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Pela primeira vez fora de Salvador, o ENUNE vem para o segundo estado mais
negro do Brasil, o Rio de Janeiro. Estado esse que também figura como um dos mais
violentos, tendo uma das maiores taxas de letalidade da população negra. A execução da
vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson, sob a intervenção militar,
ainda é uma ferida aberta, pois, revela o incômodo que as mulheres negras causam ao
ocupar espaços de institucionalidade, desafiando estruturas tradicionalmente racistas e
denunciando a atuação dos grupos de extermínio nas periferias do RJ. Os oitenta tiros
desferidos pelo Exército nacional contra o músico Evaldo Rosa, sua família e o catador
Luciano Macedo, faz parte de um projeto político de segurança pública que visa
exterminar vidas negras, pobres e faveladas. Os 111 tiros contra os jovens negros de Costa
Barros; a chacina do Cabula; a morte de Joel; entre tantos outros casos de violência contra
as nossas vidas são episódios que jamais deveriam ter ocorrido e seguem sem respostas
das instituições políticas e do sistema de justiça.
Esses episódios devem ser lembrados, para que nunca mais aconteçam! O
genocídio da população negra e indígena no Brasil, em um contexto onde há militarização
da segurança pública, é o mais grave problema nacional. O nosso país só desfrutará de
uma democracia de fato quando ele garantir o direito de viver. É nesse sentido que o
ENUNE cobra às organizações estudantis, como a UNE, a incorporar essa luta como uma
das suas principais bandeiras. Afinal, não haverá mais estudantes negros e indígenas sem
que estejamos vivos!
No contexto educacional, por outro lado, o Rio de Janeiro foi palco de importantes
conquistas. A primeira IES a adotar cotas raciais nos processos seletivos para o ingresso
foi a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em 2003. Essa aprovação inicia o
processo de adoção das políticas educacionais afirmativas no Brasil, sendo
implementadas por grandes IES, como a UnB, UFBA, UNEB e, mais recentemente, a
UNICAMP, em 2018. Fruto da articulação do Movimento Negro, em 2012 foi instituída
a ‘Lei de Cotas’. A partir de 2015, passamos a ter a implementação do sistema de cotas
também nos programas de pós graduação. É importante ressaltar que as estudantes
oriundas das políticas afirmativas trazem novas perspectivas para as universidades, tendo
excelentes desempenhos acadêmicos, contrariando a retórica anticotas. As Universidades
não são uma propriedade da elite branca. Elas são públicas, e como públicas devem
abarcar os diversos grupos que compõem a nossa nação.
Após pouco mais de 100 dias do Governo Bolsonaro, não há dúvidas que ele é
inimigo da população negra, flexibilizando as regras para obtenção do porte de armas e o
suposto “pacote anticrime” de Sergio Moro. Esse pacote poderá colocar a “forte emoção”
como justificativa para a reação desproporcional do policial culminando em execuções e
permitindo que os policiais não sejam responsabilizados por esses crimes, demonstrando
que, para esse governo, as vidas negras não importam. Em contrapartida, defendemos a
desmilitarização das policias (PEC 51/2013), melhores condições de trabalho,
treinamento e investimento em políticas de prevenção e não de confronto.
Contando com a sua primeira edição em 2007, os ENUNEs cada vez mais crescem
em termos de mobilização e influência política na UNE. Eles são espaços de articulação
e síntese entre vários estudantes negros, absorvendo as formas de ação coletiva
empregadas pelos Movimentos Negros, como a auto-organização. O 6º ENUNE reafirma
a importância das cotas na democratização das universidades públicas, contra os
retrocessos anunciados pelo atual governo e em defesa de uma verdadeira democracia
para o nosso povo, garantindo o direito à vida da população preta.
Nesse sentido, propomos à UNE e a ANPG, a criação de mecanismos de maior
comunicação e interação dos coletivos negros, em Universidades públicas e privadas,
com o objetivo de construir agendas de luta em defesa das pautas dos estudantes negros
e cotistas. Assim, convocamos os estudantes a construir uma campanha nacional em
defesa das cotas e das políticas de permanência estudantil. E também nos somamos aos
chamados em defesa da previdência. Todos e todas às ruas no dia 1º de maio e na Greve
Nacional da educação em 15 de maio.
Cotas sim!
Lula livre!