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A morte iminente da Universidade

Publicado em 27|09|2009 por ExtraLibris


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por Don Tapscott


DON TAPSCOTT é autor de 13 livros sobre novas tecnologias na sociedade
e sua última obra é Grown Up Digital. Recentemente, Tapscott completou
uma investigação de 4 milhões de dólares sobre a Geração Net. Ele é o
chairman do “think tank” nGenera Insight e professor adjunto da Rotman
School of Management, na Universidade de Toronto.

THE IMPENDING DEMISE OF THE UNIVERSITY


Publicado originalmente no Edge
http://www.edge.org/3rd_culture/tapscott09/tapscott09_index.html
tradução colaborativa de Isadora Garrido, Gustavo Henn e Moreno
Barros

A morte iminente da Universidade


Durante 15 anos, eu tenho argumentado que a revolução digital desafiará
muitos aspectos fundamentais da Universidade. E não estou sozinho. Em
1998, ninguém menos que Peter Drucker previu que as grandes
universidades seriam “relíquias” dentro de 30 anos.
Acelere o tempo para os dias de hoje e você não estará errado em pensar
que nós estávamos completamente errados. As inscrições em Universidades
nunca foram tão altas. A porcentagem de jovens se matriculando em
instituições que oferecem diplomas cresceu mais de 115% no período de
1969-1970 a 2005-2007, ao mesmo passo em que dobrou a porcentagem de
americanos com idade entre 25 e 29 anos com diploma universitário. A
competição para entrar nas melhores universidades nunca foi tão forte. Numa
primeira olhada a universidade parece estar com uma demanda jamais vista.
Porém, existem indicadores problemáticos de que a figura não é um mar de
rosas. E não estou falando apenas da redução dos dotes da universidade em
razão da atual crise econômica. As universidades estão finalmente perdendo
seu monopólio do ensino superior, uma vez que a web inexoravelmente se
torna a infraestrutura dominante para o conhecimento, servindo tanto como
um container como uma plataforma global para o intercâmbio de
conhecimento entre as pessoas.
Enquanto isso no campus, existe um desafio fundamental ao modus operandi
que é a base da Universidade – o modelo de pedagogia. Especificamente, há
uma lacuna que se amplia entre o modelo de aprendizagem oferecido por
várias grandes universidades e a forma natural como jovens que cresceram
no mundo digital aprendem melhor.
As aulas feitas como antigamente, com o professor no pódio em frente a um
grande grupo de estudantes, ainda é um acessório da vida universitária em
vários campi. É um modelo que é centrado no professor, de mão única, um
único tamanho serve a todos e o estudante é isolado no processo de
aprendizagem. Por outro lado, os estudantes, que cresceram em um mundo
interativo digital, aprendem de maneira diferente. Alfabetizados no Google e
na Wikipedia, eles querem questionar e não se basear no professor para um
mapeamento detalhado. Eles querem uma conversação animada, não uma
aula. Eles querem educação interativa, não uma transmissiva que pode ter
sido ótima para a Era Industrial, ou até mesmo para os boomers. Esses
estudantes estão fazendo novos demandas das universidades e se elas os
ignorarem, elas o farão a seu próprio risco.
O modelo de pedagogia, é claro, é apenas um alvo da crítica dirigida às
universidades.
Os vários desafios à Universidade
A maioria dos recursos das grandes universidades são direcionados a
pesquisa, não ao aprendizado. As universidades não são primariamente
institutos de aprendizagem superior, mas institutos para a ciência e a
pesquisa. Em seu livro Rethinking Science, Michael Gibbons desenvolveu
uma crítica severa ao atual modelo de ciência conduzido nas universidades.
Recentemente o questionamento apareceu em outros lugares. No New York
Times mês passado, Mark Taylor, reitor do departamento religioso da
Universidade de Columbia, deu inicio a uma tempestade de controvérsia
acadêmica com uma artigo OpEd entitulado “O fim da Universidade como a
conhecemos”.
“A educação na graduação” ele começou “é a Detroit do ensino superior. A
maioria dos programas nas universidades americanas produzem um produto
para o qual não há mercado (candidatos para posições de ensino que não
existem) e desenvolvem habilidades para as quais há uma demanda
decrescente (pesquisa em sub-áreas dentro de sub-áreas e publicações em
jornais que não são lidos por ninguém que não sejam colegas que pensam
parecido), tudo a um custo crescente (as vezes mais de U$100.000 em
taxas)”. O problema chave, ele notou, começou com Kant em seu trabalho de
1798, “O conflito das faculdades”. Kant argumentou que as universidades
deveriam “lidar com todo o conteúdo de aprendizagem pela produção de
massa, por assim dizer, por uma divisão do trabalho, para que então cada
galho das ciências tivesse um professor público ou doutor colocado como seu
conselheiro”.
Taylor argumentou que a graduação deve ser reestruturada em um nível
fundamental para sair da aprendizagem ultra-estreita. Entre outras coisas, ele
falou sobre mais questionamentos inter-disciplinares, a criação de programas
focados em problemas, com cláusulas, bem como mais colaboração entre
todas instituições educacionais, e a abolição das barreiras entre elas. Uma
semana mais tarde, as lamentações de acadêmicos preencheram toda a
página de cartas do New York Times de domingo. Um de seus próprios
colegas de Columbia disse que foi “alarmante e constrangedor” ouvir um
“anti-intelectualismo crasso” advindo de sua própria instituição. Outro
acadêmico acusou Taylor de “envenenar as águas da educação superior”.

