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1 Julgar – Comunidade São Rafael

1.1 Introdução
Um julgamento pode ser entendido como uma comparação
entre um modelo ideal com uma realidade que se apresenta. O “julgar”
feito por mim, da comunidade São Rafael, seguiu esse modelo, desse
modo confrontar-se-á nesse texto, de forma objetiva e sucinta, o que a
Igreja espera de uma comunidade e o que eu pude perceber na
realidade da comunidade São Rafael.
O concílio Vaticano II é entendido por muitos como um marco na
história da Igreja, sobretudo sob o prisma pastoral. É inegável que ele
propôs grandes modificações no modo de ser Igreja no mundo,
entretanto com as devidas particularidades, o que os padres conciliares
esperam de uma comunidade cristã é o mesmo que se esperou durante
toda a história da Igreja, que elas sejam autenticamente cristãs.1
Embora seja redundante e obvio tal expectativa acerca das
comunidades cristãs, qualquer um que use seu senso crítico e que esteja
empenhado em seu processo de conversão sabe que não é tarefa fácil
ser um autêntico cristão, bem como formar uma comunidade
verdadeiramente cristã.
A paróquia e suas comunidades é a forma através da qual a
Igreja se faz próxima de seu povo.2 Assim sendo, uma comunidade estará
se convertendo à Cristo, na medida em que ela busca viver os valores
evangélicos, de modo especial, através da unidade com a Igreja. Em
outras palavras, a Eucaristia e a fidelidade ao Magistério e a Tradição
expressam a unidade, mas esta também se manifesta com a adesão da
paróquia aos projetos diocesanos de pastoral.3
Desse modo, na sequência desse trabalho será utilizado como
baliza o Plano Diocesano da Ação Evangelizadora da diocese de
Campo Mourão. Entretanto, a fim de se alcançar aquilo que foi proposto

1 Cf. Decreto Presbyterorum Ordinis n.6.


2 Cf. Constituição Dogmática Lumen Gentium n.29.
3 Cf. Decreto Christus Dominus n.35.
no início desse texto e iluminar a nossa reflexão, beberemos de outras
fontes do Magistério da Igreja.

1.2 A comunidade São Rafael


A comunidade São Rafael se localiza no distrito do Malu, em Terra
Boa. Pertence à Paróquia São Judas Tadeu e fica distante cerca de 20
km da Matriz. Estima-se que há cerca de 200 famílias nessa comunidade.
Malu foi fundada em 1950, pela Companhia Melhoramentos do
Paraná, hoje Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, que usou dos
mesmos métodos na fundação de outras cidades. Segundo os primeiros
moradores, o nome Malu é em homenagem a uma mulher. Nas histórias
relatadas não se sabe ao certo, poderia ser de uma índia, porque nas
terras de Malu, foram encontradas muitos objetos indígenas, outra versão
em homenagem à filha de um engenheiro, que contribuiu para a
delimitação da área.
A Companhia de Terras do Norte do Paraná foi organizada em
São Paulo, sendo constituída em 24 de setembro de 1925.
A Companhia dedicou-se intensamente à colonização das terras
adquiridas na margem esquerda do Paranapanema, entre os rios Tibagi
e Ivaí.
Malu foi construída sobre uma laje de pedra, assim contam seus
primeiros moradores, sendo difícil a aquisição de água; imigrantes de
Portugal por ouvir falar das terras desta região aqui também chegaram
para cultivar a terra, contam que nos quinze dias de travessia no mar
vinham juntos os sonhos, as esperanças; assim também como imigrantes
alemães, italianos, espanhóis, japoneses, poloneses ou seus
descendentes. Muitos de Estados Brasileiros, como paulistas, catarinenses,
alagoanos, pernambucanos, mineiros, paraibanos, etc., desbravaram as
matas que aqui havia. Dentre os primeiros fundadores temos: Arthur
Marques, Benigno Caetano Alves, Clodoaldo Barbosa Braga, Dadirce
Damasio de Souza, Francisco Mariano, Guido de Mattos Rodrigues, João
Alves, João Celestino de Souza, Levino José de Souza, Manoel de Souza,
Manoel Evaristo da Silva, Sebastião Sérgio e Quirino Dias Reis.
Sebastião Sérgio tinha uma pensão onde hospedava as pessoas
que vinham de fora comprar terras aqui. A primera casa de comércio foi
do Senhor João Alves.
Em 14 de dezembro de 1953, foi empossado a Senhor Carlos
Marcondes como primeiro prefeito do Município de Terra Boa e o Distrito
de Malu recebeu o Senhor Pedro Ribeiro como Sub-Prefeito.
Malu começou a progredir em 1959, com o encanamento de
água, a energia elétrica chegou ã Malu em 1961, sendo o primeiro Distrito
do Estado do Paraná a receber energia elétrica.
A região de Malu é muito conhecida pelas riquezas de suas terras,
sendo o orgulho de seu povo. Sua população trabalha, em sua grande
maioria, na agricultura.4 Há muitos jovens que já deixaram a localidade
em busca de oportunidade de trabalho em outras áreas.

