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ARQUEOARTE
Estudos de Arqueologia Moderna
587
Velhos e Novos Mundos
TÍTULO / TITLE
Velhos e Novos Mundos. Estudos de Arqueologia Moderna
Old and New Worlds. Studies on Early Modern Archaeology
Volume 2
COORDENADORES / COORDINATORS
André Teixeira, José António Bettencourt
ORGANIZADORES / ORGANIZERS
André Teixeira, Élvio Sousa, Inês Pinto Coelho, Isabel Cristina Fernandes,
José António Bettencourt, Patrícia Carvalho, Paulo Dórdio Gomes, Severino Rodrigues
EDIÇÃO / EDITION
Centro de História de Além-Mar
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa
Universidade dos Açores
Av. de Berna, 26C, 1069 - 061 Lisboa
www.cham.fcsh.unl.pt / cham@fcsh.unl.pt
TIRAGEM / COPIES
500
COLECÇÃO / COLLECTION
ArqueoArte, n.º 1
DEPÓSITO LEGAL
353251/12
ISBN
978-989-8492-18-0
IMPRESSÃO / PRINT
Europress
ORGANIZAÇÃO
APOIOS
© CHAM e Autores
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Estudos de Arqueologia Moderna
71 Largo do Chafariz de Dentro: Alfama em época moderna 219 Crise e identidade urbana: o Jardim Arcádico
Rodrigo Banha da Silva, Pedro Miranda, Vasco de Braga de 1625
Noronha Vieira, António Moreira Vicente, Gonçalo C. Gustavo Portocarrero
Lopes e Cristina Nozes
223 Ao som da bigorna: os ferreiros no quotidiano
85 Os novos espaços da cidade moderna: uma urbano de Arrifana/Penafiel no século XVIII
aproximação à Ribeira de Lisboa através de Teresa Soeiro
uma intervenção no Largo do Terreiro do Trigo
Cristina Gonzalez 233 A paisagem de Arrifana de Sousa descrita pelo
Arruamento de 1762
95 O mobiliário do Palácio Marialva (Lisboa): discursos Maria Helena Parrão Bernardo
socioeconómicos
Andreia Torres 245 Uma taça de porcelana branca e uma asa de grés na
“Arca de Mijavellas”: História e estórias reveladas pela
111 Um celeiro da Mitra no Teatro Romano de Lisboa: construção da Estação do Campo 24 de Agosto do
inércias e mutações de um espaço do século XVI à Metro do Porto
actualidade Iva Teles Botelho
Lídia Fernandes e Rita Fragoso de Almeida
255 O aqueduto da Mãe d’Água: Vila Franca do Campo
123 Rua do Benformoso 168/186 (Lisboa – Mouraria / N’zinga Oliveira e Joana Rodrigues
Intendente): entre a nova e a velha cidade, aspectos
da sua evolução urbanística 261 La ocupación moderna del Teatro Romano de
António Marques, Eva Leitão e Paulo Botelho Cádiz (España): nuevos datos a luz de las recientes
intervenciones arqueológicas
135 Espólio vítreo de um poço do Hospital Real de J. M. Gutiérrez, M. Bustamante, V. Sánchez, D. Bernal e
Todos-os-Santos (Lisboa, Portugal) A. Arévalo
Carlos Boavida
273 El acueducto de la Matriz de Gijón: investigación
141 Quarteirão dos Lagares: contributo para a história documental y arqueológica
económica da Mouraria Cristina Heredia Alonso
Tiago Nunes e Iola Filipe
277 Processo de contato e primórdios da colonização na
151 Vestígios modernos de uma intervenção de baixa bacia do Amazonas: séculos XVI-XVIII
emergência na Rua Rafael Andrade (Lisboa) Rui Gomes Coelho e Fernando Marques
Sara Brito e Regis Barbosa
285 Crise e rebelião colonial: uma perspectiva urbana
157 Alterações urbanísticas na Santarém pós-medieval: a (Minas Gerais / Brasil – século XVIII)
diacronia do abandono de uma rua no planalto de Marvila Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira,
Helena Santos, Marco Liberato e Ricardo Próspero Gabriela Pereira Veloso, Anna Luiza Ladeia e Thaís
Monteiro de Castro Costa
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Velhos e Novos Mundos
293 Arqueologia e arquitecturas daqui e d’além-mar 431 Do papel da Arqueologia para o conhecimento da
Maria de Magalhães Ramalho expansão portuguesa: notas a partir de algumas
estruturas fortificadas no Oriente
João Lizardo
303 ESPAÇO RURAL: PAISAGENS E MEIOS DE
PRODUÇÃO 445 O papel do Forte do Guincho na estratégia de defesa
da costa de Cascais
305 A paisagem como fonte histórica Soraya Rocha e Guilherme Sarmento
David Ferreira, Paulo Dordio e Alexandra Cerveira Lima
315 Cabeço do Outeiro (Lousada, Portugal): um núcleo 449 EDIFÍCIOS RELIGIOSOS E PRÁTICAS FUNERÁRIAS
rural da Idade Moderna
Manuel Nunes, Joana Leite e Paulo Lemos 451 Sé da Cidade Velha, República de Cabo Verde:
