);
extinguiu as indexações; congelou, por tempo indeterminado, os preços dos bens e serviços, e, por
um ano, os contratos, as hipotecas e os aluguéis; criou o ‘gatilho salarial’, com reajuste de salários
sempre que a inflação alcançasse 20%; estabeleceu a livre negociação para os acordos salariais;
criou o seguro desemprego; e procurou tornar atraentes os investimentos nos setores produtivos,
desestimulando a especulação financeira.

Durante os primeiros quatro meses de governo, o Plano Cruzado apresentou bons resultados: o nível
de consumo, de investimento e de emprego aumentaram, verificando-se, inclusive, uma melhoria na
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redistribuição de renda. Passados os quatro meses iniciais, os problemas começaram a surgir: As


empresas não respeitaram o congelamento de preços; o governo não conteve seus gastos; a
estrutura de preços relativos permanecia desajustada, levando várias empresas à falência; a
poupança interna permanecia reduzida; o governo não conseguiu controlar a especulação financeira.
A população se viu diante de uma situação de escassez de alimentos e de bens de consumo duráveis
e, para supri-la o governo se viu obrigado a importar tais produtos, reduzindo as reservas
internacionais o que provoca, posteriormente, uma desvalorização cambial. Como consequência, a
inflação não diminuiu e não houve crescimento...

As características fundamentais do Plano Cruzado foram mantidas, mas ele passou por várias
alterações/adaptações, dando origem a diversos outros planos de estabilização monetária como o
Cruzado II (1986) e o Cruzado Novo (1987), ambos sem sucesso.

No final de 1987, foi lançado um novo plano de estabilização monetária, o Plano Bresser, pelo então
Ministro da Fazenda Bresser Pereira, que também teve como principal ação política o congelamento
de preços, salários e aluguéis; desvalorização cambial, com minidesvalorizações diárias. Esse plano
também não surtiu o efeito esperado, levando o então Ministro a pedir demissão do cargo, que
passou a ser ocupado pelo Ministro Maílson da Nóbrega.

O novo Ministro, em 1989, implantou o Plano Verão, o último plano econômico do governo Sarney.
O Plano Verão se baseava na contenção da demanda e dos gastos públicos, na elevação da taxa de
juros, e no congelamento dos preços. Tendo em vista a desvalorização do Cruzado, no Plano Verão
foi criada uma moeda nova, o Cruzado Novo (NCZ$1,00 = CZ$1.000,00). Naquele período, os
salários passaram a ser corrigidos abaixo da inflação, empobrecendo a classe trabalhadora; a taxa de
câmbio foi desvalorizada em 18% e, posteriormente, foi fixada (NCZ$1,00 = US$1,00).
Esse plano também não surtiu o efeito esperado. O governo não conseguiu conter os seus gastos e a
inflação se acelerou, chegando a 80% ao mês, no último mês do governo Sarney. A inflação
acumulada do último ano do governo Sarney foi de 2.751%.

Você consegue imaginar isso? O preço de um determinado produto


aumentando, em média, 2.751% no prazo de um ano? Se ele custava 1,00
unidade monetária no dia 1/1, em 31/12 ele estaria custando 2.751,00
unidades monetárias...

É esse o cenário econômico deixado por Sarney para Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente
eleito por voto direto, desde o golpe militar de 1964. Obviamente, a preocupação básica de Fernando
Collor era com o controle inflacionário.

Em Março de 1990, foi implantado pela Ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Melo, o Plano Collor
I, caracterizado pelo seguinte conjunto de políticas:
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

• Eliminação da indexação;
• Sequestro da liquidez (confisco da poupança);
• Congelamento da dívida pública, através do congelamento do Bônus do Tesouro
Nacional (BTN); suspensão de subsídios e incentivos fiscais;
• Corte de gastos públicos; reajuste das tarifas públicas;
• Reforma administrativa, com a redução do número de ministérios e de órgãos
públicos; privatização;
• Aumento da carga tributária;
• Arrocho salarial;
• Congelamento de preços por 2 meses;
• Taxa de câmbio flutuante;
• Eliminação dos incentivos às exportações e abertura comercial.

Contrariamente ao planejado, verificou-se a redução da atividade produtiva. A reforma tributária e a


reforma administrativa não tiveram êxito; as metas de privatização não foram alcançadas. O governo
obteve superávit primário em seu orçamento, devido à redução dos gastos e aos atrasos nos
pagamentos. A inflação, apesar de ter reduzido de 80% para 10% ao mês, permaneceu alta, levando
o governo, em fevereiro de 1991, a adotar o Plano Collor II.

As principais medidas de políticas econômicas do Plano Collor II foram:


• Congelamento de preços e salários;
• Proibição de reposição de perdas salariais;
• Instituição de apenas dois ajustes salariais anuais;
• Extinção do overnight e dos fundos de curto prazo, como tentativa de controlar a
especulação financeira;
• Criou a Taxa Referencial (TR);
• Congelou a tabela do imposto de renda retido na fonte (IRRF);
• Elevou as tarifas públicas e reduziu os gastos governamentais.

Os resultados foram inócuos: a inflação permaneceu alta e a economia brasileira entra, em 1992, em
forte recessão. Nesse mesmo ano, o Presidente Collor renuncia devido às denúncias de corrupção
em seu mandato, assumindo o vice Itamar Franco, em Dezembro de 1992.
Como se pode notar, a crise econômica brasileira dos anos 80 foi extremamente aguda. A inflação
brasileira atingiu patamares jamais vistos, enquanto o setor produtivo apresentava crescimento
irrisório. Os níveis de desemprego e desigualdade social aumentaram e nenhum plano econômico
adotado entre 1980 e 1994 foi eficaz do ponto de vista do controle inflacionário e nem na promoção
do crescimento econômico, até porque este último dependia do primeiro. A situação vai mudar
radicalmente com a introdução do Plano Real, que estudaremos no próximo tópico.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

1.2. Do Plano Real aos dias atuais: o processo de implantação, as


características fundamentais e seus principais resultados

Ao assumir o cargo, Itamar nomeia Fernando Henrique Cardoso como Ministro da Fazenda. No
Ministério da Fazenda, FHC elabora um plano de combate à inflação - baseado na substituição de
uma moeda por outra - que deveria ser gradualmente implantado. Na primeira fase do plano, foi
realizado um ajuste fiscal, baseado em uma política fiscal restritiva, incluindo-se as transferências
unilaterais; em uma política tributária expansionista, com a criação do imposto provisório sobre
movimentação financeira (IPMF). Naquele período foi criado o fundo social de emergência (FSE),
que permitia a realização de despesas sem vinculação imposta pela Constituição Federal. Como
consequência dessas medidas, gera-se superávit primário, diminuindo-se a pressão dos gastos
públicos sobre a inflação.

A segunda fase começou a ser implantada no início 1994, com a criação da Unidade Real de Valor
(URV). A partir daquele período, os preços de todos os produtos e serviços, inclusive o valor dos
salários, foram convertidos e fixados em URV, que era diariamente atualizada. Observe, então, que,
diferentemente dos planos de estabilização monetária implantados ao longo dos anos 80, não houve
fixação dos preços. Na medida em que todos os preços foram convertidos em URV, ocorria um
processo de deflação, em que o governo ia, paulatinamente, retirando dos preços o efeito da inflação
inercial, aquela influenciada pela inflação passada; além disso, retirava-se, paulatinamente, dos
agentes econômicos, as expectativas de inflação.

Apenas no dia 1º de julho, o governo introduziu na economia a nova moeda: o Real. Naquela data,
estabeleceu-se uma paridade entre o Real, a URV e o dólar, ou seja, R$1,00 = 1 URV = US$1,00,
sendo que 1 URV correspondia a CR$2.750,00.

Deve-se ressaltar que não houve fixação cambial, o regime de câmbio era
flutuante, sendo a flutuação permitida dentro de determinados limites
(regime de bandas cambiais). Com essas medidas, o governo vinculou a
variação dos preços internos à variação do dólar, o que ficou conhecido
como ‘âncora cambial’.

