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Objetivos

 Identificar os problemas que se colocam à pessoa idosa na atualidade.


 Descrever a velhice do ponto de vista físico, psicológico e social, distinguindo-
se das outras “2 idades de vida”.
 Identificar o quadro conceptual básico que permita caracterizar o
envelhecimento nos contextos sociais em que se irá desenvolver.
 Reconhecer e relacionar os diferentes aspetos sociais da velhice.

 Reconhecer as diferentes tarefas do desenvolvimento psicológico.

 Descrever o processo de envelhecimento a nível físico, psicológico e social.

 Enumerar e descrever as diferentes teorias biológicas, psicológicas e


sociológicas.

 Diferenciar as principais teorias do desenvolvimento humano, nomeadamente,


Eric Erickson, Peck e Bulher.

 Reconhecer as tarefas evolutivas e os principais desenvolvimentos do jovem


adulto e da meia-idade.

 Saber quais as alterações estruturais e funcionais que a pessoa sofre da idade


adulta para a velhice.

 Identificar a fase da transição da idade adulta para a velhice, bem como, os


novos papéis sociais.

 Descrever o modo de vida das pessoas de idade, relativamente às suas


condições de vida e à sua satisfação de viver.

Conteúdos programáticos

 Velhice - ciclo vital

o Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico

o Teorias sobre o envelhecimento psicossocial


o Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler

o Do jovem adulto à meia-idade

 - Tarefas evolutivas do jovem adulto

 - Mudança no campo dos interesses e no sistema de valores

 - Casamento e seus ajustamentos

 - Carreira profissional e seus ajustamentos

 - Família e seus ajustamentos

o A meia-idade e as tarefas evolutivas

o Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade

 Velhice - aspetos sociais

o A velhice e a sociedade

 - Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise

 - Mitos da velhice

 - início da velhice e aptidões da velhice

 - negatividades da velhice

 - isolamento e solidão na velhice

o Atitudes, mitos e estereótipos

 - Definições

 - Ideias pré-concebidas

 - Atitudes relacionadas com a pessoa idosa

 - Mitos e estereótipos - perigos potenciais

o Representações da morte

o Problemas sociais da velhice

 - Reconhecimento, perspetiva e reflexão sobre problemas que


se colocam à pessoa idosa na actualidade
 - a situação no princípio do século

 - a velhice e o pós-guerra

o A pessoa idosa no final do século XX

 Velhice - socialização e papéis sociais

o Aspetos sociais da velhice

 - Socialização e papéis sociais

 - Preparação para a velhice: os papéis de transição

 - Velhice e os novos papéis sociais

 Velhice - socialização e papéis sociais

o O modo de vida das pessoas de idade

 - As condições de vida

 - A satisfação de viver

o Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa


idosa

 - O ser velho no ciclo da vida

 - Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbano

 - A reforma

 - Coabitação/conflito de gerações

 - Respostas institucionais

 - Pensar novas respostas

o A pessoa idosa noutras civilizações

Velhice – ciclo vital


No mundo contemporâneo, a velhice humana transformou-se numa questão social e
política, rompendo com o estatuto que manteve até ao final da primeira metade do
século XIX, em que era um assunto quase exclusivamente restrito à esfera privada e
familiar.

Desde o final do século XIX que o exponencial aumento demográfico, a maior


longevidade humana, as melhores condições de vida, a diversidade de estilos de vida
e a maior exigência no desempenho de cidadania, propõem e sedimentam uma nova
dinâmica social face à velhice, diferente da presenciada e vivida nos períodos
anteriores. A recomposição demográfica que tem por base o aumento do índice de
envelhecimento, associada à maior qualidade de vida das pessoas de idade
(nomeadamente com mais saúde), alterou as atitudes e os comportamentos face à
velhice e ao envelhecer. Foi neste segmento que se desenvolveu o Estado-
Providência e foi também, no final do século XX, que ele começou a fraquejar. À
velhice, como categoria populacional, é atribuída grande parte da responsabilidade
pela crise desse Estado de Bem-Estar. É nesse sentido que a velhice é um problema
social das sociedades modernas do início do século XX.

O envelhecimento demográfico em Portugal entre 1960 e 2001 caracterizou-se por um


decréscimo de 36% na população jovem (0-14 anos) e um aumento de 140% da
população com 65 ou mais anos de idade. Dentro deste mesmo grupo acentua-se o
envelhecimento das pessoas com idade igual ou superior a 75 anos que em 1960 era
de 2,7% e passou em 2001 para 6,7% do total da população. A população com idade
igual ou superior a 85 anos aumentou de 0,4% para 1,5% entre 1960 e 2001. Os
indivíduos com 100 anos eram cerca de um milhar com maior longevidade nas
mulheres. Assiste-se assim, ao fenómeno do envelhecimento da própria população
idosa (INE, 2002: 11). A esperança média de vida aumentou, no mesmo período,
cerca de 11 anos para os homens e cerca de 13 para as mulheres. O declínio do
índice de dependência de jovens, que desceu de 59 em 1960 para 48 em 2001,
implicará o declínio da própria população em idade activa nos próximos anos. As
preocupações crescentes que o fenómeno de envelhecimento revela levaram a que a
Assembleia Geral das Nações Unidas convocasse a II Assembleia Mundial sobre o
Envelhecimento, para 2002, no sentido de se equacionar um plano internacional para
o envelhecimento numa perspetiva estratégica de longo prazo.

Querer atribuir uma identidade às pessoas que a sociedade moderna categoriza como
velhas é violentar a sua inserção social, construída, reconstruída e protagonizada em
trajetórias individuais. As pessoas de idade devem ser olhadas pela sua diversidade.
O ciclo vital é o conjunto das fases da vida onde é suposto realizar-se uma série de
transições e de superar uma série de provas e de crises. Este ciclo desenvolve-se
através do contacto com outros seres humanos e através da educação. Uma criança
passa de um modo gradual por diferentes idades e estatutos, como ser capaz e
consciente nas formas de uma cultura, até enfrentar a morte como a conclusão da sua
existência pessoal, a isto se denomina ciclo vital.

Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico

Havighurst (1953), um dos mais notáveis psicólogos do desenvolvimento humano,


insatisfeito com os modelos e teorias do desenvolvimento prevalentes nos anos
quarenta e cinquenta do século XX, realizou só, ou em colaboração com autores de
países diversos, uma série de pesquisas sobre o que denominou o ciclo de vida. O
ciclo de vida começa com a conceção e termina com a morte. Ele considerava que
as propostas de desenvolvimento então vigentes ou eram predominantemente
alicerçadas nas mudanças biológicas ou se centravam em aspetos psicológicos
específicos (cognitivos, emocionais, sexuais e morais), não enfocando, com base em
pesquisas sólidas, o desenvolvimento humano como um todo. Além disso, para os
modelos dominantes a tendência era considerar que o desenvolvimento praticamente
se completava na adolescência (às vezes antes dos quinze anos) ou começo da
juventude.

Entende-se por tarefas de desenvolvimento aquelas que a pessoa deve cumprir


para garantir o seu desenvolvimento e o seu ajustamento psicológico e social. São
tarefas com as quais a pessoa satisfaz as suas necessidades pessoais de evolução e
para garantir o próprio desenvolvimento e manutenção de padrões sociais e culturais
específicos (Melo, 1981, p.21). Mais, além de garantir a formação e a atuação do
cidadão, devem dar base de sustentação para o progresso (pessoal e social) e bem-
estar humano.

Pfromm Netto (1976) considera que as tarefas de desenvolvimento são como lições
que a pessoa deve aprender ao longo da sua existência para se desenvolver
satisfatoriamente e ter êxito na vida. São básicas em cada etapa do ciclo de vida. Há
uma expectativa social de que a pessoa em casa etapa cumpra com êxito as suas
tarefas. Estas não são estanques em cada etapa embora algumas sejam
preferencialmente típicas desta ou daquela fase. Em cada fase todas se relacionam
entre si e o prejuízo ou deficit numa tarefa pode comprometer outras no mesmo
período ou em período futuro.

Mas afinal quais serão as tarefas do desenvolvimento de cada fase do ser humano?
Mas quais são as fases por que passa o ser humano no seu desenvolvimento?
Atentamos às explicações seguintes:

As tarefas são básicas em cada sequência do ciclo de vida. Espera-se que as pessoas
em cada sequência cumpram com êxito as suas tarefas.

Infância_Tarefa Básica: Dominar a leitura e a escrita

Adolescência_Tarefa Básica: Formação Pessoal, Emancipação (tornar-se livre).

Adulto_Tarefa Básica: Responsabilidades cívicas e sociais.

Velhice_Tarefas Básicas: Ajustar-se ao decréscimo da força e saúde.

Na última parte do ciclo também a pessoa idosa tem tarefas de desenvolvimento a


cumprir, de modo a ser feliz e a ter qualidade na sua vida.

Com mais pormenor podemos referir que as tarefas de desenvolvimento da infância


estão sobretudo relacionadas com o instrumento para a independência, para uma
comunicação mais ampla e efetiva, que posteriormente facilitará as escolhas de
formação e profissionalização, entre outras possibilidades.

Na adolescência as tarefas relacionam-se com a fase anterior e prolongam-se para o


período subsequente. A adolescência permite a autonomia e a independência.

Na fase de adulto pretende-se estabelecer e manter um padrão económico de vida;


ajudar os filhos a serem adultos responsáveis e felizes; desenvolver atividades de
lazer; relacionar-se com o(a) esposo(a); aceitar e ajustar-se às mudanças físicas da
meia idade e ajustar-se aos pais idosos.

Na velhice o indivíduo deve ajustar-se à reforma; ajustar-se à morte do cônjuge;


estabelecer filiação a um grupo de pessoas idosas; manter obrigações sociais e
cívicas assim como investir no exercício físico satisfatório, para viver bem a VELHICE.
Nesta etapa as tarefas são mais defensivas e preventivas, mas isso não é razão para
se ter uma perspetiva negativa da velhice.
Cumprir todas as tarefas é importante, assim como é importante o idoso contar com o
apoio da família, da sociedade e dos profissionais que atuam na área. Poderá ter uma
velhice bem sucedida e usufruir do prazer de ser e de viver.

Teorias sobre o envelhecimento psicossocial

Conceito de envelhecimento

É um processo dinâmico e progressivo, com modificações morfológicas, funcionais,


bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do
indivíduo ao meio ambiente ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de
processos patológicos que terminam por levá-lo à morte.

Não existe uma idade específica que transforme uma pessoa em “ancião”, embora
esta se estabeleça frequentemente nos 65 anos, por ser a idade habitual da reforma.

A idade pode ter várias dimensões:

Cronológica Tempo que decorre desde o nascimento até à morte.


Biológica Refere-se aos diversos níveis de maturidade física.
Conjunto de indicadores que permitem compreender como se podem
Funcional
criar condições para um envelhecimento satisfatório.
Capacidade de adaptação do comportamento associado à evolução
Psicológica
dos processos cognitivos e emotivos.

Nem todos os aspetos do organismo estão em sincronia no processo de


envelhecimento, visto que, enquanto as competências físicas estão em declínio, as
competências psicológicas estão a desenvolver-se.

Quando as pessoas envelhecem os défices de funcionamento físico e mental são


frequentemente compensados pela sua maior sabedoria, decorrente da experiência de
vida.

Existem várias teorias que visam explicar o processo de envelhecimento, embora


nenhuma tenha sido comprovada. De cada teoria podem extrair-se algumas causas
pelas quais se envelhece e se morre.
Teorias biológicas

- Senilidade programada:

Os genes pré-determinam a velocidade do envelhecimento porque contêm a


informação sobre quando tempo viverão as células. À medida que estas morrem, os
órgãos começam a funcionar mal e com o tempo não podem manter as funções
biológicas necessárias para que o indivíduo continue a viver.

- Radicais livres:

A causa do envelhecimento das células é o resultado das alterações acumuladas


devido às contínuas reações químicas que se produzem no seu interior. Durante estas
reações formam-se os radicais livres, substâncias tóxicas que danificam as células e
causam envelhecimento. A gravidade do dano aumenta com a idade, até que várias
células não funcionem normalmente ou se destruam e, quando isso acontece, o
organismo morre.

- Imunológica:

As transformações imunológicas resultantes do envelhecimento resultam na formação


de anticorpos que atacam as células sãs do organismo. O sistema imunitário não
conseguiria distinguir as células sãs existentes no organismo das substâncias
estranhas.

