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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____VARA

CRIMINAL DA SUBSEÇÃO DE..............SEÇÃO JUDICIÁRIA DE


____________________(

Inquérito Policial n.: ____

JOSÉ, já qualificado na denúncia de fls.


____/____ dos autos do inquérito policial em epígrafe, por seu advogado, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar DEFESA
PRÉVIA, com fulcro no artigo 55 da Lei 11.343/06, pelas razões de fato e de
direito a seguir expostas:

I. DOS FATOS
Segundo a denúncia, no dia 04 de abriu de 2010, aproximadamente às
23h30, na Delegacia de Polícia Federal do Aeroporto Internacional de São
Paulo, o denunciado foi preso em flagrante pela prática, em tese, do crime de
tráfico de drogas.

A prisão ocorreu pelo fato de funcionários do raio-x da Companhia TAP


linhas aéreas verificarem uma suspeita mala com indícios de drogas no saguão
das bagagens despachadas.

Ao ser verificado o Sr. Yurin como proprietário da mala, os funcionários


pediram que o mesmo, que já estava situado dentro da aeronave, a abrisse,
verificando, assim, roupas endurecidas e de modo anormal com odor químico.

Todos os passageiros foram encaminhados à Delegacia Federal do


Aeroporto com o intuito de haver uma busca mais detalhada.

Após a realização preliminar por um Perito Criminal, foi constatado a


importância de 20.320 quilos de cocaína, em pesagem bruta, arroladas às
roupas que se verificavam dentro da bagagem do Sr. Yurin.

Em questionamento feito por um escrivão dentro da Delegacia do


aeroporto, o réu confessou o seu ato de tentativa de exportação da droga para
o exterior. Entretanto, alegou que não sabia da quantidade que estaria levando
e, que, necessitava do dinheiro para tratar de seu pai que está com uma saúde
precária.

Por fim, é imperioso comentar que o autor nunca teve qualquer tipo de
indicio criminal, e nem sequer alguma ligação com o judiciário. O mesmo
confessou em seu depoimento pessoal tal alegação. Portanto é de suma
importância que seja observado que o réu só agiu inadequadamente por motivo
de extrema necessidade em decorrência da saúde de seu pai.
II. DO DIREITO

Em sede de depoimento policial, o denunciado assumiu a autoria delitiva


assumindo que estava sob sua responsabilidade a cocaína apreendida, e que o
mesmo trazia a droga a mando de um terceiro, e que deveria ser entregue em
Paris (Fr), a uma pessoa que o estaria esperando com uma cópia do seu
passaporte.

AD ARGUMENTANDUM TACTUM:
No que pese a propositura da prisão em flagrante, e da confissão do acusado, e
por se tratar de crime “hediondo”, o acusado fora compelido em sede de polícia
a confessar e assumir a autoria delitiva do fato. Entretanto, a verdade real dos
fatos não são como a que se apresenta de fato o requerido fora coagido pelo
terceiro e real dono das drogas (sem identificação), e que deveria ser entregue
em Paris, a uma pessoa outra pessoa.

Só que COMO DITO EM SEDE DE POLICIA, O MESMO NÃO TROUXE O


ENTORPECENTE POR SUA LIVRE E EXPONTANEA VONTADE, MAS SIM
SOB A AMEAÇA DE QUE SE NÃO O FIZESSE MORRERIA, E SUA FAMILIA
TAMBEM SOFRERIA REPRESARIA, POR PARTE DESTES TRAFICANTES.

A Conduta do denunciado, deu-se motivada pelo medo de represaria a si e a sua


família, pois em momento algum, obteve qualquer vantagem financeira. E
comum, a imposição do medo, e o silencio como regra, quando pessoas de bem,
são coagidas a ingressaram por este caminho tortuoso.

No caso em epígrafe, o acusado, fora o réu, desta forma coagido a embarcar


com a droga, sob a ameaça de morte sua e de sua família, sem a opção de pode
escolher em fazer e não fazer.
O réu foi o mais claro e sincero possível em sua confissão ao dizer que
necessitava do dinheiro da entrega das drogas para custear o tratamento de seu
pai.

Além disso, o réu nunca havia feito contato com drogas antes. Entretanto
precisava, desesperadamente, do dinheiro para tratar a saúde de seu genitor.