Assim, finalmente o governo conseguiu controlar a inflação brasileira... Observe, no Gráfico 1, a


queda abrupta da inflação, entre 1994 e 1995. Segundo o IPEA (2010), a inflação caiu de 941,25%,
em 1994, para 23,17% em 1995, e para 10,03% em 1996. Em 2008, último ano da série, a inflação
brasileira foi de 6,16%.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Gráfico 1: Brasil - Taxas de Inflação, Medida pelo IPC (1956-2008)

Inflação
2.700,00

2.400,00

2.100,00

1.800,00

1.500,00

1.200,00

900,00

600,00

300,00

0,00
1956

1958

1960

1962

1964
1966

1968

1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998
2000

2002

2004

2006

2008
Ano

Fonte: Disponível em: >


http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/ipeadata?SessionID=474218921&Tick=1264547790609&VAR_FUNCAO=Qua_Itens%2
81403814987%29&Mod=M> Acesso em 26/01/2010.

Pode-se dizer que o Plano Real é simplesmente fantástico, quando analisado em relação ao seu
principal objetivo (controle inflacionário), mas suas consequências nem sempre foram positivas. No
início do Plano Real, a economia brasileira até que apresentou desempenho positivo: houve
crescimento da demanda interna; aumento da atividade econômica e, portanto, dos níveis de
emprego; uma valorização cambial, com o dólar chegando a R$0,84, em Novembro de 1994. Por
outro lado, a valorização cambial resultou no aumento das importações e redução das exportações,
levando a Balança Comercial a uma situação deficitária.

Quando FHC assume o governo em 1995, ele busca controlar a demanda interna, através de políticas
creditícias restritivas. A taxa de juros se elevou se tornando uma das maiores do mundo. Como taxas
de juros elevadas atraem o capital especulativo, FHC impôs restrições à entrada de capital
estrangeiro no país, para controlar a valorização cambial, a base de sustentação do plano real.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Gráfico 2: Brasil - Taxas de Juros (1996-2009)

(%)
50

45

40

35

30

25

20

15

10

0
26/6/1996

26/6/1997

26/6/1998

26/6/1999

26/6/2000

26/6/2001

26/6/2002

26/6/2003

26/6/2004

26/6/2005

26/6/2006

26/6/2007

26/6/2008

26/6/2009
Período

Fonte: Disponível em:< http://www.bcb.gov.br/?COPOMJUROS >Acesso em; 04/02/2010,

O Plano Real passou por momentos delicados, com a crise Mexicana, em 1994; com a crise Asiática,
em 1997; com a crise Russa, em meados de 1998 e com a crise Argentina, no ano 2001. Em todos
estes momentos, a estratégia utilizada pelo governo FHC (primeiro e segundo mandatos) e por Lula,
no seu primeiro mandato, foi a mesma: o controle da demanda interna, via elevação da taxa de juros
e flutuação cambial, permitindo que a taxa de inflação permanecesse baixa, ao longo de todo esses
anos, inclusive no momento atual. É importante ressaltar que, durante todo o governo Lula, as
características básicas do Plano Real foram mantidas, tal qual foram concebidas por FHC quando
Ministro da Fazenda, ainda no governo Itamar Franco.

Em função das taxas de juros relativamente altas, a capacidade de geração de renda e emprego foi
limitada, isso porque taxas de juros elevadas favorecem os movimentos especulativos e
desestimulam investimentos produtivos, uma vez que comprometem a lucratividade das empresas.
Durante o governo FHC, quando as taxas de juros foram mantidas elevadas com tendência ao
crescimento, a economia brasileira cresceu a taxas modestas. A partir do governo Lula, as taxas de
juros apresentaram tendência declinante – ainda que em nenhum momento tenham sido verificadas

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

quedas abruptas – e, por esse motivo, as taxas de crescimento econômico foram maiores – com
tendência a recrudescer – do que aquelas verificadas durante os governos FHC.

Esses foram os caminhos percorridos pela economia brasileira até o momento atual. Nesta unidade
nos limitamos a apresentar os planos econômicos e seus principais resultados (crescimento
econômico e taxas inflacionárias). Na próxima unidade, estudaremos o processo de transição
demográfica e a desigualdade social no Brasil.

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2. Teoria na Prática

No final de 2008, a economia mundial entrou em crise, ameaçando a economia da maioria dos países
do mundo. Dando continuidade aos nossos estudos sobre a economia brasileira, vamos analisar,
nesta seção, como a crise afetou o país e que medidas econômicas foram adotadas para minimizar
seus impactos sobre a nossa economia.

O Brasil e a crise econômica mundial

No final de 2008, a economia mundial se viu diante de uma crise econômica que teve início no mercado
hipotecário norte-americano. A elevada inadimplência levou os grandes bancos americanos a restringirem
fortemente a concessão de crédito ao setor imobiliário daquele país e rapidamente a restrição do crédito se
alastrou para vários setores econômicos, não só na economia americana como em todo o mundo.

As bolsas de valores das principais economias foram atingidas e riquezas enormes se perderam da noite para o
dia exigindo ações de ajuda por parte dos governos. Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e vários outros
países realizaram aportes de bilhões de dólares e bilhões de Euros para manter o funcionamento do sistema
financeiro internacional e impedir que a crise assumisse proporções próximas à grande crise ocorrida em 1929.

O Brasil não deixou de ser afetado pela crise e as nossas autoridades econômicas implantaram diversas
medidas com o intuito único de suavizar os impactos externos.

Dentre as medidas que mais trouxeram resultados positivos, podemos citar a redução do IPI para a aquisição de
automóveis e posteriormente a expansão dessa medida para o setor produtor de produtos da linha branca como
geladeiras, micro-ondas, etc. e também para a produção de motocicletas. Como estes são setores com grande
capacidade de geração de emprego e renda, o estímulo à produção e venda desses produtos atenuou o impacto
negativo sobre a produção industrial e o emprego, permitindo a manutenção do nível da demanda interna e,
portanto, permitindo que nosso país conseguisse sair da crise antes mesmo que as principais economias
mundiais.

Outro fator que contribuiu para esse nosso bom momento em termos econômicos foi o grande volume de
reservas cambiais que sustentaram tanto a cotação do dólar quanto a nossa capacidade de importação. O receio
de uma grande desvalorização do real e uma forte saída de capitais não se cumpriu devido à solidez dos nossos
fundamentos macroeconômicos.

A continuidade das obras do PAC, a manutenção de políticas de cunho social como o Bolsa-Família e a gradual
redução das nossas taxas de juros mantiveram os níveis internos de investimentos, tanto públicos quanto
privados, fato que, aliado a uma baixa expectativa de inflação, sustentou a nossa demanda interna.

Dessa forma, o fato de que o controle do processo inflacionário, que tanto castigou a economia brasileira em um
passado recente, como vimos, ao longo desta unidade, contribuiu para que o Brasil passasse pela crise
econômica com mais solidez e segurança. De uma economia cujas políticas econômicas se atrelavam à
contenção inflacionária, a economia brasileira atual pode se preocupar em realizar investimentos de longo prazo
que sem dúvida irão gerar alterações em nossa infra-estrutura o que se refletirá em um maior crescimento
econômico e, por sua vez, a um maior desenvolvimento tanto econômico quanto social.

Fonte: Autora.

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3. Recapitulando

Nesta unidade, estudamos, exclusivamente, a economia brasileira. Nosso ponto de partido foi a
década de 50, mais precisamente o governo JK, pois, a partir dele, o Brasil se modernizou, se
industrializou. Investimentos volumosos foram realizados no setor de energia e transportes; na
indústria de base; em educação e alimentação, e também na construção da nova Capital Federal.
Participaram desses investimentos o próprio governo brasileiro e o setor privado nacional e,
principalmente, estrangeiro.

