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KEITH SWANWICK "Os interesses musicais dos estudantes são variados. O professor precisa dominar um
leque de atividades para atender a essas demandas." Foto: Marina Piedade
A história é conhecida: em agosto de 2008, o presidente Lula sancionou uma lei que torna
obrigatório o ensino de Música na Educação Básica. Por enquanto, o que se sabe é que as redes
têm até 2012 para se adaptar às exigências da norma. Sobre quase todo o resto, porém, paira
uma atmosfera de indefinição. Haverá uma disciplina específica ou integrada ao currículo de
Arte? A aula será teórica ou incluirá um componente prático? O professor polivalente poderá
ensiná-la? Qual a formação mais adequada? Uma excelente fonte para refletir sobre essas
dúvidas é a obra do inglês Keith Swanwick. Professor emérito do Instituto de Educação da
Universidade de Londres e formado pela Royal Academy of Music, o mais aclamado
conservatório musical da Grã-Bretanha, ele criou teorias sobre o desenvolvimento musical de
crianças e adolescentes e investigou diferentes maneiras de ensinar o conteúdo. "Os interesses
musicais dos alunos são muito variados: alguns gostam de ouvir, outros querem compor ou
ainda cantar e tocar. O professor precisa dominar um leque de atividades para atender a essas
demandas", defende. Swanwick já esteve no Brasil 15 vezes, a mais recente delas em novembro
do ano passado, a convite da Associação Amigos do Projeto Guri, em São Paulo, para uma
palestra sobre Educação musical. Após o evento, ele conversou com NOVA ESCOLA.
Existem ritmos mais apropriados para cada uma das faixas etárias?
SWANWICK Não. A variação de ritmos é importante para favorecer o desenvolvimento da
turma. Também não diria que exista uma sequência mais adequada, do tipo "primeiro música
clássica e depois popular". É claro que pode ser inadequado submeter a criança pequena ao rock
pesado, por exemplo, porque ela não vai se identificar com esse tipo de som. Mas é interessante
apresentar a ela alguns tipos de percussão. Na outra ponta, talvez os mais velhos não queiram se
aproximar de canções de ninar porque elas não fazem mais parte de seu universo. De qualquer
forma, um bom conselho é evitar rotular os estilos musicais, pois esse tipo de estereótipo pode
afastar. Se eu digo para um adolescente para ouvir apenas Beethoven (1770-1827) quando seu
interesse é o rock, ele não vai dar a devida atenção e pode pensar: "Isso não serve para mim".
Por isso, não falo de antemão para os alunos que eles vão ouvir uma música de determinado
tipo. É preciso contextualizar a criação de modo que o estilo seja apenas um dos dados sobre a
música.
Criar uma lei que torne compulsório o ensino de Música é uma boa ideia?
SWANWICK Acredito que é uma boa iniciativa porque oferece às diferentes classes sociais
oportunidades iguais de aprender. Nem todas as crianças têm a chance de frequentar um curso
de música pago por seus pais em uma instituição privada. Possibilitar esse acesso nas escolas
públicas é muito bom. Mas é preciso ficar atento ao conteúdo dessas aulas. Toda criança gosta
de música. É natural do ser humano. Mas uma aula de música mal dada pode estragar tudo. Se
ela for distante demais da realidade do aluno ou excessivamente teórica, por exemplo, o
estudante pode ficar resistente ao ensino de Música e piorar a situação.
Muitas vezes, o principal objetivo das aulas de Música é preparar as crianças para
apresentações em datas comemorativas. Isso é ruim?
SWANWICK Você não pode impedir os pais de querer ver os filhos no palco em uma festa. A
tentação de mostrar a criança é muito grande não apenas na música como também nos esportes
e em recitais de poesias, por exemplo. Entretanto, é preciso fugir da armadilha de reduzir o
ensino de Música a essas atividades. Também não se pode cair na ideia de que o objetivo escolar
é formar músicos ou apenas fazer com que as crianças gostem um pouco mais de música.
BIBLIOGRAFIA
Ensinando Música Musicalmente, Keith Swanwick, 128 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-17-2002, 36 reais
Music, Mind and Education, Keith Swanwick, 192 págs., Ed. Routledge (em inglês, sem edição no Brasil),
45,95 dólares