O Modelo de Pedagogia
Quaisquer que sejam os méritos da chamada de Taylor para reestruturar o
ensino superior, eu acho que ele está certo em chamar atenção para um
profundo debate sobre como as universidades funcionam em uma sociedade
em rede. Porém, acredito que ele perdeu o desafio mais fundamental para a
universidade como a conhecemos. O modelo básico de pedagogia está
ultrapassado. “Aprendizado transmitido” como eu o chamei não é mais
apropriado para a era digital e para uma nova geração de estudantes que
representam o futuro da aprendizagem.
No modelo industrial de produção em massa de estudantes, o professor é um
transmissor. Uma transmissão é por definição o envio de informação de um
transmissor para um receptor de um modo linear. O professor é o transmissor
e o estudante é um receptor no processo de aprendizagem. A formula
acontece assim: “Eu sou um professor e eu tenho conhecimento. Você é um
estudante e é como um vaso vazio e não tem. Prepare-se e aí vai. A sua
meta é guardar essa informação em sua memória de curto-prazo e através
da prática e repetição construir estruturas cognitivas mais profundas para que
você possa se lembrar disso para mim, quando eu testá-lo”.
A definição de uma aula tornou-se o processo no qual as anotações do
professor vão para as anotações do estudante sem permear os cérebros de
nenhum dos dois.
Como alguém que apresenta várias aulas por ano, eu aprecio a ironia dessa
visão. Mas eu entendo que as minhas aulas não são uma boa forma de
aprendizagem. Elas tem um papel limitado em interessar uma audiência,
mudar sua opinião ou possivelmente motivá-los a fazer algo diferente. Mas
eu ouso dizer que 90 por cento do que eu disse é perdido.
Verdade, esse modelo de transmissão é melhorado em algumas disciplinas
através de trabalhos, laboratórios e até seminários. E é claro que vários
professores estão trabalhando duro para ultrapassar esse modelo.
Entretanto, ele permanece dominante.
A tecnologia e a web provém um importante elemento de um novo modelo,
mas até agora poucos o adotaram. Se alguém congelado há 300 anos atrás
miraculosamente ressucitasse hoje e olhasse para as profissões – um físico
em um teatro em operação, um piloto no cockpit de um jumbo, um
engenheiro fazendo o design de um automóvel no CAD – ele com certeza
ficaria maravilhado de como as tecnologias transformaram o conhecimento
do trabalho. Mas se ele entrasse em um hall de salas de aula em uma
universidade, ele sem dúvidas ficaria reconfortado em notar que algumas
coisas não mudaram.