Com o Plano de Metas, a economia brasileira cresceu a taxas relativamente elevadas, verificando-se,
inclusive, uma mudança na composição do PIB, com o aumento da participação relativa da produção
industrial na produção total do país, devido ao crescimento relativamente mais acelerado daquele
setor comparativamente ao desempenho do setor de serviços e da agricultura. Deve-se lembrar,
inclusive, que foi naquele período que se instalaram no país as primeiras indústrias automobilísticas,
a indústria de construção naval, de material elétrico e de bens de capital. O Brasil se tornara, de fato,
um país industrializado.

Em Janeiro de 1961, Jânio Quadros assume, em meio a uma grande crise política, a Presidência da
República. Esse governo durou apenas sete meses, terminando com a renúncia de Jânio, devido à
crise política. Durante os sete meses em que governou o país, implantou um plano econômico
caracterizado por políticas fiscais e monetárias restritivas; já a política cambial se baseava no câmbio
único - em substituição ao sistema de taxas múltiplas, do Plano de Metas - e desvalorizado. Tais
medidas foram bem recebidas pelos credores internacionais, tornando possível a renegociação da
dívida externa.

Após sua renúncia, em agosto de 1961, assume a presidência da República o vice João Goulart, cuja
posse só foi possível mediante negociação política que envolveu, inclusive, uma mudança no sistema
de governo brasileiro de presidencialismo para parlamentarismo, tendo como primeiro-ministro o Sr.
Tancredo Neves.

Apenas em 1963, através de um plebiscito, o presidencialismo retorna como sistema de governo e


João Goulart passa a comandar, de fato, a nação brasileira. No governo Jango, foi implantado o
Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, elaborado por Celso Furtado. No Plano
Trienal estavam previstos cortes de gastos públicos e uma política restritiva de crédito, para controlar
a inflação diagnosticada como sendo uma inflação de demanda.

Apesar de trazer uma nova concepção de política econômica, uma vez que visava à redistribuição de
renda para a redução das desigualdades sociais internas, o plano fracassou: a taxa de crescimento
econômico foi irrisória e a inflação alcançou o patamar de 80%. Seu fracasso se explica tanto em
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Disciplina: Economia
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função da resistência dos EUA em relação ao governo Jango quanto em função da instabilidade
política que se instalara internamente. Se por um lado a instabilidade política compromete os
resultados do plano trienal, por outro, os resultados do plano trienal contribuíram para agravar ainda
mais a crise política... O resultado disso? O golpe militar de 1964.

A ditadura militar durou 20 anos e, ao longo desse período, foram vários os planos econômicos
implantados no Brasil. O primeiro plano econômico do período militar foi o PAEG, que, através de
políticas monetárias e fiscais restritivas, de desvalorização cambial, de expansão de crédito ao setor
produtivo e das reformas tributária e administrativa, preparou o terreno para o crescimento
econômico.

Entre 1968-1973, a economia brasileira experimentou sua fase áurea, conhecida como ‘Milagre
Econômico’ ou ‘Milagre Brasileiro’. Refletindo, com certa defasagem temporal, sobre as políticas
econômicas do PAEG e as políticas econômicas do PED (1968) e o I PND (1972), a economia
brasileira experimentou suas maiores taxas de crescimento (em média, 11% ao ano), lembrando que,
durante todo o milagre, a inflação foi mantida sob controle, através de políticas de controle de custos,
uma vez que a inflação já era concebida como sendo uma inflação de custos. Para alcançar essas
taxas, o governo participou ativamente da economia, além de estimular os investimentos do setor
privado – nacional e estrangeiro – nos setores produtivos, lembrando que os militares vedaram
investimentos estrangeiros em setores considerados estratégicos (como infraestrutura, energia,
transporte e comunicação, dentre outros). O problema, nesse período, é que a dívida externa
brasileira aumentou significativamente.

Em 1974, foi implantado o II PND, na tentativa de prolongar o milagre econômico por mais alguns
anos. Esse plano visava ao fortalecimento da indústria de base para sustentar o crescimento
econômico médio de 11% ao ano. O governo não apenas incentivou como realizou investimentos
diretos naquele setor, buscando solucionar aquele ‘ponto de estrangulamento’. Novamente, as ações
do governo foram financiadas por recursos orçamentários e, principalmente por endividamento
externo.

As medidas econômicas do II PND foram comprometidas por uma conjuntura internacional


desfavorável (crise econômica mundial, com o primeiro choque do petróleo, em 1973) e não surtiram
o efeito esperado. No entanto, é importante lembrar que as taxas de crescimento permaneceram
relativamente altas, ao longo do qüinqüênio 1974-1979. A pior conseqüência do II PND foi sobre a
dívida externa brasileira, que aumentou assustadoramente, como conseqüência do aumento da taxa
de juros internacional. Além do problema do endividamento, o governo brasileiro perdeu o controle
sobre a inflação, que alcançou 77,2%, em 1979.

Em 1980, foi implantado o III PND. Diferentemente dos planos anteriores, neste plano o controle
inflacionário ocupou papel central na condução das políticas econômicas. Significa dizer que o
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

crescimento econômico (geração de renda e emprego) estava em segundo plano. Isso porque
dificilmente políticas que visam o crescimento econômico têm resultados satisfatórios, em contextos
inflacionários. As medidas de controle de inflação do III PND se apresentaram inócuas e, a partir de
1981, as taxas de crescimento econômico declinaram. Estas só apresentaram algum sinal de
recuperação em 1984, mesmo assim, não em virtude das políticas internas, mas como reflexo da
recuperação econômica mundial, após os dois choques do petróleo. A inflação brasileira chegou a
223,4%, em 1984.
Em 1985, José Sarney assume a presidência do Brasil em meio à crise econômica. Nesse governo
foram implantados vários planos econômicos que visavam, em primeiro lugar, o controle da inflação.
Foram adotadas medidas drásticas, como substituição de uma moeda por outra e congelamento de
preços, mas também neste período todas as medidas para controle inflacionário foram ineficazes. Ao
final do governo Sarney, em 1989, a inflação chegara a 80% ao mês, ultrapassando a taxa de 2.750%
ao ano.
Por esse motivo, durante o tempo em que permaneceu no governo Collor de Mello também teve o
controle inflacionário como principal meta de política econômica. Nesse governo tivemos os planos
Collor I e II - baseados em políticas fiscais e monetárias restritivas, em pequena participação do setor
público nos setores produtivos da economia, e em um programa de privatização - mas eles também
se apresentaram ineficazes no controle da inflação.

Com a renúncia de Collor, em 1992, Itamar Franco assume a Presidência e, com Fernando Henrique
Cardoso à frente do Ministério da Fazenda, implanta o Plano Real, ainda em vigor. O Plano Real foi
implantado em três fases:

• Na primeira fase, foi realizado um ajuste fiscal, alcançado através de redução dos gastos
públicos e do aumento da carga tributária.
• Na segunda fase, foi criada a URV, sendo todos os preços e, inclusive os salários, cotados em
URV, cujo valor era diariamente atualizado. Com essa medida o governo eliminou dos preços o
efeito da inflação inercial e controlou as expectativas inflacionárias dos agentes econômicos.
• Na terceira fase, foi introduzida, após o estabelecimento de uma âncora cambial, a nova moeda
na economia brasileira: o Real.

Apenas com o plano a inflação brasileira foi controlada. O Plano Real vigora ainda hoje em nosso
país, e mantém suas características básicas. Durante os dois governos FHC, a inflação permaneceu
controlada, mas a prática de taxas de juros elevadas teve impacto negativo sobre o ritmo de
crescimento da economia. Durante os dois governos FHC, a economia brasileira tendeu a crescer,
porém a taxas muito baixas. Apenas no governo Lula, as taxas de juros apresentaram tendência
declinante, tendo como consequência taxas de crescimento mais altas, com tendência a recrudescer.
5 6
Segundo o BACEN, em 2009, a economia brasileira cresceu 5,1% , e a inflação (IGP-M) de 8,38% .

