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JUVENATRIX

JUVENATRIX – Fanzine de Horror & Ficção Científica


ANO 26 – Número 181 – OUTUBRO 2016
JUVENATRIX – desde Janeiro de 1991, com 4.423 páginas
Editor – Renato Rosatti
Capa – Angelo Junior, extraída do álbum de ilustrações “Fantasia, Luz & Sombra”,
publicado pelo “Clube de Autores”
Contra capa – “O Monstro de Pedras Brancas” (The Monster of Piedras Blancas,
EUA, 1959, PB)

INTERNET
Blogs: www.infernoticias.blogspot.com.br & www.juvenatrix.blogspot.com.br
E-mail: renatorosatti@yahoo.com.br / Twitter: www.twitter.com/juvenatrix

Lançamento dessa edição: 21/10/2016 – São Paulo/SP


Distribuição gratuita – Solicite o envio por e-mail

HORROR E METAL EXTREMO


Música: Evil Has No Boundaries / Banda: Slayer (EUA) / Álbum: Show No Mercy (1983)

Blasting our way through the boundaries of Hell. No one can stop us tonight. We take on the world with hatred inside. Mayhem
the reason we fight. Surviving the slaughters and killing we've lost. Then we return from the dead. Attacking once more now
with twice as much strength. We conquer then move on ahead. Evil. My words defy. Evil. Has no disguise. Evil. Will take your
soul. Evil. My wrath unfolds.
Satan our master in evil mayhem. Guides us with every first step. Our axes are growing with power and fury. Soon there'll be
nothingness left. Midnight has come and the leathers strapped on. Evil is at our command. We clash with God's angel and
conquer new souls. Consuming all that we can. Evil. My words defy. Evil. Has no disguise. Evil. Will take your soul. Evil. My
wrath unfolds.
NOTÍCIAS
Obituário: R.I.P. Herschell Gordon Lewis (1929 / 2016)
(Mensagem de Silvana Perez, extraída do site “Boca do Inferno”)

O mundo do cinema ficou muito menos sangrento com a notícia de que o cineasta americano Herschell Gordon Lewis,
conhecido como o “Padrinho do Gore”, faleceu em sua casa aos 87 anos. A notícia foi confirmada por James Saito, produtor
da antologia BloodMania, na página de Lewis no Facebook.
Lewis entrou na indústria cinematográfica produzindo e dirigindo filmes exploitation com nudez, mas não demorou para que
ele passasse a entregar ao público sangue, muito sangue. Isso começou em 1963, com Banquete de Sangue, e continuou com
filmes como Maníacos, The Wizard of Goree The Gore Gore Girls, este o último projeto que ele dirigiu antes de uma pausa
de trinta anos. Em 2002, Lewis retornou em 2002 com Blood Feast 2: All U Can Eat, sequência do que é considerado
o primeiro filme splatter.

