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PROFESSOR: RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS DIREITO PENAL

TURMA: PRF 2018 PRF (2018)

Parte Geral Fragmentariedade


O Direito Penal não irá proteger todos os bens jurídicos de
Princípios Gerais do Direito Penal todas as agressões ilícitas, mas somente os bens jurídicos
Legalidade (art. 1º, CP) mais importantes contra as agressões mais violentas.
“Não há crime (ou contravenção) sem lei anterior que o Subsidiariedade
defina. Não há pena (ou medida de segurança) sem prévia O Direito Penal não presta quando outros ramos do direito
cominação legal.”. Somente a lei penal pode versar sobre puderem ser utilizados, ou seja, ele é aplicado quando os
conduta incriminadora e sobre penas. Ressalta-se que é outros ramos falharem, é a ultima ratio (último recurso) ou
aplicável não só aos crimes e às penas, mas também às subsidiário (reserva).
contravenções e às medidas de segurança.
Lesividade
Anterioridade
Haverá punição a dano ou perigo de dano de bem jurídico
É a parte no art. 1º do CP que versa: “lei anterior”, isto é, não alheio. Por isso, ninguém pode ser punido por causar mal
há crime sem lei anterior à vigência da lei incriminadora. apenas a si próprio, ou seja, a autolesão, via de regra, não é
Reserva legal punível para o Direito Penal.
Somente leis em sentido estrito e formal podem versar Individualização da pena
sobre incriminação penal — leis que passam pelo crivo A individualização da pena ocorre em três etapas: no
legislativo (art. 61, CF): leis ordinárias federais ou momento da criminalização da conduta (Poder Legislativo),
complementares (possuem natureza de lei ordinária, art. 59, no momento da aplicação da pena (Poder Judiciário) e no
III, CF). Vale lembrar que somente a União (art. 22, I, CF) momento da execução da pena (Poder Executivo).
pode versar sobre matéria penal: Congresso Nacional
(Câmara dos Deputados + Senado Federal). Culpabilidade
Taxatividade Veda-se a responsabilidade penal objetiva, isto é, pune-se a
responsabilidade penal subjetiva: a vontade criminal (o juízo
Veda-se a definição de conduta incriminadora vaga e/ou de reprovação do agente). Há duas exceções: teoria da actio
imprecisa, ou seja, devem ser claras e taxativas. libera in causa sobre a embriaguez (art. 28, II, CP) e a rixa
Vedação à analogia in malam partem qualificada (art. 137, par. único, CP). Adverte-se que não
Em consequência do princípio da legalidade estrita penal, haverá culpabilidade nos casos de: inimputabilidade,
não se admite incriminação sem lei anterior. Contudo, ausência de potencial consciência da ilicitude e
quando houver a omissão legal e para beneficiar o réu (in inexigibilidade de conduta diversa.
bonam partem), será possível aplicar um dispositivo Para a tentativa (art. 14, II, CP), é adotada a teoria objetiva!
legalmente vigente a outro semelhante que não há lei, por Imputabilidade biopsicológica
exemplo, a escusa absolutória (art. 181, I, CP) nos delitos
patrimoniais contra cônjuge não idoso, na constância da Para se imputar (art. 26, CP) uma conduta penal a um ser
sociedade conjugal, à união estável (analogia in bonam humano, ele deve ser: maior de 18 anos (art. 27, CP),
partem). mentalmente são (caráteres biológicos) e compreender o
caráter ilícito no momento do fato (caráter psicológico).
