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As Ligações Perigosas - Choderlos de Laclos
As Ligações Perigosas - Choderlos de Laclos
LIGAÇÕES PERIGOSAS
Texto integral
EDITORES ASSOCIADOS
TÍTULO ORIGINAL: LES LIAISONS DANGEREUSES
TRADUÇÃO: JOÃO PEDRO DE ANDRADE E ALFREDO AMORIM
PREFÁCIO DO REDATOR
Esta obra, ou antes, esta colecção, que o público achará talvez
ainda volumosa em demasia, não contem todavia mais do
que um pequeno número das cartas que compunham a totalidaDE
da correspondência de onde foi extraída. Encarregado de a
pôr em ordem pelas pessoas a cujas mãos chegou, e que eu sabia
terem a intenção de a publicar, pedi apenas, como prémio dos
meus cuidados, a permissão de suprimir tudo o que me parecesse
inútil; e de facto conservei apenas as cartas que me pareceram
necessárias, quer para a compreensão dos acontecimentos, quer
para o desenvolvimento dos caracteres. Se acrescentarmos a este
ligeiro trabalho o de repor por ordem as cartas que deixei ficar,
ordem para a qual eu próprio quase sempre segui a das datas, e,
enfim, algumas notas curtas e raras, e que, na sua maior parte
não têm outro objectivo senão o de indicar a origem de algumas
citações ou de motivar alguns cortes que me permiti fazer, ter-se-á
inteiramente ideia da parte que tive nesta obra. A minha
missão não ia mais longe.
Eu tinha proposto alterações mais consideráveis, quase todas
relativas à pureza de dicção ou de estilo, contra a qual se
encontrarão muitas faltas. Desejei também ser autorizado a cortar
diversas cartas demasiado longas, e das quais algumas tratam
separadamente, e quase sem transição, assuntos absolutamente
estranhos uns aos outros. Este trabalho, que não foi aceite,
não seria bastante sem dúvida para dar mérito à obra, mas
ter-lhe-ia pelo menos tirado parte dos defeitos.
Foi-me objectado que eram as próprias cartas que se pretendia.
* Devo prevenir também que suprimi ou mudei todos os nomes das pessoas
que intervêm nestas cartas; e que, se no número daqueles que lhes substituí,
se encontrarem nomes que pertençam a alguém, terá sido unicamente por erro
da minha parte, e do qual não se deverá tirar qualquer conclusão. (N. do A.)
PRIMEIRA PARTE
CARTA I
1 Rodeira do convento.
P. S . - Não sei por quem enviar esta carta; por isso espero
que Josefina venha.
no castelo de..
Volte, meu caro Visconde, volte; que faz o senhor, que pode
o senhor fazer em casa de uma velha tia cujos bens lhe estão
garantidos? Parta imediatamente; é-me preciso aqui. Tive uma
excelente ideia, e desejo confiar-lhe a execução. Estas palavras
deveriam bastar-lhe; e, muito honrado pela minha escolha, devia
vir, com solicitude, receber de joelhos as minhas ordens.
Mas o senhor abusa das minhas bondades, mesmo depois que
deixou de aproveitá-las; e na alternativa de um ódio eterno ou
de uma excessiva indulgência, a sua felicidade quer que a minha
bondade a conduza. Desejo pois instruí-lo sobre os meus projectos:
mas jure-me que como fiel cavaleiro não correrá nenhuma
aventura sem que esta seja levada ao fim. Ela é digna de um herói:
o senhor servirá o amor e a vingança; será enfim uma astúcia
a mais a pôr nas suas memórias: sim, nas suas memórias,
pois eu quero que elas sejam publicadas um dia, encarrego-me
de as escrever. Mas deixemos isso, e voltemos ao que me preocupa.
para cear com o belo objecto, pois a mãe e a filha ceiam sempre
em minha casa. Adeus; passa do meio-dia, em breve deixarei de
me ocupar do Visconde.
CARTA III
Ainda não sei nada, minha boa amiga. A Mamã tinha ontem
muita gente a cear. Apesar do interesse que tinha em examinar,
os homens principalmente, aborreci-me muito. Toda a gente,
homens e mulheres, olhava muito para mim, e depois punham-se
a falar ao ouvido; e eu bem via que era de mim que falavam.
Isto fazia-me corar; era coisa em que eu não tinha mão.
Bem queria impedi-lo, pois reparei que, quando olhavam para
as outras mulheres, elas não coravam; ou talvez fosse a pintura
que não me deixava ver o seu embaraço, pois deve ser muito difícil
deixar de corar quando um homem nos olha fixamente.
O que mais me inquietava era não saber o que pensavam a
meu respeito. Creio no entanto ter ouvido duas ou três vezes a
palavra bonita; mas ouvi muito distintamente dizer acanhada. E
isso deve ser verdade, pois a senhora que pronunciava essa palavra
é parente e amiga de minha mãe. Pareceu-me mesmo que de
repente tinha sentido amizade por mim. Foi a única pessoa que
falou comigo um pouco durante toda a noite. Amanhã ceamos
em casa dela.
Ouvi ainda, depois da ceia, um homem que estou certa que
falava de mim, e que dizia a outro: "É preciso deixar amadurecer,
veremos este Inverno." Talvez seja esse que deve casar comigo;
mas sendo assim, não será antes de quatro meses! Bem
desejaria saber de que se trata.
Chegou agora Josefina, e diz-me que está com pressa. Mas
quero contar-te ainda uma das minhas acanhezas. Oh, creio que
essa senhora tem razão!
Depois da ceia puseram-se a jogar. Eu fiquei perto da
Mamã; não sei como isso aconteceu, mas adormeci quase a seguir.
Acordou-me uma estrepidosa gargalhada. Não sei se riam de
mim, mas assim o creio. A Mamã permitiu que me retirasse, e
com isso deu-me grande prazer. Imagina que passava das onze
horas. Adeus, minha querida Sofia; ama sempre muito a tua
Cecília. Podes estar certa de que a sociedade não é tão divertida
como a imaginávamos.
Paris, 4 de Agosto de 17* *
CARTA IV
em Paris
minha eterna tia instou muito comigo para que eu lhe sacrificasse
alguns dias. Já adivinhou que acedi. Não imagina os mimos que
ela me prodigaliza desde esse instante, e principalmente como
ela está impressionada por me ver assistir regularmente às suas
orações e à missa. Nem por sombras lhe passa pela cabeça qual
a divindade que eu ali vou adorar.
E aqui estou eu, há quatro dias, entregue a uma paixão forte:
A minha amiga sabe com que força eu sei desejar, e como os
obstáculos pesam pouco para mim; mas o que ignora é quanto a
solidão vem reforçar o ardor dos desejos. Apenas uma ideia me
ocupa; penso nela de dia, sonho com ela de noite. É-me absolutamente
necessário possuir essa mulher, para me salvar do ridículo
de estar apaixonado por ela; pois aonde não conduz um
desejo contrariado? Ó delicioso prazer! Eu te imploro para a
minha felicidade, mas principalmente para o meu descanso.
Como nós os homens somos felizes por as mulheres se defenderem
tão mal! Sem isso, seríamos junto delas apenas tímidos escravos.
Neste momento sinto-me possuído de reconhecimento
pelas mulheres fáceis, o que, naturalmente, me conduz a seus
pés. Ante eles me ajoelho para obter o meu perdão, e nessa postura
termino esta longa carta. Adeus, minha amiga: longe de
mim qualquer reserva.
CARTA V
CARTA VI
CARTA VII
CECÍLIA VOLANGES A SOFIA CARNAY
7 de Agosto de 17 * *
CARTA VIII
CARTA IX
1 de Agosto de 17* *
CARTA X
12 de Agosto de 17* *
CARTA XI
13 de Agosto de 17 *
CARTA XII
13 de Agosto de 17 * *
CARTA XIII
13 de Agosto de 17* *
CARTA XIV
Paris, 14 de Agosto de 17 * *.
CARTA XV
CARTA XVI
* A carta em que se fala deste serão não foi encontrada. Devemos supor
que é o que Madame de Merteuil propõe no seu bilhete, e de que também se fala
na precedente carta de Cecília Volanges.
19 de Agosto de 17 * *.
CARTA XVII
18 de Agosto de 17
CARTA XVIII
20 de Agosto de 17* *
CARTA XIX
20 de Agosto de 17* *.
CARTA XX
20 de Agosto de 17 * *
CARTA XXI
20 de Agosto de 17 * *
CARTA XXII
20 de Agosto de 17 * *
CARTA XXIII
CARTA XXIV
20 de Agosto de 17 * *
CARTA XXV
CARTA XXVI
21 de Agosto de 17 * *
CARTA XXVII
CARTA XXVIII
Paris, 23 de Agosto de 17 * *
CARTA XXXIX
24 de Agosto de 17 * *
CARTA XXX
24 de Agosto de 17 * *.
CARTA XXXI
25 de Agosto de 17**.
CARTA XXXII
24 de Agosto de 17* *
CARTA XXXIII
Uma vez que receia ser bem sucedido, meu caro Visconde
uma vez que o seu projecto consiste em fornecer armas contra si
próprio, e que deseja menos triunfar do que combater, nada
mais tenho a dizer-lhe. A sua conduta é uma obra-prima de
prudência. Seria uma obra-prima de tolice na suposição contrária;
e para lhe falar com franqueza, receio que o Visconde se
esteja a iludir.
O que eu lhe censuro não é o ter deixado de aproveitar o
momento. Por um lado, não vejo muito claramente que ele se
tivesse apresentado; por outro, sei suficientemente, digam o que
disserem, que uma ocasião perdida se torna a encontrar, ao passo
que não se resgata nunca um passo precipitado.
