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Por seu turno, o “agente encoberto” identifica-se com a figura do “polić ia à paisana”: o
agente da autoridade ou terceiro particular (a atuar de forma concertada com a polić ia),
que, igualmente sem revelar a sua identidade ou qualidade, comparece em locais ligados
ao crime, com o objetivo de desvendar eventuais criminosos, naõ interferindo nas
condutas criminosas, nem sequer estabelecendo qualquer proximidade com os suspeitos.
A sua conduta é “de absoluta passividade relativamente à decisaõ criminosa”, pois
“naquele lugar e naquele momento poderia estar qualquer outra pessoa e as coisas
aconteceriam da mesma forma”13 14.
Em sentido diverso, Oneto (2005:138 e 140) nega a distinçaõ entre agente infiltrado e
encoberto, a naõ ser que este último se identifique com o “agente à paisana”, caso em
que admite a diferenciaçaõ na medida em que o agente encoberto corresponderia taõ só
a uma subespécie do agente infiltrado15. Contudo, conclui pela inexistência de
autonomia conceptual entre a figura do AI e AE, considerando este último “aquele que
pode ocultar a sua qualidade ou identidade no seu relacionamento com terceiros,
mantendo-os na ignorância para ganhar a sua confiança”
Por fim, o “agente provocador”19 afasta-se destes dois últimos “agentes” na medida em
que se caracteriza como aquele que conduz outrem ao cometimento de um crime –
provoca o crime, “instigando-o, induzindo-o” (Andrade, 1992:221). O provocador naõ
quer o crime em si mesmo (o dolo naõ é de consumaçaõ ), antes procura incriminar o
provocado, para que este seja penalizado
Os traços gerais do regime jurid́ ico das acções encobertas previsto na Lei n.o
101/2001, de 25 de Agosto;
Expostas as duas conceções, aderimos ao entendimento de Oneto, aquele que mais vai
ao encontro do espiŕ ito da lei. É que o legislador, no RJAE (Lei n.o 101/2001), subsume
o agente interveniente em operações “com ocultaçaõ da sua qualidade e identidade” à
denominaçaõ de “agente encoberto”18
Atualmente, as ações encobertas saõ objeto de um regime jurid́ ico próprio, estabelecido
ao abrigo da Lei n.o 101/2001
Aqui é dada, pela primeira vez, no n.o 2 do art.1o, uma noçaõ de “açaõ encoberta”, a
saber “aquelas que sejam desenvolvidas por funcionários de investigaçaõ criminal ou
por terceiro actuando sob o controlo da Polić ia Judiciária para prevençaõ ou repressaõ
dos crimes indicados neste diploma, com ocultação da sua qualidade e identidade”47.
Após tal crivo prévio, faz-se diferenciaçaõ consoante a açaõ encoberta se desenrole com
finalidades preventivas ou de repressaõ criminal: se a açaõ se destinar a operações de
prevençaõ criminal, mais exigentemente, a sua realizaçaõ dependerá de autorizaçaõ do
juiz de instruçaõ criminal, após proposta do MP (v. n.os 3 e 4 do art.3o,
respetivamente); caso esteja a decorrer o inquérito, o recurso a tal açaõ é feito mediante
O art.5o traz outra novidade: o regime de identidade fictić ia. Esta só pode ser concedida
a agentes da polícia criminal, uma vez que a norma é omissa em relaçaõ a eventuais
terceiros que intervenham nestas ações (n.o 1 do art.5o)52.
Por fim, encontra-se plasmado no art.6o o regime da isençaõ de responsabilidade penal
do AE53, ao qual nos iremos dedicar nos próximos capítulos da nossa exposiçaõ .
Buscas:
conhecida antes do trânsito em julgado da decisão final, seria possi ́vel interpor recurso
de revisão da sentença que se fundasse na valoração de prova nula (art. 449.o, n.o 1, al.
e), do CPP).
Apreensão:
6. Uma vez que a carta apreendida ainda se encontrava fechada, está em causa uma
apreensão de correspondê ncia.
