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Dinastias de Portugal

PRIMEIRA DINASTIA DA CASA DE BORGONHA- Afonsina

D. AFONSO HENRIQUES - O CONQUISTADOR

1.º Monarca - Reinado:1139/1185

Damos habitualmente a este monarca a denominação de D. Afonso Henriques, por ser filho do Conde D.
Henrique. Antes de ser reconhecido como rei, em 1143, teve de lutar com sua mãe e com seu primo, D. Afonso
VII, de Leão e Castela. Dedicou-se com grande empenho ao alargamento do território, conquistando terras aos
mouros, que ocupavam parte da Península Ibérica, também por conquista, havia mais de quatrocentos anos. Esta
atividade mereceu-lhe o cognome de Conquistador.

Ocupou Lisboa (auxiliado pelos cruzados), Santarém, Sintra, Almada, Palmela, Alcácer do Sal, Évora e Beja.
Tal como os seus sucessores, aproveitou os serviços das ordens monástico-militares, para combater os sarracenos
e para desenvolver a riqueza do País, que se baseava na agricultura. As mais famosas foram a Ordem do Templo
(depois de Cristo), com sede em Tomar, a Ordem de Santiago, com sede em Palmela, a Ordem de Calatrava,
com sede em Avis, e a Ordem do Hospital (ou de Malta), com sede no Crato. Protegeu a fundação de diversos
mosteiros, a maior parte deles na região Entre-Os-Rios Minho e Mondego, sobretudo beneditinos e do ramo
cisterciense; seu pai dera preferência ao ramo cluniacense. No seu tempo construiu-se o importante Mosteiro de
Alcobaça, um dos mais célebres monumentos religiosos de Portugal, a sua igreja é a maior do País. Fez
casamento com uma princesa italiana, D. Mafalda de Saboia e Piemonte. Governou desde 1128 até 1185.

D. SANCHO I - O POVOADOR

2.º Monarca - Reinado:1185/1211

Continuou a atividade de seu pai, procurando alargar o território português. Conquistou também diversas
cidades, sendo a mais importante a de Sines, no Algarve. O seu principal objetivo, como governante, foi
aumentar a população, oferecendo vantagens aos cruzados que passavam pelos nossos portos, para aqui se
fixarem. Isso explica que seja conhecido com o cognome de O Povoador. Alguns escritores brincam com isso,
devido a ter bastantes filhos, tanto legítimos como ilegítimos, aumentando a população com os descendentes.
Três das suas filhas (D. Mafalda, D. Sancha e D. Teresa) distinguiram-se como freiras muito virtuosas, tendo
sido beatificadas, são consideradas santas. D. Teresa foi ainda durante algum tempo rainha de Leão.

No tempo de D. Sancho começaram grandes lutas políticas entre o rei e os principais fidalgos contra alguns
bispos portugueses, que se prolongaram durante quase cem anos; no fundo, estava em causa a cobrança dos
impostos, consequentemente a preponderância da influência política e económica, que nesse tempo estava muito
nas mãos do clero; os reis pretendiam subtrair-lha. Casou com a princesa D. Dulce de Aragão e Catalunha
(regiões da parte oriental da Espanha). Governou Portugal desde 1185 até 1211. Antes de ser rei seu pai tinha-o
já associado à administração do território.

D. AFONSO II - O GORDO

3.º Monarca - Reinado:1211/1223

A História de Portugal dá-lhe o nome de Gordo por ser, realmente, muito obeso. Continuou a política de seu pai
e seu avô, conquistar terras e aumentar a população.

Ocupou pela última vez diversas cidades que os mouros tinham reconquistado, sendo a mais famosa a de Alcácer
do Sal. À semelhança do que eles tinham feito, aproveitou-se do auxílio que os combatentes da Cruzadas do
Oriente lhe puderam prestar na guerra contra os mouros. Continuou a luta contra o alto clero, sobretudo os
bispos; e também teve lutas com os irmãos, sobretudo com as irmãs, não querendo entregar-lhes os bens que seu
pai lhes legara para sua manutenção, pretendendo juntar nas mãos do monarca todos os poderes e todas as
riquezas que fosse possível reunir. Por causa disso teve até guerra com o rei de Leão, seu cunhado. Começava já

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o período do absolutismo régio. Procurou fazer o inventário de todos os bens da coroa, as chamadas
"Inquirições", para retomar os que haviam sido abusivamente subtraídos e evitar a usurpação futura. Casou com
a princesa D. Urraca de Castela e governou o País de 1211 a 1223, portanto durante doze anos.