Mas é de verdadeiro colegial o ter sido levado a escrever.
Desafio-o neste momento a prever onde isso o pode conduzir.
Porventura espera provar a essa mulher que deve entregar-se?
Afigura-se-me que nisso pode haver uma verdade de sentimento,
não de demonstração; e que, para a fazer reconhecer, é preciso
agir pelo enternecimento e não pelo raciocínio; mas de que
lhe servirá enternecer por meio de cartas, visto que o Visconde
não estaria lá para se aproveitar do momento? Mesmo que as
suas belas frases produzam a embriaguez do amor, pode o Visconde
ter a pretensão de que essa embriaguez seja bastante durável
para que a reflexão não venha a impedir-lhe a confissão?
Depois, pense em tudo o que é necessário para escrever uma carta,
em tudo o que se passa antes de a remeter; e veja-se, sobretudo
uma mulher de princípios, como a sua devota, pode querer
por tanto tempo o que ela procura não querer nunca. Esse procedimento
pode dar resultado com crianças, que, quando escrevem
"eu amo", não sabem que dizem "eu entrego-me". Mas a
virtude raciocinadora de Madame de Tourvel conhece muito
bem, segundo creio, o valor das palavras. Por isso, apesar da
vantagem que o Visconde tomara sobre ela na conversação que
tiveram, ela venceu-o na carta que lhe escreveu. E depois, sabe o
que acontece? Só pelo motivo de se discutir, não se deseja ceder.
força de procurar boas razões, acaba-se por encontrá-las; dizem-se
essas razões, e depois sente-se apego a elas, não tanto
porque são boas, como para não se desmentir.
Além do mais, uma observação que me admiro que o Visconde
não tenha feito, é que não há nada tão difícil em amor
como escrever o que se não sente. Quero dizer, escrever de maneira
verosímil: não é que as palavras usadas não sejam as
mesmas; mas não são arranjadas do mesmo modo, ou antes,
são arranjadas, e isso basta. Releia a sua carta: reina nela uma
ordem que a cada frase o denuncia. Quero acreditar que a sua
Presidente não tem instrução bastante para disso se aperceber:
mas que importa? Nem por isso o efeito deixa de frustrar-se. É
este o defeito dos romances; o autor esforça-se em vão para elevar
a temperatura, e o leitor fica frio. Heloísa é o único que
pode fazer excepção; e apesar do talento do autor, esta observação
levou-me sempre a crer que o fundo era verdadeiro. Não é o
mesmo quando se fala. O hábito de trabalhar o seu órgão dá-lhe
sensibilidade; a facilidade das lágrimas aumenta o efeito: a expressão
do desejo confunde-se nos olhos com a ternura; enfim,
o discurso menos seguido conduz mais facilmente àquele ar de
perturbação e de desordem que é a verdadeira eloquência do
amor; e principalmente a presença do objecto amado impede a
reflexão e faz-nos desejar sermos vencidos.
Creia-me, Visconde: ser-lhe-á favorável não escreVer mais:
aproveite essa pausa para reparar a sua falta e espere a ocasião
de falar. Sabe que essa mulher tem mais força do que supunha?
A sua defesa é boa; sem a extensão da sua carta e o pretexto que
ela lhe dá para voltar ao assunto na sua frase de reconhecimento,
de nenhum modo se teria traído.
O que me parece ainda que deve convencê-lo do triunfo, é
que ela emprega demasiadas forças ao mesmo tempo; prevejo
que ela acabará por as esgotar pela defesa da palavra e que nenhuma
lhe ficará para a do acto.
Devolvo-lhe as duas cartas, e, se for prudente, serão essas as
últimas até ao feliz momento. Se não fosse tão tarde" falar-lhe-ia
da pequena Volanges, que avança bastante depressa, o que muito
me satisfaz. Creio que terminarei a minha tarefa
antes do
Visconde, e deve sentir-se feliz por isso. Adeus por hoje:
24 de Agosto de 17.
CARTA XXXIV
lugar daquela, sem que ela tivesse a menor suspeita. Mas, fosse
pelo despeito de ter sido apanhada, fosse por capricho, ou, enfim,
por virtude, pois ela forçar-me-á a crer nessa virtude, recusou-se
teimosamente a receber a terceira. Espero todavia que o
embaraço em que acabará por a lançar a obstinação nessa recusa
lhe servirá de correctivo para o futuro.
Não me admirei muito por ela não querer receber a carta
que eu lhe oferecia com toda a simplicidade; seria já conceder
qualquer coisa, e eu estou na expectativa de uma defesa mais
prolongada. Após esta tentativa, que não passou de uma experiência
passageira, pus um sobrescrito na minha carta; e, aproveitando
o momento da toilette, quando Madame de Rosemonde
e a criada de quarto estavam presentes, enviei-lha pelo meu
criado, com ordem de lhe dizer que era o papel que ela me tinha
pedido. Eu adivinhara que ela teria receio da explicação escandalosa
a que uma recusa obrigaria: com efeito aceitou a carta; e
o meu embaixador, que tinha ordem de observar o seu rosto, e
que tem boa vista, enxergou apenas uma leve vermelhidão e
mais embaraço do que cólera.
Felicitei-me pois por ela ter guardado a carta, a menos que
quisesse entregar-ma, o que só poderia fazer estando só comigo,
dando-me ocasião de lhe falar. Cerca de uma hora depois, um
dos seus criados entra-me no quarto e entrega-me, da parte da
sua senhora, um embrulho de forma diferente do meu, e em
cujo sobrescrito reconheci a letra tão desejada. Abro-o precipitadamente...
Era a minha própria carta, por abrir, e apenas
dobrada ao meio. Suspeito que só o receio de que eu fosse
menos escrupuloso do que ela sobre o escândalo a levou a empregar
esta astúcia diabólica.
A Marquesa conhece-me; não tenho necessidade de lhe descrever
a minha cólera. Foi-me preciso no entanto recuperar o
sangue-frio e procurar novos meios. Eis o único que encontrei.
Todos os dias alguém vai daqui buscar as cartas ao correio,
que fica a cerca de três quartos de légua; para este fim, servem-se
de uma caixa coberta pouco mais ou menos como um tronco,
de que o chefe do correio tem uma chave e Madame de Rosemonde
outra. Durante o dias as cartas são aí depositadas, a
qualquer hora; à noite levam-nas para o correio, e de manhã
vão buscar as que chegaram. Todos, mesmo os estranhos ao
castelo, fazem esse serviço igualmente. Não era a vez do meu
criado; mas ele encarregou-se de lá ir, com o pretexto de que
tinha afazeres para aquele lado.
Entretanto escrevi a minha carta. Disfarcei a letra para o
endereço, e imitei muito bem, no sobrescrito, o carimbo de Dijon.
Escolhi esta cidade porque achei mais engraçado; visto que
eu me candidatava aos mesmos direitos que o marido, escrever
do lugar onde ele se encontra, e também porque a minha bela
falava durante todo o dia do desejo que tinha de receber cartas
de Dijon. Pareceu-me justo conceder-lhe esse prazer.
Tomadas estas precauções, era fácil fazer que esta carta se
juntasse às outras. Com este expediente tive ainda a vantagem
de ser testemunha da recepção, pois há aqui o uso de nos juntarmos
para almoçar e esperar a chegada das cartas antes de nos
separarmos. Chegaram enfim as cartas.
Madame de Rosemonde abriu a caixa. "De Dijon", disse
ela, dando a carta de Madame de Tourvel. "Não é a letra de
meu marido", replicou ela com voz inquieta, rompendo o lacre
com vivacidade. O primeiro olhar deu-lhe a saber de que se tratava;
e houve tamanha alteração no seu rosto, que Madame de
Rosemonde, dando conta disso, perguntou: "Que tem?" Aproximei-me
também, dizendo: "É assim tão terrível essa carta?" A
tímida devota não ousava levantar os olhos, não dizia palavra,
e, para disfarçar o seu embaraço, fingia percorrer a epístola, que
ela não estava em estado de ler. Eu gozava da sua perturbação, e
não fiz cerimónia em a aumentar: "O seu aspecto mais tranquilo",
acrescentei, "faz esperar que essa carta lhe tenha causado
mais surpresa do que mágoa. A cólera então inspirou-a melhor
do que não o havia feito a prudência. "Esta carta contém coisas
que me ofendem", respondeu ela, "e surpreendeu-me que alguém
ousasse escrevê-las. " " Quem foi então ? ", interrompeu
Madame de Rosemonde. "Não está assinada", respondeu a
bela encolerizada, "mas a carta e o seu autor inspiram-me igual
desprezo. Obsequeiam-me não me falando mais nisto". Dizendo
estas palavras, rasgou a audaciosa missiva, meteu os pedaços
no bolso, levantou-se e saiu.
Apesar da sua cólera, não deixou de receber a minha carta;
e eu confio bastante na sua curiosidade, que a obrigará a lê-la
por inteiro.
Os pormenores do dia levar-me-iam muito longe. Junto a
esta narrativa os rascunhos das minhas duas cartas: assim a
Marquesa ficará tão instruída como eu. Se quiser estar ao corrente
da minha correspondÊncia, é preciso acostumar-se a decifrar
as minhas minutas, pois por nada no mundo eu devoraria o
aborrecimento de ter de as copiar. Adeus, minha bela amiga.
25 de Agosto de 17* *.
CARTA XXXV
21 de Agosto de 17 * *
CARTA XXXVI
(carimbo de Dijon)
23 de Agosto de 17**.
CARTA XXXVII
25 de Agosto de 17 * *.
