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A teoria de Habermas se relaciona a de outros filósofos que viam a materialidade do
espaço como um fator de suma importância à constituição da esfera pública,
defendendo a visão de espaço público como constituinte privilegiado da vida cidadã,
são eles Hanna Arendt, Richard Sennet e Otília Arantes
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A primeira contribuição de Habermas ao pensamento da escola de Frankfurt foi o
livro Mudança Estrutural da Esfera Pública, publicado orignalmente em 1962.
Habermas abre seu livro, propondo tanger os vários conceitos de público, definindo a
esfera pública em mutação desde a Grécia Antiga, princípio organizacional de nosso
ordenamento político. O autor trilha um percurso liner de abordagem que tange o
público como tudo o que é acessível, a constituição do poder público, a natureza
pública e defende a opinião pública, ponto central de seu discurso.
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O ponto crucial de seu discurso está na esfera pública assumida como um espaço de
discussão em condições de construir consenso e universalidade entre seus
integrantes. Habermas parte do contexto grego antigo em que o homem se
expressava livremente no contexto clássico de esfera pública e esse indivíduo o assim
fazia destacando-se do seu foro privado. Em uma abordagem que demonstra a
multiplicidade de vozes envolvendo os significados de público e esfera pública, o
filósofo Alemão, mostra historicamente que as categorias de público e privado só
passaram a ter uma efetiva aplicação processual jurídica com o surgimento do Estado
moderno.
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Segundo Habermas, não existiu uma antítese entre esfera pública e privada no
modelo clássico antigo. Na Idade Média, a casa do senhor posicionava-se ao centro
da organização econômica do trabalho social. Na tradição germânica, no século XVIII,
a autoridade “privada” e “pública” fundem-se numa inseparável unidade, já que
ambas são a emanação de um único poder, ou a relação entre diversas ordens de
poder.
“Se entendemos o país como a esfera do público, então na casa e no poder nela
exercido pelo dono da casa temos mesmo é de tratar de um poder público de segunda
ordem”, portanto havia uma única associação que fundia o que era público do que era
privado
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O autor parte de uma idealização do modelo helênico, na qual à luz da esfera pública
tudo se torna visível. O que é ou não público já era uma questão recorrente desde a
cidade-estado grega antiga, onde há uma separação entre a esfera da pólis, comum
aos cidadãos livres e rigorosamente separada da esfera do que é particular a cada
indivíduo (oikos/idia). Assim como Arendt, Habermas recorre aos gregos antigos para
afirmar que o privado está relacionado àquilo que não se deve mostrar e à
necessidade enquanto o público está ligado à liberdade e ao que se mostra aos
outros. A vida privada centrava-se na figura de um désposta, numa relação patriarcal,
a esfera privada se personificava na esfera pública, com a possibilidade de se
expressar civilmente.
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No contexto feudal, há uma fundamentação da ideia de representatividade, em que
toda vida comum acontecida em um âmbito patriarcal, centrada na figura de seu
representante, da figura pública. Aqui que a corte e burguesia se divergem. “A
mentalidade burguesa se diferencia da mentalidade da corte, pois na mansão
burguesa, mesmo o salão de festas ainda é habitável, enquanto que no castelo, até
mesmo o espaço de moradia é festivo”.
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Rumo à modernidade esfera pública e privada se separam, ocorrendo uma cisão
entre Estado e sociedade. O Público refere-se ao estado formado com o Absolutismo,
que se objetiva perante a pessoa do soberano e Privado, àqueles que estão privados
do serviço público, contrapostos à autoridade, dela excluídos, os súditos. O Público
serve (a autoridade) ao bem comum, enquanto os privados perseguem os seus
interesses. O texto elucida que uma última forma de representatividade pública na
corte dos monarcas já se mostrava enfraquecida, à medida que a sociedade ia se
separando do Estado marcando a separação entre as esferas pública e privada no
contexto moderno.
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O nobre é o que ele reproduz; o burguês o que ele produz. “Se, através da
representação da sua pessoa, o nobre revela tudo, o burguês não revela nem deve
revelar nada através de sua personalidade – O público já é, no entanto, portador de
uma outra publicidade que já não tem mais nada em comum com a representativa.
Nesse ambiente, delineou-se a esfera da sociedade burguesa que se contrapõe ao
Estado como setor da autonomia privada. Tendo a Alemanha como cenário e
adotando a perspectiva defendida por Wilhelm Meister, Habermas mostra que certas
formas de representatividade pública exerceram forte influência até o século XIX.