CONTOS
Saudades Eletrônicas por Norton A. Coll
O rosto feminino parecia um mapa assinalando os leitos dos rios tortuosos que conhecera. A idade não a impedia de
abrir-se num sorriso franco.
- Então, querido, como estás hoje em teu repouso?
A voz dele soa como a de alguém a despertar:
- Ahnnn! Que bom que estás aí. Sinto-me bem, embora o lugar seja um pouco frio, como sabes. Tenho sempre
saudades tuas. Eu passo os dias e noites revendo os momentos felizes que partilhamos quando estávamos juntos.
- Eu também sinto falta do tempo em que estavas desse lado de cá. Bem, meu amado, vou trocar um pouco essas flores
murchas por essas rosas que acabei de colher de nosso jardim. Lembras-te dele? Está tão florido como quando tu o deixaste.
Ela mal contém as lágrimas: - Agora tenho de voltar. Deixei tantas coisas para arrumar em casa. Tenho procurado me
manter sempre ocupada como me recomendavas. Deixo-te um beijo.
O vulto de mulher levanta-se lentamente e, com uma vênia respeitosa, acena um adeus com o lenço.
Ao fundo a melodia que ecoa, reproduzida pelas caixas multisônicas é a trilha sonora de "Cemitérios Eletrônicos", o
mais popular comercial deste anos de 2032 A.D.
Nesse momento, ouve gritos próximos a si. Volta sua cabeça e vê um jovem bem trajado enxotando um bando de
garotos com sua valise. Em sua perseguição, ele passa pela alameda formada por jazigos e túmulos, protegidos por anjos,
cruzes e outros símbolos mais modernos.
O rapaz logo volta em direção a ela. - A senhora não notou? Estavam também tentando furtar sua sacola!! Eu estava
perto e vi tudo.
- Oh! Muito agradecida. Eu estava realmente muito distraída.
- Incrível o que se produziu com esses computadores de sexta geração, não é mesmo?- diz ele procurando sustentar
uma conversa.
- Ah, sim, meu jovem. São realmente formidáveis. Às vezes, a gente até esquece que existe algo não-humano por trás
disso tudo. São tão convincentes, tão eficientes...
- Perdoe, senhora, se quebro um pouco seu devaneio...
- Não, não por isso. Há muito perdi minhas ilusões mais preciosas.
- É que... sou um entusiasta desses avanços da eletrônica da área de computação. Pode até ser uma febre ultrapassada,
mas equipamentos como esses me fascinam. Embora seu funcionamento seja bastante simples de explicar. Trata-se de um
sensor-interpretador de sons humanos que é acionado pela voz da pessoa visitante; a voz é traduzida em linguagem digital para
a máquina que, por sua vez, ativa um avançado sintetizador de sons que "responde" frases lógicas para uma infinidade de
situações.
- E a voz é tão parecida com a do finado Albert...
Ele faz uma pausa estudada, para enxugar o suor. - E na realidade é de fato a voz dele, conforme foi sintetizada a
partir das gravações digitalizadas e desdobrada em seguimentos mínimos de palavras, frases, muxoxos, etc, tudo memorizado
e remixado conforme a conveniência da conversa.
- Dito assim, meu rapaz, até parece que é coisa fácil. Mas creio que é um sistema altamente elaborado e aperfeiçoado.
- Bem, ainda existem alguns problemas como... Olhe ali. Vê aquele outro grupo de meninos? Eles provavelmente
modificaram o sistema de recepção a visitantes do exterior da cripta e o transformaram num simples adversário para algum
vídeo game. Eis uma coisa que não consigo aceitar. Todo esse sistema automático de vigilância e ninguém desconfia de um
grupo de moleques visitando um cemitério.
E prossegue confiante sua exposição: - Há também os inevitáveis loucos e maníacos que ficam horas mantendo suas
insanas conversações, atormentando as pobres máquinas, eventualmente sobrecarregando os circuitos e acabando por silenciá-
las.
- Mas, pense meu jovem, na alegria e no estímulo que a implantação desse trabalho trouxe para tantas pessoas. Veja
como os solitários sentem um pouco mais de conforto por poderem, de algum modo, dialogar com seus queridos e desfrutar de
algum tipo de "companhia". Os filhos que nunca chegaram a ver seus pais em carne e osso poderão um dia falar com eles e
contar seus problemas. Os jovens esposos ouvirão ainda uma vez a voz de suas amadas e terão a chance de renovar suas juras
de amor. Pense nisso. É tanta coisa gratificante o que a máquina pode fazer por todos nós.
- Puxa! A senhora me deixou realmente emocionado. Como é bom ouvir esse depoimento vindo de sua parte. Eu não
havia me dado conta que este sistema de sexta geração trouxe um benefício social tão vasto.
Seus olhos chegam a adquirir certa luminosidade. Pela primeira vez, ele encontrou alguém que partilha de sua
admiração pelo computador e, mais que isso, acrescenta uma dimensão humanista que lhe havia passado despercebida.
- O conforto e o consolo que essa aplicação traz é realmente um benefício inestimável. A senhora, que perdeu um ente
querido, sente isso muito bem e acaba de expressá-lo de forma tão clara e pessoal.
- Obrigado, jovem, mas gostaria de dizer que o pensamento não é realmente "meu". Minha proprietária tem como
compromisso inabalável comparecer mensalmente para esta visita a seu falecido esposo. Hoje, por um motivo qualquer, não
pôde comparecer. Restou-lhe apenas utilizar o manual do usuário e modificar as instruções da Serva Humanóide de sétima
geração... que sou EU.
E diante do olhar estonteado do rapaz:
- Desculpe se o surpreendi, meu caro. Fui programada para me assemelhar em tudo com minha dona. Na verdade, hoje
EU sou a viúva. Bem, foi um prazer estar com você. Até outro dia.
A valise caída no chão, ainda ali permaneceu por algum tempo. Foi recolhida por ele lentamente, após a humanóide
ter se afastado do cenário, aos últimos acordes do tema de "Cemitérios Eletrônicos".

