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Filosofia

Professora Maria Helena Soares


Aula 5:
Metafísica e Lógica em Aristóteles (384 a.C. - 322ª.C.)

Aristóteles e o Conhecimento: Movimento e causalidade.

Apesar de ter sido discípulo de Platão durante vinte anos, Aristóteles (384-322
a.C.) diverge profundamente de seu mestre em sua teoria do conhecimento. Isso pode
ser atribuído, em parte, ao profundo interesse de Aristóteles pela natureza (ele realizou
grandes progressos em biologia e física), sem descuidar dos assuntos humanos, como a
ética e a política.
Para Aristóteles, o dualismo platônico entre mundo sensível e mundo das ideias
era um artifício dispensável para responder à pergunta sobre o conhecimento
verdadeiro. Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo
das ideias, mas da experiência sensível. "Nada está no intelecto sem antes ter passado
pelos sentidos", dizia o filósofo.
Mas nossa razão não é apenas receptora de informações. Aliás, o que nos
distingue como seres racionais é a capacidade de conhecer. E conhecer está ligado à
capacidade de entender o que a coisa é no que ela tem de essencial. Por exemplo, se
digo que "todos os cavalos são brancos", vou deixar de fora muitos animais que
poderiam ser considerados cavalos, mas que não são brancos. Por isso, ser branco não é
algo essencial em um cavalo, mas você nunca encontrará um cavalo que não seja
mamífero, quadrúpede e herbívoro.
Conhecer é perceber o que acontece sempre ou frequentemente. As coisas que
acontecem de modo esporádico ou ao acaso, como o fato de uma pessoa ser baixa ou
alta, ter cabelos castanhos ou escuros, nada disso é essencial. Aristóteles chama essas
características de acidentes. Mas como nós fazemos para conhecer a definição de algo e
separar a essência dos acidentes? Aí está o papel da razão. A razão abstrai, ou seja,
classifica, separa e organiza os objetos segundo critérios. Observando os insetos,
percebo que eles são muito diferentes uns dos outros, mas será que existe algo que todos
tenham em comum que me permita classificar uma barata, um besouro ou um gafanhoto
como insetos? Sim, há: todos têm seis pernas. Se abstrairmos mais um pouco,
perceberemos que os insetos são animais, como os peixes, as aves...

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Ato ou potência
E poderíamos ir mais longe, separando o que é ser, do que não é. E aqui chegamos
à outra grande contribuição de Aristóteles: se o ser é e o não-ser não é, como dizia
Parmênides, então como é possível o movimento?
Segundo Aristóteles, as coisas podem estar em ato ou em potência. Por exemplo,
uma semente é uma árvore em potência, mas não em ato. Quando germina, a semente
torna-se árvore em ato. O movimento é a passagem do ato à potência e da potência ao
ato.
Qual a causa?
Por outro lado, se as coisas mudassem completamente ao acaso, não
poderíamos conhecê-las. Conhecer é saber qual a causa de algo. Se tenho uma dor
de estômago, mas não sei a causa, também não posso tratar-me. Conhecendo a causa é
possível saber não só o que a coisa é, mas o que se tornará no futuro. Pois, se
determinado efeito se segue sempre de uma determinada causa, então podemos
estabelecer leis e regras, tal como se opera nos vários ramos da ciência.
Existem quatro tipos de causas: a causa final, a causa eficiente, a causa formal e
a causa material. Por exemplo, se examinarmos uma estátua, o mármore é a causa
material, a causa eficiente é o escultor, a causa formal é o modelo que serviu de base
para escultura e a causa final é o propósito, que pode ser vender a obra ou enfeitar a
praça.
Há ainda uma hierarquia entre as causas, sendo a causa final a mais importante. A
ciência que estuda as causas últimas de tudo é chamada de filosofia. Por isso, a tradição
costuma situar a filosofia como a ciência mais elevada ou mãe de todas as ciências, por
ser o ramo do conhecimento que estuda as questões mais gerais e abstratas.

Lógica e argumentação
Para Aristóteles, a lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o
correto pensar. O objeto da lógica é o silogismo.
Silogismo nada mais é do que um argumento constituído de proposições das quais
se infere (extrai) uma conclusão. Assim, não se trata de conferir valor de verdade ou
falsidade às proposições (frases ou premissas dadas) nem à conclusão, mas apenas de
observar a forma como foi constituído. É um raciocínio mediado que fornece o
conhecimento de uma coisa a partir de outras coisas (buscando, pois, sua causa).

