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Conteúdos programáticos
o A velhice e a sociedade
- Mitos da velhice
- negatividades da velhice
- Definições
- Ideias pré-concebidas
o Representações da morte
- a velhice e o pós-guerra
- As condições de vida
- A satisfação de viver
- A reforma
- Coabitação/conflito de gerações
- Respostas institucionais
Querer atribuir uma identidade às pessoas que a sociedade moderna categoriza como
velhas é violentar a sua inserção social, construída, reconstruída e protagonizada em
trajetórias individuais. As pessoas de idade devem ser olhadas pela sua diversidade.
O ciclo vital é o conjunto das fases da vida onde é suposto realizar-se uma série de
transições e de superar uma série de provas e de crises. Este ciclo desenvolve-se
através do contacto com outros seres humanos e através da educação. Uma criança
passa de um modo gradual por diferentes idades e estatutos, como ser capaz e
consciente nas formas de uma cultura, até enfrentar a morte como a conclusão da sua
existência pessoal, a isto se denomina ciclo vital.
Pfromm Netto (1976) considera que as tarefas de desenvolvimento são como lições
que a pessoa deve aprender ao longo da sua existência para se desenvolver
satisfatoriamente e ter êxito na vida. São básicas em cada etapa do ciclo de vida. Há
uma expectativa social de que a pessoa em casa etapa cumpra com êxito as suas
tarefas. Estas não são estanques em cada etapa embora algumas sejam
preferencialmente típicas desta ou daquela fase. Em cada fase todas se relacionam
entre si e o prejuízo ou deficit numa tarefa pode comprometer outras no mesmo
período ou em período futuro.
Mas afinal quais serão as tarefas do desenvolvimento de cada fase do ser humano?
Mas quais são as fases por que passa o ser humano no seu desenvolvimento?
Atentamos às explicações seguintes:
As tarefas são básicas em cada sequência do ciclo de vida. Espera-se que as pessoas
em cada sequência cumpram com êxito as suas tarefas.
Conceito de envelhecimento
Não existe uma idade específica que transforme uma pessoa em “ancião”, embora
esta se estabeleça frequentemente nos 65 anos, por ser a idade habitual da reforma.
- Senilidade programada:
- Radicais livres:
- Imunológica:
- Uso e desgaste:
O organismo funciona como uma máquina, cujas partes se estragam com o uso. Esse
desgaste provocaria anomalias que parariam os seus mecanismos. Embora
desactualizada, a teoria persiste, pelo facto de se reforçar nas observações
quotidianas, como por exemplo o exercício da mente na velhice.
- Abordagem ecológica;
Esta teoria salienta a importância dos contextos de vida e dos diversos papéis que
cada um desempenha tendo por base uma abordagem holística do sujeito. É
necessário considerar o comportamento numa variedade de contextos e as ligações
entre esses contextos.
Peck afirma que ao longo da vida, as pessoas precisam de cultivar faculdades mentais
e sociais que cresçam com a idade. O reconhecimento do significado duradouro de
tudo que fizeram ajudará a superar a preocupação com o eu, e continuarem a
contribuir para o bem-estar próprio e dos outros.
- Teoria do Afastamento:
- Teoria da Atividade:
- Em cada estádio manifesta‐se uma crise: conflito que deve ser resolvido, sendo que
existe uma solução positiva e negativa para cada um deles;
- Quando as crises são resolvidas de forma positiva, resultam em equilíbrio e saúde
mental. As soluções negativas conduzem ao desajustamento e ao sentimento de
fracasso;
Erikson emprega o termo virtude com o significado de uma aquisição positiva que
ocorre quando a resolução da crise é favorável. Esta aquisição constitui um ganho
psicológico, emocional e social que se pode traduzir por um valor, por uma
característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade pessoal ou
por um sentimento.
O desenvolvimento da vida humana processa-se por fases, que abrangem toda a sua
extensão, conjugando a idade cronológica com processos que marcam momentos de
expansão (infância), culminância (vida adulta) e contração (velhice), sendo o
amadurecimento psicológico orientado e organizado por metas ao longo de todo o
processo.