TEXTOS DE CINEMA

“Platoon” – 30 Anos (1986 - 2016) por RR


“Rejoice, O young man, in thy youth...” – “Regozija-te, oh jovem, em tua juventude...” – Ecclesiastes

Com estas palavras sábias, referindo-se aos homens que perderam suas vidas muito jovens na guerra, inicia-se um dos
principais filmes retratando o ambiente hostil da Guerra do Vietnã, “Platoon” (Platoon). Exibido nos cinemas em 1986, o filme
foi dirigido e escrito por Oliver Stone e estrelado, entre outros, por Tom Berenger, Willem Dafoe, Charlie Sheen, Forest
Whitaker, Francesco Quinn, Kevin Dillon, Keith David e Johnny Depp. A produção foi filmada nas selvas das Filipinas e seu
maior sucesso está na forma cruel e mais verdadeira possível com que mostrou os horrores de uma guerra absurda e sem
vencedores, triunfando somente a Morte, implacável e fatal. Indicado em oito categorias do cobiçado Prêmio “Oscar”, ganhou
com méritos as estatuetas de melhor filme, direção, edição e som.
Com um orçamento reduzido de apenas seis milhões de dólares (quando um filme médio na época superava a casa dos
US$ 15 milhões), a história de “Platoon” é baseada em fatos reais de experiências vividas pelo diretor Oliver Stone que
participou dessa guerra e foi condecorado com uma “Estrela de Bronze”. Ele foi enviado com apenas 19 anos de idade em
setembro de 1967 para o sudeste asiático, numa região próxima à fronteira do Camboja, com o objetivo de combater o
comunismo dos chamados “vietcongues”, com os Estados Unidos novamente impondo sua ideologia política.
No filme, ele é Chris Taylor (Charlie Sheen, filho de Martin Sheen que curiosamente foi também o protagonista de
outro expoente máximo do cinema que explorou a Guerra do Vietnã, “Apocalypse Now”, 1979, de Francis Ford Coppola).
Taylor e vários outros soldados jovens e inexperientes são enviados para o campo de batalha no meio das selvas para enfrentar
um inimigo inferior em tecnologia militar mas conhecedor do ambiente das florestas fechadas e com uma vontade enorme de
expulsar os invasores de seus territórios (no caso os Estados Unidos com seu tradicional imperialismo sobre nações
economicamente mais pobres). Entre o grupo de soldados estão atores novatos como Kevin Dillon (Bunny), Forest Whitaker
(Big Harold) e Johnny Depp (Lerner) que lançaram a partir daí suas carreiras de sucesso.
Porém, além da guerra brutal nas selvas, Taylor tem que enfrentar também um conflito interno dentro de seu próprio
pelotão do exército, dividido entre o “mocinho” sargento Elias (Willem Dafoe), um oficial honesto e com senso de
humanidade, e o “bandido” sargento Barnes (Tom Berenger), um oficial frio, arrogante, interesseiro e cruel. Ambos disputam a
liderança de um regimento de infantaria em plena guerra e possuem visões opostas sobre o horror e motivações da batalha
armada em que estão participando. E Taylor acaba pendendo para o lado de Elias, cujo grupo de soldados de seu pelotão
costuma se drogar nos raros momentos livres para diversão, procurando fugir da insanidade da guerra sob o efeito alucinógeno
da maconha.
Como um fato curioso, o diretor Oliver Stone aparece em uma pequena ponta não creditada interpretando um
comandante sob fogo cruzado que solicita para seu comando um ataque de aviões para bombardear o campo inimigo.
Outras curiosidades incluem duas frases em especial. A primeira, numa conversa entre o sargento Elias e o recruta
Taylor, o superior diz ao mais jovem, “Nós vamos perder essa guerra... Temos tirado vantagem dos outros há tanto tempo que
agora eu acho que é a nossa vez”. Após três longos e sangrentos anos combatendo no Vietnã, o experiente sargento Elias pode
observar toda a selvageria e irracionalidade daquela guerra e suas palavras refletem um raro momento de sanidade em meio ao
caos. A outra frase curiosa foi proferida por um oficial americano de alta patente no meio de uma batalha violenta onde os
vietcongues estavam dominando os inimigos. Numa última tentativa desesperada de reagir aos ataques, o oficial ordena um
bombardeio final sobre suas próprias cabeças apostando na sorte de quem sobreviver, já que não havia mais saída. Ao terminar
sua ordem pelo rádio ao piloto do avião bombardeiro, ele diz algo como “É uma beleza de guerra”, referindo-se à
complexidade das estratégias de combate para se vencer ou perder uma batalha. Na verdade, a guerra não é bela, é apenas
bestial e irracional. Após o final desse combate, o que restou foram pilhas de cadáveres sem nacionalidade, que tiveram que ser
enterrados numa vala gigante.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)


