Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
28 abril 2019
No verão de 1776, a Guerra de Independência dos Estados Unidos estava indo tão mal para
os rebeldes que George Washington aparentemente tentou uma ação suicida ao encontrar
tropas britânicas.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 1/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
Os assistentes do futuro primeiro presidente dos EUA agarraram as rédeas de sua montaria
e com alguma dificuldade conseguiram levá-lo à segurança.
Um dos seus generais, Nathanael Greene, disse mais tarde que Washington estava "tão
irritado com a má conduta de suas tropas que ele buscou a morte em vez da vida".
PUBLICIDADE
Avançando quase dois séculos e meio, o estado mental de seu descendente político está sob
uma análise menos compreensiva.
A psiquiatria presidencial voltou à moda desde que Donald Trump entrou na Casa Branca.
Nicho de mercado
Há até um subgênero editorial dedicado a colocar o 45º presidente no divã do psiquiatra.
Tais títulos incluem The Dangerous Case of Donald Trump: 27 Psychiatrists and Mental
Health Experts Assess a President (O Caso Perigoso de Donald Trump: 27 Psiquiatras e
Especialistas em Saúde Mental Avaliam um Presidente, ainda sem tradução no Brasil),
Rocket Man: Nuclear Madness and the Mind of Donald Trump (O Homem do Foguete: A
Loucura Nuclear e a Mente de Donald Trump, também sem tradução no Brasil) e A Clear and
Present Danger: Narcissism in the Era of Donald Trump (Um Perigo Claro e Presente:
Narcisismo na Era de Donald Trump, sem edição por aqui).
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 2/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
Mas Trump - que afirma ser "um gênio muito estável" - não é de forma alguma o primeiro
líder americano a ser chamado de lunático.
John Adams, o segundo presidente americano, foi descrito por seu arquirrival Thomas
Jefferson - que viria a ser seu sucessor - como "às vezes absolutamente louco".
O jornal Philadelphia Aurora, porta-voz do partido de Jefferson, atacou Adams dizendo que
ele era "um homem despojado de seus sentidos".
Depois que Woodrow Wilson, o 28º presidente dos EUA, teve um derrame, seus críticos
afirmaram que a Casa Branca havia se tornado um asilo de loucos, apontando como prova
as barras instaladas em algumas janelas do primeiro andar da mansão.
Mas, como relata John Milton Cooper em sua biografia de Wilson, essas barras foram, de
fato, adaptadas durante a Presidência de Teddy Roosevelt para impedir que seus filhos
quebrassem janelas com suas bolas de beisebol.
O estudo de 2006 estimou que 49% dos presidentes sofreram de uma doença mental em
algum momento da vida (um número que os pesquisadores afirmam estar de acordo com as
taxas nacionais).
Vinte e sete por cento deles foram afetados por esses distúrbios enquanto estavam no
escritório.
Eles também concluíram que Teddy Roosevelt e John Adams tinham transtorno bipolar,
enquanto Thomas Jefferson e Ulysses Grant lutavam contra a ansiedade social.
O professor Jonathan Davidson, que liderou o estudo, disse: "As pressões de tal trabalho
podem desencadear problemas que estavam latentes em alguém."
Woodrow Wilson teve seu derrame em 1919 durante uma luta condenada para que o Tratado
de Versalhes, tratado de paz assinado pelas potências europeias que encerrou a Primeira
Guerra Mundial, fosse aprovado.
O derrame deixou-o incapacitado e depois desse episódio ele sofreu com depressão e
paranoia até o fim de sua Presidência, em 1921.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 3/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
No momento em que Wilson deixou o cargo, um repórter disse que ele era um medroso e "os
restos quebrados do homem" que uma vez fora.
Paralisia do luto
Acredita-se que duas outras Presidências tenham sido destruídas pela depressão clínica.
De acordo com Davidson, professor da Duke, um forte transtorno depressivo tornou Calvin
Coolidge (1923-1929) e Franklin Pierce (1853-1857) ineficazes como líderes depois que seus
filhos morreram.
Pierce sofreu uma tragédia horrível pouco antes de sua posse, em 1853. O 14º presidente,
sua esposa, Jane, e seu filho, Benjamin, estavam em um trem quando este descarrilhou
perto de Andover, Massachusetts.
A carruagem foi jogada em um aterro e Benjamin quase foi decapitado. Ele morreu
instantaneamente.