A Nova Geração de Estudantes


O modelo de transmissão pode ter sido perfeitamente adequado para os
baby-boomers, que cresceram no modo de transmisão, assistindo 24 horas
por semana de televisão (pra não dizer que receberam as transmissões na
condição de crianças para seus pais, como estudantes pelos professores,
como cidadãos pelos políticos, e quando eles fizeram parte da força de
trabalho como empregados por seus chefes). Mas os jovens que cresceram
no meio digital estão abandonando a TV de mão-única pelo maior estímulo
da comunicação interativa que encontram na Internet. Na verdade assistir
televisão está em processo de diminuição e a TV tornou-se nada mais que
mídia ambiente para a juventude – parecido com o Muzak. Sentar-se
mudamente na frente da TV – ou de um professor – não parece ter apelo ou
funcionar para essa geração. Eles aprendem melhor de forma diferente
através do não sequencial, do interativo, do assíncrono, da multitarefa e do
colaborativo.
Jovens americanos com menos de 30 anos foram os primeiros a terem
crescido no meio digital. Crescer numa época em que celulares, a Internet,
SMS e Facebook são tão normais quanto uma geladeira. Essa imersão em
mídias interativas como um estágio formativo da vida afetou o
desenvolvimento de seus cérebros e consequentemente a forma que eles
pensam e aprendem.
Alguns escritores, claro, pensam que o Google te deixa burro; é tão difícil se
concentrar e pensar profundamente no meio de enormes quantidades de bits
de informação online, eles contrapõem. Mark Bauerlein, um professor de
inglês da Universidade de Emory, até os chama de “a geração mais burra”
em seu livro mais recente sobre o assunto.
Minha pesquisa sugere que estes críticos estão errados. Crescer de modo
digital mudou a forma que suas mentes trabalham de uma maneira que irá
ajudá-lo a lidar com os desafios da era digital. Eles estão acostumados com
multi-tarefas, e aprenderam a lidar com a sobrecarga de informação. Eles
esperam uma conversação de via dupla. Ainda mais, crescer no meio digital
encorajou essa geração a serem questionadores ativos e exigentes. Ao invés
de esperarem por um professor dizer a eles o que está acontecendo, eles
acham por si sós em tudo do Google à Wikipédia.
Se as universidades querem adaptar as técnicas de ensino a sua audiência
atual, eles deveriam, como eu tenho dito por anos, fazer mudanças
significativas na pedagogia. E o novo modelo de aprendizagem não é apenas
apropriado para a juventude – mas cada vez mais para todos nós.
Os professores que permanecem relevantes terão que abandonar as aulas
tradicionais, e começarem a ouvir e conversar com os estudantes – mudando
de um estilo de sistema de transmissão e adotando um sistema interativo.
Segundo, eles deveriam encorajar os estudantes a descobrir a si mesmos, e
aprender um processo de descoberta e pensamento crítico ao invés de
apenas memorizar o estoque de informação do professor. Terceiro, eles
precisam encorajar os estudantes a colaborarem entre si e com outros de
fora da universidade. Finalmente, eles precisam costurar o estilo de
educação para os estilos individuais de aprendizagem de seus estudantes.
Por causa da tecnologia isso agora é possível. Mas isso não é
fundamentalmente sobre tecnologia per se. Isso representa uma mudança no
relacionamento entre estudantes e professores no processo de
aprendizagem.

As Universidades Mais Vulneráveis


A habilidade para engajar jovens na universidade obviamente depende da
instituição, e do professor individualmente. As grandes escolas de artes
liberais estão fazendo um maravilhoso trabalho de estímulo a mentes juvenis,
pois com grandes investimentos e classes pequenas, os estudantes podem
ter acesso a uma experiência colaborativa customizada. Meu filho Alex
graduou-se no Amherst College, uma pequena universidade de graduação
com uma média de 8 alunos por professor. Entre seus professores incluem-
se um vencedor do prêmio Pullitzer, uma láurea Nobel e professores em
geral que vivem para trabalhar com estudantes que os permitem aprender.
Mas o mesmo não pode ser dito da maioria das grandes universidades que
focam seu papel principal em ser um centro de pesquisa, com o ensino sendo
um incoveniente processo secundário, e com salas tão grandes que eles só
querem “ensinar” através de aulas.
Essas universidades são vuneráveis, especialmente em um tempo onde os
estudantes podem assistir aulas online gratuitas dos principais professores
do mundo em sites como o Academic Earth. Eles até mesmo podem fazer um
curso inteiro online, por créditos. De acordo com o Sloan Consortium, um
artigo recente na Chronicle of Higher Education nos disse que
“aproximadamente 20 por cento dos estudantes universitários – algo em
torno de 3,9 milhões de pessoas – fizeram cursos online em 2007, e esses
números estão aumentando para centenas de milhares a cada ano. A
Universidade de Phoenix inscreve mais de 200.000 a cada ano”.