CARTA XXXVIII
A MARQUESA DE MERTEUIL AO VISCONDE DE VALMONT
27 de Agosto de 17 * *
CARTA XXXIX
27 de Agosto de 17 * *
CARTA XL
CARTA XLI
25 de Agosto de 17 * *
85
CARTa XLII
26 de Agosto de 17 * *
CONTINUAÇÃO DA CARTA XL
27 de Agosto de 17 * *
CARTA XLIII
27 de Agosto de 17 * *
CARTA XLIV
28 de Agosto de 17 * *
CARTA XLV
29 de Agosto de 17 * *
CARTA XLVI
29 de Agosto de 17 * *
CARTA XLVII
De P..., 30 de Agosto de 17 * *.
CARTA XLVIII
(Correio de Paris)
CARTA XLIX
31 de Agosto de 17 * *
CARTA L
1 de Setembro de 17* *.
SEGUNDA PARTE
CARTA LI
2 de Setembro de 17* *
CARTA LII
3 de Setembro de 17* *.
CARTA LIII
CARTA LIV
4 de Setembro de 17 * *
CARTA LV
4 de Setembro de 17 * *
CARTA LVI
5 de Setembro de 17 * *
CARTA LVII
5 de Setembro de 17 * *
CARTA LVIII
7 de Setembro de 17 * *
CARTA LIX
8 de Setembro de 17* *
CARTA LX
(Inclusa na precedente)
8 de Setembro de 17**.
CARTA LXI
7 de Setembro de 17* *
CARTA LXII
7 de Setembro de 17**.
CARTA LXIII
9 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXIV
CARTA LXV
Ó minha Cecília, que vai ser de nós? Que Deus nos salvará
das desgraças que nos ameaçam? Ao menos, que o amor nos dê
coragem para as suportar! Como descrever-lhe o meu espanto,
o meu desespero à vista das minhas cartas, ante a leitura do bilhete
de Madame de Volanges? Quem nos terá traído? Sobre
quem recaem as suas suspeitas? Teria a Cecília cometido alguma
imprudência? Que faz agora? Que lhe têm dito? Tanto eu
desejava saber tudo, e tudo ignoro. Talvez mesmo a Cecília não
saiba mais do que eu.
Envio-lhe o bilhete da sua Mamã, e a cópia da minha resposta.
Espero que aprovará o que eu lhe disse. Preciso muito
que aprove também as diligências que fiz desde aquele fatal
acontecimento, pois que todas têm por fim conseguir notícias
suas e dar-lhe as minhas; e, quem sabe?, talvez voltar a vê-la, e
com maior liberdade do que nunca. Põe na sua ideia, minha Cecília,
que prazer seria voltarmos a encontrar-nos, podermos jurar-nos
de novo um amor eterno, e ver nos nossos olhos, sentir
nas nossas almas que esse juramento não será desmentido? Um
momento tão doce, que mágoas não fará esquecer? Pois bem!
Tenho esperança de que tal momento surja, e devo-a a essas
mesmas diligências para que suplico a sua aprovação. Que digo
; eu? Devo essa esperança aos consoladores cuidados do mais
; terno dos amigos; e o único pedido que lhe faço é que permita
; que esse amigo seja também o seu.
Talvez eu não devesse confiar tanto sem o seu consentimento;
mas tenho por desculpa a má sorte e a necessidade. Foi o
amor que me conduziu; é ele que reclama a sua indulgência, que
lhe pede que perdoe uma confidência necessária, e sem a qual
ficaríamos talvez separados para sempre. Conhece o amigo de
9 de Setembro de 17 * *
CARTA LXVI
9 de Setembro de 17 * *
CARTA LXVII
A PRESIDENTE DE TOURVEL AO VISCONDE DE VALMONT
9 de Setembro de 17 * *
CARTA LXVIII
10 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXIX
10 de Setembro de 17* *
CARTA LXX
11 de Setembro de 17* *
CARTA LXXI
CARTA LXXII
Paris, 11 de Setembro de 17 * *
CARTA LXXIII
(Junta à precedente)
O amigo que a serve soube que lhe faltava tudo que é necessário
para escrever e remediou essa falta. Encontrará na antecâmara
do aposento que ocupa, debaixo do grande armário à
esquerda, uma provisão de papel, de penas e de tinta, que ele
renovará quando quiser e que lhe parece poder ficar no mesmo
sítio se não encontrar outro mais seguro.
Esse amigo pede-lhe que não se ofenda, se simular que não
lhe dá nenhuma atenção nas reuniões e que a olha como uma
criança. Tal procedimento parece-lhe necessário para inspirar a
segurança de que ele precisa e poder trabalhar mais eficazmente
na felicidade do seu amigo e na sua. Procurará suscitar as ocasiões
de lhe falar, quando tiver alguma coisa a comunicar-lhe ou
a entregar-lhe; e espera consegui-lo, se a menina tiver o cuidado
de o secundar.
Aconselha-a também a entregar-lhe as cartas à medida que
as for recebendo, a fim de a arriscar menos a comprometer-se.
Termina por lhe dar a certeza de que, se quiser depositar
nele confiança, porá os seus cuidados em suavizar a perseguição
que uma mãe demasiado cruel faz sofrer a duas pessoas, das
quais uma é já o seu melhor amigo, e a outra lhe parece merecer
o mais terno interesse.
CARTA LXXIV
Paris, 15 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXXV
Nota. - Nesta carta, Cecília Volanges narra com muitos pormenores tudo
o que lhe diz respeito nos acontecimentos que o leitor conhece do fim da
Primeira Parte, Carta LXI e seguintes. Julgou-se oportuno suprimir essa
repetição. Por fim, fala do Visconde de Valmont, e exprime-se do seguinte modo:
CARTA LXXVI
CARTA LXXVII
15 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXXVIII
16 de Setembro de 17 * *
CARTA LXXIX
18 de Setembro de 17* *
CARTA LXXX
CARTA LXXXI
de ter sido o meu único amante, tudo serviu para obter o seu silêncio.
Por fim, quando esses meios me faltaram, soube, antes
de romper, abafar de antemão, sob o ridículo ou a calúnia, a
confiança que esses homens perigosos pudessem obter.
O que lhe estou dizendo, tem-me o Visconde visto praticar
constantemente; e duvida da minha prudência! Pois bem: evoque
o tempo em que me dispensou as suas primeiras atenções.
Nunca uma homenagem me lisonjeou tanto; desejava-o antes
de o ter visto. Seduzida pela sua reputação, parecia-me que fazia
falta à minha glória. Ardia no desejo de o combater corpo a
corpo. Foi o único dos meus prazeres que teve algum império
sobre mim. Entretanto, se o Visconde tivesse querido perder-me,
que meios teria encontrado? Palavras vãs que não deixam
sulco atrás de si, que a sua própria reputação teria ajudado a
tornar suspeitas, e uma sucessão de factos sem verosimilhança,
cuja narração sincera teria o ar de um romance mal urdido.
É certo que, mais tarde, vim a entregar-lhe todos os meus
segredos; mas o Visconde sabe os interesses que nos unem, e se,
de nós dois, sou eu quem deve culpar-se de imprudência.
Já que estou em maré de lhe prestar contas, desejo fazê-lo
com exactidão. Daqui ouço-o dizer-me que estou, pelo menos, à
mercê da minha criada de quarto; de facto, se ela não possui o
segredo dos meus sentimentos, possui o dos meus actos. Quando
o Visconde em tempos me falou a esse respeito, respondi-lhe
apenas que estava segura dela; e a prova de que esta resposta
bastou então para a sua tranquilidade é que depois disso lhe
confiou, por sua conta, segredos bastante perigosos. Mas agora
que Prévan lhe faz sombra, e que a cabeça lhe anda à roda, tenho
dúvidas de que me acredite sob palavra. Vou pois edificá-lo.
Em primeiro lugar, essa rapariga é minha irmã de leite, e
esse laço que aparentemente nada vale não deixa de ter importância
para pessoas dessa categoria. Além disso, conheço o segredo
dela, e mais ainda: vítima duma loucura de amor, estaria
perdida se eu não a tivesse salvo. Os pais dela, todos eriçados de
20 de Setembro de 17* *
CARTA LXXXII
CECÍLIA VOLANGES AO CAVALEIRO DANCENY
CARTA LXXXIII
CARTA LXXXIV
24 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXXXV
fazer leitura pública, e onde verá esta história tal como deve ser
contada.
Esquecia-me de dizer que Belleroche está indignado, e quer
absolutamente bater-se com Prévan. Pobre rapaz! Felizmente
terei tempo de lhe acalmar os nervos. Enquanto espero, vou
repousar os meus, que estão fatigados de escrever. Adeus, Visconde.
CARTA LXXXVI
CARTA LXXXVII
TERCEIRA PARTE
CARTA LXXXVIII
26 de Setembro de 17 * *.
CARTA LXXXIX
CARTA XC
Desejo muito, senhor, que esta carta não vos faça sofrer;
mas, se assim não for, que ao menos a vossa dor seja suavizada
pela que experimento ao escrevê-la. Deveis conhecer-me o bastante,
presentemente, para estardes bem certo de que o meu
desejo é não vos magoar; mas vós, sem dúvida, não quereríeis
também mergulhar-me num desespero eterno. Suplico-vos pois,
em nome da terna amizade que vos prometi; em nome até dos
sentimentos porventura mais vivos, mas certamente não mais
sinceros, que tendes por mim, que não voltemos a ver-nos; deveis
partir. E até lá, evitemos sobretudo essas conversas particulares
e demasiado perigosas, durante as quais, por qualquer força
inconcebível, sem nunca conseguir dizer-vos o que quero,
passo o tempo a escutar o que não deveria ouvir.