5
Fonte: http://www.bcb.gov.br/pec/indeco/Port/ie1-51.xls
6
Fonte: http://www.bcb.gov.br/pec/indeco/Port/ie1-03.xls.
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Unidade 5: Economia Brasileira: População, Emprego e


Distribuição de Renda

1. Conteúdo Didático

Vamos agora à nossa ultima unidade! Vamos dedicar um tempinho à realidade!!! Discutiremos o
processo de transição demográfica brasileiro e a distribuição de renda no país. O primeiro, porque é
um processo que está acontecendo em praticamente todos os países do mundo, inclusive no Brasil, e
tem sérias implicações na condução das políticas públicas. O segundo, porque se constitui em um
grave problema que afeta uma grande parte da população brasileira.

1.1. O processo de transição demográfica no Brasil e seus impactos na


economia brasileira

Você já ouviu falar que a população brasileira está envelhecendo? Acredito


que sim!!!

De tempos em tempos, ouvimos isso nos telejornais, ou lemos sobre isso nas revistas e jornais
impressos. Mas na realidade poucos sabem definir corretamente o “envelhecimento populacional” e
um número ainda menor de pessoas sabem suas causas e implicações. Vamos, então, melhor
compreender esse processo, que é consequência do que denominamos Transição Demográfica. Para
isso, vamos considerar uma população fechada.

Você sabe o que é uma população fechada? Aquela sem movimentos


migratórios. Saberia dar um exemplo??? Vamos... Pense...

Difícil, não é?!? Principalmente quando consideramos a atualidade, em que os meios de transporte se
encontram tão avançados e relativamente baratos, e as atividades econômicas - inclusive a atividade
laboral – se encontram em processo de internacionalização. Nesse contexto, populações fechadas
serão cada vez mais raras. Concorda?

Conseguiu pensar em um exemplo de população fechada? Entre 1930 e 1980, a população brasileira
era considerada fechada. Isso mesmo... Durante todos aqueles anos, as trocas populacionais entre o
Brasil e o exterior foram pouco significativas. Antes de 1930, a população brasileira era considerada
aberta, pois recebia muitos imigrantes estrangeiros; depois de 1980

volta a ser considerada aberta dada a grande emigração de brasileiros para o exterior, notadamente
para os EUA.

Unidade de Educação a Distância | Newton 101 | P á g i n a


Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Agora que já sabemos o conceito de população fechada, vamos aprender outro conceito essencial
nessa parte do curso: Transição Demográfica. Fique atento!

1.1.1. Transição Demográfica

Transição Demográfica é, por definição, a passagem de altos para baixos níveis de mortalidade e
fecundidade e, normalmente, ocorre em quatro fases. Usualmente a Transição Demográfica é
ilustrada através da FIGURA 1:

FIGURA 1: FASES DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

TBN*

TBM**

1ª.
fase

2ª. fase

3ª. fase
4ª. fase
*TBN

**TBM

Fonte: Reproduzido a partir de ALVES, 1994.

*TBN = Taxa Bruta de Natalidade = número de nascidos vivos por mil habitantes.
**TBM = Taxa Bruta de Mortalidade = número de óbitos por mil habitantes.

Vamos, agora, entender cada uma dessas fases:

1º. Fase  tanto os níveis de natalidade, representados no gráfico pela curva referente à Taxa
Bruta de Natalidade (TBN) quanto os níveis de mortalidade, ilustrados através das Taxas
Brutas de Mortalidade (TBM) são muito altos. Em decorrência disso, temos um crescimento
populacional positivo, porém lento.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

2º. Fase  a mortalidade começa a declinar, e declina ininterruptamente, até a transição


demográfica alcançar sua última fase. Mas, na segunda fase, a natalidade permanece
elevada. O resultado disso é a aceleração do ritmo de crescimento populacional.
3º. Fase  o ritmo de natalidade começa a diminuir, refletindo a redução da fecundidade. No
início da terceira fase, o ritmo de crescimento populacional é bastante alto, mas vai
diminuindo ao longo do tempo, na medida em que as taxas de fecundidade vão se tornando
mais baixas e aproximando do nível de reposição.
4º. Fase  a mortalidade e a fecundidade se encontram em baixos patamares e tendem a se
estabilizar. Nessa fase, a população volta a crescer lentamente.

Como consequência da Transição Demográfica, tem-se o envelhecimento


populacional. Você sabe exatamente o significado desse termo? Sabe suas
causas principais? Então, vamos lá...

Uma população envelhece quando a idade média da população aumenta. Nesse processo, há
uma redução da proporção de crianças, compensada pelo aumento da proporção de adultos e idosos
na população. A pirâmide etária, que é uma representação gráfica da composição da população por
sexo e idade, vai se transformando ao longo do tempo. A pirâmide etária tradicional de uma
população jovem - de base larga e topo estreito - vai se transformando em uma estrutura típica de
uma população envelhecida - de base estreita e topo largo.

A título de ilustração, temos na Figura 2 a estrutura etária brasileira de 1970. Como se pode notar,
naquele período, o Brasil tinha uma estrutura etária tipicamente jovem: base larga e topo estreito.
FIGURA 2: ESTRUTURA ETÁRIA TÍPICA DE POPULAÇÕES JOVENS

80 +
Grupos Etários

70-74

60-64

50-54

40-44

30-34

20-24

10-14

0-4

10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10
(%)

Fonte: IBGE - Censo Demográfico (1970)

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Na Figura 3, a estrutura etária da Espanha, em 2010. Observe que aquele país apresenta,
atualmente, uma estrutura etária tipicamente envelhecida, de base estreita e topo largo.

FIGURA 3: ESTRUTURA ETÁRIA TÍPICA DE POPULAÇÕES ENVELHECIDAS

Grupos Etários 80 +

70-74

60-64

50-54

40-44

30-34

20-24

10-14

0-4

10 8 6 4 2 0 2 4 6 8 10

(%)

Fonte: Disponível em:< http://esa.un.org/unpp>Acesso em: 05/03/2010

A causa principal do envelhecimento populacional é a redução dos níveis de fecundidade de uma


população, e não a redução dos níveis de mortalidade como muitas pessoas pensam. A redução da
fecundidade provoca, após um determinado período de tempo, a redução do número de nascimentos
em uma população, e, portanto, a redução da participação relativa de crianças e jovens no total da
população.

Em outras palavras, a queda da fecundidade leva ao envelhecimento


pela base, mesmo que nenhuma alteração nos níveis de mortalidade tenha
sido observada.

É preciso salientar que, apesar do impacto da mortalidade sobre a estrutura etária ser relativamente
pequeno, a redução dos níveis de mortalidade entre os idosos leva ao envelhecimento pelo topo
(MOREIRA, 2001) e, quando a fecundidade e a mortalidade entre os idosos caem, simultaneamente,
o processo de envelhecimento de uma população se torna mais acelerado.

Agora que já sabemos o que é transição demográfica e a relação entre esta e o envelhecimento
populacional, vamos melhor compreender o envelhecimento populacional brasileiro.

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

1.1.2. Envelhecimento populacional brasileiro

O declínio da mortalidade se iniciou em meados do século XIX, tornando-se significativo apenas após
os anos 30 (CAMARGO, 1996). Segundo as NAÇÕES UNIDAS (2005), entre 1950-1955, a Taxa de
7
Mortalidade Infantil brasileira era de aproximadamente 135‰ , e a esperança de vida em torno de
50,9 anos. A partir daquele período, a mortalidade brasileira declinou continuamente. Em 2000, a
Taxa de Mortalidade Infantil foi de aproximadamente 30‰, ressaltando-se que, segundo as projeções
8
publicadas pelo Census Bureau , a mortalidade infantil deve chegar 22‰, até 2010, momento em que
a esperança de vida deve chegar a 72 anos.