resultados da 1.ª fase de campanhas arqueológicas
323 O ciclo do linho no concelho de Penafiel Clementino Amaro
Ana Dolores Leal Anileiro
465 Divindade, governante ou guerreiro? O personagem
333 As pontes de Pretarouca (Lamego): registo Kukulcán nas crônicas do século XVI e o registro
arqueográfico no âmbito de processos de avaliação arqueológico de Chichén Itzá, México
de impactes ambientais Alexandre Guida Navarro
Carla Alves Fernandes e Cristóvão Pimentel Fonseca
469 Andrés de Madariaga’s mausoleum-church: former
339 Engenho de açúcar da alcaidaria de Silves Jesuit College in Bergara (Gipuzkoa, Basque Country,
Rosa Varela Gomes Spain)
Jesús-Manuel Pérez Centeno e Xabier Alberdi Lonbide
351 Imagens, memórias, ruínas nos tempos do lugar: a
biografia de uma paisagem urbana 475 Os Passos da Paixão de Cristo (Setúbal)
Silvio Luiz Cordeiro João Ferreira Santos, Daniela dos Santos Silva e José
Luís Neto
357 Da aldeia guarani à cidade colonial: o processo de
urbanização e as missões jesuíticas platinas nas 483 O lugar da Torre dos Sinos (Convento Velho de
frentes de colonização ibérica S. Domingos), Coimbra: notas para o estudo da
Arno Alvarez Kern formação dos terrenos de aluvião, em época moderna
Sara Almeida, Ricardo Costeira da Silva, Vítor Dias e João
365 O café, a escravidão e a degradação ambiental: Minas Perpétuo
Gerais /Rio de Janeiro – Brasil – século XIX e XX
Carlos Magno Guimarães, Mariana Gonçalves Moreira, 489 Cerca de Santo Agostinho, Coimbra: estudo preliminar
Gabriela Pereira Veloso, Elisângela de Morais Silva e das fases evolutivas e linhas para a sua recuperação
Camila Fernandes Morais Sara Almeida, Susana Temudo, Joana Mendes, Sofia
Ramos e António Cunha
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Estudos de Arqueologia Moderna
561 Para as mulheres pobres, mas honradas: os 683 Projecto de carta arqueológica subaquática do
recolhimentos em Setúbal concelho de Lagos
José Luís Neto e Nathalie Antunes Ferreira Tiago Miguel Fraga
569 Contributo para o conhecimento da população 689 Conservação das estruturas em madeira de um navio
na época moderna na Madeira: abordagem do século XV escavado na Ria de Aveiro: resultados
antropológica aos casos de Santa Cruz preliminares
Rafael Fabricio Nunes João Coelho, Pedro Gonçalves e Francisco Alves
627 Ribeira das Naus hoje: a perene relação de Lisboa 771 A cerâmica do açúcar de Aveiro: recentes achados na
com o Tejo. Dos estaleiros navais do Renascimento ao área do antigo bairro das olarias
antigo Arsenal da Marinha. Subsídios da arqueologia Paulo Jorge Morgado, Ricardo Costeira da Silva e
Rui Nascimento Sónia Jesus Filipe
633 Angra, uma cidade portuária no Atlântico do século 783 Portugal and Terra Nova: ceramic perspectives on the
XVII: uma abordagem geomorfológica early-modern Atlantic
Ana Catarina Garcia Peter E. Pope
645 Caractérisations et typologie du Cimetière des 789 Considerações acerca da cerâmica pedrada e
Ancres: vers une interprétation des conditions de respetivo comércio
mouillage et de la fréquentation de la Baie d’Angra do Olinda Sardinha
Heroísmo, du XVI au XIX siècle. Île de Terceira, Açores
Christelle Chouzenoux 797 A importação de cerâmica europeia para os
arquipélagos da Madeira e dos Açores no século XVI
655 La Rucha: deconstruyendo el origen de la piratería de Élvio Sousa
costa en el Cabo Peñas (Gozón-Asturias-España)
Nicolás Alonso Rodríguez, Valentín Álvarez Martínez e 813 Pottery in Cidade Velha (Cabo Verde)
José Antonio Longo Marina Marie Loiuse Sorensen, Chris Evens e Tânia Casimiro
665 Santo António de Tanná: uma fragata do período 821 A cerâmica no quotidiano colonial português: o caso
moderno de Salvador da Bahia
Tiago Miguel Fraga Carlos Etchevarne e João Pedro Gomes
671 Cada botão sua casaca: indumentária recuperada nas 829 Modern Age Portuguese pottery find in the Bay
escavações arqueológicas da fragata Santo António of Cadiz, Spain
de Taná, naufragada em Mombaça em 1697 José-Antonio Ruiz Gil
André Teixeira e Luís Serrão Gil
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Velhos e Novos Mundos
837 La mayólica del convento de Santo Domingo (siglos 951 Vestígios de um centro produtor de faiança dos