Uma das primeiras constatações que podemos fazer acerca da teoria de Charlotte
Bühler é o paralelismo evidente entre os processos biológicos de crescimento,
estabilidade e declínio, e os processos psicológicos de expansão e culminação. Por
outro lado, muitas vezes a curva biológica está à frente da curva psicossocial do
indivíduo. Isto é especialmente verdadeiro quando um bom funcionamento a nível das
faculdades mentais permite que uma pessoa possa manter um alto grau de
produtividade durante vários anos após o início do declínio das capacidades físicas.
Neste campo é também possível constatar uma considerável variação individual, uma
vez que uma pessoa pode tornar-se altamente produtiva um pouco tarde na vida e
atingir a fase de culminação psicossocial vários anos após atingir o período de
culminação biológica.
Em suma, esta visão do desenvolvimento adulto sugere que o ciclo de vida pode ser
visto em termos de duas tendências gerais: - expansão e contração. Por isso, existe
certamente um momento durante a meia-idade que funciona como ponto de viragem
importante entre essas duas tendências contraditórias, quer dizer, o momento em que
a expansão dá lugar à contração. A autora sugere que o ponto de viragem se situa
algures durante o período de auto-avaliação após a fase de culminação da meia-idade
(mais ou menos entre os 40 e os 45 anos). Claro que existem muitos factores que
podem influenciar este processo. Por exemplo, o ponto de viragem pode resultar da
satisfação de alguns motivos de crescimento e expansão anteriores o que permite o
surgimento de outros motivos. Pode também resultar de perdas físicas ou sociais, da
sensação de se estar “encalhado” numa situação, ou até da alteração de perspetiva
temporal que acontece num determinado momento da meia-idade e que resulta da
noção de já se ter vivido mais de metade da vida.
Provavelmente a forma como o adulto e idoso vai alterando a definição dos seus
motivos e objetivos pessoais resulta da interação entre factores sociais, biológicos e
psicológicos que podem afetar homens e mulheres de forma diferente e que podem
também afetar de forma diferente pessoas com estatutos socioeconómicos diferentes.
No entanto, apesar de esta mudança na definição de objetivos e metas pessoais (ou
de motivação) ser muito importante, Charlotte Bühler concluiu, a partir dos seus
estudos, que a sensação de não se ter alcançado e cumprido de forma satisfatória os
seus objetivos era um factor mais importante que o declínio físico no desencadear de
problemas de adaptação na velhice.
O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira como vê o outro. Este
desenvolvimento permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma
relativa autossuficiência no mundo adulto o que vai facilitar a relação de reciprocidade
com os pais.
É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta, encontrando um lugar
no mundo do trabalho. O jovem adulto deverá desenvolver formas adultas de brincar.
Não se deve esquecer que o brincar é a base do inventar, do criar, do descobrir,
essenciais na atividade artística e científica.
É com a entrada no mundo adulto e, por sinal mais maduro em termos intelectuais,
que se notam as maiores alterações no indivíduo. Este começa a ter consciência das
alterações física, psicológicas, biológicas entre outras.
As escolhas que o sujeito faz são decididas por si e assumidas como tal, seja uma
carreira profissional, uma vida familiar, cada sujeito decide e vive as suas decisões.
A meia-idade é uma fase do ciclo vital que se estende, aproximadamente, dos 40 aos
60 anos. A princípio, a meia-idade é um período caracterizado por um movimento
interno da pessoa para resumir e reavaliar a própria vida. Mesmo que esses
movimentos não conduzam a qualquer mudança efetiva. Essa auto-avaliação não se
refere apenas à busca por metas, mas também às satisfações interiores.
Considerações em torno do que a pessoa conseguiu, e se essas conquistas estão de
acordo com os sonhos e as ideias anteriormente alimentadas tornam-se, então, ponto
principal nessa etapa da vida.
Por tudo isso é que pode-se dizer que é o adulto na meia-idade tem como principais
tarefas:
Saída dos filhos de casa (jovem adultos), para formar novas famílias.
Necessidade de cuidar dos pais idosos.
Entrada de novos elementos para a família (genros/noras).
Assumir novos papéis, tornar-se avós.
