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A “COLEÇÃO NOVO GIRASSOL: SABERES E FAZERES DO CAMPO” COMO

BASE À CONSTRUÇÃO DE VALORES ESSENCIAIS À VIDA RURAL1

Ana Viviane Miguel de Azevedo2

Nilvania dos Santos Silva3

RESUMO

A formação moral é uma temática relevante porque possibilita uma reflexão sobre a
formação moral dos sujeitos do campo, buscando contribuir para a prática didática
dos profissionais da educação que utilizam livros didáticos. Este trabalho tem como
objetivo geral demonstrar como um livro da “Coleção Novo Girassol: saberes e
fazeres do campo” pode possibilitar oportunidades para a construção dos valores da
solidariedade e do trabalho coletivo. Para o alcance deste, elencamos os seguintes
específicos, identificar imagens do livro do 5º ano de Língua Portuguesa, Geografia
e História, desta coleção didática que remetam a formação moral, especificamente
aos valores da solidariedade e do trabalho coletivo e estudar as possibilidades que o
profissional pode utilizar a imagem para abordar a formação moral. Utilizamos como
referencial teórico La Taille (2006); Marques (2012); MST (2002) dentre outros.
Utilizamos como metodologia a análise documental, que é uma técnica de pesquisa
na qual se analisa materiais que não receberam ainda um tratamento
aprofundado/crítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os
objetivos da pesquisa. As reflexões e análises apresentadas nesse ensaio, trazem
indícios que a partir desse recurso didático, o profissional de educação pode focar a
formação moral dos sujeitos do campo, estritamente na construção dos valores da
solidariedade e do trabalho coletivo, percebidos através do olhar sensível que o
profissional/ pesquisador precisa ter para identificar e estudar como pode vim a ser
trabalhado esses valores em sala de aula. Partindo dessa amostra de análises,
percebemos que o livro de Língua Portuguesa, Geografia e História do 5º ano da
“Coleção Novo Girassol: saberes e fazeres do Campo” dar indícios para o
profissional da educação do campo trabalhar/abordar a formação moral,
especificamente na construção dos valores da solidariedade e do trabalho coletivo.

Palavras-chave: Educação do Campo. Livro Didático. Valores.

1
Ensaio elaborado com base no Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Licenciatura em
Pedagogia, intitulado “FORMAÇÃO MORAL: a “Coleção Novo Girassol: saberes e fazeres do campo”
como material didático mediador na construção de valores dos Sujeitos do Mundo Rural” (2017), de
autoria de Ana Viviane Miguel de Azevedo, com a orientação da Profª Nilvania dos Santos Silva.
2
Graduada em Licenciatura em Pedagogia, do CCHSA; Integrante do “Núcleo de Extensão
Multidisciplinar para o Desenvolvimento Rural” (NEMDR) do CCHSA; ana-viviane1@hotmail.com
3
Docente do Departamento de Educação do CCHSA; e coordenadora do NEMDR;
nilufpb@gmail.com

