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FORMAÇÃO DA VANGUARDA REVOLUCIONÁRIA CUBANA (1959)

SOB A LUZ DA CATEGORIA GRAMSCIANA DE SUB-ALTERNIDADE


Vanusa Cristina de Oliveira1

Resumo

O presente texto busca por via das reflexões gramscianas, analisar a reformulação e a
reconstrução da guerrilha revolucionária cubana e seu (re)fomento à vanguarda
revolucionária, liderada por Fidel Castro desde o assalto ao Quartel Moncada (1953) ao
movimento da Revolução Cubana (1956-1959) por meio daassimilando-os à compreensão
formulação de Antonio Gramsci por sobre classe subalterna/subalternidade. Vale ressaltar
que o instrumental analítico apurado, aduz às noções de hegemonia, guerra de posição,
guerra de movimento, Oriente, Ocidente, etc. pretendido pelo teóricona perspectiva de
Gramsci, ao refletir sobre a formação das classes subalternas e das classe dominantes durante
Il o chamado Risorgimento Italiano2, bem como a à Questão Meridional surgida peloproposta
pelo autor na análise de seu contexto histórico. Todavia, esses conceitos ‘secundários’ não
serão abordados em sua amplitude, mas enquanto correlatos ao método de organização
transformista da luta abordadaempreendida por Fidel Castro em suas insurreições até a
tomada do poder em janeiro de 1959. Neste sentido, o texto será dividido entre as
apresentações da concepção de classes e grupos subalternosa/subalternidade de Antonio
Gramsci3, as estratégias políticas adotadas e assumidas por Fidel Castro (HARNECKER, M.
2000) bem como a estruturação de sua proposta “socialista” (FERNANDES, F. 2007) para
Cuba pós-revolução.

Palavras-chave: Antonio Gramsci, subalternidade, Fidel Castro, Revolução Cubana

Introdução

1 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquista Filho”, na Faculdade
de Filosofia e Ciências, turma LIII. Email vanusapreciosa@hotmail.com

2 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, vol. 5 / ed. e trad. Luiz Sergio Henriques, co-ed. Carlos Nelson
Coutinho e Marco Aurélio Nogueira. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 2002. In: Il Risorgimento – Notas
sobre a história da Itália pp. 11-129

3 DEL ROIO, Marcos. Gramsci: Periferia e Subalternidade. Org. Marcos del Roio. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo (Edusp), 2017
Ao assinalarEm um dos momentos em que assinala a concepção de subalternidade,
Antonio Gramsci voltava-se ao processo de unificação da Itália, isto é, sua crítica à
modernidade que introduzia à Itália parâmetros econômicos de ascensão da burguesia, e sua
busca dialética para afirmação de como classe dominante, abriuinspirou a discussão
gramsciana para sobre a questão meridional que despontava caracterizou a condição de
subalternidade do sul da Itália (mezzogiorno) instalada consolidada durante o processo em
questão. O meizzogiorno4 decompôs a Itália geográfica e politicamente estabelecendo a
condição de subalternidade aos politicamente incapazes de dar uma expressão centralizada às
suas aspirações e às suas necessidades, os camponeses sulistas em relação aos proletários
industriais ao norte. Com isto, Gramsci fornece uma análise de classe de modo a estabelecer a
correlação entre as forças (políticas antagônicas) e, com isto, apresentar sua proposição para
guerra de posiçãode organização política desses grupos,. ou seja, que oO caráter espontâneo
do grupo desagregado não apenas merecia atenção, bem como deveria ser capacitadoa e
estimuladoa através da atuação do partido político organizado.

“a história dos grupos sociais subalternos é necessariamente


desagregada e episódica. É indubitável que, na atividade histórica
destes grupos, existe tendência à unificação, ainda que em termos
provisórios, mas esta tendência é continuamente rompida pela
iniciativa dos grupos dominantes [...] os grupos subalternos sofrem
sempre a iniciativa dos grupos dominantes, mesmo quando se
rebelam ou insurgem.”insurgem. ” (Q25, p. 2, 2002)