D. SANCHO II - O CAPELO

4.º Monarca - Reinado:1223/1245

Damos a este rei o epíteto de Capelo porque sua mãe, que era muito devota, durante uma doença, fez a promessa
de o vestir com o hábito de frade, parece que franciscano. Uma banalidade! Era ainda muito novo quando subiu
ao trono. Depois de D. Afonso Henriques, foi o rei que mais alargou as fronteiras de Portugal.
Ocupou Mértola, Alcoutim, Castro Marim, e outras terras, seguindo o rio Guadiana, que lhe dava proteção a
leste. Os bispos continuaram a luta que vinha dos reinados anteriores e fizeram graves acusações ao Papa
(acreditando-se que a maior parte delas eram injustas ou pelo menos muito exageradas). Inocêncio IV, em 1245,
tirou-lhe o governo de Portugal e entregou-o a seu irmão Afonso, que residia em Bolonha, na França de hoje. Na
mesma ocasião destituiu também o imperador da Alemanha, Frederico II. Isso ainda ocasionou lutas intestinas
durante três anos, pois D. Sancho II tinha alguns partidários fiéis. No entanto, saiu de Portugal e retirou-se para a
cidade de Toledo, capital de Castela, onde morreu. Diz uma lenda que o alcaide de Coimbra foi expressamente a
Toledo e fez desenterrar o rei, para se certificar de que tivesse morrido, e só no regresso entregou a cidade! D.
Sancho II casou com uma fidalga castelhana, já viúva, D. Mécia Lopes de Haro, que por causa da guerra também
saiu de Portugal, mas não acompanhou o marido, não sabemos bem o motivo. D. Sancho II foi rei desde 1223 a
1248. Como não teve filhos, o sucessor foi seu irmão Afonso. Foi o primeiro caso de sucessão régia anormal em
Portugal. Adiante encontraremos outros.

D. AFONSO III - O BOLONHÊS

5.º Monarca - Reinado:1245/1279

Recebeu esta denominação por ter sido Conde de Bolonha, na França atual, como marido da titular nobiliárquica,
D. Matilde de Bolonha e Dammartin. Custa a entender a posição do alto clero, pois a esposa do rei, D. Matilde,
não quis vir para Portugal e ele criou a situação anormal de "bigamia", fazendo contrato nupcial com a princesa
D. Beatriz de Castela, que ao tempo tinha menos de dez anos de idade e veio logo para Portugal (embora não
fizessem vida marital). E, por estranho que pareça, segundo o que se acredita, os bispos não lhe fizeram qualquer
oposição! Como curiosidade, diremos que seu sogro era muito mais novo do que ele, uns dez ou onze anos.
Continuou a política dos reis anteriores, que se resumiu em conquistar terras aos mouros (foi este rei que
terminou a ocupação do Alentejo e do Algarve), em desenvolver a riqueza agrícola de Portugal e em fazer as
pazes com os bispos, podendo dizer-se que as lutas com o clero quase acabaram no seu reinado. Procurou
ampliar a cultura intelectual, tendo criado condições favoráveis à atuação dos trovadores provençais, que ele
apreciava e protegia. A rainha D. Beatriz notabilizou-se pelas suas excecionais qualidades. D. Afonso III ocupou
o trono português, como rei, desde 1248 até 1279.

D. DINIS - O LAVRADOR

6.º Monarca - Reinado:1279/1325

Recebeu esta denominação, Lavrador, devido a ter prestado grande dedicação ao desenvolvimento da
agricultura. Realmente, o seu principal empenho foi aumentar a riqueza do País, que ao tempo se baseava nos
produtos do campo. Entre as suas medidas mais notáveis conta-se a sementeira do pinhal de Leiria, propriedade
real.
Começou a interessar-se também pelo desenvolvimento do comércio marítimo e aperfeiçoamento dos processos
de navegação. Contratou marinheiros italianos para virem trabalhar em Portugal e fez convénios comerciais com
outros monarcas. Também a instrução lhe mereceu grande cuidado. O interesse pela cultura foi intensificado já
no tempo de seu pai, que tinha contactado com meios mais avançados e procurou logo fazer com que em
Portugal houvesse gente instruída. Todavia, foi D. Dinis que, em 1290, com o apoio do Papa, criou a primeira
universidade portuguesa, a famosa Universidade de Coimbra. Começou a usar-se a língua portuguesa nos
documentos escritos. No seu tempo foi extinta a Ordem do Templo e criada a Ordem de Cristo. D. Dinis casou
com a princesa D. Isabel de Aragão, sendo ela ainda muito criança. Deixou nome pelas suas excecionais
virtudes, sobretudo pelo interesse que lhe mereceu a paz. Portugal conhece-a por Rainha Santa e também por
Rainha Santa Isabel. Sendo bom rei, D. Dinis era menos escrupuloso neste ponto, lançou-se em guerras por
motivos que parecem pouco justificativos, pois teve lutas com o irmão e com o filho; no entanto, deveriam ter
tanta culpa como ele. Ocupou o trono desde 1279 a 1325.