0241
INTRODUÇÃO

Esta produção é resultante do Trabalho de Conclusão do Curso de


Licenciatura em Pedagogia do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias da
Universidade Federal da Paraíba, intitulado “FORMAÇÃO MORAL: a “Coleção Novo
Girassol: saberes e fazeres do campo” como material didático mediador na
construção de valores dos Sujeitos do Mundo Rural” (2017), de autoria de Ana
Viviane Miguel de Azevedo, orientada por Nilvania dos Santos Silva. Em que o
mesmo surgiu, também, pela participação em projetos de pesquisa desenvolvidos
anteriormente, pela equipe do Núcleo de Extensão Multidisciplinar para o
Desenvolvimento Rural – NEMDR, do Campus III da Universidade Federal da
Paraíba (CCHSA/UFPB), os quais se embasaram na necessidade de estudar
alternativas didáticas para fundamentar formações ofertadas pelo NEMDR, do qual
fazemos parte.
Neste ensaio, buscamos a solução para a seguinte problemática: como um
livro da Coleção Novo Girassol: saberes e fazeres do campo oportuniza o
profissional de educação discutir a construção do valor da solidariedade e do
trabalho coletivo? Esta temática é relevante porque possibilita uma reflexão sobre a
formação moral dos sujeitos do campo, buscando contribuir para a prática didática
dos profissionais da educação que utilizam essa coleção de livros, especificamente
na construção de valores como a solidariedade e o trabalho coletivo.
A importância do tema se dar também porque vivemos em uma sociedade em
que os valores que favorecem a ocorrência de atos de solidariedade e de
coletividade podem ser esquecidos ou deixados de lado em detrimento de posturas
individualistas. Enquanto instituição formadora, de forma transversal, uma escola
precisa incentivar a defesa e a prática de valores que fundamentem o coletivismo.
Diante da importância da formação moral sentimos a necessidade de
comentar inicialmente o que é moral e qual a finalidade desta para a construção dos
valores na perspectiva dos discentes das escolas situadas no campo do município
de Bananeiras – PB.
La Taille (2006, p.26) define moral como: “conjunto de regras de conduta, por
proibições de vários tipos cuja transgressão acarreta sansões socialmente
organizadas”. Isto é, moral é um fenômeno social em que todas as comunidades são

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regidas por regras e condutas que devem ser obedecidas e respeitadas por todos os
sujeitos das comunidades. Nesse ponto de vista

Chamamos de moral os sistemas e princípios que respondem à pergunta


‘como devo agir?’. Como todos os sistemas morais pressupõem, por parte
do indivíduo que os legitima, a experiência subjetiva de um sentimento de
obrigatoriedade (...) identificamos esse sentimento como invariante
psicológico do plano moral. (LA TAILLE, 2006, p.46).

Consequentemente, moral é um objeto de conhecimento, que fala em regras,


princípios e em valores e essa moral precisa ser construída através da interação dos
sujeitos em um espaço de aprendizagem. E para que haja uma verdadeira
construção dessa moral no espaço escolar, o docente precisa mediar esse
processo, contribuindo dessa forma para que a interação aconteça e em
consequência a aprendizagem.
Dessa forma, a formação moral é uma construção de regras, princípios e
valores. Nesse trabalho vamos abordar o seguimento dos valores, que segundo
Marques (2012):

Os valores são fundamentos que constituem a consciência humana


(Martinelli, 1996) e, portanto, funcionam como referenciais internos que
justificam nossas escolhas e condutas. Mas valor não é sinônimo de atitude.
Aquilo em que acreditamos precisa ser vivido para que se materialize; não
basta ser divulgado. [...] para que uma educação seja, de fato, de valor, não
é necessário descobrir novos valores, mas perceber e desvelar os valores
eternos em crianças e jovens e transformar essa descoberta em prática
cotidiana, ou seja, em virtude. (MARQUES, 2006, p.20).

Quer dizer, valores são fundamentos que justificam as nossas escolhas e


condutas, ou seja, justificam o nosso modo de agir, de se portar, de viver. O valor
tem que ser vivenciado na prática e não apenas proclamado, e a educação é um
caminho para perceber e velar pelos valores e transformá-la em prática diária.

Dentro da discussão de valores, nesse ensaio vamos focar especificamente


no valor da solidariedade e do trabalho coletivo. A solidariedade, que segundo
Marques (2012) é um dos caminhos para uma educação pautada em valores “o
caminho da solidariedade – para desenvolver a capacidade de cooperar, de
compartilhar desafios e conquistas, alegrias e sofrimento” (p.21). Em outras

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palavras, através da solidariedade pode ser desenvolvido a capacidade de cooperar,
de compartilhar (partilhar algo, seja através da experiência, da cultura, dos
sentimentos). Marques (2012) ainda discute que:

[...]. Ser solidário é estar comprometido com a manutenção da vida humana,


reconhecendo que somos parte da mesma família humana. Sendo assim, o
sentimento de pertencimento, de valorização, de importância é a base para
que um indivíduo deseje cuidar, acompanhar, cooperar, ficar próximo,
apoiar e revelar uma profunda satisfação por esse feito. (MARQUES, 2012,
pp. 139 e 140).