O temperamento caráter espontâneo das lutas da classe subalternados grupos


subalternos delineia, antes de tudo, suas limitações organizacionais e deficiências políticas,
assumindo por vezes a forma de rebeliões desconexas e isoladas, donde Antonio Gramsci
compreendeu como movimentos embrionários e que contém continham elementos criativos,
ao passoainda que antagônicos. Neste sentido, o desenvolvimento da consciência política da
classe tem por objetivo geral, romper com a relação vertical e autoritária da classe
dominante/dirigente e superar a estrutura de dominação que se sustentava no estado moderno
que detém os aparelhos institucionais e culturais. A tarefa mais difícil e necessária era
aprender a lutar conjunta e politicamente para passar da condição de dirigidos à dirigentes,
construindo uma hegemonia democrática-popular, realizada e conduzida pelas classes
subalternas que quer educar a si mesmas para a administração. Para isto, é essencial a
compreensão de: a) organizar-se politicamente; b) conhecer as forças e contradições que

4 Delimitação territorial italiana. Miezzorgiono refere-se ao sul da Itália compreendendo, à época, as regiões de
Abruzzo, Molise, Puglia, Campânia, Basilicata, Calábria, Sicília), mais uma parte do Lácio (zona de Gaeta).
operam no mundo; c) possuir um plano para combater o velho sistema; d) germinar uma nova
concepção de hegemonia5.

Assumir o papel hegemônico significava para Gramsci exercer a atividade humana, o


modo de ser da produção econômica que é engendra ao mesmo tempo, o modo dea produção
cultural, isto é, fazia-se necessária uma reforma nos campos cultural, moral e intelectual dos
subalternos. É a forma pela qual a direção politicapolítica se exerce sobre um conjunto social
articulado e complexo. Dito isto, o comunista sardo propõe a “filologia viva” (estudo rigoroso
dos documentos) que interpreta e altera a espontaneidade, a particularidade e a
individualidade da classe através de um dirigente apoiado no Partido Socialistada intervenção
organizada em sua forma de luta. Tal empenho por parte de um intelectualuma direção
intelectual da classe visa não apenas e a conexão entre as os movimentos
espontâneosespontaneidades , bem como, edifica a organicidade entre as mesmas fomentando
a consciência política dos sub(baixo), alter/alterno(outro)subalternos, para o caso dos
camponeses sulistas frente a burguesia latifundiária risorgida.

Em outras palavras, os sentimentos espontâneos da classe devem ser canalizados e


integrados numa direção consciente pelo Partidopela organização política (no caso em
questão, o Partido) que luta em prol da hegemonia dos subalternos 6. Assim sendo, a realização
de uma “filologia” dos grupos subalternos apresenta a subalternidade histórica dos mesmos,
uma vez que as historiografias dominantes, em vez de estudar as origens de um acontecimento
coletivo e as razões de sua difusão, de seu ser coletivo, isolavam o protagonista e se
limitavam a fazer de sua biografia um caso patológicao e/ou bárbarao7. Em oposição a à
predita forma de dominação, a consciência política dos subalternos passava passaria antes de
qualquer coisa à consciência cultural do “eu”: conhecer-se a si próprio quer dizer ser ele
próprio, isto é, ser dono de si próprio, distinguir-se, sair do caos, ser um elemento de ordem,
mas da própria ordem e da própria disciplina que tendem para um ideal (GRAMSCI, 1976,
p.85).

5 (Idem) p. 121

6 Desempenhada Tentada por Antonio Gramsci no L’Ordine Nuovo (1919), ao lado de Palmiro Togliatti, Angelo
Tasca e Umberto Terracini. A tribuna do altoO, jornal do Partidoórgão político do Partido constitui a força e o
poder de propagação imprescindível para elevar a consciência teórica e prática de uma vanguarda revolucionária.

