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Dye Plants
Médio Oriente tendo sido identificado em que foi introduzida na Índia como uma fonte
tecidos encontrados não só em túmulos corante de qualidade superior.
egípcios, como também no deserto da Judeia
(Forbes, 1964). Na cultura desta planta, com o intuito
O tingimento com a ruiva permitia obter de aumentar o conteúdo de corante, foram
tecidos de um vermelho intenso e brilhante, feitos esforços para aumentar o volume das
especialmente em fibras de algodão e linho, suas raízes, o qual depende não só do tipo de
conhecido por “vermelho-da-turquia” (Turkey planta mas, sobretudo, do tipo de solo. Para
red), processo no qual o cálcio é incorporado se obter um alto teor de corante nas raízes, é
no complexo do corante, sem paralelo com necessário um solo alcalino (rico em cálcio),
outros corantes vermelhos. pelo que é frequente efectuar-se uma calagem
A alizarina foi o primeiro corante a ser e adicionar substratos calcários (Fao, 2006)
sintetizado na segunda metade do século aos solos onde é feita a cultura desta planta.
XVIII, o que levou a que o material natural Nos Países Baixos, produtores importantes, o
rapidamente desaparecesse do mercado. cultivo era rigorosamente regulamentado.
Em Portugal, no “Regimento da Fábrica
dos panos de 1690”, é referida a utilização Obtenção da matéria corante
de “granza” para tingir de vermelho podendo
ser adicionado pau-brasil para obtenção de Após a colheita, as raízes eram secas em
outros tons de vermelho. grandes celeiros com ar quente. A casca era-
lhes retirada e a camada contendo o corante
era moída, comprimida e crivada. A partir
daí, várias qualidades de garança ficavam
assim disponíveis com granulometrias mais
ou menos finas (Karr, 1936), sendo a de
melhor qualidade aquela em que a casca e
a parte lenhosa da raiz eram removidas. As
raízes secas sem esta separação constituíam
uma categoria secundária. Os resíduos do
processo de separação eram vendidos com
qualidade inferior sob o nome de mul. Os
Forais contem inúmeros regulamentos
referentes à indústria do vestuário com o
intuito de exigir a melhor qualidade para o
tingimento dos tecidos.
Figura 1 – Rubia tinctorum L. Nas raízes da garança-europeia (Rubia
tinctorum L.) encontra-se uma mistura com-
plexa de antraquinonas, sendo maioritárias
A garança, Rubia tinctorum L., é uma planta a alizarina, a purpurina, a pseudopurpurina,
herbácea perene, cujas raízes são usadas em e (Tabela 1) glucósidos de alizarina – ácido
tinturaria, distribuída por uma vasta área rubieritrico, mas a separação e purificação
geográfica, que se encontra naturalmente no destes produtos requer primeiro uma hidrólise
Sudeste da Europa até Oeste dos Himalaias. dos percursores glucósidos existentes nas
As raízes de certas espécies foram exploradas raízes. O ácido rubierítrico é hidrolisado
como fonte de corante para tingir têxteis. Para em alizarina e glucose por aquecimento
além da espécie asiática (garança-indiana com ácido mineral diluído. Com o tempo a
- Rubia cordifolia L.), a garança-europeia pseudopurpurina descarboxila, em purpurina,
(Rubia tinctorum L.) foi a mais importante quando a raiz seca é armazenada. No entanto,
para a produção comercial, e de tal forma, este processo além de não ser muito rápido
6 REVISTA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
baratos, algodão e linho, o uso desta espécie Existem duas qualidades no mercado:
parece ter sido usado frequentemente. lavado e não lavado. A variedade europeia
é não lavada e menos valiosa, mas as
variedades persas, de melhor qualidade, tal
como as egípcias e de Bengala são lavadas.
O corante é obtido das flores amarelo-
avermelhadas por lavagem em água. A
matéria corante é formada pela cartamina
(Fao, 2006) (Tabela 2) e pela cartamona.
Além de cartamina, o açafrão-bastardo
contém o “açafrão-amarelo” solúvel em
água e açafrão A e B, cuja composição é
ainda desconhecida. No processo primário
tradicional, os últimos pigmentos são deli-
beradamente removidos das flores da planta
de açafrão por lavagem em água, de modo a
permitir a utilização desejada como corante
Figura 2 – Carthamus tinctorus L. vermelho do material.