O valor da entrega da mercadoria ao exterior foi negociado em 5.000,00 euros


(aproxid. 20.000,00), valor o qual ajudaria nas despesas com o pai.

Ainda assim, como não possui nenhuma ligação e entendimento com drogas, o
réu não tinha conhecimento da quantidade que estaria exportando.

Nota-se que o réu, NÃO OPÔS NENHUMA RESISTENCIA, a prisão, e nem


deixou de esclarecer todos os fatos que lhe antecederam, contribuindo assim
para o esclarecimento do ocorrido.

A vida pregressa do acusado, é o exemplo de que nunca fora preso, nunca


respondera a processo, que nunca estive envolvido sequer em briga, e muito
menos “envolvimento com a polícia ou a Justiça”.

No que pese as provas carreadas nos autos, não se pode apenas e tão somente,
ater-se a prisão do réu, porque não se prosseguiu as investigações e chegou-se
ao receptor do entorpecente em Paris (Fr), ou a quem mandou (coagiu) o
acusado a trazer o entorpecente a Paris (Fr)?, Porque e cômodo demais a policia
e a MP, culpar quem já se prendeu do que continuar a investigar e chegar
realmente aos traficantes e donos da droga?

Mas adiante, no mesmo depoimento, o réu assim manifesta-se:

“Que ma quarta feira passada na parte da manha, o réu entrou em contacto com
ANDERSON e indagou-o se ainda tinha chance de fazer algum transporte (...)
qua ANDERSON disse que sim, e combinou encontrá-lo no bairro Cidade Nova.
que naquele local ANDERSON estava em uma eco-sporte vermelha, pegou uma
mochila contendo a droga e uma passagem no N/M AMAZON STAR, informando
que deveria trazer a substância a Santarém e que deveria entregar a HUGO,
pela qual receberia R$ - 1.000.00 (hum mil reais), por quilo do produto”

Vale ressaltar que neste diapasão, o que dispõe o artigo 33, § 4º, verbis:
Art. 33.(omissis)
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas
de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

A parte final do citado dispositivo afirma que “desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre
organização criminosa”.

Como em anteriores manifestações, destaco que a Lei 11343/2006 criou a figura


do tráfico privilegiado que, tal como o homicídio privilegiado, por exemplo, não é
crime equiparado a hediondo, não se aplicando a ele a restrição da Lei 8.072/90
(necessidade de fixação do regime fechado). Nesse sentido:
"A figura mais controversa, a nosso ver, será a do art. 33, §4º, que prevê a figura
do "tráfico de drogas privilegiado", fixando uma causa de diminuição de pena de
1/6 a 2/3, quando o agente for primário e de bons antecedentes e não se dedique
às atividades criminosas, nem integre organização criminosa.

Utilizamos aqui o mesmo raciocínio fixado pela jurisprudência, quanto ao crime


de homicídio qualificado-privilegiado não ser considerado crime hediondo.
Embora o homicídio qualificado seja crime hediondo, a presença da figura do
privilégio não foi prevista no art. 1º, I, da Lei nº 8.072/90.

Este argumento fundado nos precedentes do STJ e STF, que já nos parece
convincente o suficiente, é reforçado pela sistematização da norma e da restrição
carreada no próprio dispositivo: "vedada a conversão em pena restritivas de
direitos".

A denuncia ofertada contra o acusado, no tocante a incidência do Art. 35 da lei


11.343/06 é INEPTA, porquanto não preenche o Art. 41 do CPP.

Nos termos do art. 41 do CPP, deve descrever, “dentre outras circunstâncias, o


vinculo associativo, o modo, o momento em que teria ele se estabelecido e, bem
assim, quais as pessoas nele envolvidas” (STF, Inq. 705, Plenário, voto do Min.
Ilmar Galvão apreciando crime genérico de quadrilha, RT, 700:416).

Conforme decidiu o STF na vigência da Lei n. 6.368/76, analisando o revogado


art. 14, que corresponde ao art. 35 desta Lei: “O crime de associação, previsto
no art. 14 da Lei de tóxicos, caracteriza-se pela necessária participação, não
eventual, de pelo menos duas pessoas perfeitamente identificadas, como vistas
ao trafico de entorpecentes, ainda que este não se concretize. É inepta a
denuncia que não descreve, dentre outras circunstancias, o vínculo associativo,
o modo, o momento em que teria ele se estabelecido, e, bem assim, quais as
pessoas nele envolvidas”(RT,789;565).