Este novo papel social dá um novo significado à vida do indivíduo, implica um novo
envolvimento com o passado, transmite um sentimento de imortalidade pessoal,
passando pelo “estragar os netos”. Os avós podem assumir diferentes tipos de
interações com os netos: companheiros, distantes ou mais presentes.
O casal que se manteve junto ao longo das diferentes etapas do ciclo de vida familiar,
vai encontrar grandes diferenças na sua relação conjugal.
Consoante o casal tenha ou não aprofundado a sua relação conjugal (como casal) ao
longo dos anos, e tenha ou não enriquecido a relação conjugal ao longo dos anos e
tenha ou não acompanhado de perto a evolução pessoal que cada um dos cônjuges
terá influência desde que se conheceram, namoram, casaram, tiveram filhos e os
criaram, até ao momento presente de casal de meia-idade.
Os casais cuja força organizadora se centrava na educação dos filhos terão de fazer
um reajustamento conjugal mais acentuado nesta fase. Uma tarefa com que os casais
se deparam consiste em reencontrar um equilíbrio na sua relação. É necessário fazer
um balanço da relação a dois, analisando o projeto de vida conjunta que tinham e o
que pretendem alcançar no futuro. Exige uma reflexão sobre o sentido de família e de
conjugalidade.
Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento celular, este não atinge
simultaneamente todas as células e, consequentemente, todos os tecidos, órgãos e
sistemas. Cada sistema tem o seu tempo de envelhecimento, mas sem a interferência
dos factores ambientais há alterações que se dão mais cedo e se tornam mais
evidentes quando o organismo é agredido pela doença.
Sistema cardiovascular
Sistema imunitário
Aspetos Psicológicos
A velhice e a sociedade
Idade física e biológica – tem em conta o ritmo a que cada indivíduo envelhece.
Idade social – relacionada com a sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma
pessoa e que corresponde às suas condições socioeconómicas.
As alterações surgidas com a idade dependem também do estilo de vida que cada um
teve ao longo do seu percurso.
Mitos da velhice
Como a velhice é um estado que se manifesta de uma forma individual, uma vez que
cada um “sente” o seu próprio processo de envelhecimento e vive-o à sua maneira
assumindo que este estado inicia aquando das primeiras manifestações de “limitação
as atividades da vida diária”, as diferentes formas de lidar com esta nova etapa são
decididas pelos próprios sujeitos, cada um encara a velhice à sua maneira.
negatividades da velhice
O isolamento tende a ocorrer quando o idoso perde os seus familiares próximos. Mas
este isolamento não é só uma dimensão familiar, é também social. Quando o idoso
não mantem uma relação com a comunidade que o rodeia, ou não se permite
estabelecer qualquer tipo de laço vinculativo de afetos com qualquer outra pessoa. O
isolamento leva a um aumento da sensação de inutilidade social.
Infantilização: Trata-se de uma atitude para com o idoso que o vai diminuir e fazer
sentir como uma criança. Acontece pelo simplificar demasiado as atividades, pela
organização de atividades que não respondam às necessidades dos idosos, pelo
tratamento desadequado.
A velhice é tida como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está
votado ao fracasso.
De facto, as atitudes negativas face aos idosos existem em todos os níveis sociais:
intervenientes, beneficiários, governantes etc. Assim, perante esta diversidade de
conceitos somos levados a questionar o que se entende por mitos, estereótipos,
crenças e atitudes?
Mito é uma história ou modo de ver sabidamente falsa, mesmo que tenham sido na
origem inventados de boa-fé para explicar alguma coisa.
De facto, o mito é uma construção do espírito que não se baseia na realidade e por
isso constitui uma representação simbólica. Pode ser também um conjunto de
expressões feitas ou eufemismos, que mantemos relativamente aos idosos.
Numa análise mais profunda percebemos que os mitos escondem muitas vezes uma
certa hostilidade e quando utilizados em excesso, impedem o estabelecimento de
contactos verdadeiros com os idosos.
Por outro lado, são causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que negam o
seu processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades,
de procurar soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas
adequadas.
- Definições
- Ideias pré-concebidas
o Representações da morte
A complexidade da existência humana pode ser vista por diversas vertentes, por
diversos olhares e saberes. É comum que algumas ciências mantenham uma visão de
homem dicotomizada, uma visão que se afunila apenas naquela característica
específica sem perceber o indivíduo como um todo, como um ser integral, um ser que
é sim biológico, mas também é um ser psicológico, é um ser social.
