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Apesar de morar há muitos anos no bairro do Morumbi, em São Paulo, e da minha paixão pública
pela engenharia e arquitetura, só recentemente visitei a Casa de Vidro acompanhado pela minha
esposa. A Casa, o primeiro projeto brasileiro da inesquecível arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo
Bardi, foi construída no local onde existia uma antiga fazenda de chá. É importante lembrar que
esta foi, também, a primeira casa construída no bairro do Morumbi e serviu de residência para o
casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi. Durante quatro décadas, foi um ponto de encontro
histórico também por ter sido ponto de encontro de artistas e intelectuais.
A imponente fachada de vidro sobre pilotis foi implantada aproveitando o perfil natural do terreno
e explorando materiais como vidro, aço e concreto. Trata-se de um ícone da arquitetura moderna
no Brasil e uma das quatro casas de vidro projetadas por grandes arquitetos internacionais do
século XX. O imóvel foi tombado pelo CONDEPHAAT em 1987.
Durante a visita, me peguei várias vezes olhando através dos imensos painéis de vidro do piso ao
teto e imaginando como teria sido ainda mais bela a vista daquele ponto alto, com vista para o Rio
Pinheiros e região dos Jardins. Naquela época, a Zona Sul de São Paulo era dominada pela Mata
Atlântica, e a cidade estava se desenvolvendo do outro lado do Rio Pinheiros. A casa, um ícone
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30/08/2018 A Casa de Vidro, os encontros com Lina Bo Bardi e o Vermelho Bombeiro do MASP - LIGA
arquitetônico que abriga hoje o Instituto Bardi, com acervo composto por textos, fotografias,
documentos, anotações, maquetes, móveis e objetos de arte do casal, está aberta a visitas
guiadas de até uma hora. Clique AQUI para agendar um horário.
O corpo principal do prédio, com vão livre de 74m, está apoiado sobre quatro pilares laterais
vazados, de 2,5m x 4m, que recebem uma carga de 9.200tf, transmitida por quatro grandes vigas
protendidas localizadas sobre a cobertura do museu. O projeto estrutural foi feito pelo iminente
Engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, ex-prefeito de São Paulo.
Uma curiosidade que vale revelar… Chateaubriand pretendia sediar o MASP no Rio de Janeiro, mas
optou por São Paulo acreditando que teria mais sucesso para a arrecadação de fundos necessários
para a construção do museu.
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O MASP é uma das mais importantes instituições culturais brasileiras e possui uma das mais
completas coleções de arte ocidental da América Latina. O acervo é tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, e abriga também uma das maiores bibliotecas
especializadas de arte do Brasil.
Em 1999, a edificação passou por algumas reformas. Ganhou reforço estrutural e reprotensão das
quatro vigas de sustentação localizadas sobre a cobertura, recuperação da estrutura de concreto,
impermeabilização da cobertura, nivelamento e troca de pisos. Os caixilhos foram reformados e os
vidros foram trocados com instalação de película de proteção contra os raios ultravioleta. O prédio
recebeu outras intervenções para melhoria e modernização dos sistemas de instalações prediais,
iluminação, ar condicionado e colocação de um segundo elevador de acesso.
Lamento não me lembrar de todos os nomes, mas além da Arquiteta Lina Bo Bardi, me lembro de
outros participantes – o amigo Prof. Dr. Paulo Helene e o Eng. Elorci de Lima.
Cabe destacar que antes de minha carreira executiva como dirigente na indústria de produtos para
a construção e depois no setor de engenharia, construção e incorporação, me especializei em
materiais e técnicas para a recuperação, reforço e proteção de estruturas de concreto. Naquela
época dirigia uma indústria britânica no Brasil, líder em produtos especializados para este tipo de
aplicação. Também fui palestrante e professor de cursos de especialização nesta área de
conhecimento.
Reuniões difíceis
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O grande incômodo da Arquiteta Lina Bo Bardi era, justamente, o sistema de pintura de proteção
necessário para evitar novos danos à estrutura do MASP. Na visão dela, e na de muitos arquitetos,
qualquer produto que causasse alteração de textura ou brilho da estrutura não deveria ser
utilizado. Na época, toda a estrutura do MASP era em concreto aparente, com aspecto superficial
conhecido como “formas brutas”, ou seja, os pilares, lajes e vigas apresentavam rebarbas e
marcas obtidas pela justaposição das tábuas das formas.
Numa atmosfera urbana como a da cidade como São Paulo, farta em gases de natureza ácida
como o Dióxido de Carbono (CO2) e Dióxido de Enxofre (SO2), a carbonatação é um problema
comum em estruturas de concreto armado ou protendido não protegidas. Era exatamente o que
estava acontecendo com a estrutura de concreto aparente do MASP.
Depois dos serviços de recuperação estrutural do MASP, para impedir a futura carbonatação, as
superfícies deveriam ser tratadas e preparadas, reduzindo significativamente as rebarbas
decorrentes da justaposição das formas, corrigindo-se também pequenos defeitos superficiais,
para que então toda a superfície de concreto pudesse receber um sistema de proteção
competente.
Uma vez confirmado o relaxamento dos cabos de proteção e deformação das lajes foi constatada a
necessidade de uma intervenção maior para eliminar as causas do problema, incluindo:
A arquiteta insistiu muito na utilização somente do primer hidrofugante, mesmo ciente que não
teríamos a eficácia necessária. Daí a grande divergência entre o tecnicamente necessário para
prover à estrutura da edificação a devida proteção e a exigência da plena preservação das
características originais do projeto, como num restauro de uma obra de arte.
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Nos momentos mais acalorados da discussão, lembro das palavras da Arquiteta Lina Bo Bardi,
sempre elegantemente vestida de preto:
Lembro que ela estava com dificuldades de locomoção, então, a acompanhamos até o depósito
localizado no subsolo do MASP. Ela nos mostrou uma maquete antiga do museu com os pilares e
as vigas de sustentação da cobertura na cor “Vermelho Bombeiro” e decretou: “É isso que vocês
vão fazer! A concepção original do MASP foi essa. Ao invés do verniz opaco, pintem então os
pilares e as vigas com uma tinta protetora apropriada nesta cor! O Pietro sempre preferiu esta
versão!”.
Vermelho Bombeiro
Anos depois, o MASP passou pela intervenção que lhe rendeu o título de ícone de forma renovada
e diferente, com pilares e vigas da cobertura na cor… Vermelho Bombeiro!
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