A variedade vermelha escura contém
O açafrão-bastardo é uma planta herbácea principalmente cartamina vermelha; a varie-
anual (um cardo), bem adaptada às condições dade amarela contém neocartamidina e menos
temperadas e subtropicais. É uma erva cartamina, enquanto que a variedade laranja
de caule esbranquiçado e folhas alternas contém cartamona, bem como cartamina.
espinhosas. É nativa do oeste da Ásia, A cartamina não é solúvel em água sendo
sendo cultivada na China, Índia, Pérsia, apenas parcialmente solúvel em álcool etílico
Egipto e Europa do Sul, incluindo Portugal, e metílico. É insolúvel em éter. Dissolve-se
na zona do Algarve, onde é conhecida por com uma cor laranja, a frio, em hidróxidos
açaflor. Apesar de ter sido suplantada pelo alcalinos diluídos, carbonato de sódio e
lírio-dos-tintureiros, ainda continua a ser a amoníaco, e é precipitada em soluções alca-
mais utilizada na Ásia Menor, onde existem linas por ácidos. Com o ácido sulfúrico
diferentes variedades. origina uma solução vermelha turva que,
depois de aquecida a 100ºC, origina com
Obtenção da matéria corante água um precipitado violeta, que é solúvel
em soluções alcalinas, com uma coloração
Os capítulos das flores são colhidos verde. A cartamina é muito sensível à hidró-
completamente frescos para serem cuida- lise e é convertida numa cartamina sem cor
dosamente secos à sombra (a luz directa (Schweppe, 1986).
destrói a substância corante). Ficando cor-
-de-laranja. Antes do tingimento, as pétalas Método de tingir
são primeiro amassadas com água para se
remover a substância corante amarela, que • Vermelho
é solúvel em água, prensando-se depois a Antes do tingimento, as pétalas de
massa em forma de bolos e colocando-se a açafrão bastardo são lavadas com água até
secar. a substância corante amarela estar comple-
O tradicional método indiano de proces- tamente removida. A massa residual é tratada
samento de secagem das flores inicia-se com com uma solução alcalina para extrair a
a remoção dos pigmentos amarelos solúveis substância corante (cartamina). As pétalas do
em água, envolvendo repetidas lavagens em açafrão bastardo são filtradas e o filtrado é
água acidificada durante vários dias. neutralizado com um ácido fraco.
8 REVISTA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
O linho e o algodão podem ser corados desde aquela época, em rochas e penedos nos
directamente nesta solução corante. São arquipélagos atlânticos e, particularmente,
produzidos lindos vermelhos e rosas, que nos Açores e Cabo Verde. A sua exploração
são, no entanto, de fraca estabilidade à luz. económica foi uma importante fonte de
No caso da seda, é muitas vezes adicionado rendimento para os Açores, tendo atingido o
alúmen. seu apogeu no século XVI (Faria, 1991).
Urzela
História do uso
h
ho
o
ho
oh
Brasilina Brasileína
xaroposa. Nessa fase era diluída com água à tons alaranjados, com mordentes metálicos
qual era adicionada gelatina. Procedia-se a de estanho e alúmen, tons acastanhados, com
uma nova filtragem e recuperava-se o corante mordentes de crómio e cobre. Sabe-se que estes
da gelatina tratando-o com álcool, onde este tingimentos desvaneciam muito.
é solúvel, não dissolvendo a gelatina. Após
uma última filtragem a solução alcoólica era Dragoeiro
evaporada à secura, obtendo-se finalmente
o corante que era utilizado na tinturaria do História do uso
algodão, da seda e da lã.
A principal substância corante – a brasilina O termo de sangue-de-dragão foi aplicado
– está presente em quase todas as madeiras desde épocas antigas à resina colorida
vermelhas solúveis. A substância corante vermelha obtida a partir de diferentes espé-
é um neoflavonóide que é oxidada por um cies de plantas de quatro géneros distintos:
processo de fermentação e oxigénio em Croton, Dracaena, Daemonorops e Ptero-
brasileína (Tabela 4). Esta é solúvel em carpus provenientes de várias origens
água, álcool etílico, éter etílico e soluções geográficas, respectivamente da América
alcalinas. Dissolve-se para originar uma cor do Sul, do Sudeste Asiático e do Médio
amarela que se transforma gradualmente Oriente.
em vermelho, mas não é facilmente solúvel No comércio externo português no
nos vulgares solventes orgânicos. Em século XV, o sangue-de-dragão foi uma
soluções alcalinas dissolve-se com uma das matérias-primas tinturiais utilizadas
coloração vermelho pálido, que se torna e surgia ao lado da grã, de produção
castanha quando exposta ao ar. Dissolve-se continental, nas listas de produtos exóticos
em ácido sulfúrico concentrado com uma exportados pelos portugueses para a Europa
coloração amarela baça e uma fluorescência (Faria, 1991).
esverdeada. O sangue-de-dragão atingia elevados
preços, em tinturaria, constituindo nos
Método de tingir tempos iniciais de povoamento europeu
das ilhas dos Açores, Cabo Verde, Madeira,
Existiam dois métodos que se utilizavam Canárias e Ilhas selvagens um importante
vulgarmente no tingimento dos têxteis: o da ma- produto de exportação.
deira “cortada”, onde a matéria corante já tinha Dracaena draco L. apresenta como nome
sido oxidada, e era colocada num recipiente e o comum – dragoeiro (Figura 6), uma planta
do corante que é extraído com água morna, onde originária de ilhas Macaronésicas no Oceano
o líquido era uma solução corante concentrada. Atlântico norte perto da Europa e do norte
Este corante tingia a lã, seda e algodão, em de África.
12 REVISTA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Lírio-dos-tintureiros
História do uso
Tabela 5 – Estrutura química dos constituintes maioritários do sangue-de-dragão (Piozzi, et al., 1974).