7 Comentário de Antonio Gramsci ao fenômeno religioso lazzarettista e da forma com o que a história fora
construída sob o movimento (GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Vol 5. Edição e tradução Carlos Nelson
Coutinho e Marco Aurélio Nogueira, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 131)
No Caderno 19 (1934-1935) ‘Notas sobre a história da Itália: Il Risorgimento
Italiano’, o autor contesta alguns teóricos, como Benedetto Croce e Adolfo Omodeo acerca do
fenômeno na Itália, em que estes acreditavam apresentavam o risorgimento enquanto como
um movimento do liberalismo econômico que aparecia como proposta de uma nova forma de
civilização estatal e cultural atrelado ao plano político-ideológico e imediato das classes
dominantes (capitalistas ao Norte e latifundiários ao Sul). Desta forma, Gramsci revê a
historiografia italiana do período em questão teve de ser revista a fim de encontrar a
pautadadesvelar as formas reais da unidade nacional, e bem como observou Gramsci, o
movimento dos intelectuais da burguesia que não apenas interpretaram, mas encaixaram o
passado italiano numa paisagem de construção ideológica e romance histórica. Esta Tal
disputa ideológica, política e literária na formação do Estado moderno italiano, conduziu o
marxista a compreender a disposição em que se encontravam a classe dos trabalhadores no
país, que se dividira em um norte desenvolvido industrialmente e o sul da Itália, de economia
majoritariamente camponesa. Com isto, o autor avança em compreender que ambas as classes
trabalhadoras eram pagantes da imposição hegemônicasubordinadas da bà burguesia
latifundiária, nacional e internacionalmente, e de que, a superação deste imperativodesta
condição dependia da fusão entre o proletariado nortista com o campesinato sulista a fim de
criar uma força motriz que devia operar não somente na direção da estrutura econômica e
organização política, mas conduzir, no campo das ideias e da cultura, o consenso sobre seu
projeto social.

Estratégias de Fidel Castro

A luta pela libertação de Cuba reconhece seus mártires em poucos nomes. José Martí
teceu em suas poesias e crônicas a necessidade de uma autoctonia cubana, isto é, a unidade
histórica-social entre os elementos naturais e civilizados na América Latina só seria possível
com a independência das colônias espanholas e, a partir disto, reescrever a identidade latina
incorporando suas raízes nativas em oposição ao modelo civilizatório importado pelo
processo de colonização. Em Nuestra America (1891)8 o jornalista defende a originalidade e a
especificidade cultural do continente e sua composição racial mestiça (camponeses, índios e
africanos) de modo que a construção e o exercício da democracia e cidadania das colônias

8 MARTI, J. Nuestra America, In: CIVEIRA, F. L. Jose Marti y su projeto revolucionário. La Habana:
Editorial Feliz Varella, 2010.
latinas deveria ter seu “tempo real” respeitado e valorizado, em oposição ao discurso
hegemônico europeu e ao seu ritmo capitalista.

[...] No hay batalla entre la civilización y la barbarie, sino entre la


falsa erudición y la naturaleza. El hombre natural es bueno, y acata y
premia la inteligência superior, mientras ésta no se vale de su
sumisión para dañarle, o le ofende prescindiendo de él, que es cosa
que no perdona el hombre natural, dispuesto a recobrar por la fuerza
el respecto de quien le hiere la susceptibilidade o le prejudica el
interés. [...] (idem, p. 87)

O fundador do Partido Revolucionário Cubano (1892) travou, com sua literatura e


discurso nacionalista, a batalha da independência de Cuba9 deixando, após sua morte em
combate (1895), o legado e o desejo de uma Aamérica livre e autônoma , anseio resgatado por
Fidel Castro quase um século depois. Contudo, o objetivo de emancipação política e cultural
pendente no louvor de Martí assumiu rigidez marxista por Fidel Castro, que após a
insurgência em 1953 ao Quartel Moncada recobrou à para a história cubana sua fundamental e
memoriosa liberdade e que, agora, encontrava-se mediante às garras dosob o imperialismo
estadunidense.

Em Fidel, a estratégia política de vitória 10, Marta Harnecker retoma o germe da


perspectiva revolucionária encaminhada por Fidel Castro, desde o fatídico ataque ao Quartel
de Moncada11 à reação doaté a tomada do poder em 1 de janeiro de 1959, desta vez amparado
pela vanguarda cubana, que culminou com a derrubada do regime ditatorial de Fulgeêncio
Batista. Mas é na parte das Condições objetivas para a revolução e o papel da vanguarda 12
que a cientista autora esboça seguramente o plano político da vitória desenhado pelo líder, que
inaugura, pós-derrota dno ataque dos 26 de julho de 1953, e consequente exílio ao no México,
sua campanha discursiva, formatando a vanguarda revolucionária que o apoiaria
posteriormente, na sua revolução em janeiro de 1959nos anos seguintes.

9 Processo que perdurou por cerca de 30 anos divididos em: Guerra dos dez anos (1868-1878), Pequena Guerra
(1879-1880). Guerra da Independência (1895-1898). Fonte?