Envelhecer por si só já é um processo que implica perdas que tornam o ser idoso
estigmatizado em total dependência e velada incompetência de decidir as suas
próprias coisas. A velhice traz consigo a perspetiva da morte.
A morte biológica significa o fim do organismo humano. Mas o ser social só deixa de
existir a partir do momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada
e a sociedade reafirma a sua continuidade sem ele.
Ao pensar a sua morte, casa pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:
Para alguns a morte amedronta, pois é vista como um fim ou como perda da
consciência idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo.
O medo da morte pode conter também:
São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte da nossa vida.
Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos
físicos, mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma
probabilidade mas também uma alternativa.
O ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito mas que haja
condições favoráveis a uma vida digna onde não haja omissão quanto às condições
do idoso. A verdade é que a velhice não é um problema social, mas a forma com que
a sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas sociais.
Nos dias que correm é impreterível refletir, de modo mais insistente, sobre os impactes
do envelhecimento demográfico das populações e sobre as profundas mudanças que,
simultaneamente têm vindo a ocorrer nas sociedades industriais modernas, como é a
nossa. Estas têm sido de tal forma rápidas e, em muitos casos, inesperadas, que
necessitamos de permanente pesquisa e discussão. O debate é essencial, na medida
em que estudiosos e políticos se confrontam, muitas vezes, com diferentes modos de
explicação do mundo. Os primeiros procuram interpretar os factos a partir de causas
gerais sem nunca se misturarem com os assuntos em questão. Os segundos, que
vivem por entre o descosido dos factos jornalísticos e a parcialidade dos
acontecimentos em que estão envolvidos, tendem, geralmente, a reduzir a explicação
global à singularidade da parcela do conhecimento que detêm.
As políticas sociais vão ainda deparar-se com as dificuldades de gestão social do não
trabalho, transferindo para outras áreas alguns dos problemas que eram atribuídos
apenas aos idosos.
- Reconhecimento, perspetiva e reflexão sobre problemas que
se colocam à pessoa idosa na actualidade
- a velhice e o pós-guerra
Como disse Kofi Anam (2002): A expansão do envelhecer não é um problema. É sim
uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se
políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado. A
não se fazerem reformas radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em
qualquer altura.
Durante os séculos XVII e XVIII foram feitos muitos avanços no campo da fisiologia,
anatomia, patologia. As transformações que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e
XIX refletiram uma mudança na população idosa. O número de pessoas em idade
avançada aumentou e os avanços da ciência permitiram descartar vários mitos acerca
da velhice. Contudo, a situação dos velhos não melhorou. O surgimento da Revolução
Industrial e do urbanismo foram derradeiros para os idosos que, sem poder trabalhar,
foram reduzidos à miséria.
Baixos rendimentos;
Baixos níveis de escolaridade;
Más condições de alojamento;
Perdas físicas, psíquicas, económicas e sociais;
Mitos e estereótipos negativos a que estão sujeitos.
Todo o indivíduo ocupa uma posição na sociedade a que pertence, com maior ou
menor prestígio, menores ou maiores ganhos, menor ou maior poder. Na realidade,
são muitos os papéis atribuídos a um só indivíduo ao longo da sua história de vida,
com implicações relativas aos modelos de sociedade.
A velhice sempre foi um temor para a maioria das pessoas, por aproximá-las da
senilidade e da morte.
O novo perfil do idoso, acrescido a um número cada vez maior de cidadãos da terceira
idade, forçosamente implica uma atenção mais dedicada a esta categoria; seja por
parte do governo, ou da sociedade, como um todo. Esse novo perfil, do idoso com vida
ativa, social, financeira, política e até amorosa, necessariamente altera as relações
familiares e profissionais. Essa nova atitude diante da vida e da sociedade implica
também alterações das políticas económicas, sociais e de saúde, para oferecer uma
vida digna, a esta categoria emergente, que já deu a sua contribuição ao longo de toda
a vida.