- Uso e desgaste:

O organismo funciona como uma máquina, cujas partes se estragam com o uso. Esse
desgaste provocaria anomalias que parariam os seus mecanismos. Embora
desactualizada, a teoria persiste, pelo facto de se reforçar nas observações
quotidianas, como por exemplo o exercício da mente na velhice.

Existem diversas teorias sobre o desenvolvimento humano na sua dimensão


psicossocial que se desenvolvem sob a forma de “abordagens ao desenvolvimento”:

- Abordagem ecológica;

- Teoria do ciclo de vida.


Abordagem ecológica:

Defende que o desenvolvimento humano ocorre ao longo de toda a vida. O


desenvolvimento ocorre na sequência de mudanças duradouras e estáveis. Esta teoria
operacionaliza o conceito de desenvolvimento em contexto.

O desenvolvimento é visto como resultado da interação do indivíduo com os diferentes


ecossistemas em que está inserido:

- Microssistema (família, escola, amigos, local de trabalho);

- Mesossistema (interação família – trabalho – amigos - vizinhos);

- Exossistema (sistema económico, sistema social, sistema de saúde, sistema


governativo);

- Macrossistema (modelo de organização social, económica e política, crenças e


valores fundamentais).

Esta teoria salienta a importância dos contextos de vida e dos diversos papéis que
cada um desempenha tendo por base uma abordagem holística do sujeito. É
necessário considerar o comportamento numa variedade de contextos e as ligações
entre esses contextos.

Teoria do ciclo de vida

É um conjunto de teorias que partilham a ideia de continuidade ao longo da vida desde


o nascimento até a morte.
- Teoria psicossocial do desenvolvimento da personalidade (Erik Erickson):

Esta, de forma sumária, defende que o desenvolvimento humano ocorre ao longo de


toda a vida resultando da interação entre instintos inatos e exigências sociais. Utiliza
oito estádios de desenvolvimento, cada um com a sua crise própria, cada estádio tem
um conflito de necessidades pessoais e sociais. Os estádios estão interligados de uma
forma interdependente e o êxito na resolução de cada uma das crises exige que um
traço positivo seja equilibrado por um traço negativo, predominando o traço positivo. O
êxito na resolução de cada crise é o desenvolvimento de determinada virtude. Na 3ª
idade: a pessoa aceita naturalmente o seu declinar ou se revolta interiormente,
vivendo amargurada e desesperada.

- Teoria de Robert Peck

Este expande a teoria de Erickson, e descreve três ajustes psicológicos importantes


para a fase final da vida. Utiliza definições mais amplas do “eu” contra uma
preocupação com papéis de trabalho. São aqueles que definiram suas vidas pelo
trabalho, direcionando o seu tempo à conquista de méritos profissionais pessoais. Há
uma preocupação com o corpo, para aqueles em que o bem-estar físico é primordial, a
felicidade poderá ficar mergulhada no desespero ao enfrentarem a diminuição
progressiva da saúde, pois com a chegada da terceira idade vem o surgimento das
dores e limitações físicas.

Peck afirma que ao longo da vida, as pessoas precisam de cultivar faculdades mentais
e sociais que cresçam com a idade. O reconhecimento do significado duradouro de
tudo que fizeram ajudará a superar a preocupação com o eu, e continuarem a
contribuir para o bem-estar próprio e dos outros.

- Teoria da Reprodução (Birren):

O desenvolvimento presente reproduz o passado, sendo influenciado por ele. Na


velhice selecciona-se o que houve de melhor nas fases anteriores. O envelhecimento”
é o resultado da interação entre muitas forças (genéticas e ambientais) e a
acumulação de produtos de acontecimentos de vida.

- Teoria do Afastamento:

É a primeira tentativa de explicar o processo de envelhecimento e as mudanças nas


relações entre o indivíduo e a sociedade. Pressupõe que o afastamento seja
considerado natural e espontâneo, reforçando a ideia de que o decréscimo nas
interações sociais é inerente ao processo de envelhecimento e, por isso, inevitável.
Resumindo, à medida que envelhece, o adulto vai perdendo o interesse ou afastando-
se dos papéis sociais que antes representava.

- Teoria da Atividade:

O declínio das atividades físicas e mentais, associado à velhice é um factor


determinante das doenças psicológicas e da retração social do idoso. O interesse em
manter os mesmos níveis de atividade, contribui de forma significativa para um
envelhecimento bem sucedido. Para a manutenção do auto-conceito positivo, os
idosos devem substituir os papéis sociais perdidos por novos papéis, de modo a que o
bem-estar na velhice seja o resultado do incremento de atividades relacionadas a
esses novos papéis sociais.

Teorias psicossociais de Eric Erikson, R. Peck e Buhler

Algumas teorias psicossociais tentam explicar o processo do envelhecimento e o


impacto social desse novo perfil populacional e a relação recíproca do impacto desta
sociedade no idoso pertencente a ela.

Eric Erikson – Teoria do Desenvolvimento

O autor considera que o desenvolvimento da personalidade acompanha todo o ciclo


de vida e que é determinado por interações sociais. O indivíduo age sobre o meio e
modifica-o e vice-versa.

Os pressupostos destas teorias são os seguintes:

- Valorização da interação entre a personalidade em transformação e o meio social;

- O desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia com o nascimento e se


prolonga até ao final da vida;

- A personalidade constrói‐se à medida que a pessoa progride por estádios


psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida;

- Em cada estádio manifesta‐se uma crise: conflito que deve ser resolvido, sendo que
existe uma solução positiva e negativa para cada um deles;
- Quando as crises são resolvidas de forma positiva, resultam em equilíbrio e saúde
mental. As soluções negativas conduzem ao desajustamento e ao sentimento de
fracasso;

- Ajustamento ou desajustamento não são situações ou estados definitivos. Em fases


seguintes, o indivíduo pode passar por experiências positivas e negativas que
contrariem as vivências tidas em estados anteriores.

O conceito de crise, segundo Erikson, é fundamental para a construção da


personalidade que se desenvolve em função da resolução de crises sucessivas. De
acordo com a forma como a crise for resolvida, a pessoa situar‐se‐á mais ou menos
adequadamente no contexto social.

As crises psicológicas que permitem ao indivíduo adquirir sentimentos, como


confiança em si próprio, autonomia, iniciativa, ou pelo contrário, falta de confiança,
sentimentos de inferioridade e culpabilidade, surgem ao longo da vida, distribuídas por
8 fases, em cada uma das quais aparecem virtudes específicas.

Erikson emprega o termo virtude com o significado de uma aquisição positiva que
ocorre quando a resolução da crise é favorável. Esta aquisição constitui um ganho
psicológico, emocional e social que se pode traduzir por um valor, por uma
característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade pessoal ou
por um sentimento.

Assim sendo, Erikson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito estágios


psicossociais, perspetivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o
nascimento até à morte, pertencendo as quatro primeiras ao período de bebé e de
infância e as três últimas aos anos adultos e à velhice, cada estágio é atravessado por
uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa, tal como já foi
referido.

Erikson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao facto ser a


transição entre a infância e a idade adulta, altura em que se verificam acontecimentos
relevantes para a personalidade adulta.

A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estágios, e o entendimento


desta influencia os últimos três estágios. Erikson perspetivava o desenvolvimento
tendo em conta aspetos de cunho biológico, individual e social.

A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se


forma no 5º estágio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente
em todas as idades, sendo a forma como é resolvida determinante para resolver na
vida futura os conflitos.

Esquema de Desenvolvimento de Eric Erickson

Durante o primeiro ano de vida a criança é


substancialmente dependente das pessoas que cuidam
dela, requerendo cuidado quanto à alimentação, higiene,
locomoção, aprendizagem de palavras e os seus
significados, bem como estimulação para perceber que
existe um mundo em movimento ao seu redor. O
1º Estádio – Idade do bebé (0-18
amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a criança
meses)
sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas
pessoas e no mundo.
Crise: Confiança X Desconfiança
A qualidade da forma como o bebé é tratado vai
Virtude: Esperança
desenvolver sentimentos de confiança ou desconfiança em
Questão-chave: Será o meu mundo
relação ao mundo exterior.
social previsível e protetor?
Se as experiências forem vividas de forma positiva, a
criança irá perceber o mundo que a rodeia de forma positiva
e confiante. Se a viver de forma negativa, com cuidados
frios, abusivos, e/ou sem harmonia, não estabelecendo uma
relação que lhe dê confiança irá perceber e receber o
mundo que a rodeia de forma muito desconfiada e insegura.
A criança já detém maior controle dos seus movimentos
musculares: andar, gatinhar. Tem maior autonomia pessoal,
que lhe permite explorar o meio. É a fase em que deixa o
2º Estádio – Primeira Infância (18 biberão e controla os esfíncteres.
meses a 3 anos) Esta fase é caracterizada pela vontade: é esta que
impulsiona a criança à exploração do meio e à conquista da
Crise: Autonomia X Vergonha e sua autonomia. Se, no entanto, for criticada ou
Dúvida ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida quanto a sua
Virtude: Força de vontade capacidade de ser autónoma, provocando uma volta ao
Questão: Será que consigo fazer as estágio anterior, ou seja, a dependência.
coisas sozinho? Pode dar-se um desenvolvimento emocional negativo, caso
os adultos não dêem à criança a independência necessária
para a conquista da sua autonomia pessoal.
Os adultos podem ter dificuldade em deixar a criança
crescer, devido a uma super-protecção.
Nesta fase ocorrem mais penalizações. Um adulto profere a
palavra “Não”, duzentas vezes por dia.
Durante este período a criança passa a perceber as
diferenças sexuais, os papéis desempenhados por
mulheres e homens na sua entendendo de forma diferente o
mundo que a cerca. Se a sua curiosidade sexual e
3º Estádio – Idade do Jogo (3-6 intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá
anos) desenvolver sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de
explorar novas situações ou de buscar novos
Crise: Iniciativa X Culpa conhecimentos. Esta é a fase da formação da identidade,
Virtude: Tenacidade enquanto menino ou menina.
Questão: Serei bom ou mau? Esta apercebe-se das suas características sexuais.
Identifica-se com o progenitor do mesmo sexo e conquista
do progenitor do sexo oposto. Não devem ocorrer castigos
ou comentários de gozo, pois poderá prejudicar o
desenvolvimento da identidade.
Neste período a criança está a ser alfabetizada e frequenta
a escola, o que propicia o convívio com pessoas que não
são os seus familiares.
O desenvolvimento pessoal/emocional vira-se para o
4º Estádio – Idade Escolar (6-12
exterior: a forma como a criança se sociabiliza com os
anos)
outros (adultos e pares). A criança passa a maior parte do
tempo fora de casa e necessita da sua família de origem
Crise: Diligência X Inferioridade
para se reorganizar. Nesta idade criam-se novos amigos.
Virtude: Competência
O que caracteriza esta fase é a Competência: tanto nas
Questão: Serei competente ou
tarefas escolares, como no estabelecimento das suas
incompetente?
relações com os colegas e professores.
Quando aparecem dificuldades em algumas destas áreas
surgem sentimentos de inferioridade. Quando esta fase é
atravessada com sucesso a criança sente que tem mestria
em alguma coisa.
5º Estádio – Idade da Adolescência O quinto estágio ganha contornos diferentes devido à crise
(12-20 anos) psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade Versus
Confusão. Neste contexto o termo crise não possui uma
Crise: Identidade X Confusão aceção dramática, por tratar-se de algo pontual e localizado
Virtude: Fidelidade com pólos positivos e negativos.
Questão: Quem sou eu? O que vou Dão-se alterações significativas nesta fase: tanto no aspeto
fazer da minha vida? físico como no pensamento.
O que caracteriza este estádio é a Fidelidade: a si mesmo e
à sua identidade.
Dá-se uma nova forma de pensamento em que o
adolescente começa a pensar acerca de si mesmo, acerca
de quem é e porque estão a acontecer tantas coisas
diferentes nele próprio.
Neste momento o interesse, além de profissional, gravita
em torno da construção de relações profundas e
duradouras, podendo vivenciar momentos de grande
intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra uma deceção a
tendência será o isolamento temporário ou duradouro.
Surgem nesta fase a defesa por determinados ideais,
constituição de determinados grupos de amigos com ideais
6º Estádio – Jovem adulto (20-35
e interesses em comum.
anos)
Dá-se um afastamento em relação à família de origem.
Se esta fase (após a crise) tiver um bom desfecho poderá
Crise: Intimidade X Isolamento
alcançar-se a estabilização da identidade
Virtude: Amor
Após o estabelecimento da identidade, o indivíduo tem
Questão: Deverei partilhar a minha
tendência a unir-se a outras identidades.
vida com alguém ou deverei viver
Se nas fases anteriores a identidade não estiver bem
sozinho?
consolidada, o indivíduo poderá sentir-se ameaçado por
outras personalidades diferentes e acabar por se isolar.
Erikson salienta nesta fase o Elitismo, uma forma de várias
pessoas com identidades semelhantes se unirem não
deixando outras diferentes entrar.
Uma personalidade estável consegue relacionar-se com
várias personalidades diferentes.
7º Estádio – Idade Adulta/Meia- Pode aparecer uma dedicação à sociedade, à sua volta a
idade (35-65 anos) realização de valiosas contribuições, ou então uma grande
preocupação com o conforto físico e material.
Crise: Criatividade X Estagnação O indivíduo preocupa-se com tudo o que pode ser gerado:
Virtude: Consideração desde filhos, a ideias, produtos, etc. – campo pessoal e
Questão: Produzirei algo com valor, laboral.
útil para mim e também para os O indivíduo sente necessidade de transmitir conhecimentos,
outros? sabedoria; transmissão de valores sociais de pais para
filhos; transmissão de conhecimentos da geração anterior
para a posterior, garantindo assim a sobrevivência de uma
cultura.
Caso esta transmissão não ocorra, o indivíduo poderá sentir
que tudo o que viveu, construiu não valeu a pena, não teve
continuidade dando-se uma estagnação.
Coincide com a reforma.
Tempo para reflectir: no que passou, no que viveu e no que
poderá ainda viver.
Se o envelhecimento ocorre com s e n t i m e n t o de
produtividade e valorização do que foi vivido, sem
arrependimentos e lamentações sobre oportunidades
8º Estádio – Terceira Idade/Idoso
perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos,
(>65 anos)
do contrário, um sentimento de tempo perdido e a
Crise: Integridade X Desespero
impossibilidade de começar de novo trará tristeza e
Virtude: Sabedoria
desesperança.
Questão: Valeu a pena viver?
Existem pessoas que sentem aproximação da morte e
entram em desespero. Outras encontram-se satisfeitas, com
a sensação de missão cumprida.
Erikson fala da possibilidade de empregar o seu tempo,
criando pequenos projectos e ocupações que o ajudam a
lidar com o desespero do fim da vida.