Adequação social
Non bis in idem
Significa que, apesar de uma conduta se subsumir ao
modelo legal, não será considerada típica se for socialmente Veda-se a dupla punição pelo mesmo fato. Consagrado no
adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a Artigo 8º, item 4, da Convenção Americana Sobre Direitos
ordem social da vida historicamente condicionada. Humanos — San José, Costa Rica, em 22 de novembro de
1969: “O acusado absolvido por sentença passada em julgado
Isonomia não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos
Importa em dizer que as pessoas civis nacionais ou fatos.”.
estrangeiras, em igual situação, devem receber idêntico Bagatela (insignificância)
tratamento jurídico, e àquelas que se encontram em
posições diferentes (por exemplo, diplomatas) merecem Decorrente do princípio da intervenção mínima do Estado, o
um enquadramento diverso, tanto por parte do legislador, Direito Penal não irá punir toda e qualquer conduta
como também pelo juiz. prevista formalmente na lei (tipicidade formal). Portanto,
aquelas que sejam inexpressivas materialmente (tipicidade
Intervenção mínima do Estado material) não serão consideradas típicas, por isso a sua
Sob o atual Estado Democrático de Direito, o Estado é natureza jurídica é a de excludente de tipicidade (exclusão
detentor exclusivo do direito de punir — jus puniendi —, o da tipicidade material): exclusão do crime.
Direito Penal deve ser utilizado com cautela, pois é o ramo Requisitos objetivos da bagatela
mais gravoso (ceifa a liberdade), portanto, ele não pode e
não deve ser a prima ratio (primeiro recurso) para punir as São quatro requisitos objetivos obrigatórios (MARI):
condutas consideradas ilícitas e nem punir toda e qualquer — Mínima ofensividade da conduta do agente;
agressão de qualquer bem jurídico. Desse princípio, tido — Ausência de periculosidade social da ação;
como gênero, desmembra-se outros dois princípios, como — Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
espécies, a fragmentariedade e a subsidiariedade. — Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

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Além dos subjetivos, que devem ser analisados em cada exemplo, o delito de atentado violento ao pudor (art. 214,
caso acerca do valor sentimental à vítima e do motivo do CP) passou a integrar o crime de estupro (art. 213, CP).
agente. Lei excepcional e temporária
Lei penal no tempo São leis periódicas, ou seja, atuam em momentos
Teoria da atividade (adotada pelo CP) específicos, seja em momento certo de se iniciar e terminar
(as temporárias), seja em momentos de calamidade e
Art. 4º, CP (tempo do crime): “Considera-se praticado o cessação automática com a extinção calamitosa (as
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja excepcionais). Elas são ultra-ativas e autorrevogáveis,
o momento do resultado.”. Trata-se do exato momento em diante do exposto no art. 3º do CP: “A lei excepcional ou
que se deu a prática criminosa, seja comissiva (ação), seja temporária, embora decorrido o período de sua duração ou
omissiva (inação), não se importando o momento em que o cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao
crime se consumou: o resultado — não se adota a teoria fato praticado durante sua vigência.”.
do resultado no Código Penal. Por exemplo, se um jovem
(“anjo”) com 17 anos, com animus necandi, dispare um tiro Lei penal no espaço
de arma de fogo contra a cabeça de uma pessoa e esta só Teoria da ubiquidade (adotada pelo CP)
venha a falecer depois de 1 ano (quando ele já tinha 18
anos), ele não terá praticado um crime, pois, na época do Art. 6º, CP (lugar do crime): “Considera-se praticado o
fato, era considerado inimputável (art. 27, CP) pela sua crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo
idade, devendo responder por ato infracional previsto no ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
ECA (Lei nº 8.069/90). produzir-se o resultado.”. Trata-se da soma da teoria da
atividade e do resultado (teoria mista), pois considera-se o
Extra-atividade da lei penal lugar do crime não só aquele em que se deu a prática
A regra é o princípio do tempus regit actum (o tempo rege criminosa (no todo ou em parte), mas também onde
o ato), isto é, deve-se aplicar a lei penal vigente no momento ocorreu ou deveria ocorrer o resultado.
do crime (do tempo do delito). Excepcionalmente, haverá Territorialidade (regra)
aplicação de leis não vigentes no momento do crime, esse
fenômeno é chamado de extra-atividade da lei, que pode ser No Brasil, a regra é o princípio da territorialidade
retroativo (voltar no tempo) ou ultra-ativo (avançar no temperada ou mitigada, porquanto se comporta exceções:
tempo). “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido
Irretroatividade da lei penal como regra no território nacional.” (art. 5º, caput, CP).