O Novo Modelo
Alguns educadores líderes estão chamando atenção para esse tipo de
mudança em massa; um desses é Richard Sweeney, bibliotecário
universitário no Instituto de Tecnologia de New Jersey. Ele diz que o modelo
de educação tem que mudar para se ajustar a sua geração de estudantes.
Inteligentes mas impacientes, eles gostam de colaborar e rejeitam aulas de
mão-única, ele nota. Enquanto alguns educadores enxergam isso como
ceder às vontades de uma geração, Sweeney é firme: “eles querem
aprender, mas eles querem aprender apenas do que precisam aprender, e
eles querem aprender em um estilo que é melhor para eles”.
Existem exemplos brilhantes de educação interativa, entretanto. Dra. Maria
Terrell, que leciona cálculo na Universidade de Cornell, usou um método
interativo que é parte de um programa chamado “Boas Perguntas”, financiado
pela National Science Foundation (Fundação de Ciência Nacional).
Uma estratégia que está sendo usada nesse programa é a chamada
educação em tempo real; é uma estratégia pedagógica e de aprendizagem
que combina os benefícios de tarefas com base na web e uma turma de
alunos ativos onde os cursos são customizados para as necessidades
particulares da classe. Questões “para aquecer”, escritas pelos alunos, são
tipicamente resolvidas poucas horas antes da aula, dando ao professor a
oportunidade de ajustar a lição em “tempo real”, de maneira que o tempo da
turma possa focar nas partes das lições que os alunos tiveram dificuldades.
O professor de Harvard Eric Mazur, que utiliza essa estratégia em sua turma
de física, coloca dessa forma: “A educação é muito mais do que a mera
transferência de informação. A informação precisa ser assimilada. Os
estudantes precisam conectar a informação com aquilo que eles já sabem,
desenvolver modelos mentais, aprender como aplicar o novo conhecimento e
como adaptar esse conhecimento à situações novas e desconhecidas.
Essa técnica produz resultados reais. Um estudo que avaliou 350 alunos de
Cornell indicou que aqueles a quem eram perguntados “questões profundas”
(que exigem pensamento de alta profundidade) com frequente discussão
entre os pares anotaram pontos consideravelmente maiores em seus exames
de matemática do que os estudantes a quem não foram perguntadas
questões profundas ou que tiveram pouca ou nenhuma chance de discussão
com os pares. Dr. Terell explica: “É quando os alunos falam sobre o que eles
pensam e o por que, é aí que acontece o maior aprendizado para eles…
Você pode ouvir pessoas dizeram algo do tipo, “Ah sim, entendi”… e então
eles explicam essa coisa para outra pessoa… e então ocorre um
entendimento autêntico do que está acontecendo. Muito melhor do que
aconteceria se eu, como a pessoa do professor, explicasse. Algo realmente
acontece nessa instrução entre pares”.
Educação interativa permite que os estudantes aprendam em seu próprio
ritmo. Eu vi isso por mim mesmo na metade dos anos 70 quando eu estava
tendo um curso de estatística na minha graduação em psicologia educacional
na Universidade de Alberta no Canadá. Foi uma das primeiras aulas
conduzidas online – uma inovação educacional do Dr. Steve Hunka, um
visionário da educação mediada por computador. Isso foi antes dos PCs,
então nós sentamos na frente de um terminal de computador que estava
conectado a um monitor com quadros deslizantes controlado por computador.
Eu poderia parar a qualquer hora e revisar e testar a mim mesmo para ver
como estava indo. A prova também era feita online.
Não existiam aulas. Como também: as aulas de estatística são por definição
um fracasso. Não existe um “tamanho único” para estatísticas – todo mundo
na sala de aula ou está entediado ou não entende. Ao invés disso, nós
ficamos cara a cara com o Dr. Hunka que era liberto de ser um transmissor
de informação para alguém que customizou uma experiência de
aprendizagem para cada um de nós, um a um.
Anteriormente, a aprendizagem online era cara, mas hoje as ferramentas na
internet facilitam o ensino e liberam o professor para formular a experiência
de aprendizagem e conversar com os estudantes de modo mais individual e
mais significativo. Isso funciona. A evidência das pesquisas é bem sólida e
vêm de anos: “Comparados com estudantes que frequentaram cursos
convencionais, os estudantes que recebem instrução mediada por
computador bem elaborada…em geral atingem maiores notas em testes de
revisão, aprendem suas lições em menos tempo, gostam mais de suas aulas
e desenvolvem mais atitudes positivas em direção ao assunto que estão
aprendendo”, de acordo com um artigo de 1997 chamado “Tecnologia na sala
de aula: da teoria à prática”, que foi publicado na Educom Review. “Esses
resultados representam uma gama ampla de alunos desde a escola
fundamental até a universidade, estudando uma gama ampla de disciplinas
da matemática às ciências sociais às humanidades”.

