A compreensão do que é texto tanto escrito como falado se respalda nos sete

padrões de textualidade de Beaugrande e Dressler (1981) definidos como: coesão,

coerência, informatividade, situacionalidade, intencionalidade, aceitabilidade e
intertextualidade. Para ilustrar a aplicação destes padrões observe a manchete abaixo:
Figura 1: exemplo de texto

Fonte: www.estadao.com.br

Seguindo os parâmetros de Beaugraunde e Dressler (1981) os dois primeiros

padrões definidos como coesão e coerência tratam do aspecto superficial do texto e de
seu sentido, ou seja, o texto se apresenta dentro de normas gramaticais e o sentido é
estabelecido pela coerência existente entre as sentenças como no fato da ex-presidente
descer a rampa do palácio do planalto para cumprimentar seus apoiadores e fazer a
relação que o mesmo gesto era feito pelo ex-presidente Collor. Em relação a
situacionalidade é necessário destacar que o texto foi veiculado em um período
antecedente ao impeachment o que também ocorreu com o ex-presidente Collor.
Pesquisas mostraram que havia um consenso entre a população sobre a necessidade do
Impeachment ( DATAFOLHA, 2015) e entre os deputados ( DATAFOLHA, 2016).
Não cabe nesta breve explanação explicar os contextos que levaram ao impeachment,
mas sim na sua repetitiva e obrigatória necessidade como evidenciado nas pesquisas.
 Por último a informatividade no caso da manchete é escassa, pois se trata apenas
de um relato de acontecimento de uma ex - chefe de estado. O que cabe ressaltar na
análise é intencionalidade. A comparação entre o ato de Dilma com o que Collor
realizava, ambos em um período crítico de impeachment, tem claramente a intenção de
colocar a figura de Dilma na rota certa do impeachment. Ademais descaracteriza a ação
de Dilma, pois sinaliza possíveis sinais de desespero e desconsidera os diferentes
contextos em que Dilma e Collor foram cassados. A comparação de um com o outro em
relação as suas ações " descer a rampa do planalto" tem claramente como objetivo
colocar a ex-presidente na mesma situação ineroxável pela qual Collor vivenciou.
Esses padrões de textualidade são importantes para se definir um texto, porém
como exemplificado pela manchete acima é nítido que diante da variada ecologia de
mídias, intencionalidades, situacionalidades, esses textos podem atender a diferentes
anseios. Isto pode ser observado no exemplo abaixo retirado do site allsides que faz uma
comparação entre manchetes de canais de mídia com diferentes vieses políticos

Figura 2: exemplo de diferentes manchetes enviesadas de acordo com

posicionamento político

Fonte: https://www.allsides.com/unbiased-balanced-news

Pela imagem é possível perceber que os três textos abordam um mesmo assunto
que é o futuro fechamento das fronteiras por ordem do presidente Trump caso o México
não pare de enviar imigrantes. As manchetes ligadas a direita e centro colocam o verbo
ameaçar e se utilizam do termo "ilegal" ao se referir aos imigrantes. Determinados
termos são escolhidos baseados na concepção política denotando em "ameaçar" uma
certa autoridade do presidente Trump e em ilegais a condição das pessoas que tentam
adentrar os Estados Unidos. Este exemplo já denuncia o quanto pensar a produção
textual na modernidade pode ser complexa. Acrescido a esta problemática existe um
outro fenômeno que é a divulgação massiva de fake news conforme observado
especialmente na campanha eleitoral norte-americana de 2014 e no Brexit. ( WARDLE;
DEREKSHAN, 2017)
Diante do apresentado é urgente que se faça o debate sobre a produção de textos
no atual contexto virtual e seus desdobramentos. Essas notícias fakes constantemente
bombardeadas são reforçadas e legitimadas por atmosfera social específica. Wardle e
Derekshan (2017) ressaltam que este tipo de conteúdo interage com forte teor emocional
dos indivíduos especialmente " [...] encorajando sentimentos de superioridade, raiva, ou
medo "(WARDLE; DEREKSHAN, 2017, p.7).
Costa Val (1999) ressalta que os dois fatores mais importantes para o ato
comunicativo dentre os fatores apresentados por Beaugrande e Dressler (1981) é a
intencionalidade e a aceitabilidade. Um texto então possui toda uma tentativa por parte
do produtor de se apresentar como uma unidade de sentido, entretanto sem a
contrapartida do recebedor, partindo obviamente de diferentes aspectos tanto pessoais
como culturais e históricos, no esforço em compreender a intencionalidade do produtor
e atribuir importância ao texto informado sua eficácia se torna inútil. Outro fator
importante para compreender a produção textual é a situacionalidade " O contexto
pode, realmente definir, o sentido do discurso e normalmente orienta tanto a produção
quanto a recepção."(COSTA VAL, 1999, p. 12).
As produções textuais hoje, especialmente aquelas vinculadas ás redes sociais ou
aplicativos de mensagem assumem diante do que é vivenciado diferentes aspectos em
virtude de uma variedade maior de receptores dessas mensagens e pelas potencialidades
que a rede social pode proporcionar. Wardle e Derekshan (2017) destacam o papel de
filtros bolhas e câmaras de eco que as redes sociais que potencializam o efeito das redes
sociais, ou seja, fazendo com que os usuários de redes sociais fiquem expostos ao
mesmo tipo de conteúdo que lhes agrada ideologicamente além de sempre conviverem
com os outros usuários que compartilham da mesma linha partidária ou ideológica.
O estatuto de verdade do texto oscila, portanto em diferentes aspectos do que
seria verdade seja ela a completa manipulação ao ponto de se apresentar como uma fake
news que se aproveita da atmosfera social onde ela pode ser cultivada e legitimada ou
direciona a verdade de acordo com o lado político e ideológico.

Referências Bibliográficas
WARDLE, C.; DEREKSHAN, H. Conceptual Framework. In: ______. Information
Disorder: toward an interdisciplinar framework for research and policy
making. Council of Europe Report, DGI, 2017. p.20-48.

BEAUGRANDE; R.; W. DRESSLER. Introduction to Text Linguistics. New York:

Longman, 1981. p.1-11.

COSTA VAL, M. G. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.3-
16; p.17-39. New York: Longman, 1981. p.

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2019