A regra é que a lei penal não retroagirá e, como exceção, O conceito de território nacional é a soma do território
retroagirá para o beneficiar o réu (art. 5º, XL, CF). Dessa nacional físico: solo, subsolo, rios, lagos, mar territorial
forma, a lei penal mais gravosa é irretroativa, porém a brasileiro (art. 5º, §2º, CP) — 12 milhas náuticas — e espaço
benéfica pode tanto retroagir, quanto ultra-agir. Saiba que aéreo correspondente; e do território nacional jurídico ou
a lei penal benéfica não respeita a coisa julgada: “A lei por extensão (art. 5º, §1º, CP): “Para os efeitos penais,
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica- consideram-se como extensão do território nacional as
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
condenatória transitada em julgado.” (art. 2º, parágrafo a serviço do governo brasileiro onde quer que se
único, CP). encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
Abolitio criminis brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se
achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
Quando nova lei descrimina lei anterior que incriminava tal
em alto-mar.”.
conduta, ocorrerá supressão formal e material da figura
criminosa, ou seja, quem estava preso deve ser solto, por Extraterritorialidade
esta conduta não ser mais considerada criminosa: Aplicar-se-á quando não forem os casos do art. 5º (regra) e
“Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de estiver no art. 7º, em que há hipóteses que necessitam de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os condições (extraterritorialidade condicionada, art. 7º, inc. II,
efeitos penais da sentença condenatória.” (art. 2º, caput, CP). c/c §§ 2º e 3º, CP) e outras que independem
Assim, excluem-se os efeitos penais, mas mantêm-se os (extraterritorialidade incondicionada, art. 7º, inc. I, c/c §1º,
extrapenais, por exemplo, os efeitos civis (e.g.: a obrigação CP).
de reparação do dano). A sua natureza jurídica é causa
excludente da punibilidade (art. 107, III, CP) e a aplicação Princípio da defesa, real ou da proteção
da lei penal benéfica do condenado será feita pelo juízo da Por ofenderem a interesse do Estado soberano, haverá
execução (Súm. 611/STF). aplicação daquele país independentemente do local ou
Princípio da continuidade normativo-típica nacionalidade do agente, por exemplo, crime contra a vida
do Presidente da República do Brasil no estrangeiro. São
Trata-se de fato em que há apenas supressão formal da casos de extraterritorialidade incondicionada previstos nas
conduta criminosa a qual passa a integrar novo tipo penal, alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I, art. 7º, CP.
mantendo-se a tipicidade da conduta (não ocorre supressão
material). Portanto, quem está preso continua preso, por

— “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas). 2


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Princípio da justiça penal universal ou cosmopolita subsidiariedade pelo fato do da consunção e do da
especialidade fazerem tal serviço.
Aplica-se a lei penal do país em que o sujeito for
encontrado, usado nos crimes que, por tratado ou Desdobra-se em cinco: antefato impunível (e.g.: invasão de
convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. Previstos no CP: domicílio para furtar), pós-fato impunível (e.g.: venda de
art. 7º, I, “d”; e art. 7º, II, “a”. Por exemplo, o tráfico de produto furtado), crime progressivo (e.g.: lesionar para
internacional de drogas e o tráfico de pessoas. matar), progressão criminosa (e.g.: durante a lesão corporal
muda a vontade para matar) e crime complexo (quando dois
Princípio da representação, do pavilhão, da ou mais crimes fazem parte de um, e.g.: furto e
substituição ou da bandeira constrangimento ilegal no roubo).