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Em si mesmas, as proposições ou frases declarativas sobre a realidade, como juízo,
devem seguir apenas três princípios fundamentais.
1- Princípio de Identidade: A é(=) A;
2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo tempo;
3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade.
Dessa forma, o valor de verdade ou falsidade é conferido às proposições, pois são
imediatamente evidenciados. No entanto, a lógica trabalha com argumentos.
As proposições classificam-se em:
Afirmativas: S é P;
Negativas: S não é P;
Universais: Todo S é P (afirmativa) ou Nenhum S é P (negativa);
Particulares: Alguns S são P (afirmativa) ou Alguns S não são P (negativa);
Singulares: Este S é P (afirmativa) ou Este S não é P (negativa);
Necessárias: quando o predicado está incluso no sujeito (Todo triângulo tem três lados);
Não necessárias ou impossíveis: o predicado jamais poderá ser atributo de um sujeito
(Nenhum triângulo tem quatro lados);
Possíveis: o predicado pode ou não ser atributo (Todos os homens são justos).

Um argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar, dar


razão, suportar) algo. A proposição que queremos justificar tem o nome de conclusão; as
proposições que pretendem apoiar a conclusão ou a justificam têm o nome de premissas. As
premissas são as informações, os dados que à princípio temos sobre um problema; a conclusão é
uma consequência que, ao raciocinar, tiramos.
Esta forma de raciocínio é denominada silogismo. Um silogismo possui uma conclusão
que é extraída de, no mínimo, duas premissas. É necessário que entre as premissas (P) haja um
termo que faça a mediação (termo médio sujeito de uma P1 e predicado da P2 ou vice-versa). Sua
forma lógica é a seguinte:

AéB
Logo, B é C (sempre os termos maior e menor).
CéA

*Observem que o termo médio é o termo A, que é sujeito numa frase e predicado na
outra. Assim ele não aparece na conclusão, evidenciando que houve mediação e que a

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conclusão é, de fato, uma dedução ou inferência, isto é, ela é realmente extraída da
relação entre as premissas.

Exemplo:
Todos os homens são mortais
Sócrates é homem
Logo, Sócrates é mortal.
Se eu aceito as premissas como verdadeiras, tenho que, consecutivamente, aceitar sua
conclusão.

O objetivo de um silogismo é expor as razões (premissas) que sustentam uma conclusão.


Um silogismo é falacioso quando parece que as razões apresentadas sustentam a conclusão, mas
na realidade não sustentam. Da mesma maneira que há padrões típicos, largamente usados, de
argumentação correta, também há tipos de silogismo falaciosos comumente formulados.

Exemplo de silogismo falacioso:


“- Que espécie de gente vive por aqui?
- Naquela direção – disse o Gato, levantando a pata direita – vive um Chapeleiro, e naquela, uma
Lebre de Março. Vai visitar o que quiseres, são ambos loucos.
- Mas eu não quero estar ao pé de gente louca – respondeu a Alice.
- Oh, não podes evitá-lo – disse o Gato. – Aqui todos são loucos. Eu sou louco. Tu és louca.
- Como é que sabes que sou louca? Perguntou a Alice.
- Tens de ser, de outro modo não estarias aqui.
Alice não achava que isso provasse coisa nenhuma (…)”
Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas, tradução de Maria
Filomena Duarte, Edições D. Quixote, Lisboa, 1988, págs. 66-67.
O argumento dedutivo presente no diálogo entre a Alice e o Gato pode ser formulado do
seguinte modo:
Todos os que estão aqui são loucos.
Tu estás aqui.
Logo, tu és louca.
Trata-se de um argumento dedutivo válido do ponto de vista formal, pois se admitirmos,
por hipótese, a verdade das premissas, a conclusão que delas se extrai será necessariamente
verdadeira.