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D. AFONSO IV - O BRAVO

7.º Monarca - Reinado:1325/1357

A História deu-lhe este cognome, Bravo, por ter mostrado grande valor guerreiro na batalha que os exércitos de
diversos reis cristãos travaram contra as tropas sarracenas, nas margens do rio Salado, no sul da Espanha. Alguns
autores dão-lhe outro nome, chamam-lhe batalha de Tarifa. No princípio do reinado teve dura luta com um seu
irmão bastardo que pretendia ocupar o trono. O facto mais notável do seu reinado foi o da condenação à morte,
pelo rei, e a execução de D. Inês de Castro, não sendo propriamente atitude ou iniciativa judicial, foi mais uma
medida administrativa ou governativa. Sofreu a morte em atenção às chamadas razões de Estado, por motivos
que muito se parecem com os conluios políticos... Promoveu o progresso de Portugal, sobretudo no aspeto
comercial, melhorando a frota marítima e fazendo tratados de comércio com alguns reis estrangeiros,
nomeadamente os da Grã-Bretanha. Há quem afirme que os portugueses começaram neste tempo as viagens
marítimas de longo curso, tendo atingido o arquipélago das Canárias, mas isso não está suficientemente
documentado. Casou com a princesa D. Beatriz de Castela, que mostrou ser senhora de grandes qualidades,
como aconteceu com as outras duas rainhas que a antecederam. Governou Portugal desde 1325 a 1357.

D. PEDRO I - O JUSTICEIRO

8.º Monarca - Reinado:1357/1367

Este rei tornou-se particularmente conhecido devido ao que se passou com a fidalga com quem casou, D.
Constança de Castela, e com D. Inês de Castro com a qual jurou ter casado em segredo (e isso deve ter sido
fantasiado). Para contrair matrimónio com D. Constança, D. Pedro teve de enfrentar a má vontade de seu
sobrinho, o rei D. Pedro I de Castela, que a não queria deixar vir para Portugal. Ainda em vida de D. Constança,
que morreu cedo, prendeu-se de amores com aquela dama de honor; seu pai D. Afonso IV mandara matá-la por
razões de Estado, e tal facto ocasionou uma guerra civil. O episódio terminou com a troca de exilados, feitos
prisioneiros, entre os dois monarcas do mesmo nome e de feitio muito parecido, tio e sobrinho, e a execução
horrendamente bárbara de dois implicados na morte de D. Inês de Castro. Ainda se lhe aponta a tétrica cerimónia
do beija-mão ao cadáver, que muitos consideram lendária. Este caso levou o rei D. Pedro a mandar construir dois
belos monumentos mortuários, um para D. Inês e outro para ele; encontram-se na igreja do mosteiro de
Alcobaça, e são os mais perfeitos exemplares da arte tumular portuguesa. A vingança exercida contra os
prisioneiros e outros atos de castigo de criminosos fizeram com que lhe fosse dado o cognome de Justiceiro, que
alguns autores substituem por Cruel. D. Pedro sofria de perturbações psíquicas, tendo por vezes grandes insónias
e comportamento estranho. Costumava juntar-se aos plebeus, acompanhando-os nas suas danças e cantares,
confraternizando com eles nas ruas e praças lisboetas. Prosseguiu a obra dos seus antecessores, procurando
desenvolver a economia nacional, aumentando a riqueza do País. Foi rei desde 1357 a 1367, portanto durante dez
anos.

D. FERNANDO - O FORMOSO

9.º Monarca - Reinado:1367/1383

Interessou-se muito pelo fomento da riqueza nacional, prestando especial atenção aos problemas da agricultura e
da marinha, que protegeu com a instituição dos nossos primeiros organismos de seguro e previdência. Cometeu o
grave erro de se intrometer demasiadamente nos negócios políticos da Castela, que estava já unificada com Leão,
ambicionando tornar-se seu rei. Isso nos arrastou por três vezes para a guerra, que sempre nos foi desfavorável.
Nos diversos tratados de paz, foi considerado por várias vezes o problema do seu casamento, sempre frustrado.
Veio a ligar-se com uma senhora portuguesa, já casada, D. Leonor Teles, afirmando que se matrimoniaram em
segredo (e isso causou grande descontentamento no povo de Lisboa, com manifestações que o rei reprimiu com a
morte dos seus promotores). No seu tempo, Portugal assinou um tratado de amizade e cooperação com a Grã-
Bretanha, ainda hoje em vigor, que passa por ser o de maior durabilidade em todo o mundo, a aliança inglesa. A
sua reconhecida beleza física fez com que os historiadores o chamassem Formoso (havendo até alguns a
classificá-lo de Inconstante, e Luís de Camões chamou-lhe "brando, remisso e sem-cuidado"). Foi atacado por
uma doença que poderia ser a tuberculose e morreu sendo ainda muito novo. Governou Portugal de 1367 até
1385. Poucas semanas antes de morrer, sua filha D. Beatriz, ainda criança de uns doze anos, casara com o rei D.
João I de Castela, e isso arrastou o País para nova guerra, com a vitória de D. João, Mestre de Avis, que garantiu
a continuação da independência.