Ainda ontem, quando viestes juntar-vos a mim no parque,
eu tinha como único projecto dizer o que hoje vos escrevo; e que
fiz, afinal, senão ocupar-me do vosso amor?... do vosso amor,
ao qual nunca poderei corresponder! Ah! por piedade, afastai-vos
de mim!
Não receeis que a ausência altere os meus sentimentos por
vós: como conseguiria vencê-los, quando já nem tenho coragem
para os combater? Como vedes, digo-vos tudo; temo menos
confessar a minha fraqueza do que sucumbir a ela. Perdi o domínio
dos sentimentos, mas conservarei o das acções; sim, conservá-lo-ei,
estou resolvida a isso; mesmo à custa da vida.
Ai! Não vai longe o tempo em que julgava que nunca teria
tais combates a sustentar! Felicitava-me talvez demasiado. O
céu puniu cruelmente este orgulho: mas, cheio de misericórdia,
no próprio momento em que fere, adverte-me ainda antes da
queda; e eu seria duplamente culpada se continuasse a ser imprudente,
prevenida já da minha pouca força.
Haveis-me dito cem vezes que não queríeis uma felicidade
comprada com as minhas lágrimas. Ah! não falemos já de felicidade;
deixai-me recuperar um pouco de sossego.
Se atenderdes ao meu pedido, que novos direitos não tereis
sobre o meu coração? Mas desses, assentes na virtude, não precisarei
defender-me. Como serei feliz no meu reconhecimento!
Ficarei a dever-vos a doçura de gozar sem remorsos um sentimento
delicioso. Neste momento, assustada com os meus sentimentos
e pensamentos, receio igualmente ocupar-me de vós e de
mim; só de pensar em vós me assusto: quando não posso fugir à
vossa imagem, combato-a; não a afasto, expulso-a.
Não será melhor para ambos cessar este estado de perturbação
e de ansiedade? Vós, cuja alma sempre sensível, mesmo no
meio dos erros, se conservou amiga da virtude,tereis certamente
piedade da minha dolorosa situação; sei que não rejeitareis a
minha súplica! Um interesse mais doce, e não menos terno, sucederá
a estas agitações violentas; então, devendo-vos a vida, a
existência ser-me-á cara,e na alegria do meu coração direi: esta
tranquilidade, devo-a ao meu amigo.
Parece-vos que este pequeno sacrifício, que vos não imponho,
mas peço, é um preço demasiado caro para dar termo aos
meus tormentos? Ah! se para vos tornar feliz bastasse aceitar a
infelicidade, podeis crer, não hesitaria um momento... Mas
cometer uma falta!... Não, meu amigo, não, antes morrer mil
vezes.
Assaltada pela vergonha, à beira dos remorsos, temo os outros
e a mim própria; coro quando estou acompanhada, e tremo
na solidão; a minha vida é apenas dor; só por vossa vontade
terei paz. As minhas resoluções mais louváveis não bastam para
me tranquilizar; formulei esta ordem e no entanto passei a noite
banhada em lágrimas.
Eis a vossa amiga, aquela que amais, a pedir-vos confusa e
suplicante o repouso e a inocência. Ah! meu Deus! sem vós,
nunca ela teria sido obrigada a pedido tão humilhante. Nada
vos censuro; sinto demasiado por mim própria como é difícil
resistir, a um sentimento imperioso. Uma queixa não é um
murmúrio. Fazei por generosidade o que faço por dever; e a
todos os sentimentos que me haveis inspirado acrescentarei uma
eterna gratidão. Adeus, adeus, senhor.
27 de Setembro de 17 * *
CARTA XCI
27 de Setembro de 17 * *, à noite.
CARTA XCII
Paris, 27 de Setembro de 17 * *
CARTA XCIII
(Junta à precedente)
alguma piedade, não será sem dor que a Cecília saberá os tormentos
horríveis que me causa. Ah ! sofreria menos ao morrer.
Diga-me pois: o seu coração fechou-se definitivamente para
mim? É certo que me esqueceu inteiramente? Graças à sua recusa,
não sei quando ouvirá as minhas queixas, nem quando lhes
responderá. A amizade de Valmont tinha assegurado a nossa
correspondência: mas a Cecília não quis; achava-a difícil, preferiu
que ela fosse mais rara. Não, não acreditarei mais no amor,
na boa fé. Em quem acreditar, se a Cecília me enganou?
Responda-me pois: é certo que já não me tem amor? Não,
isso não é possível; a Cecília ilude-se a si própria; calunia o seu
próprio coração. Um receio passageiro, um momento de desânimo,
que o amor depressa fez desaparecer: não é verdade, minha
Cecília? Ah! Sem dúvida, e faço mal em a acusar. Como eu seria
feliz se me tivesse enganado! Como gostaria de pedir ternas desculpas,
de compensar este momento de injustiça com uma eternidade
de amor!
Cecília, Cecília, tenha piedade de mim! Consinta em me ver;
aceite todos os meios! Veja o que produz a ausência: receios,
suspeitas, talvez frieza! Um só olhar, uma só palavra, e seremos
felizes. Mas quê! Posso eu ainda falar de felicidade? Talvez esteja
perdida para mim, perdida para sempre. Torturado pelo receio,
cruelmente apertado entre a suspeita injusta e a mais cruel
das verdades, não me posso agarrar a nenhum pensamento; o
pouco que conservo de vida é para sofrer e amar. Ah! Cecília! É
a única pessoa que tem o direito de me embelezar a existência,
de ma tornar cara; e espero das suas palavras o regresso à felicidade
ou a certeza dum desespero eterno.
CARTA XCIV
CARTA XCV
28 de Setembro de 17 * *
CARTA XCVI
CARTA XCVII
Ah! Meu Deus, senhora, como estou aflita! Como sou infeliz!
Quem me consolará na minha dor? Quem me aconselhará
na dificuldade em que me encontro? Este senhor de Valmont!...
E Danceny! Não, a lembrança de Danceny lança-me no desespero...
Como contar? Como ousar dizer-vos?... Não sei como o
fazer. No entanto o meu coração transborda... Preciso de desabafar
com alguém e vós sois a única a quem posso escrever.
Tem sido tão boa para mim! Mas não espero que o sejais agora;
não sou digna disso; como dizer-vos? Já não o desejo. Hoje
foram todos aqui muito carinhosos para comigo, mas só contribuíram
para aumentar o meu sofrimento. Senti profundamente
que não merecia tanta atenção! Vós, pelo contrário,
ralhai-me; severamente, porque tenho imensa culpa: mas
depois salvai-me; se não tiverdes a bondade de me aconselhar,
morrerei de desgosto.
vergonha. Pois bem! Suportá-la-ei; será o primeiro castigo da
minha falta. Sim, dir-vos-ei tudo.
Sabei pois que o senhor de Valmont, que me entregara até
agora as cartas de Danceny, descobriu de repente que era demasiado
difícil; quis ter uma chave do meu quarto. Garanto-vos
que não queria: mas ele escreveu a Danceny e este concordou; e
a mim custa-me tanto recusar-lhe qualquer coisa, sobretudo
desde que a minha ausência o torna tão infeliz, que acabei por
consentir. Não previa a desgraça que daí resultaria.
Ontem, o senhor de Valmont serviu-se dessa chave para
entrar no meu quarto, enquanto eu dormia; estava tão longe de
esperar semelhante coisa que me assustei ao acordar; mas como
falou imediatamente, reconheci-o e não gritei; e além disso
veio-me logo a ideia de que talvez trouxesse uma carta de Danceny.
Nada disso. Passado um momento quis beijar-me; e enquanto
eu me defendia, como era natural, insinuou-se de tal
forma junto de mim, que não quereria por coisa alguma deste
mundo que ele continuasse naquela posição. Mas exigiu um beijo
primeiro. Forçoso foi; que fazer?, tanto mais que tentara tocar,
mas além de não ter podido, ameaçou-me que, se viesse
alguém, lançaria toda a culpa sobre mim; e com efeito seria
muito fácil, por causa da chave. Mas depois nem por isso se retirou.
Quis um segundo; e desta vez, não sei porquê, perturbou-me
de tal forma... e em seguida foi ainda pior. Oh! Não se faz uma
coisa destas. Enfim, depois..., dispensar-me-eis de dizer o resto;
sou tão infeliz quanto é possível sê-lo.
Aquilo de que mais me acuso, forçoso é que vo-lo diga, é o
receio de não me ter defendido quanto podia. Não sei como foi:
não amo o senhor de Valmont, bem pelo contrário; mas houve
no entanto momentos em que foi como se o amasse. Bem sabeis
que isso não me impedia de ir repetindo que não; mas senti que
não estava agindo como dizia; e tudo isto independentemente
da minha vontade; e depois também, ora, estava tão perturbada!
Se é assim tão difícil a gente defender-se, grande prática é
preciso! Também é verdade que este senhor de Valmont tem
umas maneiras de falar que não se sabe como responder-lhe,
enfim, quer acreditar que quando partiu eu estava de certo
modo zangada, e que apesar disso tive a fraqueza de consentir
que voltasse esta noite: o que me desola ainda mais que tudo o
resto.
Oh! Apesar disso, prometo-vos que o impedirei de entrar.
Mal ele saíra, já sentia como tinha errado ao consentir. O resto
do tempo não fiz senão chorar. Sobretudo a recordação de
Danceny fazia-me sofrer! Cada vez que pensava nele, as lágrimas
aumentavam ao ponto de sufocar, e não podia deixar de
pensar nele... E ainda agora, vede o efeito; eis o papel todo
molhado. Não, nunca mais me consolarei, quanto mais não seja
por causa dele... Estava exausta, e no entanto não dormi um
minuto. Esta manhã ao levantar-me, perante o espelho, metia
medo, de transtornada que estava.
