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e Medicina do Trabalho
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1.ª edição
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos
direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-843-2
CDD 363.11
Toxicologia ocupacional | 27
Princípios gerais de Toxicologia | 27
Metais pesados | 35
Chumbo | 36
Mercúrio | 38
Níquel | 40
Cromo | 40
Arsênio | 40
Normas regulamentadoras | 61
Riscos ambientais | 77
Riscos ambientais | 77
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (cipa) | 79
Acidentes de trabalho e riscos físicos | 87
Riscos físicos | 88
Radiações | 92
Epidemiologia – fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos | 93
Doenças ocupacionais | 99
Conceito | 100
Epidemiologia | 101
LER/DORT | 102
Gabarito | 121
Referências | 123
Anotações | 125
Ao longo da história do mundo, o homem sempre enfrentou os mais
diversos tipos de risco. O trabalho é, talvez, a maior fonte desses riscos,
até porque o homem passa a maior parte de sua vida dentro de seu am-
biente laboral, afastando-se de sua família. Desde o caçador mais primi-
tivo, passando pelo artesão da Idade Média, com “escala” nos primeiros
trabalhadores fabris da Revolução Industrial, até chegar no trabalhador
moderno, o homem constantemente passou por diversos riscos de aci-
dentes, de aquisição de doenças e, mesmo, de perder seu maior bem:
a própria vida. Concomitante a esse processo, o homem foi, também,
aprendendo a se cuidar de uma maneira mais adequada, prevenindo-
se, ainda que de maneira empírica, contra os males que pudessem afe-
tar seu bem-estar. Não é exagero, portanto, afirmar que os Serviços de
Saúde e Segurança do Trabalho tiveram origem nos primórdios da hu-
manidade, junto com os processos de trabalho mais remotos, e foram se
adaptando às novas descobertas e aquisições de conhecimentos na bus-
ca eterna de se atingir uma excelência na arte da prevenção e promoção
da saúde, especificamente no ambiente laboral.
Saúde do trabalhador
O trabalho das sociedades atuais é realizado dentro de padrões determinados historicamente. A
metalurgia, por exemplo, descende do trabalho em metais da Idade Média, onde o artesão medieval
realizava todas as etapas do trabalho com o metal, desde a fundição até o acabamento final, por vezes
também atuando em sua revenda. O metalúrgico atual, por sua vez, representa apenas uma pequena
parcela em toda a cadeia de transformação do metal, pois seu trabalho limita-se a estar à frente de má-
quinas, realizando passos da produção, sendo o ritmo de trabalho elevado com estímulos salariais para
o aumento da produtividade e com controle constante sobre a produção.
Ao artesão medieval, que concentrava todo o processo de produção a sua pessoa, cabia a função
de imaginar, criar como seria a peça a ser produzida antes de lidar com o metal. Havia a liberdade para
introduzir mudanças durante a produção, que era baixa, devido ao fato de as técnicas serem extrema-
mente rudimentares naquela época. Quanto ao trabalhador moderno, a execução de tarefa monótona,
repetitiva e desprovida de conteúdo mais intelectualizado, associado à alta produtividade e compe-
titividade da empresa no mercado, pode levar o trabalhador a permanente sofrimento psíquico, com
repercussões na esfera intelecto-emocional e somático, conhecido como estresse.
* Especialista em Medicina do Trabalho pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Médico pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Responsável Técnico pelo Serviço de Engenharia e Saúde Ocupacional (SESAO) da UFPR. Professor.
8 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
No Brasil, há queixas de trabalhadores e sindicatos de um certo descaso nas condições dos am-
bientes de trabalho, especialmente no que diz respeito à exposição do trabalhador a produtos químicos,
ruídos e trepidações; jornadas de trabalho muito extensas com a realização de horas extras; submissão
do trabalhador frente ao autoritarismo na organização do trabalho sem a participação dos trabalhado-
res nas decisões; demissão imotivada, decorrentes da inviabilização de reivindicações por melhorias;
baixos salários; problemas sociais relacionados a condições inadequadas de transporte urbano, mora-
dia, alimentação, lazer, acesso a serviços de saúde e medicamentos.
A abordagem quanto à saúde do trabalhador é feita através, inicialmente, de uma anamnese clí-
nica/ocupacional, de um exame clínico e de uma investigação laboratorial. Esse contato é fundamental
para se poder conhecer o trabalhador, bem como seu ambiente de trabalho como um todo, para conse-
guir relacionar ou não os sintomas dos quais se queixa com o seu respectivo trabalho.
Anamnese ocupacional
A maioria das doenças relacionadas ao trabalho e ao meio ambiente manifestam-se como queixas
comuns, sem sinais e sintomas específicos. Assim, a história de exposição a um agente ou situação no traba-
lho capaz de produzir doença é fundamental para o diagnóstico correto e a adoção dos procedimentos dele
decorrentes, como o tratamento, a prevenção e os possíveis encaminhamentos previdenciários.
O profissional de atenção primária à saúde tem um importante papel na detecção, tratamento e
prevenção das doenças decorrentes das exposições tóxicas e/ou situações particulares de trabalho, que
podem ser reconhecidas ou suspeitadas a partir da história do paciente.
Na anamnese ocupacional são levantadas questões com a descrição dos trabalhos atual e pas-
sados. Também são levantados os riscos a que o trabalhador está ou esteve exposto, como o contato
com poeiras, fumaças, metais, líquidos ou outras substâncias químicas, ou ainda fatores como calor ou
ruídos excessivos. Ainda na anamnese ocupacional, devem ser levados em consideração a jornada de
trabalho, o turno (diurno, noturno ou rodízio), além da opinião pessoal do trabalhador, que é questio-
nado sobre as suas condições de trabalho.
Deve conter, na anamnese, a descrição da atividade específica realizada, do ritmo e dos turnos
de trabalho e da matéria-prima ou substância que possa interferir no risco. Essas informações são im-
portantes para que seja feita a diferenciação entre as categorias. Por exemplo, o metalúrgico, que pode
estar lotado num setor administrativo ou na linha de produção, o que pode diferenciar a exposição a
riscos. Trabalhadores de mesma função em empresas distintas também podem apresentar diferentes
formas de organização e ritmos de trabalho.
Fatores como o turno de trabalho podem interferir no diagnóstico e no tratamento de qualquer
doença, sendo, por conseguinte, extremamente importante a anamnese ocupacional. Isso fica eviden-
ciado na realização de exames ou na determinação de horários fixos para o uso de medicações em
funcionários de turnos alternados, além da investigação de riscos percebidos pelo próprio trabalhador.
A grande maioria das pessoas que procuram os serviços de saúde são atendidas por profissionais
não-especialistas em questões de saúde ocupacional ou ambiental. Com o crescimento do setor infor-
Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 9
mal de trabalho, um número cada vez maior de trabalhadores estará descoberto das ações de serviços
especializado das empresas e de planos de saúde complementares, tendo como única alternativa a
rede pública de serviços de saúde. É interessante destacar que o momento da entrevista e a escuta do
paciente falando sobre seu trabalho pode representar uma oportunidade de estreitamento da relação
médico–paciente e constituir um processo pedagógico de identificação, no trabalho, de fatores adoe-
cedores que necessitam ser evitados ou corrigidos.
Podemos dividir a anamnese ocupacional quanto à investigação: do perfil ocupacional, da expo-
sição ocupacional e contaminação ambiental.
Perfil ocupacional
Nele devem estar contidas as atividades atuais e passadas. Ele descreve o ritmo de trabalho, rit-
mo das atividades, conteúdo das tarefas, matérias-primas utilizadas, posto de trabalho, riscos ambien-
tais, medidas de proteção, efeitos verificados com a exposição. Investiga também fatores que podem
aumentar, predispor ou modificar os riscos ocupacionais, como idade, sexo, hábitos de fumar ou se
alimentar no trabalho, avalia se os sintomas são exacerbados ou atenuados pela exposição aos riscos
ocupacionais, avalia a modificação dos riscos aos finais de semana, férias, final do turno de trabalho ou
ainda em que dia da semana os sintomas são mais intensos.
Exposição ocupacional
Exposição de característica específica, relata fatores que podem modificar os efeitos das exposi-
ções aos riscos ocupacionais, como alergias, patologias no trabalho atual ou passado, além de sua pre-
disposição a adquirir determinadas doenças. Também deve citar fatores que podem alterar as respostas
aos riscos ocupacionais quando eles existem, tais como história de doença respiratória ou cardíaca,
patologia renal, insuficiência hepática, alterações neurológicas, estado de nutrição, erro metabólico,
hipovitaminose. Além disso, busca problemas de saúde similar em colegas de trabalho.
A adoção rotineira da coleta da história ocupacional e a existência de uma rede de referência para
as ações no cuidado primário desempenham um importante papel na detecção, prevenção e tratamen-
to de doenças relacionadas ao trabalho.
Contaminação ambiental
Investiga a ocorrência de exposição não-profissional a substâncias potencialmente patogênicas,
como a casa do trabalhador próxima a alguma indústria ou a contaminação com substâncias tóxicas ou
pesticidas nos momentos de lazer, ou mesmo resíduos tóxicos trazidos do ambiente de trabalho para
casa por outros membros da família.
10 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Investigação laboratorial
Com esse procedimento busca-se, além das confirmações diagnósticas, observar medidas de ex-
posição que estão ocorrendo no período subclínico, obter um diagnóstico precoce e avaliar as medidas
de controle de riscos, na fonte e no meio ambiente, que forem instituídas. Pode ser usada como medida de
exposição, como indicador biológico de exposição, além de ser parte fundamental de um programa de
vigilância epidemiológica.
Realiza-se, normalmente, no sangue ou na urina. Outros testes podem ser realizados em labora-
tórios especializados em Toxicologia, utilizando unhas, cabelos, tecidos e outros fluídos corporais. Os
parâmetros clínicos obtidos devem ser admitidos como padrão para acompanhamento da evolução no
quadro de exposição a determinado agente, mas não como um valor absolutamente seguro.
Serve, também, como parâmetro para a busca de um ambiente de trabalho seguro e sem riscos
ou, ao menos, com todos os riscos controlados. O valor determinado como limite de tolerância pode ser
reduzido até drasticamente, de acordo com novos estudos e acompanhamentos de trabalhadores por
longos períodos ou descobertas de novos feitos.
Muitas das doenças relacionadas ao trabalho ou a uma exposição ambiental manifestam-se como
um problema médico comum e não apresentam sintomatologia específica. Assim, a história de uma
exposição prévia significativa a um agente ou condição de trabalho adoecedora é que vai permitir que
se suspeite da relação da doença com o trabalho ou com uma exposição ambiental. Se esses aspectos
não forem adequadamente explorados pelo médico que atende o paciente, o diagnóstico etiológico
fica prejudicado, o tratamento pode vir a ser inadequado e ficam perdidas as chances de uma atuação
preventiva sobre o paciente e o conjunto dos demais expostos à mesma situação.
Surdez ocupacional
A exposição a ruídos de duração prolongada ou de grande intensidade pode acarretar danos à
audição e, conseqüentemente, levar à surdez profissional. Essa doença é comum em caldeireiros, ferrei-
ros, prenseiros, maquinistas, tecelões, entre outros.
O grau da lesão produzida pelo ruído está relacionado com diversos fatores. Um dos principais
fatores é a intensidade. Ruídos superiores a 80dB poderão levar a trauma auditivo. O tipo de ruído tam-
bém é importante. O ruído intermitente, ou de impacto, parece produzir danos maiores. O período de
exposição também deve ser levado em consideração, assim como a duração do trabalho, uma vez que
o efeito é cumulativo. Também são fatores importantes a susceptibilidade individual, a idade, as patolo-
gias auditivas prévias e outras patologias, como hipertensão arterial, diabetes e hipertireoidismo.
Trauma acústico e surdez por exposição ao ruído são os tipos de transtornos auditivos que podem
acometer o profissional. O trauma acústico é uma lesão produzida no ouvido médio ou interno por impac-
to sonoro ou ruído intenso. O diagnóstico é feito através da história ocupacional, na qual se busca estímulo
e associação com o início da sintomatologia (surdez, vertigens, zumbidos, dor); do exame físico, a partir do
qual se busca evidência de congestão vascular ou até ruptura timpânica com lesão na cadeia ossicular; e
da audiometria, em que há ou não falha na discriminação vocal, além de queda em 4KHz.
A surdez por exposição ao ruído decorre de uma exposição crônica, em que traumatismos suces-
sivos levam a um deslocamento assimétrico da membrana basilar. Os sintomas são causados devido à
cronicidade da evolução do quadro, como zumbido noturno ou em locais silenciosos. A audiometria
aponta, inicialmente, queda em 4KHz. Com a evolução do quadro, ocorre aprofundamento da queda e
propagação para 3, 6 e 8KHz, com cada vez mais dificuldade de discriminação vocal.
Além da perda auditiva característica, o ruído pode ser o fator causador de outras doenças. Essas
patologias podem afetar o trabalhador psicologicamente, causando depressão, estresse, entre outras
doenças, chegando a gerar danos inclusive no sistema cardiovascular, podendo ser fator causador de
hipertensão arterial e taquicardia.
Dores na coluna
Uma das maiores queixas no mundo moderno é a de dor na coluna. Dentro de um ambiente laboral,
essa patologia acomete vários trabalhadores, devido a diversos fatores, os quais serão abordados a seguir.
Para melhor entender o mecanismo da dor na coluna, é necessário conhecer a estrutura anatômi-
ca da coluna vertebral humana. Ela é dividida em 33 vértebras, sendo 7 formadoras da coluna cervical,
12 da coluna torácica, 5 da coluna lombar, 5 vértebras fundidas formadoras da região sacral e 4 vérte-
bras da região coccígea. Seu limite superior é o osso occipital, sendo o osso ilíaco o limite inferior.
A coluna vertebral possui uma região denominada canal vertebral, que segue as diferentes cur-
vas da coluna vertebral. Grande e triangular nas regiões cervical e lombar, onde a coluna possui maior
mobilidade, o canal vertebral é pequeno e redondo na região onde não há muita mobilidade, a região
torácica. Esse canal possui algumas características gerais, cada qual com sua função, sendo que cada re-
gião da coluna possui suas próprias características, assim como cada vértebra se difere uma da outra.
Além das vértebras, outras estruturas podem ser responsáveis pelas dores na coluna. Os discos
intervertebrais, músculos e ligamentos são algumas dessas estruturas. Também se destacam outras do-
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enças presentes em outras estruturas que podem resultar em dores na coluna, tais como aneurisma de
aorta, úlcera duodenal, inflamação na próstata, doença inflamatória pélvica, entre outras.
Algumas são as doenças e situações diretamente relacionadas com as dores na coluna. Dentre
elas, destacam-se a osteoporose, hérnias discais, tumores, postura viciosa, obesidade, fibromialgia, ar-
trose, artrite reumatóide – com inflamação nas articulações e outros tecidos, gravidez e encurtamento
dos músculos das pernas. Além disso, existem fatores de risco que influenciam no aparecimento do
quadro álgico na coluna vertebral. Dentre eles, podem-se citar a obesidade, a tensão emocional, os
esforços excessivos, a idade, o sexo e a atividade profissional.
Algumas doenças da coluna vertebral podem estar relacionadas ao trabalho. As dores musculares
são um exemplo, especialmente as dores em coluna lombar, denominadas lombalgias. Também pro-
blemas posturais, que podem gerar desvios no eixo, ou aumento na curvatura preexistente da coluna
vertebral. Esses desvios são denominados cifose, lordose e escoliose. Osteofitose e hérnias discais também
são causas comuns de dores na coluna.
A lombalgia é uma doença cuja incidência mundial é de aproximadamente 5% de novos casos ao
ano, sendo que em alguma fase da vida, estima-se que 80% dos indivíduos terão dor lombar. Ela pode
ser diagnosticada em três fases. A fase subaguda é quando ela se iniciou há menos de um mês. A fase
aguda ocorre quando o início do quadro ocorreu entre um e seis meses. A fase crônica é quando a dor
já vem há mais de seis meses. Suas causas são as mais diversas. Podem ser decorrentes de problemas
mecânicos – posturais, devido a posturas viciosas, obesidade, gravidez, esforços repetitivos, ergonomia
inadequada; degenerativos, como estenose do canal vertebral, artrose articular; psicológicas, como dor
miofascial; tumorais, por metástase óssea; mistas, como fibromialgia, entre outras.
A cifose caracteriza-se por ser um aumento anormal da concavidade posterior da coluna verte-
bral. As causas mais importantes dessa deformidade são a má postura e o condicionamento físico ina-
dequado. Outras doenças também podem causar essa deformidade, como a espondilite anquilosante
e a osteoporose senil.
A lordose é um aumento anormal da curva lombar, levando a uma acentuação da lordose lombar
anatômica. A essa situação, dá-se o nome de hiperlordose. A dor ocorre especialmente em atividades
que envolvam a extensão da coluna lombar, tal como permanecer em postura ortostática por muito
tempo, o que tende a acentuar o quadro. A flexão do tronco usualmente atenua a dor, o que faz com
que, normalmente, a pessoa prefira permanecer em posição sentada ou deitada.
A escoliose é a curvatura lateral da coluna vertebral. Sua progressão depende muito da idade em
que ela se inicia, bem como da magnitude do ângulo da curvatura durante o período de crescimento
na adolescência. Para a melhora do quadro, são essenciais o tratamento fisioterápico, com uso de alon-
gamentos e melhora na respiração.
A osteofitose, popularmente conhecida como bico de papagaio, é decorrente da protusão pro-
gressiva do anel fibroso do disco intervertebral, dando origem à formação de osteófitos, cujos efeitos
são agravados pela desidratação gradual do disco intervertebral. Ela causa a aproximação das vértebras
e pode comprimir a raiz nervosa, gerando fortes dores.
As hérnias de disco são resultados de diversos pequenos traumas da coluna, que vão, gradativa-
mente, lesando as estruturas do disco intervertebral. Também podem ser decorrentes de um trauma
severo sobre a coluna. Elas surgem quando o núcleo do disco intervertebral migra do seu local, no cen-
tro do disco, para a sua periferia, em direção ao canal medular ou nos espaços por onde saem as raízes
nervosas, levando à compressão das raízes nervosas.
14 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
texto complementar
Desenvolvimento
A relação entre o trabalho e a saúde/ doença surgiu na Antigüidade, mas tornou-se um foco de
atenção a partir da Revolução Industrial. Afinal, no trabalho escravo ou no regime servil, inexistia a
preocupação em preservar a saúde dos que eram submetidos ao trabalho. Os trabalhadores eram
equiparados a animais e ferramentas.
Com a Revolução Industrial, o trabalhador passou a vender sua força de trabalho tornando-se presa
da máquina e da produção rápida para acumulação de capital. As jornadas eram excessivas, em ambien-
tes extremamente desfavoráveis à saúde, aos quais se submetiam também mulheres e crianças. Esses
ambientes inadequados propiciavam a acelerada proliferação de doenças infecto-contagiosas, ao mes-
mo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por mutilações e mortes.
Através dos tempos, o Estado passou a intervir no espaço do trabalho baseando-se no estudo
da causalidade das doenças. Assim, toma figura o médico do Trabalho que vai refletir na propensão
a isolar riscos específicos e, dessa forma, atuar sobre suas conseqüências, medicando em função de
sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a uma doença legalmente reconhecida. A partir
daí houve uma crescente difusão da matéria de Segurança e Medicina do Trabalho.
No Brasil, a legislação trabalhista compõe-se de normas regulamentadoras, normas regula-
mentadoras rurais e outras leis complementares, como portarias, decretos e convenções interna-
cionais da Organização Internacional do Trabalho.
Introdução à Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 15
Devido ao fato de ter surgido e se mantido a sombra da legislação, muitos de nós não demos
a devida importância a Segurança do Trabalho. Limitamos a mera leitura da legislação sem preo-
cuparmos com a interpretação e a cultura prevencionista. Ainda existe uma gama de instituições
empresariais que só implantam os programas exigidos por lei para terem os documentos e papéis
em seus arquivos com o objetivo de apresentar aos fiscais do Trabalho, em caso de fiscalização.
Felizmente um maior número de pessoas já compreende que as doenças profissionais são aquelas
decorrentes da exposição dos trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou de acidentes.
O setor de segurança e saúde tornou-se multidisciplinar e busca incessantemente prevenir os
riscos ocupacionais. Essa é a forma mais eficiente de promover e preservar a saúde e a integridade
física dos trabalhadores. Nesse aspecto se destaca os profissionais da área, composto por técnico de
Segurança do Trabalho, engenheiro de Segurança do Trabalho, médico do Trabalho e enfermeiro
do Trabalho. Estes, por sua vez, atuam na eliminação ou neutralização dos riscos, prevenindo uma
doença ou impedindo o seu agravamento. Para tanto, é necessária a antecipação dos riscos que
envolvem a análise de projetos de novas instalações, métodos ou processos de trabalho, ou de mo-
dificação dos já existentes, visando identificar os riscos potenciais e introduzir medidas de proteção
para sua redução ou eliminação. Outra etapa do processo de prevenção é a de reconhecimento dos
riscos. Nesse caso, o risco já está presente e será preciso intervir no ambiente de trabalho. Reconhe-
cer os riscos é uma tarefa que exige observação cuidadosa das condições ambientais, caracteriza-
ção das atividades, entrevistas e pesquisas. A adoção das medidas de controle, também se torna
necessária para a etapa da prevenção. Nesse caso o engenheiro de Segurança deverá especificar e
propor equipamentos, alterações no arranjo físico, obras e serviços nas instalações, procedimentos
adequados, enfim, uma série de recomendações técnicas pertinentes a projetos e serviços de en-
genharia.
Além dessas etapas, por parte do empregador, é de fundamental importância o treinamento
dos empregados para a correta utilização dos equipamentos de proteção individual ou coletiva. A
empresa deve treinar o trabalhador com recursos próprios, ou por meio dos fabricantes de EPIs que
já fazem esse trabalho gratuitamente, através de palestras ou mini-cursos. Portanto, a inspeção no
local de trabalho é procedimento essencial de antecipação intempéries em relação à segurança e
Medicina do Trabalho.
Eliminando-se as condições inseguras e os atos inseguros é possível reduzir os acidentes e as
doenças ocupacionais. Esse é o papel da Medicina e Segurança do Trabalho Preventiva.
Conclusão
Qualquer empresa que queira realmente melhorar a qualidade de vida dos seus colaboradores
deve estar disposta a ouvir sua equipe, dar possibilidade do indivíduo expor suas súplicas, fortale-
cendo desta forma uma relação de trabalho confiável e saudável. Após abrir este importante canal
de comunicação, a empresa deverá fazer um levantamento criterioso dos problemas que acome-
tem a equipe como um todo, visualizando sua real existência e verificando suas incidências. Uma
vez realizado este reconhecimento da saúde geral dos trabalhadores, devem-se levantar os proble-
mas mais comuns e fazer um estudo individualizado para descobrir de que forma estão ou não rela-
cionados às rotinas de trabalho de cada um, sendo importante nesta fase o auxílio de profissionais
preparados para esta compreensão.
16 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Uma vez realizado todo este levantamento e análise, deve-se agir tentando eliminar os fatores
de risco e caso isso não tenha sido possível, deve-se proteger os colaboradores dos riscos, muitas
vezes adotando uso de EPIs mais adequados, orientações de forma de trabalho e fomentando este
indivíduo de recursos de proteção direcionada, e por último, após todas estas ações deve-se investir
num mecanismo de defesa e preparo para a função, adaptando todo o posto e o indivíduo.
Portanto, a maneira mais eficaz de impedir o acidente é conhecer e controlar os riscos. Isso se
faz com uma política de segurança e saúde dos trabalhadores que tenha por base a ação de profissio-
nais especializados, antecipando, reconhecendo, avaliando e controlando todo o risco existente.
Atividades
1. Um funcionário chega com queixa de dor intensa em região lombar. Não há ambulatório médico
na empresa, sendo você o único responsável pela Segurança do Trabalho na ocasião. Qual é a sua
conduta?
a) Daria um antiinflamatório com miorelaxante e analgésico ao funcionário.
b) Trocaria imediatamente o seu posto de trabalho, evitando agravamento da lesão.
c) Faria bolsa de água quente na região afetada e encaminharia o funcionário ao serviço médico
mais próximo ou conveniado.
d) Manteria o paciente no trabalho e o orientaria a buscar um médico após o serviço.
e) Orientaria os colegas de trabalho a dobrarem a jornada para compensar a falta do trabalhador
com problemas.