1.3 A comunidade São Rafael e sua adesão ao PDAE


O Plano Diocesano da Ação Evangelizadora de nossa diocese,
estabeleceu como urgências evangelizadoras a família, a catequese e
a juventude.

1.3.1 Família
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes nos ensina que a
salvação tanto da pessoa quanto da sociedade está intimamente ligada
à família, pois o testemunho da família cristã manifesta a presença viva
do Salvador no mundo e a verdadeira natureza da Igreja.5
A família passa por uma grave crise na sociedade atual. Diante
de tal situação o Papa Francisco convocou um sínodo para discutir tais
desafios. Na premissa do instrumento de trabalho para este sínodo a

4 Cf. http://terraboa.pr.gov.br/malu/
5 Cf. Constituição Pastoral Gaudium et Spes. n.47.
Igreja reafirma que é parte imprescindível de sua missão o anúncio do
Evangelho da família. 6
A crise da família é uma realidade já presente no período concílio
Vaticano II e, nos últimos tempos, tem se agravado. Percebendo tal
situação em nossa realidade a Diocese de Campo Mourão definiu três
projetos que deveriam ser implantados entre 2011 e 2014.
1. Ajudar a família a viver melhor os valores cristãos: as famílias
precisam resgatar os seus valores e princípios essenciais. Isso
será obtido através de diversas medidas, tais como:
promoção de retiros, palestras, criação de espaço para
escuta, acolhida e aconselhamento nas paróquias.
2. Implantação da Pastoral Familiar: atendendo à
Conferência de Aparecida, que afirma que tal pastoral é
um importante instrumento para que a família se torne um
lugar de realização humana e santificação, dever-se-á,
implantá-la em todas as paróquias, seguindo a orientação
do diretório da pastoral familiar da CNBB.
3. Ampliar e fortalecer as ações solidárias e samaritanas em
defesa e a serviço da vida, já existentes na diocese: tal
projeto visa promover a sensibilidade e o compromisso das
pessoas para com os mais pobres.7

Na Comunidade São Rafael não foi implantada nenhuma das


medidas propostas pela Diocese de Campo Mourão para socorrer as
urgências pastorais que tangem a família. E, atualmente, na comunidade
não há nenhum trabalho que tange essa realidade.