10 Editora Expressão Popular: São Paulo, 2000. Trad. Ana Corbisier.

11 Refere-se à marcha do 26 de Julho de 1953, quando Fidel Castro juntamente de outros 165 homens executam
o assalto ao quartel-general de Moncada em Santiago de Cuba e ao quartel de Céspedes, na tentativa de tomar as
bases dos quartéis, armar a população e de derrubar o governo de FulgencioFulgêncio Batista. A maioria dos
homens de Fidel são mortos. Capturado, Fidel Castro é julgado e condenado a 15 anos de prisão. Fonte?

12 Idem p.41-51
Para isto, precisava de uma estratégia de análise das condições objetivas, mesmo não
totalmente desenvolvidas, mas que pudesse apresentar resultados em curto prazo. Em seu
discurso à TV de 1º de dezembro de 1961 13, o cComandante apresentou seu plano de ação
onde reforçava a questão camponesa a partir das categorias de exploração, ou seja, de que
grande parte do campo estava arrendada para monoculturas, cuja burguesia latifundiária
debruçava-seaproveitava-se de em mão de obra barata (mulheres, crianças, famílias
desalojadas), e ali era onde a flecha da revolução deveria mirar. A partir disto, enxergou que o
‘“povo estava desejoso de uma mudança revolucionária’” e estas eram as condições objetivas
e reais para a tomada de consciência e enfim, o levante prático, organizado.

O brasão da bandeira anti-imperialista tecido por Martí foi envolvo da pela insígnia da
do socialismo por Fidel, apoio político e econômico que se apresentava como proposta
alternativa pela até então União Soviética. Sob a égide 14 do método materialista histórico-
dialético15, o líder revolucionário detectou que as batalhas travadas pela independência de
Cuba à da colônia metrópole espanhola não rompeu com perigo imperialista do vizinho
estadunidense e que, o país estava formatado nos moldes de produção capitalista, de economia
monocultura-exportadora e de mão de obra majoritariamente camponesa. Assim, sinalizou
três etapas obstáculos primordiais para inicio início e fixação de seu comando: de que 1) as
forças políticas estavam distribuídas entre os grandes proprietários de terras; a burguesia que
detinha os instrumentos de repressão; o clero reacionário; e as empresas transnacionais. Essa
camarada dirigente detinha os recursos econômicos e os meios de comunicação; 2) a elite
nacional não deveria encabeçar processos revolucionários de caráter popular. A história das
insurreições de massa com participação/apoio da classe burguesa denota que apenas a camada

13 F. Castro, Comparecimento à TV de 1º de dezembro de 1961, em O.R., op. cit. p. 16; La revolución


cubana...,. cit. pp. 389-390.

14 “... Tínhamos cursos de marxismo. No grupo de direção, durante todo aquele período, estudamos marxismo.
E poderíamos dizer que os principais dirigentes da organização já eram marxistas”. E mais adiante acrescenta:
“No tempo da Universidade, meus contatos com as ideias marxistas foram as que me fizeram adquirir uma
consciência revolucionária. Já a partir daquele momento toda a estratégia que elaborei politicamente estava
dentro de uma concepção marxista”. (F. Castro, La estrategia del Moncada, op. cit., p. 8) essa afirmação de
Fidel é duvidosa... antes da tomada do poder nada indicava que Fidel tivesse convicções marxistas.
Marxistas já eram, com certeza, Che Guevara e Raúl Castro – ver biografia de Che, por Jon Lee
Anderson... te passo em pdf.

15 Isto é, o socialismo científico. Análise das condições objetivas para transformação/superação da estrutura
político-econômica vigente.
progressista deste estrato social estariam dispostos a apoiar processos revolucionários; 3) a
força motriz para o processo revolucionário estava no povo cubano. Fonte?

Organizado por homens que podiam interpretar uma lei da história, o momento
determinado do desenvolvimento histórico, isto é, fazer uma interpretação correta, é dar
impulso ao movimento16. Essa jogada, porém, precisava ser minuciosamente arquitetada, isto
porque Cuba era um país monocultor de açúcar e sua economia dependia em 60% dessa
exportação, produto que em 1967 teve grande valorização no mercado mundial. Este ponto
convergiu a perspectiva revolucionária do Exército Rebelde com a primordial manutenção de
classe da burguesia açucareira. O resultado dessa confluência foi o cerceamento político à
Fulgêncio Batista, em julho de 1958; e seis meses depois, sob convocação de greve geral de
Fidel Castro e adesão das massas populares (camponeses) criando um exército uniforme, e
constituindo a revolução do país. Sendo em 1 janeiro de 1959, o levante organizado por Fidel
restituído pelo armamento soviético que Batista é derrubado e então proclamada a revolução
no país.