TABELA 1: BRASIL – TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL E ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER


(1970-2010)
Indicadores Demográficos 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Taxa de Mortalidade Infantil 98 88 74 60 50 39 30 26 22
Esperança de Vida ao Nascer 58 60 63 65 67 68 69 71 72

Fonte: Disponível em:<http://www.census.gov/ipc/www/idb/country.php> Acesso em: 9/03/2010

Segundo CARVALHO & WOOD (1994), a redução da mortalidade no Brasil se relaciona aos avanços
tecnológicos na área da saúde, transferidos após a segunda guerra mundial dos países
desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Os autores consideram ainda que, após 1960,
além dos avanços tecnológicos, as melhorias das condições de vida da população também
exerceram forte influência sobre a redução dos níveis de mortalidade no país. Nesse sentido,
admitem que o aumento da renda familiar, a melhoria do nível educacional da população,
principalmente da população feminina, o aumento dos gastos públicos em saneamento básico e
energia elétrica, o maior acesso à saúde, dentre outros contribuíram significativamente para a
redução dos níveis de mortalidade no país.

Segundo STOLNITZ (1968), as reduções dos níveis de mortalidade verificadas em uma população
são irreversíveis, pois, além de representar um rompimento com o passado, ocorrem em função das
melhorias das condições ambientais, dos avanços médicos e tecnológicos e do bem-estar econômico,
os quais considera permanente. E chama nossa atenção para o fato de que existem muitos métodos
eficazes do ponto de vista da redução da mortalidade, que representam baixos custos para o
governo, dentre os quais se podem mencionar os programas de saúde pública, a implementação de
tratamentos específicos e preventivos como as campanhas de vacinação e higiene, dentre outros.

Segundo as projeções das Nações Unidas a mortalidade brasileira deve continuar reduzindo, ao
longo do tempo, alcançando em 2050 uma taxa de mortalidade infantil de 7,5‰ e uma esperança de

7
Nações Unidas, 2005.
8
Fonte: Disponível em: <http://www.census.gov/ipc/www/idb/country.php.> 9/03/210

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vida de 79,2 anos. É importante ressaltar que são indicadores muito próximos aos indicadores
europeus, para o mesmo período. As Nações Unidas estimam, para a Europa, em 2050, uma taxa de
mortalidade infantil de 4,9‰ e uma esperança de vida de 80,6 anos.

Juntamente com a transição da mortalidade vem ocorrendo, no país, a transição da fecundidade.


Segundo MOREIRA (2001), a redução da fecundidade brasileira ocorreu sem que tivesse havido
qualquer programa (efetivo) de planejamento familiar e seu ritmo de declínio se apresentou muito
mais acelerado comparativamente ao ritmo de declínio da fecundidade nos países desenvolvidos. De
acordo com o autor, a fecundidade vem diminuindo aceleradamente em praticamente todas as
classes sociais e em todas as regiões do país. Em 1960, as mulheres brasileiras tinham, em média,
5,8 filhos ao final do período reprodutivo, nível consideravelmente elevado, jamais experimentado por
países desenvolvidos, mesmo na fase pré-transicional. Em 2000, esse nível era de 2,1 e, em 2005, a
fecundidade brasileira já se encontrava em 1,9 filhos por mulher ao final do período reprodutivo, nível
abaixo do nível de reposição (TFT de reposição = 2,05).

Segundo KNODEL & VAN DE WALLE (1979), o declínio da fecundidade ocorre sob uma grande
variedade de condições sociais, econômicas e demográficas e frequentemente é influenciado pelo
cenário cultural. Esses autores admitem que, uma vez adotadas as práticas de limitação do tamanho
da família, elas se tornam irreversíveis em função da difusão do conhecimento dos métodos e das
práticas de controle. Admitem que os casais de pequenos segmentos populacionais passaram a
adotar um comportamento reprodutivo inovador, antes do início da transição, quebrando tabus e
crenças religiosas que impedem o controle da fecundidade, comportamento que foi aos poucos se
difundindo para outros grupos populacionais. BONGAARTS & WATKINS (1996) compartilham dessa
mesma visão.

Pode-se mencionar COALE & HOOVER (1966), que consideram que as crianças passam a
representar um ônus para a família quando perdem importância como unidade produtiva para o setor
industrial; quando o coletivismo perde espaço para o individualismo; e quando há aumento da
participação da mulher no mercado de trabalho. Além desses fatores, as crenças, normas e tradições
vão perdendo influência sobre o comportamento reprodutivo. Tais mudanças parecem ser de
natureza permanente e influenciam positivamente o declínio da fecundidade.

Como vimos anteriormente, a redução simultânea dos níveis de fecundidade


e mortalidade aceleram o ritmo de envelhecimento populacional.

De fato, observando as pirâmides etárias brasileiras, o envelhecimento populacional é facilmente


perceptível. Em todas as pirâmides, temos no eixo horizontal os grupos etários ( 0 a 4 anos, 5 a 9
anos, 10 a 14 anos, e assim sucessivamente até o grupo aberto 80 anos e +) e, no eixo horizontal,
as participações relativas de cada grupo etário, segundo o sexo, na população total.
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FIGURA 2: BRASIL – ESTRUTURA ETÁRIA (1980-2050)

Grupo Brasil - Estrutura Etária (1980)


Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

Grupo
Brasil - Estrutura Etária (1990)
Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

Grupo Brasil - Estrutura Etária (2000)


Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
2000 Homens 2000 Mulheres

Grupo Brasil - Estrutura Etária (2010)


Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

Grupo Brasil - Estrutura Etária (2030)


Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

Grupo
Etário
Brasil - Estrutura Etária (2020)
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

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Autor: Joseane de Souza Fernandes

Grupo
Brasil - Estrutura Etária (2040)
Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

Grupo Brasil - Estrutura Etária (2050)


Etário
80 +
70-74
60-64
50-54
40-44
30-34
20-24
10-14
0-4
10 5 0 5 10
Homens Mulheres

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados Censitários de 1991 e 2000 e de projeções realizadas pelo IBGE para o período
2010-2050.

Na TABELA 1, encontram-se alguns indicadores demográficos que nos permitem avaliar o processo
de envelhecimento populacional brasileiro ao longo do período 1980-2050. Os três primeiros
indicadores – a razão de dependência de jovens, a razão de dependência de idosos, e a razão de
dependência total - devem ser avaliados em conjunto. São razões de dependência demográfica. São
calculadas através das seguintes fórmulas:

RDJ = [População (0 a 14 anos) ÷ População (15-64 anos)] * 100


RDI = [População (65 anos ou +) ÷ População (15-64 anos)] * 100
RDJ = RDJ + RDI

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Observe que, no numerador das razões de dependência de Jovens e Idosos, temos os grupos etários
inativos, ou seja, dependentes e, no denominador, a população em idade ativa.

No Brasil, em 1980, para cada 100 indivíduos em idade ativa, havia 73,18 indivíduos -
demograficamente – dependentes. Desse total, 66,2 eram crianças e apenas 6,97 eram idosos. Na
TABELA 1 é possível observar, ainda que a RDT deva diminuir ao longo do período 1980-2020,
momento a partir do qual voltará a crescer. Em 2050, segundo as projeções populacionais realizadas
pelo IBGE, para cada 100 indivíduos em idade ativa devem ter, no Brasil, 57,87 dependentes. A
questão central a ser observada é que a composição interna da RDT se alterará significativamente ao
longo desse período: se por um lado a RDJ declinará continuamente, por outro a RDI aumentará
também ininterruptamente a um ritmo, inclusive, bastante acelerado.

TABELA 2: BRASIL - INDICADORES DE ENVELHECIMENTO POPULACIONAL (1980-2050)


Indicador
Demográfico 1980 1991 2000 2010 2020 2030 2040 2050
RDJ (%) 66,2 57,53 45,97 40,59 35,80 31,93 29,58 28,15
RDI (%) 6,97 7,36 8,41 10,10 12,99 18,22 23,39 29,72
RDT (%) 73,18 64,89 54,37 50,69 48,79 50,15 52,96 57,87
Idade Média (anos) 20,2 22,7 25,3 28,3 31,8 34,6 37,3 40,00
Índice de Idosos 10,5 12,79 18,28 24,88 36,28 57,08 79,08 105,56
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1980, 1991 e 2000
IBGE - Projeções Populacionais para o período 2010-2050.

