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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0116837-72.2013.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -
COELBA
RECORRIDA: ANA ROZA COSTA DE JESUS
JUIZ PROLATOR: BEATRIZ MARTINS DE ALMEIDA ALVES DIAS
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE SERVIÇO DE ENERGIA
ELÉTRICA. DÍVIDA CONTRAÍDA POR TERCEIRO SEM
CONHECIMENTO DA PESSOA EM CUJO NOME FOI
REGISTRADA. INSCRIÇÃO IMERECIDA EM ÓRGÃO DE
RESTRIÇÕES CREDITÓRIAS. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR
MODERADO. MANUTENÇÃO INTEGRAL DO JULGADO.
NÃO PROVIMENTO DO RECURSO.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Recorrente, COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA – COELBA, pretende a reforma da sentença lançada nos autos que, reconhecendo
sua responsabilidade pela inscrição indevida do nome da Recorrida, ANA ROZA COSTA
DE JESUS, em cadastro de inadimplentes, condenou-a ao pagamento de indenização por
danos morais, no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais).

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros
desta Egrégia Turma.

VOTO

A sentença recorrida, tendo analisado corretamente todos os aspectos do


litígio, merece confirmação integral, não carecendo, assim, de qualquer reparo ou
complemento dentro dos limites traçados pelas razões recursais, culminando o julgamento do
recurso com a aplicação da regra inserta na parte final do art. 46 da Lei nº 9.099/95, que
exclui a necessidade de emissão de novo conteúdo decisório para a solução da lide, ante a
integração dos próprios e jurídicos fundamentos da sentença guerreada.

A título de ilustração apenas, fomentada pelo amor ao debate e para realçar


o feliz desfecho encontrado para a lide no primeiro grau, alongo-me na fundamentação do
julgamento, nos seguintes termos:

O intricado conceito da figura do consumidor não se resume ao texto do


art. 2º do CDC, já que nesse mesmo diploma se encontram outras equiparações (arts. 17 e
29), não havendo dúvida de que a parte recorrida se apresenta na condição de vítima do
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evento debatido, que, assim, deve ser investigado à luz do CDC.

Nesse diapasão, à míngua de prova de ter a parte autora contratado o


serviço objeto da discussão, sobressai a responsabilidade civil da concessionária de energia
pela atuação deficiente, oriunda do próprio risco da atividade econômica, sem olvidar a
óbvia impossibilidade de se compelir o consumidor a fazer prova negativa da contratação,
atribuindo-lhe, portanto, o ônus de provar causa legal excludente, algo de que não se
desincumbiu.

“A simplificação de procedimentos para agilização da atividade


econômica, em prejuízo da segurança, é risco assumido pela empresa para bem exercer sua
atividade de fins lucrativos. Se houve falha nesse procedimento, advindo dano à vítima, esta
não pode ser responsabilizada, mas a própria empresa, que assumiu o risco de sua
ocorrência ao exercer a atividade econômica”. (TAPR – AC 0244359-0 – (209920) – Foz do
Iguaçu – 6ª C.Cív. – Rel. Juiz Luiz Carlos Gabardo – DJPR 20.08.2004).

Merece salientar que, para o CDC, somente a atuação isolada e exclusiva


de terceiro faz desaparecer a relação de causalidade entre a atuação do fornecedor acionado e
o evento danoso, dissolvendo-se a responsabilidade civil cogitada. Concorrendo de alguma
forma para o resultado lesivo, mediante ação ou omissão, o fornecedor envolvido atrai para
si a responsabilidade integral perante o consumidor pelas consequências advindas, não
podendo isentá-lo a eventual participação concorrente de terceiro.

Com isso, não evidenciado que foram esgotados todos os meios de


segurança disponíveis para a verificação da verdadeira identidade da pessoa que contratou os
serviços de energia dizendo-se ser a Recorrida, não permitindo cogitar a culpa exclusiva de
terceiro, já que presente a atuação negligente da fornecedora envolvida, concorrente para o
evento, mostram-se escorreitas todas as conclusões do MM. Juiz a quo, especialmente no
que concerne a condenação ao pagamento de indenização pelos inegáveis prejuízos morais
sofridos pela consumidora em razão da inscrição imerecida de seu nome no cadastro de
inadimplentes.

