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A MATURIDADE DO MERCADO
DE PRODUTOS ORGÂNICOS
Os produtos orgânicos encontram seu crescimento num cenário de
responsabilidade ambiental e social, novas iniciativas para seu
desenvolvimento nos setores público e privado e crescimento
do poder de compra da população.
“Nos anos 2000 o mercado de orgânicos se ampliou para grupos diversos, com facilidade de chegar
ao mercado de massa, caso a produção e logística permitisse”.
Para entender a atual fase dos produtos orgânicos, é válido pensar em seu Ciclo de Vida (CV), conforme
nos ensinam Fernandes e Berton1 (2005), que analisam o CV de um setor econômico em quatro áreas: intro-
dução, crescimento, consolidação e declínio. O comportamento dos consumidores no estágio de introdução
dos produtos orgânicos - década de 80 - demonstrava certa inércia, pois compravam apenas para testar
e o consumo concentrava-se nas camadas sociais mais altas e intelectuais. No estágio de crescimento - anos
90 - o consumidor já aceitava a aparência irregular, entendendo que a ausência de agrotóxicos compen-
sava a não-conformidade. Nos anos 2000 o mercado se ampliou para grupos diversos, com facilidade de
chegar ao mercado de massa, caso a produção e logística permitisse. Começam a surgir as diferenciações
de procedências e as embalagens sustentáveis; os preços mais próximos dos produtos convencionais e os
canais de distribuição começam a se definir entre feiras especializadas, ilhas de produtos em grandes re-
des de supermercados, lojas de comércio justo, restaurantes e finalmente supermercados especializados em
produtos sustentáveis que já se proliferavam na Europa.
Empreendedores e Iniciativas
A sinalização de que o mercado de orgânicos ca- sabilidade ambiental antes, durante e depois dos
minha para a maturidade no Brasil é o surgimento eventos, corroborando diretamente com os produ-
das primeiras iniciativas de comercialização que tos orgânicos e estimulando seu consumo.
revê a cadeia logística, atende o lead time neces-
sário para satisfazer as demandas e possibilita a A lei complementar 123, que regulamenta as com-
gestão de custos de produção e comercialização, pras governamentais e determina a compra de me-
com ofertas competitivas e atrativas. Em São Paulo renda escolar de micro produtores contribui para
(SP), no bairro Perdizes, surgiu o primeiro ponto de a agregação de valor de produtos orgânicos, tais
venda aos moldes supermercado atacarejo (ata- como guloseimas e derivados de leite elaborados
cado + varejo), atendendo outros supermercados em pequenas propriedades e associações de as-
e consumidores. A loja apresenta vasto portfólio sentados nos processos de reforma agrária.
de produtos, pois além de hortifrutis comercializam
bebidas, congelados, produtos de limpeza, cosmé- O anúncio da Wall-Mart – maior empresa de va-
ticos: tudo orgânico. Pesquisas realizadas pelos em- rejo do mundo – de abraçar o conceito ambiental
preendedores antes da abertura do negócio iden- e se comprometer a comprar produtos de fontes
tificaram um milhão de consumidores habituais de mais sustentáveis também é uma mostra do que es-
orgânicos, naturais e afins na cidade de São Paulo. tava cada vez mais evidente: sustentabilidade não
é apenas preocupação de um nicho no mundo dos
A Campanha Copa Orgânica e Sustentável, apre- negócios, conforme já afirmara o próprio Philip
sentada pelo Conselho Nacional de Turismo (CNT) Kotler (2010)3 em sua obra “Marketing 3.0”, que
salienta que “a meta é ampliar a produção e o enfatiza que Al Gore, ganhador do Prêmio Nobel
consumo consciente dos produtos com os selos da da Paz de 2007 e cujo filme sobre aquecimento
agricultura familiar, fortalecer o comércio justo e global - “Uma verdade inconveniente”, ganhador
solidário e levar alimentos, bebidas, cosméticos e de dois Oscars - argumenta sobre o limite da ca-
artesanatos para a venda em hotéis, pousadas, pacidade de suporte do planeta e a limitação sig-
bares, restaurantes, supermercados e outros espa- nificativa que isso traz para o mundo dos negócios.