As razões de dependência demográfica não são os melhores indicadores para se avaliar o processo
de envelhecimento populacional. A estimativa da idade média da população ao longo do tempo é
também muito usada para essa avaliação, dado que o aumento da idade média de uma população é
o próprio conceito de envelhecimento. Observe que, no interregno 1980-2050, a idade média do
brasileiro deve aumentar de 20,2 para 40 anos; uma idade bastante elevada, indicando uma estrutura
etária bastante envelhecida.

No entanto, o melhor indicador para se avaliar o processo de envelhecimento populacional é o Índice


de Idosos (II), uma vez que em sua estimativa são considerados os grupos etários extremos da
pirâmide etária, como se pode verificar na fórmula abaixo; aqueles mais sensíveis às mudanças na
estrutura etária.

II = [População (65 anos ou +) ÷ População (0-14 anos)] * 100

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No Brasil, em 1980, havia 10,5 idosos por 100 crianças; um número relativamente baixo de idosos por
criança... Uma população ainda jovem. Segundo as projeções do IBGE, essa relação deve aumentar
continuamente, até 2050 e, naquele ano, deveremos ter praticamente 106 idosos por 100 crianças no
Brasil... Um país com estrutura etária bastante envelhecida.

Segundo MOREIRA (2001), o envelhecimento populacional brasileiro vem ocorrendo a um ritmo


extremamente acelerado... Um dos processos de envelhecimento mais acelerados do mundo!
Segundo o referido autor, apenas a Venezuela apresenta um envelhecimento populacional mais
acelerado que o brasileiro.

Além de apresentar uma estrutura etária bastante envelhecida, a população brasileira deve atingir,
em 2050, praticamente 260 milhões de habitantes. A mudança absoluta e relativa da estrutura etária
implica repensar, o mais rápido possível, a condução das políticas públicas, pois os padrões de
consumo e, portanto, a oferta de serviços públicos varia com as mudanças na estrutura etária.

Se por um lado a arrecadação governamental deve aumentar ao longo desse período, por outro lado
temos que ter em mente que as despesas com idosos são significativamente mais altas comparando
com as despesas com crianças e jovens.

Os tratamentos das doenças que acometem os idosos são, em média, muito mais caros; o tempo de
internação é em média maior, assim como o número médio de internações por idosos por ano. As
políticas voltadas para a educação pública poderão priorizar a qualidade do ensino para as crianças,
mas, ao mesmo tempo, haverá maior demanda por ensino voltado para os grupos adulto e idoso.
Deverá haver adaptação nos meios de transporte, de modo a oferecer maior segurança no transporte
público à população idosa. O mercado de trabalho deverá passar por mudanças... Adaptações... no
sentido de absorver a mão de obra senil. O
número de pensões e aposentadorias a ser pago pelo governo deve aumentar significativamente...

Como se pode notar, são vários os desafios que o envelhecimento


populacional coloca para o setor público.

Vamos conversar um pouco, para terminar nosso curso de Economia, sobre um assunto de extrema
gravidade no nosso país: a distribuição de renda.

1.2. As desigualdades socioeconômicas regionais

Como você já deve ter ouvido falar em jornais, revistas ou mesmo nos telejornais, a distribuição de
renda no Brasil sempre foi marcada por um grave processo de concentração. Como

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consequência desse padrão distributivo, a maior parcela da riqueza gerada na nossa economia se
concentra nas mãos de uma pequena parcela da população enquanto uma enorme quantidade de
pessoas é obrigada a viver em condições precárias, abaixo do que costumamos chamar de linha de
pobreza.

A questão que irá nortear nossa discussão aqui será sobre os fatores que
determinam essa grande concentração da renda. Então, vamos lá...

O primeiro ponto que devemos considerar é o fato de que a má distribuição de renda no Brasil é
consequência de um processo histórico que vem desde os tempos iniciais de nossa colonização.
Você se lembra, nos seus estudos sobre a história do Brasil, de quando Portugal dividiu nosso
território em grandes terras chamadas Capitanias Hereditárias e deu-as para poucos indivíduos?
Temos nesse momento o ponto de partida para entender essa característica da sociedade brasileira.
Toda a riqueza gerada por essas terras passa a ser propriedade de seus donos, restando muito
pouco a ser dividido entre todo o resto da população daquele período.

Uma questão que não devemos e não podemos esquecer é o fato de que, naquele momento
histórico, o Brasil não possuía um mercado de trabalho como hoje. O início do nosso processo
produtivo se baseou na utilização de trabalho indígena compulsório, de portugueses degradados e,
com a melhor ocupação da terra, passamos a utilizar mão-de-obra escrava. A constituição de um
mercado de trabalho assalariado livre é relativamente recente na nossa história e a opção pelo uso
do trabalho escravo é, também, um fator que mesmo hoje se reflete na nossa péssima distribuição de
renda.

Infelizmente não é possível discutir aqui toda a evolução histórica da economia brasileira desde o
início de nossa colonização pelos portugueses. Fizemos essa referência às capitanias hereditárias
para frisar o fato de que a estrutura fundiária brasileira, ou seja, a forma como a terra no Brasil foi e
ainda é distribuída é um importante fator que levou à forte concentração da nossa renda.

Outro ponto que devemos também considerar é a distribuição geográfica da atividade produtiva
no Brasil. Também por questões históricas, um grande percentual do PIB brasileiro se concentra na
região sudeste (principalmente) e na região sul e, como você estudou na Unidade 4, vários planos
econômicos adotados no Brasil tinham como um dos objetivos a redução das desigualdades
regionais, questão que, infelizmente, não foi equacionada de forma eficiente. Assim, a concentração
espacial da atividade produtiva determinou a concentração de uma grande massa de trabalhadores
nessas regiões, fruto de uma forma de migração interna que tem como origem, principalmente, a
região norte/nordeste do Brasil, mão-de-obra sem a qualificação necessária para ser devidamente
absorvida pelas empresas. A consequência disso é o achatamento dos salários devido a uma enorme
concorrência entre os trabalhadores no interior do mercado de trabalho.

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Ainda de acordo com os nossos estudos na Unidade 4, ao longo de


algumas décadas do século XX, vários planos econômicos foram adotados
no Brasil. Alguns deles visando à consolidação de uma economia industrial
(o Plano de Metas, por exemplo. Lembra-se dele?) e outros enfatizando o
controle inflacionário contribuíram significativamente para acirrar a
concentração da renda no Brasil. Para ser um pouco mais específico,
tomemos como referência o período do Milagre Econômico Brasileiro.
Apesar de ter sido um período de forte crescimento econômico, os salários
pagos aos trabalhadores foram fortemente controlados e esse arrocho
salarial foi determinante para que a indústria de bens de consumo duráveis
pudesse crescer a taxas tão elevadas e que também impedisse que a
classe trabalhadora pudesse também se apropriar de uma parcela maior da
riqueza gerada nesse período.

Esses pontos que estamos identificando servem para mostrar que a péssima distribuição de renda no
Brasil é fruto tanto de questões que são estruturais, históricas e de questões que são conjunturais.

Outra questão que devemos salientar é a estrutura tributária brasileira. O Brasil possui uma
estrutura tributária extremamente complexa, que é marcada tanto pelo excessivo número de
impostos, taxas e contribuições diversas quanto pela própria complexidade dos regulamentos
tributários, permitindo interpretações dúbias da legislação, favorecendo uma parcela da população
que possua renda que permita a contratação de profissionais capazes de navegar nesse intrincado
mundo tributário.

Outro ponto extremamente importante quando discutimos a estrutura


tributária brasileira é o que se refere à justiça tributária. Do que se trata
isso?

Uma das principais características da nossa estrutura tributária é o fato de que a carga tributária que
incide sobre os rendimentos do trabalho é percentualmente maior do que a carga tributária que incide
sobre a remuneração do capital tanto produtivo quanto especulativo. Para entendermos melhor essa
questão, podemos tomar, como exemplo, o imposto de renda.

Como você sabe, a retenção do imposto de renda sobre os rendimentos do trabalho assalariado são
determinados por duas alíquotas que dependem da faixa salarial. Dessa forma, as alíquotas de
retenção do imposto de renda variam de 0 a 27,5% em função da renda.