XVI-XVII), Lima (Perú): la evidencia arqueométrica séculos XVII e XVIII: dados de uma intervenção
Javier G. Iñañez, Juan Guillermo Martín, Antonio Coello arqueológica na Rua de Buenos Aires, n.º 10, Lisboa
Luísa Batalha, Andreia Campôa, Guilherme Cardoso,
847 Majólicas italianas do Terreiro do Trigo (Lisboa) Nuno Neto, Paulo Rebelo e Raquel Santos
Cristina Gonzalez
963 Elementos para a caracterização da faiança
855 Produções sevilhanas – azul sobre branco e azul sobre portuguesa do século XVII: a tipologia de Pendery
azul: no contexto das relações económicas e comerciais aplicada à realidade da Casa do Infante (Porto)
entre o litoral algarvio e a Andaluzia (século XVI-XVII) Anabela P. de Sá
Paulo Botelho
975 As produções de louça preta em Trás-os-Montes:
865 As cerâmicas modernas da Fortaleza de N. Sr.ª da caracterização etnográfica e química, seu interesse
Luz, em Cascais: histórias fragmentadas para o estudo das cerâmicas arqueológicas
J. A. Severino Rodrigues, Catarina Bolila, Vanessa Isabel Maria Fernandes e Fernando Castro
Filipe, José Pedro Henriques, Inês Alves Ribeiro e Sara
Teixeira Simões 983 Fábrica de Cerâmica de Santo António de Vale da
Piedade (Vila Nova de Gaia): estruturas construídas e
877 Primeira abordagem a um depósito moderno no espaços de laboração no século XVIII
antigo Paço Episcopal de Coimbra (Museu Nacional Laura Cristina Peixoto de Sousa
de Machado de Castro): a cerâmica desde meados do
século XV à consolidação da Renascença
Ricardo Costeira da Silva 995 GESTÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO
891 Aldeia da Torre dos Frades (Torre de Almofala) 997 Mosteiro de Santa Clara-a-Velha: da luz dos
através da cerâmica em época moderna archotes aos momentos da contemporaneidade.
Elisa Albuquerque Projeto e fruição
Artur Côrte-Real
897 Um gosto decorativo: louça preta e vermelha
polvilhada de branco (mica) 1005 Preservação arqueológica nas missões jesuítico-
Isabel Maria Fernandes -guaranis
Tobias Vilhena de Moraes
909 Os potes “martabã”: um conceito em discussão
Sara Teixeira Simões 1011 Monumentos restaurados e historias em ruínas:
o programa Monumenta e a problemática
919 Do Oriente para Ocidente: contributo para o da intervenção arqueológica na restauração
conhecimento da porcelana chinesa nos quotidianos arquitetônica no Brasil
de época moderna. Estudo de três contextos Ton Ferreira
arqueológicos de Lisboa
José Pedro Vintém Henriques 1019 Património cultural subaquático:
uma questão de visibilidade
933 Porcelana chinesa em Salvador da Bahia Margarida Génio
(séculos XVI a XVIII)
Carlos Etchevarne e João Pedro Gomes 1023 ABSTRACTS
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CERÂMICAS:
PRODUÇÃO,
COMÉRCIO E
CONSUMO
Estudos de Arqueologia Moderna
A IMPORTAÇÃO DE CERÂMICA
EUROPEIA PARA OS
ARQUIPÉLAGOS DA MADEIRA
E DOS AÇORES NO SÉCULO XVI
ÉLVIO SOUSA Câmara Municipal de Machico, CHAM – FCSH - UNL | UAç
RESUMO Após o povoamento dos arquipélagos atlânticos (Madeira e Açores) e a consequente humanização do espaço, cir-
cuitos comerciais intercontinentais alimentados pelo ensaio e cultivo de novos produtos de exportação (açúcar e pastel) capi-
talizam a entrada e o fluxo de apetrechos que constituem a “civilização material” europeia.
Nos lares abastados das ilhas (Madeira, São Miguel, Terceira e Santa Maria) figuram novas séries cerâmicas de importação de
origem castelhana, italiana, francesa, holandesa e alemã.
“O mar só constitui um factor de isolamento maior que o fabrico do açúcar, as faianças brancas e pintadas, as
qualquer outro meio físico quando as ilhas estão fora dos esmaltadas sem decoração, a loiça vidrada, a cerâmica
grandes circuitos marítimos. Quando, pelo contrário, se de construção, a loiça fina não vidrada, as séries empe-
encontram nesses circuitos, as ilhas tornam-se (muitas dradas e modeladas e pintadas e a cerâmica comum
vezes por factores externos e de acaso) activos elos de utilitária.
ligação, fortemente abertas ao mundo exterior, e, em
qualquer caso, muito menos isoladas que certas zonas 2. ALGUNS INDICADORES SÓCIO-ECONÓMICOS
montanhosas.” (Braudel, 1983, p.173-74).
