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Jurgen Habermas nasceu em 18 de junho de 1929, em Dusseldorf, na Alemanha.


Emergiu como um dos principais expoentes da segunda geração da Escola de
Frankfurt, também chamada corrente da teoria crítica, que visava examinar o papel
da ideologia na sociedade do século XX, refletindo, sob influência do marxismo, a
razão, ciência e avanço do capitalismo.

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A teoria de Habermas se relaciona a de outros filósofos que viam a materialidade do
espaço como um fator de suma importância à constituição da esfera pública,
defendendo a visão de espaço público como constituinte privilegiado da vida cidadã,
são eles Hanna Arendt, Richard Sennet e Otília Arantes

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A primeira contribuição de Habermas ao pensamento da escola de Frankfurt foi o
livro Mudança Estrutural da Esfera Pública, publicado orignalmente em 1962.
Habermas abre seu livro, propondo tanger os vários conceitos de público, definindo a
esfera pública em mutação desde a Grécia Antiga, princípio organizacional de nosso
ordenamento político. O autor trilha um percurso liner de abordagem que tange o
público como tudo o que é acessível, a constituição do poder público, a natureza
pública e defende a opinião pública, ponto central de seu discurso.

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O ponto crucial de seu discurso está na esfera pública assumida como um espaço de
discussão em condições de construir consenso e universalidade entre seus
integrantes. Habermas parte do contexto grego antigo em que o homem se
expressava livremente no contexto clássico de esfera pública e esse indivíduo o assim
fazia destacando-se do seu foro privado. Em uma abordagem que demonstra a
multiplicidade de vozes envolvendo os significados de público e esfera pública, o
filósofo Alemão, mostra historicamente que as categorias de público e privado só
passaram a ter uma efetiva aplicação processual jurídica com o surgimento do Estado
moderno.

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Segundo Habermas, não existiu uma antítese entre esfera pública e privada no
modelo clássico antigo. Na Idade Média, a casa do senhor posicionava-se ao centro
da organização econômica do trabalho social. Na tradição germânica, no século XVIII,
a autoridade “privada” e “pública” fundem-se numa inseparável unidade, já que
ambas são a emanação de um único poder, ou a relação entre diversas ordens de
poder.
“Se entendemos o país como a esfera do público, então na casa e no poder nela
exercido pelo dono da casa temos mesmo é de tratar de um poder público de segunda
ordem”, portanto havia uma única associação que fundia o que era público do que era
privado

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O autor parte de uma idealização do modelo helênico, na qual à luz da esfera pública
tudo se torna visível. O que é ou não público já era uma questão recorrente desde a
cidade-estado grega antiga, onde há uma separação entre a esfera da pólis, comum
aos cidadãos livres e rigorosamente separada da esfera do que é particular a cada
indivíduo (oikos/idia). Assim como Arendt, Habermas recorre aos gregos antigos para
afirmar que o privado está relacionado àquilo que não se deve mostrar e à
necessidade enquanto o público está ligado à liberdade e ao que se mostra aos
outros. A vida privada centrava-se na figura de um désposta, numa relação patriarcal,
a esfera privada se personificava na esfera pública, com a possibilidade de se
expressar civilmente.

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No contexto feudal, há uma fundamentação da ideia de representatividade, em que
toda vida comum acontecida em um âmbito patriarcal, centrada na figura de seu
representante, da figura pública. Aqui que a corte e burguesia se divergem. “A
mentalidade burguesa se diferencia da mentalidade da corte, pois na mansão
burguesa, mesmo o salão de festas ainda é habitável, enquanto que no castelo, até
mesmo o espaço de moradia é festivo”.

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Rumo à modernidade esfera pública e privada se separam, ocorrendo uma cisão
entre Estado e sociedade. O Público refere-se ao estado formado com o Absolutismo,
que se objetiva perante a pessoa do soberano e Privado, àqueles que estão privados
do serviço público, contrapostos à autoridade, dela excluídos, os súditos. O Público
serve (a autoridade) ao bem comum, enquanto os privados perseguem os seus
interesses. O texto elucida que uma última forma de representatividade pública na
corte dos monarcas já se mostrava enfraquecida, à medida que a sociedade ia se
separando do Estado marcando a separação entre as esferas pública e privada no
contexto moderno.

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O nobre é o que ele reproduz; o burguês o que ele produz. “Se, através da
representação da sua pessoa, o nobre revela tudo, o burguês não revela nem deve
revelar nada através de sua personalidade – O público já é, no entanto, portador de
uma outra publicidade que já não tem mais nada em comum com a representativa.
Nesse ambiente, delineou-se a esfera da sociedade burguesa que se contrapõe ao
Estado como setor da autonomia privada. Tendo a Alemanha como cenário e
adotando a perspectiva defendida por Wilhelm Meister, Habermas mostra que certas
formas de representatividade pública exerceram forte influência até o século XIX.