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Falácias são divididas em formais e não-formais/materiais. Por falácias formais
entendemos: raciocínios que não atendem às regras de inferência válida, dos silogismos.
Exemplo:
Todos os cachorros do bairro são brancos.
Alguns gatos do bairro são brancos.
Assim, todo animal do bairro é branco.
Neste caso, violou-se 3 regras silogísticas:
1-De duas particulares nada se conclui.
2- O termo médio não aparece na conclusão.
3- Os termos da conclusão não podem ser maiores que nas premissas.
Enquanto que as não-formais são caracterizadas por equívocos no conteúdo da
argumentação. Exemplo:
-Mãe, posso ir ao Rock in Rio?
-Não.
-Mas, por quê?
-Porque não.
Neste diálogo, típico entre pais e filhos, observamos uma falácia de petição de princípio.
Onde a conclusão se encontra na própria premissa.
As falácias se diferem, ainda, por seu caráter intencional, sendo chamadas de Sofismas
quando houver no silogismo a intenção de enganar e de Paralogismos ou falácias involuntárias
quando os argumentos elaborados não contiverem erros intencionais.
Exemplos de falácias sofismáticas/intencionais na publicidade:

“Tostines é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?” Exemplo
de falácia de círculo vicioso.

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Propaganda do hidratante Monange: usam da falácia de apelo à autoridade com a imagem da
apresentadora Xuxa.

Exemplo de uma falácia de petição de princípio, pois consegue derivar a conclusão das
premissas porque a conclusão é, ela mesma, pressuposta nas premissas.

Questões anteriores:

Questão 1 (UEL-2008) Quatro tipos de causas podem ser objeto da ciência para
Aristóteles: causa eficiente, final, formal e material. Assinale a alternativa correta em
que as perguntas correspondem, às causas citadas.
a) Por que foi gerado? Do que é feito? O que é? Quem gerou?
b) O que é? Do que é feito? Por que foi gerado? Quem gerou?
c) Do que é feito? O que é? Quem gerou? Por que foi gerado?
d) Por que foi gerado? Quem gerou? O que é? De que é feito?
e) Quem gerou? Por que foi gerado? O que é? Do que é feito?

Questão 2 (UEM-2008) Elaborando a teoria das quatro causas e a distinção entre ato e
potência, Aristóteles busca explicar a realidade do devir e da mudança a que estão
submetidas as coisas causadas. Assinale o que for correto.
01) Para Aristóteles, a mudança implica uma passagem da potência ao ato; o ato é o
estado de plena realização de uma coisa; a potência, a capacidade que algo tem para
assumir uma determinação.
02) Segundo Aristóteles, tudo que acontece tem suas causas, essas são a explicação ou o
porque de certa coisa ser o que é.

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04) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa final são os quatro sentidos
que Aristóteles distinque no termo causa
08) Segundo Aristóteles, a causa material e a causa formal de uma coisa são,
respectivamente, aquilo de que a coisa é feita e aquilo que ela essencialmente é.
16) Segundo Aristóteles, a causa eficiente e a causa final de uma coisa são,
respectivamente, o agente que atua sobre essa coisa e o fim que ela se destina.

Soma:________

3- (UFFS)Com relação à lógica dita clássica, é incorreto afirmar:

(a) O objeto da lógica é a proposição, que é a expressão dos juízos formulados pela
razão humana
(b) A lógica estuda e define as regras do raciocínio correto, porém não é de sua
competência estabelecer os princípios que as proposições devem seguir.
(c) Quando se atribui um predicado a um sujeito, temos uma proposição.
(d) O raciocínio lógico se expressa através de proposições conectadas, e essa conexão
chama-se silogismo.
(e) Existem determinados princípios que toda proposição e todo silogismo devem seguir
para serem considerados verdadeiros.

4. Na célebre pintura A escola de Atenas, o


pintor renascentista Rafael reuniu os principais
nomes da filosofia grega, tendo ao centro do
quadro as figuras de Platão e de Aristóteles.
Na figura, Platão aponta com sua mão para o
alto e Aristóteles aponta para baixo. Com estes
gestos, Rafael estava ilustrando a distinção
entre a filosofia de Platão e a filosofia de
Aristóteles.
Indique e discorra sobre a principal
diferença entre a teoria das ideias de Platão
e teoria das causas de Aristóteles. Aponte,
em sua resposta, como as duas filosofias
respondem ao problema sobre a aparência e
a essência, e sua importância para o modo
como conhecemos o mundo ainda hoje.

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