Com efeito, alem da INEPCIA a inicial no tocante a figura típica do art. 35 da lei,
não ficou provado os elementos essenciais para configuração do delito.
A propósito, a doutrina haverá necessidade de um animus associativo, isto é, um
ajuste prévio no sentido da formação de um vinculo associativo de fato uma
verdadeira societas sceleris, em que a prática de se associar seja separada da
vontade necessária a pratica do crime visitado. Excluído, pois o crime, no caso
de convergência ocasional de vontades para a pratica de determinado delito, que
estabeleceria a co-autoria”. (ob. Cit., p. 109). Vide nesse sentido o entendimento
do STF:

A associação para o tráfico de entorpecentes, como tipificado no art. 14 da Lei


de Entorpecentes, dispensa o elemento mais característico das figuras penais
de associação para delinqüir, qual seja, a predisposição da societas sceleris á
pratica de um numero indeterminado de crimes: para não confundir-se com mero
concurso de agentes, melhor interpretação reclama a sua incidência o ajuste
prévio e um mínimo de organização, seja embora na preparação e no
cometimento de um só delito de trafico ilícito de drogas, hipótese que a sentença
julgou provada. (HC 75236/AM, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Dj 01.08.1997).
A associação para o tráfico de entorpecentes. Posse da droga. Prescindibilidade.
Prisão preventiva. Garantida da ordem pública. Reiteração criminosa.
Periculosidade dos agentes. Legalidade. Recurso improvido. A comprovação do
crime de associação para o tráfico de entorpecentes (Lei 6.368/1976, art. 14),
deu-se no presente caso por meio de gravações telefônicas e confissões
extrajudiciais. Não é imprescindível a posse da droga para configuração desse
crime. O decreto de prisão encontra-se devidamente fundamentado no
resguardo da ordem pública, ante a necessidade de fazer cessar a reiteração
criminosa e em face da periculosidade dos agentes, fundada em fatos concretos
e visto que há nos autos indícios de que a organização criminosa não se desfez.
(Recurso Improvido). (RHC 84847/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento
22/02/2005).

Também: “Entorpecente. Associação para o tráfico prevista no art. 14 da lei


6.368/76. Caracterização que dispensa a predisposição da societas sceleris a
pratica de um numero indeterminado de crimes. Necessidade apensas de ajuste
prévio e um mínimo de organização. (RT 749/584).
A jurisprudência pátria exige para configuração do art. 35 os seguintes
requisitos:
NÃO PROVADA A EXISTENCIA DE LIAME SUBJETIVO ENTRE OS AGENTES
NA COMERCIALIZAÇÃO DE DROGAS, E VERIFICANDO-SE PELAS PROVAS
TER SIDO A ÚNICA VEZ QUE A APELADA TRANSPORTOU DROGA PARA O
CO-REU, NÃO RESTA CONFIGURADO O CRIME PREVISTO NO ART. 35,
CAPUT, DA LEI Nº 11493/2006, EIS QUE , SE ASSOCIAÇÃO EXISTISSE,
SERIA DE NATUREZA ENVENTUAL, MODALIDADE NÃO CONTEMPLADA NA
NOVA LEI DE TÓXICOS.

4. Por via de conseqüência Vossa Excelência deve rejeitar ab initio na


conformidade do art. 43 do Código Processo Penal determinando de logo a
rejeição do concurso material no tocante a denúncia ofertada pelo princípio da
consunção ou absorção, regra essa contida na Constituição Federal que adota
que o tipo penal mais gravoso absorve o delito menor, portanto, esta
caracterizado o excesso acusatório contido na denúncia ofertada pela digna
representante do Parquet.

5. Neste Passo a importância essencial da defesa preliminar é decotar os


excessos da denúncia e ainda, permitir que o magistrado receba ou não a peça
acusatório de pormenorizada se o conteúdo da denúncia tem admissibilidade ou
lhe falta justa causa para o prosseguimento da ação.

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