Toxicologia
“Todas as coisas são um veneno e nada existe sem veneno, apenas a dosagem é razão para que
uma coisa não seja um veneno”. Essa frase é de autoria do médico alemão Theophrastus Bombast von
Hohenhein, nascido em 1493, em Eisiedeln, e que também é conhecido como Paracelsius. Ele estudou
Medicina na Universidade da Basiléia e iniciou sua prática médica nas Minas de Tirol, onde começou a
relacionar as doenças apresentadas pelos mineiros, à exposição excessiva aos minerais. Partindo desse
conceito de Paracelsius, que é tido como verdade até os dias atuais, percebe-se que todas as substâncias
podem ser consideradas tóxicas. O conceito de tóxico, entretanto, é algo que já vem desde os homens
mais primitivos. A palavra toxikon tem origem grega e significa veneno das flechas, que eram usadas nas
caças na Antigüidade. As pontas das flechas eram preparadas com material bacterialmente contamina-
do com pedaços de cadáveres ou venenos vegetais com o intuito de acelerar a morte dos animais.
Com o passar dos anos, novos estudos foram feitos e foi criada a Toxicologia, que é a ciência que
estuda as intoxicações, os venenos que as provocam e o tratamento adequado. Também define os limi-
tes de segurança dos agentes químicos.
Histórico
A Toxicologia, historicamente, pode ser dividida em três fases:
::: Fase do descobrimento – teve início com o homem primitivo em seu contato com a natureza
como meio de sobrevivência. Do seu contato com as plantas e animais, começou a identificar
substâncias que eram ou não benéficas a sua vida.
::: Fase primitiva – estuda os venenos como meio de suicídio e homicídio. Nessa fase, os vene-
nos eram também utilizados como forma punitiva.
::: Fase moderna – surgiram os métodos de estudos para a identificação de venenos, o que dimi-
nuiu as ações criminosas. Nessa fase, foi considerável o aumento das intoxicações acidentais.
Vários nomes importantes na Medicina realizaram diversos tipos de estudos relacionados à Toxi-
cologia. Hipócrates (460-375 a.C.), médico grego e considerado o pai da Medicina descreveu o quadro
clínico de intoxicação por chumbo em mineiros. Na Idade Média, o médico e filósofo persa Avicena
(980-1037) descreveu a cólica plúmbica, ou seja, a dor abdominal presente em pessoas expostas ao
chumbo. Na Roma Antiga, Plínio, o Velho (23-79 d.C.), considerado um dos mais importantes naturalis-
tas da Antigüidade, escreveu a obra Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas distri-
buído em 37 capítulos dedicado a Tito Flávio, futuro imperador romano. Nela, Plínio descreve o aspecto
de alguns escravos que observou nas minas de chumbo e de mercúrio. O médico saxão Georgius Agri-
cola (1495-1595), também conhecido como o pai da Mineralogia, escreveu a obra De Re Metallica, em
que descreve com minúcia de detalhes as operações minerais e metalúrgicas de sua época, detalhando
as principais doenças dos mineiros e fundidores. Anos mais tarde, Percival Pott (1713-1788) descreve,
no ano de 1775, o câncer ocupacional entre os limpadores de chaminé na Inglaterra, identificando a
fuligem, através da substância 3,4-Benzopireno e a falta de higiene como causa do câncer escrotal. Os
principais afetados eram as crianças que, por sua baixa estatura, tinham a responsabilidade de entrar
Medicina do Trabalho e Toxicologia | 19
nas chaminés e limpá-las. Graças a esse estudo, foi criada a Lei dos Limpadores de Chaminé, no ano de
1788. Também na Alemanha a industrialização era avançada, mas o número de casos de câncer escrotal
era significativamente menor, devido a um melhor ajuste da roupa ao corpo do trabalhador em relação
aos colegas ingleses, sendo elas consideradas uma espécie de primórdio de equipamento de proteção
individual (EPI). Pouco tempo depois, o médico francês Tanquerel des Panches (1809-1862) publicou
a primeira descrição moderna da intoxicação por chumbo, no ano de 1839. Em seu estudo, Tanquerel
analisou 1 217 casos, fazendo a descrição completa de toda a síndrome, destacando a dor abdominal
como principal sintoma. Seu estudo foi tão completo que desde então muito pouco foi acrescentado
nas descrições clínicas de intoxicação por chumbo.
Conceitos
Para melhor compreensão da Toxicologia, é necessário saber que ela se divide em:
::: Clínica – estuda a ação do agente tóxico (sintomas, diagnóstico e orientação).
::: Química – estuda as propriedades do agente tóxico e suas ações dentro do organismo.
::: Ocupacional – estuda as enfermidades industriais e a insalubridade do ambiente de trabalho.
::: Analítica – estuda a análise de produtos tóxicos visando determinar sua toxicidade.
::: Profilática – estuda a poluição da água, terra, ar e alimentos. Procura manter e aumentar a
segurança para a vida.
::: Forense – estuda a ação de propriedades dos agentes tóxicos para estabelecer a causa de
morte ou envenenamento em intoxicações, auxiliando a Justiça.
Para melhor delineamento do estudo, o presente capítulo será focado principalmente na Toxico-
logia Ocupacional, que é o ramo da Toxicologia voltado para o estudo da interação entre o homem e as
substâncias químicas presentes em seu ambiente de trabalho.
Outro conceito fundamental é o de intoxicação. Qualifica-se como intoxicação toda e qualquer
manifestação clínica ou laboratorial de efeitos adversos. É um estado patológico, causado pela intera-
ção de um agente químico com o organismo. Esse agente químico é também conhecido como agente
tóxico ou xenobiótico. É uma substância química que provoca o desequilíbrio do organismo e que gera
desde simples distúrbios de saúde até o óbito. Tudo vai depender de alguns fatores e, especialmente, de
sua toxicidade, que é a propriedade potencial das substâncias químicas de instalar, em maior ou menor
grau, um estado patológico após sua introdução ou interação com o organismo.
Vários são os fatores que podem afetar no grau de toxicidade de um agente. Algumas caracterís-
ticas da pessoa afetada, como a idade, a massa corpórea, estados nutricionais ou doenças prévias são
fundamentais para que o agente tenha maior ou menor toxicidades. Também a concentração do agen-
te tóxico, bem como seu estado de dispersão, de acordo com a forma e o tamanho da partícula, exercem
influência no grau de toxicidade. Outros fatores também são importantes para que a substância seja
mais ou menos tóxicas, como a afinidade da substância com um determinado tecido ou órgão do corpo
humano, ou ainda a sensibilidade desse tecido ou órgão, por exemplo.
20 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Alguns outros fatores, como o armazenamento inadequado dos produtos tóxicos, podem causar
acidentes que levam à intoxicação. Outro fator importante é a resistência física do trabalhador. Quanto
mais baixa a resistência, maior o risco de contaminação por parte desse trabalhador.
Há também casos de intoxicação de familiares de trabalhadores. Isso ocorre quando principal-
mente o posto de trabalho localiza-se na própria residência, ou então quando a roupa utilizada ao lon-
go da jornada de trabalho é lavada em casa de maneira inadequada.
Agentes ambientais
As doenças ocupacionais podem ser causadas por alguns agentes presentes no posto de traba-
lho. São eles os agentes físicos, ergonômicos, biológicos e químicos.
Os agentes físicos são observados nas formas de ruídos, vibração, frio, calor, umidade, pressão,
radiação, entre outros. Os agentes ergonômicos caracterizam-se como fatores fisiológicos ou psicológi-
cos inerentes à execução da atividade profissional. Os agentes biológicos são os microorganismos e os
germes, tais como vírus, fungos e bactérias.
Os agentes químicos, por sua vez, podem estar presentes no ambiente nos estados sólido, líquido
e gasoso. No estado sólido podem estar sob a forma de poeiras de origem animal (pêlos e couro), vege-
tal (fibras de algodão, bagaço de cana), mineral (sílica, amianto, carvão) e sintética (fibras de plástico).
No estado líquido estão as soluções ácidas, alcalinas e solventes orgânicos. No estado gasoso, encon-
tram-se as substâncias que se misturam com o ar respirável.
Contaminantes atmosféricos
Os contaminantes atmosféricos são representados pelos gases, vapores e aerossóis. Os gases,
nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP) encontram-se no estado gasoso, enquanto os
vapores são sólidos ou líquidos e os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas, suspensas ou dispersas
no ar, com tamanho reduzido.
22 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Os gases podem ser classificados como de ação irritante ou asfixiantes. Quando são irritantes, po-
dem ter ação intensa (sulfúricos, aldeídos, flúor, amoníacos, acroleína), moderada (cloro e derivados) ou
leve (arsínia, ozônio, brometo e cloreto de metila). Essas substâncias podem levar à inflamação tecidual
e são percebidos pelo homem em concentrações baixas. A distinção entre irritante e corrosiva depende
da natureza da substância, concentração, viscosidade, osmolaridade, potencial de oxidação e redução,
complexo de afinidade a pontes bivalentes, da ação do irritante alcalino, intoxicação protoplástica, irri-
tante ácido, denaturante, irritante hidrocarboneto. Podemos citar como efeitos clínicos com a inalação:
cefaléia, secura/insensibilidade nasal, hemorragia, edema de glote, esôfago ou pulmão.Também atra-
vés das vias respiratórias podem ocorrer respiração ofegante, sibilância, tosse e perda de função das
vias aéreas. Os gases asfixiantes podem apenas substituir o oxigênio atmosférico, como o nitrogênio ou
ainda podem também interagir com o organismo causando alterações nos mecanismos de transporte
sanguíneo do oxigênio ou na respiração celular. Como exemplo temos o monóxido de carbono.
Os aerossóis são classificados em poeiras, fumo, fumaça e névoa. Tal classificação é realizada de
acordo com o tamanho das partículas.
::: Poeiras: partículas sólidas que podem se apresentar em suspensão no ar, geradas de materiais
inorgânicos, como rochas, minérios, metais, carvão e madeira, sendo produzidas por desinte-
gração, trituração, pulverização ou impacto. Elas não se difundem no ar e se depositam sob a
influência da gravidade. São partículas com diâmetro variando entre 1 e 100 mícrons.
::: Fumos: partículas produzidas normalmente pela condensação de vapores após a volatilização
de metais fundidos, tais como o derretimento de ferro e chumbo, por exemplo. Seu diâmetro
é inferior a 10 mícron.
::: Fumaças: combustão completa da matéria orgânica, com partículas inferiores a 1 mícron
de diâmetro.
::: Névoas: partículas líquidas de diâmetro entre 0,01 e 100 mícrons, resultantes da condensação
de vapores sobre certos núcleos ou da dispersão mecânica de líquidos.
Toxicocinética
Os agentes tóxicos seguem etapas determinadas ao entrar no organismo. Essas etapas são:
::: Absorção – é a passagem do agente tóxico do local de exposição para a corrente sanguínea.
Ocorre pelas vias de penetração cutânea, digestiva, respiratória, além de outras menos co-
muns, como ocular, genital e dental, por exemplo.
::: Distribuição – após a absorção, o agente tóxico se difunde pelos tecidos através do sangue,
líquido intersticial e líquidos celulares. No corpo, existem os considerados órgãos de proteção,
ou seja, enquanto armazenado, o agente tóxico dificilmente causa danos ao organismo. Os
principais órgãos de proteção são as proteínas plasmáticas, o fígado e os rins.
::: Metabolismo – são os processos pelos quais o agente tóxico e seus metabólitos se modificam
no organismo por reações enzimáticas e não-enzimáticas. Algumas dessas transformações po-
dem reduzir ou mesmo impedir seus efeitos, diminuindo a atividade e facilitando a excreção. O
principal sítio de desintoxicação é o fígado, através de enzimas chamadas biotransformadoras.
Medicina do Trabalho e Toxicologia | 23
::: Excreção – são os processos pelos quais os agentes tóxicos são eliminados do organismo. A
principal via de eliminação é a urinária, mas também pode haver excreção por via pulmonar,
digestivas ou outras secundárias.
Texto complementar
Atestado médico
Considerações ético jurídicas
O atestado pode ser classificado como uma instituição, criado que foi, para uma finalidade
certa e definida, qual seja a de demonstrar a verdade de determinado ato, ou de determinada situ-
ação, estado ou ocorrência. De acordo com Plácido e Silva, dicionarista especializado, “o atestado
indica o documento em que se faz atestação, isto é, em que se afirma a veracidade de certo fato ou
a existência de certa obrigação. É assim o seu instrumento.“
A utilidade e a segurança do atestado estão intrinsecamente vinculadas à certeza de sua vera-
cidade. Assim é que uma declaração duvidosa tem, no campo das relações sociais, o mesmo valor
de uma declaração falsa, exatamente por não imprimir um conteúdo de certeza ao seu próprio
objeto. Confirmada por atestado médico a veracidade de determinado fato ou a existência de certa
obrigação, poderá o beneficiário da declaração pleitear os direitos advindos daquilo que foi declara-
do. Expedido no exercício de profissão regular, merecedora de que seus profissionais nele deposite
confiança, o atestado médico é verdadeiro por presunção e sua recusa propicia o oferecimento de
reclamações tendentes à garantia dos direitos representados pela declaração.
Em busca de preservar a confiabilidade do atestado médico, apontamos aqui cinco condições
para sua expedição?
1. ser sempre exarado por médico habilitado na forma da lei;
2. ser subscrito por quem, de fato, examinou o beneficiário da declaração;
3. ser elaborado em linguagem simples, clara e de conteúdo verídico;
4. omitir a revelação explícita do diagnóstico, salvo quando ocorrente dever legal, justa causa
ou pedido expresso do paciente;
5. expressar a prudência do médico ao estabelecer as conseqüências do exame e, portanto,
ao prognosticar.
24 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Em sendo o atestado parte integrante do ato médico que se inicia com o exame do paciente, não
justifica cobrança de valor adicional por sua expedição, sob pena de cominações éticas e penais.
Infelizmente, encontram-se muitos e muitos atestados falsos, tal ocorrência tanto pode proce-
der da pusilanimidade do próprio atestante, como da conduta viciada do beneficiário que comete
a fraude. Qualquer que seja a situação, atestante e beneficiário estarão sempre envolvidos em res-
ponsabilidade conjunta e solidária, capaz de produzir efeitos diversos e funestos tanto no campo
ético-profissional, como no campo jurídico-social.
Aspectos ético-penais
O Código Internacional de Ética Médica visa a preservar um dos pontos mais importantes da
relação do médico com o paciente, qual seja o de garantir que a conduta médica relate, sempre,
a veracidade dos fatos constatados no exame, qualquer que seja o procedimento executado ou a
executar. A mesma linha de disposições pode ser flagrada em nosso Código de Ética Médica.
Tratando conjuntamente do atestado e boletim médicos, o Código pátrio proíbe ao profissio-
nal fornecer atestado que não corresponda à prática de ato que o justifique, ou relatando situação
diferente da realmente constatada.
Como normatização interna que é, o Código Brasileiro se permite detalhamento incompatível
com a natureza internacional daquele outro diploma.
Assim, proíbe a utilização do atestado como instrumento de captação de clientela: confere ao
paciente direito subjetivo ao atestado que define como parte integrante do ato médico, não impor-
tando seu fornecimento em majoração de honorários.
E ainda do nosso Código a proibição de que o médico sirva-se de formulários de instituições
publicas para atestar, mesmo a verdade, quando verificada em instituição particular. O óbito, em
princípio, somente poderá ser atestado após verificação pessoal e por quem tenha prestado assis-
tência ao paciente, salvo nas hipóteses de verificação em plantão, como médico substituto ou por
via de necrópsias ou exame médico-legal. Por outro lado, se o médico vinha prestando assistência
ao paciente, atestar-lhe o óbito converte-se em obrigação, salvo na suspeita de morte violenta.
Quando o boletim médico contiver afirmação técnica à semelhança do atestado, deverá com-
portar-se segundo as linhas gerais que regulam a produção deste, vedando-se a informação falsa
ou tendenciosa.
Do ponto de vista da legislação, o Código Penal, tomando como bem jurídico a preservar a ve-
racidade do atestado médico, pune com detenção de um mês a um ano a quem concede atestado
falso, agregando à pena certa multa, se o crime e cometido com fim de lucro.
As disposições do Código de Ética acerca do atestado de óbito e do fornecimento deste sem
base em ato profissional pessoalmente desenvolvido são igualmente encontradas no Decreto-Lei
20.931, de 1932.
Verificando-se a legislação estrangeira, observa-se que o tratamento e semelhante ao dado
pela norma nacional. E o que resulta da análise da legislação francesa, portuguesa, italiana e outras.
A diferença entre aqueles países e o nosso vai ocorrer, não nos textos legais, mas na maneira como
aquelas normas são aplicadas e na efetividade da punição que ali se observa.
Medicina do Trabalho e Toxicologia | 25
Algumas medidas simples têm sido propostas a essa prática mal-sã, como relata Irany Novaes
ao escrever:
a experiência de juízes registra casos de ação contra médico que, em um semestre, vendeu mais de quinhentos ates-
tados para abono de falta em uma só entidade. Há situações muito ilustrativas que comprovam ser possível coibir
o médico em sua faina de conceder atestados falsos. Os mesários escolhidos pela Justiça Eleitoral não encontram
um só médico que dê atestado para justificar seu não comparecimento a convocação, graças a idéia brilhante que
um juiz teve de despachar o pedido nos seguintes termos: Justificada a ausência, convoque-se o atestante para as
próximas eleições.
Sem dúvida, a liberalidade na outorga desse valioso instrumento é nociva aos médicos e à
própria medicina, por abalar a credibilidade de ambos perante a sociedade, a qual, ademais, perde
um instrumento útil que pela prática fraudulenta já não atende à sua finalidade original.
Segredo médico
Por segredo entende-se tudo aquilo que é conhecido e não revelado. O segredo é, portanto, o
guardado resultado de um certo processo de conhecimento que se desenvolveu. Não há que falar
em segredo quando ausente o conhecimento. Visto que a informação segredada advém de pesqui-
sa, delimita-se dois campos dentro dos quais se pode considerar o sigilo: sigilo quanto aos passos
do processo de conhecimento e sigilo quanto ao resultado da pesquisa.
No primeiro caso, tratamos, segundo a terminologia definida por alguns autores, de segredo
profissional. Na outra hipótese, temos o sigilo médico ou sigilo diagnóstico
Para o professor Hilton Rocha, a divisão existem é indispensável:
Com a evolução, com as evoluções sociais e comunitárias, o rigorismo do sigilo foi-se atenuando, ampliando-
se as exceções iniciais. Não se consegue mais manter estritamente inviolados os diagnósticos. Tenho para
mim que poderíamos considerar dois aspectos distintos, a que eu rotulo para diferenciar como sigilo médico
e segredo profissional. Se sigilo médico envolve diagnósticos, que hoje muitas vezes somos compelidos a
divulgar, já o segredo profissional, como relacionado com confidências, inclusive sobre intimidadas dos lares
visitados, estes são segredos de que somos confidentes, e não podemos jamais revelar, sob pena de nos tor-
narmos perjuros.
Atividades
1. A Medicina do Trabalho:
a) visa somente atender aos interesses da empresa, buscando somente maior lucratividade.
b) possui um campo de trabalho pequeno, restrito a empresas de grande porte.
c) busca a prevenção de doenças e acidentes de trabalho, além da promoção da saúde e quali-
dade de vida do trabalhador.
d) não necessita ter conhecimentos de outras áreas da Medicina, como a Clínica Médica, por
exemplo.
26 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Dermatites: sintomatologia
Habitualmente, os sintomas somente aparecem quando a substância química entra em contato
com a pele e desaparecem quando o trabalhador deixa de estar em contato com a substância.
Algumas substâncias químicas podem causar dermatites de contato, tais como o formaldeído,
compostos de níquel, resinas epóxi, catalisadores utilizados na fabricação de produtos plásticos, agen-
tes germicidas que levam sabão, produtos de limpeza, em particular o hexaclorofeno, bitionol, silicilani-
lidas halogenadas e os cromatos.
Sistema respiratório
O sistema respiratório possui um mecanismo muito eficaz para filtrar os poluentes normais que
ocorrem no ar. Os sistemas de filtração do nariz (pêlos) e do trato respiratório superior (mucosas e cílios
vibráteis) impedem que grandes partículas penetrem no organismo e atinjam os pulmões, produzindo
efeitos adversos à saúde.
Em geral, o sistema respiratório filtra as partículas de pó de diâmetro grande, entre as quais as fibras,
sendo muito difícil eliminar as partículas de diâmetros pequenos, que podem atingir partes mais profundas
dos pulmões e ocasionar graves problemas respiratórios locais. Quando os pulmões estão expostos a con-
centrações elevadas de pós, vapores, fumos de cigarro, poluentes da atmosfera, os mecanismos de filtração
podem ficar sobrecarregados e sofrer um dano. Uma vez instalado esse dano, é provável que se desenvolvam
nos pulmões diferentes bactérias, vírus, entre outros germes, provocando doenças como a pneumonia.
Tarefas em locais com pó em demasia, como minas de bauxita e carvão, engenhos de açúcar,
amianto, indústria química, indústria farmacêutica, acarretam em maior possibilidade de contrair doen-
ças respiratórias em comparação a outros trabalhadores em outras atividades.
Gases e vapores também podem penetrar no organismo através do sistema respiratório. Efeitos
locais no trato respiratório superior e nos pulmões serão absorvidos passando para a corrente sangüí-
nea, podendo provocar efeitos adversos nos órgãos-alvo.
diluição, como dispersante e na limpeza a seco. Mas seu uso também pode estar relacionado a combus-
tíveis, alimentos, drogas de uso abusivo, bebidas, explosivos e poluentes.
Sua absorção pode ocorrer de maneira rápida pela via inalatória ou cutânea e menos comumente
através de sua ingestão. Sua distribuição ocorre de acordo com o teor de lipídios e o mecanismo de
vascularização. Os tecidos adiposos e outros, ricos em lipídios, são depósitos para armazenamento. Seu
metabolismo geralmente é hepático. Sua excreção se dá pela urina, fezes e pelo ar expirado.
Álcoois
Os álcoois estão divididos em etanol, metanol e glicol. O etanol pode apresentar numerosos efei-
tos adversos. É capaz de provocar intoxicação aguda, como nos casos de embriaguez e no abuso crô-
nico do álcool, podendo causar dependência. Fetos também podem sofrer as conseqüências do álcool
durante a gestação e, quando nascem, frequentemente sofrem da Síndrome Alcoólica Fetal, causada
pela abstinência, conhecida nos adultos como Delirium tremens.
O metanol, também conhecido como álcool metílico ou álcool da madeira, líquido, inflamá-
vel, é obtido através da destilação de madeiras ou pela reação do gás de síntese, vindos de origens fósseis
como o gás natural, passando por um catalisador metálico a altas temperaturas e pressões. É utilizado como
solvente na indústria de plásticos, na extração de produtos animal e vegetal, também na indústria farma-
cêutica, no preparo de hormônios e vitaminas. Pode ser usado também como combustível e no preparo do
biodiesel. Apresenta metabolismo muito lento nos primatas. Quando inalado provoca leve irritação às mu-
cosas e membranas. Os sintomas da exposição incluem dor de cabeça, náusea, vômito, e coma, podendo
levar à morte. Devido a sua alta toxicidade no nervo óptico, quando afeta a retina pode causar cegueira.
O etileno glicol (etanodiol) é bastante nefrotóxico. Pode levar à deficiência de cálcio, levando o
doente a se submeter à hemodiálise, além de poder apresentar alta toxicidade no sistema reprodutivo.
O benzeno foi descoberto em 1825, por Michael Faraday, no gás da iluminação usado em Lon-
dres, na ocasião. Aproximadamente 50% do benzeno inalado é absorvido, e sua baixa solubilidade em
água provoca expansão dos tecidos adiposos. Com intoxicação aguda, os efeitos são essencialmente
devido à ação no sistema nervoso central. Em concentração moderada, os sintomas são desmaios, ou
um estado de confusão, excitação e palidez, seguido de fraqueza, dor de cabeça e sensação de morte
iminente. Em concentrações altas os sintomas são de excitação e euforia, seguido de cansaço, fadiga e
sonolência. Se a vítima não for atendida nessa fase, problemas respiratórios ocorrem associados a con-
trações musculares, convulsões e morte. O maior efeito atribuído à exposição crônica são os efeitos ao
sistema nervoso central, que podem levar a vítima à leucemia.