INTERREGNO - (1383-1385)

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Quando morreu D. Fernando, sua filha D. Beatriz, muito criança ainda, estava já casada em Castela. Por esse
motivo, assumiu o governo do reino sua viúva D. Leonor Teles. Esta senhora dava exagerada aceitação a um
fidalgo da Galiza, e isso desagradava muito aos habitantes de Lisboa. O Mestre de Avis, D. João, filho bastardo
de D. Pedro I, assassinou-o. Vendo-se em perigo, a rainha viúva saiu de Lisboa e foi para Castela. O povo
escolheu o Mestre de Avis, D. João, para administrar o reino e tratar da defesa contra as tropas castelhanas, que
em breve invadiram Portugal. O principal chefe guerreiro deste período foi D. Nuno Álvares Pereira, que obteve
diversas vitórias - Atoleiros, Aljubarrota e Valverde. Foi na batalha de Aljubarrota que Portugal consolidou a sua
independência, separado de Castela. Houve um jurista que muito se distinguiu pela ação desenvolvida, João das
Regras ou João das Leis, sendo ele quem preparou a aclamação do Mestre de Avis, que ascendeu ao trono e
ficou a ser o rei de Portugal. Para se decidir sobre tão importante problema, foram convocadas as Cortes de
Coimbra, sendo no final delas que D. João de Avis foi aclamado rei e pôde subir ao trono. (João das Regras
demonstrou que D. Beatriz era filha ilegítima, pois D. Fernando não poderia ter casado com D. Leonor Teles;
demonstrou ainda que os dois filhos de D. Inês de Castro, D. João e D. Dinis, também eram ilegítimos, porque
D. Pedro, apesar de o afirmar sob juramento, não casou com ela; sendo forçoso escolher um filho bastardo para
rei, o Mestre de Avis era o que mais convinha, o que melhores provas tinha dado, o que oferecia maiores
garantias. (Não deixa de ser estranho que o clero não tenha interferido decisivamente numa questão que tinha
muito de natureza religiosa).

PRIMEIRA DINASTIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

* Luta contra os leoneses e contra os mouros, tendo em vista a consolidação da independência e o alargamento
do território.

* Resistência dos bispos aos monarcas e consequente oposição, com o objetivo de alargarem a influência e o
poderio.

* Aproveitamento das congregações religiosas e das ordens militares para fortalecimento da posição política.

* Guerra entre reis e seus próximos parentes, algumas vezes filhos bastardos, por motivo da sucessão no
governo.

* Preocupação pelo desenvolvimento nacional, através do povoamento, agricultura, pesca e comércio.

* Começo das preocupações quanto à difusão da cultura, primeiro com as escolas conventuais, depois com a
Universidade.

SEGUNDA DINASTIA DA CASA DE AVIS - Joanina

D. JOÃO I - O DE BOA MEMÓRIA

10.º Monarca - Reinado:1385/1433

Consolidou a sua posição no trono e, consequentemente, firmou a autonomia nacional portuguesa com a guerra
que travou contra o rei de Castela, marido de D. Beatriz de Portugal, também chamado D. João I. Confirmou a
aliança de D. Fernando com o duque de Lencastre, da Inglaterra, que sustentava direitos sobre a coroa de
Castela, recebendo valioso auxílio na Guerra da Independência. Para comemorar a mais importante batalha e o
maior triunfo, mandou construir o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, vulgarmente designado por Mosteiro da
Batalha, onde hoje existe a cidade deste nome, perto de Aljubarrota, local da peleja. Ali está sepultado com boa
parte da sua família. Iniciou a expansão ultramarina nacional, com a conquista de Ceuta e com o descobrimento
da Madeira e dos Açores. Isso, de certo modo, dava continuidade à tradição portuguesa, prosseguindo a luta
contra os mouros no norte de África e dando maior expansão às atividades náuticas. Contraiu matrimónio com
D. Filipa de Lencastre, em resultado da aliança inglesa; outra irmã de D. Filipa veio a ser rainha de Castela. Esta
rainha-cônjuge de Portugal foi talvez, entre todas, a que mais se salientou - pelas suas grandes virtudes e pelas
invulgares qualidades dos seus numerosos filhos, "ínclita geração, altos infantes", D. Duarte, D. Pedro, D.
Henrique, D. Fernando, D. João e D. Isabel. Foi dada a D. João I a honrosa denominação de "Rei de Boa
Memória" pela sua administração modelar, por ser monarca muito prestigioso e individualidade dotada de
grande mérito. Era invulgarmente culto, chegou a escrever livros muito interessantes, tratando temas intelectuais
e atividades a que se dedicavam as famílias da nobreza, nomeadamente a caça e a equitação. Governou Portugal,
como rei, desde 1385 a 1433.