1.3.2 Catequese

6 Os desafios da família no contexto da evangelização. Instrumentum laboris.


Premissa.
7 PDAE p.11-22.
A catequese é uma educação para a fé que ensina a doutrina
cristã, de modo orgânico e sistemático8, com o fim de tornar a fé viva,
explícita e operosa, iniciando os cristãos na plenitude da vida cristã. 9 Ela
é ligada com toda a vida da Igreja e um necessário instrumento para que
a Igreja corresponda ao desígnio de Deus.10
A formação dada pela catequese é muito mais do que um
ensinamento, é um aprendizado sobre toda a vida cristã. Deve favorecer
ao autêntico seguimento de Cristo, levando a cada catequisando a um
encontro pessoal com Jesus.11
Há inúmeras situações diferentes, bem como recursos diversos na
sociedade hodierna. O Concílio Vaticano II nos exorta a nos adequarmos
aos diferentes contextos e utilizar todos os recursos que possam ajudar
para que a catequese alcance o seu objetivo.12
No Diretório Nacional para a Catequese, a CNBB, orienta para
que a catequese seja vivencial e não como um curso acadêmico. A fim
de se expressar essa mudança na forma de ensinar a doutrina católica,
tal catequese deve ser chamada de catequese renovada.13
Percebendo que tais mudanças solicitadas pela Igreja ainda não
foram implementadas na Diocese de Campo Mourão, o PDAE propõe
dois projetos:
1. Acolher e acompanhar as pessoas que demonstrarem
interesse em ser catequistas: essa acolhida se dará por ritos
litúrgicos para a apresentação dos catequistas para toda a
comunidade e pela formação permanente dos mesmos,
sobretudo através da Escola Paroquial Bíblico-Catequética.
2. Iniciação à Vida Cristã, um novo modelo de catequese:
nesse projeto serão implantados, conforme a realidade

8 Cf. Decreto Christus Dominus n.14.


9 Cf. CIC n.5.
10 Cf. CIC n.7.
11 Cf. DGC n.67.
12 Cf. Decreto Christus Dominus n.13.
13 Cf. DNC n.10-13.
local, o que é proposto pelo Diretório Geral de Catequese
e pelo Diretório Nacional de Catequese.14

Na comunidade São Rafael a catequese ainda segue o modelo


antigo, que se assemelha a uma sala de aula tradicional. A paróquia não
tem oferecido aos catequistas das comunidades a oportunidade de que
tais projetos sejam implementados nas comunidades. É notório que a
catequese na Matriz está muitos passos à frente da catequese nas
comunidades.

1.3.3 Juventude

A juventude é o período em que se concentram os maiores riscos,


problemas e desafios. Entretanto, é a fase na qual há mais energia,
criatividade, generosidade e potencial para engajamento.15
Atualmente, os jovens, exercem uma forte influência na sociedade
moderna, haja vista as mudanças que ocorreram em sua mentalidade,
nas relações familiares, enfim, em sua vida.16
Incluir o jovem na Igreja é olhar para as inúmeras tensões que eles
estão submetidos e para as diferentes dimensões que o compõem. A
juventude requer uma estrutura que promova seu desenvolvimento
integral, desse modo a sua evangelização deve abarcar sua vida
pessoal, familiar, profissional, pública, etc.17
Tal inclusão deve promover o amadurecimento do jovem,
levando-o a tomar consciência de sua personalidade. O trabalho do
jovem é marcado por um grande ardor pela vida o que os constituem,
por excelência, os melhores evangelizadores para a própria juventude.18

14 Cf. PDAE p.23-28.


15 Cf. DOC 85 n.26.
16 Cf. Decreto Apostolicam Actuositatem n.12.
17 Cf. DOC 85 n.27.
18 Cf. Decreto Apostolicam Actuositatem n.12.
A Igreja olha para a juventude com confiança e amor, pois
possuem em comum o que é a força e o encanto da juventude: Possui o
que constitui a força e o encanto dos jovens: a faculdade de se alegrar
com o que começa, de se dar sem nada exigir, de se renovar e de partir
para novas conquistas.19
O PDAE, atendendo as propostas do Documento de Aparecida,
propõe três projetos para atender a urgente demanda da
evangelização da juventude:
1. Reconhecimento e fortalecimento das Juventudes: reunir e
motivar as lideranças jovens presentes na diocese e nas
paróquias.
2. Fortalecimento do Setor Juventude: promovendo
assembleias, formação, momentos de espiritualidade,
inserção de jovens nas diversas pastorais.
3. Construir uma ligação entre Catequese e pós Crisma, com
a criação de grupos de adolescentes e formação dos
grupos de jovens: agrupar e motivar os jovens para que
continuem a sua caminhada eclesial após receberem o
sacramento do Crisma. Tal projeto daria continuidade ao
trabalho desenvolvido pela catequese junto aos jovens.20

Na Comunidade São Rafael há um grupo de jovens muito ativo.