A exposição ocupacional do benzeno se dá em refinarias de petróleo, em petroquímicas, em co-
querias, nos distribuidores de combustíveis, nas indústrias de couro, em laboratórios químicos e bioló-
gicos. A exposição extra-ocupacional ocorre no ato de inalar a fumaça do cigarro e da poluição do trá-
fego veicular. Na metabolização, o benzeno é distribuído para várias partes do corpo, tais como medula
óssea, sangue, tecido adiposo e fígado. É também transportado do sangue para os pulmões. Cerca de
12% do benzeno absorvido é eliminado inalterado pelos pulmões, e cerca de 1% pela urina. A meia-
vida do benzeno é estimada em 9 horas, mas esses valores podem alcançar também 24 horas, porque o
benzeno tende a se depositar no tecido adiposo, de onde é lentamente liberado.
Na intoxicação aguda, os sintomas mais evidentes são mais evidentes no SNC, enquanto na into-
xicação crônica o efeito mais relevante está a cargo do sistema hematopoiético, caracterizado por uma
menor produção de eritrócitos, leucócitos e plaquetas pela medula, características da anemia aplásica,
além da indução de leucemia mielóide aguda. O benzeno é um líquido inflamável, incolor, que pode ser
de odor agradável, carcinógeno não-genotóxico.
O tolueno é um hidrocarboneto aromático volátil e incolor, com amplo uso industrial, na-
turalmente presente no petróleo. É um dos solventes produzidos em maior quantidade. Cerca de
92% do tolueno obtido é utilizado na produção de gasolina. O restante, purificado como tolue-
no comercial, é empregado na elaboração de produtos químicos. Muitas tintas, colas, polidores,
diluentes, desengordurantes e removedores contêm essa substância como seu principal constituinte.
É um solvente que atua sobre o SNC em exposições agudas e crônicas. Apresenta ação irritante sobre pele
e mucosas e seus efeitos agudos são semelhantes aos decorrentes da intoxicação etanólica: efeitos estimu-
lantes, seguidos de depressão do SNC. Em exposições crônicas, pode provocar hepatotoxicidade, nefrotoxi-
cidade e perda auditiva. Estudos sobre a exposição crônica ao tolueno a baixas concentrações demonstram
mudanças neurocomportamentais e exposições a altas concentrações podem ocasionar não apenas defi-
ciência de atenção e concentração, mas também déficit motor.
O controle e a prevenção da exposição a esse solvente é realizado através de medidas de controle
ambiental, com uso de roupas impermeáveis, luvas, óculos de segurança e máscaras com filtro químico.
Adicionalmente, tendo em vista seus efeitos tóxicos, todos os trabalhadores com risco de exposição ao
tolueno devem realizar monitorização biológica por meio de exames toxicológicos para avaliar seu grau
de exposição a esse solvente. A norma regulamentadora (NR) 7, da Secretaria de Segurança e Medicina
do Trabalho do Ministério do Trabalho, indica o ácido hipúrico (AH) urinário como indicador de exposi-
ção ocupacional ao tolueno. O AH é o metabólito do tolueno encontrado em maior concentração na uri-
na e seus níveis estão diretamente relacionados aos níveis de tolueno no ambiente, sendo considerado
adequado como biomarcador de exposição a esse solvente. De acordo com a NR 7, o valor de referência
(VR) para o AH é 1,5 grama de AH por grama de creatinina, e seu Indice Biológico Máximo Permitido
(IBMP) é 2,5 gramas de AH por grama de creatinina.
32 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Atividades
1. Os riscos ocupacionais podem ser representados por:
I. substâncias químicas.
II. ruídos elevados.
III. temperaturas altas ou baixas demais.
IV. depressão.
V. problemas socioeconômicos.
pesados possuem elevado índice de absorção gastrintestinal. Vale ressaltar, no entanto, que vários desses
metais são necessários e fundamentais para o crescimento de todos os tipos de seres vivos, desde colônias
de bactérias até mesmo o ser humano. Logicamente, esses metais pesados devem estar presentes em
uma determinada dose, acima da qual começam a aparecer sinais e sintomas de intoxicação.
Recentemente, vários casos de intoxicação por metais pesados foram registrados. As principais
ocorrências foram com idosos e crianças. O acúmulo desses metais em rios e solos, entretanto, fez com
que o número de lotes e populações fosse afetado, gerando um número também preocupante. Tendo
em vista o efeito gradativo e cumulativo da presença dos metais pesados no organismo, há pouca in-
formação precisa sobre riscos e conseqüências da contaminação por esses metais para a saúde humana
numa perspectiva em longo prazo.
Os metais pesados podem ser classificados em:
::: Elementos essenciais – cálcio, ferro, zinco, cobre, níquel e magnésio.
::: Microcontaminantes ambientais – arsênico, chumbo, cádmio, mercúrio, tungstênio, alumí-
nio, titânio, estanho.
::: Mistos – cromo, zinco, ferro, cobalto, manganês e níquel.
Chumbo
O chumbo foi um dos primeiros metais que o homem aprendeu a usar. Há evidências de que já
era utilizado na Ásia Menor em meados do ano 2000 a.C. Assim, como o chumbo já é utilizado há tanto
tempo, a história da intoxicação por chumbo é vasta e bem relatada. Hipócrates foi o primeiro a relacio-
nar o chumbo como causa de doença ocupacional, ao estudar alguns mineiros. Na Idade Média, pouco
se falou sobre a intoxicação por esse metal. O assunto retornou à literatura médica com Paracelsus, no
século XVI, com a descrição da “doença dos mineiros”. Dentre as várias descrições e estudos, destaca-se
a obra de Tanquerel, que em 1839 realizou a primeira descrição moderna da intoxicação por chumbo, ao
analisar mais de 1 200 casos. Esse estudo foi tão detalhado que, até hoje, muito pouco foi acrescentado
no que tange aos sinais e sintomas clínicos.
A intoxicação por chumbo tem o nome de plumbismo ou saturnismo. Ela ocorre devido, espe-
cialmente, à exposição prolongada, muito comum em áreas industriais e pode ser causada devido a
compostos inorgânicos utilizados em inúmeras indústrias e atividades. Dentre as quais, pode-se citar
a indústria extrativa, petrolíferas, baterias, tintas e corantes, cerâmica, cabos, tubulações e munições. A
intoxicação pode também ocorrer se o chumbo for incorporado ao cristal na fabricação de copos, jarras
e outros utensílios, no intuito de fornecer brilho e durabilidade, sendo incorporado aos alimentos e be-
bidas durante o processo de industrialização, ou mesmo no preparo doméstico.
O chumbo pode penetrar no organismo através de diversas maneiras. As mais comuns são pelas
vias respiratória, cutânea ou digestiva. A partir do momento em que está dentro do corpo, o chumbo
pode se distribuir por todo organismo, sendo excretado pelos rins, biles, suor e até mesmo pelo leite
materno. Seu acúmulo é lento e progressivo, sendo que cerca de 90% do depósito total de chumbo no
organismo acumula-se nos ossos, havendo concorrência direta com o cálcio. O restante desse metal
deposita-se no sangue e em partes moles, especialmente nos rins e no cérebro. O chumbo tem a pro-
Metais pesados | 37
priedade de atravessar facilmente a placenta, o que faz com que a concentração sanguínea da mãe seja
similar à do feto.
O quadro clínico da intoxicação por chumbo varia de acordo com diversos fatores, como o tempo
e nível de exposição ambientais, uso de equipamento de proteção individual e coletiva, além de fatores
individuais. As principais manifestações ocorrem no trato gastrintestinal, sistema hematopoiético, siste-
ma nervoso (central e periférico) e rins.
A intoxicação crônica é a mais comum, tendo o quadro progressivo e insidioso. No início, nor-
malmente aparecem sintomas gerais e inespecíficos, tais como fraqueza, dores musculares, dores em
membros inferiores, insônia, fadiga, irritabilidade, perda progressiva de memória, dores abdominais e
cefaléia. Na grande maioria das vezes, observa-se que o paciente tem uma história ocupacional de ex-
posição prolongada ao metal e poucas e inadequadas medidas de segurança.
Os principais sintomas ocorrem no trato gastrointestinal, com a presença da cólica intestinal in-
tensa como principal sintoma. Pode haver diarréia ou constipação, sendo esta mais comum que aquela,
como também a presença de úlceras, gastrite e perda de apetite. No sistema ósteo-muscular, a gota é
muito comum, devido a um aumento no nível de ácido úrico sanguíneo. Pode também haver dores nas
articulações. No sistema cardiovascular, é comum o trabalhador começar a apresentar hipertensão ar-
terial. Em relação ao sistema nervoso, o trabalhador com intoxicação por chumbo pode apresentar um
quadro denominado encefalopatia satúrnica, cujos sinais e sintomas variam desde alterações psicoló-
gicas e de conduta leves até alterações neurológicas graves. Pode também apresentar quadros depres-
sivos, déficit de concentração, de inteligência e de habilidades visuais e motoras. Pode haver um com-
prometimento de nervos motores, e o sintoma mais freqüente é a debilidade dos músculos extensores,
sendo essa a causa de alteração na força das mãos. Isso pode evoluir para um quadro denominado
paralisia satúrnica, no qual a pessoa perde o movimento das mãos.
Para realizar o diagnóstico da intoxicação por chumbo, é fundamental que seja feita uma anam-
nese ocupacional muito detalhada, ou seja, que seja pesquisado minuciosamente os sinais e sintomas
e que haja descrição completa do ambiente de trabalho para saber se a fonte geradora da doença foi
o ambiente laboral. Também o exame clínico minucioso e alguns exames complementares são primor-
diais para realizar o diagnóstico de maneira adequada.
Na anamnese ocupacional, primeiramente, deve-se buscar um relato completo e detalhado do
trabalhador sobre sua atividade. Cabe também ao médico examinador a avaliação das condições de tra-
balho, ou seja, observar se há o risco da contaminação pelo metal em questão. Após a análise dos sinais
e sintomas, também é útil buscar sinais e sintomas semelhantes nos colegas de trabalho. No exame clí-
nico, o achado mais peculiar do saturnismo é a linha de Burton. Esse sinal corresponde a uma coloração
negra na gengiva, que são os depósitos dos sais de chumbo.
Os exames laboratoriais complementares para o diagnóstico de saturnismo podem ser gerais ou
específicos. Nos exames gerais, além do aumento dos níveis de ácido úrico, conforme anteriormente
mencionado, pode ocorrer uma redução nos níveis de hemoglobina e eritrócitos, o que gera anemia.
Entre os exames específicos, o chumbo sérico é o mais importante entre eles. Espera-se que o valor de
chumbo encontrados no sangue de um adulto seja inferior a 30mg/dL, e em crianças abaixo de 25mg/
dL. O contrário fala a favor de intoxicação plúmbica, principalmente se os níveis estiverem acima de
60mg/dL, quando provavelmente a pessoa afetada apresentará sinais de toxicidade. Também são úteis
a dosagem do chumbo urinário, cujo valor de referência é inferior a 65mg/dL, com limite de 150mg/
dL, do Ácido Delta Aminolevulínico, cujos valores de referência e de limite são 4,5mg/dL e 15mg/dL,
38 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Mercúrio
A utilização em larga escala do mercúrio para fins industriais e o emprego de compostos mer-
curiais durante décadas na agricultura resultaram num substancial aumento na contaminação am-
biental, especialmente da água e dos alimentos. A intoxicação por mercúrio também recebe o nome
de hidrarginismo. Historicamente, na Inglaterra do início do século XIX, os fabricantes de chapéu de
feltro utilizavam uma substância chamada nitrato de mercúrio no processo de feltração. A exposição
Metais pesados | 39
contínua começou a fazer com que esses chapeleiros começassem a ter espasmos, convulsões, tre-
mores e distúrbios psiquiátricos. Esse episódio ficou conhecido como “loucura dos chapeleiros”, e foi
imortalizado por Lewis Carroll, em 1845, em sua obra Alice no País das Maravilhas, com o personagem
“Chapeleiro Maluco”.
O mercúrio possui algumas particularidades em relação aos demais metais pesados. Ele é o único
metal líquido à temperatura ambiente. Todos os seres vivos estão expostos a esse metal devido à po-
luição ambiental, especialmente em lixões, esgotos domésticos e urbanos e rios próximos a empresas
que têm no mercúrio uma de suas matérias-primas. Os maiores riscos de exposição profissional se dão
com os vapores de mercúrio e seus compostos inorgânicos. O metal encontra-se presente em diver-
sos equipamentos, como aparelhos de aferição em laboratórios e hospitais (termômetros, barômetros),
amálgama, garimpo e fabricação de lâmpadas, por exemplo. Embora ainda se encontre o mercúrio em
uma quantidade significativa no meio ambiente, percebe-se uma preocupação cada dia maior com esse
metal, que aos poucos vem sendo substituído por outras substâncias similares e menos tóxicas.
O metilmercúrio, que corresponde ao mercúrio inorgânico biotransformado por bactérias, é o
principal responsável pelas intoxicações ambientais. Ele é responsável pela contaminação de peixes e
outros alimentos e possui grande afinidade com o sistema nervoso central.
As vias de penetração do mercúrio no corpo humano em intoxicações profissionais são as mais
diversas. A mais comum é a via respiratória. O trabalhador inala o metal em forma de vapores e pó,
sendo a absorção pulmonar responsável por cerca de 80% do mercúrio inalado. Ele também tem a
propriedade de cruzar a placenta, o que faz com que o feto possua o mesmo nível sérico de mercúrio se
comparado com a mãe.
A intoxicação por mercúrio pode ocorrer tanto na forma aguda como também de maneira crônica.
As exposições ocupacionais podem ser caracterizadas como agudas e crônicas, enquanto as exposições
ambientais são, normalmente, crônicas. Na intoxicação aguda, a pessoa pode apresentar problemas
respiratórios, tais como bronquiolite e mesmo pneumonia, além de edema pulmonar agudo, que pode
ser associado a sintomas do sistema nervoso central, como tremores e excitabilidade. Pode ocorrer leve
dor abdominal, vômitos, diarréia com sangue. Também há o risco de colapso circulatório, com falência
renal, além de dificuldades na marcha, paralisia, redução do campo visual, com déficit visual e auditivo.
Nas intoxicações crônicas, pode ocorrer a chamada “tríade mercurial”, que consiste em gengivo estoma-
tite, tremores e eretismo, ou seja, insônia, perda de apetite, timidez, perda de memória e instabilidade
ocupacional. O sistema nervoso central é o mais afetado, havendo alterações psíquicas como as mais
precoces. Também pode haver perda de peso, cefaléia, irritabilidade, depressão, rubor facial, sudorese
intensa e tremores persistentes, com comprometimento na fala e na escrita.
O diagnóstico também se dá a partir de uma anamnese completa, clínica e ocupacional, exame
físico detalhado e eventuais exames complementares. Na anamnese, além dos sintomas detalhados,
deve-se investigar o processo de trabalho, o modo como vem sendo executado, o tipo de exposição,
bem como os meios de controle no processo produtivo ou exposição ambiental. No exame clínico, pro-
cura-se alterações no sistema nervoso, psíquico, além de análise da escrita e investigação minuciosa da
cavidade oral. O exame complementar mais importante é o mercúrio sérico, com parâmetros referen-
ciais de no máximo 5mg/dL. Também o mercúrio na urina e mesmo a dosagem de mercúrio no cabelo
podem auxiliar o diagnóstico. Um hemograma e provas de função hepática e renal são exames mais
inespecíficos, mas que se mostram alterados em caso de intoxicação por mercúrio. Temos o etilismo, a
esclerose múltipla e as neuroses como diagnósticos diferenciais.
40 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
O afastamento do local de exposição é a medida mais importante. Também, nesse caso, devem
ser prescritos quelantes. Nos casos mais graves, apenas com a respiração artificial associada o tratamen-
to pode obter sucesso.
Como medidas de prevenção, o ambiente deve ser observado para haver segurança na exposi-
ção, além de haver necessidade de reavaliação dos equipamentos de proteção individuais e coletivas.
Também é importante o rastreamento de outros funcionários com a mesma patologia para detectar
problemas no ambiente de trabalho.
O prognóstico da intoxicação por mercúrio, em casos iniciais é favorável. O simples afastamento
do trabalhador de seu posto gera regressão dos sintomas e sinais. Em casos crônicos, o quadro clínico
tende a estacionar, mesmo com o afastamento, observando-se melhora lenta e gradual.
Níquel
O níquel é um dos produtos mais sensibilizantes conhecidos. Ele é um metal utilizado na fabrica-
ção de aços, fitas magnéticas, catalisador de óleos e gorduras, produtos dentários, cunhagem de moe-
das, galvanização, além de ser um catalisador também na indústria de petróleo, de plásticos e de borra-
cha. Os principais órgãos afetados na intoxicação por níquel são os olhos, a pele e os pulmões, através
da conjuntivite, dermatite e asma brônquica.
Cromo
O cromo e seus respectivos compostos são largamente usados na metalurgia, nas indústrias pro-
cessadoras de cromita, aços inoxidáveis, indústrias galvânicas, curtumes, indústrias têxteis e em diversos
pigmentos. Também pode ser encontrado na construção civil, como impureza do cimento. São encontra-
dos como cromo II (bivalente), cromo III (trivalente) e cromo VI (hexavalente), sendo este o mais tóxico.
O quadro clínico da intoxicação por cromo é diversificado. Em caso de ingestão aguda, pode
ocorrer um colapso circulatório, podendo chegar ao choque. Também pode afetar a pele, com der-
matites agudas, com manifestações como descoloração amarelada. Há a possibilidade de ulceração e
perfuração do septo nasal. Outras manifestações clínicas possíveis são ulcerações e hemorragia do trato
gastrintestinal, hepatites e anemia.
Arsênio
O arsênio é considerado um problema de saúde pública em países em desenvolvimento. Esse
metal é um contaminante de fontes de água, por exemplo. Utilizado na metalurgia, na indústria de vi-
dros, na indústria elétrica e, antigamente, também era usado como veneno para insetos. Sua toxicidade
relaciona-se com a inibição de enzimas sulfidrílicas e desacoplamento da cadeia respiratória. As princi-
Metais pesados | 41
pais patologias são a hiperqueratose, indicando intoxicação crônica, bem como neoplasias de pele, de
fígado, de rins, de bexiga e de cólon. Ao exame clínico, podem ser observadas as linhas de Aldrich-Mees,
presentes nas unhas das mãos após cerca de cinco semanas de ingestão aguda.
Texto complementar
Higiene e toxicologia ocupacional
Metais pesados
(COLACIOPPO, 2001)
[...]
Caracterização da exposição
A exposição ocupacional a metais pesados pode ser observada em diversos locais e atividades.
Citamos a seguir os principais metais pesados em relação ao número de expostos e alguns exem-
plos de atividades que envolvem exposição ocupacional.
::: Arsênico: fabricação de ligas metálicas, pigmentos e reagentes.
::: Cádmio: solda prata e tratamento de superfícies.
::: Chumbo: fabricação e reforma de baterias de chumbo/ácido. Têmpera e trefilação de
metais. Fundição de ligas de bronze e similares.
::: Cobre: galvanoplastia, solda MIG e oxi-acetileno.
::: Cromo: galvanoplastia, solda em aço inoxidável, fabricação de tintas e pintura.
::: Ferro: fundição de ferro, soldas em geral, em ferro ou aço.
::: Manganês: solda MIG, fundição de ferro.
::: Mercúrio: fabricação de lâmpadas, garimpo, odontologia.
::: Níquel: Galvanoplastia, solda em aço inoxidável.
::: Zinco: galvanoplastia, solda oxi-acetileno.
Outros metais ainda podem ser identificados, porém com menor importância toxicológica, ou
de pouca utilização no Brasil, como o cobalto e o molibdênio, e a relação anterior não tem a preten-
são de ser completa nem de citar todos os locais ou atividades que podem originar uma exposição
ocupacional a metais pesados mas nos dá uma idéia da diversidade desses locais ou atividades.
Uma vez identificada a presença de um metal em um local de trabalho ou atividade deve-se
conhecer sua toxicidade, que é a capacidade de provocar um efeito deletério, quando introduzido
no organismo humano e por este absorvido e verificar a possibilidade de exposição ocupacional, ou
42 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
seja o risco ou periculosidade que é a capacidade ou probabilidade do metal sair de onde se encon-
tra e penetrar no organismo humano e lá atingir os sítios de ação e provocar um efeito nocivo.
::: Tão ou mais importante como saber qual a composição química dos metais envolvidos é
saber qual a forma de utilização. Nesta fase deve-se ter conhecimento prévio do local ou
atividade ou realizar uma visita prévia onde serão levantados dados fundamentais para o
estabelecimento de uma estratégia de amostragem [...]
Avaliação da exposição
Com estes e outros dados pode-se estabelecer uma estratégia de amostragem, pela qual se es-
tabelece o número de amostras e funcionários a serem avaliados, dias e períodos a serem medidos,
equipamentos a serem utilizados na coleta de amostras, análises químicas e estatísticas a serem
efetuadas.
Basicamente, a população deve ser dividida em grupos homogêneos em relação ao risco e em
cada grupo é feita uma amostragem adequada segundo critérios estatísticos, geralmente segundo
o Manual de Estratégias de Amostragem do NIOSH. [...]
Para cada trabalhador amostrado dentro de um grupo homogêneo é calculada ou estimada a
média ponderada pelo tempo (individual). A seguir é calculada uma média geométrica que é atri-
buída ao grupo como um todo.
Dessa forma, verifica-se que avaliação ambiental não é uma atividade simples de medição de
concentração, muito mais que medir a concentração de um agente químico no ar, deve-se estimar
a exposição ocupacional a este agente. Considerando este âmbito bem maior, na prática da Higiene
Ocupacional diversas questões são freqüentemente formuladas e que deveriam ser respondidas
adequadamente, sob pena de se comprometer todo o processo de avaliação.
Exemplos:
::: Onde avaliar?
::: Quantas amostras coletar?
::: Quantos funcionários avaliar?
::: Por quanto tempo coletar uma amostra?
::: Quando avaliar novamente?
::: A avaliação ambiental deve ser simultânea com a avaliação biológica?
Para responder essas e outras questões similares, deve-se planejar o processo de avaliação e
executá-lo adequadamente. Para tal, diversas etapas devem ser seguidas de forma sistemática:
::: Definição do objetivo da avaliação.
::: Conhecimento dos locais de trabalho e atividades a avaliar.
::: Identificação das substâncias presentes e reconhecimento do risco de exposição.
Metais pesados | 43
Atividades
1. Você foi fazer um reconhecimento de área em uma região de extração de ouro. Conversando com
um trabalhador, você percebe que ele está tremendo. Existem algumas lesões em seu lábio e ele
se queixa de aftas recorrentes. Também diz não dormir bem, e vem perdendo peso devido à falta
de apetite. Nesse momento, o trabalhador começa a chorar. Você descobre que esse trabalhador
exerce a mesma função há mais de 10 anos. Qual é a possível causa desse quadro e qual é a me-
lhor conduta nesse caso?
a) Trata-se de um portador de HIV, que deve buscar auxílio médico urgente para evitar a progres-
são dos sintomas da infecção propriamente dita (aids).
Metais pesados | 45
Somente em 1968 tais institutos de previdência foram unificados, nascendo, por meio da Lei
5.316, de 14 de novembro de 1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), vinculado ao Mi-
nistério do Trabalho.
Em 1977, foi alterado o texto da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), determinando ser da
competência do Ministério do Trabalho as questões sobre Segurança e Medicina do Trabalho.
Como conseqüência, nasciam as Normas Regulamentadoras (NRs) até hoje existentes, as quais
traçam as diretrizes para a organização e manutenção dos SESMT obrigatório em todas as empresas.
Especificamente para os SESMT foi criada a NR 4 (redação dada pela Portaria 33, de 27 de outubro
de 1983).
Assim sendo, é primordial que a atividade desenvolvida pelo Serviço de Medicina do Trabalho te-
nha também o seu trabalho baseado nos Códigos de Ética Médica e de Conduta do Médico do Trabalho.
