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Ética e Moral Livro PDF
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TRIBUNAIS e MPU
LEANDRO BORTOLETO Coordenador
PERLA MÜLLER HENRIQUE CORREIA
NOÇÕES DE ÉTICA
NO SERVIÇO PÚBLICO
2.ª edição
revista e atualizada
2016
Edital sistematizado1
(Para facilitar a pesquisa e otimizar seu estudo)
1. Dependendo do edital, a matéria pode ser cobrada como Ética no Serviço Público ou Ética na Admi-
nistração Pública.
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Cap. I – Ética
CAPÍTULO I
Ética
Sumário • 1. Conceito de Ética – 2. Ética e Moral; 2.1. Ética e ciência – 3. Ética, virtudes, valores e princí-
pios – 4. Classificações da Ética segundo as diversas correntes de pensamento – 5. Ética, democracia e
exercício da cidadania – 6. Ética e função pública – 7. Questões: 7.1. Questões comentadas; 7.2. Questões
de concursos.
1. CONCEITO DE ÉTICA
Já os gregos (nos séculos que antecederam à Era Cristã) preocupavam-se com
o problema ético, inclusive no exercício das funções públicas1, e deitavam esforços
para delinear o conceito de ‘ética'. A palavra ‘ética' vem do grego ethos e significa
caráter, qualidade do ser, enfim morada do ser. Para Sócrates, ética constituía o
conhecimento que conduz o homem à felicidade; para Platão, ética é tomada como
o saber que dirige a conduta humana à Justiça; para Aristóteles, ética caracterizava
o conhecimento que propicia ao homem alcançar a virtude cardeal, consistente na
ação justa, prudente, corajosa e temperada.
Podemos dizer, de um modo geral, que ética é o conhecimento que oferta ao
homem critérios para a eleição da melhor conduta, tendo em conta o interesse de
toda a comunidade humana2! Se o objetivo do homem é a vida feliz3 e harmônica,
a realização do bem comum, o alcance de tal objetivo depende do modo como o
homem escolhe e determina quais ações podem ser consideradas como as melhores:
a ética, desta forma, é a reflexão sobre quais ações são virtuosas (boas) e quais
não o são.
1. Aristóteles, citando Bias, afirmou que “o cargo público revela aquilo de que um homem é capaz,
porque no desempenho da sua função já se está em relação com outrem”. E Creonte sabiamente
ponderou: “É impossível perceber claramente a alma, o coração e os pensamentos de cada um
antes que tenha sido posto à prova no seu cargo público e na sua dignidade” (ARISTÓTELES. Ética a
Nicômaco. São Paulo: Atlas, 2009, p. 106 e 258, respectivamente)
2. Conforme Almeida e Christmann, a Ética é “filosofia que fará a eleição das melhores ações tendo como
horizonte o interesse coletivo, universal” (ALMEIDA, Guilherme de Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer.
Ética e direito: uma perspectiva integrada, 3ª ed., São Paulo: Atlas, 2009, p. 4)
3. Sobre ser a felicidade o objetivo do homem e critério para eleição da conduta ética, pertinente os
ensinamentos do mestre Comparato: “Com efeito, o que pode existir de mais valioso na vida, quer
dos indivíduos, quer dos povos, senão alcançar a plena felicidade? Pois é disto exatamente que se
trata quando falamos em ética (...): nunca se ouviu falar de alguém que tivesse a infelicidade por
propósito ou programa de vida. Ora, a felicidade não é uma dádiva, e sim a recompensa de um
esforço constante e bem orientado. Daí a importância suprema da investigação sobre o que é bom
ou mau para se alcançar esse objetivo”. (COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião
no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 17)
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NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO – Leandro Bortoleto e Perla Müller
4. Ética geral e profissional, 9ª ed. rev. atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2012, p.28.
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Cap. I – Ética
o valor das coisas é o preço, o valor dos homens é a dignidade. Assim, coisas têm
preço, homens têm dignidade.
A sobrevivência e prosperidade da humanidade dependem da reverência –
preferencialmente autônoma, voluntária, livre – dos padrões éticos, dos valores e
princípios que tem a dignidade humana como baluarte.