Desafiando o Propósito das Universidades


A questão da pedagogia faz surgir uma questão ainda mais profunda – o
propósito da universidade. No velho modelo, professores ensinavam e
esperava-se que estudantes absorvessem vasta quantidade de conteúdo. A
educação era sobre a absorção de conteúdo e ser capaz de lembrar dele nas
provas. Você se graduava e então estava pronto para a vida – apenas
mantendo-se informado no seu campo escolhido. Hoje quando você se
gradua, você está livre por, digamos, 15 minutos. Se você fez um curso
técnico metade do que você aprendeu no primeiro ano pode estar obsoleto
no quarto ano. O que conta é a sua capacidade de aprendizagem de longo
termo, pensar, pesquisar, encontrar informação, analisar, sintetizar,
contextualizar, valoriza-lo criticamente; aplicar a pesquisa a solução de
problemas; colaborar e comunicar.
Mas agora que estudantes podem obviamente achar a informação que estão
procurando num instante online, no crânio de outras pessoas online, esse
velho modelo não faz mais sentido. Não é apenas o que você sabe que conta
quando você se gradua; é como você navega no mundo digital, e o que você
faz com a informação que descobre. Essa nova forma de aprendizagem, eu
acredito, servirá a eles.
Universidades deveriam ser lugares para se aprender, não pra se ensinar.
Os nascidos na Geração Net, imersos em tecnologia digital, são sedentos por
tentar coisas novas, aprendendo geralmente com muita rapidez. Eles querem
que a universidade seja divertida e interessante. Para que eles possam curtir
as maravilhas de descobrir as coisas por si só. Como Seymour Papert, um
dos maiores especialistas do mundo sobre como a tecnologia pode prover
novas formas de aprendizagem coloca: “O escândalo da educação é que
cada vez que você ensina algo, você priva uma criança do prazer e benefício
da descoberta”.

