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Fato Jurídico

A distinção entre os fatos jurídicos e os fatos não jurídicos é razão de controvérsia entre os
autores. Para alguns, fato jurídico (lato sensu) é todo fato que produz efeitos jurídicos, seja
pela criação, modificação, extinção ou conservação de direitos e deveres. Para outros, fato
jurídico é aquele que estabelece uma relação jurídica. Não é necessária a efetiva produção de
efeitos jurídicos, bastando que o fato seja capaz de produzir efeitos jurídicos.

Definido o que é um fato jurídico, resta observar que este comporta algumas classificações. De
acordo com a função na relação jurídica, os fatos jurídicos podem ser classificados em:

a) constitutivos: são os fatos que criam uma relação jurídica;

b) extintivos: os fatos que põem fim a uma relação jurídica; ou

c) modifi cativos: aqueles que alteram uma relação jurídica já existente.

Todavia, a principal classificação dos fatos jurídicos continua sendo a que leva em
consideração a natureza do fato, isto é, se o evento foi um fato humano (p. ex.: a celebração
de um contrato) ou um fato da natureza (p. ex.: a aluvião – forma de aquisição originária de
propriedade imóvel). Assim, o fato jurídico em sentido amplo (lato sensu) divide-se em fato
natural e fato humano.

- Fato jurídico natural

O fato jurídico natural, também conhecido como fato jurídico em sentido estrito (stricto
sensu), é todo evento capaz de provocar consequências jurídicas que independem da vontade
humana. Ressalte-se, contudo, que o fato jurídico natural não é estranho aos seres humanos,
pois a eles interessam na qualidade de sujeitos de direitos. Os fatos jurídicos naturais podem
ser devidos em duas espécies: os ordinários e os extraordinários:

6.2.1. Fato jurídico natural ordinário

Considera-se fato jurídico natural ordinário todo fato comum da vida que tem importância
para o Direito. Como exemplos, podemos citar: a concepção e o nascimento, que determinam
o início da personalidade jurídica; a morte, que põe fim à mesma personalidade; a maioridade,
que confere à pessoa capacidade civil plena. Da mesma forma, podemos considerar a
prescrição e a decadência
como exemplos de fatos jurídicos naturais ordinários.

6.2.2. Fato jurídico natural extraordinário

Os fatos jurídicos naturais extraordinários são os fatos incomuns da vida, isto é, os fatos do
acaso: caso fortuito e força maior. Questão complexa é a distinção entre esses dois institutos.
Tamanha é a confusão entre eles que concordamos com os autores que defendem a ideia de
que devem ser tratados como sinônimos.
- Fato jurídico humano
O fato jurídico humano, também conhecido como fato jurídico voluntário ou fato jurígeno, é
toda conduta humana (comissiva ou omissiva) que gera consequências jurídicas. É
caracterizado, portanto, pela presença da vontade humana (elemento volitivo). O fato jurídico
humano é classificado de acordo com a sua compatibilidade com o ordenamento jurídico em
lícito e ilícito.

6.3.1. Fato jurídico humano ilícito


Também conhecido como ato ilícito, é todo comportamento humano contrário ao
ordenamento jurídico: lei, moral, ordem pública e bons costumes.
A definição do ato ilícito civil está presente no art. 186 do Código Civil, que dispõe: “aquele
que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano
a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”

6.3.2. Fato jurídico humano lícito


Fato jurídico humano lícito ou ato jurídico em sentido amplo (lato sensu) é toda ação humana
(manifestação de vontade) que, estando de acordo com o ordenamento, é capaz de produzir
efeitos na órbita jurídica. Devemos destacar que há quem entenda que o ato jurídico em
sentido amplo pode ser lícito ou ilícito, mas de acordo com a doutrina majoritária só pode ser
lícito. O ato jurídico em sentido amplo pode ser dividido em três espécies: ato jurídico stricto
sensu, negócio jurídico e ato-fato jurídico.

6.3.2.1. Ato jurídico “stricto sensu”


O ato jurídico em sentido estrito (stricto sensu) é todo comportamento humano lícito capaz de
gerar conseqüências jurídicas impostas por lei.
Como exemplos de atos jurídicos stricto sensu, podemos citar a perfilhação, a notificação para
constituição em mora, a fixação de domicílio voluntário e o pagamento.

6.3.2.2. Negócio jurídico


Negócio jurídico é todo comportamento humano lícito capaz de gerar consequências jurídicas
permitidas pela lei e desejadas pela pessoa.
Como exemplos de negócios jurídicos, podemos citar os contratos, a promessa de
recompensa, o
testamento etc.

