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O Médico Médium:

A Cura da Tiroide
Anthony William

O Médico Médium:
A Cura da Tiroide

Tradução de:
Elisa Evangelista

Pergaminho
1

A Verdade sobre a Tiroide

Sai da cama bem cedo no grande dia. Veste­‑se com aprumo, come
o que consegue ao pequeno­‑almoço e deixa uma mensagem ao chefe
a avisar que irá chegar mais tarde. No seu carro, já a caminho do
consultório, sente um pequeno tremor de esperança perante o pen‑
samento de que da próxima vez que se sentar atrás do volante
talvez tenha um pouco mais de controlo sobre a sua própria vida.
Talvez finalmente receba uma resposta que explique a dificul‑
dade em dormir, a incapacidade de gerir o peso, a batalha contra
os episódios de confusão mental, o cabelo cada vez mais fraco e
a fadiga constante. Talvez consiga, finalmente – pensa –, entender
os afrontamentos, as mãos frias, as unhas quebradiças, a pele seca,
as palpitações, a agitação das pernas, as falhas de memória, as
manchas da visão, a fraqueza muscular, as flutuações hormonais,
as tonturas, os formigueiros, o entorpecimento, os zumbidos nos
ouvidos, as dores e as pontadas, a ansiedade e a depressão. Na sala
de espera, só a muito custo consegue prestar atenção à revista que
tem no colo enquanto aguarda que alguém diga o seu nome.
Por fim chega o momento. É conduzido à sala de observação,
onde se senta, fazendo o possível por respirar devagar. Minutos
depois entra o médico e, após os breves instantes de conversa
cordial, anuncia o veredicto:
– Tem tiroidite de Hashimoto.
Haver um nome para o que sente é um fator de alívio… No
entanto, o nome não traz pistas quanto ao problema.
– O que é isso? – pergunta.
– Os resultados das análises ao sangue que acabámos de receber
assinalam uma elevada quantidade de anticorpos na tiroide. Por

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outro lado, os elevados níveis de hormona estimulante da tiroide
(TSH), o aumento de volume da glândula verificado no último
exame e os sintomas de hipotiroidismo que se manifestaram levam
a crer que o seu sistema imunitário ficou confuso. Trata­‑se de uma
resposta autoimune e significa que o seu organismo está a atacar a
tiroide como se esta fosse um corpo estranho. Este ataque causa
inflamação e, com o tempo, pode levar à destruição da própria
glândula, desativando, a pouco e pouco, as suas funções.
A sensação de alívio desaparece à medida que imagina essa
pequena e inocente glândula alojada no seu pescoço a ser atacada
pelo seu próprio sistema imunitário. Por momentos, chega a dese‑
jar que o diagnóstico recebido fosse como um par de sapatos que
encomendou online e que pode devolver caso apertem os dedos
dos pés. Não servem – assinala no formulário de devolução. Num
abrir e fechar de olhos, livra­‑se dos sapatos e vai à procura de
outros que sejam mais confortáveis. Mas neste caso não será
assim. Em vez disso, tenta enfrentar a realidade.
– Como é que isto aconteceu? – pergunta ao médico.
– Possivelmente, há uma propensão genética para a autoimu‑
nidade, e esta pode ser desencadeada por fatores ambientais como
as bactérias, a dieta alimentar ou o stresse.
– Por que motivo haveria o corpo de se atacar a si próprio?
Por que razão haveria de ficar confuso?
– Bom – prossegue o médico com um sorriso empático –, a
causa exata das doenças autoimunes ainda é desconhecida, mas
a investigação vem dando mais pistas a cada dia. Agora vamos
falar sobre a medicamentação.
De novo atrás do volante depois da consulta, o que sente não
é controlo, mas traição. Como é possível que o seu corpo o tivesse
deixado assim, em maus lençóis? O que terá feito de errado para
merecer um sistema imunitário que perdeu o tino? Já que não
pode confiar no seu próprio corpo – que, pelos vistos, não está
do seu lado – fica sem saber em que confiar.
Talvez o cenário anteriormente descrito não corresponda à sua
história com a tiroide. Possivelmente, diagnosticaram­‑lhe a doença