O Estado e seus órgãos, ao estabelecerem ‘códigos de ética’ ou ‘comissões de
ética’, em verdade estabelecem regras e processos legais que punem as pessoas
que os violaram, de modo que visam justamente inibir o mau proceder daqueles
que não escolheram, para si, a prática voluntária da ética. Os códigos de ética
positivam a filosofia do comportamento profissional, orientando a razão de ser da
profissão. Tais códigos e comissões visam o ‘adestramento’ do homem, a fim de
impeli-lo a escolher o comportamento tido como socialmente correto e relevante
e aí o homem não é ético, embora seu comportamento seja louvável. Quer isto
dizer que o comportamento ético é aquele que escolhe o que é bom, justo e certo
não por prescrições de caráter legal, como o são os códigos de ética, mas por
consciência própria e vontade autônoma acerca do que é bom, justo e certo. Por
exemplo, se o Servidor Público recebe com cortesia o usuário do serviço público
e soluciona com rapidez a demanda do cidadão por medo de sofrer punição
disciplinar, já que o Código de Ética no Serviço Público determina que o servidor
seja cortês e ágil na prestação do serviço ao cidadão, então seu comportamento
não seria ético em sua essência, embora seja bom e correto. Ético seria o servidor
que, independentemente do que determina o Código de Ética, atuasse com cortesia
e presteza, não por medo de punição, mas por consciência livre e autônoma de
que isto é o correto a ser feito!
Portanto, a legislação de conteúdo ético busca traduzir, ou reproduzir, a moral
e os princípios coletivamente desejados, impondo-os mesmo àqueles que não es-
colheram, voluntária e autonomamente, agir eticamente5.
O servidor público, no exercício de seu cargo ou função, e ainda fora dele, ma-
terializa o próprio poder do Estado, ou seja: suas ações, mais do que a qualquer
outro indivíduo, devem influenciar positivamente toda a comunidade, reforçando
valores socialmente relevantes e servindo de exemplo aos seus concidadãos. Por-
tanto, deve o servidor público passar cada uma de suas ações pelo crivo de sua
5. Note-se que as legislações têm, por vezes, função pedagógica, ou seja, estimular a prática do que
é bom e inibir a prática do que é ruim, através da regulação da vida social com vistas à felicidade
geral. Assim, a vida social é orientada eticamente através das leis, razão porque a organização
política deve dar-se à luz de princípios éticos. Valiosa a lição do ilustre professor Comparato: ‘[...]
o ser humano só realiza integralmente suas pontencialidades, isto é, somente se aproxima do mo-
delo superior de pessoa, quando vive numa sociedade cuja organização política não se separa das
exigências éticas e regula, de modo harmonioso, todas as dimensões da vida social” (COMPARATO,
Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo: Companhia das Letras,
2006, p. 586)
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NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO – Leandro Bortoleto e Perla Müller
consciência moral, a fim de verificar, por si, se pratica a ética para si mesmo, já que
é grande a expectativa da sociedade com relação à conduta dos que desempenham
funções ou gestão de bens públicos.
ff QUADRO-RESUMO: ÉTICA
– ethos (grego): caráter, morada do ser
– disciplina filosófica (parte da filosofia)
– os fundamentos da moralidade e princípios ideais da ação humana
– ponderação da ação, intenção e circunstâncias sob o manto da liberdade
– teórica, universal (geral), especulativa, investigativa
– fornece os critérios para eleição da melhor conduta
2. ÉTICA E MORAL
Enquanto a ética está contida na reflexão, a moral está contida na ação. A mo-
ral, verificada na ação reiterada no tempo e espaço (costume, hábito), é tida como
particular. A ética, de cunho filosófico, é tida como universal6.
A palavra ‘moral' vem do latim mos (cujo plural é mores) e significa costume, ou
seja, uma longa e inveterada repetição de atos consagrados como necessários ao bom
conviver, como muito bem lembrado por Elcias Ferreira da Costa ao citar Ulpiano7.
Enquanto a ética, como disciplina filosófica, é especulativa, a moral, seu objeto
de estudo, é normativa.
A moral, portanto, é influenciada por fatores sociais e históricos (espaço-
-temporais), havendo diferenças entre os conceitos morais de um grupo para outro
(relativismo), diferentemente da ética que, como dito linhas acima, pauta-se pela
universalidade (absolutismo), valendo – ou ao menos pretendendo valer – seus
princípios e valores para todo e qualquer local, em todo e qualquer tempo.