Isto é, para o sujeito ser solidário, ele primeiramente precisa entender o


sentido da solidariedade e posteriormente desejar, querer ser solidário. Isso nos
mostra que o papel do profissional de educação nesse sentido é de, mostrar o que é
a solidariedade e estimular neles a essência de ser solidário.
O valor do trabalho coletivo estar relacionado com outros valores, bem como:
a cooperação, a partilha, a solidariedade. E segundo o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (2002) o trabalho coletivo é uma forma de
cooperar, de ajudar, de ser companheiro. O trabalho coletivo que muitos podem falar
que é um trabalho em que se trabalha pouco, menos, mas que segundo o MST
(2002, p.15) “ No trabalho coletivo não se trabalha menos: se trabalha diferente” e
essa “diferença” deve ser o que importa na vida do sujeito porque essa diferença é o
ajudar o próximo, o cooperar, o ser companheiro, ser solidário com o próximo, por
mais que a sociedade que vivemos nos mostre o contrário, nos mostre que
precisamos ser egoístas, individualistas. Precisamos fazer a diferença, e essa
diferença precisa ser anunciada por todos, e a escola é um ambiente em que se tem
a necessidade de estimular essa construção de valores.
Conforme podemos perceber, ao trabalhar um determinado valor, estamos
indiretamente trabalhando outros, porque um valor liga a outro, então, precisamos
ter uma educação voltada para os valores, no sentido de contribuir no
desenvolvimento moral e ético do sujeito e que essa educação pode ser valorizada e
compreendida por todos os que fazem parte do processo de ensino e de
aprendizagem.
Nesse sentido, para contribuir nessa discussão, este trabalho tem como
objetivo geral demonstrar como um livro da “Coleção Novo Girassol: saberes e

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fazeres do campo” pode possibilitar oportunidades para a construção dos valores da
solidariedade e do trabalho coletivo. Para o alcance deste, elencamos os seguintes
específicos, identificar imagens do livro do 5º ano de Língua Portuguesa, Geografia
e História, desta coleção didática que remetam a formação moral, especificamente
aos valores da solidariedade e do trabalho coletivo e estudar as possibilidades que o
profissional pode utilizar a imagem para abordar a formação moral.
Utilizamos como metodologia a análise documental, que é uma técnica de
pesquisa na qual se analisa materiais que não receberam ainda um tratamento
aprofundado/crítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os
objetivos da pesquisa. Sá-Silva, Almeida e Guindani compreende que “a pesquisa
documental é um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a
apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos” (2009:
pp. 4-5).
O documento analisado neste ensaio foi o livro de Língua Portuguesa,
Geografia e História do 5º ano da “Coleção Novo Girassol: saberes e fazeres do
campo” que é uma coleção de livros didáticos que são direcionados para a
Educação do Campo. Focalizou-se em ilustrações que possam possibilitar aos
profissionais da educação trabalharem a formação moral, estritamente na
construção dos valores da solidariedade e do trabalho coletivo, para com os
discentes das escolas situadas no campo, como os do município de Bananeiras
(PB).

DESENVOLVIMENTO

Desta forma, neste ensaio, o norteador foi a busca de imagens que possam
servir como oportunidades didáticas para possibilitar aos profissionais da educação
ensinarem conhecimentos chaves para a formação moral, aprendizagem de regras,
princípios e valores essenciais para a vida rural, especificamente o valor da
solidariedade e do trabalho coletivo.
Na unidade 1 do livro de Língua Portuguesa, Geografia e História, mais
precisamente na parte de História, uma vez que o livro é dividido por componente
curricular, tem uma ilustração que o profissional da educação do campo pode estar
focando os valores da solidariedade e do trabalho coletivo.

