Você está na página 1de 2

1.

O DIREITO ACOMPANHA A EVOLUÇÃO SOCIAL


A sociedade está em constante transformação cultural, tecnológica, econômica e, por consequência,
jurídica. O direito, ao menos em termos conceituais, se presta a ordenar a vida coletiva com o viés de
equilibrar as relações sociais. Nesse sentido, afirma o sociólogo Émile Durkheim (1960, p.17) que “O
direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua
imperfeição, o direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas
necessidades de vida”.

Além disso, renomados juristas nacionais também já se pronunciaram sobre o tema. Para Miguel
Reale(2006, p.62), o direito é “a ordenação das relações de convivência”, também chamado de
“disciplina da convivência” por Telles Junior (2001, p.381). É possível observar, então, que a
coletividade é repleta de complexidades e nuances que dão ensejo à posterior regulação jurídica. E é
exatamente o que se pode verificar com a profissão do Coach.

Com a existência de uma demanda crescente e o reconhecimento cada vez maior da utilidade do
trabalho do profissional de Coaching, pode-se identificar a abertura de mercado para o
desenvolvimento dessa nova profissão. O problema decorrente disso é que, justamente por ser algo
novo, não há regulamentação própria do exercício da profissão e tampouco possui mecanismos
próprios de controle, o que acaba por deixar baixa a barreira de entrada nessa carreira, pois acaba
sendo um curso de certificação livre.

Em função disso, o certificado que viabiliza a atuação do profissional pode ser conferido por qualquer
escola de formação que preencha alguns requisitos mínimos, sem a necessidade de se submeter a
algum órgão de fiscalização e controle. Por essa razão, pode-se analisar que atualmente cada escola
possui métodos próprios de formação, inclusive até mesmo o tempo de duração de cada curso pode
variar – o que seria inimaginável com outras profissões regulamentadas.

Talvez por isso a credibilidade e qualidade dos novos Coaches acaba se tornando questionável.
Inclusive, como não há regulamentação, é possível que cada Coach adote os mais variados métodos
na condução de seus atendimentos, ainda que isso resulte no afastamento do que efetivamente é
compreendido como Coaching, o que seria uma espécie de transgressão à profissão.

De qualquer maneira, a falta de regulamentação própria não significa proibição, mas sim adaptação
jurídica. Imagine se tudo dependesse de regulamentação para funcionar? Com certeza seria um
problema. É por isso que o Direito deve ser entendido como um sistema a ser interpretado com base
no que se chama de “fontes do Direito”, ou seja,as leis, as jurisprudências (decisões judiciais), a
analogia, os costumes, a doutrina (os estudos sobre o Direito), os princípios gerais de direito.

Nesse sentido aponta o artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), abaixo
transcrito:
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito.

Infere-se, portanto, que o fato de não haver previsão legal específica que regule a profissão do Coach
não impediria, por exemplo, o juiz de julgar eventual litígio (conflito ou ação judicial) com base em
outras recursos fontes do direito.

Cabe ressaltar que as atividades acabam surgindo e se extinguindo de acordo com a sua
aplicabilidade na sociedade, a qual possui demandas variáveis conforme o avanço cultural,
tecnológico e jurídico, principalmente. Assim, primeiro a atividade se consolida para, somente então,
dependendo da necessidade e relevância, fazer-se necessária a sua regulamentação.

Aliás, uma pesquisa divulgada pela Gazeta do Povo demonstrou que apenas 3 em cada 100
profissões são regulamentadas no país. Eventualmente, o Ministério do Trabalho reconhece algumas
novas ocupações profissionais, como fez no ano de 2017, quando reconheceu a existência de 21
novas profissões ao Cadastro Brasileiro de Ocupações.

Contudo o mero reconhecimento é diferente de regulamentação, uma vez que este consiste em lei
específica que disponha de regramentos sobre determinada a atividade. Em função disso, as
regulamentações profissionais geralmente resultam em debates e controvérsias, pois podem resultar
em engessamento do exercício da profissão e, ainda, gerar empecilhos econômicos (aumento de
encargos e tributos) e mais burocracia.

De todo modo, como já explicado, o avanço dos fatos sociais pode demandar um controle, o qual é
usualmente exercido pelo Direito nos regimes democráticos. Todavia, enquanto isso não ocorre, o
profissional do Coach poderá se pautar em outras fontes do direito e celebrar contratos com base
nas diretrizes do Direito Civil.

Você também pode gostar