Um Desafio à Docência
John Seely Brown é diretor emérito da Xerox PARC e acadêmico vistante da
USC. Ele percebeu que quando uma criança aprende a falar, ela ou ele está
totalmente imerso em um contexto social e altamente motivado a engajar no
aprendizado desse novo, incrível complexo sistema da linguagem. Ele
começou a pensar que “quando você começa a frequentar a escola, de
alguma maneira você começa a aprender bem mais devagar porque você
está sendo ensinado, diferente do que acontece quando você está
aprendendo para que possa realizar coisas com que se preocupa…Muito
comumente apenar ir afundo em um ou dois tópicos que você realmete se
importa permite que você aprecie a imensidão do mundo…quando você
aprende a honrar os mistérios do mundo, você está de certo modo propenso
a sempre querer provar as coisas… você pode até gostar de descobrir algo
que você não conhecia… e você pode esperar sempre a necessidade de
provar as coisas. E então isso define o estágio de questionamento perpétuo”.
Outro acessório da aprendizagem de estilo antigo é a suposição de que os
alunos devem aprender por conta própria. Partilhar notas em uma sala de
provas, ou colaborando em algumas das redações e trabalhos de casa, era
estritamente proibido. No entanto, o modelo de aprendizagem individual é um
território estranho para a maioria dos alunos da geração Net, que  cresceu
colaborando, compartilhando e criando coisas juntos online. Os educadores
progressistas estão reconhecendo isso. Os alunos começam a internalizar o
que aprenderam em sala de aula apenas quando começam a falar uns com
os outros, diz Seely Brown: “A noção de audiência passiva e recepção de
informação não tem quase nada a ver com a maneira como você interioriza a
informação em algo que faz sentido para você. A aprendizagem começa
quando você deixa a sala de aula, quando você começa a discutir com as
pessoas ao seu redor o que acabou de ser dito. É na conversa que você
começa a interiorizar o que algum pedaço de informação significou para
você.”
O auditório é um excelente exemplo da educação de massa. Ele veio junto
com a produção em massa, marketing de massa e a mídia de massa. A
escolaridade, diz Howard Gardner, é uma idéia de produção em massa.
“Você ensina a mesma coisa para os alunos da mesma maneira e avalia a
todos da mesma maneira.” A pedagogia é baseada na idéia questionável de
que experiências eficientes de aprendizagem podem ser construídas para
grupos de alunos com a mesma idade cronológica. Nesta perspectiva, o
currículo é desenvolvido com base em informações pré-digeridas e
estruturado para a transmissão ideal. Se o currículo está bem estruturado e
interessante, então grandes proporções de estudantes de qualquer nível irão
“sintonizar” e ficar comprometidos com a informação. Mas muitas vezes, não
funciona dessa maneira.
Considere um dos maiores hits do YouTube ano passado, um vídeo curto
chamado “Uma Visão dos Estudantes Hoje”.
Criado por Michael Wesch, um professor assistente de antropologia cultural
na Kansas State University, é uma acusação pungente ao ensino ministrado
pelas grandes universidade americano. Wesch recrutou 200 estudantes
colaboradores para descrever a sua visão da educação que estão recebendo.
Sua sentença: nada mudou muito desde o início do século XIX, quando o
quadro negro foi introduzido como uma nova maneira brilhante de ajudar os
estudantes a visualizar a informação. Eles pintaram um quadro sombrio da
vida universitária – turmas enormes, professores que não sabem os nomes
dos alunos, estudantes que não completaram as leituras designadas, exames
de múltipla-escolha que eram um desperdício de capital intelectual.
Conheço vários estudantes brilhantes que se sentem da mesma forma. A
grande coisa esses dias é conseguir um “10″ sem nunca mesmo ter ido a
uma aula. Quando o crème de la crème de uma geração inteira é boicotar o
modelo formal de pedagogia em nossas instituições educacionais, a escrita
está gravada na parede.
Um desafio ao modelo de mensalidades
Conforme o modelo de pedagogia é desafiado, é inevitável que o modelo de
lucros também mude. A chegada da educação online trás a questão: se tudo
que as grandes universidades tem a oferecer aos estudantes são aulas que
você pode ter online de graça – de outros professores – por que pagar
mensalidades? Se as universidades querem sobreviver à chegada da
educação online livre de nível universitário, eles precisam mudar a forma que
professores e estudantes interagem no campus. Alguns estão dando passos
grandes para reinventar a si mesmos, com a ajuda da Internet. O Instituto de
Tecnologia de Massachusetts, por exemplo, está oferecendo notas e
apontamentos de aulas grátis, provas e aulas gravadas em vídeo por
professores do MIT para o mundo online.
Qualquer pessoa no mundo pode assistir toda série de aulas para uns 30
cursos, tais como o curso introdutório de física mais popular de Walter
Lewins, que é visto por mais de 40 mil pessoas por mês no
OpenCourseWare, a versão MIT de filantropia intelectual. Universidades do
mundo todo uniram-se ao movimento.