É possível afirmar que o envelhecimento não é igual para todos e, para além da idade,
depende das condições objetivas de vida em fases anteriores do ciclo vital, do acesso
aos bens e serviços, bem como da cobertura da rede de proteção e atendimento
social. Os estudos sobre a velhice e o processo de envelhecimento abarcam as
diversas possibilidades de pensar o lugar social ocupado pelo idoso na realidade
mundial. A velhice tem sido tratada como um mal necessário, da qual a humanidade
não tem como escapar. Por esse princípio, o idoso também é tratado como um mal
necessário, como alguém que já cumpriu a sua função social: já trabalhou, já cuidou
da família, já contribuiu para educação dos filhos, restando-lhes esperar pela finitude
da vida. O que se observa é que, com o avanço das pesquisas na área da saúde e o
acesso da população idosa aos diversos serviços, a população chega aos 60 anos
com possibilidade de viver mais (e com qualidade de vida) do que vivia há 20 anos.
A velhice apresenta múltiplas faces, e não pode ser analisada desvinculada dos
aspetos socioeconómicos e culturais, pois as suas características extrapolam as
evidentes alterações físicas e fisiológicas individuais.
Por proteção social entende-se um conjunto de ações que visam prevenir riscos,
reduzir impactos que podem causar malefícios à vida das pessoas e,
consequentemente, à vida em sociedade. Esta pretende levar à inclusão social.
A gestão da velhice que por muito tempo foi considerada como específica da esfera
privada e familiar vem transformando-se numa questão pública.
Muito mais que um destino, a velhice deve ser considerada como uma categoria
social. Deste modo, o reformado deverá reconstruir a sua identidade pessoal através
da interiorização de novos papéis e da busca de novos objetivos de vida, num
processo de redefinição da sua vida, ao mesmo tempo em que deverá assumir essa
nova fase, repensando o estigma de ser inativo nessa sociedade e estabelecendo
novos pontos de referência.
Envelhecer difere de indivíduo para indivíduo e também de país para país, assim como
de uma região para outra. Na verdade o processo de envelhecimento depende em
grande parte dos hábitos de vida do indivíduo e dos seus comportamentos. Este pode
ser encarado pelo idoso como o apogeu de uma vida ou como um estado de
decadência.
Vários estudos têm vindo a ser realizados na tentativa de descobrir a melhor forma de
alcançar uma boa qualidade de vida na velhice, isto porque, envelhecer é um processo
natural da vida das pessoas e o importante será não tentar parar o envelhecimento,
mas sim viver com qualidade todo esse processo.
Existe um mito de que a velhice seja uma etapa de restrições, privações e sofrimentos,
o que é uma inverdade, pois os idosos podem gozar de bem-estar e saúde até o final
da vida, tudo vai depender da forma como viveram e como cuidaram de si mesmos ao
longo dela. As doenças podem surgir em qualquer fase da vida, o que ocorre nesta
fase são algumas limitações que, se bem administradas, não impedem que o idoso
tenha uma vida plena, saudável e feliz.
Com a reforma ocorre a perda do trabalho, algo ao qual o idoso se dedicou boa parte
da sua vida, além disso, em muitos casos, também existe a diminuição do poder
aquisitivo o que gera mudanças no padrão de vida, nem sempre muito bem aceite. É
comum nesta fase a perda de amigos e parentes, o que leva o idoso a reflectir sobre a
chegada da sua própria morte. Surgem também as limitações físicas próprias da
idade, além da lentidão dos movimentos, da diminuição da força muscular e da
coordenação motora.
Perdas e mudanças fazem parte da vida, a morte vem para todos e chegar à terceira
idade é um factor que pode ser encarado tanto de forma positiva como negativa! Ao
invés de encarar a realidade como ruim, assustadora ou com sofrimento, pode-se
pensar no que fazer para mudá-la ou, na impossibilidade da mudança, de que forma
encarar e aceitar esta realidade sem sofrimento, aceitando-as como um desafio, um
factor de aprendizagem de convivência, de respeito e de aceitação das próprias
limitações.
Chegar à terceira idade não significa apenas o final da jornada de anos de trabalho e
de missão cumprida em relação à criação dos filhos, mas a entrada num novo estilo de
vida, algo que pode ser muito bom porque permite a realização de desejos não
satisfeitos ao longo da vida seja por causa do tempo dispendido no trabalho, seja
porque haviam outros interesses à frente.