Robert Peck – Teoria Psicossocial do Desenvolvimento

Este autor acrescentou dimensões interessantes ao trabalho de Erickson. Os dois


últimos estádios de Erikson dão uma definição demasiado geral da idade adulta e
velhice. Peck procurou uma definição mais pormenorizada para as questões
relacionadas com a meia-idade e velhice.
A vida deve encaminhar-se de tal forma que as preocupações com trabalho, bem-estar
físico e mera existência não ofusquem a mais importante reflexão que todos devem ter
antes de chegar à velhice: entender-se a si mesmo e dar um propósito à vida. Só
assim, a velhice chegará sem traumas e será um período de orgulho das realizações e
livre de frustrações, medos e desespero.

 Charlotte Buhler – Teoria do Desenvolvimento

Charlotte propôs um modelo psicológico pioneiro, precursor de ideias mais


contemporâneas, como a teoria do curso da vida.
A primeira conclusão a que rapidamente chegou nas suas investigações é que a vida
da pessoa está em constante alteração devido a factores biológicos, psicológicos e
sociais. Cada fase caracteriza-se por mudanças em termos de acontecimentos,
atitudes e realizações durante o ciclo de vida.

O desenvolvimento da vida humana processa-se por fases, que abrangem toda a sua
extensão, conjugando a idade cronológica com processos que marcam momentos de
expansão (infância), culminância (vida adulta) e contração (velhice), sendo o
amadurecimento psicológico orientado e organizado por metas ao longo de todo o
processo.

Na tabela seguinte podemos observar o sistema de estádios proposto por Charlotte


Bühler em que aparecem as definições etárias de cada fase, assim como as
respetivas características definidas em termos da forma como são geridos os objetivos
pessoais de cada indivíduo. É importante mais uma vez ter em atenção que as idades
apontadas para o início e fim de casa fase devem sempre ser assumidas de forma
aproximativa na medida em que estão naturalmente ligadas às circunstâncias
históricas e culturais em que esta teoria foi desenvolvida.

A primeira fase ou período do desenvolvimento humano corresponde ao intervalo


entre o nascimento e mais ou menos os 15 anos de idade. Enquadram-se neste
período crianças e jovens vivendo em casa dos pais. Como é fácil de compreender
neste período não existe autodeterminação dos objetivos pessoais, dado que os
objetivos centrais na vida de uma pessoa até aos 15 anos estão centrados na
aquisição da instrução e competências que se consideram essenciais numa
determinada sociedade para um efetivo exercício da cidadania. É por isso que em
todas as nações evoluídas foi instituída a noção de escolaridade obrigatória. Nesta
fase o indivíduo é totalmente dependente e não possui identidade própria.

A segunda fase corresponde ao período da juventude. Nesta fase a


autodeterminação tem ainda um carácter provisório e de tentativa. É a época em que
começam a ser realizadas as primeiras escolhas pessoais adquirindo assim alguma
autodeterminação. As realizações centram-se à volta das tarefas de preparação para a
profissão, dos inícios profissionais e das relações pré-conjugais. Atualmente na nossa
sociedade as realizações desta fase passam muitas vezes pelo início da frequência do
ensino superior o que pode implicar a mudança de local de residência e uma
expansão clara das relações sociais. O carácter experimental destas realizações faz
com que algumas vezes o jovem mude de curso, de parceiro(a) romântico.

A terceira fase compreende um intervalo dos 25 aos 45 anos e inaugura o período de


maturidade no qual se verifica a autodeterminação completa e definitiva. Esta fase é
marcada pelo desenvolvimento estável da capacidade de procriação na área biológica
e, na área psíquica, pela estruturação definitiva do planeamento de metas e por uma
expansão criativa, através da realização plena de uma atividade profissional. Estamos
no cume da vida, entre o crescimento e a decadência.

A este período segue-se um outro entre os 45 e os 65 anos, em que de forma geral se


verifica a perda da capacidade de procriação e o aparecimento da necessidade de
fazer um balanço dos objetivos de vida alcançados e não alcançados. Com efeito, a
idade dos balanços é determinada pelo pressuposto que nesta fase os indivíduos
examinam os resultados da sua vida, em função de corresponderem ou não às
expectativas e se a vida pode ainda ser remediada e continuar num sentido
progressivo ou não. O resultado deste processo vai ter naturalmente um impacto
significativo na forma como é vivida a próxima e final fase do ciclo de vida. É esta
também a época em que tomam importância os êxitos e feitos da profissão, em que
por vezes se dá um retrocesso profissional, e em que os filhos saem de casa, se
tornam independentes e talvez enriqueçam a primitiva família mediante a fundação de
uma família própria, ou então a empobrecem separando-se da mesma. Outro aspeto
interessante relacionado com esta fase é o desfasamento entre nível biológico e
psicológico pois o idoso utiliza a experiência como uma forma de compensação das
funções físicas em declínio.
Finalmente, a quinta fase, que começa por volta dos 65/70 anos, é marcada,
conforme os indivíduos, por um período de calma após a vida ativa, e a que
corresponde também uma nítida decadência física e de elasticidade mental. É a época
em que as profissões primitivas são substituídas por profissões parciais ou hobbies e
em que muitas vezes se verifica a perda de um dos cônjuges. Neste momento é clara
a consciência que não há mais lugar à realização de grandes objetivos e metas
pessoais, por isso, o idoso muitas vezes reformula os seus objetivos restringindo-os a
um plano mais concreto e imediato.

Uma das primeiras constatações que podemos fazer acerca da teoria de Charlotte
Bühler é o paralelismo evidente entre os processos biológicos de crescimento,
estabilidade e declínio, e os processos psicológicos de expansão e culminação. Por
outro lado, muitas vezes a curva biológica está à frente da curva psicossocial do
indivíduo. Isto é especialmente verdadeiro quando um bom funcionamento a nível das
faculdades mentais permite que uma pessoa possa manter um alto grau de
produtividade durante vários anos após o início do declínio das capacidades físicas.
Neste campo é também possível constatar uma considerável variação individual, uma
vez que uma pessoa pode tornar-se altamente produtiva um pouco tarde na vida e
atingir a fase de culminação psicossocial vários anos após atingir o período de
culminação biológica.

Em suma, esta visão do desenvolvimento adulto sugere que o ciclo de vida pode ser
visto em termos de duas tendências gerais: - expansão e contração. Por isso, existe
certamente um momento durante a meia-idade que funciona como ponto de viragem
importante entre essas duas tendências contraditórias, quer dizer, o momento em que
a expansão dá lugar à contração. A autora sugere que o ponto de viragem se situa
algures durante o período de auto-avaliação após a fase de culminação da meia-idade
(mais ou menos entre os 40 e os 45 anos). Claro que existem muitos factores que
podem influenciar este processo. Por exemplo, o ponto de viragem pode resultar da
satisfação de alguns motivos de crescimento e expansão anteriores o que permite o
surgimento de outros motivos. Pode também resultar de perdas físicas ou sociais, da
sensação de se estar “encalhado” numa situação, ou até da alteração de perspetiva
temporal que acontece num determinado momento da meia-idade e que resulta da
noção de já se ter vivido mais de metade da vida.

Provavelmente a forma como o adulto e idoso vai alterando a definição dos seus
motivos e objetivos pessoais resulta da interação entre factores sociais, biológicos e
psicológicos que podem afetar homens e mulheres de forma diferente e que podem
também afetar de forma diferente pessoas com estatutos socioeconómicos diferentes.
No entanto, apesar de esta mudança na definição de objetivos e metas pessoais (ou
de motivação) ser muito importante, Charlotte Bühler concluiu, a partir dos seus
estudos, que a sensação de não se ter alcançado e cumprido de forma satisfatória os
seus objetivos era um factor mais importante que o declínio físico no desencadear de
problemas de adaptação na velhice.

Do jovem adulto à meia-idade

 Tarefas evolutivas do jovem adulto

O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira como vê o outro. Este
desenvolvimento permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma
relativa autossuficiência no mundo adulto o que vai facilitar a relação de reciprocidade
com os pais.

Desenvolvem-se as amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas, diferentes


daquelas da adolescência, as amizades com pessoas de diferentes idades e de
diferentes estatutos sociais.

Desenvolve-se a capacidade para a intimidade emocional e sexual. O jovem adulto


poderá criar intimidade com outros. É neste idade que se tornam pai ou mãe em
termos biológicos e psicológicos, isto é “engravidar até pode ser fácil; difícil é ser pai
ou mãe. ”

É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta, encontrando um lugar
no mundo do trabalho. O jovem adulto deverá desenvolver formas adultas de brincar.
Não se deve esquecer que o brincar é a base do inventar, do criar, do descobrir,
essenciais na atividade artística e científica.

Toma-se consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada. O


início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem adequada
para essa fase depende da resolução satisfatória das crises da infância e da
adolescência. É um período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total
maturidade e apresenta o máximo em seu potencial para a satisfação pessoal. A
pessoa deve ser capaz de mudar sempre para atender às exigências das situações.
Jovem Adulto (de 20 a 40 anos) – principais desenvolvimentos

 Saúde física atinge o máximo, depois cai ligeiramente.


 Habilidades cognitivas assumem maior complexidade.
 Decisões sobre relacionamentos íntimos são tomadas.
 A maioria das pessoas se casa; a maioria tem filhos.
 Escolhas profissionais são feitas.

Meia-idade (de 40 a 65 anos) – principais desenvolvimentos

 Ocorre certa deterioração da saúde física, e declínio da resistência e perícia.


 Mulheres entram na menopausa.
 Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas;
capacidade de resolver novos problemas declina.
 Sentido de identidade continua a se desenvolver.
 Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar stress.
 Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio.
 Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo; para outros
ocorre um esgotamento profissional.
 Busca do sentido da vida assume importância fundamental.
 Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade.

