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Aliança

por

Charles Haddon Spurgeon

No capítulo 31 de Jeremias, versículo 31, essa aliança é


chamada “nova aliança”. Isso contrasta com a aliança anterior
que o Senhor fez com Israel quando o trouxe para fora do Egito.
É nova no que diz respeito ao principio em que se baseia. o
Senhor havia dito aos Seus que se guardassem as Suas leis e
andassem nos Seus estatutos., Ele os abençoaria. Ele colocou
diante deles uma longa lista de bênçãos, ricas e cheias; todas
elas seriam a sua porção se escutassem o Senhor e
obedecessem à Sua lei. Mas nos dias presentes o Senhor, em
Cristo Jesus, tem feito com a verdadeira descendência de
Abraão, com todos os crentes verdadeiros, um nova aliança;
não segundo o teor da antiga, nem passível de ser quebrada,
como aquela. Irmãos, tomem o cuidado de distinguirem entre a
velha aliança e a nova aliança, porque nunca deverá haver
confusão entre elas. Muitos nunca percebem a verdadeira
natureza da aliança da graça; não entendem um concerto de
pura promessa. Falam a respeito da graça, mas consideram que
ela depende do mérito. Falam da misericórdia de Deus, porém a
misturam com condições que fazem com que seja mais justiça
do que graça. Irmãos, façam distinção entre coisas diferentes.
Se a salvação é por graça, não é por obras, senão, a graça já
não seria graça; e se é por obras, não é por graça, senão as
obras já não seriam obras. (conforme Romanos 11:6). A nova
aliança é toda pela graça, desde a primeira letra até à sua
palavra final.

No entanto, é uma aliança “eterna”. E é nesse aspecto que o texto


em Jeremias 32:40 insiste. A velha aliança foi de duração muito
curta; mas esta é uma aliança “eterna”. A despeito de alguns
pensadores modernos, espero que tenha licença para crer que a
palavra “eterna” significa que dura para sempre.

A primeira razão porque é uma aliança eterna é que foi feita


conosco em Jesus Cristo. A aliança das obras foi feita com a raça
humana, no primeiro Adão; mas o primeiro Adão era falho, e
fracassou bem rapidamente; ele não conseguiu suportar a tensão
da sua responsabilidade, de modo que aquela aliança foi
quebrada. Mas o Fiador da nova aliança é Jesus Cristo, e Ele não
tem falhas; é perfeito. O Senhor Jesus é o cabeça federal dos Seus
escolhidos, e Ele os representa; são considerados membros do
Seu corpo, e Ele é seu cabeça, seu porta-voz, seu representante.
Sendo que o Senhor Jesus representa todo o Seu povo fiel na
aliança, é eterna essa aliança.

A segunda razão porque a aliança não pode falhar é devido o lado


humano dela ter sido cumprido. O lado humano poderia ser
considerado o lado fraco; no entanto quando Jesus Se tornou o
representante do homem, esse lado ficou firme Até este momento
Ele tem cumprido integralmente todas as exigências daquela
parte da aliança em que Ele é o Fiador. Visto, portanto, que foi
cumprida aquela parte da aliança que pertence ao homem, só
falta ser cumprida a parte de Deus, que consiste em promessas
(promessas incondicionais, cheias de graça e verdade) tais como
estas: Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis
purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos
ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e
porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o
coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.”
(Ezequiel 36:25-27). Porventura Deus não cumprirá Seu
compromisso? Sim, certamente.

Além disso, a aliança forçosamente é eterna, porque é


fundamentada na livre graça de Deus. A primeira aliança
dependia da condição da obediência dos homens. Se guardassem
a lei, Deus os abençoaria; mas fracassaram pela desobediência,
e herdaram a maldição.

Demais disso, na aliança está fornecido tudo quanto se pode


supor como condição prévia. É necessário que o homem, para ser
perdoado, se arrependa; porém o Senhor Jesus está exaltado nas
alturas para dar arrependimento e remissão de pecados.
(conforme Atos 5:31). É necessário que o homem, a fim de ser
salvo, tenha fé no Senhor Jesus Cristo; mas a fé é operada por
Deus, e o Espírito Santo opera em nós esse fruto do Espírito
(Paulo disse aos Efésios que a fé é dom de Deus). É necessário,
antes de entrarmos no céu, que sejamos santos; mas o Senhor
nos santifica mediante a Palavra, e opera em nós para
desejarmos e praticarmos Seu próprio beneplácito (Jesus em
João 17:17 orou:Pai, santifica-os na verdade, a Tua palavra é a
verdade). Se houver, em qualquer parte da Palavra de Deus,
qualquer ato ou graça mencionado como se fosse a condição
prévia da salvação, noutro trecho bíblico isso é descrito como um
dom da aliança que Jesus Cristo dará aos herdeiros da salvação.
Isso é salvação pela graça, e não por obras!!!