A trilha sonora de Georges Delerue se encaixou perfeitamente nas cenas de batalhas criando momentos de forte
emoção ao se fundir com as imagens de violência da guerra. Em especial, numa sequência envolvendo o sargento Elias quando
ele é abandonado na selva pelos companheiros e traído pelo rival sargento Barnes, que fogem de helicóptero de um cerco
vietcongue. Elias corre por sua vida com dezenas de inimigos em seu encalço e ao chegar numa grande clareira na mata ele é
mortalmente alvejado, porém ainda caminha mais um pouco e cai ferido no chão rastejando com dificuldades. Ele então
lentamente ajoelha-se, recebe mais uma carga fatal de disparos pelas costas, depois ergue seus braços ao alto num momento
antológico de pura indignação perante o horror brutal da guerra, e finalmente tomba na terra morto, com uma música de
arrepiar ao fundo (aliás, essa cena magistral, uma das mais significativas de toda a história do cinema, é reproduzida no cartaz
principal do filme).
O elenco é de grande qualidade e acabou revelando o talento de muitos jovens atores que ao longo dos mais de 15
anos desde a sua produção estão com suas carreiras reconhecidas principalmente no caso dos excelentes Willem Dafoe (visto
como o vilão “Duende Verde” em “Homem-Aranha, de Sam Raimi, ou ainda como a criatura “Nosferatu” em “A Sombra do
Vampiro”), Forest Whitaker (um dos assaltantes em “O Quarto do Pânico), Tom Berenger (de “D-Tox”) e Johnny Depp (de
“Do Inferno”).
O prestigiado diretor Oliver Stone fez ainda mais dois filmes dramáticos sobre a Guerra do Vietnã após “Platoon”,
numa espécie de trilogia sobre o tema, através de “Nascido em Quatro de Julho” (1989, com Tom Cruise) e “Entre o Céu e a
Terra” (1993, com Tommy Lee Jones).

Platoon (Platoon, Estados Unidos, 1986). Duração: 120 minutos, disponível em VHS e DVD no mercado brasileiro de vídeo.
Direção e roteiro de Oliver Stone. Produção de Arnold Kopelson e A. Kitman Ho. Música de Georges Delerue. Fotografia de
Robert Richardson. Montagem de Claire Simpson. Efeitos Especiais de Yves De Bono e Gordon J. Smith. Elenco: Charlie
Sheen (Chris Taylor), Willem Dafoe (Sargento Elias), Tom Berenger (Sargento Barnes), Keith David (King), Francesco Quinn
(Rhah), Forest Whitaker (Big Harold), Kevin Dillon (Bunny), John C. McGinley (Sargento O´Neill), Reggie Johnson (Junior),
Mark Moses (Tenente Wolfe), Corey Glover (Francis), Johnny Depp (Lerner), Chris Pedersen (Crawford), Bob Orwig
(Gardner), Corkey Ford (Manny), David Neidorf (Tex), Richard Edson (Sal).

Obs.: Artigo publicado originalmente na versão impressa do fanzine "Juvenatrix" 66 (Setembro de


2002).
Comentários de Cinema – Parte 28
Besta do Milhão de Olhos, A (The Best With a Million Eyes, EUA, 1955, PB)
Dia dos Independentes (Independents´ Day, EUA, 2016)
El Grito de la Muerte (The Living Coffin, México, 1959)
Monstro de Pedras Brancas, O (The Monster of Piedras Blancas, EUA, 1959, PB)
The Hollow (EUA, 2015)

* Besta do Milhão de Olhos, A (1955)