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de Graves, igualmente um problema autoimune mas que, segundo
o seu médico, leva a sua tiroide ao esgotamento.
Poderão ter­‑lhe dito que padece de hipotiroidismo primário,
que consiste na produção deficitária de hormonas da tiroide que
pode ser detetada em análises ao sangue ou intuída por um médico
que sabe ler os sinais. Talvez lhe tenham dito que tem um nódulo,
um quisto, ou mesmo um tumor na tiroide. Ao indagar o porquê,
o seu médico poderá ter referido a possibilidade de estar a enve‑
lhecer prematuramente – explicação que certamente dará muito
que pensar, especialmente se for um jovem adulto na sua segunda
ou terceira década de vida.
Também pode acontecer que o médico não se limite a anunciar
o diagnóstico da tiroide. Além da tiroidite de Hashimoto, da doença
de Graves, do hipotiroidismo ou hipertiroidismo, poderá receber
a notícia de que padece da doença de Lyme, de artrite reumatoide
(AR), de fibromialgia ou, sendo mulher, de sintomas ligados à fase
de pré­‑menopausa ou menopausa. Quem está à sua volta poderá
apelidá­‑lo de «caso bicudo», ou de «hipocondríaco», o que magoa
ainda mais tendo em conta que o seu maior anseio consiste em
livrar­‑se dos seus problemas de uma vez por todas. Na verdade,
parece que nunca chega a ser verdadeiramente ouvido.
Quando consultou o médico pela primeira vez, talvez nada se
tenha refletido nas análises ou no exame físico, o que o levou a
consultar médico após médico numa tentativa vã de encontrar
respostas. Daí por diante, terá perdido a confiança não apenas
nos médicos mas também em si próprio. Durante algum tempo,
convenceu­‑se de que os seus sintomas eram apenas algo da sua
cabeça, e por isso tratou de investigar e aprender através da leitura
de todas as obras mais recentes sobre o tema, chegando às suas
próprias conclusões sobre a sua saúde. Tentou introduzir algumas
alterações à sua dieta alimentar e sentiu algum alívio, sim, mas as
dificuldades quotidianas persistiram, impedindo­‑o de se sentir
bem na sua pele.
É possível que se tenha sentido demasiadamente nervoso para
sequer consultar um médico e expor o problema da fadiga, da

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ansiedade, da confusão mental e das tonturas. A certa altura, leu
um par de artigos sobre a tiroide e ficou na dúvida quanto à
possibilidade de o seu problema vir daí.
Alternativamente, pode dar­‑se o caso de estar muito próximo
de alguém que padece de sintomas persistentes e inexplicáveis,
ou de uma patologia da tiroide perfeitamente identificada. Isto
significa que convive de perto com a infelicidade gerada por essa
doença crónica e que nutre o anseio de poder fazer alguma coisa
que traga alívio ao seu ente querido, e que o ajude a resgatar o
seu eu saudável e enérgico de outros tempos.
É também possível que esteja do outro lado: pode ser o médico
que se compadece ao observar a dor e o mal­‑estar crónico de
paciente após paciente, que procura manter­‑se atualizado no
domínio das novas teorias em torno da autoimunidade e da saúde
da tiroide. Talvez saiba ler nas entrelinhas dos sintomas e não
encare os resultados das análises ao sangue como conclusivos.
Provavelmente, disponibiliza aos seus pacientes as ferramentas
mais recentes no âmbito da gestão da doença crónica e procura
manter­‑se atento à possibilidade de a medicamentação prescrita
não proporcionar um alívio eficaz. Está sempre à espreita daquele
estudo inovador que clarifique os mistérios da tiroide de uma vez
por todas.
Se a sua experiência se assemelha a algum dos cenários descritos,
saiba que não está só. Na realidade, é uma entre milhões de pessoas
que se confronta com os sintomas misteriosos que a certa altura as
comunidades médicas começaram a associar às doenças da tiroide.
Embora a sua história seja apenas sua e os seus contornos sejam
únicos e pessoais, ainda assim não deixa de fazer parte de um
exército incansável que jamais se contentará com algo que não seja
a verdade mais profunda acerca da saúde da tiroide.
Apesar das dificuldades que caracterizam a sua experiência
individual, continua a seguir em frente. Por mais que lhe digam
que numa doença autoimune o corpo se ataca a si próprio, por
muitas que sejam as autoridades médicas que proclamem que
os problemas da tiroide são genéticos, por mais que as pessoas

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à sua volta duvidem do seu sofrimento ou que, em certos momen‑
tos, chegue a duvidar de si mesmo, por mais que se preocupe
com a possibilidade de padecer de uma deficiência ou que se
acuse de não ser suficientemente persistente na vida, é sempre
movido por uma sensação insistente de que há algo que não está
bem.
Por que motivo haveria o corpo de se atacar a si próprio? Se os
problemas da tiroide são de origem genética, então como se explica
que só nas gerações recentes se tenham manifestado de forma
mais abrangente? Até que ponto é possível que todo o seu sofri‑
mento físico venha apenas na sua cabeça, ou que possa ser uma
espécie de retorno cósmico?
Não consegue deixar de conjeturar que tem de haver uma
explicação mais consistente e que é imperioso que surjam reve‑
lações que deem um sentido a tudo isso. É algo que simplesmente
sente no coração.
E tem toda a razão.