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D. DUARTE - O ELOQUENTE

11.º Monarca - Reinado:1433/1438

Teve um reinado muito curto, e cheio de contratempos que muito o fizeram sofrer. Continuaram as tentativas de
expansão portuguesa, por via marítima, tendo sido atingidos na costa ocidental da África o Cabo Bojador e a
Angra dos Ruivos. Tentou-se a conquista da cidade de Tânger, importante praça-forte de Marrocos, onde o
exército português foi vencido, tendo seu irmão D. Fernando ficado prisioneiro dos mouros na situação de
escravo; ficou sendo conhecido por Infante Santo. Tomou medidas de fortalecimento do poder real, dando
seguimento a iniciativas de seu pai. Estava então a começar a radicar-se com vigor o absolutismo régio. Portugal
foi atingido por algumas epidemias, que fizeram muitas vítimas, tendo falecido o próprio monarca. Era muito
culto, com os estudos feitos adquirira grande ilustração intelectual. Assim se explica que seja ainda hoje
conhecido por Eloquente, mas talvez fosse mais exato dar-lhe o título de Erudito Escreveu alguns livros de
feição filosófica, a que se atribui os títulos de "Leal Conselheiro", "Arte de Bem Cavalgar" e "Livro das
Misericórdias". Casou com a princesa D. Leonor de Aragão, que por sua morte ficou a governar o País, tendo
criado descontentamento entre a nobreza de Portugal, que evoluiu para tragédia a que faremos referência no
reinado de D. Afonso V, filho do casal. Todavia não pode atribuir-se a D. Leonor toda a culpa do facto, pois
outros a tiveram em maior grau. D. Duarte foi rei de 1433 a 1438, durante curtos cinco anos.

D. AFONSO V - O AFRICANO

12.º Monarca - Reinado:1438/1481

Era muito pequeno quando seu pai faleceu, pelo que ficou a governar sua mãe e depois seu tio D. Pedro. A
nobreza de Portugal entrou em luta; o rei, já então a governar, não soube ou não quis evitá-la, antes se intrometeu
estupidamente nela, chegando a lutar com as forças de D. Pedro, seu sogro, que sucumbiu ingloriamente no
combate de Alfarrobeira, em 1449. Só as intrigas da corte podem fazer admitir a vileza do procedimento de
alguns fidalgos. Ainda teve a presunção de se apoderar da coroa castelhana, pensando em casar com a filha do
monarca falecido, sua sobrinha; para tal entrou em guerra com os Reis Católicos, que terminou com o desaire
sofrido pelas suas tropas na batalha de Toro. D. Afonso V recebeu o epíteto de Africano por no seu tempo
haverem sido ocupadas diversas localidades em Marrocos, sendo as mais importantes Alcácer Ceguer, Arzila e
Tânger. Prosseguiu a expansão marítima, mas tal empresa ficou mal esclarecida, ao tempo havia enorme cuidado
em que os acontecimentos não fossem conhecidos; por isso os ignoramos ainda hoje. A exploração dos mares do
litoral atlântico africano era feita em dependência de contratos de comércio, e talvez isso explique que se não
tenham divulgado nomes nem realizações, que efetivamente existiram. Podemos afirmar que se atingiu o
arquipélago de Cabo Verde, a Guiné, São Tomé e Príncipe, o Rio do Ouro, a Costa do Marfim, a Costa da Mina,
a Serra Leoa. No seu reinado, por iniciativa do Regente D. Pedro, foi feita a compilação das leis antigas,
constituindo as Ordenações Afonsinas. Casou com sua prima D. Isabel de Lencastre, filha de D. Pedro, morto em
Alfarrobeira. Sua filha D. Joana notabilizou-se pelas suas virtudes e foi beatificada - é a Princesa Santa Joana de
Aveiro, também conhecida por Santa Joana de Portugal. O seu reinado começou em 1438 e terminou em 1481.

D. JOÃO II - O PRÍNCIPE PERFEITO

13.º Monarca - Reinado:1481/1495

No seu reinado realizaram-se as últimas grandes tentativas de exploração marítima, pois havia interesse em
chegar depressa à Índia, a grande fonte produtora das especiarias. Podemos referir três expedições de grande
importância, as duas viagens de Diogo Cão, que descobriu a costa de Angola e subiu o rio Zaire, e a de
Bartolomeu Dias, que dobrou o Cabo da Boa Esperança, Cabo das Tormentas ou Cabo das Tempestades. Para
obter informações sobre a Índia, mandou ali dois emissários muito competentes, Pero da Covilhã e Afonso de
Paiva; nunca mais regressaram, mas ainda forneceram indiretamente algumas notícias de interesse. Em
consequência dos descobrimentos marítimos, feitos especialmente pelos portugueses e espanhóis, foi assinado
em 1494, o Tratado de Tordesilhas, que dividiu entre os dois povos as terras já descobertas ou ainda a descobrir.
A nobreza do País continuava a habitual rebeldia, e o rei fez executar alguns dos seus membros, mesmo seus
próximos parentes, incluindo um seu cunhado, irmão da rainha, o Duque de Bragança, que foi decapitado.
Afirma-se que o próprio rei assassinou outro seu primo, o Duque de Viseu. Foi cognominado Príncipe Perfeito
por ter exercido bom governo e ter aumentado a prosperidade de Portugal; os historiadores de hoje não lhe
dariam já tal epíteto. Casou com D. Leonor de Lencastre, uma das suas primas, como ele neta de D. Duarte. Do
casal nasceu um filho, D. Afonso; morreu num desastre de equitação, em 1491; tinha dezasseis anos mas estava
já casado com D. Isabel de Castela e Aragão. Este facto motivou a terceira sucessão régia anormal, pois o rei
tinha um filho bastardo e não quis que fosse rei. D. João II reinou de 1481 a 1495, portanto catorze anos.