Terceira idade (de 65 anos em diante) – principais desenvolvimentos

 A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e a capacidade


física declinem um pouco.
 Retardamento do tempo de reação afecta muitos aspetos do funcionamento.
 A maioria das pessoas é mentalmente ativa. Embora a inteligência e a
memória se possam deteriorar em algumas áreas, a maioria das pessoas
encontra modos de compensação.
 A reforma pode criar mais tempo para o lazer mas pode diminuir os
rendimentos.
 As pessoas precisam de enfrentar perdas em muitas áreas (perdas de suas
próprias faculdades, perda de afetos) e a iminência da sua própria morte.
 Mudança no campo dos interesses e no sistema de valores

É com a entrada no mundo adulto e, por sinal mais maduro em termos intelectuais,
que se notam as maiores alterações no indivíduo. Este começa a ter consciência das
alterações física, psicológicas, biológicas entre outras.

Cria-se uma consciencialização permanente de “vida adulta”, embebida de sentimento


de responsabilidades em vários campos, o que permite uma realização de vida social
plena.

Os interesses do individuo, alteram-se, permitindo-lhe construir a idealização dos seus


objetivos pessoais, em conjunto com o seu desenvolvimento social, temos agora uma
mudança entre o interesse “infantil” e a entrada na “realidade adulta”, os seus valores,
que foram construídos ao longo das suas vivências, agora são delimitados pela própria
aprendizagem, tidos como valores pessoais.

 Casamento e seus ajustamentos

O casamento considera a ideia de constituição de família, o que implica o ajustamento


a uma nova realidade. A alteração na estrutura social do sujeito implica outras
alterações, é implícito que este se adapte a novas etapas, permitindo-se desenvolver
como ser humano e sujeito consciente do seu meio, sociedade, cultura, entre outros
aspetos.

O relacionamento conjugal está associado à saúde e à qualidade de vida,


principalmente nos anos de maturidade e velhice, embora o facto de um casamento
durar não significa necessariamente que o mesmo é satisfatório para os conjugues.

O casamento pode dividir-se cronologicamente da seguinte forma:

 Recém-casados (0 - 5 anos) _ os primeiros anos de profundo conhecimento do


novo casal.
 Crescimento (6 - 25 anos) _ geralmente coincide com a fase ativa dos
cônjuges, chegada e crescimento dos filhos.
 Maturidade (acima de 26 anos) _ também conhecido como a fase do “ninho
vazio”, quando os filhos começam a sair de casa para se casarem.

 Carreira profissional e seus ajustamentos


A entrada na vida adulta pressupõe algumas condicionantes, uma dessas é a entrada
no mercado laboral. Implica que o sujeito se torne responsável. No caso de se preferir
uma carreira profissional incompatível com uma vida “familiar” tradicional. Esta escolha
implica, mudanças e adaptações a fazer.

Há um declínio após os 65 anos de idade, pois envolve as tarefas de desaceleração,


planeamento para a reforma e a criação de um novo modo de vida na condição de
reformado.

 Família e seus ajustamentos

Existem inúmeras ocorrências que podem influenciar as dinâmicas familiares, cabe a


cada um decidir o que fazer. Fazendo compromissos de entendimento entre o que
pretende a nível pessoal e o que, a nível familiar, pode obter.

As escolhas que o sujeito faz são decididas por si e assumidas como tal, seja uma
carreira profissional, uma vida familiar, cada sujeito decide e vive as suas decisões.

Na sociedade contemporânea, desconsiderando, os casos verdadeiros de negligência,


considera-se que a família tem poucas condições de dar conta da situação complexa
da velhice, pelos seguintes motivos:

 O seu tamanho diminui consideravelmente e, assim, as suas


funções/capacidades também;
 O grande número de filhos e netos servia de garantia e amparo aos mais
velhos no futuro;
 Parte da responsabilidade pelo idoso foi transferida ao Estado;
 Os avanços tecnológicos a nível da medicina (saúde), levaram a que somente
pudesse ser operada em locais próprios e por especialistas e não em ambiente
familiar.

A meia-idade e as tarefas evolutivas

A meia-idade é uma fase do ciclo vital que se estende, aproximadamente, dos 40 aos
60 anos. A princípio, a meia-idade é um período caracterizado por um movimento
interno da pessoa para resumir e reavaliar a própria vida. Mesmo que esses
movimentos não conduzam a qualquer mudança efetiva. Essa auto-avaliação não se
refere apenas à busca por metas, mas também às satisfações interiores.
Considerações em torno do que a pessoa conseguiu, e se essas conquistas estão de
acordo com os sonhos e as ideias anteriormente alimentadas tornam-se, então, ponto
principal nessa etapa da vida.

As décadas que constituem a meia-idade podem vir a confirmar, ou não, os


progressos profissionais, a estabilização das relações afetivas de modo geral e
especialmente a conjugal. Similarmente, o indivíduo é levado a fazer considerações a
respeito das suas conquistas alcançadas na esfera cívica e socioeconómica da vida.

Por tudo isso é que pode-se dizer que é o adulto na meia-idade tem como principais
tarefas:

 Aceitação do corpo que envelhece (ex. menopausa / andropausa);


 Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
 Manutenção da intimidade;
 Reavaliação dos relacionamentos;
 Relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos
membros;
 Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
 Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
 Preparação para a velhice.
 A orientação da geração futura (relacionamento com os filhos);
 Apoio à última geração (inversão dos papéis relativamente aos pais);
 Reavaliação dos relacionamentos.

A vida familiar dos adultos caracteriza-se pela:

 Saída dos filhos de casa (jovem adultos), para formar novas famílias.
 Necessidade de cuidar dos pais idosos.
 Entrada de novos elementos para a família (genros/noras).
 Assumir novos papéis, tornar-se avós.

Este novo papel social dá um novo significado à vida do indivíduo, implica um novo
envolvimento com o passado, transmite um sentimento de imortalidade pessoal,
passando pelo “estragar os netos”. Os avós podem assumir diferentes tipos de
interações com os netos: companheiros, distantes ou mais presentes.
O casal que se manteve junto ao longo das diferentes etapas do ciclo de vida familiar,
vai encontrar grandes diferenças na sua relação conjugal.

Consoante o casal tenha ou não aprofundado a sua relação conjugal (como casal) ao
longo dos anos, e tenha ou não enriquecido a relação conjugal ao longo dos anos e
tenha ou não acompanhado de perto a evolução pessoal que cada um dos cônjuges
terá influência desde que se conheceram, namoram, casaram, tiveram filhos e os
criaram, até ao momento presente de casal de meia-idade.

Os casais cuja força organizadora se centrava na educação dos filhos terão de fazer
um reajustamento conjugal mais acentuado nesta fase. Uma tarefa com que os casais
se deparam consiste em reencontrar um equilíbrio na sua relação. É necessário fazer
um balanço da relação a dois, analisando o projeto de vida conjunta que tinham e o
que pretendem alcançar no futuro. Exige uma reflexão sobre o sentido de família e de
conjugalidade.

O indivíduo na meia idade depara-se ainda com:

 A aceitação do corpo que envelhece;


 A aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
 A manutenção da intimidade;
 A reavaliação dos relacionamentos;
 Os relacionamentos com os filhos: deixar sair, atingir igualdade, integrar novos
membros;
 O exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor.

Aspetos estruturais e funcionais da meia -idade

 Velhice – aspetos sociais

As teorias que abrangem o desenvolvimento adulto pressupõem que há regularidades


no ciclo da vida, onde se processam mudanças e que se tratam de adaptações
cumulativas a eventos biológicos, psicológicos e sociais. Porém, sabemos que as
pessoas não envelhecem todas da mesma maneira. A par dos factores genéticos que
determinam muito do processo, há que realçar que não é igual envelhecer no feminino
ou no masculino, sozinho ou no seio da família, casado, solteiro, viúvo ou divorciado,
com filhos ou sem filhos, no meio urbano ou no meio rural, no litoral ou na
intelectualidade das profissões culturais, no seu país de origem ou no estrangeiro,
ativo ou inativo.

O envelhecimento diferencial resulta de processos intrínsecos que se manifestam


a nível dos órgãos, tecidos e células:

 A pele envelhece mais rapidamente que o fígado.

 As complicações vasculares afectarão o sistema cardíaco, principalmente.

 A arteriosclerose acumulada por má alimentação, pelo stress e contaminação


bacteriana, poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, de acordo com hábitos
prevalecentes e resistência orgânica.

Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento celular, este não atinge
simultaneamente todas as células e, consequentemente, todos os tecidos, órgãos e
sistemas. Cada sistema tem o seu tempo de envelhecimento, mas sem a interferência
dos factores ambientais há alterações que se dão mais cedo e se tornam mais
evidentes quando o organismo é agredido pela doença.

As modificações fisiológicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam


de interações complexas entre os vários factores intrínsecos e extrínsecos e
manifestam-se através de mudanças estruturais e funcionais que se encontram
sintetizadas no quadro 1.

Quadro 1 - Modificações fisiológicas do envelhecimento

ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS

Sistema cardiovascular

Células e tecidos Sistema respiratório

Composição global do corpo e peso Sistema renal e urinário


corporal

Músculos ossos e articulações Sistema gastrointestinal

Pele e tecidos subcutâneos Sistema nervoso e sensorial

Tegumentos Sistema endócrino e metabólico

Sistema imunitário

Ritmos biológicos e sono


Fonte: Pessoas Idosas: uma abordagem global (Berger e Poirier, 1995)
Tal como em todas as fases da vida, também a velhice implica perdas e ganhos. Um
equilíbrio entre as perdas e os ganhos é fundamental para um envelhecimento óptimo,
o que implica um ajustamento ao declínio das capacidades físicas e da saúde e ao
mesmo tempo desenvolver sentimentos de auto-valorização e satisfação em áreas
sem ser o trabalho.

Aspetos Físicos Exteriores

 Redução da agilidade e da força física


 Falta de firmeza nas mãos e nas pernas
 Rugas e cabelos brancos
 Aparecimento de manchas escuras na pele
 Cabelos mais finos
 Queda de cabelo

Aspetos Físicos Internos

 Entrada na menopausa / andropausa


 Visão ao perto piora
 Fadiga durante o dia / insónia durante a noite
 Perde de sensibilidade ao tacto
 Diminuição da capacidade auditiva
 Alteração do olfacto e do paladar
 Perda de memória
 Redução da eficiência respiratória
 Mudanças no sistema nervoso
 Tempo de reação torna-se mais lento

Aspetos Psicológicos

As mudanças biológicas têm influência a nível psicológico modificando a auto-imagem/


auto-conceito, assim como o ajustamento ao meio envolvente.

 As mulheres entram na menopausa


 Ocorre uma certa deterioração da saúde física e inicia-se o declínio da
resistência e da perícia
 O sentido de identidade continua a desenvolver-se
 Podem ocorrer as crises de meia-idade
 Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar stress
 Sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo, ou ocorre um esgotamento
profissional
 Partida dos filhos tipicamente deixa a síndrome de ninho vazio

A velhice e a sociedade

 Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise

Velhice é o último período da evolução natural da vida. Implica um conjunto de


situações – biológicas e fisiológicas, mas também psicológicas, sociais, económicas e
políticas – que compõem o quotidiano das pessoas que vivem nessa fase.

Envelhecimento é um processo que provoca no organismo modificações biológicas,


psicológicas e sociais. A velhice não é um processo como o envelhecimento, é antes
um estado que caracteriza a condição do ser humano idoso.

Idoso geralmente é especificado pelo tempo cronológico, mas existem questões


físicas, funcionais, mentais e de saúde que podem influenciar. O idoso é o resultado
do processo de desenvolvimento do seu curso de vida. Faz parte de uma consciência
coletiva.

Velhice é a última fase do processo de envelhecimento. É um conceito abstrato,


sendo possível delimitá-la em tempo ou em características.

Não há uma idade universalmente aceite como o limiar da velhice. As opiniões


divergem de acordo com a classe socioeconómica e o nível cultural, e mesmo entre os
estudiosos não há consenso. Para efeitos estatísticos e administrativos, a idade em
que se chega à velhice costuma ser fixada em 65 anos em diversos países, após o
encerramento da fase economicamente ativa da pessoa, com a reforma. Atualmente,
nas nações mais desenvolvidas, esse limite não parece absolutamente adequado do
ponto de vista biológico, pelo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou-o
para 75 anos.

Identificamos os variados sentidos que o conceito idade pode assumir:

Idade cronológica – refere-se ao tempo que decorre entre o nascimento e o momento


presente.
Idade jurídica – corresponde à necessidade social de estabelecer normas de conduta
e determinar qual a idade em que o sujeito adquire determinados direitos e deveres
perante a sociedade.