Nos termos do art. 179.o, n.o 1, a apreensão de correspondência tem de ser ordena- da
ou autorizada por um Juiz, sob pena de nulidade. O enunciado não é claro sobre o
cumprimento do disposto nessa norma. Já é mais clara, porém, a violação do regime da
apreensão de correspondência quando se diz que a poli ́cia abriu e leu “imediatamente”
a carta apreendida: nos termos dos arts. 179.o, n.o 3, e 252.o, n.o 1, a correspondência
tem de ser lida, em primeiro lugar, pelo Juiz. Excepcionalmente, os Ó rgãos de Poli ́cia
Criminal podem ser os primeiros a proceder à leitura, mas mesmo ai ́ tem de haver
autorização pelo Juiz: art. 252.o, n.o 2.
Tendo sido infringido o disposto nestas normas, está em causa a violação de uma
proibição de prova, nos termos do artigo 126.o, n.o 3: “são [...] nulas, não podendo ser
utili- zadas, as provas obtidas mediante intromissão [...] na correspondência”. Deste
modo, a carta não deveria ter sido utilizada como meio de prova.
A confissão integral e sem reservas tem, entre outros efeitos, o de se dar imediata-
mente como provados os factos confessados, nos termos do art. 344.o, n.o 2, al. a). A
con- fissão feita por Alberico constituiria em teoria, portanto, meio de prova válido para
funda- mentar a condenação. Deve discutir-se, contudo, se a valoração dessa confissão
não estaria impedida pelo efeito-à-distância da proibição de prova. Ou seja, se a
proibição de utilização da carta apreendida não se estenderia à valoração da confissão.
Uma vez que, aparentemente, Alberico confessou os factos de livre vontade, este
poderia ser um caso de excepção à regra do efeito-à-distância, na medida em que o
arguido, com a sua conduta, parece vir “limpar a nó doa” introduzida no processo com a
violação da proibição de prova.
Seria valorada a referência ao Ac. do Tribunal Constitucional n.o 198/2004, de 24 de
março de 2004 (relator: Moura Ramos), que considerou que a invalidade da prova
primária nã o afetava uma poste- rior confissã o voluntária e esclarecida quanto à s suas
consequências, tratando-se de um ato independente praticado de livre vontade.
Há doutrina que considera, porém, que a confissão não pode ter esse efeito em ca- sos
como o presente, por não ter sido uma confissão esclarecida: o arguido apenas confes-
sou por ter sido confrontado com a carta apreendida em julgamento e em virtude de
ter acreditado que a mesma serviria de meio de prova “concludente” contra si. Assim, o
efeito- à-distância manter-se-ia e a confissão deveria ser desconsiderada. Deve discutir-
se se a base legal para este efeito pode ser encontrada no art. 122.o, n.o 1, do CPP ou,
eventualmente, apenas no art. 32.o, n.o 8, da CRP.
Dado que a sentença condenató ria já transitou em julgado, o arguido pode apenas
interpor recurso extraordinário de revisão, nos termos do art. 449.o, n.o 1, al. e).
Escutas telefónicas:
Lesa direitos fundamentais.
Dessa exigência nos damos conta nos Art.o 187.o e 188.o do CPP, relativos à
admissibilidade e à formalidade das operaç ões de escutas telefónicas, de onde se
destaca:
vii)a fixaçaõ de um prazo máximo para cada intercepçaõ telefónica (3 meses), sendo
que esse prazo pode ser renovado por igual período até ao limite do prazo do inquérito,
desde que se mantenham os requisitos de admissibilidade inicial7;
viii) a exigência de controlo efectivo e contiń uo das escutas por parte do juiz, que se
consubstancia na fiscalizaçaõ quinzenal das conversações telefónicas entretanto
interceptadas, sendo que as mesmas lhe saõ levadas por parte do M.P., que as recebeu
do OPC, efectuando o juiz o controlo da legalidade da execuçaõ da medida e da
necessidade de continuaçaõ da mesma.
D) O princípio da proporcionalidade
Com efeito, e como se disse, por exemplo, no Acórdão n.º 634/93 (referido também no
Acórdão n.º 187/2001), a ideia de proporção ou proibição do excesso - que, em Estado de
direito, vincula as acções de todos os poderes públicos - refere-se fundamentalmente à
necessidade de uma relação equilibrada entre meios e fins: as acções estaduais não devem,
para realizar os seus fins, empregar meios que se cifrem, pelo seu peso, em encargos
excessivos (e, portanto, não equilibrados) para as pessoas a quem se destinem. Dizer isto
é, no entanto, dizer pouco. Como se escreveu no Acórdão n.º 187/2001 (ainda em
desenvolvimento do Acórdão n.º 634/93):
Princípio da exigibilidade (essas medidas restritivas têm de ser exigidas para alcançar os
fins em vista, por o legislador não dispor de outros meios menos restritivos para alcançar
o mesmo desiderato);
A esta definição geral dos três subprincípios (em que se desdobra analiticamente o
princípio da proporcionalidade) devem por agora ser acrescentadas, apenas, três
precisões.