Davidson, da Duke, diz que o tormento interior de Pierce levou-o a abdicar de qualquer papel
executivo real enquanto a nação se dirigia para uma guerra civil, que enfim começou em
1861.
Ele foi o único presidente eleito por seu próprio direito a ser expulso de seu partido na eleição
seguinte.
A dor de Pierce, juntamente com o estresse de presidir um país prestes a se dividir, parece
ter exacerbado seu abuso de longa data do álcool.
Mas no verão de 1924 seu filho de 16 anos, Calvin Jr, foi jogar na quadra de tênis da Casa
Branca, usando tênis sem meias.
O menino teve uma bolha no dedo do pé, que infeccionou, e ele morreu de infecção
generalizada.
De acordo com a biografia de Amity Shales, Coolidge se culpou pela morte do adolescente.
Ele ordenou a construção de lápides para si mesmo, sua esposa e filho sobrevivente, John,
além de uma para Calvin Jr.
"Sempre que olho pela janela", dizia o presidente, "vejo meu garoto jogando tênis naquela
quadra".
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 4/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
Seu comportamento tornou-se cada vez mais errático. Ele explodia com convidados,
ajudantes e familiares.
Durante um jantar na Casa Branca, ficou fixado em um retrato do presidente John Adams,
comentando que sua cabeça parecia muito brilhante.
Coolidge ordenou a um empregado que esfregasse um trapo nas cinzas da lareira, subisse
em uma escada e aplicasse as cinzas na pintura para escurecer a cabeça de Adams.
(John Quincy Adams também sofria de depressão e costumava vagar em torno da Casa
Branca, jogando bilhar e irritando sua esposa britânica, segundo uma biografia de Harlow
Giles Unger.)
Coolidge praticamente se retirou da vida política. O mais preocupante era sua ignorância
sobre alarmes econômicos um ano antes da quebra da Bolsa de Valores americana em
1929.
Quando algum tipo de legislação foi considerada para refrear a crescente especulação de
ações, ele disse aos repórteres: "Eu não sei o que é ou quais são suas provisões ou qual tem
sido a discussão".
Em sua autobiografia, o 30º presidente escreveu: "Quando ele [meu filho] partiu, o poder e a
glória da Presidência foram com ele."
"Eu não sei por que tal preço foi exigido por ocupar a Casa Branca."
Theodore Roosevelt lutou contra depressão severa no início de sua carreira política após a
morte de sua jovem esposa no Dia dos Namorados de 1884.
Ele partiu por dois anos para o território de Badlands, na Dakota do Sul, onde construiu um
rancho, caçou búfalos, prendeu ladrões e nocauteou um pistoleiro em um bar.
Propensão à melancolia
Abraham Lincoln foi propenso durante toda sua vida à melancolia, segundo o biógrafo David
Herbert Donald.
Em 1841, em Springfield, Illinois, enquanto atuava como legislador estadual, Lincoln rompeu
seu noivado com Mary Todd (eles eventualmente se casaram) e mergulhou em profunda
depressão.
Um amigo colocou-o sob supervisão antisuicida, removendo navalhas e facas de seu quarto.
Dada sua morosidade, os assessores devem ter temido a maneira como ele lidaria, durante a
Guerra Civil Americana, com a morte de seu filho de 11 anos, Willie, provavelmente de febre
tifoide, na Casa Branca em fevereiro de 1862.
Mais tarde naquele ano, após outra derrota humilhante, desta vez na Segunda Batalha de
Bull Run, Lincoln disse ao seu gabinete que se sentia quase pronto para se enforcar,
segundo o livro de Donald.
Foi só depois da morte de Willie que Lincoln finalmente demitiu seu vacilante comandante
militar, George McLellan.
Ele o substituiu por um homem depressivo, tímido e provavelmente alcoólatra, que ficava
enjoado ao ver sangue. Ulysses Grant, no entanto, levaria o Exército da União, ou do Norte -
contrário à política escravagista e à divisão do território americano de acordo com ela - à
vitória.
Presidentes "psicopatas"
Apesar do estigma persistente da doença mental, alguns especialistas acreditam que essas
descobertas possam ajudar alguns líderes - até um certo ponto.
Os dois considerados mais psicopatas foram Lyndon Baines Johnson (1963-1969) e Andrew
Jackson (1829-1837), o herói de Trump.
Atributos psicopáticos foram identificados pela equipe de Emory como charme superficial,
egocentrismo, desonestidade, insensibilidade, tomada de riscos, mau controle dos impulsos
e falta de medo.