Após o processo de ocupação dos arquipélagos da Ma-
1. BREVE COMENTÁRIO PRÉVIO deira e dos Açores iniciou-se a assiduidade das transac-
ções comerciais com o Reino e entre as ilhas. A pouco
O presente texto nasce de uma investigação que o e pouco, os produtos ensaiados nas terras insulares – o
signatário desenvolve nos últimos três anos tendo por açúcar da Madeira, o cereal e o pastel dos Açores – as-
objectivo central o estudo da civilização material da sumem a pujança de “mercadoria de exportação” e,
Época Moderna nos arquipélagos atlânticos da Madei- consequentemente, foram abertos circuitos de comér-
ra e dos Açores (Sousa, 2011). cio e de distribuição para os portos europeus, africanos
Os sítios arqueológicos que versam a presente reflexão e americanos. A situação geográfica dos arquipélagos
são eminentemente espaços analisados em contexto abre a porta a novos produtos e mercadorias. Ganha,
terrestre, na sua maioria da Região Autónoma da Ma- assim, novo expoente a vida e a civilização material.
deira (de Machico: Junta de Freguesia e Casa com a A confluência de bens, gentes e produtos conferem às
Porta Manuelina; de Santa Cruz: Convento da Piedade regiões insulares da Madeira e dos Açores uma quase de-
e Misericórdia; e do Funchal: Casa Colombo e Quinta pendência de longo-curso das manufacturas europeias
dos Padres). Em relação aos Açores, destacam-se o em troca de produtos agrícolas, criando, na asserção de
Mosteiro de Jesus na Ribeira Grande (Sousa, 2010 p. Chaunu, uma espécie de triângulo constituído pelos
42-51 e 61-62) e os dados obtidos em Vila Franca do “Azores al Norte, las Canarias al Sul, un fragmento de
Campo (escavado desde os anos sessenta do século costa que va de Lisboa a Cádiz a Este. Es el cuello de botel-
XX, por Manuel Sousa d’Oliveira). la, todo pasa por ahí y todo entra” (Chaunu, 1983, p. 56).
Por razões de espaço não se abordam os grupos de Este triângulo anotado por Chaunu, no qual também se
cerâmica de importação portuguesa, nomeadamente: inclui a Madeira, foi palco de relações comerciais entre
os objectos utilitários de Aveiro, os contentores para os povos peninsulares, constituindo-se não só autênti-
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Velhos e Novos Mundos
cos pontos de escala no Atlântico mas, também, cen- 1985, p. 94). Hugo de Linschoot, no século XVI, referin-
tros de dinamização da economia local. Dentro deste do-se à Ilha Terceira, anotou a dependência da ilha em
contexto, novos produtos inseridos nos circuitos locais relação aos apetrechos quotidianos e a outros produtos:
multiplicam-se no recheio do quotidiano insular (con- “Há ali muito peixe, carne e outras coisas necessárias (…)
forme o poder de aquisição do comprador). Enquanto ao azeite trazem-no de Portugal, assim como
Os Açores, posicionados geograficamente nas rotas de os potes, pratos e louça de barro e outros utensílios, os
regresso, tiraram partido dos produtos que vieram da quais não se acham na ilha” (ed. Agostinho, 1943, p. 151).
Índia, África e América. João Marinho dos Santos es- Paralelamente a esta economia de mercado, os lucros
creve que o trigo e o pastel eram “mercadorias suficien- rentáveis dos bens exportados, sobretudo do pastel e
tes só por si para animar o grande comércio e funcionarem do açúcar, enriqueceram os intervenientes directos no
como autênticas para-moedas. Através delas, embora comércio, que iniciam a assunção do gosto para bens
recorrendo sempre a uma moeda de conta (o cruzado ou de luxo importados do Norte de Itália, Sul de Espanha,
o real), efectuava-se a troca por azeite, sal, panos, loiças, Países Baixos, França, Flandres, Alemanha e Inglaterra.
vinhos, letras de câmbio e algum dinheiro de contado” Além das loiças exóticas e de qualidade de fabrico eu-
(Santos, 1989, p. 382). Gera-se uma nova economia de ropeu e oriental, a aristocracia insular passa a adquirir
mercado activada por produtos endógenos e outros outros bens sumptuosos, caso das pinturas, esculturas
que, entretanto, foram sendo ensaiados para cultivo e outros móveis flamengos2 que ornamentaram as
nas ilhas: madeiras, pastel, urzela, sangue-de-drago (re- residências solarengas madeirenses, ou das jóias e teci-
sina de dragoeiro), cereais, cana-de-açúcar e vinho. dos adquiridos pela nobreza e pelos ricos comerciantes
A Madeira, por sua vez, assentou o seu comércio com açorianos.3 Neste aspecto, é fundamental precisar que,
os centros europeus,1 abrindo mais tarde, e com a cul- embora uma boa parte da historiografia insular sustente
tura vinhateira, as transacções com a América, ganhan- a aquisição de “obras de arte” flamengas pelos lucros do
do talvez o estatuto de “Encruzilhada do Atlântico”, comércio transatlântico, a arqueologia tem vindo nos
na visão de Albert Silbert (1954 e 1997). Nas ligações últimos tempos a sustentar a fruição de outros bens que
com os portos do Continente português (nomeada- também podiam garantir o “status social” do compra-
mente com Lisboa, Viana e Caminha) a Madeira nos dor, nomeadamente pelos serviços de loiça dourada de
séculos XV e XVI expedia madeiras, cereais e o açúcar. Valência e do Norte de Itália.