Idade física e biológica – tem em conta o ritmo a que cada indivíduo envelhece.

Idade psicoafectiva – reflete a personalidade e as emoções de um sujeito, não tendo


esta limites em função da idade cronológica.

Idade social – relacionada com a sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma
pessoa e que corresponde às suas condições socioeconómicas.

Associando os fundamentos destas definições constatamos que todas elas incluem,


na sua definição, a influência que a interação do sujeito tem com os padrões de vida
que o rodeia e socializa.

Para compreender tal transformação, é preciso ter em conta o aumento progressivo da


longevidade e, portanto, da esperança média de vida que se produziu nas últimas
décadas do século XX, facto sem precedentes na história. O fenómeno deve-se aos
avanços na área de saúde pública e da medicina em geral, e à melhoria das condições
de vida nos seus mais variados aspetos. Por isso, é cada vez maior o número de
pessoas que ultrapassam os 67 anos de idade e, mais que isso, que atingem essa
idade em boas condições físicas e mentais. O século XXI é o século dos idosos no
mundo ocidental.

O envelhecimento é um conjunto de processos de natureza física, psicológica e


social, que com o tempo, produzem mudanças na capacidade de funcionamento dos
indivíduos e influenciam a sua definição social, é um processo universal, intrínseco e
que acarreta consequências negativas. O envelhecimento é um fenómeno universal,
irreversível e inevitável em todos os seres vivos.

No ser humano o envelhecimento resulta:

 Do envelhecimento orgânico das células tecidos e órgãos, com a diminuição do


seu funcionamento e consequente diminuição da sua capacidade de
sobrevivência;
 Da alteração dos seus papéis na sociedade e na família;
 Da representação mental que o indivíduo faz de si próprio e do meio que o
envolve.

O conceito de velhice remete-nos:


 Para a noção de idade – indiciando que a velhice se constitui num grupo de
idade homogéneo.

As alterações surgidas com a idade dependem também do estilo de vida que cada um
teve ao longo do seu percurso.

As limitações corporais e a consciência da temporalidade passam a ser problemáticas


fundamentais no processo do envelhecimento humano, e aparecem de forma reiterada
no discurso dos idosos, embora possam adquirir diferentes mudanças e intensidades
dependendo da sua situação social e da própria estrutura psíquica. Corpo e tempo
entrecruzam-se no devir do envelhecimento, e como consequência disso, nascerão as
diversas velhices e as suas consequentes múltiplas representações. Entretanto, se
cada pessoa tem a sua velhice singular, as velhices passam a ser incontáveis e a
definição do próprio termo torna-se um impasse.

Há uma certa impossibilidade de se estabelecer uma definição ampla e aceitável em


relação ao envelhecimento. Percebe-se atualmente que os nossos referenciais sobre a
terceira idade e tudo o que se supunha saber é insuficiente para definir o que se
concebe como terceira idade/envelhecimento/velhice.

A característica principal da velhice é o declínio, geralmente físico. Os teóricos


classificam tal declínio de duas maneiras: a senescência e a senilidade.

A senescência é um fenómeno fisiológico e universal, arbitrariamente identificada


pela idade cronológica, pode ser considerada um envelhecimento sadio, onde o
declínio físico e mental é lento, e compensado, de certa forma, pelo organismo.

A senilidade caracteriza-se pelo declínio físico associado à desorganização mental.


Curiosamente, a senilidade não é exclusiva da idade avançada, pode ocorrer
prematuramente, pois, identifica-se com uma perda considerável do funcionamento
físico e cognitivo, observável pelas alterações na coordenação motora, a alta
irritabilidade, além de uma considerável perda de memória.

 Mitos da velhice

 início da velhice e aptidões da velhice

Como a velhice é um estado que se manifesta de uma forma individual, uma vez que
cada um “sente” o seu próprio processo de envelhecimento e vive-o à sua maneira
assumindo que este estado inicia aquando das primeiras manifestações de “limitação
as atividades da vida diária”, as diferentes formas de lidar com esta nova etapa são
decididas pelos próprios sujeitos, cada um encara a velhice à sua maneira.

 negatividades da velhice

A velhice é vista como a degradação da condição humana, o processo de


senescência, a degradação tecidular e os processos ditos normais dos jovens e
adultos, entram em declínio, como a coordenação motora. Estas condicionantes são
as que fazem da velhice algo de negativo.

 isolamento e solidão na velhice

O isolamento tende a ocorrer quando o idoso perde os seus familiares próximos. Mas
este isolamento não é só uma dimensão familiar, é também social. Quando o idoso
não mantem uma relação com a comunidade que o rodeia, ou não se permite
estabelecer qualquer tipo de laço vinculativo de afetos com qualquer outra pessoa. O
isolamento leva a um aumento da sensação de inutilidade social.

o Atitudes, mitos e estereótipos

O envelhecimento é um processo que está repleto de conceções falsas, temores,


crenças, mitos e preconceitos.

Gerontofobia: Medo irracional de envelhecer e de lidar com a velhice. Leva a um


bloqueio afetivo que provoca desdém e resistência face ao fenómeno do
envelhecimento. Manifesta-se por comportamentos desfavoráveis e negativos, pela
recusa, apatia e indiferença.

Agismo ou Idadismo: Discriminação em função da idade que resulta da difusão de


estereótipos que atribuem às pessoas idosas uma falsa homogeneidade e ocultam a
sua individualidade.

Infantilização: Trata-se de uma atitude para com o idoso que o vai diminuir e fazer
sentir como uma criança. Acontece pelo simplificar demasiado as atividades, pela
organização de atividades que não respondam às necessidades dos idosos, pelo
tratamento desadequado.

Assim, tópicos, ditos, frases feitas, etiquetas verbais ou adjetivações a respeito de


pessoas e grupos, são alusões que frequentemente encontramos, quer nas conversas
diárias da rua, quer nos meios de comunicação social. O mundo social e humano,
dificilmente se nos apresenta, em sua crua realidade objectiva, sem possuir
adjetivações (frequentemente estereotipadas), porque o estereótipo é precisamente
uma perceção extremamente simplificada e geralmente com ausência de matrizes. Na
medida em que o conhecimento humano não é capaz de ser sempre complexo,
flexível e crítico podemos dizer que tendemos a cair no estereótipo.

Estereótipo: É uma imagem mental muito simplificada de alguma categoria de


pessoas, instituições ou acontecimentos que é partilhada, nas suas características
essenciais por um grande número de pessoas.

Os estereótipos mais estudados atualmente são os que se referem a grupos étnicos,


no entanto, existem estereótipos em todos os domínios da vida social: relativos a
ambos os sexos, às ocupações, ao ciclo vital, à família, à classe social, ao estado civil,
aos desvios sociais e a qualquer campo da vida que desejamos diferenciar.

Estudos recentes reafirmam o papel crucial dos estereótipos na percepção de outros


seres humanos, as pessoas utilizam prioritariamente os estereótipos para interpretar a
informação complexa sobre indivíduos e grupos, buscando outras interpretações
apenas, quando os estereótipos não oferecem explicações suficientes.

O estereótipo é uma representação social sobre os traços típicos de um grupo,


categoria ou classe social e caracteriza-se por ser um modelo lógico para resolver
uma contradição da vida quotidiana, e serve sobretudo para dominar o real. No
entanto, também contribui para o não reconhecimento da unicidade do indivíduo, a
não reciprocidade, a não duplicidade, o despotismo em determinadas situações.

Socialmente, e no caso dos idosos, a valorização dos estereótipos projeta sobre a


velhice uma representação social gerontofóbica e contribui para a imagem que estes
têm se si próprios, bem como das condições e circunstâncias que envolvem a velhice.

Este problema surge, quando o fenómeno de envelhecer é considerado prejudicial, de


menor utilidade ou associado à incapacidade funcional. A rejeição e rotulagem de um
grupo, em particular de indivíduos, desenvolve-se porque as características individuais
com traços negativos, são atribuídos a todos os indivíduos desse grupo. Assim a
palavra “velhote” descreve os sentimentos ou preconceitos resultantes de
microconceções acerca dos idosos. Os preconceitos envolvem geralmente crenças, de
que o envelhecimento torna as pessoas senis, inactivas, fracas e inúteis.

A velhice é tida como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está
votado ao fracasso.

De facto, as atitudes negativas face aos idosos existem em todos os níveis sociais:
intervenientes, beneficiários, governantes etc. Assim, perante esta diversidade de
conceitos somos levados a questionar o que se entende por mitos, estereótipos,
crenças e atitudes?

Atitude é um conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências


e da informação que possuímos das pessoas ou grupos. Pode ser favorável ou
desfavorável, e embora não seja uma intenção pode influenciar comportamentos.

Crença é um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante


das nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que
recebemos.

Mito é uma história ou modo de ver sabidamente falsa, mesmo que tenham sido na
origem inventados de boa-fé para explicar alguma coisa.

Estereótipo é uma imagem mental muito simplificada de alguma categoria de


pessoas, instituições ou acontecimentos que é partilhada, nas suas características
essenciais por um grande número de pessoas.

Um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet permitiu


identificar catorze estereótipos como os mais frequentes relativos aos idosos e que
passamos a descrever:

 Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;


 Divertem-se e gostam de rir;
 Temem o futuro;
 Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
 Gostam de conversar e contar as suas recordações;
 Gostam do apoio dos filhos;
 São pessoas doentes que tomam muita medicação;
 Fazem raciocínios senis;
 Não se preocupam com a sua aparência;
 São muito religiosos e praticantes;
 São muito sensíveis e inseguros;
 Não se interessam pela sexualidade;
 São frágeis para fazer exercício físico;
 São na grande maioria, pobres.

A análise destes resultados permite-nos observar que a maioria destes estereótipos


está ligada não a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da
personalidade e a factores socioeconómicos. E, se por um lado, a formação de
estereótipos simplifica a realidade, por outro, simplificam-na, levando muitas vezes a
uma ignorância acerca das características, minimizando as diferenças individuais entre
os membros de um determinado grupo.

De facto, o mito é uma construção do espírito que não se baseia na realidade e por
isso constitui uma representação simbólica. Pode ser também um conjunto de
expressões feitas ou eufemismos, que mantemos relativamente aos idosos.

Numa análise mais profunda percebemos que os mitos escondem muitas vezes uma
certa hostilidade e quando utilizados em excesso, impedem o estabelecimento de
contactos verdadeiros com os idosos.

Por outro lado, são causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que negam o
seu processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades,
de procurar soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas
adequadas.

Esta visão global e generalizada, que caracteriza os estereótipos gerontológicos pouco


críticos e frequentemente carentes de objetividade, distorce a realidade. Investigações
diversas sobre esta temática têm demonstrado que a distorção causada pelos
estereótipos cega os indivíduos, impedindo-os de se precaverem das diferenças que
existem entre os vários membros, não lhe reconhecendo deste modo qualquer virtude,
objeto ou qualidade.

Nesta perspetiva os estereótipos tornam-se inevitavelmente elementos impeditivos na


procura de soluções precisas e de medidas adequadas, tornando urgente o combate a
estas representações sociais gerontofóbicas e de carácter discriminatório, levando os
cidadãos a adotar medidas e comportamentos adequados face aos idosos.

 - Definições
 - Ideias pré-concebidas

 - Atitudes relacionadas com a pessoa idosa

 - Mitos e estereótipos - perigos potenciais

o Representações da morte

A velhice é uma etapa da evolução humana. Nascer, crescer, desenvolver e morrer


são processos naturais que fazem parte do ser humano. Entretanto, há outros factores
que contribuem para a compreensão do homem e da sua existência.

A complexidade da existência humana pode ser vista por diversas vertentes, por
diversos olhares e saberes. É comum que algumas ciências mantenham uma visão de
homem dicotomizada, uma visão que se afunila apenas naquela característica
específica sem perceber o indivíduo como um todo, como um ser integral, um ser que
é sim biológico, mas também é um ser psicológico, é um ser social.

A velhice, na história, sempre ocupou dois papéis antagónicos, ou representações


sociais: ou referia-se à imagem do fim, da morte, do mal e da perda, ou da sabedoria,
do conhecimento e do respeito. No entanto, trata-se de um facto natural da vida, tão
certo quanto o fim, ao qual todos estamos destinados.

Envelhecer por si só já é um processo que implica perdas que tornam o ser idoso
estigmatizado em total dependência e velada incompetência de decidir as suas
próprias coisas. A velhice traz consigo a perspetiva da morte.