Mediante o fato, em Da Guerrilha ao Socialismo (FERNANDES, 2007), Florestan


analisa as questões que fizeram-se necessárias em Cuba pós revolucionária, isto é, de como os
líderes da revolução não só implementaram a proposta de um regime político socialista no
país, mas o teriam que fazer de modo que alcançasse um planejamento social, ao mesmo
passo que garantisse sua permanência no governo cubano. Neste sentido, o planejamento
social proposto e executado por Fídel, Raul e Che Guevara consistia sinteticamente em todo
um sistema de instituições, valores, normas, atitudes e comportamentos, uma vez que já havia
a compreensão de que o planejamento seria fundamental para diferenciar e aumentar a
produção, expandir o mercado interno, redistribuir a riqueza e o poder da forma mais
democrática, além de combater o desemprego, o subemprego e a pobreza.

Para isto, Fidel Castro estabeleceu de maneira direta uma relação pedagógica-
democrática da vanguarda revolucionária com as massas, tarefa relativamente simples, uma
vez que a revolução cumpriu o papel de ser uma "revolução dos humildes, pelos humildes e
para os humildes" fonte. Partindo disto, Cuba necessitava inicialmente de uma reforma
agrária, e a vanguarda revolucionária tinha diante de si uma nação combativa, empenhada em
sua revolução, e, ao encetar a etapa de nacionalização e estatização das grandes empresas e

16 Fidel entendia que era primordial exercer a práxis em conjunto da vanguarda cubana, de modo a efetivar não
apenas as condições materiais para revolução, mas estimular a consciência política dos subalternos, organizá-los
e então fortalecer as possibilidades de transformação na políitica de seu país. Fonte??
bancos, o governo contava com apoio interno para expandir o setor público em detrimento do
privado e converter o Estado na alavanca da revolução, consolidando uma estreita relação
com as massas como um todo.

Conclusões

O objetivo do texto arrisca-se em comparar as categorias analíticas de Antonio


Gramsci ao movimento revolucionário de Fidel Castro no que tange à espontaneidade da
classe subalterna, e sua construção política-ideológica e cultural travada ante o imperialismo
norte americano. Percebe-se que mesmo paralelos e focalizando momentos históricos
específicos, a percepção gramsciana da condição de subalternidade das camadas politicamente
desorganizadas e a assimilação de Fidel com o campesinato cubano influem e funcionam
dentro de um programa político que viabilize a espontaneidade e a voz dos subalternos como
fio articulador para processos revolucionários, quando não, transformadores. Com isto, a ilha
caribenha pagante das metas burguesas de exploração não apenas de mão-de-obra e recursos
naturais, mas também da individualidade cultural e, logo, da autonomia politicapolítica,
travou desde sua independência a correlação de forças hegemônicas e antagônicas tal como
experimentado pela Itália em seu processo de unificação.

Referências bibliográficas

DEL ROIO, Marcos. Gramsci: Periferia e Subalternidade. Org. Marcos del Roio. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 2017.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Vol. 5. O Risorgimento. Notas sobre a Itália. Edição e tradução
Carlos Nelson Coutinho e Marco Aurélio Nogueira, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

LIGUORI, G., VOZA, P. Dicionário Gramsciano (1926-1937). Trad. Ana Maria Chiarini, Diego
Silveira Coelho Ferreira, Leandro de Oliveira Galastri, Silvia de Bernardinis. São Paulo: Boi Tempo
Editorial, 2017.

MONASTA, A. Antonio Gramsci. Trad. Paolo Nosella. In: Textos selecionados: Socialismo e Cultura (p.
51-55). Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores)
CIVEIRA, F. L. José Martí y su proyecto revolucionário. In: Nuestra Ameérica (p. 85-93). La Habana:
Editorial Félix Varela, 2010.

HARNECKER, M. Fidel, a estratégia política da vitória. Trad. Ana Corbisier. Editora Expressão
Popular: São Paulo, 2000.

FERNANDES, F. Da Guerrilha ao Socialismo: A Revolução Cubana. São Paulo: Editora


Expressão Popular, 2007.

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