Observa-se, ainda, que muitos dos serviços de Medicina Ocupacional restringem-se à atuação
relacionada a atendimento a acidentes de trabalho e, eventualmente, consultas médicas admissionais,
periódicas e demissionais.
O Serviço de Medicina do Trabalho deve ir além de tais serviços, com funções de prevenção, pro-
tegendo a saúde do trabalhador e, por conseqüência, a manutenção da força produtiva de trabalho.
É claro que muitos dos serviços devem respeitar a região em que as empresas estão situadas, mui-
tas delas em locais de difícil acesso, onde sequer existem médicos ou materiais e serviços de saúde.
É possível citar algumas das muitas atribuições que podem ser delegadas ao Serviço de Medicina
do Trabalho:
::: exames médicos admissionais;
::: exames médicos demissionais;
::: exames médicos periódicos;
::: exames médicos especiais;
::: produção de educação sanitária;
::: informação, divulgação e educação;
::: programas de nutrição;
::: programas de vacinação;
::: estatísticas epidemiológicas;
::: controle de absenteísmo por entidade nosológica;
::: controle estatístico dos acidentes de trabalho;
::: participação nas reuniões da CIPA;
::: organização de cursos de socorros básicos de emergência para os trabalhadores;
::: cursos técnicos de reciclagem para o pessoal paramédico, quando houver;
::: exames e controles biométricos;
::: programas de controles especiais relacionados à conservação auditiva, estresse, alcoolismo,
doenças sexualmente transmissíveis, aids, pré-natal, drogas, dentre outras;
::: visitas e inspeções periódicas;
::: auditorias e assessorias;
::: programas de reabilitação, adaptação e serviços compatíveis.
Considerando a gama dos serviços realizados no ambiente da empresa, é necessário uma total
integração do médico do Trabalho com todos os setores da empresa, o que se estabelece por meio de
contatos e visitas regulares, elaborando anotações específicas para acompanhamento.
50 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Organização
Para regular o início das atividades a serem desenvolvidas pelo Serviço de Medicina do Traba-
lho, é preciso elaborar normas de procedimentos destinadas ao pessoal médico, paramédico e ad-
ministrativo, visando uniformizar procedimentos. Tais normas devem ser escritas e ficar à disposição
para consulta.
É preciso criar um banco de dados, de preferência na forma informatizada, de fácil acesso, para
inclusão de dados e controle para manutenção de dados estatísticos pelo pessoal do setor. Nesse banco
de dados devem constar o número de consultas diárias, afastamentos, acidentes de trabalho, medica-
mentos administrados, dentre outros.
Vários são os formulários a serem preenchidos, os quais irão compor o banco de dados mencio-
nado e formarão o arquivo do serviço. Nesse arquivo deverão ser mantidos os prontuários médicos,
devidamente envelopados e constituídos pelos exames admissional, periódico, de seguimento médico
e demissional, se for o caso, formulário de exame biométrico, dentre outros.
Segundo a Portaria 3.214, de junho de 1978, do Ministério do Trabalho, pela NR 4 há previsão de
efetivo médico e paramédico para compor o Serviço de Medicina em tela.
Recomenda-se que sejam elaborado, com freqüência regular, cálculo de custos das atividades
realizadas pelo Serviço de Medicina do Trabalho.
Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 51
4.2.1.2. Para os técnicos de Segurança do Trabalho e auxiliares de Enfermagem do Trabalho, o dimensionamento será
feito por canteiro de obra ou frente de trabalho, conforme o Quadro II, anexo. (104.004-9/I1)
4.2.2. As empresas que possuam mais de 50 (cinqüenta) por cento de seus empregados em estabelecimentos ou se-
tores com atividade cuja gradação de risco seja de grau superior ao da atividade principal deverão dimensionar os
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, em função do maior grau de risco,
obedecido o disposto no Quadro II desta NR. (104.005-7/I1)
4.2.3. A empresa poderá constituir Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho cen-
tralizado para atender a um conjunto de estabelecimentos pertencentes a ela, desde que a distância a ser percorrida
entre aquele em que se situa o serviço e cada um dos demais não ultrapasse a 5 (cinco) mil metros, dimensionando-o
em função do total de empregados e do risco, de acordo com o Quadro II, anexo, e o subitem 4.2.2.
4.2.4. Havendo, na empresa, estabelecimento(s) que se enquadre(m) no Quadro II, desta NR, e outro(s) que não se
enquadre(m), a assistência a este(s) será feita pelos serviços especializados daquele(s), dimensionados conforme os
subitens 4.2.5.1 e 4.2.5.2 e desde que localizados no mesmo estado, território ou Distrito Federal. (104.006-5/I2)
4.2.5. Havendo, na mesma empresa, apenas estabelecimentos que, isoladamente, não se enquadrem no Quadro II,
anexo, o cumprimento desta NR será feito através de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Me-
dicina do Trabalho centralizados em cada estado, território ou Distrito Federal, desde que o total de empregados dos
estabelecimentos no estado, território ou Distrito Federal alcance os limites previstos no Quadro II, anexo, aplicado o
disposto no subitem 4.2.2. (104.007-3/I1)
4.2.5.1. Para as empresas enquadradas no grau de risco 1 o dimensionamento dos serviços referidos no subitem 4.2.5
obedecerá ao Quadro II, anexo, considerando-se como número de empregados o somatório dos empregados existen-
tes no estabelecimento que possua o maior número e a média aritmética do número de empregados dos demais esta-
belecimentos, devendo todos os profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho, assim constituídos, cumprirem tempo integral. (104.008-1/I1)
4.2.5.2. Para as empresas enquadradas nos graus de risco 2, 3 e 4, o dimensionamento dos serviços referidos no subitem
4.2.5 obedecerá o Quadro II, anexo, considerando-se como número de empregados o somatório dos empregados de
todos os estabelecimentos. (104.009-0/I1)
4.3. As empresas enquadradas no grau de risco 1 obrigadas a constituir Serviços Especializados em Engenharia de Se-
gurança e em Medicina do Trabalho e que possuam outros serviços de medicina e engenharia poderão integrar estes
serviços com os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho constituindo um
serviço único de engenharia e medicina.
4.3.1. As empresas que optarem pelo serviço único de engenharia e medicina ficam obrigadas a elaborar e submeter à
aprovação da Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho, até o dia 30 de março, um programa bienal de seguran-
ça e medicina do trabalho a ser desenvolvido.
4.3.1.1. As empresas novas que se instalarem após o dia 30 de março de cada exercício poderão constituir o serviço úni-
co de que trata o subitem 4.3.1 e elaborar o programa respectivo a ser submetido à Secretaria de Segurança e Medicina
do Trabalho, no prazo de 90 (noventa) dias a contar de sua instalação.
4.3.1.2. As empresas novas, integrantes de grupos empresariais que já possuam serviço único, poderão ser assistidas
pelo referido serviço, após comunicação à DRT.
4.3.2. À Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho fica reservado o direito de controlar a execução do programa
e aferir a sua eficácia.
4.3.3. O serviço único de engenharia e medicina deverá possuir os profissionais especializados previstos no Quadro II,
anexo, sendo permitido aos demais engenheiros e médicos exercerem Engenharia de Segurança e Medicina do Traba-
lho, desde que habilitados e registrados conforme estabelece a NR 27. (104.010-3/I1)
4.3.4. O dimensionamento do serviço único de engenharia e medicina deverá obedecer ao disposto no Quadro II desta
NR, no tocante aos profissionais especializados. (104.011-1/I1)
4.4. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão ser integrados por
médico do Trabalho, engenheiro de Segurança do Trabalho, enfermeiro do Trabalho, técnico de Segurança do Trabalho
Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 53
e auxiliar de Enfermagem do Trabalho, obedecendo o Quadro II, anexo.(*) Subitem 4.4 com redação dada p/ Port. 11
(104.012-0/I1)
4.4.1. Para fins desta NR, as empresas obrigadas a constituir Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho deverão exigir dos profissionais que os integram comprovação de que satisfazem os seguintes
requisitos:
a) engenheiro de Segurança do Trabalho – engenheiro ou arquiteto portador de certificado de conclusão de curso de
especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, em nível de pós-graduação;
b) médico do Trabalho – médico portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Medicina do Tra-
balho, em nível de pós-graduação, ou portador de certificado de residência médica em área de concentração em saúde
do trabalhador ou denominação equivalente, reconhecida pela Comissão Nacional de Residência Médica, do Ministé-
rio da Educação, ambos ministrados por universidade ou faculdade que mantenha curso de graduação em Medicina;
c) enfermeiro do Trabalho – enfermeiro portador de certificado de conclusão de curso de especialização em Enfer-
magem do Trabalho, em nível de pós-graduação, ministrado por universidade ou faculdade que mantenha curso de
graduação em Enfermagem;
d) auxiliar de Enfermagem do Trabalho – auxiliar de Enfermagem ou técnico de Enfermagem portador de certificado
de conclusão de curso de qualificação de auxiliar de Enfermagem do Trabalho, ministrado por instituição especializada
reconhecida e autorizada pelo Ministério da Educação;
e) técnico de Segurança do Trabalho: técnico portador de comprovação de registro profissional expedido pelo Minis-
tério do Trabalho.
4.4.1.1. Em relação às Categorias mencionadas nas alíneas “a” e “c”, observar-se-à o disposto na Lei 7.410, de 27 de no-
vembro de 1985.
4.4.2. Os profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
deverão ser empregados da empresa, salvo os casos previstos nos itens 4.14 e 4.15. (104.013-8/I1)
4.5. A empresa que contratar outra(s) para prestar serviços em estabelecimentos enquadrados no Quadro II, anexo,
deverá estender a assistência de seus Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
aos empregados da(s) contratada(s), sempre que o número de empregados desta(s), exercendo atividade naqueles
estabelecimentos, não alcançar os limites previstos no Quadro II, devendo, ainda, a contratada cumprir o disposto no
subitem 4.2.5. (104.014-6/I1)
4.5.1. Quando a empresa contratante e as outras por ela contratadas não se enquadrarem no Quadro II, anexo, mas que
pelo número total de empregados de ambos, no estabelecimento, atingirem os limites dispostos no referido quadro,
deverá ser constituído um serviço especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho comum, nos
moldes do item 4.14. (104.015-4 / I2)
4.5.2. Quando a empresa contratada não se enquadrar no Quadro II, anexo, mesmo considerando-se o total de empre-
gados nos estabelecimentos, a contratante deve estender aos empregados da contratada a assistência de seus Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, sejam estes centralizados ou por estabeleci-
mento. (104.016-2/I1)
4.5.3. A empresa que contratar outras para prestar serviços em seu estabelecimento pode constituir SESMT comum
para assistência aos empregados das contratadas, sob gestão própria, desde que previsto em Convenção ou Acordo
Coletivo de Trabalho.
4.5.3.1. O dimensionamento do SESMT organizado na forma prevista no subitem 4.5.3 deve considerar o somatório dos
trabalhadores assistidos e a atividade econômica do estabelecimento da contratante.
4.5.3.2. No caso previsto no item 4.5.3, o número de empregados da empresa contratada no estabelecimento da con-
tratante, assistidos pelo SESMT comum, não integra a base de cálculo para dimensionamento do SESMT da empresa
contratada.
4.5.3.3. O SESMT organizado conforme o subitem 4.5.3 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente, por Co-
missão composta de representantes da empresa contratante, do sindicato de trabalhadores e da Delegacia Regional do
Trabalho, ou na forma e periodicidade previstas na Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.
54 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
4.6. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho das empresas que operem em
regime sazonal deverão ser dimensionados, tomando-se por base a média aritmética do número de trabalhadores do
ano civil anterior e obedecidos os Quadros I e II anexos. (104.017-0 / I1)
4.7. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão ser chefiados por
profissional qualificado, segundo os requisitos especificados no subitem 4.4.1 desta NR. (104.018-9/I1)
4.8. O técnico de Segurança do Trabalho e o auxiliar de Enfermagem do Trabalho deverão dedicar 8 (oito) horas por dia
para as atividades dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, de acordo com
o estabelecido no Quadro II, anexo. (104.019-7/I1)
4.9. O engenheiro de Segurança do Trabalho, o médico do Trabalho e o enfermeiro do Trabalho deverão dedicar, no
mínimo, 3 (três) horas (tempo parcial) ou 6 (seis) horas (tempo integral) por dia para as atividades dos Serviços Especia-
lizados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, de acordo com o estabelecido no Quadro II, anexo,
respeitada a legislação pertinente em vigor. (104.020-0/I1)
4.10. Ao profissional especializado em Segurança e em Medicina do Trabalho é vedado o exercício de outras atividades
na empresa, durante o horário de sua atuação nos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho. (104.021-9/I2)
4.11. Ficará por conta exclusiva do empregador todo o ônus decorrente da instalação e manutenção dos Serviços Espe-
cializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho. (104.022-7/I2)
4.12. Compete aos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho:
a) aplicar os conhecimentos de Engenharia de Segurança e de Medicina do Trabalho ao ambiente de trabalho e a todos
os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à
saúde do trabalhador;
b) determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco e este persistir, mesmo reduzi-
do, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), de acordo com o que determina a NR
6, desde que a concentração, a intensidade ou característica do agente assim o exija;
c) colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações físicas e tecnológicas da empresa,
exercendo a competência disposta na alínea “a”;
d) responsabilizar-se tecnicamente, pela orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NR aplicáveis às ativida-
des executadas pela empresa e/ou seus estabelecimentos;
e) manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la,
treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5;
f ) promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção
de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, tanto através de campanhas quanto de programas de duração per-
manente;
g) esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, estimulando-os
em favor da prevenção;
h) analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes ocorridos na empresa ou estabelecimento, com
ou sem vítima, e todos os casos de doença ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente e/ou da
doença ocupacional, os fatores ambientais, as características do agente e as condições do(s) indivíduo(s) portador(es)
de doença ocupacional ou acidentado(s);
i) registrar mensalmente os dados atualizados de acidentes do trabalho, doenças ocupacionais e agentes de insalu-
bridade, preenchendo, no mínimo, os quesitos descritos nos modelos de mapas constantes nos Quadros III, IV, V e VI,
devendo a empresa encaminhar um mapa contendo avaliação anual dos mesmos dados à Secretaria de Segurança e
Medicina do Trabalho até o dia 31 de janeiro, através do órgão regional do MTb;
j) manter os registros de que tratam as alíneas “h” e “i” na sede dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho ou facilmente alcançáveis a partir da mesma, sendo de livre escolha da empresa o método
Legislação de Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho | 55
de arquivamento e recuperação, desde que sejam asseguradas condições de acesso aos registros e entendimento de
seu conteúdo, devendo ser guardados somente os mapas anuais dos dados correspondentes às alíneas “h” e “i” por um
período não-inferior a 5 (cinco) anos;
l) as atividades dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina
do Trabalho são essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando se
tornar necessário. Entretanto, a elaboração de planos de controle de efeitos de catástrofes, de disponibilidade de meios
que visem ao combate a incêndios e ao salvamento e de imediata atenção à vítima deste ou de qualquer outro tipo de
acidente estão incluídos em suas atividades.
4.13. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho deverão manter entrosa-
mento permanente com a CIPA, dela valendo-se como agente multiplicador, e deverão estudar suas observações e
solicitações, propondo soluções corretivas e preventivas, conforme o disposto no subitem 5.14.1 da NR 5.
4.14. As empresas cujos estabelecimentos não se enquadrem no Quadro II, anexo a esta NR, poderão dar assistência
na área de Segurança e Medicina do Trabalho a seus empregados através de Serviços Especializados em Engenharia
de Segurança e em Medicina do Trabalho comuns, organizados pelo sindicato ou associação da categoria econômica
correspondente ou pelas próprias empresas interessadas.
4.14.1. A manutenção desses Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho
deverá ser feita pelas empresas usuárias, que participarão das despesas em proporção ao número de empregados
de cada uma.
4.14.2. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho previstos no item 4.14
deverão ser dimensionados em função do somatório dos empregados das empresas participantes, obedecendo ao
disposto nos Quadros I e II e no subitem 4.2.1.2, desta NR.
4.14.3. As empresas de mesma atividade econômica, localizadas em um mesmo município, ou em municípios limítro-
fes, cujos estabelecimentos se enquadrem no Quadro II, podem constituir SESMT comum, organizado pelo sindicato
patronal correspondente ou pelas próprias empresas interessadas, desde que previsto em Convenção ou Acordo Co-
letivo de Trabalho.
4.14.3.1. O SESMT comum pode ser estendido a empresas cujos estabelecimentos não se enquadrem no Quadro II,
desde que atendidos os demais requisitos do subitem 4.14.3.
4.14.3.2. O dimensionamento do SESMT organizado na forma do subitem 4.14.3 deve considerar o somatório dos tra-
balhadores assistidos.
4.14.3.3. No caso previsto no item 4.14.3, o número de empregados assistidos pelo SESMT comum não integra a base
de cálculo para dimensionamento do SESMT das empresas.
4.14.3.4. O SESMT organizado conforme o subitem 4.14.3 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente, por
Comissão composta de representantes das empresas, do sindicato de trabalhadores e da Delegacia Regional do Traba-
lho, ou na forma e periodicidade previstas na Convenção ou Acordo Coletivo de Trabalho.
4.14.4. As empresas que desenvolvem suas atividades em um mesmo pólo industrial ou comercial podem constituir
SESMT comum, organizado pelas próprias empresas interessadas, desde que previsto nas Convenções ou Acordos
Coletivos de Trabalho das categorias envolvidas.
4.14.4.1. O dimensionamento do SESMT comum organizado na forma do subitem 4.14.4 deve considerar o somatório
dos trabalhadores assistidos e a atividade econômica que empregue o maior número entre os trabalhadores assistidos.
4.14.4.2. No caso previsto no item 4.14.4, o número de empregados assistidos pelo SESMT comum não integra a base
de cálculo para dimensionamento do SESMT das empresas.
4.14.4.3. O SESMT organizado conforme o subitem 4.14.4 deve ter seu funcionamento avaliado semestralmente por
Comissão composta de representantes das empresas, dos sindicatos de trabalhadores e da Delegacia Regional do Tra-
balho, ou na forma e periodicidade previstas nas Convenções ou Acordos Coletivos de Trabalho.
4.15. As empresas referidas no item 4.14 poderão optar pelos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho de instituição oficial ou instituição privada de utilidade pública, cabendo às empresas o
custeio das despesas, na forma prevista no subitem 4.14.1.
56 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
4.16. As empresas cujos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho não possuam
médico do trabalho e/ou engenheiro de segurança do trabalho, de acordo com o Quadro II desta NR, poderão se utili-
zar dos serviços destes profissionais existentes nos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medici-
na do Trabalho mencionados no item 4.14 e subitem 4.14.1 ou no item 4.15, para atendimento do disposto nas NR.
4.16.1. O ônus decorrente dessa utilização caberá à empresa solicitante.
4.17. Os serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho de que trata esta NR deverão
ser registrados no órgão regional do MTb. (104.023-5/I1)
4.17.1. O registro referido no item 4.17 deverá ser requerido ao órgão regional do MTb e o requerimento deverá conter
os seguintes dados:
a) nome dos profissionais integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho;
b) número de registro dos profissionais na Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho do MTb;
c) número de empregados da requerente e grau de risco das atividades, por estabelecimento;
d) especificação dos turnos de trabalho, por estabelecimento;
e) horário de trabalho dos profissionais dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho.
4.18. Os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, já constituídos, deverão ser
redimensionados nos termos desta NR e a empresa terá 90 (noventa) dias de prazo, a partir da publicação desta Norma,
para efetuar o redimensionamento e o registro referido no item 4.17. (104.024-3/I1)
4.19. A empresa é responsável pelo cumprimento da NR, devendo assegurar, como um dos meios para concretizar tal
responsabilidade, o exercício profissional dos componentes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança
e em Medicina do Trabalho. O impedimento do referido exercício profissional, mesmo que parcial e o desvirtuamento
ou desvio de funções constituem, em conjunto ou separadamente, infrações classificadas no grau I4, se devidamente
comprovadas, para os fins de aplicação das penalidades previstas na NR 28. (104.025-1/I4)
4.20. Quando se tratar de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviços, considera-se estabelecimento, para fins de
aplicação desta NR, o local em que os seus empregados estiverem exercendo suas atividades.
Texto complementar
Terceirizações
(Macohin, 2008)
Planejamento
A etapa de planejamento deve ser considerada tão importante quanto a atividade que será
objeto da terceirização. A fase inicial é a identificação correta das áreas que deseja terceirizar para o
bom andamento de todo plano de trabalho.
Nas organizações existem diversas áreas que podem ser terceirizadas, cabendo aos administra-
dores identificar o foco do negócio e optar ou não por essa forma de gestão.
Decisão de terceirizar
O fator econômico não deve ser o único quesito a ser analisado e comparado, vários outros
quesitos deverão ser pesados na decisão, como agilidade, cultura organizacional, qualidade e even-
tuais dissabores de uma eventual descentralização.
Uma terceirização mal feita é altamente problemática, pois traz prejuízos enormes de ordem
financeira e para a imagem da organização.
::: deve haver uma sólida relação de equilíbrio entre as partes contratantes.
Os tribunais brasileiros não viam com bons olhos as práticas de terceirização, pois algumas
empresas se utilizavam de práticas abusivas nas contratações, burlando a legislação.
Alguns sindicatos de trabalhadores também não vêem com bons olhos a prática da terceiriza-
ção, pois acabam perdendo filiados e reduzindo a dimensão da categoria.
É fundamental a aplicação dos conceitos apresentados no item III do Enunciado 331 do TST, não
permitindo a pessoalidade e a subordinação direta, ou seja, não são as pessoas que estão sendo con-
tratadas, mas o serviço completo, que deverá ser supervisionado e orientado pela empresa contrata-
da. Da mesma forma não é permitido transmitir ordem diretamente aos funcionários terceirizados.
Cabe à empresa tomadora dos serviços ficar atenta às ocorrências contrárias ao objeto da con-
tratação, devendo comunicar imediatamente à empresa prestadora de serviços para que as irregu-
laridades sejam corrigidas, sob pena de responder como pólo passivo na justiça trabalhista.
Uma fiscalização periódica é recomendável ao contratante, tanto nos aspectos técnicos da
prestação de serviços como documental. Devendo observar alguns quesitos, principalmente o re-
gistro de trabalho e as verbas trabalhistas e ainda um acompanhamento dos recolhimentos devidos
ao INSS, FGTS, PIS, COFINS, IRPJ.
Eventualmente, algumas modificações poderão acontecer na prestação de serviços, mas isto
deve constar de termos aditivos ao contrato original.
O excesso de encargos trabalhistas exigidos pela CLT, em vez de proteger o trabalhador, acaba
por fomentar o desemprego, que em abril de 2004 alcançou o índice recorde de 13,1%. Estima-se
que o registro em carteira encareça em 60% a criação de um posto de trabalho. Para fugir dos en-
cargos e continuar crescendo, muitas empresas optaram por terceirizar parte da força de trabalho.
A medida é viável, mas exige cuidados para não se descumprir a lei.
De acordo com o enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho, só é permitida a terceiri-
zação de funcionários para atividades-meio, não para atividades-fim da empresa. Em uma metalúr-
gica, por exemplo, é possível terceirizar serviços de limpeza e portaria; o trabalho de metalurgia,
jamais. Esse enunciado, adotado pelo TST em 2002, uniformizou as decisões do tribunal nas ações
de prestação de serviços, como os de vigilância e limpeza.
Recentemente, um banco foi questionado, pelo Ministério Público do Trabalho no Rio de Ja-
neiro, por entregar a terceiros o processamento de documentos movimentados nos caixas-auto-
máticos – o que é considerado atividade-fim do banco. A visão do MPT é de que isso caracteriza
relação de emprego (conforme previsto no artigo 3.º da CLT); portanto, o funcionário não poderia
ser tratado e remunerado como terceirizado.