A Mamã reparou assim que me viu, e perguntou-me o que
tinha. Desatei logo a chorar. Julguei que me ia ralhar, o que talvez
me tivesse custado menos: mas não. Falou-me com doçura!
Não o merecia, de forma nenhuma. Disse que não me afligisse!
Ignorava o motivo do meu desespero. Como me sentia mal! Há
momentos em que desejo a morte. Não resisti. Lancei-me nos
braços dela aos soluços, e dizendo: "Ah! Mamã, a vossa filha é
tão infeliz!" A Mamã não pôde deixar de chorar um pouco; o
que só teve como consequência aumentar a minha dor: felizmente
não perguntou por que razão eu era tão infeliz, pois não
saberia que responder.
Suplico-vos, senhora, escrevei o mais cedo que puderdes, e
dizei-me o que devo fazer: porque não tenho coragem de pensar
em nada, não faço outra coisa senão afligir-me. Enviai a carta
pelo senhor de Valmont; mas, peço-vos, se lhe escreverdes ao
mesmo tempo, não lhe faleis no que vos contei.
Tenho a honra de ser, minha senhora, com imensa amizade,
a vossa muito humilde e obediente escrava...
Não ouso assinar esta carta.
CARTA XCVIII
CARTA XCIX
O VISCONDE DE VALMONT A MARQUESA DE MERTEUIL
CARTA C
até! Aquele olhar doce! Aquela voz tão terna! E a mão que apertou
a minha! E durante todo esse tempo projectava fugir de
mim! Oh! Mulheres, mulheres! Queixais-vos depois se alguém
vos engana! Sim, toda a perfídia que empregamos é um roubo
que vos fazemos.
Que prazer terei em vingar-me! Tornarei a encontrar essa
pérfida mulher e retomarei o meu domínio sobre ela. Se o amor
me bastou para descobrir o caminho, que não farei guiado pela
vingança. Ainda a hei-de ver a meus pés, tremendo e banhada
em lágrimas, pedindo-me perdão com aquela voz enganadora;
serei sem piedade.
Que faz agora, que pensa? Talvez se regozije por me ter
enganado e, fiel aos gostos do seu sexo, este prazer lhe pareça o
mais doce. O que não pôde a tão louvada virtude, conseguiu-o a
manha sem esforço. Insensato! Eu temia a sensatez dela; devia
antes temer a má fé.
E ser obrigado a engolir o meu ressentimento! Ousar apenas
mostrar uma terna dor, quando tenho o coração cheio de raiva!
Ver-me reduzido a suplicar outra vez a uma mulher rebelde, que
se furtou ao meu poder! Merecia eu ser humilhado a este ponto?
E por quem? Por uma mulher tímida, sem prática destas lutas.
De que me vale ter-lhe conquistado o coração, tê-la abrasado
pelo fogo do amor, ter elevado até ao delírio a perturbação dos
sentidos, se, tranquila no seu refúgio, ela pode hoje orgulhar-se
mais da sua fuga do que eu das minhas vitórias? Suportarei isto?
A minha amiga não pode acreditar em tal; não tem de mim ideia
tão humilhante!
Mas que fatalidade me liga a esta mulher? Não há centenas
que desejam as minhas atenções? Que se apressariam a corresponder-me?
E mesmo que não se comparem a esta, a atracção
da variedade, o encanto de novas conquistas, o prestígio do seu
número, não oferecerão também doces prazeres? Por que correr
atrás de quem nos foge e desprezar os que nos procuram? Ah!
Porquê?. .. Ignoro-o mas não posso sentir de maneira diferente.
Não existe para mim felicidade. ou repouso se não possuir
esta mulher que odeio e amo com fúria igual. Só poderei suportar
a minha vida a partir do momento em que disponha da sua.
Então, tranquilo e satisfeito, vê-la-ei, por sua vez, entregue aos
tormentos que me sacodem nesta hora; e criarei ainda mil outros.
Quero que a esperança e o temor, a desconfiança e a tranquilidade,
todos os males inventados pelo ódio, e todos os bens
concedidos pelo amor, possuam o seu coração, e aí se alternem
segundo o meu desejo. Há-de chegar esse momento... Mas
quantos trabalhos ainda! Como ontem estive perto e hoje me
sinto afastado! Como aproximar-me? Não ouso tentar qualquer
movimento; para tomar uma decisão seria preciso estar
mais calmo, e o sangue ferve-me nas veias.
O que aumenta o meu tormento é o sangue-frio com que
todos respondem às minhas perguntas sobre este acontecimento
e sobre a causa, e tudo o que me parece tão extraordinário.
Ninguém sabe nada nem procura saber: nem teriam falado nisso,
se eu consentisse que se falasse doutra coisa. Madame de
Rosemonde, que visitei no seu quarto logo de manhã quando
soube a notícia, respondeu-me, com a calma da sua idade, que
se tratava da continuação natural da indisposição que Madame
de Tourvel tivera ontem; que ela receara uma doença e preferira
ir para casa. Achava muito natural e teria feito o mesmo, afirmou-me.
Como se pudesse haver qualquer coisa de comum entre
ambas!, entre esta, a quem não resta senão a morte, e a outra,
encanto e tormento da minha vida!
Madame de Volanges, que julguei primeiro cúmplice, parece
afinal ofendida por não ter sido consultada sobre esta partida.
Estou satisfeito, confesso, por ela não ter tido o prazer de
me dar um desgosto. Isto prova que ela não possui inteiramente,
tal como eu temia, a confiança da amiga; sempre é uma inimiga
a menos. Como se felicitaria se soubesse que era de mim que
fugiam! Como estaria inchada de orgulho se isso tivesse acontecido
devido aos seus conselhos! Como se sentiria importante!
Meu Deus, como a odeio! Oh, recomeçarei com a filha; quero
moldá-la segundo a minha fantasia; e creio que ficarei aqui algum
tempo. Pelo menos, as poucas reflexões que fiz levam-me a
esta conclusão.
Não acha que; depois desta decisão tão viva, a ingrata deve
recear a minha presença? Se pensou que podia segui-la, certamente
me proibiu a entrada; e não quero nem acostumá-la a
isso, nem sofrer a humilhação. Prefiro dizer-lhe que fico aqui;
rogar-lhe-ei que volte; e quando estiver persuadida da minha
ausência, apresentar-me-ei; veremos como reage a esta entrevista.
Mas é preciso adiá-la para lhe aumentar o efeito, e não sei se
terei paciência para isso: abri umas vinte vezes a boca durante o
dia para pedir os meus cavalos. Mas conseguirei dominar-me;
comprometo-me a receber a sua resposta aqui; peço-lhe só,
minha bela amiga, que ma não faça esperar.
O que me poderia contrariar mais seria não saber o que se
passa; mas o meu criado, que está em Paris, tem possibilidade
de acesso junto da criada de quarto e portanto poder-me-á ser
útil. Vou-lhe enviar instruções e dinheiro. Não se importará que
eu junte ambos a esta carta e que lhe peça o cuidado de lhos enviar
por um dos seus, com a ordem de lhos entregar pessoalmente.
Tomo esta precaução porque o tolo tem o hábito de
nunca receber as cartas que lhe escrevo, quando elas lhe ordenam
qualquer coisa que o mace; e, neste momento, não me parece
tão apaixonado pela sua conquista como eu o desejaria.
Adeus, bela amiga; se tiver ideia feliz, qualquer meio de
apressar a marcha, diga-me. Já mais de uma vez senti quanto a
sua amizade me pode ser útil, sinto-o ainda neste momento:
porque fiquei mais calmo enquanto lhe escrevia; pelo menos,
falo a alguém que me compreende, e não aos autómatos junto
de quem vegeto desde manhã. Na verdade, quanto mais penso
mais acredito que só existimos você e eu no mundo, que tenhamos
qualquer valia.
CARTA CI
(Junta à precedente)
CARTA CII
palavra que escrevo pela primeira vez, esta palavra tanta vez
desejada sem ser obtida, pagaria com a vida a doçura de a poder
dizer uma só vez àquele que ma inspira; e contudo devo sem
cessar abster-me de tal! Ele vai ainda duvidar dos meus sentimentos;
julgar-se-á com direito a queixar-se. Sou tão infeliz!
Por que não lê ele no meu coração com a mesma facilidade com
que aí reina? Sim, seria menos infeliz, se ele soubesse como sofro;
mas mesmo vós, a quem o revelo, não fazeis senão ainda
uma leve ideia da minha dor.
Dentro de poucos momentos vou fugir e afligi-lo. Julgar-se-á
ainda perto de mim, e já eu estarei longe: à hora a que nos
costumávamos ver todos os dias, estarei num local aonde nunca
veio, aonde não devo permitir que venha. Os preparativos estão
todos feitos; tenho tudo em frente dos meus olhos; não os posso
repousar sobre nada que não me anuncie a cruel partida. Está
tudo pronto, excepto eu. E quando mais o coração se recusa,
mais me prova a necessidade de me submeter a esta decisão.
Submeter-me-ei sem dúvida; antes morrer do que viver culpada.
De resto, sinto que já o sou; salvei apenas a sensatez, a
virtude já desapareceu. Não é preciso confessar-vos; o que ainda
me resta, devo-o apenas à generosidade dele. Entontecida
com o prazer de o ver, de o ouvir, com a doçura de o sentir junto
de mim e com a felicidade de poder fazer a dele, encontrava-me
sem recursos e sem forças; mal podia ainda lutar, já não resistia;
estremecia com o perigo sem conseguir fugir-lhe. Pois
bem! Viu a minha dor e teve piedade de mim. Como não o adorar?