Em troca recebia um conjunto variados de bens, tais
como tecidos, ferro, carne, peixe, sal, azeite, barro, 3. AS IMPORTAÇÕES CERÂMICAS EUROPEIAS
louça, telha e ferramentas (Vieira, 1987, p. 148-149).
O regimento do guarda-mor da Cidade do Funchal, de O estudo do espólio arqueológico associado a con-
Janeiro de 1512, ilustra alguns dos produtos chegados textos arqueológicos quinhentistas da Madeira e dos
do Continente: pescado, sardinha, carne, ferro, azeite, Açores mostra a presença de peças de cerâmica de
telha e barro. (AHM, 1974, p. 542). importação europeia, caso das faianças valencianas
A louça, em especial a utilitária ou comum, e pelo menos (tradicionalmente conhecidas pelo grupo de Paterna/
nos primeiros tempos do século XV, terá vindo de Lisboa, Manises) e andaluzas (nomeadamente de Sevilha), a
Porto e Setúbal. Esta situação poderá ser confrontada ar- par das séries de majólicas italianas (Montelupo e Pisa)
queologicamente com a análise macroscópica das pastas e das produções francesas e alemães.
cerâmicas, e onde inclusive o grupo de Aveiro – bastante O estudo deste grupo específico de cerâmica, indepen-
comum nos finais do século XVI e meados do XVII – é ine- dentemente do aspecto tecnológico relacionado com
xistente nos primeiros estratos antrópicos insulares. a sua produção, remete para o aspecto dos circuitos
Pelo lado açoriano, as transacções com o Reino as- económicos subjacentes à sua distribuição, expressan-
sentavam com os portos de Lisboa, Aveiro, Tavira e do, também, o valor económico, social e cultural que re-
Entre-Douro e Minho e Buarcos (actual freguesia da presentaram nos diversos segmentos da sociedade insu-
Figueira da Foz), fornecendo gado, cereais e pastel lar que delas fizeram uso. A afluência de estrangeiros
em troca de vestuário, sal, loiças, couros, azeite, vinhos, atraídos pelo florescente comércio das ilhas (açúcar,
sardinha, frutos secos, e outros apetrechos (Santos, cereal, pastel, vinho), a partir dos finais do século XV,
1989, p. 366-385; Vieira, 1987, p. 149; Gil, 1981, p. 373; terá contribuído para a introdução de outros artigos de
Gil, 1982, p. 368; Ferreira, 1984, p. 290-292; Godinho, referência. Apesar do significativo silêncio das fontes
escritas em relação à louça corriqueira, os testamen- 6 – Esmaltadas a branco intercaladas a verde, as “Co-
tos e os inventários quinhentistas e seiscentistas dos lumbia Plain withe and green” (Deagan, 1987, p. 56-58
grupos sociais mais endinheirados suscitam elemen- e Gutiérrez, 2000, p. 17-73);
tos que nos servem para entender a presença de de- 7 – Esmaltadas a azul e branco, do tipo azul figurativa,
terminadas peças de importação, com afinidades a “Santo Domingo Blue on White” (Goggin, 1968, p. 131-
este específico status social local. Dentre dos sítios de 34 e Deagan, 1987, p. 9-61);
proveniência destes bens móveis, a documentação lo- 8 – Esmaltadas a branco com azul linear, “Linear blue”
caliza uma predominância do território actualmente ou “Yayal blue on White” (Deagan, 1987, p.58-59) e a
espanhol, designadamente das comunidades autóno- preto linear (Gutiérrez, 2000, p. 17-73);
mas da Andaluzia (Málaga, Sevilha)4 da Catalunha (Ta- 9 – Esmaltadas azul sobre azul;
lavera)5 e da região Valenciana (Valência).6 10 – As séries meladas, decoradas com óxido de man-
ganés.
3.1 A diversidade das produções sevilhanas
Um dos grupos mais representativos da cerâmica de
O grosso do conjunto de cerâmica esmaltada presente importação é o da louça esmaltada, lisa e sem decora-
nos sítios arqueológicos em estudo aponta generica- ção, com paralelos que se enquadram nas diferentes
mente para dez tipos de produções da região de Se- séries andaluzas e que terá sido também produzida
vilha do século XVI: em Lisboa, na segunda metade do século XVI (Calado,
1 – Esmaltada a branco sem decoração, conhecida por 1988; Gomes, 1998, p. 345). É representado, essen-
“Columbia Plain” (Goggin, 1968, p. 117-26; Muñoz e cialmente, pelos pratos com ônfalo e pelas escudelas
Cambra, 1999, p. 160-61) “Plain White” ou “Blanca lisa”; carenadas. Em termos de quantificação é um tipo de
2 – Esmaltada e decorada com motivos a azul e vinoso, loiça que surge em praticamente em todos os sítios
“Isabela polychrome” (Goggin, 1968, p. 126-34) e “azul arqueológicos em estudo dos Açores e da Madeira.