60 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Não acaba aí. Também são condições para a terceirização não haver pessoalidade nem relações
de subordinação e hierarquia entre a empresa tomadora de serviço e o funcionário terceirizado. Por
isso, é bom evitar dar ordens diretas a esse trabalhador e sempre pedir, à empresa terceirizada, a
constante mudança do profissional que fará o serviço, evitando que se caracterize o vínculo empre-
gatício. Isso será levado em conta pelo juiz em casos de disputas judiciais. Em empresas com muitos
funcionários terceirizados, um representante deles deve fazer parte da Cipa (Comissão Interna de
Prevenção a Acidentes) da tomadora de serviços.
Outra exigência é de que a empresa terceirizada seja notificada (e assine documento que
comprove a notificação) sobre riscos de acidentes de trabalho na empresa tomadora de serviço.
Essa, por sua vez, deve fiscalizar o pagamento de salários e direitos trabalhistas dos funcionários
terceirizados, uma vez que pode ser acionada em caso de litígios trabalhistas, solidariamente ou
subsidiariamente. Havendo falhas da empresa no pagamento de FGTS e INSS dos empregados, por
exemplo, a tomadora de serviço pode acabar dividindo a responsabilidade judicial do erro.
Funcionários que se sentirem lesados pela terceirização indevida de sua força de trabalho po-
dem recorrer à Delegacia Regional do Trabalho, orientar-se sobre o assunto e fazer denúncias for-
mais contra empregadora e tomadora de serviços. Em casos mais graves (de maus-cuidados com
higiene, medicina e segurança, por exemplo, por parte das empresas envolvidas), a melhor solução
é procurar o Ministério Público do Trabalho. Se o funcionário efetuar uma denúncia por escrito, será
aberto um inquérito e a tomadora de serviço será chamada para averiguação.
Atividades
1. É importante que dentro de uma empresa se tenha um local para serviço de emergência conten-
do alguns itens, exceto:
a) cardioscópio.
b) eletrocardiógrafo.
c) sistema de aspiração e oxigenação.
d) centro cirúrgico.
NR 1 – Disposições gerais
A NR 1 tem por finalidade estabelecer o campo de aplicação de todas as normas regulamenta-
doras de Segurança e Medicina do Trabalho urbano, assim como os direitos e obrigações do governo,
dos empregadores e dos trabalhadores no que tange a esse tema específico. É ela a responsável por
Normas regulamentadoras | 63
determinar o cumprimento obrigatório das normas regulamentadoras, por todas as empresas, sejam
elas públicas ou privadas, sempre que possuírem empregados no regime celetista.
NR 2 – Inspeção prévia
A NR 2 é a responsável por estabelecer as situações nas quais as empresas deverão solicitar ao Mi-
nistério do Trabalho a realização de inspeção prévia em seus respectivos estabelecimentos, assim como
a maneira de sua realização. Este emitirá um Certificado de Aprovação de Instalações (CAI), de acordo
com um modelo previamente estabelecido. O artigo 160 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a
fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico à existência dessa NR.
NR 3 – Embargo ou interdição
A NR 3 estabelece as situações em que as empresas se sujeitam a sofrer paralisação de seus ser-
viços, máquinas ou equipamentos, bem como os procedimentos a serem observados pela fiscalização
das Delegacias Regionais do Trabalho na adoção de medidas punitivas em relação à Segurança e Saúde
do Trabalho. Essas punições ocorrerão mediante apresentação de um laudo técnico e consistem, além
de interdição ou embargo, a orientação sobre as providências a serem adotadas para prevenção de aci-
dentes do trabalho ou doenças profissionais. O artigo 161 da CLT é o responsável por fornecer o suporte
legal à existência dessa NR.
NR 8 – Edificações
É a NR responsável pela segurança e conforto dos trabalhadores de edificações, através da dispo-
sição dos requisitos técnicos mínimos, de acordo com os artigos 170 a 174 da CLT.
NR 12 – Máquinas e equipamentos
Visando à prevenção de acidentes de trabalho, são estabelecidas medidas de segurança e higiene
do trabalho a serem adotadas pelas empresas em relação à instalação, operação e manutenção de má-
quinas e equipamentos, segundo os artigos 184 e 186 da CLT.
NR 14 – Fornos
É responsável por determinar as recomendações pertinentes à construção, à operação e à manu-
tenção de fornos industriais nos ambientes de trabalho, com base no artigo 187 da CLT.
NR 17 – Ergonomia
Busca proporcionar conforto, segurança e desempenho eficientes por parte dos trabalhadores,
através do estabelecimento de parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
condições psicológicas dos empregados. Os artigos 198 e 199 da CLT fornecem a base legal para a apli-
cação dessa NR.
NR 19 – Explosivos
Com o intuito de proteger a saúde e a integridade física dos trabalhadores em seus respectivos
ambientes de trabalho, essa NR estabelece as disposições sobre o depósito, manuseio e transporte de
explosivo, de acordo com o artigo 200, II, da CLT.
NR 25 – Resíduos industriais
Protege a saúde e integridade física do trabalhador estabelecendo algumas medidas preventivas
a serem impostas pelos empregadores no destino final a ser dado aos resíduos industriais resultantes
dos ambientes de trabalho. Fundamentada também no inciso VII do artigo 200 da CLT.
NR 26 – Sinalização de segurança
Padroniza as cores a serem adotadas como sinalização de segurança nos ambientes de trabalho.
Embasada no artigo 200, VIII, da CLT.
NR 28 – Fiscalização e penalidades
Regulamenta os procedimentos adotados pela fiscalização trabalhista, no que tange à concessão
de prazos às empresas para a correção de irregularidades técnicas e também no que diz respeito ao
procedimento de autuação por infração às NR.
68 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Texto complementar
O Modelo Brasileiro de Segurança e Saúde no Trabalho
No Brasil, os aspectos relacionados com Segurança e Medicina do Trabalho foram disciplinados
pelo Decreto Lei 3.700 (de 09/10/1941) e pelo Decreto 10.569 (de 05/10/1942), porém a legislação
efetiva sobre a matéria veio através do capítulo V do título II da Consolidação das Leis de Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei 5.452, de 1.º de maio de 1943. A Lei 6.514 (22/12/1977) deu nova
redação a todo o capítulo V do Título II da CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho e a
Portaria 3.214 (08/06/1978) aprovou as normas regulamentadoras – NRs (relativas à Segurança e
Medicina do Trabalho) do referido capítulo da CLT. Atualmente existem 32 Normas (NR-1 a NR-32)
que são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos
da Administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário,
que possuam empregados regidos pela CLT. Além disso, as disposições contidas nessas normas
aplicam-se também aos trabalhadores avulsos, às entidades ou empresas que lhes tomem o serviço
e aos sindicatos representativos das respectivas categorias profissionais.
De acordo com a NR1, subitem 1.3, a Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (SSST) é o
órgão de âmbito nacional competente para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as ativi-
dades relacionadas com a Segurança e Medicina do Trabalho, e ainda fiscalizar o cumprimento dos
preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho, através das Delegacias
Regionais do Trabalho (DRT), e impor as penalidades cabíveis por descumprimento destes preceitos
legais, em todo o território nacional. Cabe ao empregador: cumprir e fazer cumprir as disposições
legais e regulamentares sobre Segurança e Medicina do Trabalho, prevenir atos inseguros no de-
sempenho do trabalho e adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condições
inseguras de trabalho. Cabe ao empregado: usar o EPI fornecido pelo empregador e colaborar com
a empresa na aplicação das NRs.
Entre as citadas normas regulamentadoras, a NR18 é a que trata especificamente da Indús-
tria da Construção Civil. Essa norma regulamenta o processo construtivo, do ponto de vista da
segurança e saúde no trabalho, apresentando detalhes referentes às condições seguras na etapa
de execução da obra. Entre os itens que compõem a NR18, destaca-se a obrigatoriedade de ela-
boração e implementação do PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na
Indústria da Construção). Esse programa deve ser elaborado antes do início da obra e implemen-
tado durante a execução da mesma, com cronograma de implantação das medidas preventivas e
programa educativo, e contempla também as exigências contidas na NR9 – Programa de Preven-
ção de Riscos Ambientais (PPRA). Embora a NR18 seja considerada um bom guia para a prática da
segurança e saúde no trabalho em canteiros de obras, pode-se afirmar que suas exigências estão
baseadas em detalhes quantitativos da legislação e da técnica construtiva e não acompanham
a rapidez das mudanças ou inovações tecnológicas que são introduzidas no processo construti-
vo e as especificidades da industria da construção com produtos únicos que implicam em medi-
das interventivas diferenciadas, a cada projeto. O que vem acontecendo na maioria das empresas
Normas regulamentadoras | 71
construtoras é a repetição do PCMAT como procedimento padrão que afinal não é devidamente
implementado, sendo utilizado para atendimento das exigências legais e fiscalização, enfim a boa
idéia transformou-se em mera burocracia.
Através dessa reflexão fica perceptível que as abordagens sobre segurança e saúde no traba-
lho, no Brasil, traduziram-se fundamentalmente em:
::: intervenções coletivas sobre os componentes materiais do trabalho, isto é, nos locais e
equipamentos de trabalho.
::: intervenções sobre o trabalhador, através da vigilância médica.
::: intervenções ao nível de equipamentos de proteção individual do trabalhador.
::: predominância, nas empresas, da cultura de obediência a legislação e de ações pontuais.
b) Criação da coordenação de segurança e saúde que deve atuar na fase de concepção e ela-
boração dos projetos e na fase de execução da obra. Surgiram assim dois novos atores no
processo de construção: o coordenador de projeto e o coordenador de obra;
c) Criação de três novos documentos de prevenção de riscos profissionais: comunicação pré-
via, o plano de segurança e saúde e o plano de intervenções posteriores.
Esse artigo não tem a pretensão de apresentar de forma detalhada essa nova abordagem aqui
denominada “Modelo Europeu”, uma vez que esse não é o objetivo da pesquisa. Cabe aqui apenas
destacar alguns pontos considerados importantes para fundamentar a análise e discussão do atual
“Modelo Brasileiro”.
Nesse sentido, em relação ao primeiro ponto acima citado, é preciso destacar a importân-
cia dessa medida para esse setor, considerando a quantidade e diversidade de intervenientes
que são envolvidos durante todo o ciclo de vida de um empreendimento. Tal diversidade impli-
ca na complexidade de gestão tendo em vista a necessidade de coordenar as múltiplas relações
entre eles. Os intervenientes vão desde o dono da obra (o proprietário), passando por autores
de projetos, empreiteiros, subempreiteiros, fiscais, trabalhadores etc. até o cliente final. Dessa
forma, vale sublinhar a inclusão das responsabilidades do dono da obra na temática da SST,
uma vez que lhe cabe a tomada de decisão referente à política de segurança da obra. Também
é bastante pertinente a participação dos autores de projeto que devem considerar os princípios
de prevenção já na fase de concepção do empreendimento, evitando assim inúmeros proble-
mas de segurança e saúde que poderiam surgir nas fases posteriores. Outro destaque para a
relação dos empreiteiros com a SST que devem atender ao que está estabelecido na legislação
específica e no contrato com o dono da obra, se estendendo essas obrigações para toda a
cadeia de subcontratações (fornecedores de equipamentos, subempreiteiros etc.) largamente
utilizada nesse ramo de atividade. Conforme Dias (2005), os empreiteiros têm a obrigação de
coordenar todos os seus subcontratados, devendo ainda fazê-los implementar os princípios
gerais de prevenção, na fase de execução da obra. Para tanto, os empregadores devem prover
os meios necessários para as atividades de informação e formação dos recursos humanos na
área de gestão e prevenção dos riscos profissionais, além de criar um sistema de gestão da se-
gurança e saúde no trabalho.
Quanto ao item (b), que trata da criação da coordenação de segurança, o IDICT (1999, p.75)
define o coordenador de projeto como “uma pessoa singular ou coletiva nomeada pelo dono da
obra para desenvolver, durante a fase do projeto, as tarefas de coordenação de segurança inerentes
a esta fase e habilitada para tal fim”. Segundo Souto (2003), a presença de um coordenador de pro-
jeto, principalmente no caso de grandes obras onde existem vários projetistas, é fundamental para
obter-se a perfeita integração de todos os projetos e assegurar que se cumpra a legislação de segu-
rança. O coordenador de obra é definido como “pessoa singular ou coletiva nomeada pelo dono da
obra para executar, durante a realização da obra, as tarefas de coordenação inerentes a esta fase e
habilitada para tal fim” (IDICT, 1999, p. 75). De acordo com Souto (2003), tal coordenação se justifica,
principalmente, quando há vários empreiteiros envolvidos, uma vez que cada empreiteiro terá os
seus técnicos de segurança e, portanto, terá que haver uma figura hierarquicamente superior que
represente o dono da obra e coordene o trabalho de todos.
Normas regulamentadoras | 73
Em síntese, a criação dessa coordenação de segurança tem um duplo papel: por um lado, res-
ponde pela coordenação da segurança e saúde de um determinado empreendimento, por outro,
garante a integração entre as fases de projeto e execução daquele empreendimento. Desse modo,
segundo Souto (2003), favorece a difusão da visão sistêmica e da interdisciplinaridade que poderão
contribuir para as atividades de geração e transferência do conhecimento e, portanto, para o au-
mento da competitividade da empresa.
Como acima referido no item (c), a DC exige os seguintes documentos: Comunicação Prévia
(CP) que tem o propósito de comunicar a abertura de um novo canteiro; Plano de Segurança e Saú-
de (PSS) que, segundo Dias (2005, p. 63) é “o principal documento de prevenção de riscos profissio-
nais para a fase de execução, tendo por objetivo identificar e avaliar os riscos de SST e respectivas
medidas preventivas a serem tomadas durante essa fase no canteiro”; Plano de Intervenções Pos-
teriores (PIP) que contempla as intervenções pós-obra, ou seja, durante a fase de uso/manutenção
do empreendimento.
Por fim, percebe-se que a DC visualiza a SST como uma função inerente à gestão global do em-
preendimento, o que se traduz na inclusão de todas as fases do ciclo do empreendimento (projeto,
execução e pós-obra) e no envolvimento de todos os intervenientes que participam desse ciclo em
quaisquer das suas fases. Dessa forma, a nova abordagem da SST em vigor nos países da União Eu-
ropéia, materializada através da DC, veio colocar essa temática como parte integrante da gestão do
negócio da indústria da construção.
Resultados da pesquisa
Este item apresenta os resultados da pesquisa nas três empresas construtoras, de pequeno,
médio e grande porte, selecionadas para o estudo multicaso e a análise do comportamento dos
auditores fiscais do Ministério do Trabalho em relação à metodologia e filosofia de fiscalização do
cumprimento das normas de segurança nessas empresas.
A empresa de grande porte é de estrutura familiar e conta com um contingente de 1 200 a
1 500 funcionários. Atua no Estado de Pernambuco, com predominância na cidade de Recife, e tem
como produto principal a construção de edifícios residenciais verticais.
A política da empresa é a de não poupar esforços para a melhoria do ambiente de trabalho, en-
tendendo que as mudanças só serão possíveis graças ao trabalho de valorização do cliente interno.
Dessa forma, a empresa investe em segurança e nas condições de trabalho e vida dos funcionários,
através de medidas tais como: contratação de nutricionista e cozinheiro treinado para preparar re-
feições balanceadas (café e almoço) e cardápio adaptado aos costumes regionais (cuscuz, cozido,
rapadura, suco de frutas etc.); palestras educativas e treinamentos sobre SST; sinalização do canteiro
e contratação de técnicos de segurança do trabalho que atuam no canteiro subordinados ao enge-
nheiro gestor.
Nessa empresa, a política de gestão de recursos humanos é extensiva aos trabalhadores sub-
contratados, no que se refere a treinamento, segurança, alimentação e condições de trabalho dig-
nas. A terceirização é vista pelo nível estratégico como uma problemática, decorrente do fato de
74 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
que a maioria das terceirizadas caracteriza-se por ser pequenas empresas, mal estruturadas, não
investem em capacitação de pessoal e não primam pela qualidade do serviço. Segundo o enge-
nheiro/sócio do nível estratégico entrevistado: “muitas vezes, as empresas terceirizadas deixam a
mão-de-obra à mercê do engenheiro da obra e só aparecem no dia de medições... então, a empresa
contratante investe na qualificação e segurança do pessoal da empresa contratada para evitar futu-
ros problemas”.
A empresa de médio porte no momento da pesquisa tinha cinco obras em andamento, na cidade
de João Pessoa/Paraíba e empregava 110 pessoas. O topo da empresa é composto por duas diretorias:
a técnica e a administrativa. O entrevistado foi o engenheiro/diretor técnico responsável pela área
de produção. Segundo o entrevistado, a missão, os objetivos e metas da empresa se enquadram na
seguinte afirmação: “nós queremos ser uma empresa respeitada no mercado a partir da qualidade.
Nosso grande objetivo tem sido qualidade do produto. Nós descobrimos que temos um patrão e este
é o cliente, pois sem ele a gente não existe, sem ele a gente não consegue vender os apartamentos”.
Quanto aos itens relacionados com segurança e saúde no trabalho, a opinião de um dos sócios
dessa é: “o grande causador dos acidentes de trabalho é a cultura do operário. A dificuldade do ope-
rário de entender a necessidade do EPI”. As maiores dificuldades que ele sente para implantação das
medidas de segurança estão relacionadas com esta “cultura de rejeição do operário” e com a falta
de assessoria competente a quem possa “terceirizar esse serviço e ficar tranqüilo”. Segundo o entre-
vistado dessa empresa, as questões de Segurança e Saúde no Trabalho estão incluídas em suas es-
tratégias de desenvolvimento, “até porque a gente precisa orçar a obra e o nosso orçamento é bem
abrangente, inclui até as despesas com água, luz e telefone e naturalmente tem de ter as despesas
com bandejas de proteção, guarda corpo e equipamentos de proteção Individual. O planejamento
prevê as normas de segurança, porém eu não tenho um projeto”. Em relação à política de Segu-
rança e Saúde no Trabalho, a mesma estava documentada, como também um extenso documento
designado como o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho. Porém, o entrevistado
admitiu que ainda não estava implementado devido às dificuldades por ele mencionadas.
A empresa de pequeno porte também atuante em João Pessoa/Paraíba possuía 85 funcioná-
rios e três obras em andamento, no momento da pesquisa. É uma empresa típica familiar, pois ini-
ciou suas atividades mais ou menos nos anos 1970 sob a responsabilidade do pai dos atuais sócios.
Em relação à missão, objetivos e metas, o entrevistado considerou que o princípio no qual se baseia
o funcionamento da empresa é de sobrevivência do grupo (sócios). Para o entrevistado uma empre-
sa bem-sucedida é “aquela que dá lucro e está atenta às variações do mercado, da competitividade
do setor procurando por sua vez a competência técnica”.
O relacionamento interpessoal nessa empresa acontece na “base do respeito mútuo sem abrir
mão da autoridade e hierarquia, principalmente nos canteiros de obras”. Em relação às informações
sobre a Segurança e Saúde no Trabalho, o responsável por essa empresa considera que as causas
da ocorrência de Acidentes de Trabalho em canteiros de obras “[...] são muitas, mas a maior delas é
essa questão de poder aquisitivo como um todo, essa pobreza do Brasil, esta renda per capita baixa
que nós vivemos”, portanto, na sua opinião a maior dificuldade para implantação das medidas de
segurança nos canteiros é a financeira. Quando interrogado sobre se a Empresa inclui questões de
Segurança e Saúde no Trabalho em suas estratégias de desenvolvimento, afirmou que sim com-
plementando: “[...] hoje a gente já coloca a segurança como item básico para qualquer início de
canteiro de obra, porém a maior resistência que encontro, vem dos engenheiros residentes. Não
Normas regulamentadoras | 75
querem aceitar mudanças e perder tempo conversando com o funcionário [...]”. O treinamento dos
operários para as atividades é realizado, segundo o entrevistado, “[...] na medida do possível [...]”.
Em relação ao Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
(PCMAT), essa empresa elabora um programa para cada obra conforme exigência da NR 18, porém
a implementação deste programa nos canteiros de obras já não acontece a contento, conforme o
entrevistado, uma vez que “uma empresa como a minha, de porte pequeno, não tem condições de
ter um engenheiro só para praticar segurança do trabalho”. Então, segundo as informações obtidas
na entrevista, a gestão da segurança e saúde no trabalho na empresa em estudo acontece de forma
a não receber reclamações da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), ou seja, tentando cumprir os
principais itens da NR.18.
A função da DRT é fiscalizar as empresas, orientar e informar ao público sobre as questões
trabalhistas. A fiscalização abrange duas áreas: a área trabalhista e a de segurança e saúde do traba-
lhador. A área trabalhista fiscaliza a parte relacionada com carteira do trabalho, fundo de garantia,
horário de trabalho e trabalho do menor. A área de segurança e saúde do trabalhador fiscaliza as
empresas e também atende ao público com relação ao cumprimento da legislação pertinente a
esta área. A fiscalização nas empresas baseia-se no capítulo V da CLT, que é a Lei que versa de uma
maneira geral sobre as obrigações das empresas em relação à segurança e saúde do trabalhador. A
metodologia da fiscalização é então preparada seguindo as Normas Regulamentadoras que signifi-
cam o detalhamento desta Lei. Os canteiros de obras são fiscalizados com certa freqüência embora
o número de fiscais ainda seja reduzido. Segundo um agente da fiscalização, é muito difícil que uma
obra seja realizada e chegue até o final sem receber uma visita de um auditor fiscal da DRT. Confor-
me este agente, muitas empresas construtoras, ligadas ao subsetor de edificações em João Pessoa,
ainda investem pouco em Segurança e Saúde no Trabalho e a maioria ainda espera a visita de fiscais
da DRT para cumprir os itens que compõem a NR 18.
restrita, uma vez que não coloca a função segurança como parte integrante do negócio da empresa
e não contempla todo o ciclo do empreendimento, limitando-se a fase de execução.
Para reverter este quadro é preciso que se adote o enfoque sistêmico e se aceite a Seguran-
ça e Saúde no Trabalho como uma atividade como qualquer outra na empresa, devendo por essa
razão ser parte integrante da gestão global da mesma, traduzindo-se numa intervenção integrada
e envolvendo todos os trabalhadores, todos os setores e todas as dimensões da empresa. Enfim, é
preciso investir no conhecimento das pessoas da empresa principalmente dos gestores [...]
Atividades
1. Sobre a NR 32 é incorreto afirmar que:
a) regulamenta as atividades e operações insalubres.
b) não regulamenta as atividades e operações perigosas.
c) estabelece os requisitos mínimos e as diretrizes básicas para implementar as medidas de pro-
teção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde.
d) versa sobre caldeiras e vasos de pressão.
e) determina os principais equipamentos de proteção individual (EPIs).
Riscos ambientais
Na sociedade moderna, o homem passa grande parte de sua vida em seu ambiente de trabalho.
Para se ter uma noção mais exata desse tempo, uma jornada laboral de 44 horas semanais corresponde
a aproximadamente 2 200 horas em um ano. Para a aposentadoria, este trabalhador necessita ter pas-
sado em seu ambiente de trabalho cerca de 77 000 horas, ao longo de 35 anos. Tais números refletem
a importância do meio ambiente de trabalho para o homem. Certamente, o bem estar e a satisfação
com o seu respectivo serviço é um dos fatores mais importantes e que está diretamente ligado com a
qualidade de vida do trabalhador. Por essa razão, é fundamental que esse ambiente laboral seja cons-
tantemente monitorado e avaliado, para aferir e dimensionar os riscos que esse local possa apresentar
à saúde desse trabalhador.
Ao longo da história, a exposição do trabalhador aos mais diversos riscos presentes no seu res-
pectivo ambiente de trabalho gerou inúmeros acidentes e doenças causados por esses riscos. Desde
intoxicações por produtos químicos, até perdas auditivas, traumas e doenças musculares, apenas para
mencionar alguns exemplos, foram causadas pela monitorização inadequada ou mesmo ausente des-
tes riscos. Vários são os exemplos dessa preocupação do homem com o seu trabalho e com a maneira
de prevenir as doenças dele adquiridas, assim como são muitos os exemplos de acidentes.