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Habermas apresenta a mutação do conceito de esfera pública de um contexto feudal
baseado na representatividade pública daquilo que é privado, quando não há
distinção entre estado e sociedade, à uma ordem constitucional burguesa liberal,
apontando à clara distinção entre público e privado e a apresentação de um cenário
de vazão ao debate político crítico-racional, expressão do fenômeno da opinião
pública.

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A gênese da esfera pública, acontece num contexto de expansão do mercado que faz
com que o sistema de comunicações sociais amplie seu alcance, e nesse período se
formule as bases à uma nacionalização da economia local. Surge então o Estado
Moderno, ou seja, uma cisão entre os bens da Casa Real e os bens do Estado. “A
redução da representatividade pública que ocorre com a mediação das autoridades
estamentais através dos senhores feudais cede espaço a uma outra esfera, que é
ligada à expressão esfera pública no sentido moderno: a esfera do poder público”.

O público torna-se sinônimo de estatal; o atributo não se refere mais à corte, com
uma pessoa investida de autoridade, mas antes ao funcionamento regulamentado,
de acordo com competências, de um aparelho munido do monopólio da utilização
legítima da força, uma vez que o Estado tinha a seu serviço o Exército.

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O filósofo alemão objetiva defender o conceito de esfera pública e a presença
daqueles que a compõem, sujeitos portadores de opinião pública. Para ele, a esfera
pública constitui-se no espaço independente da influência do poder do Estado, em
que os atores sociais publicitam seus pontos de vista sobre questões de interesse da
sociedade, promovendo o debate e deliberações coletivas em prol de um bem
comum.

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O foco de análise da representatividade leva Habermas a ponderar sobre o meio em
que se originou a esfera pública burguesa. Para o autor, com o surgimento do
capitalismo mercantil do século XIII, começa um processo de troca e movimentação
de mercadorias e de informações que constitui o comércio capitalista da época.
Nesse âmbito, a burguesia, sob o imperium do Estado, ergue sua própria conjuntura
nas cidades e no comércio, levando a uma crescente contraposição entre as esferas
pública e privada, fato que gera uma perda de espaço de representatividade pública.
Uma vez que não está mais sob o dominium do poder soberano, a burguesia vai
então se constituindo como classe consciente. Nesse processo, Habermas mostra que
os senhores feudais e sua representatividade pública cederam espaço a outra esfera,
a esfera do poder público, no sentido moderno do termo, onde público torna-se
sinônimo de estatal, com um funcionamento regulamentado segundo competências
de um aparelho. Dessa maneira, o poderio senhorial transformou-se em "polícia" e as
pessoas privadas, submetidas a ela, constituíram um "público".

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A formação da política e vida pública, segundo Arendt, baseia-se na “pólis” grega, ou
na realidade de um estado local (small city-state). Habermas apresenta em
contrapartida um pensamento mais realista aferindo que o papel dos cidadãos não é
participar ativamente do governo (Estado), mas de supervisar políticos e burocratas
em direção a um mecanismo da opinião pública.

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Richard Sennet compartilha da noção que uma vida pública vigorosa pode atuar
como uma força de contrapeso às hierarquias burocráticas e discriminatórias do
governo, do trabalho e da vida social. No entanto o sociólogo rejeita o ideal de
impessoalidade sustentado por Arendt e Habermas, os quais o consideram
fundamental à sustentabilidade de diversas opiniões e à fundamentação de um
interesse público convergente. Sennet defende um ideal “teatral” da vida pública, no
qual a esfera pública é vista como um “teatro do mundo”, onde estranhos interagem
uns com os outros como atores que desempenham papéis públicos que sustentam
um conjunto de rituais públicos e normas de civilidade. expressar-se teatralmente e
esconder e proteger seus “verdadeiros” seres das formas terapêuticas de dominação.
A esfera pública não deve se apresentar como um mecanismo fechado, mas integrar-
se à vida daqueles que o compõem.

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Otília Arantes - As aglomerações urbanas deixaram de corresponder ao conceito de
cidade; nelas predominam as conexões funcionais não-configuráveis, sem a
visibilidade do lugar público, incomensuráveis portanto com a clareza da
autocompreensão prática que caracteriza um mundo de vida.

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Romero relaciona o espírito do lugar com sua significante, a vida cívica. O âmbito do
público, fruto do fomento da vida cívica da cidade, deve se espacializar
coerentemente em concomitância com a estrutura da esfera pública. As relações
sociais comunitárias equilibradas criam o sentido de pertencimento e expectativas de
desenvolvimento comunitário. Estratégias visando ao fortalecimento das relações
comunitárias, a partir da interação social e do aprendizado e educação continuados,
têm por objetivo a criação de uma cidade sustentável, com participação comunitária
e ênfase na integração variedade e organização espacial.

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