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Ilustração 01: Comunidade, memória e história.
Fonte: “Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo”, Língua Portuguesa, Geografia e
História, 5º ano (2014, pág.147).

Como podemos observar na ilustração 01, a unidade 1 vai discutir sobre a


convivência social, em que essa ilustração mostra uma reunião de trabalhadores
rurais em frente ao Sindicato dos Trabalhadores na Lavoura de Governador
Valadares, Minas Gerais, em fevereiro de 1964. Ou seja, a convivência social é
importante para a história de luta das comunidades campesinas. Diante dessa
ilustração, o profissional de educação pode proporcionar uma discussão acerca da
solidariedade, da união, do trabalho coletivo, da importância da luta, em que vamos
focar especificamente do que vem a ser esse valor da solidariedade e na
perspectiva do MST a solidariedade:

Deve ser a ação consciente de pessoas da mesma classe na busca de


alternativas conjuntas para se buscar soluções definitivas e para todos [...]
Solidariedade é mais do que doar o que se sobra [como fazem os incluídos
socialmente, colaborando com os excluídos socialmente], mas também o
que nos pode fazer falta, por entendermos que o ser humano tem essa
possibilidade de permitir que todos os povos tenham o direito de satisfazer
suas necessidades, mesmo que isso dependa da ajuda e da participação
solidária de todos (BOFF; BETO; BOGO, 2000 apud Silva 2008, p.46).

Isto é, para uma ação consciente, o sujeito precisa ter refletido sobre sua
atitude para, em seguida, poder tomar uma decisão que permita compreender a
situação na perspectiva do outro, em nome do coletivo. O que implica, se
necessário, ajudá-lo, sem pretender receber nada em troca. Com isso, acreditamos

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que o profissional de educação da escola situada no campo, para mediar um
processo de construção de valores como o da solidariedade precisa vivenciar e
adotá-los, praticando em sua vida. Partindo de reflexões, mas, indo além, agindo de
maneira consciente, auxiliando com a elaboração de situações de aprendizagem
que favoreçam aos seus discentes subsídios para que adotem valores como esse na
sua vida.
A partir da ilustração 01, o docente pode proporcionar inicialmente um debate
sobre a importância da Associação dos Agricultores da comunidade, questionando,
se os alunos sabem que na comunidade existe uma Associação, se eles conhecem
a história de luta da mesma. Bem como, o profissional de educação ele pode
possibilitar um espaço de diálogo da escola com a Associação, em que o presidente
poderia ir na escola informar como é o funcionamento, como também, o docente
poderia levar os alunos para participarem de uma reunião para que eles possam
entender como se dar o processo de uma Associação. E que dentro de uma
Associação, existe vários valores interligados dentre eles a solidariedade, a união, a
luta e o trabalho coletivo.
No capítulo 2 da unidade 1 do mesmo livro, tem uma imagem que possibilita o
profissional de educação do campo abordar os valores da solidariedade, união e
trabalho coletivo.

Ilustração 02: Mudanças na vida comunitária.


Fonte: “Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo”, Língua Portuguesa, Geografia e
História, 5º ano (2014, pág.152).

Como podemos observar a ilustração 02, ela representa um grupo reunido


que estão discutindo sobre como diminuir os conflitos e regrar a vida em sociedade.
Com isso, o profissional de educação do campo pode também focar na Associação
dos Agricultores bem como poderia entrar em discussão sobre o Conselho Escolar,