y morada” (Gutiérrez, 2000, p. 17-73); As formas mais comuns são os pratos e as escudelas,
3 – As produções de corda seca; embora também se tenham exumados os saleiros. Os
4 – Esmaltadas com azul liso, conhecidas pelas “mono- pratos (figs. 1 e 2) são compostos por núcleos muito
cromas azules” (Pleguezuelo e Lafuente, 1995, p. 217- semelhantes às escudelas (bege ou rosa claro), com os
-44), “Azul lisa” (Muñoz e Cambra, 1999, p. 160-71) ou bordos não espessados, combinando tipologias de lá-
“Caparra Blue” (Gutiérrez, 2000, p. 17-73), com as con- bios convexos ou afilados. Os fundos mostram, na par-
géneres a verde liso; te inferior um ônfalo rodeado por um filete relevado e
5 – Esmaltadas com cordões plásticos (Gutiérrez, as bases côncavas. Os diâmetros da abertura variam en-
2000, p. 17-73); tre os 180 e os 225 mm. Os exemplares mais íntegros
foram recuperados das escavações do Convento da
4. “2 pratos finos cevilhanos”; e “1paroleira sevilhana”, do inventário Piedade e dos estratos quinhentistas da Junta de Fre-
seiscentista de uma família aristocrata de São Jorge, Açores (Gil,
1979, p.193). guesia de Machico.
5. “9 pratos de talavera fina” e 2 pratos brancos de Talavera”, Ibidem Relativamente ao tipo Isabela polychrome, decorada
(Gil, 1979, p. 193).
6. “malgas de Valencia”, Ibidem (Gil, 1979, p. 60). a azul e vinoso, estão identificados vários fragmen-
799
Velhos e Novos Mundos
tos de pratos e escudelas, com uma correspondência trama compacta e homogénea. As decorações são
cronológica a apontar para a segunda metade do sé- predominantemente de teor geométrico e floral, com-
culo XVI7. A decoração exibe frequentemente motivos binando os apontamentos a azul e cor de vinho. As es-
decorativos esquemáticos e florais pintados a azul-co- cudelas são frequentemente carenadas (figs. 5 e 6), e
balto e vinoso sobre o esmalte claro e as pastas com- com decoração geometricizante apenas na superfície
pactas de tonalidade clara (variando entre o creme e o estanhada interior. As pastas, tal como os congéneres
rosa). As escudelas mostram as superfícies esmaltadas pratos, são de textura compacta e de cor clara (K51) e
a branco ou rosa claro, também com decoração linear apresentam um diâmetro máximo de 130 mm.
a azul, variando a base entre o pé de anel e de assenta- Temos, de seguida, as séries de louça de mesa deco-
mento em aresta. Estas importações sevilhanas dos radas a azul linear8. As formas mais características
séculos XVI estão bem documentadas em Machico, na dentro desta decoração a azul linear são os pratos e
Ribeira Grande e em Vila Franca do Campo. as escudelas, exumados principalmente nos contex-
Os exemplares azuis e vinados sevilhanos encontrados tos da Junta de Freguesia de Machico, Santa Casa da
na Cidade de Machico (figs. 3 e 4) encontram paralelos Misericórdia, Quinta dos Padres e Mosteiro de Jesus
com as peças de Vila Franca do Campo e com as da da Ribeira Grande. As peças mais comuns são os pratos
Ribeira Grande (representadas essencialmente por pra- (figs.7, 8 e 9), de pastas beges ou rosas claras (K51,
tos). Os pratos machiquenses afiguram graficamente M27, L47, L25, K71), com escassos desengordurantes.
diâmetros que oscilam entre os 282 e os 192 mm, com As escudelas, por um lado, exibem as bases de as-
bordos ligeiramente extrovertidos e lábios afilados e sentamento de aresta ou anelar, com diâmetros a ron-
convexos. As pastas são geralmente claras (K51) e de dar os 164 mm e os bordos de tipologia ligeiramente
7. Com parelelos conhecidos nos estudos de Goggin (1968), de 8. Estas peças estão presentes em vários sítios portugueses (Mendes
Pleguezuelo e Lafuente (1995, p. 230-33), de Katheleen Deagen e Pimenta, 2007, p. 73; Cardoso e Rodrigues, 1991, p. 575-85 e Gomes
(Deagan e Cruxent, 2002, p. 15 e Deagan, 1987, p. 58-59) e de Muñoz e Gomes, 1991, p. 457-90).
e Cambra (1999, p. 161).
3. Prato decorado a azul e vinoso (JFM/06-22-3026). 4. Prato decorado a azul e vinoso de Vila Franca do Campo (VFC/
MSO-5).
5 e 6. Escudela com decoração geométrica a azul e vinoso da Junta de Freguesia de Machico (JFM/06-22-3027).
800
Estudos de Arqueologia Moderna
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Velhos e Novos Mundos
Outros dois raros exemplares, e que possivelmente as- diciar um uso no enchimento construtivo, tal como nos
sociamos ao culto religioso no Convento da Piedade outros dois exemplares (fig. 17).