As civilizações antigas acreditavam que o contato direto era o principal responsável pela trans-
missão de doenças. Os egípcios acreditavam na transmissão das doenças pelo toque. Já para os he-
breus, as patologias eram contraídas pelo contato com vestimentas e outros objetos ligados à pessoa
doente. Hipócrates, considerado o pai da Medicina, afirmava que o principal responsável pela transmis-
78 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
são de doenças era o ar, devido a sua má qualidade pela presença de vapores nocivos. Apesar das mais
diversas explicações para as causas da doença, pouco se fazia para a sua prevenção. Casos isolados de
tentativas de prevenção foram registrados na história. Durante a Grande Peste, que assolou a Europa no
século XVII, por exemplo, alguns médicos usavam seus próprios equipamentos de proteção individual,
que consistia em uma túnica que envolvia a maior parte da superfície corporal, além de chapéu, luvas
e máscaras com bico longo e afunilado, onde eram colocadas substâncias aromáticas para atenuar o
odor. Entretanto, há também lamentáveis exemplos históricos de acidentes relacionados diretamente
com a falta de proteção do ser humano com a substância, sendo inúmeros deles fatais. Marie Curie,
física polonesa, ganhadora dos Prêmio Nobel de Física em 1903, pelas suas descobertas no campo da
radioatividade, e de Química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos Rádio e Polônio, é um
exemplo disso. Nascida em Varsóvia, no ano de 1867, Madame Curie, como era conhecida, faleceu em
1934, na cidade francesa de Salanches, de leucemia, doença provavelmente adquirida devido à exposi-
ção inconsciente à radiação dos materiais perigosos e radioativos com os quais lidava.
Graças a esses e outros inúmeros aprendizados históricos, percebeu-se a importância da elabo-
ração de programas direcionados à prevenção dos mais diversos riscos presentes nos ambientes. Esses
riscos foram denominados riscos ambientais, e são considerados como tais os riscos químicos, físicos,
biológicos, de acidentes e ergonômicos. Aos programas de prevenção, cabem estabelecer algumas re-
gras básicas de segurança nos ambientes laborais. Sabe-se, também, que a segurança nas atividades
profissionais é a mesma que a segurança em qualquer outra atividade humana. Através de alguns pro-
cedimentos padrões, pode-se chegar a esse ideal de segurança.
Para que níveis satisfatórios de eficiência, qualidade e produtividade sejam alcançados, é neces-
sária a adoção de políticas voltadas à implementação de ambientes de trabalho confiáveis e seguros.
Esses procedimentos nada mais são que ações de qualidade. Portanto, o ambiente laboral deve ser pro-
jetado, dimensionado ou adequado devidamente de modo a oferecer condições confortáveis e seguras
de trabalho, as áreas de trabalho devem ser definidas com a finalidade de separar as de maior risco (por
exemplo, a manipulação de produtos químicos e biológicos) daquelas que apresentam menor probabi-
lidade de acidentes (por exemplo, as de áreas administrativas).
As áreas do ambiente laboral devem ser adequadamente sinalizadas de forma a facilitar a orienta-
ção dos usuários, advertir quanto aos riscos existentes e restringir o acesso de pessoas não-autorizadas.
O uso de equipamento de proteção individual e coletiva é fundamental para a execução das atividades
laborais, a fim de assegurar a saúde do profissional e minimizar a possibilidade de acidentes.
A segurança deve ser planejada, dimensionada e realizada por uma equipe multiprofissional, de
modo a atender vários requisitos relacionados com:
::: o cumprimento das normas de segurança vigentes (leis);
::: a disponibilidade e o uso adequado de equipamentos de proteção;
::: a organização e a realização de programas de treinamento;
::: manutenção preventiva de equipamentos e instrumentos;
::: a disponibilidade de extintores e outros dispositivos de combate a incêndios;
::: treinamento de combate a incêndio e em situações de emergência;
::: Mapa de Risco obrigatório e sinalização adequada das áreas de riscos e das rotas de fuga;
::: a disponibilidade de sistema de geração elétrica de emergência;
Riscos ambientais | 79
do antigo Departamento Nacional do Trabalho (DNT). Com o advento das normas regulamentadoras
(NR) através da Portaria 3.214, de junho de 1978, o assunto Segurança e Saúde no Trabalho foi abordado
de uma maneira diferenciada. Dentre as NRs, a NR 5 é aquela que trata sobre a CIPA e suas atribuições,
tendo sua mais recente redação entrado em vigor em 24 de maio de 1999.
Mapa de Riscos
Foi criado em 17 de agosto de 1992, a partir da Portaria 5, obrigando todas as empresas a repre-
sentar graficamente os riscos existentes nos diversos ambientes de trabalho, o que faz parte da NR 9.
Conforme determinado pela NR 5, cabe à CIPA a promoção de políticas e medidas preventivas de modo
a evitar acidentes profissionais.
O Mapa de Riscos é um dos métodos mais simples para a avaliação qualitativa dos riscos existen-
tes nos locais de trabalho. É a representação gráfica dos riscos por meio de círculos de diferentes cores
e tamanhos permitindo fácil visualização e criação. Elaborado pelos próprios trabalhadores, é, portanto,
um instrumento participativo e é adequado conforme suas sensibilidades. Serve como instrumento
preliminar de levantamento de riscos, de informação para os demais empregados e visitantes e de pla-
nejamento para as ações preventivas que serão adotadas pela CIPA.
O objetivo do Mapa de Riscos é reunir as informações básicas necessárias para estabelecer o diag-
nóstico da situação da segurança e saúde no trabalho na empresa, e possibilitar, durante a sua elabora-
ção, a troca e a divulgação de informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação
nas atividades de prevenção. Os principais benefícios da obtenção do Mapa de Riscos são:
::: identificação prévia dos riscos existentes nos locais de trabalho aos quais os trabalhadores
poderão estar expostos;
::: conscientização quanto ao uso adequado das medidas e dos equipamentos de proteção co-
letiva e individual;
::: redução de gastos com acidentes e doenças, medicação, indenização, substituição de traba-
lhadores e danos patrimoniais;
::: facilitação da gestão de saúde e segurança no trabalho com aumento da segurança interna e
externa; e
::: melhoria do clima organizacional, maior produtividade, competitividade e lucratividade.
Para a elaboração do Mapa de Riscos são utilizadas cores para identificar o tipo de risco, conforme
a tabela de classificação dos riscos ambientais. A gravidade é representada pelo tamanho dos círculos
a seguir:
::: Círculo pequeno – risco pequeno por sua essência ou por ser risco médio já protegido;
::: Círculo médio – risco que gera relativo incômodo, mas que pode ser controlado;
::: Círculo grande – risco que pode matar, mutilar, gerar doenças e que não dispõe de mecanis-
mo para redução, neutralização ou controle.
Quanto à simbologia das cores:
::: Círculo pequeno marrom – risco biológico leve.
Riscos ambientais | 81
Quanto a elaboração do Mapa de Riscos, sobre uma planta ou desenho do local de trabalho, é
importante identificar através do círculo:
::: o grupo a que pertence o risco, conforme as cores classificadas;
::: o número de trabalhadores expostos ao risco, o qual deve ser anotado dentro do círculo;
::: a especificação do agente químico (por exemplo, amônia, ácido clorídrico), ou ergonômico
(repetitividade, ritmo excessivo) que deve ser anotado também dentro do círculo;
::: a intensidade do risco, de acordo com a percepção dos trabalhadores, que deve ser represen-
tada por tamanhos proporcionalmente diferentes dos círculos.
Dentre os riscos físicos podemos citar:
::: presença de ruídos, podendo provocar cansaço, irritação, dores de cabeça, diminuição da au-
dição, problemas no aparelho digestivo, taquicardia, perigo de infarto.
::: presença de vibrações, podendo provocar cansaço, irritação, dores nos membros, dores na
coluna, doença do movimento, artrite, problemas digestivos, lesões ósseas, lesões dos teci-
dos moles.
::: presença de calor excessivo, podendo provocar taquicardia, aumento da pulsação,
cansaço,intermação, prostração térmica, choque térmico, fadiga térmica, perturbação das
funções digestivas, hipertensão etc.
::: presença de radiação não-ionizante, podendo provocar queimaduras, lesões nos olhos, na
pele e em outros órgãos.
::: presença de radiação ionizante, podendo causar alterações celulares, câncer, fadiga, proble-
mas visuais, acidente do trabalho.
::: presença de umidade em excesso, podendo causar problemas respiratórios, quedas, doenças
de pele , doenças circulatórias.
Dentre os riscos químicos, podemos citar:
::: Poeiras:
::: minerais – silicose, asbestose;
::: vegetais – bissinose, bagaçose;
::: alcalinas – enfizema pulmonar;
::: outras – potencializam a agressividade;
::: Fumos metálicos – ocorre intoxicação especifica de acordo com o metal, febre dos fumos me-
tálicos, doença pulmonar obstrutiva;
::: Névoas, neblinas, gases e vapores:
::: irritantes – irritação das vias aéreas superiores. Ex.: ácido clorídrico;
::: asfixiantes – dores de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. Ex.: hidrogê-
nio, oxigênio, hélio, acetileno, metano, dióxido de carbono, monóxido de carbono;
Riscos ambientais | 83
::: anestésicos – ação depressiva sobre o sistema nervoso, danos aos diversos órgãos, ao sis-
tema formador do sangue. Ex.: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de carbono, tri-
cloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, xileno.
::: Substâncias, compostos ou produtos químicos em geral.
Dentre os riscos biológicos estão:
::: Vírus – podem causar hepatite, poliomielite, herpes, varíola, febre amarela, raiva (hidrofo-
bia), aids, rubéola, dengue, meningite.
::: Bactérias/bacilos – podem causar hanseníase, tuberculose, tétano, febre tifóide, pneumo-
nia, difteria, cólera, leptospirose, disenterias.
::: Protozoários – malária, mal de chagas, toxoplasmose, disenterias.
::: Fungos – alergias e micoses.
Os riscos ergonômicos podem ser:
::: Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura
inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos, jornada
prolongada de trabalho, monotonia e repetitividade, outras situações causadoras de es-
tresse físico e psíquico.
De um modo geral, deve haver uma análise mais detalhada, caso a caso. Tais riscos ergonômicos
podem causar:
::: cansaço, dores musculares, fraquezas, hipertensão arterial, úlceras, doenças nervosas, agra-
vamento do diabetes, alterações do sono, da libido, da vida social com reflexos na saúde
e no comportamento, acidentes, problemas na coluna vertebral, taquicardia, cardiopatia
(angina, infarto), agravamento da asma, tensão, ansiedade, comportamentos estereotipa-
dos, medo.
Dentre os fatores que podem causar riscos de acidente pode-se citar:
::: o arranjo físico inadequado, podendo provocar acidentes, desgastes físicos;
::: a existência de máquinas e equipamentos sem proteção, podendo levar à ocorrência de aci-
dentes graves;
::: o uso de ferramentas inadequadas ou defeituosas em sua grande maioria provocam acidentes
com repercussão nos membros superiores;
::: trabalhar em locais com iluminação inadequada implica em risco de acidentes;
::: a eletricidade, quando mal empregada, pode provocar acidentes graves;
::: a probabilidade de incêndio ou explosão, podendo provocar acidentes graves;
::: o armazenamento inadequado, podendo provocar acidentes graves;
::: a existência e a manipulação de animais peçonhentos, podendo provocar acidentes graves.
84 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Texto complementar
Qualidade de vida agora é lei
Quem não reduzir acidentes de trabalho pagará mais tributos
A partir de 2009, as empresas que investirem em ações que permitam a redução dos seus ín-
dices de afastamento por doenças e acidentes de trabalho poderão ter a alíquota de cálculo do
Seguro de Acidente de Trabalho (SAT) reduzida em até 50%. Entretanto, as que não o fizerem cor-
rerão o risco de ter que pagar o dobro do valor atual, que incide sob total da folha de pagamento
da empresa.
Isso acontecerá devido a mudanças nas regras da segurança do trabalho, feitas pelo Ministério
da Previdência. Até então, as empresas pagavam como SAT, 1%, 2% ou 3% do valor de suas folhas
de pagamento. O enquadramento era feito de acordo com a área em que a empresa atua. Agora,
o que definirá essa alíquota será o Fator Acidentário de Prevenção, um índice que leva em conta a
freqüência dos acidentes e seu custo para o INSS. “Os índices continuam os mesmos, o que muda é
a possibilidade de uma empresa que paga 3% ao mês possa ter essa alíquota reduzida para 1,5% ou
elevada a até 6%, dependendo da quantidade de afastamentos por acidentes ou doenças de traba-
lho registradas pelo INSS”, explica Myrian Quirino, consultora Especialista na área Previdenciária e
Trabalhista do Centro de Orientação Fiscal (Cenofisco).
Para Myrian, a decisão visa a fomentar os investimentos por parte das empresas no que diz
respeito à segurança no trabalho e, conseqüentemente, reduzir os gastos da previdência.
Segundo Mario Bonciani, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a mu-
dança houve uma revisão também na tabela de doenças motivadas pela atividade do trabalhador.
Doenças como diabetes, tuberculose e hipertensão passaram a integrar a tabela. “Cerca de 10% das
doenças consideradas comuns foram incluídas. A depressão, por exemplo, foi incluída como doen-
ça de trabalho comum ao setor financeiro”, explica.
Para Bonciani, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Traba-
lho (ABMT) e colaborador da Associação Brasileira da Prevenção de Acidentes (ABPA), os efeitos da
nova metodologia começarão a ser sentidos em setembro do ano que vem (2008), quando o Fator
Acidentário irá alterar o SAT pela primeira vez.
De acordo com ele, após o anúncio do reenquadramento das empresas, feito no fim de no-
vembro, foi estipulado um prazo de 30 dias, que termina no fim deste mês, para os empresários
questionarem a nova alíquota que foi atribuída pelo Ministério da Previdência. Ele conta que até
agora o volume de ações de impugnação está muito abaixo do esperado, o que denota a falta de
informação e de interesse das empresas pelo assunto.
Myrian, do Cenofisco, espera que as novas regras criem uma cultura de investimento por parte
das empresas na criação de melhores condições para trabalhadores cujas funções envolvam o risco.
Ela acredita que a possível vantagem financeira – já que uma empresa poderá pagar metade do que
paga hoje, caso implemente ações – servirá como impulso para isso.
Riscos ambientais | 85
Bonciani acrescenta que a própria concorrência dentro do setor servirá, também, de incenti-
vo. “Uma empresa que não investir na melhoria de suas condições de trabalho e tiver sua alíquota
dobrada, verá seu concorrente sendo premiado por suas ações com a redução drástica na sua con-
tribuição para o SAT. Isso se reflete na imagem da empresa perante o mercado e elas não ficarão
aquém a isso”.
(Editorial Portal e-Learning Brasil. Qualidade de vida agora é lei.
Disponível em: <www.administradores.com.br/noticias/qualidade_de_vida_agora_e_lei/13498>.)
Atividades
1. Assinale a alternativa correta.
a) Não há risco de queimaduras na presença de radiação ionizante.
b) O calor excessivo não é considerado um risco físico.
c) O ambiente úmido não pode ser fator gerador de problemas respiratórios.
d) A presença de vibrações pode provocar, dentre outros sintomas, dores articulares, dores mús-
culares e irritabilidade.
Ampliando conhecimentos
Para um aprofundamento do estudo abordado sugiro os seguintes sites:
<www.anvisa.gov.br>
<www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1999_A0258.PDF>
<www.laborprev.com.br/site/servicos/mapa_riscos.htm>
86 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Acidentes de trabalho
e riscos físicos
A definição de acidente de trabalho é muito ampla, e suas conseqüências podem gerar grande
impacto na saúde pública. De acordo com o artigo 19 da Lei 8.213, publicada em 24 de julho de 1991,
“acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou pelo exercí-
cio do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter
temporário ou permanente”. Essa lesão pode provocar a morte, perda ou redução da capacidade para o
trabalho, podendo ser caracterizada apenas pela redução da função de determinado órgão ou segmen-
to do organismo, como os membros, por exemplo.
Há outras situações que também podem ser consideradas acidentes de trabalho. Por exemplo, o
acidente de trajeto, ou seja, aquele que ocorre no percurso que o trabalhador realiza entre sua residên-
cia e seu local de trabalho. A doença profissional produzida ou desencadeada no exercício ou devido a
determinadas condições de determinado trabalho também é considerada acidente de trabalho. Tam-
bém aqueles acidentes sofridos durante e no local do expediente, decorrentes de agressões, sabota-
gens ou atos de terrorismo praticados por terceiros ou colegas de trabalho são considerados acidente
de trabalho. Quando o acidente ocorre fora do horário e do ambiente físico da empresa, também pode
ser considerado acidente de trabalho nas situações em que o trabalhador estiver executando ordem
ou serviços ou sob a autoridade da empresa. Em viagens, mesmo que devido a estudos, o acidente é
considerado acidente de trabalho se essa viagem for sob custódia financeira da empresa.
Existem, por conseguinte, três tipos de acidentes: o acidente típico, que é aquele decorrente da
característica da atividade profissional que o indivíduo exerce; o acidente de trajeto, que ocorre no tra-
jeto entre a residência do trabalhador e o local de trabalho e vice-versa; e as doenças profissionais ou do
trabalho, que são produzidas ou desencadeadas pelo exercício de determinada função, característica
de um emprego específico. Dados governamentais relatam que os acidentes típicos correspondem a
aproximadamente 84% da totalidade dos acidentes de trabalho, ficando os acidentes de trajeto e as
doenças do trabalho perfazendo os 16% restantes. Apesar de o número ainda ser considerado elevado,
nota-se uma tendência à queda nessas estatísticas, especialmente se forem comparados os dados atu-
ais com aqueles relacionados entre os anos de 1972 e 2002. Os setores de transformação e de serviços
são os principais responsáveis pelo alto número de casos de acidentes de trabalho.
88 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
A caracterização do acidente de trabalho se dá através de uma análise pericial, que deve estabe-
lecer uma relação direta entre o acidente e a lesão provocada. O médico perito, nesses casos, examinará
o paciente e poderá decidir se este trabalhador pode ou não voltar às atividades normais, atribuídas a
sua função. Em casos de afastamento, o perito definirá, a partir de sua avaliação clínica, se o funcionário
permanecerá em afastamento temporário ou definitivo do emprego.
Em relação à empresa contratante, esta é obrigada a fazer uma Comunicação de Acidente de
Trabalho (CAT) até o primeiro dia útil após o acontecimento comprovado. Essa norma é valida indepen-
dentemente da ocorrência ou não do afastamento do trabalhador acidentado. Em caso de morte, a CAT
deve ser imediata, sendo que o não-cumprimento dessa regulamentação acarretará em punição, com
pagamento de multa pelo empregador. A CAT é um documento fundamental na investigação e na epi-
demiologia dos acidentes de trabalho. A partir do momento de sua emissão, ela deve ser encaminhada
aos órgãos competentes.
O trabalhador acidentado, a partir do momento em que é afastado do seu posto de trabalho,
tem direito a um benefício denominado auxílio-acidente. Tal benefício é concedido pelo Ministério da
Previdência Social e é fornecido ao trabalhador com seqüelas que reduzam sua capacidade funcional.
Apenas o trabalhador empregado, o trabalhador avulso e o segurado especial têm direito a esse tipo
de benefício. Ele não pode ser fornecido aos empregados domésticos, aos contribuintes individuais ou
autônomos e aos contribuintes facultativos. Outra peculiaridade desse benefício é que ele é concedido
aos trabalhadores que estavam recebendo o auxílio-doença que é pago aos trabalhadores impossibili-
tados de exercer sua função por um período superior a 15 dias. Os primeiros 15 dias de afastamento são
remunerados pela empresa e, a partir daí, o Ministério da Previdência é o responsável pelo pagamento
desse benefício. Se o trabalhador puder exercer suas funções, ainda que doente, o auxílio não é conce-
dido. A concessão do auxílio-acidente não faz com que o trabalhador tenha uma carência, ou seja, um
período mínimo de contribuição, e deverá ser interrompido imediatamente após o trabalhador recupe-
rar suas capacidades laborais e retornar ao trabalho, ou ainda se houver a solicitação de aposentadoria
por invalidez que, por não ser cumulativa, deve entrar no lugar do auxílio-acidente. O pagamento do
auxílio-acidente, conforme anteriormente exposto, é iniciado tão logo o auxílio-doença deixe de ser
fornecido. Seu valor é equivalente a 50% do salário utilizado no cálculo do auxílio-doença, corrigido até
o mês anterior ao do início do pagamento do auxílio-acidente.
Os acidentes, em sua grande maioria, são previsíveis, sendo por isso evitáveis. Algumas medidas
simples, uma vez adotadas, são suficientes para reduzir consideravelmente o número de acidentes de
trabalho em uma empresa. O fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPI), uma obri-
gação da empresa, com seu uso adequado por parte dos trabalhadores, é um exemplo típico de como
medidas simples podem ser práticas e reduzem as estatísticas relacionadas aos acidentes de trabalho.
A seguir, serão abordadas algumas causas de acidentes de trabalho, especialmente no que tange
aos riscos físicos, bem como algumas doenças decorrentes do trabalho e suas respectivas prevenções.
Riscos físicos
São considerados riscos físicos as diversas formas de energia. São elas: ruídos, temperaturas extre-
mas, vibrações, pressões anormais e radiações.
Acidentes de trabalho e riscos físicos | 89
Ruídos
Define-se som como uma variação sonora capaz de sensibilizar os ouvidos. O ruído, por sua vez, é
uma sensação sonora desagradável, pode ser mensurado, não-desejado ou inútil.
Os efeitos indesejados causados pelo ruído podem ser:
::: Psicológicos – nervosismo, neuroses, prejudica a concentração, causa irritabilidade e preju-
dica o sono.
::: Deficiências de comunicação – altera o estado emocional dos interlocutores, prejudica a
qualidade de trabalho.
::: Fisiológicos – perda de audição, dor de cabeça, vômitos, diminuição do controle muscular.
Ruídos suportáveis:
::: rádios e televisores em alto volume;
::: várias pessoas falando ao mesmo tempo;
::: ruídos provenientes das ruas.
Ruídos que causam perturbações nervosas:
::: buzinas estridentes;
::: alto-falantes;
::: descargas livres de automóveis; e
::: máquinas e motores de indústrias em funcionamento permanente.
Prevenção
O incentivo e a conscientização da utilização dos protetores auriculares. Estabelecer um progra-
ma de manutenção periódica do maquinário, pois peças gastas, soltas, falta de lubrificação e de ajustes,
e disfunções mecânicas implicam na geração desnecessária de ruído, bem como realizar a instalação
de barreiras, que são colocadas entre as fontes de ruído e os trabalhadores, podendo ser formadas por
painéis fixos ou móveis, constituídos com materiais isolantes, podem minimizar o ruído. Limites de tole-
rância para ruído contínuo ou intermitente conforme a NR 15:
::: Para um nível de ruído de 80dB, é permitida uma exposição máxima diária de 8 horas.
::: Para um nível de ruído de 90dB, é permitida uma exposição máxima diária de 4 horas.
::: Para um nível de ruído de 100dB, é permitida uma exposição máxima diária de 1 hora.
::: Para um nível de ruído de 110dB, é permitida uma exposição máxima diária de 15 minutos.
::: Para um nível de ruído de115dB, é permitida uma exposição máxima diária de 8 minutos.
Protetores auriculares
São considerados EPI, que tem a finalidade de atenuar ruídos e proteger o aparelho auditivo da
exposição a ruídos prejudiciais. Seu uso é obrigatório em toda a área fabril.
Encontram-se disponíveis aos usuários nos modelos plugue automoldáveis e tipo concha.
90 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Temperaturas extremas
As temperaturas excessivas podem causar alguns danos à saúde do trabalhador. Ela se divide em
calor frio e calor quente.
As altas temperaturas, ou calor quente, são responsáveis por desidratação, erupção da pele, fadi-
ga física, distúrbios psiconeuróticos, problemas cardiocirculatórios, insolação, entre outros.
As baixas temperaturas, também conhecidas como calor frio, por sua vez, podem provocar feri-
das, rachaduras na pele, enregelamento (o indivíduo fica congelado), agravamento de doenças reumá-
ticas preexistentes, predisposição para doenças da via respiratória, entre outras.
O controle das ações nocivas das temperaturas extremas se dá através de algumas medidas de
prevenção. A proteção coletiva é fundamental. É necessário uma ventilação local exaustora adequada,
com a função de retirar o calor e os gases dos ambientes, além do isolamento das fontes de calor ou
frio. Em relação aos EPI, são alguns exemplos nos casos de temperatura excessivas: avental, bota, capuz,
luvas, protetores solares, entre outros.