Estes se reúnem semanalmente e são muito disponíveis para atender as
solicitações da paróquia, embora não haja um acompanhamento dos
mesmos pelo padre responsável pela juventude.
O trabalho com a juventude que se desenvolve no Malu não é
uma resposta a nenhum dos projetos do PDAE. Ele surgiu a partir dos
clamores da realidade local.

19 Cf. MENSAGEM DO PAPA PAULO VI NA CONCLUSÃO DO CONCÍLIO


VATICANO II AOS JOVENS
20 Cf. PDAE p.29-32.
1.3.4 Considerações acerca do PDAE

As poucas iniciativas que existem na comunidade São Rafael não


estão concatenadas com o que foi proposto pela diocese através do
PDAE. É visto que na Comunidade Matriz há mais iniciativas e que esta
recebe maior atenção dos sacerdotes da paróquia, que restringem a sua
participação na Comunidade São Rafael a celebração de Missas.

1.4 Os padres e a comunidade

Os presbíteros, em união aos bispos, participam do mesmo e único


sacerdócio de Cristo. 21 Os párocos, auxiliados pelos vigários, são
especiais colaboradores dos bispos, aos quais foram confiados o cuidado
das almas dessa célula que compõem a diocese.
O trabalho desempenhado pelos párocos é o de ensinar,
santificar e reger os fiéis para que as comunidades se sintam membros da
diocese e da Igreja universal.
Em seu ofício de ensinar, os párocos devem pregar a Palavra de
Deus a todos os fiéis, para que fundados na fé, esperança e caridade,
deem testemunho do Evangelho.
Em seu trabalho de santificar, os párocos devem zelar pela liturgia
e promover a participação frequente, ativa e consciente do povo nos
Sacramentos.
No exercício do múnus de pastor, os párocos devem conhecer e
cuidar de seu povo. Promovendo a vida cristã pessoalmente, nas famílias
e instituições que estão em sua paróquia. Devem visitar as famílias,
escolas e empresas, enfim, devem estar junto do povo para animá-los na
vivência cristã.22
Na comunidade São Rafael, conforme foi dito anteriormente, o
pároco e seu vigário apenas celebram a Missa. O povo carece da
presença de seu pastor. Com isso há pouco engajamento e os trabalhos

21 Cf. Decreto Presbyterorum Ordinis n.7.


22 Cf. Decreto Christus Dominus n.30.
realizados ficam à mercê dos postulantes que lá fazem pastoral. Como a
atividade pastoral do postulante dura apenas um ano, não há trabalhos
mais significativos. Pois estes demandam tempo e há trabalhos que
necessitam da presença do sacerdote.
Devido à falta de zelo pastoral, o número de pessoas que
participam ativamente da comunidade diminui a cada dia. Não há
nenhuma estruturação pastoral. Os leigos que estão à frente da
comunidade não possuem formação para tal ofício.

1.5 Conclusão

A situação da Comunidade São Rafael é preocupante. Faltam


lideranças, faltam leigos bem formados, falta a estruturação da
comunidade para atender ao PDAE, bem como as outras diretrizes que
orientam a formação das comunidades.
Há um povo carente da presença de seu pastor. Não há nenhum
atendimento pastoral na comunidade. Urge socorrer o povo de Deus em
suas necessidades e tal dever, em primeiro lugar, deve ser cumprindo por
aquele a quem lhe confiado confiado, o pároco.
Com isso, não há nenhum sentimento de pertença a paróquia. A
comunidade caminha segundo seus próprios interesses e necessidades,
sem a participação do clero local nas tomadas de decisões e
formulação dos projetos e atividades desenvolvidas na comunidade.

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