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D. MANUEL I - O VENTUROSO

14.º Monarca - Reinado:1495/1521

Este monarca era irmão da rainha D. Leonor e primo do rei D. João II. Antes de ser rei teve a dignidade de
Duque de Beja. Foi chamado Venturoso porque ascendeu ao trono sem se prever (pela morte de D. Afonso e por
D. João II não querer que seu filho bastardo fosse rei) e porque teve o reinado mais brilhante de toda a nossa
História. Vasco da Gama atingiu a Índia em 1498, comandando uma frota já preparada pelo seu antecessor.
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500. A armada dirigia-se à Índia, tendo atingido o Brasil por
desvio de rota programado. Não foi este o último descobrimento, mas dos posteriores já pouco se costuma falar.
A propósito, podemos recordar que descobrimos ainda as ilhas de Ascensão e Santa Helena, certas zonas da
costa dos Estados Unidos e do Canadá, e diversas ilhas da Oceania. Para comemorar o descobrimento do
caminho marítimo para a Índia, D. Manuel edificou o majestoso Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa; foi assim
chamado por ter sido entregue à Congregação de S. Jerónimo. Construiu-se igualmente a Torre de Belém, que
deveria ser uma fortaleza mas veio a ser uma das nossas mais interessantes construções arquitetónicas.
Vulgarizou-se uma forma de decoração que nós conhecemos um tanto ou quanto inexactamente por Estilo
Manuelino - pois não chega a ser um estilo definido. Com o ouro do primeiro tributo cobrado ao potentado de
Quíloa, na costa africana do Índico, foi construída a famosa Custódia de Belém, que passa por ser o mais perfeito
exemplar da joalharia portuguesa e se diz ter sido executada por Gil Vicente, certamente o que se distinguiu no
teatro.
Iniciámos a ocupação territorial na Índia, conquistando entre outras as cidades de Ormuz, Goa, Malaca, etc.
Notabilizaram-se aqui, na Índia, muitas individualidades portuguesas, sendo as principais Vasco da Gama,
Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque e João de Castro. Foi feita nova compilação de leis, atualizando a
anterior, tendo recebido a denominação de Ordenações Manuelinas. Neste período começou a empregar-se em
Portugal a nova e revolucionária invenção, a imprensa, utilizada sobretudo para a edição de livros devotos, em
boa parte com a proteção de sua irmã, a rainha-viúva, D. Leonor (por antonomásia chamada "Princesa
Perfeitíssima"). D. Leonor, viúva de D. João II, fundou a instituição chamada Irmandade de Nossa Senhora da
Misericórdia. A mesma senhora incentivou a arte de Gil Vicente, apoiando a sua criação teatral e as suas
qualidades histriónicas. E foi no tempo deste soberano que Garcia de Resende elaborou o seu famoso
Cancioneiro Geral. D. Manuel umas vezes protegeu e outras vezes perseguiu os mouros e judeus, sendo levado a
isso pelo seu relacionamento familiar com os Reis Católicos, devido aos seus sucessivos casamentos com
princesas espanholas. Casou realmente três vezes, sempre na situação de rei e com princesas castro-aragonesas: -
a primeira esposa era D. Isabel de Castela e Aragão, viúva de seu sobrinho D. Afonso, atrás referido; - a segunda
esposa foi D. Maria de Castela e Aragão, as duas filhas dos Reis Católicos; - a terceira era D. Leonor da Áustria,
filha de D. Filipe I e de D. Joana-a-Louca e irmã do imperador Carlos V e de D. Catarina, rainha de Portugal, a
seguir mencionada. Ocupou o trono português desde 1495 até 1521, portanto durante vinte e seis anos.

D. JOÃO III - O PIEDOSO

15.º Monarca - Reinado:1521/1557

No tempo deste monarca começou a decadência nacional; no reinado de D. Manuel, o prestígio de Portugal tinha
atingido o apogeu e agora, por razões diversas, entrava em declínio. O esforço feito, quanto a exigências de
pessoal, causou o amolecimento, a astenia; e a abundância de riquezas fáceis e rapidamente adquiridas provocou
o comodismo. Verificando-se que as praças marroquinas não ofereciam vantagens e exigiam sacrifícios,
começaram a ser abandonadas, e entre elas Safim e Azamor.