O “Rei dos Filmes B” Roger Corman, cultuado produtor e diretor americano do cinema bagaceiro de horror e ficção
científica, começou sua carreira no início dos anos 1950, a década de ouro das tranqueiras divertidas do gênero fantástico com
histórias absurdas e efeitos toscos (monstros de borracha e naves espaciais hilárias). Um de seus primeiros filmes como
produtor (nesse caso, executivo) e direção (porém, ambos não creditados), recebeu o nome por aqui de “A Besta do Milhão de
Olhos” (1955), com fotografia em preto e branco e metragem curta com apenas 78 minutos. Trazendo um título sonoro,
cartazes e taglines promocionais exagerados e uma introdução sensacionalista narrada por um líder alienígena tirano e
conquistador (voz de Bruce Whitmore), cujo propósito evidente era chamar a atenção dos espectadores.
“Eu preciso da Terra. De milhões de anos-luz eu me aproximo de seu planeta. Logo, minha espaçonave aterrissará
na Terra. Eu preciso de seu mundo. Eu me alimento do medo, vivo do ódio humano. Eu, uma mente poderosa sem carne e
sangue, quero seu mundo. Primeiro, o impensável, os pássaros do ar, os animais da floresta, então o mais fraco dos homens
estará sob meu comando. Eles serão meus ouvidos, meus olhos, até que seu mundo me pertença. E porque posso ver seus atos
mais íntimos, vocês me conhecerão como A Besta do Milhão de Olhos.”
Allan Kelley (Paul Birch, de “Rebelião dos Planetas”, 1958, entre outras tranqueiras) é um ex-combatente que
participou da Segunda Guerra Mundial e agora tenta administrar uma fazenda decadente localizada no meio de um deserto
impiedoso da Califórnia, nos Estados Unidos. Sua esposa Carol (Lorna Thayer) está infeliz com a rotina local e eles têm uma
filha adolescente, Sandy (Dona Cole), que é namorada do assistente de xerife Larry Brewster (Dick Sargent, um rosto
conhecido pela popular série de TV “A Feiticeira”). Tem também um sinistro ajudante de serviços gerais que é mudo e
deficiente mental, que apenas é chamado de “ele” (Leonard Tarver). Os negócios do rancho não vão muito bem, e as coisas
pioram depois que um objeto voador não identificado (que eles acham inicialmente ser um avião a jato) atravessa o céu muito
baixo e com um zumbido tão agudo que quebrou janelas e copos de vidro.
A partir daí, os pássaros da floresta, as pacíficas galinhas, a vaca leiteira do vizinho Ben Webber (o comediante
veterano Chester Conklin) e o cachorro dócil da família (Duke), começam a ter comportamentos bizarros e agressivos, com
suas mentes controladas para atacar as pessoas. Preocupado com a segurança da família, o fazendeiro decide investigar a
relação dos acontecimentos estranhos com um objeto voador metálico pousado numa cratera no deserto, descobrindo uma
terrível e mortal ameaça de outro mundo.
“A Besta do Milhão de Olhos” foi dirigido por David Kramarsky (seu único trabalho nesse ofício e que também
participou da produção do filme) a partir do roteiro de Tom Filer. Tem uma produção paupérrima e história ingênua típica do
cinema fantástico bagaceiro de baixo orçamento de meados do século passado. O filme é repleto de erros de continuidade e
com uma narrativa lenta, sendo interessante mesmo o desfecho, apesar de previsível. No confronto de Allan Kelley, que lidera
as ações, contra o monstro espacial invasor, uma criatura extremamente tosca com olhos esbugalhados (criada pelo especialista
Paul Blaisdell), dentro de uma nave esquisita, que mais parece um artefato militar de espionagem como uma sonda ou satélite.
De resto, a história é cansativa e exagerada nos clichês, furos de roteiro e previsibilidade. Mas, é um dos primeiros trabalhos
com a participação de Roger Corman (na direção de algumas cenas e produção executiva, ambos não creditados). Ele que é um
dos nomes mais importantes e significativos do cinema fantástico, principalmente de orçamentos reduzidos, de todos os
tempos, com mais de 400 filmes no currículo, e isso já é motivo suficiente para conhecer mais essa bagaceira.
Curiosamente, o filme foi distribuído pela ARC (American Releasing Corporation), da conhecida dupla Samuel Z.
Arkoff e James H. Nicholson, que depois virou a cultuada AIP (American International Pictures), responsável pela distribuição
de uma infinidade de pérolas do cinema fantástico com produções modestas.
(RR – 25/09/16)

* Dia dos Independentes (2016)