Agora, se considerarmos a tributação do imposto de renda sobre os ganhos de capital, perceberemos


claramente essa injustiça tributária da qual estamos nos referindo. O imposto de renda sobre o ganho
do capital gira em torno de uma alíquota de 1,5%. Recentemente, o governo federal, com o intuito de
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controlar a entrada de capital no país, aumentou o IOF (imposto sobre operações financeiras) para
2%. Mesmo se acumularmos os dois impostos, quando compararmos com a menor alíquota do
imposto de renda cobrado dos rendimentos do trabalho assalariado, a discrepância se torna clara.

Considerando que sobre o ganho do capital é cobrado 1,5% de imposto de renda e 2% de IOF, isso
gera uma alíquota total de 3,53% (1,015 x 1,02 = 1,0353, que corresponde a 3,53%) em relação à
menor alíquota de retenção na fonte do imposto de renda sobre o salário que é de 7,5%.

É de fato desproporcional a carga tributária que incide sobre o salário e a


carga tributária que incide sobre o capital.

Para ampliarmos nossa discussão a respeito da injustiça tributária que contribui enormemente para a
distorção na distribuição da renda, devemos também analisar os efeitos da tributação indireta sobre
ela. Por exemplo, o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) que incide, como o
nome nos diz, sobre a circulação (a venda) de bens e serviços. Tomemos também, como exemplo,
um produto que é bastante relevante para o nosso dia a dia, principalmente para aquelas pessoas
que têm filhos em idade escolar: o material escolar. De acordo com o regulamento do ICMS da
Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, incide sobre o material escolar uma alíquota de
12%. Considerando o nível de renda das pessoas que consomem esse tipo de produto, para aquelas
pessoas com renda menor, o impacto dos 12% do ICMS sobre a renda é relativamente maior do que
para pessoas que recebem níveis de renda maiores.

Você está percebendo como a estrutura tributária é também fator causador


da concentração de renda?

Para melhor analisar a concentração de renda em uma economia, os economistas utilizam uma
ferramenta de trabalho bastante relevante que é o Índice de Gini. Esse índice foi criado por um
estatístico italiano chamado Corrado Gini em 1912 e expressa o nível de concentração de renda em
uma economia qualquer. O índice de Gini é um número que varia entre 0 e 1, em que o valor ‘0’
representa uma sociedade na qual todos os indivíduos recebem a mesma renda, ou seja, uma
distribuição perfeita e ‘1’ representa a concentração perfeita, ou seja, uma situação em que somente
um indivíduo detém toda a renda enquanto todo o resto da sociedade não possui renda alguma.

Dessa forma, a evolução do índice de Gini no tempo mostra como se comporta a distribuição da
renda em uma economia qualquer.

De acordo com o IBGE, o censo demográfico de 1991 mostrou que para o Brasil o índice de Gini era
de 0,6366. Porém, enquanto em São Paulo o coeficiente de Gini era de aproximadamente 0,5797,em
Minas Gerais, no mesmo ano, o coeficiente era de 0,6347 e no estado de Alagoas, em torno de
0,6316. Ou seja, São Paulo, o estado mais rico do país, apresentava em 1991 uma concentração de
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renda menos pronunciada comparativamente aos estados de Alagoas e Minas Gerais. Em outras
palavras, a distribuição de renda era menos desigual em São Paulo. Com esse exemplo, pretende-se
mostrar a seguinte questão: internamente há diferentes padrões distributivos.

Como se pode notar, na TABELA Número 3, no Brasil, a distribuição de renda melhorou,


paulatinamente, entre 1995 e 2005. Em 2005, o índice de Gini para o Brasil como um todo era de
0,532, o que significa que em 2005 a renda no Brasil era melhor distribuída do que em 1995 e,
inclusive, do que em 1991. Em linhas gerais, pode-se dizer que o mesmo comportamento foi
observado em praticamente todas as regiões brasileiras, ou seja, em todas as regiões houve uma
melhoria dos padrões distributivos; houve uma melhoria, ainda que pequena, na distribuição de
renda. No entanto, observe, na TABELA 2, a persistência dos diferenciais regionais: a renda é melhor
distribuída nas regiões Sul, Norte e Sudeste, respectivamente; e é mais concentrada nas regiões
Centro-Oeste e Nordeste.

Tabela 3: BRASIL - Evolução do Índice de Gini (1995 – 2005)

Ano Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste


1995 0,567 0,546 0,576 0,540 0,540 0,565
1996 0,568 0,546 0,589 0,536 0,537 0,581
1997 0,570 0,55 0,588 0,538 0,532 0,583
1998 0,567 0,542 0,58 0,539 0,532 0,586
1999 0,56 0,526 0,577 0,529 0,537 0,577
2001 0,558 0,530 0,563 0,535 0,519 0,574
2002 0,553 0,536 0,56 0,533 0,507 0,573
2003 0,545 0,507 0,547 0,525 0,506 0,557
2004 0,535 0,499 0,546 0,512 0,498 0,553
2005 0,532 0,501 0,534 0,514 0,491 0,552

Fonte: Disponível em: <


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2005/sintese/tab1_5_4.pdf > Acesso em
9/03/2010

A tabela 2 nos mostra a evolução do coeficiente de Gini para o período compreendido entre 1992 e
2007 e podemos perceber que, apesar de ainda bastante concentrada, a renda no Brasil vem
passando por um processo de desconcentração.

Para tornar ainda mais claro o entendimento sobre a gravidade do tema que estamos estudando, em
9
2008, o IPEA apontou que naquele ano 10% da população brasileira se apropriava de 75,4% do total
da renda brasileira. Segundo o mesmo Instituto, naquela mesma data, 10% da população da cidade
de São Paulo se apropriava de 73,4% da riqueza gerada na cidade, sendo esta a capital com pior
concentração de renda no país.

9
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) órgão que pertence ao Ministério do Planejamento.
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Esses números são impressionantes, não é verdade! Eles se tornam ainda mais impressionantes se
comparados aos dados relativos à distribuição de renda no Brasil, no século XVIII. De acordo com o
IPEA, no século XVIII, 10% da população brasileira se apropriava de 68% da renda nacional; significa
que a renda no Brasil, hoje, é mais concentrada comparativamente ao padrão distributivo do século
XVIII, análise que se torna mais grave sabendo-se que, hoje, nossa população é muito maior do que
era no século XVIII.

Com este tópico, encerramos a Unidade 5, em que buscamos relacionar o conteúdo ministrado ao
longo do curso, particularmente aquele ministrado na Unidade 4, com algumas características
específicas da economia brasileira no momento atual. Fica claro que a economia brasileira vem,
indubitavelmente, apresentando melhorias significativas ao longo do tempo, mas fica claro também
que ainda temos um longo caminho a percorrer, até nos tornarmos de fato um país desenvolvido.
Novos desafios se apresentam aos gestores de políticas públicas, sendo o maior deles o
envelhecimento populacional e as mudanças sociais e econômicas dele decorrentes. Outro desafio,
este já bastante antigo, relaciona-se à melhoria na distribuição de renda, que, apesar de apresentar
melhorias, ainda se caracteriza por apresentar alto nível de concentração.

Com esta unidade, encerramos, também, o nosso curso e esperamos ter contribuído de forma
significativa para a sua formação acadêmica. Esperamos que, com o que se discutiu ao longo desta
disciplina, você tome decisões mais acertadas, envolvendo os menores riscos possíveis, ao atuar no
mercado de trabalho. Muito Sucesso!!!

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

2. Teoria na Prática

Se você pesquisar na internet, encontrará vários artigos afirmando que o Brasil não é um país pobre,
mas de muitos pobres. Isso porque, apesar da renda per capita brasileira encontrar-se em patamar
relativamente elevado, é muito alto o número de pessoas vivendo em situação de pobreza. Você se
lembra de que na Unidade 2, quando estudamos a renda per capita, dissemos que ela não é um bom
indicador para se avaliar a distribuição de renda? Pois é... Ao mesmo tempo em que temos uma
renda per capita elevada, temos um alto nível de desigualdade em sua distribuição. Segundo o IPEA
(2009), em 2003, aproximadamente 34% da população brasileira vivia em situação de pobreza, e
cerca de 15% em situação de extrema pobreza.