Fez-se o primeiro recenseamento da população portuguesa, com a finalidade de se saber com a possível exatidão
quantas pessoas tinha o nosso País. Estabeleceu-se um importante tratado com a Espanha, o de Saragoça, que
tratava da posse das ilhas Molucas, que Portugal também disputava. Fizeram-se os primeiros contactos
perduráveis com as terras do Extremo Oriente, as gentes chinesas e japonesas. Foi fundada a Companhia de
Jesus, grande baluarte católico que se opunha à difusão do protestantismo, tendo o seu primeiro convento sido
instalado em Lisboa, junto da atual igreja de S. Roque. Estabeleceu-se o Colégio das Artes, em Coimbra, como
instituto de preparação para o ingresso no ensino universitário. Introduziu-se a Inquisição em Portugal, pedido
que o Papa não queria atender. Efetuaram-se os primeiros autos de fé. Foi publicada a primeira lista de livros
proibidos e editaram-se obras muito importantes - Gramática, de João de Barros, Menina e Moça, de Bernardim
Ribeiro. D. João III, antes de ser rei, teve casamento tratado com a princesa espanhola D. Leonor, que veio a
casar com seu pai. Casou com uma sua irmã, D. Catarina de Castela e Aragão. É chamado Piedoso por ser
mesmo muito devoto. Foi rei de Portugal desde 1521 a 1557, ao longo de trinta e seis anos.

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D. SEBASTIÃO - O DESEJADO

15.º Monarca - Reinado:1557/1578

Encontramos aqui mais um caso de sucessão régia anormal, porque D. Sebastião era neto de D. João III e de D.
Catarina da Áustria. Seus pais foram o príncipe D. João e a princesa D. Joana, filha do imperador Carlos V.
Nasceu após o falecimento do seu progenitor e é uma das razões para ter o epíteto de Desejado. Apontaremos
outra razão no final destas anotações. Como tinha só uns três anos de idade quando herdou o trono, governaram
o País primeiro sua avó D. Catarina e depois seu tio-avô o Cardeal D. Henrique, o seu sucessor no trono. Foi
criada a Universidade de Évora, por iniciativa dos jesuítas e com o patrocínio de D. Henrique, que durante
bastante tempo foi arcebispo desta cidade. Fez-se a edição das obras de Gil Vicente, Garcia de Orta e Damião de
Góis, e de os Lusíadas, epopeia de Luís de Camões.

Ao arrepio do que seu avô D. João III tinha feito, pretendeu estabelecer um império cristão português em
Marrocos, tendo organizado um grande exército para invadir e ocupar esse território, integrando-se ele mesmo
nos quadros do comando. Por erros diversos, e porque a empresa era demasiado temerária, as tropas lusitanas
foram derrotadas em Alcácer Quibir; o rei desapareceu durante a batalha, nunca se encontrando o seu corpo e
nem se registou o seu nome entre os cativos. O portugueses esperaram o seu regresso, criando-se assim o
Sebastianismo, que sustentava a crença de que voltaria um dia, numa manhã de nevoeiro. É a segunda razão
para ter o cognome de Desejado. Pensou-se no casamento com diversas princesas e mais insistentemente com D.
Isabel Clara Eugénia, filha de D. Filipe II, rei de Espanha, mas nenhum destes projetos se realizou. Governou
Portugal durante dez anos, de 1568 a 1578, embora o seu reinado se estenda por vinte e um anos, com início em
1557.

CARDEAL D. HENRIQUE - O CASTO

17.º Monarca - Reinado:1578/1580

Encontramos aqui mais outro caso de sucessão régia anormal em Portugal, pois D. Henrique era tio-avô de D.
Sebastião. Espalhando-se a notícia do desastre da batalha de Alcácer Quibir, foi aclamado rei e começou a
governar. Ele tinha sido durante muito tempo regente do reino, durante a menoridade. O seu curto reinado
corresponde a um período de transição entre dois monarcas efetivos, em que ele foi "soberano interino". Para se
decidir quem poderia ser o seu sucessor, reuniram-se cortes em Almeirim, que nada resolveram. Alguns autores
atribuem a culpa a D. Henrique, que a não teve, porque estava já muito doente, por vezes até sem o pleno uso
dos sentidos, mesmo em estado de coma; veio a falecer dessa crise de saúde. Era ainda muito novo quando foi
nomeado arcebispo de Braga, de onde transitou para Évora e daqui para Lisboa, acumulando o cargo de regente
do reino; voltou a ser arcebispo de Évora, deixando o lugar vago para ser aclamado rei. Nessa altura tinha já sido
nomeado cardeal, contava sessenta e seis anos de idade e era muito doente. O curto reinado do cardeal-rei D.
Henrique não regista nenhum facto saliente. A grande preocupação nacional, tanto dos governantes como mesmo
de muitos particulares, era pagar o resgate dos prisioneiros de guerra. Foi chamado Casto por ser um destacado
eclesiástico e a isso comprometido voluntariamente. Governou o País menos de dois anos, de 1578 a 1580.