A produtora “The Asylum” costuma lançar cópias porcarias de filmes feitos com orçamentos milionários nos cinemas,
sendo o destino o mercado de televisão e vídeo. São os chamados “mockbusters”, filmes apenas oportunistas e muito ruins,
principalmente os elencos e roteiros.
Em resposta a “Independence Day – O Ressurgimento”, continuação do filme de 1996 sobre invasão alienígena, a
produtora lançou “Dia dos Independentes” (que também recebeu o nome por aqui de “O Ultimato” quando exibido pelo canal
de TV a cabo “SyFy”). A direção inexpressiva é de Laura Beth Love, mais conhecida pela fotografia de uma infinidade de
tranqueiras modernas como as partes 3 e 4 da franquia “Sharknado”, onde tubarões se locomovem através de tornados e atacam
as grandes cidades americanas.
A história é tão ruim que nem merece uma sinopse detalhada, e sim apenas uma abordagem bem superficial. O filme já
começa com imensas naves espaciais surgindo em vários locais do mundo. Não sabendo se as intenções dos visitantes são
pacíficas ou não, o exército americano tenta uma comunicação através de uma equipe liderada pela vice-presidente Raney (Fay
Gauthier). Ela é auxiliada pelo General Roundtree (Sal Landi, creditado como Salvatore Garriola), o Capitão Goddard (Johnny
Rey Diaz, creditado como Jonathan Ortiz), o Senador Randall Rayne (Jon Edwin Wright, creditado como Jon Wright), que é o
marido da presidente, e pelo agente Taylor (Jude Lanston).
Eles tentam negociar com os alienígenas invasores, que querem a evacuação do planeta oferecendo de forma suspeita
naves de transporte para a retirada da humanidade. Porém, uma milícia armada chamada “Terra Primeiro” oferece uma
resistência gerando um confronto sangrento com os invasores do espaço.
Pela falta de criatividade onde o que interessa é copiar, temos aqui a já conhecida cena da Casa Branca sendo
destruída pelos alienígenas, matando o presidente americano, obrigando a vice a assumir o cargo. E temos também aquelas
frases banais e ridículas que só depreciam ainda mais o filme, como “é hora de explodir mais alguns ET´s, a gente vai resistir
até a morte” e “esses desgraçados de alienígenas mexeram com o planeta errado”. Nada mais patético do que evidenciar o
heroísmo americano como salvador da Terra e a única esperança da humanidade.
O elenco é desconhecido e é difícil imaginar como os atores encontram algum tipo de motivação para participar da
realização de algo tão inexpressivo. O filho da presidente, Bobby (Mathew Poalillo), é um personagem extremamente irritante
e chorão, e o ator medíocre ainda consegue tornar as coisas ainda piores. Sabemos que os efeitos de CGI são necessários em
filmes de invasão alienígena, com naves rasgando o céu e tiroteios para todos os lados, e então podemos até tolerar essa
questão em “Dia dos Independentes”, mas o grande problema mesmo é a história reciclada e totalmente previsível, que não
desperta interesse.
Os filmes bagaceiros dos anos 50 do século passado, com suas histórias absurdas e muitas delas ingênuas, são
eternamente mais divertidos justamente pelas características toscas de um cinema produzido dezenas de anos atrás. Mas, esses
filmes do início do novo século produzidos pela “The Asylum” são difíceis de digerir até mesmo para os apreciadores do
cinema fantástico bagaceiro, principalmente pelos roteiros de péssima qualidade. Se essas porcarias um dia se tornarão
cultuadas só o tempo dirá, mas o que é certo é que o espectador precisa ter muita tolerância para conseguir assistir um filme
desses até o fim, sabendo antecipadamente que será um desperdício de tempo.
Imediatamente após seu lançamento, o filme já faz parte do limbo dos esquecidos e dispensáveis, e está no cemitério
das tranqueiras que não agregam nada ao gênero. Passe longe ou tente assistir apenas para conhecer as bagaceiras da produtora
“The Asylum”.
(RR – 19/09/16)

* El Grito de la Muerte (1959)