6.3.2.3. Ato-fato jurídico


O ato-fato jurídico é uma espécie de fato jurídico qualificado pela conduta humana sem se
levar em consideração a vontade de praticar o ato ou não. Em outras palavras, no ato-fato
jurídico não importa a intenção da pessoa que realizou o ato (se houve, ou não, vontade de
praticá-lo), tendo relevância apenas os efeitos que o ato produziu.
Exemplos :como a caça, a pesca, a comissão, o achado do tesouro, a especificação etc.
Procurando facilitar a compreensão do instituto, podemos imaginar uma criança de 10 anos de
idade que pescou
um peixe no mar. Ela será a dona do peixe, não tendo qualquer relevância o fato de ser
absolutamente incapaz.
Negócios Jurídicos *Classificação do negócios jurídicos
7.2.1. Classificação quanto à manifestação de vontade
Unilaterais: são os negócios jurídicos formados pela declaração de vontade de apenas uma
pessoa (p. ex.: testamento, renúncia de crédito,promessa de recompensa).
Subdividem-se em:
a) receptícios: aqueles em que a declaração de vontade deve ser levada ao conhecimento do
destinatário para que produza efeitos (p. ex.: promessa de recompensa);
b) não receptícios: aqueles em que o conhecimento do destinatário é irrelevante (p. ex.:
testamento).
Bilaterais: aqueles em que há duas manifestações de vontade. Os contratos, por exemplo,
exigem, ao menos, dois contratantes, duas manifestações de vontade.
Plurilaterais: são os negócios jurídicos em que há mais de duas pessoas com interesses
coincidentes. Essa situação é comumente verificada em alguns contratos, como o de
incorporação imobiliária.

7.2.2. Classificação quanto às vantagens para as partes


Gratuitos: são os negócios jurídicos representados por atos de liberalidade Exemplos: contrato
de doação pura, contrato de comodato, testamento etc.
Onerosos: são aqueles negócios que envolvem sacrifícios e vantagens patrimoniais para todos
os envolvidos. Exemplos: contrato de compra e venda, contrato de locação etc.
Bifrontes: são os negócios jurídicos que, de acordo com a vontade das partes, podem ser
gratuitos ou onerosos. Exemplos: contrato de depósito, contrato de mútuo, contrato de
mandato etc.
Neutros: são aqueles que não podem ser enquadrados na categoria de gratuitos nem de
onerosos. Os negócios jurídicos neutros caracterizam-se pela ausência de atribuição
patrimonial. Exemplos: instituição de bem de família (Código Civil, arts. 1.711 a 1.722), cláusula
de inalienabilidade,
incomunicabilidade ou impenhorabilidade etc.

7.2.3. Classificação quanto ao momento da produção dos efeitos


Inter vivos: são os negócios jurídicos que têm por objetivo a produção de efeitos durante a
vida dos participantes. Como exemplos de negócios inter vivos, podem ser citados os
contratos, a promessa de recompensa, o pacto antenupcial. Eventualmente, podem continuar
produzindo efeitos após a morte, como ocorre com alguns contratos.
Mortis causa: são aqueles que somente produzem efeitos após a morte da pessoa que
manifestou a vontade. A morte é considerada requisito de eficácia do negócio jurídico.
Exemplos: testamento e codicilo (ato simplificado de última vontade, para as disposições de
pequena monta).

7.2.4. Classificação quanto à forma


Solenes ou formais: são os negócios jurídicos que devem seguir uma solenidade ou
formalidade imposta pela lei para que sejam válidos. formalidade (exigência de forma escrita)
e solenidade (exigência de instrumento público).
ex.: testamentos, contrato de compra e venda ou doação de imóvel com valor superior a trinta
salários mínimos
Não solenes ou informais: são os negócios jurídicos que têm forma livre.
Exemplo: os contratos de comodato (contrato unilateral e gratuito, pelo qual alguém
(comodante) entrega a outrem (comodatário) coisa infungível, para ser usada
temporariamente e restituída no tempo combinado) e de locação podem ser celebrados
verbalmente.
7.2.5. Classificação quanto à independência ou autonomia
Principais (ou independentes): são os negócios jurídicos que têm existência própria, não
dependendo de qualquer outro para que tenham validade ou eficácia. A locação é um exemplo
clássico de contrato principal.
Acessórios (ou dependentes): são aqueles cuja existência está subordinada a outro negócio
jurídico. Exemplos: a cláusula penal e os contratos de fi ança, hipoteca, penhor e anticrese.

7.2.6. Classificação quanto às condições pessoais dos negociantes


Impessoais: são os negócios jurídicos que independem da condição pessoal dos envolvidos. Se
uma das partes não cumprir a obrigação assumida, outra pessoa poderá cumpri-la. Essa
situação é comum
em diversos contratos: na compra e venda, por exemplo, havendo a morte de um dos
contratantes, seus herdeiros são obrigados a cumprir o contrato.
Pessoais: também conhecidos como personalíssimos ou intuitu personae, são os negócios
jurídicos que dependem de condição pessoal dos negociantes, havendo obrigação infungível
(insubstituível). Em caso de morte, os herdeiros não são obrigados a cumprir o contrato (p. ex.:
contrato de prestação de serviço e contrato de fiança).