Vibrações
A vibração é um movimento oscilatório de um corpo, devido a forças desequilibradas de com-
po-nentes rotativos e movimentos alternados de uma máquina ou equipamento. Como todo corpo
com movimento oscilatório, um corpo que vibra, descreve um movimento periódico, que envolve um
deslocamento num certo tempo. Daí resulta a velocidade, bem como a aceleração do movimento em
questão.
Outro fator importante é a freqüência desse movimento, isto é, o número de ciclos (movimentos
completos) realizado num período de tempo. No caso de ciclos por segundo, utiliza-se a unidade Hertz
(Hz). Ao contrário de muitos agentes ambientais, a vibração somente será problema quando houver
efetivo contato físico entre um indivíduo e a fonte, o que auxilia no reconhecimento da exposição.
Efeitos ao organismo
Os motoristas de ônibus estão mais predispostos ou propensos ao desenvolvimento de síndro-
mes dolorosas de origem vertebral, deformações da espinha, estiramento e maus-jeitos, apendicites,
problemas estomacais e hemorróidas. Todavia, posturas forçadas, manuseio de cargas e maus hábitos
alimentares não podem ser descartados como desordens.
Sistema gastrintestinal
Outros estudos em laboratórios mostraram grande relação causal com desordens gastrintestinais
e a vibração nas cadeiras. Foi usada uma cadeira vibratória como simulador de testes, com motoristas,
que revelou que a vibração causa desconforto e pode interferir na destreza de comando manual e na
atividade visual.
Atividade muscular/postura
Na faixa de 1 a 30Hz, observa-se dificuldades para manter a postura, bem como o aumento de balanço
postural. Há, também, uma tendência à lentidão de reflexos na faixa de freqüência entre 10 a 200Hz.
Efeitos cardiopulmonares
Aparentemente, existem alterações nas condições de ventilação pulmonar e taxa respiratória
com vibrações de 4,9 mls2 (134 dB), na faixa de 1 a 10Hz.
Prevenção
Melhoria do equipamento, reduzindo a intensidade das vibrações, instituir períodos de repouso
e rotatividade, evitando exposições contínuas, e, após identificar as lesões iniciais, deve-se proceder o
rodízio no posto de trabalho.
Pressões anormais
Existem dois tipos de pressões anormais causadas pela variação da pressão atmosférica.
::: Hipobárica: quando o homem está sujeito a pressões menores que a pressão atmosférica.
Essas situações ocorrem a elevadas altitudes (sintomas: coceira na pele, dores musculares, vô-
mitos, hemorragias pelo ouvido e ruptura do tímpano).
::: Hiperbárica: quando o homem fica sujeito a pressões maiores que a atmosférica. Por exem-
plo, mergulho e uso de ar comprimido.
Radiações
São responsáveis pelo aparecimento de diversas lesões. Podem ser classificadas em radiações
ionizantes e não-ionizantes.
As radiações ionizantes podem afetar o organismo ou se manifestar nos descendentes das pes-
soas expostas. Os operadores de raios-X e radioterapia estão freqüentemente expostos a esse tipo de
radiação. As radiações não-ionizantes são as radiações infravermelhas, provenientes de operação em
fornos, ou de solda oxiacetilênica, além das radiações ultravioletas, como a gerada por operações em
solda elétrica, ou ainda raios laser, microondas, entre outras.
Os principais efeitos das radiações no organismo são os distúrbios visuais, como conjuntivites
e cataratas, além de queimaduras e lesões cutâneas. A prevenção é, também, fundamental no con-
trole da ação das radiações para o trabalhador. Coletivamente, pode-se isolar a fonte de irradiação
através de biombo protetor para operações em solda, por exemplo, ou o próprio enclausuramento
dessa fonte, como pisos e paredes revestidas de chumbo em salas de raios-X, por exemplo. Os EPIs
também são fundamentais e devem ser fornecidos de maneira adequada ao risco. O soldador, por
exemplo, deve usar avental, luva, perneira e mangote de raspa, enquanto os operadores de forno
devem usar óculos. As empresas podem tomar algumas medidas administrativas que podem ser
úteis na prevenção desses males, como o fornecimento de dosímetro de bolso para os técnicos de
raio-X. Por fim, os exames médicos periódicos são fundamentais na detecção da doença e na pre-
venção de novos casos.
Acidentes de trabalho e riscos físicos | 93
Epidemiologia –
fatores de risco de natureza ocupacional conhecidos
As dermatites de contato são as dermatoses ocupacionais mais freqüentes. Estima-se que, juntas,
as dermatites alérgicas de contato e as dermatites de contato por irritantes respondam por cerca de
90% dos casos de dermatoses ocupacionais. As dermatites de contato por irritantes são mais freqüentes
que as dermatites alérgicas.
Estudos epidemiológicos realizados em países distintos mostram taxas de incidência entre dois
a seis casos em cada dez mil trabalhadores/ano, o que significa que as dermatites de contato irritativas
são, provavelmente, as doenças profissionais mais freqüentes.
Entre os agentes causais destacam-se ácidos e álcalis fortes que, dependendo da concentração e
do tempo de exposição, também produzem queimaduras químicas por sabões e detergentes.
Prevenção
É muito importante a existência e o acesso fácil à água corrente, quente e fria, em abundância,
com chuveiros, torneiras, toalhas e agentes de limpeza apropriados. Chuveiros de emergência de-
vem estar disponíveis em ambientes onde são utilizadas substâncias químicas corrosivas. Podem ser
necessários banhos por mais de uma vez por turno e troca do vestuário em caso de respingos, caso
ocorra contato direto com essas substâncias deve-se utilizar sabões ou sabonetes neutros ou os mais
leves possíveis.
Também deve ser disponibilizado limpadores/toalhas de mão para limpeza sem água para óleos,
graxas e sujeiras aderentes. Não utilizar solventes, como querosene, gasolina ou thinner, para limpeza
da pele.
Recomenda-se o uso de creme hidratante nas mãos, se necessário, lavá-las com freqüência, bem
como deve-se dar preferência ao uso de roupas protetoras para bloquear o contato da substância com
a pele. Os uniformes e aventais devem estar limpos, lavados e trocados diariamente. A roupa deve ser
escolhida de acordo com o local da pele que necessita de proteção e com o tipo de substância química
envolvida, incluindo luvas de diferentes comprimentos, sapatos e botas, aventais e macacões, todos de
materiais diversos, como plástico, borracha natural ou sintética, fibra de vidro, metal ou combinação de
materiais. Capacetes, bonés, gorros, óculos de segurança e proteção respiratória também podem ser
necessários.
O vestuário contaminado deve ser lavado na própria empresa, com os cuidados apropriados. Em
caso de contratação de empresa especializada para essa lavagem, devem ser tomadas as medidas de
proteção adequadas ao tipo de substância também para esses trabalhadores. A eliminação ou redução
da exposição aos fatores de risco de natureza ocupacional a concentrações próximas de zero ou dentro
dos limites considerados seguros, podem ser conseguidas por meio de medidas de controle ambiental,
que veremos a seguir.
::: O exame médico periódico objetiva a identificação de sinais e sintomas para a detecção pre-
coce da doença. Consta de avaliação clínica, que inclui exame dermatológico cuidadoso e exa-
mes complementares de acordo com a exposição ocupacional e orientação do trabalhador e
o uso adequado de uma solução simples e eficaz: o creme protetor da pele, para impedir que
as dermatoses ocupacionais continuem afligindo os trabalhadores de todas essas áreas de
trabalho, além dos profissionais de saúde e segurança do trabalho.
Texto complementar
A história dos cremes
No Brasil, os cremes protetores já eram utilizados por empresas multinacionais desde a década
de 1960. Mas só na década de 1980 é que começaram a surgir os primeiros artigos em revistas espe-
cializadas em Medicina e Segurança do Trabalho afirmando que os cremes protetores poderiam ser
um meio de proteção da pele para os trabalhadores impossibilitados de utilizar luvas de PVC, Nitrile,
Neoprene etc., devido ao risco associado ao seu uso, às dermatites causadas pelo uso dessas luvas
ou pela impossibilidade do tato necessária para seu tipo de trabalho.
A maioria das empresas brasileiras só passou a implantar o creme protetor depois que ele foi
incluído no inciso II do item 6.3 da NR 6 entre os EPIs destinados à proteção dos membros superio-
res, por meio da Portaria 3, de 20/02/1992.
Com o uso difundido do creme protetor, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, uso que
não se limitava à proteção dos membros superiores, mas de todas as partes do corpo que entram
em contato com o agente químico, como rosto, tórax, pernas, pés, o Ministério do Trabalho criou
nova Portaria, de 26, de 29/12/1994, que incluiu, no item 6.3 da NR 6, um novo inciso, o IX, cujo título
é Proteção da Pele.
Nos dois textos, das duas Portarias, são apresentadas importantes justificativas para classificar
os cremes como EPIs. São elas: o uso regular dos cremes protetores em outros países, a recomenda-
ção de literatura internacional, a constatação de sua eficácia, o benefício dos trabalhadores pelo uso
geral nas empresas, e apresentação de resultados satisfatórios nos estudos e demonstrações práti-
cas realizadas com cremes protetores de fabricação nacional (Ver Portarias 3 e 26, de 20/02/1992 e
29/12/1994, respectivamente). Na Portaria 26, de 29/12/1994, os cremes protetores foram classifica-
dos em 3 grupos, e passou a ser exigido seu registro no Ministério da Saúde.
A partir da determinação dos cremes protetores como sendo de uso obrigatório, de aperfei-
çoamento tecnológico dos fabricantes para produção de cremes de uso cada vez mais específico e
cada vez mais benéficos à pele e ao conforto dos trabalhadores, constata-se que são raríssimos os
casos de dermatoses ocupacionais nas grandes e médias empresas.
A implantação definitiva do EPI creme protetor da pele pode ser constatada pela Portaria do
MTbE que altera a NR 6, a de número 25, de 15 de outubro de 2001. Em seu Anexo I, item F. 2, os
96 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
cremes protetores são mantidos como EPIs segundo a Portaria 26, de 29/12/1994, continuando,
portanto, a ser cremes protetores da pele do trabalhador.
A segurança que os cremes protetores representam para a saúde dos trabalhadores é muito
grande. Os cremes protetores água-resistentes, com ação microbicida, vêm resolver um problema
comum enfrentado por profissionais de segurança, que é o aparecimento de dermatites de contato
irritantes ou alérgicas pelo uso de luvas e botas de látex ou PVC. Agentes biológicos (fungos e bac-
térias) e químicos (aceleradores, antioxidantes, corantes) na formulação e no interior das luvas são
os causadores dessas dermatites de contato. Até mesmo a proteína do látex é uma substância aler-
gena. As luvas de couro também podem provocar dermatites. A grande maioria dessas dermatites
pode ser evitada com o uso do creme protetor sob as luvas.
O esclarecimento e conscientização dos usuários, associados à aprovação de cremes cada vez
mais específicos à condição dos diversos tipos de atividades laborais, são as armas dos profissionais
de Medicina e Segurança do Trabalho para obtenção dos excelentes resultados alcançados nesta
longa batalha contra as dermatoses ocupacionais.
Atividades
1. Sobre os acidentes de trabalho, é correto afirmar:
a) são casos imprevisíveis.
b) não podem ser evitados.
c) evitáveis, especialmente quando os métodos de proteção individual e coletiva forem utiliza-
dos da maneira adequada.
d) não geram um grande impacto social de saúde pública.
e) dificilmente o acidente de trabalho leva ao afastamento do trabalhador.
Ampliando conhecimentos
Proteção – Revista mensal de Saúde e Segurança do trabalho, n. 180, dez. 2006. Disponível em:
<www.protecao.com.br>.
98 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Doenças ocupacionais
Apesar das relações trabalho, saúde e doença dos trabalhadores serem reconhecidas desde os
primórdios da história humana registrada, estando expressa em obras de artistas plásticos, historiado-
res, filósofos e escritores, é relativamente recente uma produção mais sistemática sobre o tema. Coube
ao médico italiano Bernardino Ramazzini, nascido no século XVII, ser o primeiro a explorar esse tema,
através da sua obra De Morbis Artificum Diatriba (As Doenças dos Trabalhadores). Nela, o autor relaciona
54 profissões e descreve alguns dos principais problemas de saúde apresentados pelos trabalhadores,
chamando a atenção para a necessidade dos médicos conhecerem a ocupação, atual e pregressa, de
seus pacientes, para fazer o diagnóstico correto e adotar os procedimentos adequados. Dentre as ob-
servações importantes, Ramazzini separou os trabalhadores em grupos descritos como “[...] operários
que passam o dia de pé, sentados, inclinados, encurvados, correndo, andando a cavalo ou fatigando
seu corpo por qualquer outra forma.” Dessa maneira, chegou a conclusão que os trabalhadores que per-
maneciam sentados levavam uma vida sedentária, sendo, por isso, denominados “artesãos de cadeira”.
Eram eles os sapateiros, os alfaiates e os notários, sofriam doenças especiais, decorrentes de posições
viciosas e da falta de exercícios, por exemplo.
Em função da importância do seu trabalho, Bernardino Ramazzini recebeu da posteridade o título
de pai da Medicina do Trabalho, isso tudo muito antes do surgimento dos métodos Taylor-Fordianos
adotados posteriormente à Revolução Industrial.
Dentre as principais doenças relacionadas ao trabalho, percebe-se a importância das lesões por
esforços repetitivos (LER) e dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Essas do-
enças estão, na grande maioria das vezes, associadas aos esforços físicos repetitivos ou com manutenção
prolongada de alguns segmentos corpóreos em posturas inadequadas e, tendo em vista o alto número de
trabalhadores acometidos, são as doenças ocupacionais que requerem maior atenção por parte de médi-
cos, agências governamentais de saúde, sindicatos de categorias profissionais e do público em geral.
Apesar do insuficiente número de dados e informações para a determinação da prevalência des-
tas doenças no Brasil, é comum que através da análise de relatos isolados algumas empresas, especial-
mente as informatizadas, como também aquelas em que haja algumas posições de trabalho conside-
radas desconfortáveis, como nos bancos e nas linhas de montagem, realizam suas próprias estatísticas,
constituindo, dessa maneira, seus respectivos bancos de dados.
Sabe-se que a população mais susceptível às LER/DORT são os trabalhadores jovens, do sexo fe-
minino que executam tarefas que exijam movimentação contínua dos braço e/ ou das mãos, ou ainda
100 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
que se coloquem em posturas inadequadas por um período de tempo prolongado. A principal manifes-
tação clínica da doença é a dor, podendo também ocorrer edema, rubor, e o aumento da temperatura
no local da lesão. Podem acometer os tendões, as bainhas sinoviais e os músculos.
A LER/DORT normalmente é encarada de diferentes maneiras de acordo com o ponto de vista do
observador, da seguinte maneira:
::: Sociologia e Psicologia – manifestação somática das angústias do nosso tempo. Uma espécie
de histeria coletiva desencadeada pela organização do trabalho moderno em pessoas com
perfil emocional susceptível.
::: Médicos (Ortopedistas) – processo inflamatório que acomete os tendões, que se atritam uns
com os outros e todos contra proeminências ósseas ou estruturas ligamentares muito resis-
tentes durante os movimentos repetitivos empregados em uma série de tarefas executadas
nas indústrias. Alguns médicos e profissionais de saúde parecem acreditar que os pacientes
estejam simulando a doença para obter ganhos secundários.
::: Empresários – algo a ser negado por todos os meios possíveis.
::: Sindicatos – algo a ser explorado, com o objetivo de forçar mudanças para a melhoria da qua-
lidade de vida dos trabalhadores.
::: Pacientes – fonte de dor e sofrimento de angústia e de medo sobre o presente e sobre o
futuro de sua capacidade de receber o seu salário bem como de manter-se em seu próprio
emprego.
Outra preocupação do paciente, então já acometido com a doença, é em relação ao seu prognós-
tico, que pode em muitas ocasiões ser sombrio, como no seguinte relato:
Desde que comecei a trabalhar na digitação, em 1982, passei a sentir um incômodo no braço, principalmente no pulso.
Depois veio a dor... as outras colegas reclamavam da mesma coisa... com o tempo a gente vai ficando isolada... não
consegue fazer mais nada de interessante... agora... até namorar fica difícil... fiquei traumatizada quando o médico
do INPS me mandou para a fisioterapia. Lá, todos os doentes faziam o mesmo tratamento, independente da doença.
Tanto fazia ser acidente, derrame cerebral, tenossinovite... foi horrível... a gente piorava porque fazia exercícios com as
mãos, apertando uma bolinha de borracha... e aquela água suja da hidromassagem... não gosto nem de me lembrar...
eu me sinto aleijada. Não agüento olhar para as minhas mãos e ver os meus dedos tortos e a palma da mão afundada,
mesmo depois de 2 cirurgias, incontáveis sessões de fisioterapia e infiltrações com corticóides. Depois de tentar voltar
ao trabalho por 3 vezes e o Centro de Reabilitação Profissional não ter conseguido me arrumar uma ocupação que não
agravasse o meu quadro, fui aposentada, em 1989. Aposentada aos 29 anos... por invalidez... (BARREIRA, 1989)
Conceito
Existem vários conceitos para LER/DORT. Para Barreira (1989):
As lesões por esforços repetitivos são definidas como um conjunto de disfunções músculo-esqueléticas que acometem
os membros superiores e região cervical e estão relacionadas ao trabalho, principalmente em áreas como indústrias de
eletroeletrônicos, de alimentos, químicas, testeis, serviços de telefonia e de entrada de dados em terminais de compu-
tação, entre outras.
Doenças ocupacionais | 101
Epidemiologia
Conforme visto anteriormente, há poucos dados disponíveis no Brasil relativos à prevalência de
LER/DORT. Um dos maiores estudos já realizados no país ocorreu em 2001, sob a responsabilidade do
Centro de Referência de Saúde do Trabalhador no município de São Paulo (Cerest-SP). Na ocasião, foram
estudados 620 trabalhadores inseridos no Programa de Saúde do Trabalhador da zona norte de São
Paulo naquele período. Os números obtidos refletem uma realidade não só brasileira, mas que também
conferem com a literatura mundial sobre o assunto.
Dos 620 trabalhadores estudados, 540 (87%) correspondem a mulheres, enquanto apenas 80
(13%) eram homens. Destes, a maioria encontrava-se na faixa etária entre 26-35 anos (45%), seguidos
por trabalhadores entre 36-45 anos (23,5%), 18-25 anos (18,4%), mais que 46 anos (10%) e menos que
18 anos (0,6%). Apenas 2,5% dos trabalhadores não responderam a esse item.
Em relação ao ramo de atividade, a maioria dos trabalhadores estudados eram bancários (35,5%).
Logo após vinham os metalúrgicos (33,7%), funcionários de serviços públicos e privados em geral
(13,7%), funcionários do comércio (3,1%), trabalhadores do ramo de confecção e vestuário (2,1%), gráfi-
cas (1,5%), comunicações (1%), entre outros (9,4%).
Sobre a função exercida, a grande maioria dos trabalhadores estudados eram montadores (30,2%),
seguidos pelos digitadores (18,2%). Logo após apareciam os caixas (13,1%), escriturários (8,4%), costu-
reiras, compensadores e operadores de máquinas (1,5%), seguidos dos auxiliares de escritórios (1,1%),
entre outros (25,5%).
A região do corpo mais afetada foi os punhos (20%). Logo após apareceram antebraços (15,1%),
mãos (12,3%), região cervical (11,8%), membros superiores (11,3%), ombros (8,9%), cotovelos (7,7%),
quirodáctilos (4,9%), entre outros (8%).
No que tange ao tempo da queixa percebeu-se que a maioria dos pacientes iniciou o quadro en-
tre 1 e 12 meses da primeira procura ao ambulatório médico especializado (38,1%). As demais buscas
de auxílio clínico ocorreram entre 13 e 24 meses (22,1%), 25 e 36 meses (11,9%), 37 e 48 meses (8,7%),
menos de 1 mês (5,8%), 49 e 60 meses (4,2%), mais que 85 meses (3,8%), 61 e 72 meses (3,1%) e 73 e
84 meses (2,3%).
O último dado colhido foi em relação ao tempo de afastamento dos trabalhadores. Da população
de 620 casos estudados, 218 (35,1%) receberam algum tipo de afastamento. Destes, a maioria permane-
ceu afastada entre 1 e 6 meses (14,2%). Em seguida, vieram aqueles que permaneceram afastados por
menos de 1 mês (7,1%), entre 7 e 12 meses (5,8%), 13 a 18 meses (3,5%), 19 a 24 meses (1,8%), 25 a 36
meses (1,6%), 37 a 48 meses (1,1%).
102 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
LER/DORT
Conforme visto acima, LER/DORT são assuntos muito amplos, que envolvem diversos fatores. As
populações observadas e constatadas com o diagnóstico da doença possuem características específi-
cas, cada qual com sua peculiaridade, e que podem ser elencadas como causas para o aparecimento da
doença. São elas:
::: uso repetitivo de um grupo muscular;
::: uso de força por um grupo muscular específico;
::: postura inadequada (posto de trabalho anti-ergonômico);
::: necessidade de manter o mesmo gesto profissional durante toda jornada de trabalho;
::: postura viciosa de membros superiores;
::: tarefas que exijam elevação de membros superiores acima da linha dos ombros associada
à força;
::: falta de pausa durante a jornada de trabalho;
::: insatisfação;
::: sobrecarga (horas extras, volume, ritmo);
::: tensão (cobrança de produtividade, falta de controle ou autonomia).
Classificação
As LER/DORT são classificadas em tendinites inflamatórias, síndrome nervosas periféricas
compressivas, bursites e outras. A diferença entre elas encontra-se na realização de anamnese clí-
nica e ocupacional e exame físico. Eventualmente, pode-se solicitar alguns exames complementa-
res para a confirmação do diagnóstico a fim de realizar o tratamento mais adequado. As principais
LER/DORT são:
::: Tendinites inflamatórias – tenossinovite ocupacional, dedo em gatilho, síndrome de De
Quervain, tendinite da cabeça longa do bíceps, epicondilite Lateral e medial e tendinite do
supraespinhoso.
::: Síndromes nervosas periféricas compressivas – síndrome do desfiladeiro torácico, síndro-
me do supinador, síndrome do planador redondo, síndrome do túnel cubital, síndrome do
túnel do carpo e síndrome do canal de Guyon.
::: Bursites – ombro, cotovelos, joelhos, articulações coxo-femorais.
::: Outras – síndrome tensional do pescoço, síndrome miofascial, cisto sinovial, radiculopatia
cervical e fibromialgia.
Doenças ocupacionais | 103
Tendinites inflamatórias
As tendinites inflamatórias são aquelas causadas pela inflamação aguda ou crônica dos tendões
ou das bainhas. A principal característica nesse quadro é a dor. Também pode haver edema localizado,
rubor na região afetada e aumento da temperatura local.
Tenossinovite ocupacional
O trabalhador com essa doença inicia com quadro de dor. Logo após, podem aparecer outros
sintomas, tais como redução de força, sensação de peso com ou sem parestesia ou alteração de sensi-
bilidade. Ao exame físico pode-se observar o calor local, rubor, além do espessamento dos tendões ao
longo do músculo.
ombro, que pode se irradiar para o braço e é agravada ao esforço. O diagnóstico dessa doença é reali-
zado através do sinal de Yergason, no qual o paciente sente dor sobre o tendão bicipital e à supinação
do antebraço contra a resistência.
Síndrome do supinador
É a compressão do nervo mediano na altura do cotovelo pelo músculo supinador.
Síndrome de Guyon
Consiste na compressão do nervo ulnar no punho, o que gera alterações na sensibilidade no
quarto e quinto quirodáctilo, com redução de força e pinça.
Bursites
É a condição em que a bursa fica inflamada e irritada, causando dor e edema local. Pode ocorrer
nos ombros, cotovelos, joelhos e articulações coxo-femoral.
Bursite no ombro
A mais comum afeta a bursa subacromial. Ocorre por enrijecimento tendíneo através do excesso
de utilização do supra-espinhoso, ou ainda pelo depósito de cálcio no tendão, interferindo na mobili-
zação do ombro.
Bursite no cotovelo
Atinge principalmente a bursa olecraniana. Ocorre, principalmente, devido a trauma ou apoio
prolongado.