Cada um vê a morte pela sua própria vivência, é impossível encontrar unanimidade na


escolha de um conceito.
Há ainda o preconceito contra o envelhecimento, o sentimento de ser um fardo pesado
a alguém. A sensação de perdas das pessoas que se ama, da beleza, do vigor, da
saúde, da utilidade gera a imagem do “espelho quebrado”.

A morte biológica significa o fim do organismo humano. Mas o ser social só deixa de
existir a partir do momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada
e a sociedade reafirma a sua continuidade sem ele.

Afirma-se que se deve considerar a morte sob duas conceções:

1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da ausência


e da separação.
2. A própria morte: A consciência da própria finitude, a fantasia de como será o
fim e quando ocorrerá.

Ao pensar a sua morte, casa pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:

 Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da


indignidade pessoal. Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento
e desintegração, o que origina sentimentos de impotência por não se poder
fazer nada.
 Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaça do
desconhecido, do medo de não ser e o medo básico da própria extinção. Em
relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela sensação de
abandono.

Para alguns a morte amedronta, pois é vista como um fim ou como perda da
consciência idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo.
O medo da morte pode conter também:

 medo da solidão, da separação de quem se ama,


 medo do desconhecido,
 medo do julgamento pelos atos terrenos,
 medo do que possa ocorrer aos dependentes, o medo da interrupção dos
planos e fracasso em realizar os objetivos mais importantes da pessoa.

São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte da nossa vida.

Os factores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são:

 maturidade psicológica do indivíduo,


 sua capacidade de enfrentamento,
 orientação,
 envolvimento religioso que possa ter e a sua própria idade.

A velhice traz consigo a perspetiva da morte. Mesmo com o aumento da esperança de


vida é sempre um período finito. Esta finitude passa a ser mais consciente com a
chegada da velhice.

Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos
físicos, mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma
probabilidade mas também uma alternativa.

o Problemas sociais da velhice

O envelhecimento demográfico das populações é um fenómeno irreversível das


nossas sociedades modernas. Os impactes que se têm vindo a fazer sentir, entre os
quais sobressai a sustentabilidade financeira dos sistemas de reformas, interferem nos
equilíbrios individuais e coletivos, relativos às idades da vida e ao ciclo de vida
ternário. Velhos e reformados são agora duas categorias sociais, dois conceitos que
tendem a demarcar-se. A velhice surge então associada às dificuldades decorrentes
da aquisição gradual de incapacidades. A família, as solidariedades intergeracionais e
as políticas sociais debatem-se com este desafio, procurando encontrar as melhores
soluções e as respostas mais adequadas à diversidade dos problemas.

Os avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida contribuíram para o


aumento da esperança média de vida da população.
Esta situação modificou a pirâmide etária, que se estreitou na base (infância e
adolescência), e se alargou no topo (velhice).

O ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito mas que haja
condições favoráveis a uma vida digna onde não haja omissão quanto às condições
do idoso. A verdade é que a velhice não é um problema social, mas a forma com que
a sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas sociais.

Contudo, a modernidade é paradoxal: ao mesmo tempo que a esperança de vida


aumenta, os idosos vivem num mundo estranho para eles. Além de preparar os idosos
para essa nova configuração social, a sociedade deve-se reestruturar e reeducar-se
para recebê-los.

Nos dias que correm é impreterível refletir, de modo mais insistente, sobre os impactes
do envelhecimento demográfico das populações e sobre as profundas mudanças que,
simultaneamente têm vindo a ocorrer nas sociedades industriais modernas, como é a
nossa. Estas têm sido de tal forma rápidas e, em muitos casos, inesperadas, que
necessitamos de permanente pesquisa e discussão. O debate é essencial, na medida
em que estudiosos e políticos se confrontam, muitas vezes, com diferentes modos de
explicação do mundo. Os primeiros procuram interpretar os factos a partir de causas
gerais sem nunca se misturarem com os assuntos em questão. Os segundos, que
vivem por entre o descosido dos factos jornalísticos e a parcialidade dos
acontecimentos em que estão envolvidos, tendem, geralmente, a reduzir a explicação
global à singularidade da parcela do conhecimento que detêm.

As pessoas idosas enquadram uma categoria de indivíduos, cujas propriedades,


relativamente homogéneas, são normalmente identificadas com isolamento, solidão,
doença, pobreza e mesmo exclusão social. Nesta perspetiva comum, os idosos são
considerados como indivíduos isolados, permanecendo oculta a dimensão familiar da
identidade, da existência.

Um tal processo representou uma verdadeira revolução demográfica com efeitos no


equilíbrio proporcional dos grupos etários. A tendência, que se tem manifestado de
forma crescente, é para um desequilíbrio considerável entre as gerações, ou seja, o
aumento dos mais velhos é relativamente empolado pela redução dos mais novos,
contribuindo, desse modo, para o agravamento do desequilíbrio intergeracional.

Ao longo deste século fomos passando de um sistema demográfico tradicional para


um sistema demográfico moderno, período ao longo do qual a mortalidade desceu a
níveis nunca antes registados e o declínio da fecundidade ultrapassa já os cenários
mais pessimistas das projeções demográficas. O excessivo declínio da fecundidade,
que ocorre em alguns países europeus — os países de sul da Europa, Alemanha e
Áustria —, é preocupante em relação ao equilíbrio futuro das gerações. Há casos,
como o da população italiana e espanhola, onde a fecundidade desceu para,
aproximadamente, uma criança por mulher, ou seja, metade do necessário à
renovação das gerações. A redução crescente dos nascimentos equivale à redução
das proporções de jovens, enquanto o aumento relativo dos restantes grupos etários
irá, a médio prazo, afetar de novo o equilíbrio intergeracional pela correspondente
redução dos jovens adultos e dos adultos ativos. Este segundo impacte do declínio da
fecundidade, ao contrário do primeiro, que proporcionou a redução dos encargos
públicos com a educação, interfere diretamente nos fluxos das quotizações da
população que contribui para o sistema. São mais inativos a receber e menos ativos a
quotizar-se, estes tendo que contribuir com uma parcela maior dos seus rendimentos
para garantir o funcionamento do sistema.

Estamos perante transformações estruturais que, quando associadas às mudanças de


comportamento face à nupcialidade e à família, conduzem a configurações familiares
bem distintas das que encontramos no passado.

No cenário de envelhecimento futuro, é importante que as instâncias produtoras de


políticas sociais se preparem para as transformações que começaram a ter lugar. Os
apoios de tipo social que têm marcado as políticas na maior parte dos países em que
foram implementadas, como os centros de dia e os apoios domiciliários, poderão
deixar de ser a orientação essencial das políticas nas futuras gerações de idosos. A
velhice dependente vai ser o grande desafio já no início do milénio. Em contrapartida,
as próximas gerações virão mais bem munidas para responder às dificuldades
materiais e culturais, com maior sentido de autonomia e uma mais poderosa
consciência de cidadania, promotora de maior capacidade de resolução dos
problemas individuais e mesmo coletivos.

As políticas sociais vão ainda deparar-se com as dificuldades de gestão social do não
trabalho, transferindo para outras áreas alguns dos problemas que eram atribuídos
apenas aos idosos.
 - Reconhecimento, perspetiva e reflexão sobre problemas que
se colocam à pessoa idosa na actualidade

 - a situação no princípio do século

Durante século XX (e início do século XXI) o envelhecimento da população mantém-se


a ritmos crescentes e este processo passa a ser alvo de atenção científica. O
abandono dos idosos passa a ser socialmente condenável mas a exclusão persiste.
Da mesma forma, as subjetividades mantêm-se repletas de preconceitos e
estereótipos e ancoram-se, agora, no “peso social” que o envelhecimento e os idosos
representam para a sociedade.

O século XX foi também o período em que o envelhecimento se despojou, pelo menos


em parte, da sua vinculação biológica e passou a ser concetualizado como fenómeno
que ultrapassa a simples ideia de fragilização da saúde, de incapacidade ou perda de
funcionalidade. O envelhecimento ganhou contornos sociais e a velhice foi analisada a
partir das condições sociais e das suas transformações. Estudaram-se as relações
sociais subjacentes ao envelhecimento, analisaram-se as atitudes perante os idosos e
o envelhecer e questionaram-se os conceitos de poder e os significados sociais que
sustentam a ideologia dominante, sobre este fenómeno. Ainda neste século, o
processo de envelhecimento e o idoso passaram a ser concetualizados a partir dos
elementos constitutivos do tempo. A idade passou a ser uma dimensão fundamental
da organização social, com o recurso à idade cronológica para definir quem é idoso ou
para enunciar constantemente as relações/ conceitos de gerações e a balizar os
papéis sociais de idosos e não idosos na sociedade atual.

Ao longo da idade média e idade moderna a velhice é estudada por investigadores


que se propunham a descrever os processos associados às doenças, à anatomia e à
fisiologia do organismo dos idosos, contudo não remetia necessariamente a um
quadro de envelhecimento e senilidade. Nesta altura, os idosos apesar da redução das
habilidades físicas e mentais, ainda era possível adaptarem-se à vida e continuar
socialmente integrados e a participar nos contextos de aprendizagem.

 - a velhice e o pós-guerra

O estudo da velhice e dos factores associados ao envelhecimento cresce de forma


sem precedentes após a 2ª Guerra Mundial. Em França, em consequência da I Guerra
Mundial, a diminuição da população masculina com idades entre os 23 e os 38 anos,
forçou os mais jovens a exercer responsabilidades até aí da competência de pessoas
que tinham mais idade o que lhes conferiu o estatuto de adulto, legitimado pela
redefinição da idade para o casamento.

O sociólogo Giddens aponta as duas guerras mundiais do século XX como o principal


motor para a emergência das políticas sociais. Associa-a à crise económica dos anos
trinta que obriga a uma intervenção do Estado na economia. Essa atuação solidifica-
se, após a segunda guerra mundial, com as ideias sustentadas pelo economista John
Keynes quanto à necessidade de conceber o planeamento e a intervenção do Estado
na economia, no sentido de regular o bom funcionamento da sociedade.

o A pessoa idosa no final do século XX

No mundo contemporâneo, a velhice humana transformou-se numa questão social e


política, rompendo com o estatuto que manteve até ao final da primeira metade do
século XIX, em que era um assunto quase exclusivamente restrito à esfera privada e
familiar. O século XX, sobretudo a partir da década de 60, institucionalizou o ciclo de
vida sustentando-se na abordagem científica de gerontólogos e geriatras que
apresentam as debilidades físicas, psíquicas e sociais das “pessoas de idade” como
problemas objetiváveis que justificam a concepção de respostas sociais enquadradas
em serviços especializados.

Desde o final do século XIX que o exponencial aumento demográfico, a maior


longevidade humana, as melhores condições de vida, a diversidade de estilos de vida
e a maior exigência no desempenho de cidadania, propõem e sedimentam uma nova
dinâmica social face à velhice, diferente da presenciada e vivida nos períodos
anteriores. A recomposição demográfica que tem por base o aumento do índice de
envelhecimento, associada à maior qualidade de vida dos idosos, (nomeadamente
com mais saúde), alterou as atitudes e os comportamentos face à velhice e ao
envelhecer. Foi neste segmento que se desenvolveu o Estado-Providência e foi
também, no final do século XX, que ele começou a enfraquecer. À velhice como
categoria populacional é atribuída grande parte da responsabilidade pela crise desse
Estado-de-Bem-Estar. É nesse sentido que a velhice é um problema social das
sociedades modernas do início do século XX.

Foi sobretudo a partir da segunda metade do século XX que emergiu um novo


fenómeno nas sociedades desenvolvidas, o envelhecimento demográfico, ou seja, o
aumento significativo do número de pessoas idosas. Com isto, surgiu a necessidade, a
nível internacional, de caracterizar o fenómeno, de repensar o papel e o valor da
pessoa idosa, os seus direitos e as responsabilidades do Estado e da sociedade para
com este grupo específico da população.

Como disse Kofi Anam (2002): A expansão do envelhecer não é um problema. É sim
uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se
políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado. A
não se fazerem reformas radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em
qualquer altura.

O pensamento científico que caracterizou os séculos XVI e XVII introduziu novas


formas de pensar que enfatizavam a observação, experimentação e verificação,
podendo-se então, descobrir as causas da velhice mediante um estudo sintomático.
Ainda assim prevalecia a ambivalência em relação à velhice.

