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Reforma Trabalhista - 10 (Novos) Princípios Do Direito Empresarial Do Trabalho
Reforma Trabalhista - 10 (Novos) Princípios Do Direito Empresarial Do Trabalho
– 10 (NOVOS) PRINCÍPIOS
DO DIREITO
EMPRESARIAL DO
TRABALHO
INTRODUÇÃO
Godzila chega a Tóquio; a Estrela da Morte está pronta e
operacional; o Inverno aporta definitivamente em Whesteros. Não
importa sua idade ou referência apocalíptica, a Reforma Trabalhista,
tal como proposta é isso: o desastre de mundo do trabalho. E fugir
para as montanhas não vai ajudar muito.
Somos uma sociedade de trabalho, em que os indivíduos se
identificam em relações de pertencimento a partir de seus ofícios. É
difícil imaginar campo da interação humana com maior dinamicidade
que o das relações laborais. A importância que possuem as estruturas
produtivas em nossa ossatura institucional faz com que sigam em
permanente dinamicidade, em um fluxo contínuo de complexidade.
Por isso, não é exagero afirmar que novas profissões, novos
modos de trabalhar e de empreender surgem e são extintos
diariamente. É não apenas natural, como esperado que a regulação
também siga esse movimento.
Alterações de regulação são essenciais para acompanhar as
tantas modificações do mundo do trabalho. Pelo menos nos últimos
duzentos anos, a trajetória de democratização e concepção de
concretude dos direitos fundamentais tem tido grande significado para
o Direito do Trabalho. Ainda que com revezes pontuais, o caminho
vem sendo de democratização do ambiente de trabalho e,
principalmente, de soma de condições laborais dignas. Em grande
resumo, as novas legislações buscam o seguinte:
a) adequar tempo de trabalho a necessidades biológicas e
sociais;
b) fazer crescer a massa salarial;
c) melhorar as condições de saúde e segurança;
d) proteger e garantir trabalho a parcelas populacionais
marginalizadas;
e) estimular a continuidade de vínculos de trabalho;
f) incentivar contratações que encerrem maior rol de benefícios
sociais.
Por mais que insistam com pessimismos, esses
aperfeiçoamentos significaram melhora geral da condição de vida dos
trabalhadores, crescimento de mercado consumidor e estabilização
social.
O Projeto de Lei 6.787/2016, recentemente aprovado na Câmara
dos Deputados aparece como condensador de diversas outras
iniciativas de alterações legislativas, consolidando uma grande
reforma trabalhista que altera cerca de uma centena de artigos da CLT
e também avança em outras leis.
Se há certeza na necessidade de constantes aperfeiçoamentos
na legislação trabalhista, a mesma fortaleza de convicção não alcança
a identificação do PL em análise como tendo essa finalidade.
Essencialmente, há dificuldade de integrar a proposição reformista em
quaisquer dos seis elementos acima listados.
A maior parte dos dispositivos modificados ou inseridos
estabelece inovações no campo de restrição de direitos trabalhistas.
Há, no entanto, artigos objeto do projeto de lei que, ou apenas
legalizam entendimentos já ordinariamente aplicados pelos tribunais,
ou promovem atualizações de expressões e adequações ao Código
de Processo Civil. Nesse grupo estão os seguintes dispositivos, todos
da CLT:
- art. 477, § 4º, II: permite pagamento de rescisão com depósito
bancário;
- art. 477, § 6º: fixa prazo de 10 dias para empregador alcançar
documentos ao ex-funcionário, após encerramento do contrato;
- art. 775: contagem de prazos processuais em dias úteis,
seguindo-se sistema do Código de Processo Civil;
- art. 791-A: fixação de honorários de sucumbência – atende
antiga e justa pretensão da advocacia.
- arts. 793-A a 793-D: utilização da sistemática do Código de
Processo Civil para definição de litigância de má-fé e repressão de
práticas indevidas no processo;
- art. 800: protocolos de exceção de incompetência territorial;
- art. 818: regras mais claras sobre ônus probatório, seguindo o
Código de Processo Civil;
- Art. 840: redação contemporânea para a petição inicial
trabalhista;
- art. 844, § 1º: regra de estabilização do processo, a partir da
apresentação de defesa;
Art. 847, parágrafo único: reconhecimento do processo judicial
eletrônico.