O professor Scott Lilienfeld, que liderou o estudo, diz: "Eu suspeito que, no longo prazo,
essas características vão chegar a (outras) pessoas. Então, sim, elas podem permitir que
pessoas subam a posições de liderança."
"Mas estou menos confiante de que elas resultarão em melhor liderança geral, especialmente
a longo prazo."
Johnson, por exemplo, tinha um ego do tamanho de seu Estado natal, o Texas.
Ele descaradamente roubou sua eleição ao Senado em 1948, e depois ainda mais
descaradamente fez piadas sobre isso, de acordo com a biografia de Robert Caro.
Johnson não se constrangia ao casualmente colocar a mão debaixo da saia de outra mulher
enquanto sua esposa, Lady Bird, estava sentada a seu lado.
No entanto, Johnson pode ter causado seu próprio Alamo político ao mentir para o povo
americano sobre uma falsa briga naval no Golfo de Tonkin em 1964.
Mas em meio à hecatombe da Ofensiva do Tet, quatro anos depois - um ataque lançado
pelos norte-vietnamitas e vietcongues contra as forças americanas e sul-vietnamitas -
Johnson anunciou que não concorreria a um segundo mandato.
Já o presidente Andrew Jackson - que assinou a Lei de Remoção Indígena, uma ato de
limpeza étnica - é lembrado hoje mais por sua crueldade do que pela invejável realização de
ser o único presidente a pagar integralmente a dívida nacional.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 6/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
E a reputação de Bill Clinton, é claro, foi deixada em farrapos por sua impulsividade sexual.
Alguns presidentes lidaram com as tensões do Salão Oval de forma pior do que outros.
A biografia escrita por John A. Farrell detalha como o instável líder que viria a ser derrubado
da Presidência pelo caso Watergate (escândalo político que levou à sua renúncia) bebeu
excessivamente ao longo de seu mandato.
Fitas da Casa Branca gravaram-no falando enrolado em meio ao tilintar dos cubos de gelo.
Henry Kissinger, seu principal diplomata, disse certa vez que Nixon não poderia atender ao
primeiro-ministro britânico durante uma crise no Oriente Médio porque ele estava "muito
bêbado".
Seu psicoterapeuta, Dr. Arnold Hutschnecker, era o único profissional de saúde mental
conhecido por ter tratado um presidente na Casa Branca.
Ele disse que Nixon tinha "uma boa parte dos sintomas neuróticos".
E Donald Trump?
O diagnóstico à distância do professor Davidson, da Duke, diz que o presidente americano
não está mentalmente doente. Ele cita o debate internacional entre psiquiatras sobre se o
narcisismo - uma característica tantas vezes atribuída ao atual presidente - é um distúrbio de
personalidade genuíno.
Nassir Ghaemi, autor de A First-Rate Madness: Uncovering the Links Between Leadership
and Mental Illness (Uma Loucura de Primeira Linha: Descobrindo as Ligações entre a
Liderança e a Doença Mental, ainda sem tradução no Brasil), afirma que o presidente Trump
tem "sintomas maníacos clássicos".
"Ele é muito impulsivo com os gastos, sexualmente impulsivo, não consegue se concentrar.
Seus traços foram mais benéficos para ele durante a campanha presidencial, onde ele foi
extremamente criativo", continua.
"Ele foi capaz de captar coisas que pessoas normais, mentalmente saudáveis e estáveis,
como Hillary Clinton, por exemplo, não conseguiram."
Mas as vidas estranhas e perturbadas dos líderes americanos sugerem outra questão: o que
é normal?
Tópicos relacionados
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 7/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
Voltar ao topo
Notícias relacionadas
Trump: O que os democratas planejam fazer contra o presidente americano após
divulgação de relatório de Mueller
19 abril 2019
PUBLICIDADE
Navegação na BBC
News Sport
Weather Radio
Arts
Termos de uso Sobre a BBC
Privacidade Cookies
Accessibility Help Parental Guidance
Contate a BBC Get Personalised Newsletters
Anuncie na BBC Opções para propagandas
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 8/9
28/04/2019 Depressão, tendências suicidas e psicopatia: a história de sofrimento mental de presidentes americanos - BBC News Brasil
Copyright © 2019 BBC. A BBC não se responsabiliza pelo conteúdo de outros sites. Leia mais sobre
nossa política para links externos.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47993267 9/9