(fig. 17) materializam evidências de possíveis pias de Outras produções muito particulares atribuídas às pro-
água benta com as superfícies profusamente decora- duções das oficinas sevilhanas, a partir do século XV,
das na técnica incisa com gramática geométrica13. O são as esmaltadas monocromas a azul e a verde (tipo 4).
bordo é de tipologia espessada e a pasta porosa e com- As séries em azul aparecem, singularmente, associadas
pacta de tonalidade cinza (M31). O diâmetro da aber- a formas fechadas, normalmente recipientes de mesa,
tura (385 mm) pode significar a funcionalidade da peça como sejam os jarros e os canudos para armazenagem
que, por estabelecimento de paralelos, pode integrar a de líquidos e sólidos (Muñoz e Cambra, 1999, p. 62 e
tipologia das produções andalusas vidradas propostas Gutiérrez, 2000, p. 17-73). Destaca-se de um conjunto
por Florence e Robert Lister (1987, p. 114). Estas peças de quinze fragmentos (doze de paredes indetermina-
podem incluir outras produções sevilhanas que também das; um de uma tampa e um outros dois de uma asa),
identificámos como pertencentes às pias de água ben- a exemplaridade da Unidade 22 da Junta de Freguesia
ta, resultantes do espólio arqueológico do Convento da de Machico14 com vários fragmentos exumados, carac-
Piedade escavado por António Aragão nos anos 60. Um terizados pelas pastas de textura semi-compactas, de
dos fragmentos em causa (fig. 18), uma parcela de um tonalidade clara, L71. Um componente associado a re-
fundo côncavo vidrado verde, exibe na superfície externa cipientes cerâmicos fechados (tampa, figs. 19 e 20) e-
uma decoração a baixo-relevo (provavelmente uma fi- xibe o núcleo das pastas bege (K51), com a aplicação da
gura humana), com um orifício de saída de líquidos. Os tonalidade azul apenas na superfície externa. O exem-
vestígios de argamassa existentes na pasta podem in- plar de asa do Convento da Piedade, provavelmente
13. Sobre as pias baptismais sevilhanas consulte Perera, 1992, p. 191- 14. Também nas escavações realizadas em 2000 no espaço da
212 e Suárez, 2000, p. 467-85). Alfândega de Machico (ALF/00-4-65, Sousa, 2006, p. 156).
14 e 15. Fragmento de parede de uma peça quadrangular com cordões plásticos (JFM/00-4-321).
16. Fragmento da parede de cerâmica vidrada, do tipo “bizcocho, 17. Fragmento de bordo e bojo de possíveis pias de água benta de
cream-colored unglazed”, (JFM/06-22-3452). tamanho reduzido do Convento da Piedade, Santa Cruz (CP/03-
987; CP/03-989).
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Grande) revela-se nas produções montelupinas da pri- de textura compacta, onde a decoração é feita sobre
meira metade do século XVI. As importações da região um engobe amarelado. É um tipo de produção que
de Montelupo coincidem grosso modo com dois tipos está atestada em escavações arqueológicas italianas
de decoração. Um primeiro tipo, representado em par- (Pannuzi, 2003, p. 92; Milanese e Baldassarri, 2004, p.
ticular pelos pratos decorados com orla a azul sobre 293 e Tullio, 2004, p. 292) e nas “colónias” da América
esmalte branco, na técnica “alla porcellana” (Pannuzi, espanhola (Lister e Lister, 1987, p. 209). Berti sintetiza
2003, p. 104-05; Hurst, Neal e Beuningen, 1986, p. 21- a decoração e a cronologia das produções policromas:
22), descrevendo motivos florais, foi exumado nos es- “Nelle versioni policrome si hanno quelle a tre e a quattro
tratos quinhentistas da Junta de Freguesia, em Machico toni cromatici, com lággiunta del marrone o del verde, op-
e na Misericórdia, em Santa Cruz (figs. 28 e 29) e no pure di entrambi. La fabbricazione di questo manufatti era
Mosteiro de Jesus da Ribeira Grande. É uma produção sicuramente in atto nella seconda metà deo XVI secolo e
típica de Valdarno, iniciada na primeira metade do sé- nella prima del sucessivo” (1997, p. 46). As esgrafitadas
culo XV. São peças que se encontram, também, dis- (fig. 32) fazem-se representar por fundos e bordos de
seminadas pelo comércio espanhol nas Américas, Sul pratos de alegadas produções pisanas do século XVI,
do Mediterrâneo e no Norte da Europa (Lister e Lister, de pastas vermelhas bem cozidas, formando moti-
1976, p. 28-41; Milanese, 1993, p. 32). A decoração dos vos geométricos (círculos concêntricos) e estilizações
pratos é cuidada e forma, geralmente, bandas fitomór- zoomórficas e motivos botânicos polícromos (verde
ficas circundadas por linhas paralelas. As pastas são e amarelo). As superfícies estão esmaltadas a branco
homogéneas, de trama compacta, de cor creme (K33), aderente e as pastas mostram raríssimas inclusões
com escassos desengordurantes visíveis a olho-nu. Os plásticas. Exemplares muito semelhantes, para efeitos
diâmetros variam entre os 224 e os 250 mm e os bordos de paralelos, estão referenciados na Itália (em Campa-