7.2.7. Classifi cação quanto à causa determinante


Causais (ou materiais): são os negócios jurídicos em que o motivo consta expressamente do
seu conteúdo. Exemplo: termo de separação ou divórcio.
Abstratos (ou formais): são aqueles em que a razão não está inserida no conteúdo. Exemplo:
termo de transmissão da propriedade; simples emissão de título de crédito etc.

7.2.8. Classifi cação quanto ao momento da eficácia


Consensuais: são os negócios jurídicos que se consideram formados a partir do momento em
que há acordo de vontades. Exemplo: compra e venda pura.
Reais: são os negócios que somente se aperfeiçoam após a entrega do objeto. Exemplos:
contrato de comodato, contrato de depósito e contrato estimatório.

* Elementos constitutivos do negocio jurídico


Os elementos essenciais são aqueles que conferem a estrutura do negócio jurídico.. Os
elementos essenciais podem ser divididos em gerais e especiais. Gerais são os elementos
mínimos exigidos em todos os negócios jurídicos (p. ex.: objeto lícito). Especiais são aqueles
exigidos somente para determinados negócios (p. ex.: na compra e venda são elementos
essenciais a coisa, o preço e o consentimento).
Os elementos naturais são as regras comuns a determinados negócios jurídicos, sem que seja
necessária sua previsão expressa no contrato. (p. ex.: contratos de compra e venda).
Elementos acidentais são cláusulas que as partes podem inserir nos negócios jurídicos com o
objetivo de alterar a sua efi cácia natural.
Como exemplos destes, temos a condição, o termo e o modo/encargo, que serão analisados
mais adiante.

*Planos de negocio juridico


Se não forem preenchidos os requisitos de existência, o negócio jurídico será inexistente. Se
não forem preenchidos os requisitos de validade, o negócio será inválido, podendo ser nulo ou
anulável, a depender da situação específica. E se não forem preenchidos os requisitos de
eficácia,
o negócio será ineficaz.
7.5.1. Plano de existência
O plano de existência compreende os elementos mais básicos do negócio jurídico: agente,
objeto, vontade e forma. Esses elementos (substantivos) serão adjetivados (ou seja, têm suas
qualidades examinadas) somente no plano de validade. No plano de existência exige-se apenas
que o negócio contenha esses elementos e, caso não estejam presentes, o negócio jurídico
deverá ser considerado inexistente. Se necessário, poderá ser proposta ação declaratória de
inexistência.

7.5.2. Plano de validade


O plano de validade é a continuação do plano de existência, pois, a partir dos elementos do
negócio, impõe a análise dos seus requisitos.

7.5.2.2. Objeto
Todo negócio jurídico possui um objeto, seja ele material ou imaterial, fungível ou infungível,
com conteúdo econômico ou não. Para que o negócio seja válido, exige-se apenas que o
objeto seja lícito, possível, determinado ou determinável. Se o objeto for ilícito, impossível ou
indeterminado, o negócio será considerado nulo, devendo ser proposta ação declaratória de
nulidade.

Objeto lícito é aquele que está de acordo com o ordenamento jurídico,pois não ofende a lei, a
moral, a ordem pública e os bons costumes.
Objeto possível é aquele que pode ser realizado do ponto de vista físico e jurídico .
Objeto determinado é aquele que está individualizado no negócio jurídico.
Objeto determinável é aquele que será individualizado no futuro, contendo, de início,
ao menos a indicação do gênero e da qualidade.

7.5.2.3. Forma
A forma é o meio pelo qual se revela a manifestação de vontade do agente. Para que o negócio
jurídico seja válido, a forma deve ser aquela prescrita ou não defesa (não proibida) em lei.

7.5.2.4. Vontade
O negócio jurídico é uma manifestação de vontade que está de acordo com o ordenamento
jurídico e produz efeitos desejados pelo agente. Entretanto, para que o negócio seja válido, a
vontade deve ser
manifestada de forma livre.

7.5.3. Plano de eficácia


Em regra, o negócio jurídico que existe e é válido tem efi cácia imediata, devendo as partes
cumprir as obrigações assumidas logo após a sua formação.

* Elementos acidentais
Os elementos acidentais mais comuns são:

a condição - Condição é a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes,


subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto,
o termo - É a cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento futuro e certo
* Termo suspensivo suspende o exercício,mas não a aquisição do direito, gerando direito
adquirido.
*Termo resolutivo - quando o negocio jurídico deixa de produzir efeito.
modo ou encargo - é a cláusula que impõe uma obrigação a quem é beneficiado por uma
liberalidade

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