ços comerciais”2 . Destarte, sugere que os eventos Gore argumenta que a crise financeira de 2009
esportivos Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas despertou os executivos, alertando-os para o fato
de 2016, vão além das ecoarenas (estádios e ins- que a sustentabilidade ambiental moldará o futuro
talações sustentáveis), mas busca ações de respon- dos negócios nos próximos 25 anos.
Sustentabilidade e Certificação
A Economia Verde que visa a construção de economias sustentáveis e justas encontra no sistema agroecológi-
co a produção capaz de atender as necessidades de um mercado ávido por “produtos limpos”, ou seja, que
consideram na Cadeia Agroindustrial (CAI) o equilíbrio entre os fatores ambientais, sociais e econômicos.
Os processos produtivos dos produtos orgânicos desde a fabricação de insumos, produção de campo, pro-
cessamento, embalagem, certificação, distribuição e consumo é regulamentado pela Lei 10.831/03 que
entrou em vigor em janeiro de 2011 – Lei Brasileira de Orgânicos - que determina que a comercialização
dos produtos orgânicos deve ser certificada por organismos reconhecidos oficialmente. Existem diversas
certificadoras nacionais e internacionais credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (MAPA), que assumem o compromisso de implantar a padronização e o selo do Sistema Brasileiro da
Conformidade Orgânica (SisOrg).
O mercado de produtos orgânicos que na atualidade está presente nos setores de alimentos, bebidas,
têxteis, cosméticos, perfumes e higiene pessoal por atenderem integralmente os conceitos de sustentabilida-
de empresarial, precisam ir além das certificações, conforme explica Dal Marcondes4 : “faz-se necessário
deixar claro o que a empresa faz, como ela faz, com que recursos fazem e que tipo de resíduos geram ao
colocar seu produto no mercado”. Essa mensagem deve permear toda comunicação organizacional, desde
a engenharia dos ambientes produtivos, embalagens e mídias utilizadas.
As campanhas de Consumo Consciente e Comércio Justo e Solidário são grandes propulsores do mercado de
orgânicos, no entanto os players do setor devem estar atentos aos falsos naturais, pois um mercado ávido
por produtos ditos “limpos” - em expansão - é comum surgirem iniciativas oportunistas que podem gerar
desconfiança e danos mercadológicos.
Entre os maiores desafios a serem enfrentados pelo setor de orgânicos no Brasil está a meta do MAPA de do-
brar até 2015 o volume de produtores certificados, atingindo o patamar de 28 mil agricultores, sendo que
hoje são aproximadamente 13 mil. Para tanto, o órgão planeja criar novas políticas públicas de incentivo a
esses trabalhadores, como maior acesso a instrução, a novas tecnologias, assistência técnica e até isenção
fiscal e tributária.
A pauta de temas para que o Brasil aproveite todo o potencial deste mercado é longa e nela se destacam:
difusão das técnicas de produção eficientes e eficazes; modernização dos processos agroindustriais; gestão
de custos e precificação; marketing agropecuário; logística e distribuição.
Os desafios elencados mostram, por fim, a necessidade de se estar conectado em redes de colaboração,
através da cultura do diálogo e cooperação entre os diversos stakeholders locais e globais, objetivando
estrategicamente o desenvolvimento econômico, ambiental e social do agronegócio brasileiro. É este o ca-
minho mais seguro para se atender a demanda crescente por alimentos saudáveis, tanto para a população
atual como para as gerações futuras.
Notas do Autor
2 Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/campanha-copa-organica-e-sustentavel-e-apresen-
tada-pelo-mda-no-conselho-nacional-de-turismo > acesso em 20/10/2012
3 KOTLER, Philip. Marketing 3.0: as forces que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano;
tradução Ana Beatriz Rodrigues – Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
6 Fonte> http://blogs.estadao.com.br/organicos/2011/02/18/no-mundo-35-milhoes-de-hectares-com-
organicos/>acesso em 27/09/2012.
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