A lenda da “Maldição da Chorona”, sobre uma mulher fantasma que assombra com seus gritos desesperados de
angústia por causa da morte de seus dois filhos soterrados na areia movediça de um pântano, é a ideia básica do filme “El
Grito de la Muerte” (1959), produção colorida mexicana com direção de Fernando Méndez (1908 / 1966), que tem no
currículo outras tranqueiras do período como “O Morcego” (1957), “Ladrón de Cadáveres” (1957), “O Ataúde do Vampiro”
(1958) e “Misterios de Ultratumba” (1959).
Essa mesma famosa lenda mexicana também foi explorada no posterior “A Maldição da Chorona” (La Maldición de la
Llorona / The Curse of the Crying Woman, 1963), produção em preto e branco escrita e dirigida por Rafael Baledón, sendo um
excelente filme de horror gótico, com todas as características desse fascinante estilo e rivalizando com os melhores exemplos
da cultuada produtora inglesa “Hammer”.
O cowboy detetive Gastón (Gastón Santos), acompanhado de seu parceiro “Coiote Louco” (Pedro de Aguillón),
investiga o rancho da jovem e bela Maria Elena Garcia (Maria Duval) e sua severa tia Dona Maria (Hortensia Santoveña). Elas
tentam administrar o local em decadência, com a morte trágica de Clotilde (Carolina Barret), após seus filhos morrerem no
pântano que cerca a fazenda. As coisas complicam com a ocorrência de mortes misteriosas creditadas pelos supersticiosos
como relacionadas à maldição de uma mulher chorona que abandonou a tumba em busca de vingança.
Em “El Grito de la Muerte” (“The Living Coffin” nos Estados Unidos), temos uma mistura de gêneros com elementos
de western, horror gótico e comédia pastelão, cujo resultado final não funcionou. A presença de um cowboy herói,
perseguições a cavalo, tiroteios e brigas de bar nos remetem para um filme comum de western, sem apresentar nenhum
diferencial e se perdendo na infinidade de produções similares. Os elementos de comédia, mesmo que em pequena quantidade
em cenas num estilo pastelão, não combinam em nenhum momento com o argumento central de horror com as várias mortes
misteriosas e a especulação da maldição da chorona. Essas cenas fora de contexto ficaram a cargo do personagem “Coiote
Louco”, que está sempre desesperado para encontrar um local para dormir, e seus momentos hilários são acompanhados por
sons cômicos. Além de enfatizar o cavalo do mocinho herói com habilidades improváveis como atirar com um revólver, salvar
seu dono de uma areia movediça e descobrir uma passagem secreta no casarão com grande importância para a solução do
mistério que assombra o local.
Dessa salada de estilos, o que realmente se destaca e salva o filme do limbo são os elementos de horror gótico, com as
mortes violentas causadas supostamente por uma mulher atormentada que retornou do mundo dos mortos em busca de vingança
e alívio para seu eterno desespero pela morte trágica dos filhos. O vilarejo decrépito e deserto, os gritos sombrios pela casa, a
atmosfera sinistra de ambientes escuros, corredores mal iluminados e criptas geladas, a especulação de lendas e maldições
familiares, e o clima desconfortável de mistério e assassinatos, garantem bons momentos de diversão para os apreciadores do
estilo.
Apesar disso, infelizmente, “El Grito de la Muerte” perdeu uma grande oportunidade de se destacar no cinema de
horror que explora fantasmas assassinos vingativos, por causa da história com mistura de gêneros, principalmente o humor
deslocado, além de reviravoltas na trama também mal sucedidas. O filme é curto com apenas 71 minutos de duração, e vale
conhecer por curiosidade devido ao tema da lenda da “maldição da chorona”, e pelos bons momentos de horror gótico.
(RR – 12/10/16)

* Monstro de Pedras Brancas, O (1959)