A lei penal brasileira será aplicada aos crimes “praticados Relação de causalidade
em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí Relação de causalidade ou nexo causal está previsto no art.
não sejam julgados” (art. 7º, II, “c”, CP). 13 do CP, adotou-se, como regra, a teoria da equivalência
dos antecedentes causais (ou conditio sine qua non), de
Princípio da nacionalidade acordo com o caput do art. 13: “O resultado, de que depende
Tal princípio é muito cobrado em prova em permuta com o a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu
da defesa (errado!), haja vista falar sobre o país de causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
procedência do sujeito ativo ou do passivo. Desdobra-se resultado não teria ocorrido.”.
em: nacionalidade passiva (aplica-se a lei do país de onde é A pertinência do estudo da causalidade é estritamente
a vítima) e nacionalidade ativa (aplica-se a lei do país de relativa aos crimes materiais e ao aspecto físico
onde é o agente). naturalístico (leis da física). Não havendo, portanto,
Conflito aparente de normas penais pertinência aos crimes de mera conduta e formais nem
mesmo ao fim normativo (nexo normativo): este está
Não há conflito algum, mas para ajudar os estudiosos da lei vinculado à culpabilidade.
penal para classificar corretamente o crime, hão quatro
princípios: especialidade, alternatividade, subsidiariedade e Superveniência de causa (concausa) relativamente
consunção. independente
Especialidade Essa é a exceção à regra, ocorrendo um rompimento do
nexo causal, presente no §1º do art. 13: “A superveniência de
A norma específica prevalece sobre a genérica, por
causa relativamente independente exclui a imputação
exemplo, o infanticídio (art. 123, CP) possui todos os
quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
elementos do homicídio (art. 121, CP), porém com mais
entretanto, imputam-se a quem os praticou.”.
especializantes: matar alguém (ok!), no entanto a mãe
matar o próprio filho, durante o parto ou logo após, sob a Omissão penalmente relevante
influência do estado puerperal, é infanticídio. Não se Trata-se da omissão imprópria ou impura (comissão por
importa o quantum da pena para o princípio da omissão ou participação por omissão), só existe omissão
especialidade, vê-se pela penalização do homicídio simples imprópria para os agentes que possuem o dever legal de se
ser reclusão de 6 a 20 anos e do infanticídio ser detenção de evitar o resultado (agentes garantidores), descritos no §2º
2 a 6 anos. do art. 13: “A omissão é penalmente relevante quando o
Alternatividade omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever
de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de
Ocorre quando a norma descreve várias formas (núcleos)
cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu
de realização da figura típica, em que a realização de uma
a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu
ou de todas configura crime único. São os chamados tipos
comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
mistos alternativos, os quais descrevem crimes de ação
resultado.”. O agente precisa ter não só o dever legal, mas
múltipla (multinucleares/plurinucleares) ou de
também o poder de agir. Qualquer outra conduta omissiva
conteúdo variado. Por exemplo, há 18 verbos no tráfico de
diferente do art. 13, §2º, será considerada omissão própria
drogas (art. 33, caput, Lei nº 11.343/06).
ou pura (e.g.: art. 135, omissão de socorro). Para todos os
Subsidiariedade delitos omissivos (impróprios ou próprios), adotou-se a
Quando existe um delito menor (crime autônomo) e ele teoria normativa (só responsabilizado aquele descrito na
também é parte de outro mais grave, ou seja, um reserva norma).
caso não se implique a incriminação do maior, haverá Crime doloso
imputação do ilícito menor (soldado reserva). Podem ser
expressas (explícitas) ou tácitas (implícitas), Art. 18, I, CP: “doloso, quando o agente quis o resultado ou
respectivamente, são exemplos: falsa identidade (art. 307, assumiu o risco de produzi-lo”.
CP); e o constrangimento ilegal (art. 146, CP) perante o Dolo direto
roubo (art. 157, CP).
Adotou-se a teoria da vontade acerca do dolo direto, que
Consunção ou absorção pode ser de 1º grau (o alvo do agente) e de 2º grau
Basicamente, o mais grave absorve o menos grave, (consequências necessárias). O dolo direto está previsto na
aplicando-se apenas aquele, ou seja, crime único. Para 1ª parte do art. 18, I, CP: “quando o agente quis”.
alguns doutrinadores, nem existe o princípio da
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Dolo indireto internos ao agente, isto é, por sua própria vontade, então
será desistência voluntária ou arrependimento eficaz (art.