A moral constitui-se como conjunto de normas de conduta que se apresentam
como boas, corretas, ou seja, como expressão do ‘bem'8. Por ‘bem' entende-se
6. A ética tem a pretensão de ser universal, já que quer estabelecer valores e princípios que possam
ser considerados universais. Mas sua universalidade não ultrapassa esta pretensão de encontro de
valores e princípios universais, ou seja, válidos e obrigatórios para todo ser racional. Isto porque,
como fonte perene, incessante de investigação e indagação, a ética transforma-se a cada crítica e
reflexão posta a si mesmo.
7. in Deontologia jurídica: ética das profissões jurídicas. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 04.
8. Segundo Aristóteles, ‘bem' é "aquele fim que é sempre escolhido segundo si próprio e nunca como
meio em vista de qualquer outro" e, para o filósofo grego de Estagira, o ‘bem' deste gênero, perfeito,
completo e absoluto, é a felicidade. (Ética a Nicômaco. São Paulo: Atlas, 2009. p. 26). Assim, Aristóteles
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Cap. I – Ética
ff QUADRO-RESUMO: MORAL
– mos (latim, plural mores): costume
– regulação (normatização) comportamentos considerados como adequados a determinado
grupo social
– prática (pragmática), particular
– dependência espaço-temporal (relativa); caráter histórico e social
não deixa a existência de ‘bens', como fins escolhidos como meios para outros fins; mas somente o
fim supremo, que não é meio para nenhum outro fim, é ‘bem' em sua absoluta completude.
9. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia, São Paulo: Ática, 2012, p. 386.
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Cap. I – Ética
7. QUESTÕES
7.1. Questões comentadas
COMENTÁRIOS
Errado. Ora, é a ética, e não a moral, que se reveste de conteúdo doutrinário, teórico,
sendo uma disciplina filosófica. É a ética que oferta base teórica para o estudo da moral.
02. O exercício da cidadania sofre influência das questões éticas e morais que mol-
dam o comportamento individual do cidadão. Isso porque o conjunto das con-
dutas individuais compõe o comportamento de determinado grupo social, do
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NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO – Leandro Bortoleto e Perla Müller
COMENTÁRIOS
Certo. O exercício da cidadania, como gozo de direitos e desempenho de deveres,
deve pautar-se por contornos éticos e morais, de modo que o exercício da cidadania
materialize-se na escolha da melhor conduta tendo em vista o bem comum, havendo
uma expectativa generalizada a respeito das ações humanas e, em especial, das ações
daqueles que desempenham funções públicas.
COMENTÁRIOS
Errado. A afirmação se refere não ao ‘relativismo cultural’, mas sim ao ‘relativismo mo-
ral’. Ora, na lição de Nicola Abbagnano, o ‘relativismo cultural’ “parte do reconhecimento
da diversidade dos costumes e das normas vigentes em culturas diversas”, apoiando-se
“no reconhecimento quase universal da pluralidade e da heterogeneidade das cultu-
ras”36. Ou seja, o relativismo cultural prega que cada grupo social tem seus valores,
princípios e regras morais a ele, grupo, particular e não particular a cada um de seus
membros (a cada ser humano). Já o ‘relativismo moral’ muito bem se sustenta no ditado
de Protágoras que afirmava que ‘o homem é a medida de todas as coisas’, de modo
que a verdade moral, por exemplo, é sempre relativa ao homem, ou seja, cada homem
é um padrão pelo qual são julgadas moralmente suas ações.
04. O primeiro nível das questões éticas é constituído pelo indivíduo. Esse nível
enfatiza como as pessoas devem ser tratadas nas organizações.
Certo ( ) Errado ( )
COMENTÁRIOS
Errado. Na verdade, o nível que enfatiza como as pessoas devem ser tratadas nas or-
ganizações não é o nível individual, mas sim o nível organizacional das questões éticas.
De um modo geral, poderíamos apontar ao menos quatro níveis das questões éticas,
quais sejam, os níveis social, legal, organizacional (ou profissional) e individual. No nível
social, as decisões das organizações, incluídas as instituições, e as ações dos indivíduos
são apreciadas segundo os valores e princípios éticos sedimentados na sociedade. No
nível legal, aprecia-se se o comportamento humano obediente à legalidade é ou não
36. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia, 4ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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