Um desafio ao credenciamento
É claro, universidade tem um importante papel na escolha de indivíduos da
sociedade, através de processos de admissão e garantia de titulações. Um
dos papéis mais importantes da universidade é peneirar o capital humano
para futuros empregadores, e mais amplamente estratificando a sociedade.
Aqueles que tem boas notas no ensino médio e em seus SATs [prova de
aptidão, similar ao vestibular], que provam ser trabalhadores e ter outros
talentos, entram nas melhores universidades. Aqueles que se graduam –
melhor ainda com distinção – tem uma credencial para conseguir os
empregos mais desejados ou entrada em programas de graduação. Eles
provaram ter um nível de disciplina e que estão preparados para jogar de
acordo com as regras.
Mas uma credencial e até mesmo o prestígio de uma universidade está
enraizado em sua efetividade como uma instituição educacional. Se essas
instituições demonstram ser ambientes de aprendizagem inferiores a outras
alternativas, sua capacidade de credenciamento certamente diminuirá. 
Quanto tempo vai demorar para, digamos, um curso de gradução de Harvard,
ensinado em turmas de grande porte por professores assistentes,
amplamente por meio de palestras, ser capaz de competir em status com as
turmas pequenas das faculdades de artes liberais ou sistemas de ensino
superior que oferecem os novos modelos de aprendizagem? Certamente, a
provação estar no pudim irá alterar o estado de várias receitas para a
aprendizagem.

Um Desafio ao Campus
O campus universitário tem sido “um maravilhoso lugar para jovens pessoas
irem por quatro anos para ficarem mais velhos”, como o sociólogo de
Princeton Marvin Dressler me disse há uma década atrás. “Enquanto eles
estão lá, estão compelidos a aprender algo” ele disse. Mas se os campus são
vistos como lugares onde a aprendizagem é inferior aos outros modelos, ou
lugares ruins onde a aprendizagem é restrita e sufocada, o papel da
experiência do campus também será minado.
Campus que dão boas vindas aos novos modelos se tornam ambientes mais
efetivos e lugares mais desejáveis. Mesmo algo tão simples quanto leituras
online não reduzem o valor da educação fora do campus, eles a melhoraram.
As aulas por vídeo permitem que estudantes absorvam o conteúdo do curso
online – quando quer que seja conveniente – e então eles se juntam para
remendar, inventar novas coisas, ou discutir o material. A experiência
mostrou ao MIT que o valor real do que eles oferecem não é a aula per se,
mas o pacote todo – o conteúdo amarrado a experiencia humana de
aprendizado no campus, mais a certificação. Universidades, em outras
palavras, não podem sobreviver apenas de aulas.
Gravar aulas pode libertar o capital intelectual – tanto para os professores
quanto para os estudantes – de gastar seu tempo no campus pensando e
questionando e desafiando uns aos outros, ao invés de apenas absorver
informação.