Desdobra-se em eventual (teoria do assentimento ou
15, CP).
consentimento) e alternativo (subjetivo ou objetivo). O dolo
indireto está previsto na 2ª parte do art. 18, I, CP: “quando Adota-se a teoria objetiva acerca da punição da tentativa:
o agente … assumiu o risco”. é causa obrigatória de diminuição da pena de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços). O STJ determinou que, na
Crime culposo tentativa branca de homicídio, a pena será diminuída em
Art. 18, II, CP: “culposo, quando o agente deu causa ao seu patamar máximo: diminuição de 2/3 (dois terços) à
resultado por imprudência, negligência ou imperícia.”. tentativa incruenta de homicídio.
Requisitos Espécies de tentativa
1. Conduta humana voluntária; 1. Branca (incruenta): não atinge o alvo.
2. Nexo causal (crimes materiais); 2. Vermelha (cruenta): atinge o alvo.
3. Resultado naturalístico involuntário; 3. Imperfeita (inacabada): não esgota o potencial lesivo.
4. Tipicidade; 4. Perfeita (acabada ou crime falho): esgota todo o
5. Quebra do dever objetivo de cuidado (imprudência, potencial lesivo.
negligência ou imperícia); Desistência voluntária e arrependimento
6. Previsibilidade objetiva (homem médio);
7. Ausência de previsão. eficaz
Culpa inconsciente Art. 15, CP: “O agente que, voluntariamente, desiste de
prosseguir na execução ou impede que o resultado se
É a culpa propriamente dita, ou seja, culpa inconsciente é
produza, só responde pelos atos já praticados.”.
sinônimo de culpa própria.
Não pode o delito se consumar (nunca!) e isto deve ocorrer
Culpa consciente por motivos internos à vontade do agente. Portanto, deve
O agente é capaz de prever o resultado e, realmente, o ser voluntário (não é necessário ser espontâneo).
prevê; porém, por possuir peculiar habilidade, espera Diferencia-se desistência voluntária de arrependimento
sinceramente que ele não ocorra — ele confia que com a sua eficaz, sendo este uma ação positiva (atua positivamente
habilidade não produzirá o resultado. Não confunda culpa para evitar o resultado, relaciona-se à tentativa acabada) e
consciente com dolo eventual: neste, o agente não se aquele uma ação negativa (desiste de continuar, relaciona-
importa com o resultado previsto; já naquele, o agente não se à tentativa inacabada).
quer provocar o resultado previsto, acreditando ser hábil o A doutrina se divide acerca da natureza jurídica: causa de
suficiente para evitar o resultado. exclusão da tipicidade (alcança todos os agentes) ou causa
Culpa imprópria pessoal extintiva da punibilidade (abarca somente quem
voluntariamente desistiu da execução ou evitou que o
Culpa imprópria não é sinônimo de culpa consciente. A
resultado se produzisse). Esta última é a mais recente
culpa imprópria é uma política criminal para as
adotada pela banca.
descriminantes putativas por erro de tipo evitável (art.
20, §1º, 2ª parte, CP) e para o excesso culposo (art. 23, Arrependimento posterior
parágrafo único, CP). Pode ser chamada também de culpa Art. 16, CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave
por assimilação, por extensão ou por equiparação. ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
Concurso de pessoas nos delitos culposos o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário
É possível, mas somente pode haver a coautoria, nunca do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”.
participação (nem mesmo autoria mediata!). Trata-se de uma circunstância objetiva (causa obrigatória
de diminuição da pena) e, consequentemente, beneficia
Crime consumado todos os agentes. Tem relação com os delitos consumados,
Art. 14, I, CP: “consumado, quando nele se reúnem todos os desde que seja: sem violência ou grave ameaça à pessoa,
elementos de sua definição legal”. antes do recebimento da denúncia e a reparação seja
Trata-se da completude do injusto, ou seja, quando o delito voluntária e integral.
percorre todas as fases do iter criminis: cogitação (1ª), Crime impossível
preparação (2ª), execução (3ª) e consumação (4ª). Há
exceções, nas quais haverá consumação antecipada, por Art. 17, CP: “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia
exemplo, os crimes formais, os de obstáculo, os autônomos, absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é
etc. impossível consumar-se o crime.”.