Durante os séculos XVII e XVIII foram feitos muitos avanços no campo da fisiologia,
anatomia, patologia. As transformações que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e
XIX refletiram uma mudança na população idosa. O número de pessoas em idade
avançada aumentou e os avanços da ciência permitiram descartar vários mitos acerca
da velhice. Contudo, a situação dos velhos não melhorou. O surgimento da Revolução
Industrial e do urbanismo foram derradeiros para os idosos que, sem poder trabalhar,
foram reduzidos à miséria.

No final do século XIX os avanços da medicina propiciaram a divisão de velhice e


enfermidade e nos finais do Século XX surgem a Gerontologia e a Geriatria como
disciplinas formais. O que se percebe são ciclos que ocorrem ao longo da história.
Períodos em que os idosos são valorizados, são seguidos por crises entre jovens e
velhos e posterior desvalorização do idoso. Hoje, para uma parcela economicamente
ativa da população idosa, existe um movimento de valorização, pois esta população
está impulsionando mercados como o de turismo e serviços para a terceira idade.

Os meios de comunicação, da forma como estão hoje inseridos na nossa vida,


também têm um papel importante na construção desta terceira idade. A televisão e o
cinema, particularmente, possuem um grande potencial para influenciar nos conceitos
acerca da velhice. As parcelas da população mais influenciáveis são as crianças e os
jovens. Estes meios funcionam como um espelho da sociedade e contribuem para
estabelecer ou validar modelos de comportamento. Porém o número de pessoas
idosas que aparecem nos programas ou filmes não corresponde à realidade
encontrada na sociedade. Neste caso a mensagem que pode passar é de que o velho
não é importante. Os estereótipos negativos também são muito explorados.

A imagem passada pelos meios de comunicação afeta também a auto-estima dos


idosos. A validação social é crucial para o desenvolvimento de todas as pessoas e os
idosos não são diferentes. É, então, necessária uma consciencialização da
importância desses meios na constituição da velhice. Assim podemos começar a
mudar a visão que nossa sociedade possui do que é ser velho hoje em dia.

 Velhice - socialização e papéis sociais

Estas são algumas características da fase da velhice:

 Baixos rendimentos;
 Baixos níveis de escolaridade;
 Más condições de alojamento;
 Perdas físicas, psíquicas, económicas e sociais;
 Mitos e estereótipos negativos a que estão sujeitos.

o Aspetos sociais da velhice


 - Socialização e papéis sociais

Todo o indivíduo ocupa uma posição na sociedade a que pertence, com maior ou
menor prestígio, menores ou maiores ganhos, menor ou maior poder. Na realidade,
são muitos os papéis atribuídos a um só indivíduo ao longo da sua história de vida,
com implicações relativas aos modelos de sociedade.

Esta fase representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de


comportamento e privilégios típicos da idade adulta e de aquisição de características
que o capacitem a assumir cuidados e responsabilidades consigo, com sua família,
comunidade e com o meio ambiente para o envelhecimento que se aproxima.

A velhice sempre foi um temor para a maioria das pessoas, por aproximá-las da
senilidade e da morte.

Os papéis sociais atribuídos ou conquistados têm em vista a interação social e


resultam do processo de socialização. O papel dos velhos é, agora, ser reformados, é
assim que a sociedade em geral os vê, velhos reformados, que ocupam os locais que
os mais jovens gostariam de poder ver, visitar, ocupar.

Em muitos países e culturas são vistos como os sábios, os conhecedores,


precisamente por lhes ser valorizada a experiência de vida. O processo de
socialização infere que o idoso para fazer parte da sociedade deve obedecer a um
conjunto de critérios, como o ser autónomo, economicamente autossuficiente e
saudável (o mais possível).

O novo perfil do idoso, acrescido a um número cada vez maior de cidadãos da terceira
idade, forçosamente implica uma atenção mais dedicada a esta categoria; seja por
parte do governo, ou da sociedade, como um todo. Esse novo perfil, do idoso com vida
ativa, social, financeira, política e até amorosa, necessariamente altera as relações
familiares e profissionais. Essa nova atitude diante da vida e da sociedade implica
também alterações das políticas económicas, sociais e de saúde, para oferecer uma
vida digna, a esta categoria emergente, que já deu a sua contribuição ao longo de toda
a vida.

É possível afirmar que o envelhecimento não é igual para todos e, para além da idade,
depende das condições objetivas de vida em fases anteriores do ciclo vital, do acesso
aos bens e serviços, bem como da cobertura da rede de proteção e atendimento
social. Os estudos sobre a velhice e o processo de envelhecimento abarcam as
diversas possibilidades de pensar o lugar social ocupado pelo idoso na realidade
mundial. A velhice tem sido tratada como um mal necessário, da qual a humanidade
não tem como escapar. Por esse princípio, o idoso também é tratado como um mal
necessário, como alguém que já cumpriu a sua função social: já trabalhou, já cuidou
da família, já contribuiu para educação dos filhos, restando-lhes esperar pela finitude
da vida. O que se observa é que, com o avanço das pesquisas na área da saúde e o
acesso da população idosa aos diversos serviços, a população chega aos 60 anos
com possibilidade de viver mais (e com qualidade de vida) do que vivia há 20 anos.

A velhice apresenta múltiplas faces, e não pode ser analisada desvinculada dos
aspetos socioeconómicos e culturais, pois as suas características extrapolam as
evidentes alterações físicas e fisiológicas individuais.

O envelhecimento populacional pressiona a sociedade a repensar a fase final da vida,


a entender o lugar social ocupado pelo idoso, como um sujeito que tem direitos e
deveres enquanto cidadão.

Por proteção social entende-se um conjunto de ações que visam prevenir riscos,
reduzir impactos que podem causar malefícios à vida das pessoas e,
consequentemente, à vida em sociedade. Esta pretende levar à inclusão social.

A gestão da velhice que por muito tempo foi considerada como específica da esfera
privada e familiar vem transformando-se numa questão pública.

 - Preparação para a velhice: os papéis de transição

Da mesma forma que os adolescentes precisam de uma atenção especial para


compreender as mudanças que acontecem na puberdade, os “envelhecentes”
necessitam de cuidados para enfrentar os impactos sociais e as dúvidas que vêm com
a meia-idade, como o medo de envelhecer. A envelhecência é a fase do
desenvolvimento humano que marca a transição entre a idade adulta e a velhice.

Os termos envelhecência e envelhecente marcam justamente este processo de


transição entre idade adulta e velhice:
VELHICE: fase final da vida, marcada
pelo declínio físico e a morte. E é
IDADE ADULTA: usado para destacar a resistência dos
fase de formar-se adultos diante da velhice que se
profissionalmente, aproxima e os excessos de
constituir família e procedimentos em busca da juventude
património. eterna numa forma incansável de
distanciamento da morte inevitável.

 - Velhice e os novos papéis sociais

A velhice caracteriza-se por uma fase de mudança no comportamento, no estilo de


vida e de aquisição de novas competências que capacitem o adulto pré-idoso a
assumir outros papéis sociais e postura diante da sua vida.

Muito mais que um destino, a velhice deve ser considerada como uma categoria
social. Deste modo, o reformado deverá reconstruir a sua identidade pessoal através
da interiorização de novos papéis e da busca de novos objetivos de vida, num
processo de redefinição da sua vida, ao mesmo tempo em que deverá assumir essa
nova fase, repensando o estigma de ser inativo nessa sociedade e estabelecendo
novos pontos de referência.

O início da envelhecência é marcado pelo fim do amadurecimento sexual (menopausa


e andropausa) e inclui, entre outras coisas, a saída gradual do mercado de trabalho e
o assumir do papel social de velho.

 Velhice - socialização e papéis sociais

o O modo de vida das pessoas de idade

Envelhecer difere de indivíduo para indivíduo e também de país para país, assim como
de uma região para outra. Na verdade o processo de envelhecimento depende em
grande parte dos hábitos de vida do indivíduo e dos seus comportamentos. Este pode
ser encarado pelo idoso como o apogeu de uma vida ou como um estado de
decadência.

Vários estudos têm vindo a ser realizados na tentativa de descobrir a melhor forma de
alcançar uma boa qualidade de vida na velhice, isto porque, envelhecer é um processo
natural da vida das pessoas e o importante será não tentar parar o envelhecimento,
mas sim viver com qualidade todo esse processo.

O idoso direciona-se para a prevenção do envelhecimento prematuro, procurando


evitar a incidência da dependência dos serviços médicos, procurando-se cada vez
mais integrar convenientemente de uma forma autónoma, na sociedade.

As soluções encontradas passam pela atividade física regular. O sedentarismo conduz


a inúmeras doenças crónicas.

Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo possível, constitui


um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com tradução significativa no
desenvolvimento económico dos países. Coloca-se, pois, a questão de pensar o
envelhecimento ao longo da vida, numa atitude mais preventiva e promotora da saúde
e da autonomia, de que a prática de atividade física moderada e regular, uma
alimentação saudável, o não fumar, o consumo moderado de álcool, a promoção dos
factores de segurança e a manutenção da participação social são aspetos
indissociáveis.

Existe um mito de que a velhice seja uma etapa de restrições, privações e sofrimentos,
o que é uma inverdade, pois os idosos podem gozar de bem-estar e saúde até o final
da vida, tudo vai depender da forma como viveram e como cuidaram de si mesmos ao
longo dela. As doenças podem surgir em qualquer fase da vida, o que ocorre nesta
fase são algumas limitações que, se bem administradas, não impedem que o idoso
tenha uma vida plena, saudável e feliz.

Com a reforma ocorre a perda do trabalho, algo ao qual o idoso se dedicou boa parte
da sua vida, além disso, em muitos casos, também existe a diminuição do poder
aquisitivo o que gera mudanças no padrão de vida, nem sempre muito bem aceite. É
comum nesta fase a perda de amigos e parentes, o que leva o idoso a reflectir sobre a
chegada da sua própria morte. Surgem também as limitações físicas próprias da
idade, além da lentidão dos movimentos, da diminuição da força muscular e da
coordenação motora.

É comum, nesta fase da vida, o aparecimento da depressão, o problema mais comum


na terceira idade. Surge em função do idoso não saber lidar ou encarar de forma
positiva estas mudanças que fazem parte da sua vida.

Perdas e mudanças fazem parte da vida, a morte vem para todos e chegar à terceira
idade é um factor que pode ser encarado tanto de forma positiva como negativa! Ao
invés de encarar a realidade como ruim, assustadora ou com sofrimento, pode-se
pensar no que fazer para mudá-la ou, na impossibilidade da mudança, de que forma
encarar e aceitar esta realidade sem sofrimento, aceitando-as como um desafio, um
factor de aprendizagem de convivência, de respeito e de aceitação das próprias
limitações.

Aceitar o envelhecimento com naturalidade é o caminho certo, procurando conviver


bem com as limitações e valorizando aquilo que faz parte exclusiva dos idosos: a larga
experiência de toda uma vida que jamais poderia ser deixada de lado e que deveria
ser muito bem aproveitada pelos jovens e pela sociedade de um modo geral.

Chegar à terceira idade não significa apenas o final da jornada de anos de trabalho e
de missão cumprida em relação à criação dos filhos, mas a entrada num novo estilo de
vida, algo que pode ser muito bom porque permite a realização de desejos não
satisfeitos ao longo da vida seja por causa do tempo dispendido no trabalho, seja
porque haviam outros interesses à frente.

É a fase da vida em que os idosos podem realmente dar-se ao "luxo" de exercerem


atividades que lhes tragam apenas prazer, alegria e satisfação, sem a cobrança de um
desempenho (como no trabalho) ou sem a responsabilidade de educar ou de exercer
um bom papel.

Em geral, o idoso mora ou isolado ou com o seu cuidador informal. Este, por si só, por
causa das suas próprias obrigações/atividades, não costuma prestar a atenção
necessária, muitas vezes não dispõe de muito tempo para ouvir o idoso, o que o leva a
sentir-se num plano secundário. Essa falta de atenção da família pode levar o idoso à
diminuição da sua auto-estima e até à depressão, quando não tem atividades sociais
que compensem esta falta de atenção familiar. É importante que o idoso tenha outras
atividades extra-familiares que lhe tragam prazer, mantendo ou criando novas
amizades e contactos.