Mas os dispositivos realmente importantes são outros. Em artigo
anterior, tratei sobre conveniência, legitimidade e oportunidade da
proposta reformista (http://www.conjur.com.br/2017-mar-22/rodrigo-
souza-conveniencia-legitimidade-reforma-trabalhista), buscando
desmistificar fantasias que costumam permear os arroubos
precarizantes. Em outro, busquei tratar em específico os efeitos do
negociado sobre o legislado no tempo de trabalho
(http://www.conjur.com.br/2017-abr-01/rodrigo-trindade-negociacao-
livre-esculhambara-ambiente-trabalho). Neste, gostaria de analisar o
Projeto a partir de 10 grandes princípios e suas instrumentalizações.
d) Teletrabalho
A pretensão do projeto é regulamentar o chamado trabalho a
distância, realizado por meios tecnológicos, estabelecendo que não
gera horas extras. Entre os arts. 75-A e 75-E cria-se novo Título da
CLT apenas para essa modalidade de contratação. Soma-se novo
inciso ao art. 62, também da Consolidação, para excluir os
empregados em regime de teletrabalho de controle de jornada e, por
conseguinte, de pagamento de horas extras.
O trabalho remoto já é previsto na CLT (art. 6º), permitindo-se ao
juiz reconhecer vínculo de emprego e condenar ao pagamento de
horas extras, sempre que for exigido serviço em excesso ou houver
efetivo controle de horário, ainda que a distância.
Não há dúvidas que o avanço das tecnologias de comunicação
tendem a dilatar consideravelmente o número de trabalhadores em
domicílio. Não significa, todavia, que circunstâncias geográficas
devam levar ao simples abandono de regras tutelares elementares. Se
aprovado, o PL significará tendência de aumento das fraudes e
notável ampliação de condições precárias e abusivas.
4. ACHATAMENTO SALARIAL
Desde 2003, há forte tendência de crescimento da participação
do salário na formação do PIB nacional. Hoje, passa de 50% e a
tendência é de seguir ganhando força. Ou seja, cada vez mais o
salário recebido pelos trabalhadores tem um peso maior na produção
de riquezas do país. Qualquer política pública séria deveria buscar o
fortalecimento do salário, mas o PL 6787 segue em direção oposta e
tende a produzir redução geral dos rendimentos assalariados e
aprofundar a crise econômica.
Em artigo recente, o juiz Guilherme Zambrano alerta que o
Projeto busca confundir reajustes salariais com ganhos reais
(http://www.conjur.com.br/2017-abr-23/guilherme-zambrano-reforma-
desequilibra-negociacao-coletiva). A partir disso, irá empurrar os
trabalhadores para uma negociação coletiva absolutamente
desequilibrada, em que se verão obrigados a fazer grandes
concessões, unicamente em troca da preservação do valor real dos
seus salários – ou nem mesmo isso, pois em alguns casos os
reajustes salariais já são negociados abaixo da inflação do período.
A negociação coletiva sobreposta à lei somente servirá para a
diminuição de benefícios e, apenas isso, já seria bastante catastrófico.
Mas o PL indica ainda diversas outras modalidades de restrição de
salários.
a) Fim da estabilidade econômica decenal
Desde 2005, o entendimento consolidado do TST é de que, após
10 anos de exercício de cargo em comissão, o empregador pode
reverter o funcionário do cargo. O que não pode é suprimir o valor da
respectiva gratificação. Prestigia-se, assim, a estabilidade financeira e
impedem-se rupturas de expectativa remuneratória há muito tempo
integradas na vida das famílias.
A proposta de redação do art. 468, § 2º é de livremente permitir a
perda da gratificação, como resultado da reversão ao cargo efetivo,
anteriormente ocupado.
b) Perda do caráter salarial de importâncias pagas pelo
empregador
O FUTURO DO PROJETO
A evidência de necessidade nacional de legislação clara e
contemporânea não pode ser confundida com atropelo sobre questões
tão importantes.
A Reforma Trabalhista precisa ser analisado em conjunto. Os
pouquíssimos avanços identificados não desnaturam a essência da
iniciativa: retroceder em elementos básicos de civilização, convivência
e esperança de poder viver em um Estado não demolidor da dignidade
do trabalho.
Também não há perspectivas de oferecimento de maior
segurança jurídica em curto ou médio prazo. O Projeto inaugura
elementos divorciados da ordem constitucional e de toda a trajetória
do Direito do Trabalho.
Fonte: http://www.amatra4.org.br/79-uncategorised/1249-reforma-trabalhista-10-novos-
principios-do-direito-empresarial-do-trabalho