Adota-se a teoria objetivo temperada, pois se o meio ou o
Crime tentado objeto for relativo, então haverá punição da tentativa.
Art. 14, II, CP: “tentado, quando, iniciada a execução, não se O STF criou uma modalidade jurisprudencial de crime
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”. impossível por analogia in bonam partem, a vedação do
Importante saber é que o crime nunca pode se consumar! E flagrante preparado: “Não há crime, quando a preparação
é por circunstâncias alheias à vontade do agente, ou seja, do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.”
externas. Caso o delito não se consumar por motivos (Súm. 145/STF).

— “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas). 4


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TURMA: PRF 2018 PRF (2018)
A doutrina aduz que delito putativo não é sinônimo de (CESPE - 2014 - TJ-SE - ANALISTA JUDICIÁRIO)
crime impossível, haja vista este ter previsão legal, 8. Na hipótese de crime continuado ou permanente, deve
enquanto que aquele não. No delito putativo, o agente quer ser aplicada a lei penal mais grave se esta tiver entrado
praticar um crime, mas não consegue (delito imaginário), em vigor antes da cessação da continuidade ou da
pode ser por erro de proibição (e.g.: acha que adultério é permanência.
crime) ou por erro de tipo — acerca do objeto material ser
absolutamente impróprio (e.g.: compra de um traficante (CESPE - 2013 - SEGESP-AL - PAPILOSCOPISTA)
conhecido talco acreditando ser cocaína e sai vendendo por Acerca de aplicação da lei penal, julgue o item que se segue.
aí). Somente este último pode ser considerado crime 9. Segundo o princípio da territorialidade, se uma pessoa
impossível pela absoluta impropriedade do objeto material. comete latrocínio em embarcação brasileira mercante
Exercícios em alto-mar, aplica-se a lei brasileira.
(CESPE - 2016 - PC-PE - DELEGADO DE POLÍCIA)
(CESPE - 2016 - TCE-PR - AUDITOR)
10. O estudo do nexo causal nos crimes de mera conduta é
1. Ao se referir ao princípio da lesividade ou relevante, uma vez que se observa o elo entre a
ofensividade, a doutrina majoritária aponta que
conduta humana propulsora do crime e o resultado
somente haverá infração penal se houver efetiva lesão
naturalístico.
ao bem jurídico tutelado.
(CESPE - 2015 - TRE-GO - ANALISTA JUDICIÁRIO)
(CESPE - 2015 - TJ-PB - JUIZ SUBSTITUTO)
11. Configura-se tentativa incruenta no caso de o agente
2. Depreende-se da aplicação do princípio da não conseguir atingir a pessoa ou a coisa contra a qual
insignificância a determinado caso que a conduta em
deveria recair sua conduta.
questão é formal e materialmente atípica.
(CESPE - 2015 - DPU - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL)
(CESPE - 2013 - TJ-BA - SERVIÇOS NOTARIAIS - ADAPT.)
O Direito Penal só deve se preocupar com a proteção dos 12. Em relação à tentativa, adota-se, no Código Penal, a
bens jurídicos mais essenciais à vida em sociedade, teoria subjetiva, salvo na hipótese de crime de evasão
constituindo a sua intervenção a ultima ratio, ou seja, tal mediante violência contra a pessoa.
intervenção somente será exigida quando não se fizer (CESPE - 2015 - DPU - DEFENSOR PÚBLICO)
suficiente a proteção proporcionada pelos demais ramos do 13. No direito penal brasileiro, admite-se a compensação
direito. de culpas no caso de duas ou mais pessoas
3. Tal conceito tem relação com o princípio da: concorrerem culposamente para a produção de um
a) insignificância. resultado naturalístico, respondendo cada um, nesse
b) reserva legal. caso, na medida de suas culpabilidades.
c) consunção. (CESPE - 2014 - TJ-CE - ANALISTA JUDICIÁRIO)
d) intervenção máxima. 14. Todo crime qualificado pelo resultado é um crime
e) intervenção mínima. preterdoloso.