Devo-lhe mais do que a vida.
Ah! Se ao ficar junto dele eu tivesse apenas que temer por
ela, podeis crer que nunca me afastaria. De que me serve a vida
sem ele? Não seria para mim uma felicidade perdê-la? Condenada
a provocar eternamente a infelicidade de ambos; a não ousar
queixar-me, nem consolá-lo; a defender-me todos os dias dele e
de mim própria; a pôr todos os meus cuidados em fazer-lhe mal,
quando afinal desejaria consagrá-los à sua felicidade: viver assim,
não serão mil mortes? Eis todavia o meu destino. Suportá-lo-ei
no entanto, não me faltará a coragem. Recebei vós, a
quem escolho por mãe, este juramento.
Recebei igualmente aquele que faço de nunca vos ocultar
nenhuma das minhas acções; recebei-o, suplico-vos; peço-vo-lo
como um auxílio precioso: obrigada assim a dizer-vos tudo,
sentirei como se estivesse sempre na vossa presença. A vossa virtude
substituirá a minha. Nunca consentirei, sem dúvida, em
corar diante de vós, e retida por esse freio poderoso, ao mesmo
tempo que adorei em vós a amiga tolerante e confidente da
minha fraqueza, venerarei ainda o anjo tutelar que me há-de
salvar da vergonha.
É já sentir muita o ter de fazer este pedido. Fatal efeito
duma presunçosa confiança! Por que não temi mais cedo esta
inclinação que senti nascer? Por que me lisonjeei de a poder
dominar ou vencer à minha vontade? Insensata! Muito mal
conhecia eu o amor! Ah! Se a tivesse combatido com mais cuidado,
talvez tivesse adquirido menos poder! E então talvez esta
fuga não fosse necessária; ou, submetendo-me embora a tão
dolorosa decisão, poderia não romper inteiramente uma ligação
que bastaria tornar menos frequente! Mas perder tudo duma só
vez, e para sempre! Ó minha amiga...! Mas quê? Mesmo ao escrever-vos,
desvairo ainda em desejos criminosos? Ah! Partamos,
partamos, e que ao menos estes erros involuntários sejam
expiados pelos meus sacrifícios.
Adeus, respeitável amiga; amai-me como filha, adoptai-me
como tal; e podes estar certa de que, apesar da minha fraqueza,
preferiria morrer a tornar-me indigna da vossa escolha.
CARTA CIV
Paris, 4 de Outubro de 17 * *
CARTA CV
Paris, 4 de Outubro de 17 * *.
CARTA CVII
Senhor:
CARTA CVIII
CARTA CIX
CARTA CX
" Poderes do céu, eu tinha uma alma para a dor; dai-me outra
para a felicidade." Creio que é assim que se exprime o terno
Saint-preux. Mais bem dotado do que ele, possuo simultaneamente
as duas existências. Sim, minha amiga, sou ao mesmo
tempo muito feliz e muito desgraçado; e visto que lhe dou inteira
confiança, devo-lhe a dupla história das minhas dores e dos
meus prazeres.
Saiba pois que a ingrata devota continua a ser severa para
comigo. Já estou na quarta carta devolvida. Quarta, digo mal;
porque, tendo adivinhado desde a primeira devolução que outras
se lhe seguiriam, e não querendo desperdiçar tempo, tomei
a decisão de escrever os meus queixumes em lugares-comuns, e
de não datar: desde o segundo correio, é sempre a mesma carta
que vai e vem; mudo apenas o sobrescrito. Se a minha bela acabar
como acabam geralmente as belas, e se se enternecer um dia,
pelo menos de cansaço, guardará enfim a missiva, e então será a
altura de me pôr em dia. Bem vê que, com este novo género de
correspondência, não posso estar nem mais avançado, nem
mais informado do que no primeiro dia.
Descobri contudo que a volúvel criatura mudou de confidente:
tenho a certeza de que, desde a partida daqui, não veio
nenhuma carta dela para Madame de Volanges, ao passo que já
vieram duas para a velha Rosemonde; e como esta nada nos diz,
como já não abre a boca sobre "a sua querida filha", de quem
antes falava sem cessar, concluí que fora ela quem recebera a
confidência. Presumo que por um lado a necessidade de falar de
mim; e por outro lado a vergonha de expor, perante Madame de
Volanges, um sentimento há tanto tempo renegado, produziram
esta grande revolução. Receio ter perdido com a troca: porque
as mulheres quanto mais velhas, mais ríspidas e severas se tornam.
A primeira dir-lhe-ia mal de mim: mas esta dir-lhe-á ainda
pior do amor; e a sensível e pudibunda dama tem mais terror do
sentimento do que de mim.
A única maneira de saber o que se passa é, como vê, interceptar
a correspondência clandestina. Já dei ordem ao meu criado;
e aguardo a execução de dia para dia. Até lá, só posso agir
ao acaso: assim, há oito dias, revejo inutilmente todos os processos
conhecidos, os dos romances e os das minhas memórias
secretas; não encontro nenhum que convenha às circunstâncias
da aventura ou ao carácter da heroína. O difícil não seria introduzir-me
em casa dela, mesmo de noite, adormecê-la e transformá-la
numa nova Clarisse: mas depois de mais de dois meses de
cuidados e de trabalhos, recorrer a meios que me são estranhos,
arrastar-me servilmente pelo caminho dos outros, e triunfar sem
glória! :.. Não, ela não terá "os prazeres do vício e as honras da
virtude". Não me basta possuí-la, quero que ela se entregue.
Ora, para tal não basta penetrar até junto dela, mas sim fazê-lo
com o seu consentimento; encontrá-la só e na disposição de me
escutar; sobretudo fechar-lhe os olhos quanto ao perigo, porque,
se o vê, saberá vencê-lo ou morrer. Mas quanto melhor sei
o que é preciso fazer, mais reconheço as dificuldades, e ainda
que a minha amiga faça outra vez troça de mim, confesso-lhe
que o meu embaraço aumenta à medida que me ocupo cada vez
mais do caso.
A cabeça ficar-me-ia tonta, creio, sem as felizes distracções
que me dá a nossa comum aluna; é a ela que devo o ter ainda
alguma coisa a fazer que não elegias.
Acredita que a rapariguinha estava de tal modo furiosa, que
se passaram três longos dias antes que a sua carta produzisse
efeito completo? Eis como uma só ideia falsa pode estragar o
mais agradável dos temperamentos!
Enfim; só no sábado é que veio andar à roda de mim, e balbuciar-me
algumas palavras; pronunciadas no entanto tão baixo
e abafadas de tal maneira pela vergonha, que era impossível
ouvi-las. Mas o rubor que causaram fez-me adivinhar o sentido.
Até aqui tinha-me mantido sobranceiro: mas amaciado por um
tão agradável arrependimento, consenti em encontrar-me nessa
mesma noite com a linda penitente; e esta graça da minha parte
foi recebida com todo o reconhecimento devido a uma tão grande
mercê.
Como nunca perco de vista os seus projectos e os meus, resolvi
aproveitar a ocasião para conhecer ao certo o valor desta
criança e também para lhe apressar a educação. Mas, para continuar
este trabalho com mais liberdade, tive necessidade de
mudar o local dos nossos encontros; porque um pequeno gabinete,
que separa o quarto da sua aluna do da mãe, não lhe inspirava
suficiente segurança para a deixar manifestar-se à vontade.
Prometera a mim mesmo provocar "inocentemente" algum ruído
susceptível de lhe causar o receio bastante para a decidir a
escolher, de futuro, um asilo mais tranquilizador; ela poupou-me
o trabalho.
A pequena gosta de rir; e, para lhe agradar, decidi-me, nos
intervalos, a contar-lhe todas as aventuras escandalosas que me
passavam pela cabeça; para as tornar mais picantes e prender-lhe
a atenção, atribuí-as todas à Mamã dela, que me deliciei
desta forma a galardoar de vícios e de ridículos.
Não era sem motivo que tinha tomado esta decisão: de facto
não havia melhor maneira de encorajar a tímida aluna e de
lhe inspirar ao mesmo tempo o mais profundo desprezo pela
mãe. Já há muito tinha notado que, se este meio nem sempre é
necessário para seduzir uma rapariga, é indispensável, e muitas
vezes até o mais eficaz, quando a queremos depravar; porque
aquela que não respeita a mãe não se respeitará a si própria:
verdade moral que acho tão útil, que me foi bem fácil fornecer
um exemplo em apoio do preceito.
No entanto, a sua aluna, que não pensava na moral, sufocava
de riso a cada instante; e enfim, uma vez, ia quase rebentando
às gargalhadas. Não tive dificuldade em lhe fazer crer que
tinha sido "um barulho horrível". Fingi um grande medo que
ela facilmente compartilhou. Para que ela se lembrasse bem,
não permiti que o prazer nascesse de novo, e deixei-a três horas
mais cedo que de costume; combinámos também, ao despedir-nos,
que a partir do dia seguinte seria no meu quarto que nos
encontraríamos:
Já aqui a recebi duas vezes; e neste curto intervalo a aprendiza
tornou-se quase tão sabida como o mestre. Sim, na verdade,
ensinei-lhe tudo, até mesmo as complacências! Omiti apenas
as precauções.