É necessário, então, definirmos esses termos. Para a ONU, um indivíduo em estado moderado de
pobreza tem renda variando entre US$1,00 a US$ 2,00 por dia. Em reais, isso corresponderia a algo
em torno de R$2,00 (depende da taxa cambial que, como informamos, varia de um dia para outro).
Considerando que esse indivíduo trabalhe todos os dias do mês, daria uma renda mensal de
10
aproximadamente R$54,60 . Quem ganha menos de US$1,00 por dia é considerado um indivíduo
extremamente pobre, miserável.

Dados da PNAD recentemente divulgados revelaram uma redução do número de famílias vivendo em
situação de pobreza: de 34% em 2003 para 22,6% em 2008. Esses resultados são compatíveis com
aqueles divulgados pelo IPEA, que identificou uma melhora na distribuição de renda, tendo detectado
uma redução do índice de Gini de 0,6, em 1990, para 0,53, em 2007.

Se por um lado as pesquisas apontam para uma melhoria na distribuição de renda, por outro lado
elas mostram, também, que, apesar da melhora relativa, a renda permanece extremamente
concentrada no país. A concentração de renda permanece como o grande desafio para os
formuladores de políticas públicas no Brasil. Como reduzir a desigualdade na distribuição de renda?
Como reduzir os níveis de pobreza de nossa população?

Segundo a teoria econômica, existem várias alternativas. A mais interessante seria a promoção do
crescimento econômico associado a políticas específicas voltadas para a redistribuição de renda.
Nesse contexto se encaixam as políticas sociais que, por definição, são aquelas que buscam garantir
a participação da sociedade nos processos decisórios e, inclusive, na riqueza coletiva; aquelas que
visam garantir o acesso da população a bens e serviços que asseguram a proteção social do
indivíduo, frente aos riscos e à vulnerabilidade social.

10
Para esta estimativa, considerou-se que o indivíduo ganha o equivalente a US$1,00; a taxa de câmbio igual a R$1,82,
cotada em 21/02/2010; e que o indivíduo trabalha os 30 dias do mês.
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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

Um programa de política social de expressão no Brasil é o Bolsa Família. Você sabe quantas pessoas
são beneficiadas por ele? O Bolsa Família foi criado em 2003 e regulamentado em 2004 e objetiva:
1) A segurança alimentar e nutricional da população;
2) A erradicação da pobreza extrema, ou seja, da miséria; e
3) O alívio imediato da pobreza, através da transferência de renda para complementação da
renda familiar.

São beneficiárias do programa as famílias com renda per capita até no máximo R$70,00 mensais. O
programa é composto de um benefício básico, de valor igual R$68,00; de um benefício variável, de
valor igual a R$22,00 por criança (até no máximo 3), que a família recebe se tiver crianças de 0 a 15
anos. Nesse caso, o benefício total seria dado pela soma:

R$ 68,00 + R$ 22,00 POR CRIANÇA, ATÉ, NO MÁXIMO 3.

O programa conta, ainda, com um benefício variável vinculado ao adolescente, de valor igual a
R$33,00 (até no máximo 2), que a família recebe se tiver adolescentes com idade entre 16 e 17 anos.
Nesse caso, o valor total do benefício seria dado por:

R$68,00 + R$ 22,00 POR CRIANÇA (ATÉ NO MÁXIMO 3) +


R$ 33,00 POR ADOLESCENTE (ATÉ NO MÁXIMO 2).

Observe que um beneficiário pode receber até no máximo R$ 200,00 do programa. Um valor
significativamente alto, para uma família de renda muito baixa.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

3. Recapitulando

Nesta unidade, estudamos duas importantes questões que se constituem em dois desafios para o
poder público brasileiro. Em primeiro lugar, definimos Transição Demográfica e o processo de
envelhecimento populacional, que decorre da Transição. Em segundo lugar, o problema da má
distribuição de renda no país.

Vamos primeiro recapitular as questões relativas à Transição Demográfica...

Quando uma população envelhece, a sua estrutura etária muda daquela tradicional de uma
população jovem – de base larga e topo estreito – para outra, característica de uma população
envelhecida – de base estreita e topo largo. Nesse processo, há, inclusive, um aumento da idade
média da população. Vimos, através das pirâmides etárias brasileiras de 1980 a 2050, como é rápido
o envelhecimento da estrutura etária brasileira... o segundo mais rápido do mundo, perdendo apenas
para a Venezuela.

Nos países em desenvolvimento, a transição demográfica leva uns 150 anos para atingir a última
etapa, portanto, o envelhecimento populacional foi bastante lento ao longo do tempo, o que é
extremamente positivo, principalmente quando consideramos que nos países desenvolvidos há uma
preocupação com o planejamento de longo prazo...

No Brasil, a transição demográfica tem sido acelerada. Como se mencionou anteriormente, é um dos
processos de envelhecimento mais acelerados do mundo, perdendo apenas para a Venezuela. Isso é
preocupante, pois se por um lado exige uma atenção especial do poder público na elaboração de
políticas públicas de médio e longo prazo, para garantirem uma melhor qualidade de vida ao
brasileiro, por outro lado, por tudo que estudamos na Unidade 4, podemos afirmar que no Brasil não
temos a tradição de planejamento para o longo prazo.

Conhecemos, nesta unidade, alguns indicadores do envelhecimento populacional. Vimos as razões


de dependência demográfica, e aprendemos a interpretá-las. Não se esqueça de que são razões
demográficas e seus resultados são melhores compreendidos quando analisados em conjunto. Vimos
o índice de idosos e as estimativas da idade média da população brasileira, até 2050. Todos refletem
o envelhecimento populacional brasileiro ao longo do período 1980-2050.

Algumas questões foram colocadas para aguçar nossas reflexões... Alguns desafios que o processo
de transição demográfica e o envelhecimento populacional dele decorrente colocam

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

para o governo, em relação à adaptação das políticas públicas, principalmente das políticas sociais. O
governo deverá pensar em políticas para a saúde, priorizando a saúde dos idosos; para a educação,
podendo-se priorizar a qualidade do ensino para crianças e adolescentes e/ou a educação para
adultos e idosos; para o sistema de transporte público, que deve ser adaptado de forma a garantir
maior segurança aos idosos. Mas, dentre todos, o maior desafio relaciona-se à manutenção da
Previdência Social, já que que serão muitos os beneficiários para um número relativamente pequeno
de contribuintes.

Finalmente vamos recapitular as questões relativas à distribuição de renda. Vimos que a


concentração de renda no Brasil é fruto de uma evolução histórica que teve seu ponto de partida com
o início da colonização brasileira pelos portugueses. A concentração da terra determinou a
concentração da riqueza já que naquele momento histórico a terra se constituía a principal riqueza
disponível

Vimos também que a má distribuição de renda no Brasil também é resultado de decisões políticas
que se manifestaram em ações governamentais que, ao mesmo tempo, visavam ao fortalecimento
econômico e contribuíam para a manutenção de uma determinada estrutura de classes que se
baseava na concentração da renda.

Outro ponto fundamental para a manutenção da desigualdade na distribuição da renda é a estrutura


tributária brasileira que onera de modo significativamente maior os indivíduos que vivem da renda do
trabalho do que os indivíduos que vivem de ganhos especulativos.

O índice de Gini é largamente utilizado para verificar o grau de concentração da renda em uma
economia e seu intervalo de variação implica a variação entre uma perfeita distribuição (quando o
índice assume valor 0) e uma perfeita concentração (quando o índice assume valor igual a 1).

Vimos também que, de acordo com o IBGE o índice de Gini no Brasil, entre 1992 e 2007, foi reduzido
paulatinamente, mostrando que a renda brasileira vem sendo distribuída de forma mais igualitária,
apesar de ainda ser bastante concentrada.

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Disciplina: Economia
Autor: Joseane de Souza Fernandes

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