Em busca de culpados

Posso assegurar­‑lhe que não é o culpado pela sua doença e


pelos seus sintomas.
Compreendeu bem? Vou repetir, pois o condicionamento que
subjaz a essa ideia é fortíssimo: a sua doença e os seus sintomas
não são culpa sua.
Não foi você que criou, atraiu ou manifestou a sua doença. Ela
não é fruto da sua imaginação. O facto de estar doente não se deve
à presumível circunstância de ser louco, preguiçoso, de não possuir
força de vontade, de ser defeituoso ou de estar entediado. Tam‑
pouco atraiu os sintomas que o afligem por ter tido os pensamen‑
tos errados ou por se focar excessivamente no medo. A sua doença
não se deve a uma malformação genética, nem reside numa recusa
subconsciente de se curar porque secretamente espera obter
mais atenção devido ao seu problema de saúde. Saiba que o seu

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sofrimento não constitui um castigo de Deus, do Universo ou do
karma que lhe está a cair em cima por algo de mal que tenha feito
nesta vida ou numa existência passada.
De igual modo, o seu corpo não o abandonou. As doenças e
os sintomas associados à tiroide não assinalam uma rebelião que
o seu corpo desenvolve contra si. Este nunca o trairia. Na ver‑
dade, o corpo trabalha ininterruptamente para lhe proporcionar
apoio. Porquê? Porque o seu corpo ama­‑o incondicionalmente.
A informação mais avançada sobre a tiroide ainda não con‑
templa estas verdades fundamentais. Porquê? Porque vivemos
numa sociedade regida pela culpa. Enquanto humanos que somos,
tentamos preencher lacunas independentemente de estarmos, ou
não, em posse da solução adequada. Os mistérios do universo são
o que são: se não tivermos respostas relativamente aos fenómenos
espaço e tempo, de uma maneira geral podemos, ainda assim,
viver bem com isso e esperar que esses temas se vão clarificando
à medida que as novas gerações forem surgindo. Porém, quando
um fator desconhecido afeta as nossas vidas quotidianas – neste
caso, com dor e sofrimento –, a ausência de respostas pode ser
profundamente angustiante.
Como reagimos? Preenchendo a lacuna: quando algo corre
mal, queremos uma explicação o mais rapidamente possível. No
trabalho, por exemplo, se uma tarefa foi mal feita, toda a gente
quer saber quem foi o culpado. Este padrão de reação baseia­‑se
nos nobres princípios da responsabilidade e da credibilidade.
Quanto mais depressa tivermos respostas, melhor poderemos
precaver­‑nos contra uma trapalhada semelhante no futuro.
Mas… e se acabarmos por atribuir a culpa à fonte errada? E se,
na urgência de descobrir o motivo pelo qual os dados que constam
na folha de cálculo estão distorcidos, um diretor contemplasse a
possibilidade de ter sido… ele próprio – ou seja, o CEO da
empresa – a fornecer orientações equivocadas? E se, devido a esse
episódio, daí por diante e durante vários anos, todos deixassem
de depositar confiança na sua liderança? E se, devido a tudo isso,
também ele deixasse de confiar em si próprio? Com efeito, a

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culpabilização pode trazer uma estranha forma de conforto a
todos, pois fornece uma resposta de referência no âmbito de uma
missão que correu menos bem…
E se essa não fosse a realidade? E se as instruções que deu aos
seus subordinados tivessem sido irrepreensíveis apesar de ter tido
toda a gente a apontar­‑lhe o dedo? E se a origem do problema
residisse no sistema informático e a medida mais sensata tivesse
passado por uma verificação exaustiva do mesmo?
É este o atual contexto das doenças da tiroide. A ideia de não
haver explicação para o facto de um significativo segmento da
população padecer de dor ou mal­‑estar continuado contraria a
imagem de confiabilidade que a medicina enquanto instituição
se sente no dever de preservar. Assim, por não terem acesso a
respostas reais, os investigadores limitam­‑se a desenvolver teorias
como a da autoimunidade, que atribui a culpa ao próprio corpo.
Esses conceitos médicos desacertados dão origem aos Erros Cras‑
sos que são cometidos no domínio da doença crónica; estes erros
serão abordados na Parte II deste livro. Trata­‑se de conceitos
bem­‑intencionados: com efeito, a ciência médica pretende apre‑
sentar um motivo pelo qual as pessoas enfrentam problemas
como a insónia, o aumento de peso descontrolado ou a fadiga
avassaladora; o objetivo é que não tenham de viver imersas no
mistério.
O problema é que muitas vezes essas teorias acabam por se
enraizar rapidamente nas mentes humanas; a partir do momento
em que uma teoria começa a ser repetida com excessiva frequên‑
cia e persiste durante demasiado tempo, acaba por ser tomada
por um facto. Com efeito, a própria investigação médica opera
com base no pressuposto de que a teoria da autoimunidade é
correta, explorando os vários motivos pelos quais o sistema imu‑
nitário atacaria a tiroide. Todavia, esta abordagem não nos traz
respostas, pois nenhuma doença se traduz num ataque ao corpo
desencadeado pelo próprio corpo. De igual modo, as doenças
da tiroide não se prendem com o envelhecimento, com a gené‑
tica, com a incorreção dos nossos pensamentos, com a fixação

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