126/3
A voz-off é efectivamente conversa entre presentes, só que por ser realizada perto do
microfone de um aparelho de telecomunicações que está activado, vem a ser captada e
interceptada no âmbito da medida das escutas telefónicas, não tendo nada a ver com o
regime das escutas telefónicas mas sim com o das escutas ambientais.
Assim somos da opiniaõ que a voz-off, enquanto conversa entre presentes, naõ se rege
pelo regime das escutas telefónicas mas sim pelo regime das escutas ambientais28.
Esta extensaõ foi uma medida legislativa imperfeita29, porquanto mistura duas
realidades que naõ têm similitude entre si, uma coisa é a intercepçaõ de conversas
telefónicas outra coisa é a intercepçaõ de conversas entre presentes.
As conversas entre presentes por serem muitas vezes efectuadas em espaço fechado, no
domicílio, último reduto da intimidade da vida pessoal e familiar e porque muitas vezes
efectuadas debaixo de um clima de elevada intimidade entre os interlocutores,
propiciam a revelaçaõ de aspectos da vida das pessoas, como as suas tendências sexuais,
ideológicas, religiosas, questões sentimentais e de saúde, que põem em causa a núcleo
mais iń timo de cada um, pelo que, sendo expostas, por via da voz-off como uma vulgar
escuta telefónica, podem ser inconstitucionais por atentatórias da dignidade humana30.
Assim, pelo simples facto de no Art.o 189.o do CPP o legislador referir que o regime
das escutas telefónicas é correspondentemente aplicável à intercepçaõ das
comunicações entre presentes, naõ legitima a admissibilidade da interceptaçaõ e
gravaçaõ da voz-off no contexto das escutas telefónicas31.
Como tal entendemos que a intromissaõ nas conversações entre presentes, cara a cara,
mas apenas em espaço aberto, isto é, em espaços púbicos, encontra-se sujeita às regras
constantes do art.o 189.o, n.o 2 do CPP, aplicando-se-lhe a quase totalidade das regras
tiṕ icas do regime geral das escutas (quanto à admissibilidade e formalismos) naõ quanto
às conversas em voz-off que saõ apanhadas nas comunicações telefónicas, mas sim as
que saõ apanhadas por meio de microfones colocados exclusivamente para o efeito.
Depois, no mesmo artigo, pode ler-se: (...) Um juiz do Tribunal da Relaç ão de Lisboa
desvaloriza: “Se o juiz autoriza que um telefone seja escutado, qualquer conversa
captada por esse telefone é válida e legal. Não vejo onde está o problema.” Nem
Carlos Alexandre: “A gravaç ão da voz-off enquadra-se na autorizaç ão de intercepç ão
telefónica, mesmo porque o meio pelo qual a conversa é gravada mais não é do que o
telefone.” Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, não está de acordo:
“Conversas em off não são escutas telefónicas.” O bastonário recorda que conversas
telefónicas só se fazem de um aparelho para o outro. “O resto são conversas de café.”
naõ é o meio que convalida uma conversa de voz-off em conversa telefónica, a conversa
em voz-off é uma conversa ambiental e como tal naõ deveria ter sido validada, devendo
o Tribunal ter admitido os argumentos do arguido e determinado a nulidade da mesma.
A voz-off, porque escuta ambiental, interceptada via escuta telefónica acarreta uma
proibiçaõ de valoraçaõ , contudo face ao Art.o 248 do CPP, o OPC que tiver dela
conhecimento e caso na mesma sejam revelados factos que consubstanciem um crime
tem que informar o M.P., no mais curto prazo de tempo, para que aquele dê inicio a um
eventual procedimento criminal.
Assim, aquilo que naõ podia inicialmente ser valorado, vem no entanto a sê-lo por via
da notić ia do crime
Prova digital, conde correia.
CPP