são de inflexão externa e lábios boleados18. O outro con- nia, Crescenzo e Pastore, 1994, p. 138 e em Valdievole,
junto, ainda mais expressivo, integra-se, efectivamente, Milanese e Baldassarri, 2004, p. 191-343 e Berti, 2004,
nas séries polícromas da segunda metade do século XVI, p. 355-92), Inglaterra (Aavv, 2002, p. 84) e na América
exibindo uma maior profusão de cores (azul, vermelho, do Sul21 (Deagan e Cruxent, 2002, p. 159). Do ponto de
verde, laranja) e típicos motivos florais. Na sua maioria vista da sua contextualização, o facto de ter sido iden-
constituem fragmentos de parede de recipientes, cuja tificada apenas nos contextos quinhentistas do Mostei-
identificação tipológica é problemática, embora em de- ro de Jesus na Ribeira Grande e de não termos, até ao
terminados casos fosse possível caracterizar elementos momento, outro termo de analogia no que respeita aos
pertencentes a pequenas taças e pratos. As pastas são sítios das Ilhas Atlânticas em estudo, levanta a hipótese
claras, de textura compacta e muito bem depuradas de se tratar de uma loiça de relevo em termos de aqui-
com esmaltes finos de fraca aderência. Alguns fragmen- sição. Por exemplo, os arqueólogos americanos que
tos, também polícromos, podem pertencer às séries escavaram a povoação de La Isabela, hoje República
montelupinas do segundo quartel do século XVI com Dominicana, chegaram à conclusão de que é um tipo
decoração do tipo “blu graffito” (Aliprandini e Milanese, de cerâmica associada à elite residencial da localidade
1986, �����������������������������������������������
p. 266), que são representadas por vários exem- (Deagan e Cruxent, 2002, p. 159). Marco Milanese e
plares de pratos (fig. 30)19. As importações do Norte de Giovanni Aliprandini anotam que em várias regiões itali-
Itália (Pisa)20, do tipo marmoriado e esgrafitado (Berti, anas foram identificadas séries especializadas para o
2004, p. 355-92)��������������������������������������
dos séculos XVI e XVII, estão presen- uso conventual, na atmosfera de Contra-Reforma, com
tes fisicamente na área urbana de Machico (Junta de figuras de santos (Aliprandini e Milanese, 1986, p. 266).
Freguesia e Casa com a Porta Manuelina), Santa Cruz Também do Noroeste da Itália, nomeadamente da
(Convento da Piedade) e Ribeira Grande (Mosteiro de Ligúria22 são as peças pintadas a azul sobre azul iden-
Jesus). As produções mais comuns são as da aplicação tificadas no Mosteiro de Jesus, Convento da Piedade
de técnica de revestimento marmoriado (listras ama- e na Junta de Freguesia de Machico. São importações
relas, vermelhas alternadas, às vezes, com um toque que se fazem representar, essencialmente, por tigelas
de verde e vermelho), possivelmente fabricadas nas e pratos23. Os exemplares mostram os núcleos de pas-
oficinas pisanas do século XVI (fig. 31). As pastas são ta compacta homogénea de tonalidade creme (K71),
18. Pratos deste tipo estão documentados em Silves (Gomes e Go- 21. Cfr., Jamestown Ceramic Research Group: ��������������������
http://www.preserva-
mes, 1996, p. 190). tionvirginia.org/rediscovery/page.php?page_id=273.
19. O tipo decorativo representado pelo fragmento JFM/00-4- 22. Note-se que Lisboa importava, na primeira metade do século
68 está referenciado nas exportações das “colónias espanholas” XVIII, loiça pintada de Génova, (Vasconcellos, 1883, p. 271).
(Deagan, 1987, p. 108). 23. Alguns paralelos podem ser observados em: Blake, 1981, p. 99-
20. A documentação insular dos séculos XVI e XVII refere-se, por exem- 124; Lister e Lister, 1976, p. 311-20; Hurst, Neal e Beuningen, 1986,
plo, às “malgas” e aos “saleiros” oriundas de Pisa (Gil, 1979, p. 60, 70). p. 27, fig.10 e 19.
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3. 5 As importações francesas
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COMENTÁRIO FINAL
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a Itália. Lisboa: Centro de Estudos da Marinha.
812
O presente volume reúne os textos redigidos pela grande maioria dos participantes no “Velhos e
Novos Mundos. Congresso Internacional de Arqueologia Moderna”, que decorreu de 6 a 9 de Abril de
2011 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O evento pretendeu reunir arqueólogos consagrados e jovens, com trabalhos provenientes de con-
textos académicos ou de salvamento, pertinentes para a discussão em torno de diversas temáticas
balizadas nos séculos XV a XVIII, tanto em contexto europeu, como em espaços colonizados.
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cações e a guerra, a vida religiosa e as práticas funerárias, as paisagens marítimas, os navios e a vida
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valorização do património arqueológico.