Ocupado toda a noite, ganho desta forma o benefício de
dormir uma grande parte do dia; e como não há neste momento
no castelo companhia que me atraia, limito-me a aparecer no
salão durante uma hoca. Tomei mesmo, a partir de hoje, a decisão
de comer no meu quarto, e não tenciono deixá-lo a não ser
para pequenos passeios: Estas excentricidades são levadas à
conta do meu estado de saúde. Declarei que estava ligeiramente
indisposto; anunciei também um pouco de febre. Tenho apenas
de falar com uma voz lenta e apagada. Quanto à alteração do
meu rosto, confie na sua aluna. "O amor providenciará."1
CARTA CXI
Conde de Gercourt
Bastia, 10 de Outubro de 17
CARTA CXII
(Ditada)
CARTA CXIV
Paris, 16 de Outubro de 1 7* *
CARTA CXV
CARTA CXVI
CARTA CXVII
CARTA CXVIII
CARTA CXIX
CARTA CXX
CARTA CXXI
CARTA CXXII
CARTA CXXIII
CARTA CXXIV
que é o amor, que nos faz até ter saudades dos perigos a que nos
expõe; e que sobretudo tememos sentir ainda, quando já o não
inspiramos! Deixemos esta paixão funesta, que só permite a
escolha entre a vergonha e a desgraça, e que por vezes as reúne;
que pelo menos a prudência substitua a virtude.
Como quinta-feira ainda está longe! Que pena não poder
consumar imediatamente esse doloroso sacrifício e esquecer-lhe
em seguida a causa e o desejo! Esta visita importuna-me; arrependo-me
de ter acedido. Oh! Para que precisa ainda ver-me?
Que representamos agora um para o outro? Se me ofendeu,
perdoo-lhe. Felicito-o e louvo-o por querer emendar as suas faltas.
Farei mais, imitá-lo-ei; e visto que fui seduzida pelos mesmos
erros, o exemplo dele ajudar-me-á. Mas se projecta fugir de
mim, por que começa por me procurar? Não está cada um de
nós empenhado em esquecer o outro? Ah! Será esse de hoje em
diante o meu único cuidado.
Se o permitirdes, minha respeitável amiga, será junto de vós
que me irei ocupar desse difícil trabalho. Se necessito socorro e
até mesmo consolação, só de vós os quero receber. Só vós sabeis
ouvir-me e falar ao meu coração. A vossa preciosa amizade
preencherá toda a minha existência. Nada me parecerá difícil
para secundar os cuidados que me dispensardes. Dever-vos-ei a
tranquilidade, a felicidade, a virtude; e o fruto das vossas bondades
será o de me tornardes digna de tudo isto.
Julgo que me dispersei muito nesta carta; presumo-o pela
perturbação em que estive sempre enquanto vos escrevia. Se
nela se encontrar algum sentimento de que eu deva corar, cobri-lo
com a vossa indulgente amizade. Confio inteiramente
nela. De vós não esconderei nenhum movimento do meu coração.
QUARTA PARTE
CARTA CXXV
CARTA CXXVI
CARTA CXXVII
A MARQUESA DE MERTEUIL AO VISCONdE DE VALMONT
CARTA CXXVIII
A PRESIDENTE DE TOURVEL A MADAME DE ROSEMONDE
CARTA CXXIX
CARTA CXXX
CARTA CXXXI
Até que enfim, Visconde; desta vez estou mais contente consigo
do que da outra; e agora, falemos amigavelmente, espero
convencê-lo de que, tanto para si como para mim, o acordo que
parece desejar seria uma verdadeira loucura.
Nunca reparou que o prazer, que é com efeito o único fim
de reunião dos dois sexos, não basta no entanto para os unir? E
que, se é precedido do desejo que aproxima, é também seguido
do alheamento que afasta? uma lei da natureza, que só o amor
pode transformar; e o amor; é possível senti-lo quando se quer?
No entanto é sempre necessário; e seria na verdade embaraçoso,
se se não tivesse notado que felizmente bastava que existisse
dum lado. A dificuldade tornou-se de metade do tamanho, e
nem sequer há muito a perder; com efeito um goza a felicidade
de amar, o outro a de agradar, um pouco menos viva na verdade,
mas a que se junta o prazer de trair, o que provoca o equilíbrio;
enfim, tudo se arranja.
Mas, diga-me, Visconde, qual de nós dois se encarregará de
trair o outro? Conhece a história dos dois batoteiros, que se
reconheceram durante o jogo: nada conseguiremos, disseram
paguemos as despesas a meias; e abandonaram a partida. Sigamos,
creia-me, este exemplo prudente, e não percamos juntos
um tempo que podemos empregar tão bem algures.
Para lhe provar que penso tanto no seu interesse como no
meu, e que não procedo assim nem por irritação nem por capricho,
não lhe recuso o prémio combinado entre nós: de resto
bem vejo que uma única noite nos bastará; e tenho a certeza de
que saberemos tão bem embelezá-la, que a veremos findar com
pena. Mas não esqueçamos que essa mágoa é necessária à felicidade;
e por mais doce que seja a nossa ilusão, não vamos acreditar
que possa ser durável.
Como vê, resigno-me, e isto sem que o Visconde tenha ainda
cumprido a obrigação que tinha para comigo: porque enfim,
devia ter-me dado a primeira carta da celeste pudibunda; e no
entanto, ou porque ela representa algo para si, ou porque esqueceu
as condições do contrato, que talvez o interesse menos do
que me pretende fazer crer, não recebi nada, absolutamente
nada. No entanto, ou me engano muito, ou a terna devota deve
escrever bastante: pois em que se há-de ocupar quando está só?
Certamente que não tem ânimo para se distrair. Como vê, teria
se quisesse algumas censuras a fazer-lhe; mas deixo-as em silêncio,
para compensar um pouco da irritação que pus talvez na
minha última carta.
E agora, Visconde, só me resta fazer-lhe um pedido; e é tanto
por si como por mim: é o de adiar o momento que também
desejo muito, mas que me parece dever ser retardado até ao meu
regresso à cidade. Por um lado, aqui não teríamos a necessária
liberdade; e, por outro, eu correria um risco: porque bastaria
um pouco de ciúme para prender sem remédio este triste Belleroche,
que no entanto agora parece estar por um fio. Vejo bem
que ele já se esforça para continuar a amar-me; e eu ponho por
vezes tanta malícia como prudência nas carícias com que o sobrecarrego.
Ao mesmo tempo, bem vê que não seria um sacrifício
digno de si! Uma infidelidade recíproca dará um encanto
bem mais picante.
Sabe que às vezes lamento que estejamos reduzidos a estes
recursos? No tempo em que nos amávamos, porque creio que
era amor, eu era feliz; e o Visconde? Mas porque ocupar-me
ainda duma felicidade que não volta? Não, por mais que diga, o
regresso é impossível. Em primeiro lugar, exigirei sacrifícios que
não poderia ou não quereria fazer-me, e que eu talvez não mereça;
e depois, como prendê-lo? Oh, não, não, nem quero pensar
nisso; e apesar do prazer que acho em escrever-lhe, prefiro deixá-lo
bruscamente. Adeus, Visconde.
CARTA CXXXII
CARTA CXXXIii
CARTA CXXXIV
CARTA CXXXV
CARTA CXXXVI
Paris, 15 de Novembro de 17 *
CARTA CXXXVII
CARTA CXXXVIII
CARTA CXXXIX
A PRESIDENTE DE TOURVEL A MADAME DE ROSEMONDE
CARTA CXL
CARTA CXLI
CARTA CXLII
Paris, 27 de Novembro de 17
CARTA CXLIII
CARTA CXLIV
CARTA CXLV
CARTA CXLVI
CARTA CXLVII
CARTA CXLViii
CARTA CXLIX
Paris, 2 de Dezembro de 17 *
CARTA CL
CARTA CLII
Paris, 4 de Dezembro de 17
CARTA CLIII
Paris, 4 de Dezembro de 17
CARTA CLIV
Sei, minha senhora, que não gostais de mim; também não ignoro que fostes
sempre contrária à minha pessoa junto de Madame de Tourvel, e do mesmo
modo não tenho dúvidas de que, mais do que nunca, experimenteis os mesmos
sentimentos a meu respeito. Convenho até que possais julgar justos esses
sentimentos.
Entretanto, é a vós que me dirijo, e não receio pedir-vos que entregueis
a Madame de Tourvel a carta que junto aqui para ela, e ainda solicitar-vos que
consigais que a leia e a disponhais a isso dando-lhe a certeza do meu
arrependimento, do meu pesar e sobretudo do meu amor. Sinto que esta
diligência poderá parecer-vos estranha; a mim próprio ela admira. Mas
o desespero apodera-se dos meios
sem os calcular, e, por outro lado, um interesse tão grande, tão caro e
que nos é comum deve afastar qualquer outra consideração. Madame de Tourvel
está à morte; Madame de Tourvel é infeliz: é necessário restituir-lhe a vida, a
saúde e a felicidade. Eis o objectivo a cumprir. Todos os meios são bons, desde
que possam assegurar ou apressar o êxito. Se rejeitardes este que vos ofereço,
ficareis responsável pelo acontecimento da sua morte: o vosso pesar e o meu
desespero eterno, tudo será obra vossa. Sei que ultrajei indignamente uma
mulher digna de toda a minha adoração; sei que só as minhas torpes ofensas são
a causa de todos os males que ela suporta. Não pretendo diminuir as minhas
faltas nem desculpá-las. Mas vós, senhora, deveis temer tornar-vos cúmplice
impedindo-me de as reparar. Mergulhei o punhal no coração da vossa amiga, mas
só eu posso retirar o ferro da ferida, só eu conheço os meios de a curar. Que
importa que eu seja culpado, se posso ser útil? Salvai a vossa amiga, salvai-a!
É do vosso socorro que ela necessita, e não da vossa vingança.