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investigando se entidades como estas existem na comunidade? E, caso se façam
presentes, quem são os integrantes? Quais as ações estão sendo desenvolvidas?
Como pode contribuir para o processo de construção de regras, princípios e valores
essenciais para a vida rural?
Diante disso o profissional de educação do campo deve proporcionar a
construção ou a ampliação do valor da solidariedade e do trabalho coletivo, uma vez
que tanto na Associação como no Conselho, é trabalho em grupo, em que cada um
tem a sua função. É importante salientar a distinção em participar de uma atividade
em que haja coletividade embasada num verdadeiro trabalho em grupo, daquela em
que há uma mera divisão/recorte das atividades, sem que os envolvidos participem,
vivenciem, todas as fases da ação, desde o planejamento até a avaliação.
Daí considera a relevância do trabalho em grupo na prática educativa como
uma atividade que permita a ocorrência da colaboração (cooperação) no trabalho
por parte de todos de forma a permitir a minimização dos efeitos negativos da
imitação. O educador deve evitar o que em geral vem ocorrendo que é “a
transformação de trabalhos individuais em grupais, por exemplo, dar uma lista de
questões para um grupo responder e dentro dividi-las e “cada um faz o seu’
novamente! ” (MENIN, 1996: p. 93).
É possível estabelecer alguns elos entre a escola ativa e as propostas
embasadas por outras pedagogias, como a da pedagogia do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)? Sim, ao considerar que esta educação tem
como princípio, filosófico e pedagógico, o trabalho, ou seja, a ela cabe “oportunizar
aos educandos vivencias de trabalho e de cooperação. Neste caso a educação é
pelo e para o trabalho e à cooperação” (MST, 1992). Osis (MST, 2005), expos que a
educação do MST tem como seu maior desafio oportunizar o “fazer”, a prática, da
ajuda mútua e da ação cooperada enquanto parte da prática educativa, numa
perspectiva transversal.
Na perspectiva da “Pedagogia do Movimento” MST (1992) para que isto seja
possível a escola deve ser um lugar de vivência e de reflexão de uma nova moral,
construído no coletivo, o que implica no fato de todos se conceberem como
responsáveis pela atividade. São exemplos destes valores a disciplina pessoal, a
perseverança, o amor ao trabalho e ao estudo, a honestidade etc. O foco do
processo educativo passa a ser o aprender a se organizar, a trabalhar em grupo. O
que implica em ações grupais que possibilitem que todos os discentes, orientados

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por pais e professores, possam participar dos processos de planejamento, execução
e avaliação do trabalho educativo, como dos momentos em que há jogos,
brincadeiras, estudo, (MST, 1992).
O profissional de educação do campo pode utilizar a ilustração 02 para focar
o trabalho em grupo, por exemplo, a partir do trabalho didático das unidades o
professor pode proporcionar a reflexão nos alunos com os seguintes
questionamentos: o que é trabalho coletivo? É só dividir as partes? Como deve ser
desenvolvido e executado o trabalho coletivo? Dessa forma, o docente também tem
que ter a sensibilidade para mediar esse processo de aprendizagem.
Assim, aborda-se o trabalho em grupo através da cooperação dos sujeitos no
trabalho de se reunirem para tomarem certas decisões pensadas para o bem de
todos os moradores da comunidade, focando assim segundo o MST (2002, p.13)
que é “através do trabalho coletivo que forjamos novas relações com nossa família,
com o ambiente e com a sociedade”. Ou seja, ao trabalhar de forma coletiva você
estar construindo novas relações com a sua família, seus amigos, vizinhos.
Para tanto, faz-se necessárias mudanças na vida comunitária, ressaltada na
imagem da ilustração 02, que pode ocorrer mediada por uma Associação dos
Agricultores e pode interligar-se ao Conselho Escolar, em que nas Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo (2002) em seu artº 11
aborda a gestão democrática e traz em seu §1 que “para a consolidação da
autonomia das escolas e o fortalecimento dos conselhos que propugnam por um
projeto de desenvolvimento que torne possível à população do campo viver com
dignidade” (BRASIL, 2002).
Cabe, então, ao Conselho Escolar intervir, enquanto parte de um processo
marcado pela gestão democrática, com integrantes de vários segmentos da escola
dentre eles: gestores, professores, funcionários, pais, comunidade escolar e alunos.
Diante da importância do Conselho Escolar para a escola, especificamente para a
escola do campo, o MEC (2004) disponibilizou cadernos que abordam essa
importância:

O Conselho Escolar tem papel decisivo na democratização da educação e


da escola (veja Caderno 5). Ele é um importante espaço no processo de
democratização, na medida em que reúne diretores, professores,
funcionários, estudantes, pais e outros representantes da comunidade para
discutir, definir e acompanhar o desenvolvimento do projeto político

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pedagógico da escola, que deve ser visto, debatido e analisado dentro do
contexto nacional e internacional em que vivemos (BRASIL, 2004).