Sturges (John Harmon) é um homem viúvo que administra o funcionamento de um farol instalado numa construção à
beira do mar, com o objetivo de alertar as diversas embarcações durante a noite sobre o perigo de acidentes contra os rochedos,
responsáveis por muitos naufrágios. Ele tem uma jovem e bela filha, Lucille (Jeanne Carmen), que trabalha de garçonete num
restaurante da pequena vila próxima, e é a namorada do jovem bioquímico Fred (Don Sullivan, das bagaceiras “O Gigante
Monstro Gila” e “Teenage Zombies”). Quando assassinatos misteriosos e violentos começam a ocorrer na região, com vítimas
degoladas e sem sangue, os moradores do vilarejo, especialmente o dono de um açougue, Kochek (Frank Arvidson), ficam
assustados e creditam a responsabilidade das mortes para um lendário monstro que habita as cavernas nos penhascos logo
abaixo do farol. Como Sturges parece esconder um terrível segredo, ele não é bem visto pelos habitantes, enfrentando
problemas de relacionamento.
Mais mortes estranhas acontecem e o xerife George Matson (Forrest Lewis) está liderando as investigações, sempre
fumando seu charuto e bastante intrigado pelas cabeças cortadas com precisão e a ausência de sangue nos cadáveres. Ele é
auxiliado pelas perícias e análises do médico Dr. Sam Jorgenson (o inglês Les Tremayne, visto em outras bagaceiras divertidas
do período como “Rastros do Espaço” e “Viagem ao Planeta Proibido”, além do clássico “A Guerra dos Mundos”). Devido ao
crescente perigo ameaçando os moradores da pequena vila, e para interromper os assassinatos violentos, eles organizam um
grupo para caçar o monstro.
Dirigido por Irvin Berwick, com fotografia em preto e branco e curto (apenas 71 minutos), “O Monstro de Pedras
Brancas” é mais um daqueles típicos filmes bagaceiros indispensáveis dos saudosos anos 50 do século passado, com seu
roteiro simples e cheio de clichês, onde basicamente uma pequena cidade próxima do mar é atacada por um monstro carnívoro.
E para os apreciadores dessas tranqueiras, a diversão está garantida justamente por esse tipo de história e pelos efeitos toscos
de maquiagem com mortes violentas para a época, com um ator alto vestindo uma fantasia de borracha para interpretar o
monstro assassino. Nesse caso, o trabalho é do ator Pete Dunn, que interpreta também outro personagem no filme, Eddie, um
ajudante do açougue. Aliás, a concepção do monstro foi inspirada na criatura do clássico “O Monstro da Lagoa Negra”
(Creature From the Black Lagoon, 1954), onde percebemos muitas similaridades. Isso pode ser explicado pelo fato do técnico
em efeitos de maquiagem Jack Kevan, ter trabalhado na equipe que criou o famoso monstro que vivia nas águas escuras de uma
região remota na Amazônia, e ele é o produtor de “O Monstro de Pedras Brancas”. Por curiosidade o nome do filme refere-se
às rochas abaixo do farol, que pareciam brancas pela grande quantidade de gaivotas desorientadas que se lançavam para a
morte à noite contra as pedras.
O monstro é uma mutação da família dos diplovertebrons, uma raça pré-histórica anfíbia extinta, e de tão tosco
consegue despertar aquele bem vindo sentimento de nostalgia dos incontáveis filmes de baixo orçamento que eram produzidos
com histórias parecidas, e que divertiam pelas características bagaceiras. E não falta a tradicional cena onde o monstro caminha
carregando em seus braços a mocinha indefesa e desacordada.
Numa época que não existia computação gráfica, os efeitos eram toscos pela falta de recursos técnicos e
indisponibilidade de investimentos para resultados com mais qualidade, mas ainda assim eram infinitamente mais divertidos.
Até mesmo pela ingenuidade das histórias absurdas, quando em comparação com o cinema fantástico bagaceiro do início do
século 21 com efeitos em CGI que não despertam o mesmo interesse pelo excesso de artificialidade, e que facilitam o trabalho
preguiçoso dos realizadores em tentar contar uma história melhor.
Em 2005 foi lançado “The Naked Monster”, que é uma homenagem aos filmes “B” da década de 1950, com a
participação de muitos atores veteranos, os quais tornaram possíveis e imortalizadas aquelas tranqueiras divertidas do passado.
Com uma ideia de comédia de ficção científica e horror, o filme homenageia “O Monstro de Pedras Brancas” numa cena
passada num farol, com os atores originais John Harmon e Jeanne Carmen. Curiosamente, um dos diretores dessa paródia é
Wayne Berwick (filho de Irvin Berwick), que também esteve no filme de 1959, num papel menor interpretando o garoto
Jimmy, que era manco de uma perna e corria aos gritos avisando para todos que o monstro tinha assassinado outra vítima.
Também por curiosidade, vale citar que antigamente eu visitava os sebos do centro de São Paulo à procura de
raridades sobre cinema fantástico, e comprei um poster gigante (70 x 90 cm) nacional e da época de lançamento do filme, com
uma arte desenhada destacando o rosto do monstro. “O Terror Invade a Praia... Surge das Profundezas... O Monstro de Pedras
Brancas”.
(RR – 07/09/16)

* The Hollow (2015)


É uma pena que existam tantos filmes que desqualificam o tão fascinante cinema de horror, com roteiros
exageradamente ruins, desfile de clichês, previsibilidade e um monstro criado por CGI tão patético que inevitavelmente
arremessa o resultado final no limbo das produções que merecem ser esquecidas. É o caso da tranqueira “The Hollow” (2015),
com direção do canadense Sheldon Wilson e história dele em parceria com Rick Suvalle. A dupla já havia trabalhado junto em
outra porcaria similar, o anterior “Espantalho Assassino” (Scarecrow, 2013).
Três irmãs adolescentes, Sarah (Stephanie Hunt), Marley (Sarah Dugdale) e a caçula Emma (Alisha Newton) vão
visitar sua tia Cora (Deborah Kara Unger) numa pequena cidade que fica numa ilha, na época do Halloween. Elas enfrentaram
uma tragédia familiar com a morte dos pais num acidente de carro. Porém, ao chegarem ao local, se deparam com um cenário
deserto de mortes e mistérios envolvendo uma lenda de uma criatura sobrenatural da floresta, formada por fogo, ossos e terra,
que está em busca de sangue e vingança.
“The Hollow” pode ser resumido rapidamente como uma história banal com ideia central já vista incontáveis vezes,
sem absolutamente nada que já não tenha sido explorado à exaustão anteriormente, com os mesmo velhos e muitas vezes
entediantes clichês do gênero. As três irmãs ficam o tempo todo correndo de um lado a outro, em encontros e desencontros,
perseguições, tiroteios, gritarias e confrontos com um monstro de computação gráfica que não desperta qualquer interesse. Elas
eventualmente encontram outros personagens tão patéticos quanto elas, que surgem apenas para serem vítimas da criatura. É o
típico filme que nasceu para ser esquecido, premiando com isso a falta de criatividade e preguiça dos realizadores em tentar
fazer algo melhor
(RR – 14/10/16)

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