Segundo pacífico entendimento da jurisprudência, a inclusão indevida no


rol de maus pagadores é evento ilícito apto por si só a gerar prejuízo de natureza moral,
independentemente da comprovação efetiva de prejuízo1.

Quanto ao valor da indenização, entendo que, não se distanciando muito


das lições jurisprudenciais, deve ser prestigiado o arbitramento do juiz de primeiro grau que,
próximo dos fatos, pautado pelo bom senso e atentando para o binômio razoabilidade e
proporcionalidade, respeita o caráter compensatório e inibitório-punitivo da indenização, que
dever trazer reparação indireta ao sofrimento da ofendida e incutir temor no ofensor para que
não dê mais causa a eventos semelhantes.

Na situação em exame, entendo que o MM. Juiz a quo respeitou as balizas

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– APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – Negativação indevida do nome do apelado junto ao
serviço de proteção ao crédito - Dano moral configurado passível de indenização - Ato ilícito e nexo comprovados - Arbitramento do
quantum indenizatório - Diminuição - Recurso conhecido e provido em parte. (TJSE – AC 2006213583 – (1308/2008) – 1ª C.Cív. – Relª
Desª Maria Aparecida Santos Gama da Silva – J. 31.03.2008)
– RECURSOS SIMULTÂNEOS – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
NEGATIVAÇÃO DO DEVEDOR NO SPC E SERASA – DANO MORAL CARACTERIZADO – DESNECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DOS PREJUÍZOS – APELOS IMPROVIDOS – "Na concepção moderna da reparação do dano moral, prevalece a
orientação de que a responsabilidade do agente se opera por força do simples fato da violação, de modo a tornar-se desnecessária a prova
do prejuízo concreto. Comprovada a conduta ilícita, impõe o arbitramento do quantum indenizatório, que deverá levar em conta o prestígio
da vítima no meio social, a capacidade financeira do autor do dano, bem como os princípios da razoabilidade e proporcionalidade ". (TJBA
– AC 31.644-0/2003 – (52727) – 1ª C.Cív. – Rel. Des. Robério Braga – J. 03.12.2003)
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assinaladas, tendo fixado indenização em valor moderado, que, assim, não caracteriza
enriquecimento sem causa da Recorrida e não provoca abalo financeiro a Recorrente ante ao
seu potencial econômico.

Assim sendo, diante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e


NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto, confirmando, consequentemente, todos os
termos da sentença hostilizada, com a condenação do Recorrente, COMPANHIA DE
ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA – COELBA, ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios que arbitro em 20% (vinte por cento) do valor da
condenação pecuniária imposta, atentando, especialmente, para a natureza, a importância
econômica da ação, bem como o trabalho da profissional que defendeu os interesses da parte
recorrida.

Salvador, Sala das Sessões, 30 de junho de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0116837-72.2013.8.05.0001
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -
COELBA
RECORRIDA: ANA ROZA COSTA DE JESUS
JUIZ PROLATOR: BEATRIZ MARTINS DE ALMEIDA ALVES DIAS
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE SERVIÇO DE ENERGIA
ELÉTRICA. DÍVIDA CONTRAÍDA POR TERCEIRO SEM
CONHECIMENTO DA PESSOA EM CUJO NOME FOI
REGISTRADA. INSCRIÇÃO IMERECIDA EM ÓRGÃO DE
RESTRIÇÕES CREDITÓRIAS. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR
MODERADO. MANUTENÇÃO INTEGRAL DO JULGADO.
NÃO PROVIMENTO DO RECURSO.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto,
confirmando, consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada, com a
condenação do Recorrente, COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA – COELBA, ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios
que arbitro em 20% (vinte por cento) do valor da condenação pecuniária imposta,
atentando, especialmente, para a natureza, a importância econômica da ação, bem
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como o trabalho da profissional que defendeu os interesses da parte recorrida.

Salvador, Sala das Sessões, 30 de junho de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

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