Assim, para que os educandos de uma escola rural compreendam a


importância do trabalho coletivo, da união, do quão é essencial ações para a
coletividade, em prol da comunidade atendida pela escola.

Observando a ilustração 03, na página 167, do mesmo livro, também


visualizamos, a imagem de um quadro intitulado A família, que foi produzido por
Tarsila do Amaral. O livro nos dá a proposta de observar o quadro que representa
uma família do campo em 1925 e traz algumas questões a partir do quadro. Porém,
é viável que o educador manifeste no educando o interesse de analisar que nessa
família do quadro é percebido uma cumplicidade, solidariedade e amorosidade
dentre eles.

Ilustração 03: A arte como expressão da cultura.


Fonte: “Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo”, Língua Portuguesa, Geografia e
História, 5º ano (2014, pág.167).

O profissional de educação do campo pode utilizar essa imagem para


focalizar a importância de se trabalhar a solidariedade em espaços educativos e
familiares, a qual segundo o dicionário “ é o laço ou vínculo recíproco de pessoas ou
coisas independentes. Apoio a causa, princípio, etc., de outrem. Sentido moral que
vincula o indivíduo a vida, aos interesses dum grupo social, duma nação, ou da
humanidade”. (FERREIRA, 2000, p.644).
Quer dizer, é um sentido de apoiar o outro quando necessário, ajudando
quando for preciso, sendo assim um laço de reciprocidade no sentido de, quando
você tiver uma necessidade, outra pessoa vai lhe ajudar. Com isso, a solidariedade

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é um apoio a alguém que seja seu próximo e até mesmo, apoiar, ajudar aquele que
você nunca tinha visto, mais você percebe que ele estar precisando da sua ajuda.
Sugerimos que o profissional de educação do campo, pode utilizar essa
ilustração 03 para propor uma atividade de desenho no sentido de que os alunos
eles representem como é a família do campo atual, questionando como vivem as
famílias deles, como é a questão econômica, as relações familiares. Com isso, que
eles possam demonstrar alguns valores que são presentes nas relações familiares.
Na 4º unidade, especificamente no 1º capítulo do livro de Língua Portuguesa,
Geografia e História, tem uma parte que destaca os direitos em uma democracia e
vem focar a democracia indígena. Através dessa imagem o profissional pode
trabalhar os valores do trabalho coletivo, da união e do respeito aos mais velhos às
culturas, como a indígena, quilombola e campesina.

Ilustração 04: A democracia indígena.


Fonte: “Coleção Novo Girassol saberes e fazeres do campo”, Língua Portuguesa, Geografia e
História, 5º ano (2014, pág.182).

Como podemos observar a ilustração 04, mostra que os indígenas, em


geral, valorizam o viver de forma coletiva, se reúnem, respeitam os mais velhos.
Com isso, o docente pode utilizar a cultura indígena para abordar alguns valores,
dentre eles o trabalho coletivo, que na perspectiva do MST:

em grupo, dividindo tarefas, tomando decisões, resolvendo problemas que a


prática da escola e da comunidade vai apresentando. Pais e professores
devem orientar o trabalho, os jogos, as brincadeiras, o estudo, mas quem
deve planejar, executar e avaliar é o coletivo de alunos. (MST, 2002, p.52)