Finalmente, a aliança é eterna porque não pode ser ultrapassada


por algo mais glorioso. Na ordem de Suas operações, Deus
sempre avança do bom para o melhor. A antiga lei foi deixada de
lado porque Ele achou nela falhas, e, portanto, a nova aliança
deve durar até que seja achada nela uma falha; o que nunca
acontecerá.

Quero repetir aquelas palavras: “Para que nunca se apartem de


mim”. Se houvesse apenas esse texto na Bíblia a respeito do
assunto, bastaria para comprovar a perseverança final dos
santos: “Para que NUNCA SE APARTEM de mim”. A promessa
não é cumprida por meio de alterar o efeito da apostasia. Se eles
se apartassem de Deus, isto seria fatal. Suponhamos que um
filho de Deus se afastasse totalmente de Deus, e perdesse
totalmente a vida de Deus: o que seria dele então? Seria salvo da
mesma forma? Respondo: sua salvação se acha no fato de que
ele nunca perderá totalmente a vida de Deus. Por que devemos
perguntar o que aconteceria num caso que nunca poderá
ocorrer? Mas se devemos supor tal coisa, não hesitaremos em
dizer que se o crente fosse totalmente separado de Cristo, teria,
sem dúvida, que perecer eternamente. Se alguém não permanece
em Cristo, é lançado fora como um sarmento, e secará. Se o
Espírito Santo realmente regenerou uma alma, porém aquela
regeneração não a salvar da apostasia total, o que mais poderá
ser feito? Existe o “nascer de novo”; mas não existe o nascer e
renascer várias vezes. A regeneração é de uma vez por todas: não
pode ser repetida. As Escrituras não contêm nenhuma palavra
ou indicação nesse sentido. Se os homens foram lavados no
sangue de Jesus, e renovados pelo Espírito Santo, e esse
processo sagrado fracassou, então não sobra outra alternativa.

Que ninguém diga, portanto: “Embora volte para meus velhos


pecados, e cesse de orar, de me arrepender, ou de crer, ou de ter
algo da vida de Deus em mim, ainda assim serei salvo porque
tempo houve quando eu era crente”. Não, não, falador profano; o
texto não diz: “Serão salvos embora se apartem de mim” ele diz
“para que nunca se apartem de mim”, que é assunto bem
diferente. Ai daqueles que se apartam do Deus vivo!

Essa perseverança dos santos não entra, tampouco, mediante a


remoção da tentação. Podem ser tentados; no entanto nunca
serão vencidos. Embora pequem em certa medida, não pecarão
de tal maneira que se apartarão de Deus. Ainda se apegarão a
Ele, e viverão em Cristo mediante a habitação neles do Espírito
Santo.

Como pois são preservados ? Ora, não conforme alguns dizem


falsamente, como se pregássemos “que o homem convertido pode
viver como quiser”. Nunca dissemos isso; nunca sequer
pensamos assim. O homem convertido não pode viver como quer;
ou melhor, é tão transformado pelo Espírito Santo, que se
pudesse viver como quer, nunca pecaria, mas viveria uma vida
absolutamente perfeita.

Alguns pregam uma doutrina que tem uma porta bem larga,
porém é só porta, e quem entra por ela, não recebe nada; não
está mais seguro do que quando estava fora. As ovelhas não se
apressam para entrar onde não há pastagem. Alguns têm
pensado que esta doutrina é estreita, embora eu tenha certeza de
que não é; contudo, se uma porta parecer estreita, e se há algo
que valha a pensa ser recebido por quem entrar, muitos
procurarão a admissão. “Oh”, diz alguém, “se a salvação é uma
coisa permanente, se essa regeneração importa numa mudança
da natureza de tal tipo que nunca poderá ser desfeita, quero tê-
la. Se a salvação é meramente um artigo banhado a prata, que
perderá seu brilho, não a quero; todavia se é prata de lei maciça,
desejo recebê-la”.

Muitas pessoas têm crido em Deus para salvá-las, mas só por


algum tempo; enquanto são fiéis, ou enquanto são sinceros.
Amados, creiam em Deus para Ele mantê-los fiéis e sinceros
durante toda a sua vida: comprem uma passagem até o ponto
final. Obtenham um salvação que cubra todos os riscos.

Aqueles que não pode guardar vocês para sempre, não poderá
guardá-los por um dia sequer. Se o poder da regeneração não
perdurar por toda a vida, talvez nem dure uma hora. A fé na
aliança eterna agita o sangue do meu coração, enche-me de
confiança, inspira-me de entusiasmo. Nunca posso abrir mão
daquilo que o Senhor tem dito: “Farei com eles aliança eterna
segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o meu
temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”
(Jeremias 32:40).

Fonte: Trecho retirado do livro A Perseverança na santidade de


C. H. Spurgeon.

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