(CESPE - 2011 - TJ-ES - ANALISTA JUDICIÁRIO) (CESPE - 2014 - CÂMARA DOS DEPUTADOS - ANALISTA)
4. Uma das funções do princípio da legalidade refere-se à Considere a seguinte situação hipotética.
proibição de se realizar incriminações vagas e Ricardo, com o objetivo de matar Maurício, detonou, por
indeterminadas, visto que, no preceito primário do mecanismo remoto, uma bomba por ele instalada em um
tipo penal incriminador, é obrigatória a existência de avião comercial a bordo do qual sabia que Maurício se
definição precisa da conduta proibida ou imposta, encontrara, e, devido à explosão, todos os passageiros a
sendo vedada, com base em tal princípio, a criação de bordo da aeronave morreram.
tipos que contenham
(CESPE - 2008 - TCU - ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO)
15. Nessa situação, Ricardo agiu com dolo direto de
primeiro grau no cometimento do delito contra
Considere que tenha sido editada uma lei que Maurício e dolo direto de segundo grau no do delito
descriminaliza um fato anteriormente descrito como contra todos os demais passageiros do avião.
infração penal, por não ser mais interessante, legítima e
(CESPE - 2013 - CNJ - ANALISTA JUDICIÁRIO)
justa a punição dos autores de tal conduta.
5. Nessa situação, a lei de abolitio criminis é retroativa e 16. Nos crimes culposos, é dispensável a produção do
resultado naturalístico involuntário.
extingue o jus puniendi do Estado.
(MPE-PR - 2014 - MPE-PR - PROMOTOR)
(CESPE - 2016 - TJ-DFT - JUIZ)
6. O direito penal, quanto ao tempo do crime, considera 17. O direito penal brasileiro adota a teoria unitária do
estado de necessidade, reconhecendo-o unicamente
praticado o crime no momento do seu resultado.
como causa de justificação.
(CESPE - 2015 - TJ-DFT - OFICIAL DE JUSTIÇA FEDERAL)
(CESPE - 2014 - TJ-CE - ANALISTA JUDICIÁRIO)
7. O instituto da abolitio criminis refere-se à supressão da
conduta criminosa nos aspectos formal e material,
18. Para a doutrina majoritária, aquele que, para salvar-se
de perigo iminente, sacrifica direito de outrem não
enquanto o princípio da continuidade normativo-
atua em estado de necessidade.
típica refere-se apenas à supressão formal.
RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS 5
PROFESSOR: RAFAEL ANDRADE DE MEDEIROS DIREITO PENAL
TURMA: PRF 2018 PRF (2018)
(CESPE - 2006 - TJ-RR - ANALISTA JUDICIÁRIO)
19. O particular, no exercício de função de mesário da
justiça eleitoral, não é alcançado pela excludente do
estrito cumprimento do dever legal, pois esta dirige-se
somente aos funcionários ou agentes públicos em
sentido estrito, que agem por ordem da lei.
(CESPE - 2012 - TJ-BA - JUIZ)
20. Considere que Jonas, policial militar, no exercício de
sua função, tenha determinado que um indivíduo em
fuga parasse e que este tenha sacado uma arma e
disparado tiros contra Jonas, que, revidando os
disparos, tenha alvejado o indivíduo e o tenha matado.
Nessa situação, Jonas agiu no estrito cumprimento de
dever legal.
(CESPE - 2012 - TJ-AC - TÉCNICO JUDICIÁRIO)
21. A execução de pena de morte feita pelo carrasco, em
um sistema jurídico que admita essa modalidade de
pena, é exemplo clássico de estrito cumprimento de
dever legal.

GABARITOS
1. Errado
2. Errado
3. Letra E
4. Correto
5. Correto
6. Errado
7. Correto
8. Correto
9. Correto
10. Errado
11. Correto
12. Errado
13. Errado
14. Errado
15. Correto
16. Errado
17. Correto
18. Errado
19. Errado
20. Errado
21. Correto

— “Quanto menos alguém entende, mais quer discordar.” (Getúlio Vargas). 6

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