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Dessa forma, podemos ir tentando desconstruir a visão dos alunos que no
coletivo há menos trabalho, mas, pelo contrário, é distinto dos outros, com aspectos
únicos que embasam a formação de valores essenciais para a vida comunitária,
embasada na ajuda ao outro a qual faz construir um sentimento de coletividade.
Recomendamos ao profissional de educação do campo que utilize a proposta
do livro que é a questão se a democracia indígena é semelhante com a democracia
praticada em sua própria comunidade, o que vai fazer com que os discentes eles
pesquisem como é o modo da democracia na comunidade. Podemos questionar,
onde podemos conseguir esses dados? Será que na Associação poderíamos obter
essas informações? Ou tem outro espaço que podemos saber? E a democracia da
escola, existe? Como existe? Por que existe?
Diante desses questionamentos, podemos organizar um espaço em que
possamos ter a diretoria da Associação e a diretoria da Escola, o que pode ser um
espaço de esclarecimento, tirando todas as dúvidas de como funciona a democracia
de ambas as partes, quais são as semelhanças e diferenças. Dessa maneira,
promovendo um espaço de aprendizagem para todos os envolvidos no processo.
Esta e outras amostra traz indícios que a partir desse recurso didático, o
profissional de educação pode focar a formação moral dos sujeitos do campo,
estritamente na construção dos valores da solidariedade e do trabalho coletivo,
percebidos através do olhar sensível que o profissional/ pesquisador precisa ter para
identificar e estudar como pode vim a ser trabalhado esses valores em sala de aula.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Partindo dessa amostra de análises, percebemos que o livro de Língua


Portuguesa, Geografia e História do 5º ano da “Coleção Novo Girassol: saberes e
fazeres do Campo” dar indícios para o profissional da educação do campo
trabalhar/abordar a formação moral, especificamente na construção dos valores da
solidariedade e do trabalho coletivo para com os sujeitos situados no campo do
município de Bananeiras – PB.

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Bem como, esse trabalho possibilitou compreender que precisamos ter um
olhar mais sensível para as imagens do livro didático e tentar perceber a imagem
mais aprofundada e não apenas observar a descrição da imagem e isso é de suma
importância para a construção do sujeito, tanto o que estar mediando o processo
quanto o que estar sendo mediado.
A partir desse estudo, entendemos a necessidade de uma formação
continuada para os profissionais da educação do campo, para que eles possam
entender que podemos partir do livro didático para trabalharmos a formação moral, a
construção dos valores da solidariedade e do trabalho coletivo, sendo que, isso
precisa ser apresentado e discutido com estes profissionais e também através
dessas formações continuadas pode-se compartilhar as experiências vivenciadas
que poderão enriquecer ainda mais a prática pedagógica assim como os saberes
dos profissionais que atuam para favorecer as aprendizagens dos sujeitos do mundo
rural.
Desta forma, concluímos que o livro didático analisado pode favorecer uma
educação contextualizada, na qual o profissional de educação que faz uso dele,
aborde a formação moral, na construção dos valores da solidariedade e do trabalho
coletivo e sem deixar de esclarecer que ao trabalhar um valor, indiretamente
estamos abordando outros porque os valores estão interligados.
Porém, não podemos deixar de ressaltar que este ensaio se dedicou apenas
a um breve estudo sobre como um livro didático pode mediar o processo de
formação moral do Sujeito do Campo. Assim, em primeiro lugar, não podemos
esquecer os limites, espaciais e temporais, que devem ser considerados antes de
qualquer generalização dos resultados obtidos. Em segundo, estas limitações
remetem a necessidade de mais – quanti e qualitativamente - estudos que, com
certeza, esperamos ultrapassar os muros de um Trabalho de Conclusão de Curso,
remetendo a novos projetos de pesquisa, inclusive os de pós-graduação. É um
compromisso que assumimos!

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Ana Viviane Miguel de. Formação Moral: a “Coleção Novo Girassol:
saberes e fazeres do campo” como material didático mediador na construção
de valores dos Sujeitos do Mundo Rural. 2017, 50f. Monografia (Trabalho de

0253
Graduação em Pedagogia) - Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias
(CCHSA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bananeiras, 2017
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