Em geral, o idoso mora ou isolado ou com o seu cuidador informal. Este, por si só, por
causa das suas próprias obrigações/atividades, não costuma prestar a atenção
necessária, muitas vezes não dispõe de muito tempo para ouvir o idoso, o que o leva a
sentir-se num plano secundário. Essa falta de atenção da família pode levar o idoso à
diminuição da sua auto-estima e até à depressão, quando não tem atividades sociais
que compensem esta falta de atenção familiar. É importante que o idoso tenha outras
atividades extra-familiares que lhe tragam prazer, mantendo ou criando novas
amizades e contactos.
É importante que a atividade cerebral do idoso continue a ser estimulada com leituras
ou com quaisquer atividades que possam prender a sua atenção e, principalmente,
manter o contacto com pessoas queridas a maior parte do tempo. O ser humano é um
ser social e o idoso precisa conversar e, principalmente ser ouvido! Pedir-lhe
simplesmente que relate as suas experiências passadas, que conte histórias da
família, que fale sobre aquilo que gosta de falar são maneiras de estimulá-lo e, mais
do que isso, são atividades que lhe trazem muito prazer.
- As condições de vida
A forma de viver-se a velhice está associada a várias questões que se interligam e que
se tornam mais complexas, porque uma das características desta etapa da vida é a
sua heterogeneidade. Os sujeitos não envelhecem de maneira igual, construindo as
suas próprias histórias de vida, com características e dificuldades diferentes.
Portanto, não se deve tratar a velhice de uma forma homogeneizada, devem-se ter em
conta as diferenças.
Qualidade de vida na velhice implica organizar a vida dentro dos parâmetros definidos
pelas limitações físicas e psicológicas. O Estatuto do Idoso e a OMS (2003), implica:
Os idosos podem escolher um vasto leque de opções para “viver” os seus dias de
descanso, estas escolhas são condicionadas quer por factores económicos quer por
limitações físicas, contudo dispõem de um acesso mais amplo a uma possibilidade de
escolhas.
- A satisfação de viver
Viver a vida agora sem preocupações de maior, permite aos idosos “saborear” o que
de melhor esta tem para oferecer. É possível facilitar e atenuar os efeitos de uma vida
que, muitas vezes, foi dura, esta melhoria faz-se pela qualidade dos cuidados
prestados.
O idoso entende por satisfação de viver o simples facto de não ter dores. Com dores
não se atrevem a mudar o que quer que seja, sem o devido apoio, estes idosos
acabam por se refugiar e retrair de “viver”, pois estão perante um momento de aflição
e sem a devida motivação o refúgio e a entrega aos acontecimentos parece-lhes a
única solução.
É óbvio que a velhice chega, mas há uma diferença muito grande entre envelhecer e
envelhecer, o envelhecer até é uma coisa bonita, significa experiência, sabedoria,
vivência mesmo. O diferencial dos envelhecimentos está na maneira de se envelhecer,
da mente de cada um.
O idoso, por usufruir de reformas e pensões muito baixas, vive muitas vezes em
habitações degradadas e tem grandes despesas com a saúde, assim, fica numa
posição social muito vulnerável. O idoso é ainda vulnerável à exclusão social, pela
condição de reformado, sem relação com o trabalho e com os colegas, pela
dificuldade de comunicação com as gerações mais jovens, pelo isolamento em relação
à família, pela perda de autonomia física e funcional e ainda pelas dificuldades da
adaptação às novas tecnologias.
Este quadro agrava-se para alguns idosos ainda mais, pelo facto de terem que
partilhar o seu já reduzido rendimento, com familiares a seu cargo (netos, filhos,
etc…).
Etapas da velhice:
- Terceira idade ou jovens idosos a partir dos 65 anos até aos 75 ou 80 anos
No meio rural ser velho, atualmente, significa estar num local isolado (difícil acesso),
com poucos vizinhos mas, com laços vinculativos fortes tanto as pessoas que sempre
conheceram como à própria família que mantem alguma ligação (pelo motivo do medo
do isolamento). O meio rural estimula alguma atividade, por mínima que seja, é
sempre normal vermos pessoas idosas pelas aldeias e pelos campos, não que ainda
possam cultiva-los mas mantêm o gosto por passear na nostalgia do que conheceram
toda a vida (ou grande parte dela).