Parte usada: Fórmula química
seiva
oh oh
oh
ho o
ho o
oh o
oh o
Luteolina Apigenina
Método de tingir
ho o
oh o
oh
oh o Genisteína
Luteolina
PLANTAS TINTUREIRAS 15
o
o
oh Ch3 Ch3
Crocetina
ho
oh
ho ho oh
o Ch3 Ch3 o oh
o o o oh
ho o o o
oh o Ch3 Ch3 o
ho oh oh
oh
oh
Crocina
16 REVISTA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
dentes, mas também é possível tingir com a proveniente da parte oriental do norte da
adição de mordente. Neste caso o têxtil tem América e Canadá e introduzido na Europa
de ser pré-mordentado com uma solução de no séc. XVIII.
alúmen, obtendo-se a cor amarela brilhante.
Madeiras corantes
Fustete
História do uso
Parte usada:
cerne da madeira Fórmula química
oh oh ho oh
oh
ho o
oh ho o ho o
oh
oh
o o o
pastel. No Faial a memória da sua cultura prefira solos ligeiros. Necessita de elevada
é perpetuada na designação do lugar do humidade para germinar e de boa exposição
Pasteleiro, arredores da cidade da Horta solar para atingir o máximo desenvolvimento,
(Stainsfille, 2006). embora tolere algum ensombramento. Era
A cultura, recolha, tratamento e exportação semeada em alfobre e depois plantada em
desta tintureira atingiu valores elevados regos, a planta não podia ser cultivada com
no século XVI, seguido de uma grande sucesso no mesmo terreno em anos seguidos
decadência a partir do último quartel do (agr.unipi.it, 2006).
século XVII. A decadência registada ficou a
dever-se essencialmente à concorrência feita Obtenção da matéria corante
pelo anil produzido nas colónias espanholas
da América Central de onde era trazido para a O método de preparação a partir da planta
Europa. No entanto, a crise interna provocada pouco mudou ao longo do tempo. As folhas
pela dominação Filipina e a especulação de da planta do pastel eram colhidas duas vezes
produtores e comerciantes são apontados por ano, mergulhadas em água, durante 9 a
como factores simultâneos ou de antecipação 14 horas, e trituradas num engenho cons-
à crise geral provocada pela introdução tituído por uma atafona movida por uma
do índigo tropical e do anil, pondo assim vaca ou burro, e moldadas em bolas que
termo a um importante e irreversível ciclo eram deixadas fermentar. A fermentação, que
económico insular. produzia um cheiro pútrido intenso, levava
O extracto fermentado das suas folhas era ao desdobramento dos pigmentos corantes
usado como corante azul em tinturaria. A sua contidos nas folhas. Este licor fermentado é
utilização actual limita-se à tinturaria artística retirado e arejado para que se dê a oxidação
e à produção de tecidos orgânicos (produzidos do corante à forma oxidada, corada, que
sem recurso a produtos sintéticos). precipita. A camada líquida superior é
decantada e o restante aquecido para parar
a fermentação. O licor é filtrado e a pasta
resultante depois de seca está pronta para
ser distribuída. As bolas fermentadas eram
depois deixadas a secar até atingirem um
grau reduzido de humidade, sendo depois
encaminhadas para as tinturarias (madehow.
com, 2006).
O corante, que na planta se encontra na
forma de um glucósido, é hidrolisado a glucose
e à forma leuco, que é solúvel em água.
As folhas e caules são ricos em glucósi-
do indicana que ao decompor-se por fermen-
tação produz indigotina, o princípio activo
do corante azul índigo (Tabela 10). O
Figura 11 – Isatis tinctoria L. pastel-dos-tintureiros, depois de seco, é uma
substância terrosa, sem cheiro ou sabor, de
cor azul-escuro, ganhando um brilho violeta
O pastel-dos-tintureiros é uma planta anual acobreada quando esfregado, contendo, além
ou bienal, raramente perene, da família das da indigotina, numerosas outras substâncias
Cruciferae ou nativa da Europa e do sudoeste corantes e impurezas inertes. A indigotina
da Ásia, mas naturalizada em quase toda é insolúvel em água, daí o seu interesse em
a zona temperada e subtropical. Pode ser tinturaria, dissolvendo-se apenas em ácidos
cultivada em qualquer tipo de solo, embora fortes.
PLANTAS TINTUREIRAS 19
Parte usada:
Folhas Fórmula química
o
h
n
n
h
o
Indigotina
Sujata, V., Ravishankar, G.A., E Venkatara- Wouters, J. (1985) – High performance liquid
manet,.V. (1992) - Methods for the chromatography of antraquinones: analysis
analysis of the saffron metabolites crocin, of plant insect extracts and dyed textiles.
crocetins, pirocrocin and safranal for the Studies in Conservation 30: 119-128.
determination of the quality of the spice Wouters, J. (2001) - The Dye of Rubia
using thin –layer chromatography, high- peregrina L. Preliminary Investigations.
perforamance liquid chromatography and Dyes in History and Archaelogy 16/17:
gas chromatography. Journal of Chromato- 145-157.
graphy 624: 497-502.