Bursite no joelho
É a inflamação na bursa que envolve a patela. O principal sintoma é a dor em região anterior da
patela, podendo haver edema. Ocasionada pelo trauma direto ou hábito de se ajoelhar.
Bursite no quadril
Atinge especialmente a região do trocânter maior do fêmur. Dor intensa relacionada ao atrito
repetitivo do músculo tensor da fáscia lata deslizando sobre o trocânter.
Outras patologias
Fibromialgia
É o comprometimento doloroso, crônico e difuso do sistema ósteo-muscular. Os pacientes apresen-
tam fadiga, insônia, rigidez, dores difusas, ansiedade e depressão. Os exames geralmente são normais.
Tratamento
O objetivo do tratamento é a busca da melhora do quadro clínico com o retorno do paciente às
suas atividades habituais. Esse retorno deve, obrigatoriamente, vir acompanhado de alterações ergo-
nômicas nos postos de trabalho ou de readaptação em outra atividade que não apresente os mesmos
fatores biomecânicos envolvidos no desencadeamento e agravo da lesão.
É fundamental que o paciente coopere e tenha consciência de suas restrições, não só no trabalho,
mas também nas suas atividades diárias de vida. É um tratamento a longo prazo, sendo necessário o
estadiamento da LER para a sua definição.
O repouso é a primeira e mais importante medida. Deve haver restrição ao movimento em todas
as atividades que envolvam sobrecarga muscular dos membros atingidos. Logo após, inicia-se terapia
com antiinflamatórios não-hormonais e, em alguns casos, antiinflamatórios hormonais. Vitamina B6 e
miorrelaxantes também são utilizados.
Algumas outras medidas podem ser usadas, tais como calor local (relaxamento muscular), gelo
(analgésico e antiinflamatório) e exercícios de alongamento e fortalecimento das áreas da musculatura
afetada. A fisioterapia proporciona importantes melhoras quando associadas aos demais tratamentos.
Considera-se a cirurgia em poucos casos, especialmente naqueles em que os tratamentos conservado-
res não apresentarem resultados satisfatórios.
Texto complementar
Dicas de ergonomia
A figura ao lado apresenta uma série de recomen-
dações fundamentais a este tipo de atividade. Confira
IESDE Brasil S.A.
2. Punho neutro é fundamental! Assim como a altura do monitor, a do teclado também deve
poder ser regulável. Ajuste-a até que fique no nível da altura dos seus cotovelos. Durante a digitação
é importante que o punho fique neutro (reto) como na figura anterior. Mantenha o teclado sempre
na posição mais baixa e digite com os braços suspensos ou use um apoio de punho.
3. Pés bem apoiados! É importante que as pessoas possam trabalhar com os pés no chão.
As cadeiras devem, portanto, possuir regulagens compatíveis com as da população em ques-
tão. Para o Brasil, o ideal seriam cadeiras com regulagem de altura a partir de 36cm. Quando a
cadeira não permite que a pessoa apoie os pés no chão, a solução é adotar um apoio para os
pés, que serve para relaxar a musculatura e para melhorar a circulação sanguínea nos mem-
bros inferiores.
4. Dê um descanso para as costas! - Com excessão de algumas atividades, as cadeiras devem
possuir espaldar (encosto) de tamanho médio. Uma maior superfície de apoio, garante uma melhor
distribuição do peso corporal, e um melhor relaxamento da musculatura. É recomendável ainda,
que as cadeiras não tenham braços (o apoio deve estar nas mesas, para garantir um apoio correto)
e o revestimento deve ser macio e com forração em tecido rugoso.
Dicas gerais
A – Iluminação – Para evitar reflexos, as superfícies de trabalho, paredes e pisos, devem ser fos-
cas e o monitor deve possuir uma tela anti-reflexiva. Evite posicionar o computador perto de janelas
e use luminárias com proteção adequada.
B – Cores – Equilibre as luminâncias usando cores suaves em tons mate. Os coeficientes de
reflexão das superfícies do ambiente, devem estar em torno de: 80% para o teto; 15 a 20% para
o piso; 60% para a parede (parte alta); 40% para as divisórias, para a parede (parte baixa) e
para o mobiliário.
C – Temperatura – Como regra geral, temperaturas confortáveis, para ambientes informati-
zados, são entre 20 e 22 graus centígrados, no inverno e entre 25 e 26 graus centígrados no verão
(com níveis de umidade entre 40 a 60%).
D – Acústica – É recomendável para ambientes de trabalho em que exista solicitação intelec-
tual e atenção constantes, índices de pressão sonora inferiores à 65 dB(A). Por esse motivo reco-
menda-se o adequado tratamento do teto e paredes, através de materiais acústicos e a adoção de
divisórias especiais.
E – Humanização do ambiente – Sempre que possível humanize o ambiente (plantas, qua-
dros e quando possível, som ambiente). Estimule a convivência social entre os funcionários. Muitas
empresas que estão adotando políticas neste sentido vêm obtendo um aumento significativo de
produtividade. Lembre-se que o processo de socialização é muito importante para a saúde psíquica
de quem irá trabalhar nele.
Ampliando conhecimentos
ALMEIDA, I. M. Dificuldades no diagnóstico de doenças ocupacionais e do trabalho. Jornal
Brasileiro de Medicina, v. 74, n. 1/2, p. 35-48, 1998.
Atividades
1. Você é funcionário de uma grande empresa metalúrgica. Um operário o procura com queixa de
dor no ombro esquerdo e relaciona com o trabalho repetitivo que exerce na empresa. O que você,
em Segurança do Trabalho, deve saber?
a) O tempo que esse funcionário está na empresa não é relevante.
b) Conhecer as atividades exercidas por esse trabalhador é fundamental para a elucidação do
quadro.
c) As atividades exercidas fora da empresa não são importantes, mesmo que possam influenciar
no quadro.
d) A jornada de trabalho desse funcionário não interfere no diagnóstico.
2. Qual dos trabalhadores abaixo, de acordo com os conhecimentos teóricos e as estatísticas exis-
tentes, é mais propenso a ser portador de um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho?
a) Frentista de posto de gasolina, homem, 57 anos.
b) Empresária, mulher, 45 anos.
c) Professor aposentado, homem, 71 anos.
d) Bancária, mulher, 32 anos.
e) Jornalista, mulher, 38 anos.
Previdência Social
A Previdência Social é um seguro que garante ao trabalhador ou à sua família uma renda
quando ocorrer perda, temporária ou permanente, da capacidade de trabalho em decorrência dos
riscos sociais.
A Lei Elói Chaves, criada em janeiro de 1923, através do Decreto 4.682, foi considerada a pri-
meira lei brasileira de Previdência Social. Tudo começou com a Caixa de Aposentadorias e Pensões
destinada aos empregados de empresas ferroviárias, criada pelo Congresso Nacional, que os benefi-
ciava com assistência médica, remédios subsidiados, auxílio-funerário e pensões também para seus
dependentes. Em 1926, os benefícios foram estendidos também para os trabalhadores das empresas
portuárias e marítimas.
Com a Era Vargas, em 1930, houve a reestruturação da Previdência Social, sendo incorporadas pra-
ticamente todas as categorias de trabalhadores urbanos. Ocorreu a criação de grandes Institutos Na-
cionais de Previdência e o financiamento dos benefícios começou a ser repartido entre os funcionários,
empregadores e o Governo Federal em observação à Seguridade Social, que foi um conceito inspirado
na legislação previdenciária americana, com uma nova concepção de Seguro Social Total que procurava
abranger toda a população na luta contra a miséria, auxiliando na garantia de condições sociais dignas.
A Lei Orgânica, de 1960, originou toda a doutrina previdenciária atual. A Previdência Social foi
elevada à condição de instituto, passando a abranger quase todos os trabalhadores urbanos brasilei-
ros.Também unificou a legislação previdenciária relativa a todos os seis Institutos de Aposentadorias e
Pensões (IAPs) Marítimos, Bancários, Estiva e Transporte de Cargas, Industriários e Servidores do Estado.
Inicia-se, portanto, o princípio da universalidade, incluso na Constituição Cidadã de 1988.
Criado em 1967, o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS), através da fusão de cinco dos
seis IAPs (exceto o IAPSDE – dos Servidores do Estado, extinto nos anos 1980), era responsável por toda
a assistência médica dos trabalhadores formais. O trabalhador contribuía com 8% de seu salário, mais
8% da folha de pagamento da empresa, independentemente da função ou cargo exercido dentro da
empresa (ramo de atividade ou categoria profissional). Cobria os trabalhadores autônomos ou empre-
gadores (individualmente) que contribuíssem em dobro para o INPS (16% de sua renda básica).
O Ministério da Previdência e Assistência Social, criado em 1974, passou a ter todas as atribuições
referentes à Previdência Social.
Ao INPS, cabia a concessão de benefícios, a readaptação do profissional às atividades de trabalho
e o amparo aos idosos.
110 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Deve haver contribuição para que o servidor tenha acesso aos benefícios.
::: SUS: Vinculado ao Ministério da Saúde, é responsável pela assistência à saúde de todo cidadão
contribuinte ou não do INSS.
Dispõe de atendimento médico, internações, diversos tratamentos, convênios com muitos
hospitais ou qualquer outro serviço na área de saúde pública.
Garantia de assistência à saúde a todo cidadão, sem a necessidade de contribuição.
Seguro social
É o Sistema de Proteção Social que assegura o sustento do trabalhador e de sua família, quando
ele não puder trabalhar por causa de doença, acidente, gravidez, prisão, velhice ou morte.
Conceitos básicos
::: Benefícios previdenciários: são os benefícios concedidos em razão de incapacidade prove-
niente de causa comum.
::: Benefícios acidentários: são os benefícios concedidos nos casos de incapacidade decorrente
de acidentes do trabalho (inclui doença ocupacional).
::: Carência: é o tempo de contribuição exigido para se garantir o recebimento da aposentadoria
ou de outros benefícios a que tem direito o assegurado.
::: Acidente de trabalho: ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exer-
cício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação fun-
cional que cause a morte, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade
para o trabalho.
112 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Auxílio-doença
É o benefício concedido ao segurado que ficar incapacitado temporariamente ao trabalho, por
motivo de doença ou decorrente de acidente de qualquer causa ou natureza. Todos os segurados têm
o direito de receber auxílio-doença, a partir do 16.° dia de incapacidade. O contribuinte individual, do-
méstico, avulso, especial e facultativo, a partir da data em que resultou a incapacidade.
Auxílio-acidente
É o benefício cedido como indenização ao segurado empregado, trabalhador avulso, segurado
especial e ao médico residente que sofram lesões ou apresentem seqüelas de acidentes de qualquer
natureza (auxílio-acidente previdenciário) ou acidente de trabalho (auxílio-acidente acidentário). Pode
ser acumulado com outros benefícios pagos pela Previdência, exceto aposentadoria.
Quando for concedida a aposentadoria, o valor do auxílio-acidente será computado como salário
de contribuição. Nesse caso não é exigido o cumprimento do período de carência e seu valor correspon-
de a 50% do salário de benefício.
::: perda de membro inferior acima do pé quando for impossível o uso de prótese;
::: perda de uma mão ou dois pés, mesmo quando for possível o uso de próteses.
::: perda de um membro superior e um inferior com prótese impossível;
::: alteração mental com grave perturbação organizacional e social;
::: doença que exija permanência contínua em leito;
::: incapacidade permanente para atividades da vida diária.
Auxílio-reclusão
É o benefício pago aos dependentes durante todo o período de detenção ou reclusão do segu-
rado. O dependente poderá receber o benefício, desde que o segurado recluso ou detido não receba
remuneração da empresa, auxílio-doença ou aposentadoria, e desde que seu último salário de con-
tribuição seja de até um salário mínimo. Não é exigido o cumprimento do período de carência para a
concessão do auxílio-reclusão, basta comprovar que o preso é segurado da Previdência Social.
O valor é correspondente a 100% da aposentadoria por invalidez a que o segurado teria direito na
data da reclusão. Caso haja mais de um dependente com direito ao auxílio, o valor é dividido em partes
iguais entre eles.
Auxílio-maternidade
Todas as seguradas da Previdência Social têm direito ao salário-maternidade. Trata-se de um be-
nefício concedido à segurada gestante por 120 dias, e é o único benefício da Previdência Social que não
está sujeito ao teto máximo. Para a segurada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de adoção
de criança é devido o salário-maternidade de:
::: 120 dias, se a criança tiver até um ano de idade;
::: 60 dias se a criança tiver de 1 a 4 anos de idade;
::: 30 dias se a criança tiver de 4 a 8 anos de idade.
Para as trabalhadoras empregadas e avulsas, o salário-maternidade corresponde à última remu-
neração (sem teto). Para as domésticas, o salário-maternidade corresponde ao último salário de contri-
buição (com teto). Para as demais categorias, o salário-maternidade corresponde à média dos últimos
dez salários de contribuição (com teto), apurados nos últimos 15 meses.
Previdência Social | 115
Para as seguradas empregadas avulsas não é exigida carência, enquanto que para as contribuin-
tes individuais, a carência é de dez meses. Para a segurada especial (trabalhadora rural), é necessário ser
comprovado dez meses de efetivo exercício da atividade.
Salário-família
É o benefício pago aos aposentados e trabalhadores de baixa renda para ajudar na manutenção
dos filhos. Tem direito ao benefício o segurado empregado e o trabalhador avulso que tenham um filho
ou equiparado de até 14 anos, ou inválido de qualquer idade, desde que a remuneração mensal seja
inferior ou igual a um salário mínimo.
Aposentados por invalidez ou por idade, e os demais aposentados com 65 anos (homem), ou 60
(mulher), serão beneficiados nas mesmas condições do segurado em atividade. É necessária a apresen-
tação anual do atestado de vacinação para as crianças de até sete anos e de freqüência escolar semes-
tral para as maiores de sete anos.
Aposentadoria especial
É concedida aos segurados empregados, exceto domésticos, e aos trabalhadores avulsos que te-
nham trabalhado em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15,
116 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
20 ou 25 anos, de acordo com o nível de exposição aos agentes nocivos. É necessário ter contribuído por
pelo menos 15 anos para a Previdência Social. O valor da aposentadoria corresponde a 100% do salário
de benefício.
Acidentes nas atividades ou exposição a longo prazo como a extração, fabricação, transporte,
manipulação, manutenção e operação que envolva agentes tais como carvão mineral, chumbo, cromo,
cloro, ruído (acima de 90db), sílica, níquel, mercúrio, iodo, fósforo, petróleo, xisto betuminoso, asbestos
(amianto), dissulfeto de carbono, temperaturas anormais (NR 15), pressão atmosférica anormal, micro-
organismos e parasitas infecciosos vivos e suas toxinas e radiações ionizantes estão entre as causas mais
freqüentes apontadas como motivo das aposentadorias especiais.
Acidentes de trabalho
Consideram-se acidentes de trabalho as seguintes entidades mórbidas:
::: Doença profissional: distúrbio ósteo-muscular relacionado ao trabalho em digitadores; farin-
gite no professor.
::: Doença do trabalho: desde que o agente físico, químico ou biológico estejam presentes no
ambiente de trabalho (pneumoconiose, silicose, câncer).
Não são consideradas doenças do trabalho:
::: doença degenerativa;
::: inerente a grupo etário;
::: doença que não produza incapacidade laborativa;
::: doença endêmica adquirida por habitante em região que ela se desenvolva.
Equiparam-se a acidentes de trabalho:
::: acidente ligado ao trabalho que tenha contribuído diretamente para a morte do segura-
do, redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, mesmo que não tenha sido sua
única causa;
::: ato de agressão, sabotagem ou terrorismo, praticado por terceiro ou colega de trabalho;
::: ofensa física intencional, mesmo de terceiro, por motivo de disputa relacionado ao trabalho;
::: ato de imprudência, negligência, ou imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;
::: ato de pessoa privada do uso da razão;
::: desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos decorrentes de força maior;
::: doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade.
Acidentes sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho quando:
::: na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;
::: na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou lhe pro-
porcionar proveito;
Previdência Social | 117
::: em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo, quando financiada pela empresa den-
tro de seus planos para melhor capacitação de mão-de-obra, independentemente do meio de
locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;
::: no percurso da residência para o local de trabalho, ou deste para aquela, qualquer que seja o
meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Texto complementar
Qualidade de vida no trabalho – estresse
(TEIGA, 2007)
Toda a principal teoria moderna sobre o estresse tem presente uma visão holística do homem,
prevendo, assim, que há a necessidade de estarmos atentos a muitos fatores para combatê-lo. O ma-
nejo adequado do processo requer mais do que mudança de hábitos: requer uma mudança de estilo
de vida, um estilo de vida que respeite as necessidades biológicas, sociais, afetivas e psicológicas.
Os fatores são independentes, mas complementares, como por exemplo, as quatro rodas de
um carro. Você já parou para pensar qual a roda mais importante de seu carro?
Dieta
Quando falamos de dieta, além da alimentação em si, que obviamente está diretamente re-
lacionada ao processo (pois quando estamos sob estresse nosso organismo fica carente de algu-
mas vitaminas, metais e outros nutrientes que são utilizados no funcionamento do sistema nervoso
e mobilização muscular e cardiovascular), estamos preocupados com a qualidade e a quantidade
de nossa ingestão alimentar. Como você se alimenta? Que tipo alimento você está ingerindo?
Quem lhe faz companhia? Qual a freqüência e o tempo de cada refeição? E a quantidade? Que tipo
de assunto é tratado durante as refeições?
118 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Se continuar, creio que muitos de nós vamos acabar nos deprimindo ou simplesmente fechan-
do o manual, pois nossa vida moderna (moderna?) cada vez deixa menos espaço para uma ali-
mentação equilibrada, harmônica e saudável. Assim, toda a análise sobre estresse e toda ação para
administrá-lo inicia na mesa.
Exercícios físicos
Veja, não estou fazendo apologia às academias – apesar de saber o quanto elas são importan-
tes –, estou pensando em pequenas ações diárias, regulares e harmônicas como nossa disponibili-
dade e condição física. Toda atividade física é de extrema importância no controle do estresse. Os
exercícios devem tornar-se um hábito para preservar a saúde, especialmente a do principal músculo
de nosso corpo – o coração.
É vital que sejam desenvolvidas atividades aeróbicas como caminhada, bicicleta, academia,
dança etc., mas sempre sob orientação médica e profissional de alguém devidamente licenciado
e capacitado. Está mais do que comprovado que esse tipo de atividade estimula a produção de en-
dorfinas e que auxilia na redução do excesso de cortisol e adrenalina.
Além dos benefícios biofisiológicos, as atividades físicas regulares e bem orientadas também
nos beneficiam em termos afetivos e psíquicos, melhorando nosso humor, nossa capacidade de
raciocínio, liberando energias bloqueadas ou mal dirigidas etc. Até nosso sistema imunológico é
beneficiado.
Relaxamento
Como está muito mais do que comprovado, toda emoção tem repercussão fisiológica e vice-
versa. Assim, todo estado emocional negativo é acompanhado de tensão muscular e toda a tensão
muscular acaba por gerar um estado negativo em termos de emocionalidade.
As atividades de relaxamento têm por finalidade obter uma resposta fisiológica que se opõe
à reação de estresse. Elas levam a uma redução do ritmo respiratório, do consumo de oxigênio, da
pressão arterial e do fluxo sangüíneo visceral, favorecendo os músculos periféricos. Esta redução
abrange, igualmente, a tensão muscular e esfincteriana.
O relaxamento leva à diminuição do estado ansioso. Assim, se a tensão muscular estiver ausen-
te, é provável que a pessoa sinta-se emocionalmente melhor, ficando apta a interagir adequada-
mente nas situações em que estiver envolvida. Exercícios de relaxamento e de respiração aumentam
o funcionamento do sistema parassimpático e diminuem sobremaneira nossa couraça muscular.
Existem várias técnicas diferentes de relaxamento, algumas verbais, algumas táteis, outras que
envolvem movimento. Elas podem ter orientação fisiológica ou psicológica e são bastante variáveis
em termos de tempo. Assim, cada pessoa deve buscar aquela técnica que melhor se adapte a tal
pessoa, ao seu tempo, ao seu espaço etc.
Não podemos esquecer, no entanto, que, em alguns casos, o manejo do estresse requer tam-
bém uma abordagem profissional psicológica e/ou médica. O autoconhecimento é o pressuposto
Previdência Social | 119
básico para o desenvolvimento da auto-estima, que, por sua vez, é a mola mestra que nos impulsio-
nará na busca de uma eficiente administração do estilo de vida e melhor aproveitamento do tempo
de que dispomos, priorizando nossa qualidade de vida.
Trabalho interessante
Todos nós, ou pelo menos quase todos, necessitamos trabalhar. Assim, ter um trabalho interes-
sante ajuda muito a criar motivação para a vida. É por meio dele que satisfazemos nossa necessidade
de admiração e de reconhecimento. Tanto o excesso quanto a carência desse fator pode nos levar
a problemas de adaptação.
Lembre-se que todo o trabalho pode ser interessante, e isso está mais em nós mesmos do que
no trabalho em si. O desafio fica justamente no sentido que damos ao que fazemos.
Grupos de apoio
Diz um velho ditado que nenhum homem é uma ilha. Conta-se que foi feita uma experiência
no Japão com pessoas assistindo a um filme de muito suspense. Os espectadores tiveram seus sinais
vitais monitorados durante o filme, e verificou-se que aquelas pessoas que estavam sozinhas no
cinema tinham maiores alterações biofisiológicas. Estudos com animais mostraram a mesma coisa,
ou seja, os que foram estimulados fisicamente em grupo resistiram muito melhor aos estressores
físicos e psicológicos que aqueles isolados.
Todos nós necessitamos, para manejar o estresse nosso do dia-a-dia, de pessoas próximas com
quem possamos contar para dividir nossas angústias e que também possam nos dar, de maneira
incondicional, apoio e proteção.
Nada melhor para encerrar do que um pensamento de Hans Selye, que ensina que estresse é
o sal da vida, ou seja, o estresse faz parte da vida, é ele que impulsiona as pessoas e a humanidade
para a evolução e para o crescimento.
Logo, como já dissemos anteriormente, além de impossível, é indesejável eliminar o es-
tresse; o desafio está em administrar o nosso estresse produtivamente. E há duas estratégias
120 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
básicas para isso: na primeira, cada um tem de apreender a adaptar-se a uma carga suportável
e há uma convivência adequada na medida em que se obedece aos seis itens anteriormente
descritos (dieta, exercícios físicos, relaxamento, diversão, trabalho e grupo de apoio); na segun-
da, que deve ser usada quando não é mais possível nos adaptarmos, deve-se diminuir a carga,
eliminar a fonte de estresse e reestruturar a vida.
Lembre-se que cada um é o “senhor de sua vida”, não é o(a) parceiro(a), a família, o trabalho.
Cada um de nós é o responsável maior por sua própria vida e pelo cumprimento de nosso destino.
Assim... mãos à obra!
Atividades
1. É considerada doença do trabalho:
a) faringite crônica em professor.
b) hipertensão arterial em empresário obeso de 50 anos.
c) diabete melitus em trabalhador idoso com histórico familiar positivo para a doença.
d) malária em trabalhador morador de região endêmica.
2. C
2. A
Toxicologia ocupacional
1. E
2. E
Metais pesados
1. C
2. B
122 | Segurança, saúde, higiene e medicina do trabalho
2. C
Normas regulamentadoras
1. B
2. D
Riscos ambientais
1. D
2. C
2. C
Doenças ocupacionais
1. B
2. D
Previdência Social
1. A
2. D
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124 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
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Anotações
126 | Segurança, Saúde, Higiene e Medicina do Trabalho
Anotações | 127
Hino Nacional
Poema de Joaquim Osório Duque Estrada
Música de Francisco Manoel da Silva
Parte I Parte II
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Brasil, de amor eterno seja símbolo
De amor e de esperança à terra desce, O lábaro que ostentas estrelado,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, E diga o verde-louro dessa flâmula
A imagem do Cruzeiro resplandece. – “Paz no futuro e glória no passado.”
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Pátria amada,
Brasil! Brasil!
Atualizado ortograficamente em conformidade com a Lei 5.765, de 1971, e com o artigo 3.º da Convenção Ortográfica
celebrada entre Brasil e Portugal em 29/12/1943.