No meio urbano ser velho é algo diferente, uma vez que a vida agitada das urbes não
permite grande espaço para socializar, muitas vezes ouvimos relatos de idosos que
são encontrados mortos em casa. O que revela que não tem grandes laços sociais,
não conhecem os vizinhos, muitos já não têm família, e se a têm, o “desapego” é
maior. As pessoas não se conhecem e passam despercebidas no dia a dia, daí que
ser velho em meio urbano pode não ser tão agradável assim.
- A reforma
Vista como um momento de alívio, numa primeira fase, muitas vezes causa
desconforto ao fim de algum tempo, pois iniciam-se os pensamentos de falta de
utilidade social, sentimentos de fragilidade perante o mercado, inicia-se uma fase em
que o tempo livre disponível é superior ao tempo ocupado, o que requer uma
adaptação do sujeito.
- Coabitação/conflito de gerações
Parte do cuidado com os idosos recai sobre a família. O idoso cada vez mais se vê na
posição de procurar não ser um “fardo” na vida da família. Muitos optam por si
mesmos mudar para clínicas e lares geriátricos. Amparar esses idosos é um dos
desafios da nova sociedade.
O facto de termos no mesmo espaço gerações diferentes tanto pode ser algo de bom
como algo que cause atrito. Poderão surgir problemas como: condicionantes
socioeconómicas; aspetos menos positivos como os maus tratos a idosos não só
físicos, também psicológicos; situações de negligência; entre outras.
- Respostas institucionais
Assim as principais respostas institucionais que são disponibilizadas aos idosos são:
Lar de Idosos
Centro de Dia
Centro de Noite
Serviço de Apoio Domiciliário
Centro de Convívio
Esta questão tem sido a ponte que traz a mudança em grande parte dos sistemas de
apoio a idosos.
O idoso tem sido encarado de formas diferentes ao longo dos tempos e nas diversas
culturas. Por exemplo, nas sociedades orientais é-lhe atribuído um papel de dirigente
pela experiência e sabedoria. Nas sociedades ocidentais, apesar de ter sido
considerado, até há algum tempo, como um elemento fundamental na sociedade,
pelos seus conhecimentos e valores para as populações mais jovens, atualmente tem
uma imagem e um papel social quase insignificante, sendo a diminuição das suas
capacidades, num contexto de produtividade, um dos factores mais referenciados.
Nesse sentido, os idosos configuram-se como guardiões da memória e tudo que por
eles é contado, deveria ser avidamente ouvido e preservado com muito zelo pelos
mais jovens. Assim, o ancião é símbolo de autoridade e ocupa um lugar bem definido
dentro de sua categoria social: repassar a sabedoria dos antepassados e perpetuar a
cultura.
Esse lugar de representatividade, conferido ao idoso, vai sendo aos poucos abalado
pelos projetos de modernização implantados na África, especificamente em
Moçambique, com o processo de pós-independência. Se antes, na aldeia, os
familiares sentavam-se ao redor de uma árvore ou perto de uma fogueira para partilhar
as vivências quotidianas e escutar os ensinamentos do idoso, na cidade acontece o
contrário: os filhos adquirem novos hábitos pautados no consumismo e na
modernização. Sentam-se ao redor da televisão para adquirir as informações
necessárias e o idoso, nesta situação, não tem “muita valia” no que se refere ao grau
de importância da sabedoria que ele guarda para transmitir aos outros.
No Brasil, por exemplo, nalgumas tribos na Amazónia, os velhos são o bem mais
precioso de uma tribo, significa que aquele velho viveu e pode passar o seu
conhecimento, é o velho contador de histórias que preserva a cultura de geração em
geração.
Na cultura Cigana, o mais velho é o mais sábio do grupo, é o único que pode
estabelecer ligações sociais (devidamente aceites) com outros membros da mesma
cultura, é ele que decide em prol da comunidade, é a pessoa de maior autoridade e
respeito dentro do grupo.