Um Desafio ao Relacionamento da Universidade com Outras


Instituições
“Chegou a hora para algumas mudanças drásticas na universidade, nosso
modelo de pedagogia, como operamos, e nosso relacionamento com o resto
do mundo”, diz Luis M. Proenza, presidente da Universidade de Akron.
Ele faz uma pergunta provocativa: por que um estudante universitário deveria
ser restrito a aprender com os professores das universidades que estão
frequentando? Verdade, estudantes podem obviamente aprender com
intelectuais do mundo todo através de livros, ou pela Internet. Em um mundo
digital, por que um estudante não poderia ser capaz de ter um curso de um
professor em outra universidade? Proenza acha que as universidades
deveriam usar a Internet para criar um centro global de excelência. Em outras
palavras, escolher os melhores cursos que você tem e linká-los com a melhor
num número de universidades do mundo todo para criar um programa de
ensino inquestionável para estudantes. Eles aprenderiam com as melhores
mentes do mundo em sua área de interesse – seja na sala de aula física ou
online. Essa academia global também seria aberta para qualquer pessoa
online. Esse é um belo exemplo de colaboração que descrevi no livro de
minha co-autoria, Wikinomics.
Então por que isso ainda não aconteceu? “É o legado da infraestrutura
humana e educacional estabelecida,” diz Proenza. A analogia não é o
mercado de jornais, que foi enfraquecido pela distribuição de conhecimento
na Internet, ele nota. “Somos mais como o seguro saúde. Somos desafiados
por modelos de negócios obstrutivos, não baseados em mercado. Também
somos penitenciados por uma sensação de que o médico sabe melhor, ou o
professor sabe melhor”.
“Existem várias vacas sagradas”, ele disse. Por que, por exemplo, as
universidades são julgadas pelo número de estudantes que excluem ou por
quanto gastam? Por que não são julgadas por como bem ensinam e por qual
preço?
O mundo digital, que treinou jovens mentes a questionar e colaborar, está
desafiando não apenas as tradições voltadas para aulas das universidades,
mas também a própria noção de uma instituição entre paredes que exclui um
grande número de pessoas. Por que não permitir que um aluno brilhante da
oitava série colegial tenha aulas do primeiro semestre da graduação
universitária em matemática, sem abandonar a vida social de seu colégio?
Por que não estender o poder interativo da internet para transformar a
universidade num lugar de aprendizagem de longo prazo, não apenas um
lugar pra crescer?

Velhos paradigmas são difíceis de matar


Entretanto, o modelo de educação da Era Industrial é difícil de mudar. Novos
paradigmas causam deslocamento, rupturas, confusão, incerteza. Eles são
quase sempre recebidos com frieza ou hostilidade. Interesses empossados
lutam contra mudanças. E líderes dos velhos paradigmas são geralmente os
últimos a aceitarem o que é novo.
Em 1997 eu apresentei minhas idéias para um grupo de cerca de 100 reitores
universitários em um jantar oferecido pela Ameritech em Chicago. Depois da
minha fala eu sentei na minha mesa e perguntei ao grupo menor o que eles
pensaram sobre o que disse. Eles responderam positivamente. Então
perguntei a eles “por que isto está demorando tanto?”, “O problema são
recursos,” um reitor disse. “Nós não temos o dinheiro para reinventar o
modelo de pedagogia”. Um outro educador colocou da seguinte forma:
“Modelos de aprendizagem que são muito antigos são difíceis de mudar”.
Algum outro sorriu abafado em volta da mesa quando ele disse, “Eu acho que
o problema são os professores – a média de idade deles é 57 e estão
ensinando de modo pós-Gutemberguiano”.
Um homem muito pensativo chamado Jeffery Bannister, que na época era o
reitor do Butler College, estava sentado perto de mim. “Pós-
Gutemberguiano?” ele disse. “Eu acho que não! Ao menos não na Butler.
Nosso modelo de aprendizagem é pré-Gutemberguiano! Nós temos um
monte de professores lendo de notas escritas a mão, escrevendo em
quadros-negros, e os estudantes estão copiando o que eles dizem. Esse é
um modelo pré-gutemberguiano – a imprensa escrita não é nem mesmo uma
parte importante do paradigma de aprendizagem”. Ele ainda disse, “Espere
até que esses estudantes que tem 14 anos e cresceram aprendendo na onda
da Net entrem nas salas de aulas (universitárias) – faíscas vão rolar.“
Bannister tinha razão. Uma força poderosa para mudar a universidade são os
estudantes. E faíscas estão voando hoje. Existe uma imenso choque de
gerações nessas instituições. O que ocorre é que a crítica da universidade de
anos atrás eram idéias em espera – esperando pela nova web e uma nova
geração de nativos digitais que podiam efetivamente desafiar o velho modelo.
Mudar o modelo de pedagogia para essa geração é crucial para a
sobrevivência da universidade. Se os estudantes ignorarem uma educação
universitária tradicional, isso irá erodir o valor das credenciais universitárias,
sua posição como centros de ensino e pesquisa, e como campus onde
pessoas jovens tem uma chance de “crescer”.

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