CARTA CLV
Passei duas vezes por sua casa, meu caro Cavaleiro: mas
desde que abandonou o papel de apaixonado pelo de aventureiro
galante, é impossível encontrá-lo. Todavia o seu criado de
quarto assegurou-me que voltaria a casa esta tarde, e que tinha
ordem para o esperar; mas eu, que estou ao par dos seus projectos,
bem vi que o meu amigo não voltaria senão por um momento,
para vestir o trajo apropriado, e que imediatamente recomeçaria
as suas corridas vitoriosas. Ainda bem, e só devo
aplaudi-lo: mas talvez, para esta noite, seja tentado a mudar de
direcção. Ignora ainda o caminho que tomaram metade dos
assuntos que lhe dizem respeito; devo pô-lo ao corrente daquele
que desconhece, e depois decidirá. Dedique algum tempo a ler
esta carta. Não será afastá-lo dos seus prazeres, pois, pelo contrário,
ela tem como objectivo permitir-lhe a escolha.
Se fosse eu o depositário de todas as suas confidências, se
tivesse sabido por si a parte dos segredos que fui forçado a adivinhar,
a elucidação teria vindo a tempo; e o meu zelo, menos
hábil, não entravaria agora os seus movimentos. Mas partamos
do ponto em que estamos. Qualquer que seja a decisão que
tome, nunca deixará de fazer a felicidade de alguém.
Tem um encontro para esta noite, não é verdade? Com uma
mulher encantadora e a quem adora? Pois na sua idade, que
mulher não adoramos, pelo menos nos oito primeiros dias! O
cenário deve contribuir também para o prazer. Uma casinha
deliciosa, que existe só para si, deve aumentar a voluptuosidade
com os encantos da liberdade e do mistério. Está tudo combinado,
esperam-no e o meu amigo arde no desejo de chegar! Eis o
que ambos sabemos, se bem que nada me tenha dito. Agora, eis
o que não sabe, e de que devo informá-lo.
Desde o meu regresso a Paris que me ocupava com os meios
de o pôr em contacto com Mademoiselle de Volanges, tal como
lhe prometera; e ainda da última vez que lhe falei, tive ocasião
de julgar pelas suas respostas, direi até pelo seu entusiasmo, que
contribuía para a sua felicidade. Sozinho não conseguiria eu
resolver esta questão tão difícil, mas, depois de ter preparado os
:- meios, deixei o resto entregue ao zelo da sua jovem apaixonada.
Ela encontrou, no seu amor, recursos que faltavam à minha
experiência: enfim, para mal do meu amigo, ela conseguiu o que
desejava. Há dois dias, disse-me ela esta tarde, que todos os obstáculos
estão vencidos e que a vossa felicidade depende só de si.
Há dois dias que anseia por transmitir-vos ela própria a notícia,
e, apesar da ausência da mãe, não deixaria por isso de ser
recebido: mas nem sequer apareceu! E, para lhe não esconder
nada, ou por capricho ou a valer, a criaturinha pareceu-me um
tanto zangada por essa falta de ardor da sua parte. Encontrou
enfim um meio de me mandar chamar e obrigou-me a prometer
que lhe enviaria o mais cedo possível a carta que junto. Pelo zelo
que mostrou, iria apostar que se trata dum encontro para esta
noite. Seja o que for, prometi, pela honra e pela amizade, que
lhe faria chegar às mãos a terna missiva durante o dia, e não
posso nem quero faltar à minha palavra.
E agora, jovem, que tenciona fazer? Colocado entre a coqueteria
e o amor, entre o prazer e a felicidade, qual vai ser a
sua escolha? Se eu falasse ainda ao Danceny de há três meses, ou
mesmo de há oito dias, conhecedor do coração dele, sê-lo-ia
também das suas decisões; mas o Danceny de hoje, arrastado
pelas mulheres, entregando-se a aventuras, e tornado, como é
costume, um tanto nervoso, preferirá ele uma donzela tímida,
que só tem por si a beleza, a inocência e o amor, aos atractivos
duma mulher experiente?
Por mim, meu caro amigo, parece-me que, mesmo dentro
dos seus novos princípios, que confesso serem também um pouco
os meus, as circunstâncias far-me-iam decidir pela jovem
amante. Primeiro, será mais uma, e depois a novidade, e ainda o
temor de perder o fruto dos seus cuidados desprezando colhê-lo;
porque, enfim, por esse lado, seria de facto uma oportunidade
falhada, que nem sempre volta, sobretudo se se trata duma
primeira fraqueza: muitas vezes, neste caso, basta um momento
de zanga, uma suspeita de ciúme, menos ainda, para impedir o
mais belo triunfo. A virtude que se afoga agarra-se às vezes aos
ramos; mas uma vez salva, mantém uma certa reserva e não é já
fácil de surpreender.
E do outro lado, afinal que se arrisca? Nem sequer uma ruptura;
quando muito uma disputa, que, com alguns cuidados,
pagará o prazer duma reconciliação. Que mais resta a uma
mulher que se entregou, a não ser á indulgência? Que poderá
ganhar com a severidade? A perda dos prazeres, sem proveito
para a sua reputação.
Se, como suponho, seguir o caminho do amor, que me parece
ser também o da razão, creio que será prudente não se desculpar
pela falta do encontro; deixe simplesmente que o esperem:
se se arrisca a dar uma desculpa é muito possível que tentem
verificá-la. As mulheres são curiosas e obstinadas; tudo se pode
descobrir: acabo, como sabe, de ser vítima de um exemplo disso.
Mas se lhe deixar a esperança, como será alimentada pela
vaidade, só morrerá muito tempo depois do momento propício
para as informações: e então amanhã o meu amigo só terá de
escolher o obstáculo intransponível que o reteve; esteve doente,
morto até se for preciso, ou qualquer outra coisa com que estará
igualmente desesperado, e tudo se arranjará.
De resto, qualquer que seja a decisão que tome, peço-lhe só
que me informe; e como não tenho qualquer interesse, acharei
sempre que fez bem. Adeus, meu caro amigo.
Acrescento ainda que lastimo Madame de Tourvel; estou
desesperado por estar separado dela; daria metade da minha
vida pela felicidade de lhe consagrar a restante. Ah! Acredite-me,
só o amor nos pode fazer felizes.
CARTA CLVI
(Junta à precedente)
Por que é que acontece, meu caro amigo, que deixo de o ver,
quando não deixo de lhe querer? Não o deseja tanto como eu?
Ah! Agora é que estou triste! Mais triste do que quando estávamos
completamente separados. O desgosto que os outros me
faziam sofrer é agora de si que me vem, e isso custa-me muito
mais.
Desde há uns dias que a Mamã nunca está em casa, bem o
sabe; e esperava que procurasse aproveitar esse tempo de liberdade:
mas já nem sequer pensa em mim; sou muito infeliz! Tanta
vez me disse que era eu que amava menos! Eu bem sabia que
era o contrário, e eis a prova. Se tivesse vindo ver-me, ter-me-ia
visto de facto: porque eu não sou como o Cavaleiro; penso só
no que nos pode reunir. Merecia que eu nada lhe dissesse do que
fiz para isso, e que me deu tanto trabalho: mas amo-o demasiado
e tenho tanta vontade de o ver, que não posso fugir a dizer-lhe
tudo. E depois, verei se realmente me tem amor!
Trabalhei tão bem que convenci o porteiro, o qual me prometeu
que o deixará entrar como se o não visse todas as vezes
que venha: e podemos confiar nele, porque é muito boa pessoa.
Trata-se apenas de evitar que o vejam em casa; e isso será muito
fácil, se só vier à noite, quando já nada há a temer. Por exemplo,
desde que a Mamã sai todos os dias, deita-se todas as noites às
onze horas; assim teremos tempo de sobra.
O porteiro disse-me que quando quiser vir deste modo, em
vez de bater à porta, deve bater à janela dele e que ele abrirá
imediatamente; e, depois, achará a escada interior; e como não
pode usar luz, deixarei a porta do meu quarto entreaberta, o
que sempre o iluminará um pouco. Tomará cuidado em não
fazer barulho, principalmente ao passar pela porta da Mamã.
Quanto à da minha criada de quarto, não faz mal, porque me
prometeu que não acordaria; é também muito boa rapariga! E
para se ir embora, será o mesmo. Agora, veremos se vem.
Meu Deus, por que é que sinto o coração bater tão forte
enquanto lhe escrevo? É porque me vai acontecer alguma infelicidade,
ou é a esperança de o ver que assim me perturba? O que
sinto é que nunca o amei tanto, e nunca desejei tanto dizer-lho.
Venha, meu amigo, meu querido amigo; para que lhe possa repetir
cem vezes que o amo, que o adoro, que só o amarei a si.
Achei um meio de mandar dizer ao senhor de Valmont que
precisava falar-lhe; e ele, como é um bom amigo, virá com certeza
amanhã, e vou pedir-lhe que lhe mande logo a minha carta..
Esperá-lo-ei pois amanhã à noite, e virá sem falta se não quiser
que a sua Cecília seja muito infeliz.
Adeus, meu caro amigo; beijo-o com todo o amor.
CARTA CLVII
CARTA CLVIII
(Ao despertar)
CARTA CLIX
CARTA CLX
CARTA CLXII
CARTA CLXII
Minha senhora,
Bertrand
Paris, 7 de Dezembro de 17 * *.
CARTA CLXIV
CARTA CLXV
CARTA CLXVI
Minha senhora,
CARTA CLXVII
Senhor,
CARTA CLXVIII
CARTA CLXIX
Minha senhora,
CARTA CLXX
CARTA CLXXI
CARTA CLXXII
CARTA CLXXIII
CARTA CLXXIV
CARTA CLXXV