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Boa leitura.
Patricia Wastiau-Schlüter
Chefe da Unidade Europeia
de Eurydice
www.eurydice.org
Editor responsável: Patricia Wastiau-Schlüter
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Melhorar a qualidade dos sistemas de ensino: eis a preocupação fulcral das políticas educativas dos
países europeus. Trata-se, efectivamente, de um objectivo essencial para manter ou reforçar a sua
competitividade económica e a sua coesão social. Sendo hoje indiscutível que a melhoria da qualidade
pressupõe a avaliação dos sistemas educativos, torna-se indispensável – tanto para os decisores como
para os actores directos – examinar atentamente a forma como se deve proceder a essa avaliação, dis-
cutir os critérios a que esta deve obedecer e analisar os meios adequados para alcançar os objectivos
estabelecidos. A análise comparativa realizada pela Rede Eurydice traz a lume numerosos procedimen-
tos ou instâncias de avaliação, de formas várias e prosseguindo objectivos diferentes, a que recorrem
os sistemas educativos europeus. O estudo pretende ser simultaneamente uma «fotografia» do conjunto
dos sistemas de avaliação e uma descrição da articulação dos procedimentos. Analisa os problemas
que se deparam e oferece pistas de reflexão para melhor os compreender . Tendo como base jurídica a
Recomendação do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Fevereiro de 2001, sobre a cooperação
europeia com vista à avaliação da qualidade do ensino básico e secundário (COM(1999) 709), faz o ponto
da situação sob diversos aspectos: o lugar da avaliação interna, sua articulação com a avaliação externa,
o conjunto de agentes implicados e a transparência dos processos.
Por que motivo nos centrámos na avaliação dos estabelecimentos de ensino? Porque, na sequência da
descentralização dos meios, os estabelecimentos de ensino estão cada vez mais no cerne dos desafios
que se colocam à educação. É uma opção cada vez mais frequente, visto permitir não só adequar a oferta
educativa às exigências económicas como fazer face à crescente heterogeneidade da população escolar.
Em contrapartida, esta descentralização é frequentemente acompanhada de uma definição de padrões,
desta vez muito mais centralizados, a fim de assegurar a coerência e a igualdade da oferta educativa.
Uma vez assente que existem estes dois modelos de avaliação dos estabelecimentos de ensino, que
abordagens foram adoptadas nos países que colocam o estabelecimento de ensino no centro do seu
sistema de avaliação?
Na maioria dos países em causa, os estabelecimentos de ensino são objecto de dois tipos de avaliação:
a avaliação externa e a avaliação interna. Distinguem-se tanto pelos seus procedimentos como pelos
seus actores e objectivos.
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Local, regional ou nacional, a avaliação externa é efectuada por agentes que não se encontram direc-
tamente implicados nas actividades dos estabelecimentos de ensino. Em diversos países, a tarefa é
dividida pelo menos por duas instâncias, cabendo frequentemente a uma a avaliação da componente de
ensino, e, à outra, a da gestão administrativa. Pode acontecer – como no caso da Roménia – que duas
instâncias procedam à mesma avaliação, embora com objectivos diferentes: aconselhar as escolas e
controlar o respeito pelas normas.
Por seu turno, a avaliação interna é levada a cabo pelos próprios agentes educativos. Actualmente, tem
carácter obrigatório em 22 países e é recomendada noutros 6. Desde a década de noventa que deixou
de ser prerrogativa dos directores dos estabelecimentos de ensino. Os sistemas educativos europeus op-
taram por promover a implicação de muitos outros actores na avaliação interna: representantes dos pro-
fessores, dos encarregados de educação, da comunidade local e, por vezes, dos próprios alunos, tendo
essencialmente em vista motivar os agentes educativos para melhorar a qualidade do ensino, bem como
para aceitar ou iniciar mudanças, mas também apreender melhor toda a complexidade de uma situação
mercê da multiplicidade de olhares lançados sobre a escola.
Muitas vezes, essa avaliação interna encarna numa estrutu-
Figura B.
ra: Conselho de Escola, grupos “ad hoc” ou assembleias de Relações entre modos de avaliação interna e externa
professores. Muito embora a avaliação interna esteja ampla- das escolas como entidades. Ensino obrigatório.
mente difundida, pouco se sabe sobre as suas práticas, aten- Ano lectivo 2000/2001.
dendo à autonomia de que gozam as escolas. A participação
do Conselho de Escola, por exemplo, pode limitar-se à mera
aprovação de um relatório descritivo sobre as actividades Interdependência
do estabelecimento de ensino, ou originar uma participação
mais substancial através de debates aprofundados sobre as Pouca interacção
ou abordagens paralelas
políticas a adoptar. Por outro lado, embora haja tendência
Não existe avaliação
para aumentar o número dos agentes educativos implicados, externa/interna
a prioridade é dada aos que se encontram mais próximos da ou autonomia local
Quem diz avaliação, diz definição de critérios. A primeira questão que se coloca é saber quem os define
e se eles são idênticos para todos ou tomam em consideração a especificidade de cada estabelecimento
de ensino. No que respeita a avaliação externa, a definição dos critérios está relacionada com o nível
de poder de que depende o avaliador: quanto mais central este for, mais os critérios são uniformizados
através de uma lista-padrão. É esta a situação que se verifica em cerca de dez países. No caso da ava-
liação interna, a situação é dupla: quando se trata de melhorar a qualidade, o pessoal da escola é muitas
vezes associado à definição dos critérios, de forma a poder atingi-los mais facilmente. Todavia, quando
os resultados da avaliação interna são utilizados a título de informação prestada a uma instância externa,
geralmente é a esta que cabe a definição dos critérios.
Definir critérios significa igualmente falar do conteúdo da avaliação. Por outras palavras, o que é se
avalia? Na maioria dos países, duas coisas: procedimentos, ou seja, meios utilizados na actividade do
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Por último…
Interrogarmo-nos sobre a qualidade do ensino implica, como vimos, uma descrição detalhada dos pro-
cessos de avaliação utilizados. Uma questão fica em aberto: a do contributo desta avaliação para me-
lhorar a qualidade do ensino e dos seus efeitos nas “performances” dos sistemas educativos. A troca de
experiências e de conhecimentos neste domínio abre indubitavelmente interessantes perspectivas de
cooperação a nível europeu.
Referências