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Habermas apresenta a mutação do conceito de esfera pública de um contexto feudal
baseado na representatividade pública daquilo que é privado, quando não há
distinção entre estado e sociedade, à uma ordem constitucional burguesa liberal,
apontando à clara distinção entre público e privado e a apresentação de um cenário
de vazão ao debate político crítico-racional, expressão do fenômeno da opinião
pública.
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A gênese da esfera pública, acontece num contexto de expansão do mercado que faz
com que o sistema de comunicações sociais amplie seu alcance, e nesse período se
formule as bases à uma nacionalização da economia local. Surge então o Estado
Moderno, ou seja, uma cisão entre os bens da Casa Real e os bens do Estado. “A
redução da representatividade pública que ocorre com a mediação das autoridades
estamentais através dos senhores feudais cede espaço a uma outra esfera, que é
ligada à expressão esfera pública no sentido moderno: a esfera do poder público”.
O público torna-se sinônimo de estatal; o atributo não se refere mais à corte, com
uma pessoa investida de autoridade, mas antes ao funcionamento regulamentado,
de acordo com competências, de um aparelho munido do monopólio da utilização
legítima da força, uma vez que o Estado tinha a seu serviço o Exército.
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O filósofo alemão objetiva defender o conceito de esfera pública e a presença
daqueles que a compõem, sujeitos portadores de opinião pública. Para ele, a esfera
pública constitui-se no espaço independente da influência do poder do Estado, em
que os atores sociais publicitam seus pontos de vista sobre questões de interesse da
sociedade, promovendo o debate e deliberações coletivas em prol de um bem
comum.
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O foco de análise da representatividade leva Habermas a ponderar sobre o meio em
que se originou a esfera pública burguesa. Para o autor, com o surgimento do
capitalismo mercantil do século XIII, começa um processo de troca e movimentação
de mercadorias e de informações que constitui o comércio capitalista da época.
Nesse âmbito, a burguesia, sob o imperium do Estado, ergue sua própria conjuntura
nas cidades e no comércio, levando a uma crescente contraposição entre as esferas
pública e privada, fato que gera uma perda de espaço de representatividade pública.
Uma vez que não está mais sob o dominium do poder soberano, a burguesia vai
então se constituindo como classe consciente. Nesse processo, Habermas mostra que
os senhores feudais e sua representatividade pública cederam espaço a outra esfera,
a esfera do poder público, no sentido moderno do termo, onde público torna-se
sinônimo de estatal, com um funcionamento regulamentado segundo competências
de um aparelho. Dessa maneira, o poderio senhorial transformou-se em "polícia" e as
pessoas privadas, submetidas a ela, constituíram um "público".
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A formação da política e vida pública, segundo Arendt, baseia-se na “pólis” grega, ou
na realidade de um estado local (small city-state). Habermas apresenta em
contrapartida um pensamento mais realista aferindo que o papel dos cidadãos não é
participar ativamente do governo (Estado), mas de supervisar políticos e burocratas
em direção a um mecanismo da opinião pública.
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Richard Sennet compartilha da noção que uma vida pública vigorosa pode atuar
como uma força de contrapeso às hierarquias burocráticas e discriminatórias do
governo, do trabalho e da vida social. No entanto o sociólogo rejeita o ideal de
impessoalidade sustentado por Arendt e Habermas, os quais o consideram
fundamental à sustentabilidade de diversas opiniões e à fundamentação de um
interesse público convergente. Sennet defende um ideal “teatral” da vida pública, no
qual a esfera pública é vista como um “teatro do mundo”, onde estranhos interagem
uns com os outros como atores que desempenham papéis públicos que sustentam
um conjunto de rituais públicos e normas de civilidade. expressar-se teatralmente e
esconder e proteger seus “verdadeiros” seres das formas terapêuticas de dominação.
A esfera pública não deve se apresentar como um mecanismo fechado, mas integrar-
se à vida daqueles que o compõem.
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Otília Arantes - As aglomerações urbanas deixaram de corresponder ao conceito de
cidade; nelas predominam as conexões funcionais não-configuráveis, sem a
visibilidade do lugar público, incomensuráveis portanto com a clareza da
autocompreensão prática que caracteriza um mundo de vida.
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Romero relaciona o espírito do lugar com sua significante, a vida cívica. O âmbito do
público, fruto do fomento da vida cívica da cidade, deve se espacializar
coerentemente em concomitância com a estrutura da esfera pública. As relações
sociais comunitárias equilibradas criam o sentido de pertencimento e expectativas de
desenvolvimento comunitário. Estratégias visando ao fortalecimento das relações
comunitárias, a partir da interação social e do aprendizado e educação continuados,
têm por objetivo a criação de uma cidade sustentável, com participação comunitária
e ênfase na integração variedade e organização espacial.
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