É importante que a atividade cerebral do idoso continue a ser estimulada com leituras
ou com quaisquer atividades que possam prender a sua atenção e, principalmente,
manter o contacto com pessoas queridas a maior parte do tempo. O ser humano é um
ser social e o idoso precisa conversar e, principalmente ser ouvido! Pedir-lhe
simplesmente que relate as suas experiências passadas, que conte histórias da
família, que fale sobre aquilo que gosta de falar são maneiras de estimulá-lo e, mais
do que isso, são atividades que lhe trazem muito prazer.
 - As condições de vida

A forma de viver-se a velhice está associada a várias questões que se interligam e que
se tornam mais complexas, porque uma das características desta etapa da vida é a
sua heterogeneidade. Os sujeitos não envelhecem de maneira igual, construindo as
suas próprias histórias de vida, com características e dificuldades diferentes.

Portanto, não se deve tratar a velhice de uma forma homogeneizada, devem-se ter em
conta as diferenças.

Características de personalidade, competências e habilidades adquiridas ao longo da


vida, estilo de vida, apoio social, entre outras, são variáveis que estão presentes no
envelhecimento bem sucedido e na qualidade de vida de que se pode desfrutar na
velhice.
O envelhecimento é um processo natural que desperta muito medo e fantasias. É
importante ressaltar que o envelhecer com qualidade de vida está presente no desejo
de todos, quer intrínseca quer extrinsecamente, entretanto nem todos conseguem isto.

Qualidade de vida na velhice implica organizar a vida dentro dos parâmetros definidos
pelas limitações físicas e psicológicas. O Estatuto do Idoso e a OMS (2003), implica:

 garantir assistência à saúde,


 liberdade de escolha,
 amigos,
 moradia,
 lazer
 entre outros.

Os idosos podem escolher um vasto leque de opções para “viver” os seus dias de
descanso, estas escolhas são condicionadas quer por factores económicos quer por
limitações físicas, contudo dispõem de um acesso mais amplo a uma possibilidade de
escolhas.

Como já referimos anteriormente, a reforma traz aos indivíduos um conjunto de perdas


que eram valores importantes, tais como o convívio com os colegas, o “status” social
de pertencer a uma organização, o poder de exercer influência sobre os outros, assim
como a própria rotina enquanto referencial de existência.

 - A satisfação de viver
Viver a vida agora sem preocupações de maior, permite aos idosos “saborear” o que
de melhor esta tem para oferecer. É possível facilitar e atenuar os efeitos de uma vida
que, muitas vezes, foi dura, esta melhoria faz-se pela qualidade dos cuidados
prestados.

O idoso entende por satisfação de viver o simples facto de não ter dores. Com dores
não se atrevem a mudar o que quer que seja, sem o devido apoio, estes idosos
acabam por se refugiar e retrair de “viver”, pois estão perante um momento de aflição
e sem a devida motivação o refúgio e a entrega aos acontecimentos parece-lhes a
única solução.

É óbvio que a velhice chega, mas há uma diferença muito grande entre envelhecer e
envelhecer, o envelhecer até é uma coisa bonita, significa experiência, sabedoria,
vivência mesmo. O diferencial dos envelhecimentos está na maneira de se envelhecer,
da mente de cada um.

A importância da família, o convívio (irmãos, filhos, genros, noras, netos, etc) e a


relação que este convívio tem com a saúde e a satisfação de vida são fundamentais.

A amizade e a vida social na velhice são extremamente importantes, pois evitam o


isolamento e a depressão. Quase todos precisam de atividades sociais, contactos
interpessoais através de encontros, festas, chás e até pequenas excursões. Nesta
idade, isso também tende a diminuir. As amizades e o conversar são gratificantes em
qualquer época da vida.

o Processo de envelhecimento/sensibilização à problemática da pessoa


idosa

A longevidade é, sem dúvida, um triunfo. Há, no entanto, importantes diferenças entre


os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Enquanto, nos primeiros, o
envelhecimento ocorreu associado às melhorias nas condições gerais de vida, nos
outros, esse processo acontece de forma rápida, sem tempo para uma reorganização
social e da área da saúde, adequada para atender às novas demandas emergentes.
Para o ano de 2050, a expectativa em Portugal, bem como em todo o mundo, é de que
existirão mais idosos que crianças abaixo de 15 anos, fenómeno nunca antes
observado.

O idoso, por usufruir de reformas e pensões muito baixas, vive muitas vezes em
habitações degradadas e tem grandes despesas com a saúde, assim, fica numa
posição social muito vulnerável. O idoso é ainda vulnerável à exclusão social, pela
condição de reformado, sem relação com o trabalho e com os colegas, pela
dificuldade de comunicação com as gerações mais jovens, pelo isolamento em relação
à família, pela perda de autonomia física e funcional e ainda pelas dificuldades da
adaptação às novas tecnologias.

De facto, para além da privação de meios a que naturalmente os idosos estão


votados, existem tecnologias recentes que ampliam as dificuldades de acesso aos
direitos sociais básicos.

Este quadro agrava-se para alguns idosos ainda mais, pelo facto de terem que
partilhar o seu já reduzido rendimento, com familiares a seu cargo (netos, filhos,
etc…).

Devido à insuficiência de medidas de política social, capazes de garantir condições


económicas mínimas a quem fez a sua vida profissional numa época em que não se
realizavam contratos, nem descontos para a segurança social, configura-se-lhes um
quadro de vida em que a pobreza é o culminar inevitável de uma trajetória social cuja
precariedade impediu a acumulação de todo e qualquer tipo de recurso.

Face à panóplia de questões caracterizadoras do idoso na sociedade actual, surge o


debate em torno do envelhecimento e das respostas sociais de apoio às pessoas
idosas.

 - O ser velho no ciclo da vida

Etapas da velhice:

- Terceira idade ou jovens idosos a partir dos 65 anos até aos 75 ou 80 anos

- Quarta idade ou idosos médios - dos 80 aos 90 anos

- Quinta idade ou muito idosos – após os 90 anos

Ser velho nestas etapas implica diferentes situações, a ausência de doença ou


problemas associados à própria idade torna a velhice uma experiência relativamente
agradável, o lado menos bom da velhice é a própria existência de alterações ao
estado de saúde, que condicionam tanto a mobilidade como a própria dinâmica
relacional, quer com grupo de pares quer com a própria família.
 - Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbano

No meio rural ser velho, atualmente, significa estar num local isolado (difícil acesso),
com poucos vizinhos mas, com laços vinculativos fortes tanto as pessoas que sempre
conheceram como à própria família que mantem alguma ligação (pelo motivo do medo
do isolamento). O meio rural estimula alguma atividade, por mínima que seja, é
sempre normal vermos pessoas idosas pelas aldeias e pelos campos, não que ainda
possam cultiva-los mas mantêm o gosto por passear na nostalgia do que conheceram
toda a vida (ou grande parte dela).

No meio urbano ser velho é algo diferente, uma vez que a vida agitada das urbes não
permite grande espaço para socializar, muitas vezes ouvimos relatos de idosos que
são encontrados mortos em casa. O que revela que não tem grandes laços sociais,
não conhecem os vizinhos, muitos já não têm família, e se a têm, o “desapego” é
maior. As pessoas não se conhecem e passam despercebidas no dia a dia, daí que
ser velho em meio urbano pode não ser tão agradável assim.

 - A reforma

Quando se trata de processo de envelhecimento, um assunto muito abordado é a


questão da reforma, pois esta não garante uma boa qualidade de vida para os idosos,
apesar de ser um direito conquistado pelos trabalhadores. Assim, o retorno ao trabalho
pode ser visto como uma necessidade de sobrevivência.

Vista como um momento de alívio, numa primeira fase, muitas vezes causa
desconforto ao fim de algum tempo, pois iniciam-se os pensamentos de falta de
utilidade social, sentimentos de fragilidade perante o mercado, inicia-se uma fase em
que o tempo livre disponível é superior ao tempo ocupado, o que requer uma
adaptação do sujeito.

 - Coabitação/conflito de gerações

Parte do cuidado com os idosos recai sobre a família. O idoso cada vez mais se vê na
posição de procurar não ser um “fardo” na vida da família. Muitos optam por si
mesmos mudar para clínicas e lares geriátricos. Amparar esses idosos é um dos
desafios da nova sociedade.

O facto de termos no mesmo espaço gerações diferentes tanto pode ser algo de bom
como algo que cause atrito. Poderão surgir problemas como: condicionantes
socioeconómicas; aspetos menos positivos como os maus tratos a idosos não só
físicos, também psicológicos; situações de negligência; entre outras.

Se o idoso é um indivíduo socialmente participativo pode intervir em:

 programas de políticas públicas ou privadas,


 grupos de convivência,
 Universidades da Terceira Idade,
 centros sociais,
 atividades artísticas, sociais, religiosas, congressos, seminários, debates, etc.

Demonstram segurança pessoal, cuidam do seu corpo e da sua mente. Procuram o


equilíbrio afetivo e emocional; namoram, casam de novo, trocam de parceiros…

 - Respostas institucionais

As respostas sociais institucionais existentes podem caracterizar-se segundo dois


tipos:

 Acolhimento permanente (lares, residências e famílias de acolhimento);


 Acolhimento temporário, caráter não institucional, (serviços de apoio
domiciliário).

Assim as principais respostas institucionais que são disponibilizadas aos idosos são:

 Lar de Idosos
 Centro de Dia
 Centro de Noite
 Serviço de Apoio Domiciliário
 Centro de Convívio

 - Pensar novas respostas


o A pessoa idosa noutras civilizações

De que forma são vistos, tratados e considerados os idosos noutras civilizações?

Esta questão tem sido a ponte que traz a mudança em grande parte dos sistemas de
apoio a idosos.

Em muitas culturas e civilizações, a velhice é vista com respeito e veneração:


representa a experiência, o valioso saber acumulado ao longo dos anos, a prudência e
a reflexão. A sociedade urbana moderna transformou essa condição, pois a atividade
e o ritmo acelerado da vida marginalizam aqueles que não os acompanham.

O idoso tem sido encarado de formas diferentes ao longo dos tempos e nas diversas
culturas. Por exemplo, nas sociedades orientais é-lhe atribuído um papel de dirigente
pela experiência e sabedoria. Nas sociedades ocidentais, apesar de ter sido
considerado, até há algum tempo, como um elemento fundamental na sociedade,
pelos seus conhecimentos e valores para as populações mais jovens, atualmente tem
uma imagem e um papel social quase insignificante, sendo a diminuição das suas
capacidades, num contexto de produtividade, um dos factores mais referenciados.

Em África, em determinadas culturas, os idosos são os Anciãos, os sábios que detém


os conhecimentos que vão passando de geração em geração, são os “feiticeiros” mais
poderosos, aqueles que têm todas as curas da povoação, e sobre quem são implícitos
os mais variados deveres e obrigações dentro da povoação, e reconhecimento fora
dela.
“Quando morre um africano idoso é como se se queimasse uma biblioteca”. É com
estas palavras que o poeta do Mali, Amadou Hampaté-Bâ, resume o valor atribuído ao
velho na sociedade tradicional africana, cuja principal função é transmitir, oralmente,
às demais gerações, a cultura e a sabedoria popular vividas no seio de cada
comunidade.

Nesse sentido, os idosos configuram-se como guardiões da memória e tudo que por
eles é contado, deveria ser avidamente ouvido e preservado com muito zelo pelos
mais jovens. Assim, o ancião é símbolo de autoridade e ocupa um lugar bem definido
dentro de sua categoria social: repassar a sabedoria dos antepassados e perpetuar a
cultura.

Esse lugar de representatividade, conferido ao idoso, vai sendo aos poucos abalado
pelos projetos de modernização implantados na África, especificamente em
Moçambique, com o processo de pós-independência. Se antes, na aldeia, os
familiares sentavam-se ao redor de uma árvore ou perto de uma fogueira para partilhar
as vivências quotidianas e escutar os ensinamentos do idoso, na cidade acontece o
contrário: os filhos adquirem novos hábitos pautados no consumismo e na
modernização. Sentam-se ao redor da televisão para adquirir as informações
necessárias e o idoso, nesta situação, não tem “muita valia” no que se refere ao grau
de importância da sabedoria que ele guarda para transmitir aos outros.

No Brasil, por exemplo, nalgumas tribos na Amazónia, os velhos são o bem mais
precioso de uma tribo, significa que aquele velho viveu e pode passar o seu
conhecimento, é o velho contador de histórias que preserva a cultura de geração em
geração.

Na cultura Cigana, o mais velho é o mais sábio do grupo, é o único que pode
estabelecer ligações sociais (devidamente aceites) com outros membros da mesma
cultura, é ele que decide em prol da comunidade, é a pessoa de maior autoridade e
respeito dentro do grupo.

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