D. ANTÓNIO - PRIOR DO CRATO

18.º Monarca - Reinado:1580 - (INTERREGNO)

Pouco depois de morrer D. Henrique, o rei de Espanha, D. Filipe II, invadiu Portugal com um poderoso exército.
D. António, Prior do Crato, o preferido pela maior parte dos portugueses, foi aclamado rei mas começou por
sofrer logo grande derrota junto de Lisboa, na batalha de Alcântara. Chegou ainda a cunhar moeda em seu nome
e teve por si, durante algum tempo, as ilhas dos Açores. Era apoiado por alguns países europeus que combatiam
a Espanha. Desenvolveu atividade política e militar, do estrangeiro, pelo menos até 1589. D. Catarina de
Bragança era, pelas leis, quem tinha melhor direito e maior razão, mas não sustentou as suas pretensões com
grande energia, não eram muitos os que a defendiam, parece que por não simpatizarem com seu marido. D.
Filipe (I de Portugal e II de Espanha), logo que lhe foi possível, convocou cortes em Tomar, pelas quais foi
aclamado rei. Portugal continuava a ser um país separado da Espanha, portanto independente, e regido por um
Conselho de Governadores ou por um Vice-Rei. Com este título notabilizaram-se duas personagens muito
famosas, uma quase no começo - o Vice-Rei de Portugal, Cardeal-Arquiduque Alberto da Áustria, que veio a ser
genro de D. Filipe, e a Vice-Rainha de Portugal, D. Margarida de Áustria, no final do período, pois ocupava o
lugar quando se deu a Restauração, em 1640.

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SEGUNDA DINASTIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

* Período de expansão, continuando a luta contra os mouros, em Marrocos, e descobrindo novas terras, pelo mar.

* Aumento da importância da atividade comercial, atraindo a Lisboa mercadorias raras e caras, com lucros muito
volumosos. Aproveitamento agrícola das terras encontradas, desenvolvendo as culturas mais rendosas, sobretudo
a açucareira.

* Fixação de contingentes humanos, portugueses ou estrangeiros, nos novos locais de colonização.

* Interesse pela manutenção da pureza da fé cristã em Portugal e sua expansão pelo mundo, a partir dos lugares
ocupados.

* Crescimento das riquezas, sobretudo as fiduciárias, com o correspondente aumento do luxo e amolecimento de
costumes.

* Manifestação da mentalidade humanista, ao lado da intransigência religiosa católica contra as ideias


protestantes.

TERCEIRA DINASTIA DA CASA DE ÁUSTRIA - Filipina

D. FILIPE I (II DE ESPANHA) - O PRUDENTE

Reinado:1581/1598

O reinado de D. Filipe I pouco tem a registar, bastando dizer que o seu primeiro cuidado foi eliminar os focos
favoráveis a D. António, sendo o principal o das ilhas dos Açores. Foi chamado Prudente por ter exercido
política muito eficiente e cautelosa. Diz-se dele que ao mesmo tempo herdou e conquistou o trono de Portugal,
devido a ter mantido as suas posições com o vigoroso apoio dos soldados espanhóis. Temos de reconhecer, no
entanto, que também em Portugal teve bastantes partidários, praticamente todos aqueles que não seguiram D.
António. Os duques de Bragança, muito estranhamente, desinteressaram quase totalmente do problema
sucessório, pertencendo-lhes o mais lídimo direito, face às leis que regulavam a sucessão real. Procurou manter a
magnificência da corte portuguesa e até se interessou pela resolução favorável de muitos problemas
governamentais, tanto em Portugal como nas conquistas lusas da América do Sul, da África, da Ásia e da
Oceania. Criou em Lisboa uma escola profissionalizante. a que se deu a designação de Aula do Risco, que
começou a funcionar em 1594. Deu incentivo a alguns estudiosos da História de Portugal, tendo sido publicada
grande parte, quase a totalidade do repositório intitulado Monarquia Lusitana. Era filho de D. Carlos I de
Espanha (o imperador Carlos V) e de D. Isabel de Portugal. Casou quatro vezes, mas nenhuma das cônjuges foi
nossa rainha, faleceram todas antes de ele se firmar no trono português. Pela sua ordem foram estas as suas
esposas: - D. Maria de Portugal, filha de D. João III e de D. Catarina; - D. Maria Tudor, rainha da Inglaterra; - D.
Isabel de Valois, da França; - D. Ana Maria da Áustria, sua sobrinha, filha de Maximiliano II. Foi rei de Portugal
desde 1580 a 1598.

D. FILIPE II (III DE ESPANHA) - O PIO

Reinado:1598/1621

Era filho do rei anterior e de sua última esposa, D. Ana Maria da Áustria. Os três monarcas espanhóis também
reis de Portugal foram piorando cada vez mais o sistema de governação, para o que contribuíram as condições
gerais, francamente degradantes. Este soberano foi designado por Pio devida a ser muito devoto. Podemos
recordar que era decidido defensor da perseguição aos hereges, mouros e judeus. Alguns historiadores espanhóis
chamam-lhe Apático. Os dois cognomes completam-se e definem a sua personalidade. No seu tempo foi
publicada a terceira compilação de leis portuguesas, feita por iniciativa de D. Filipe I, que vigorou durante longo
período e foi conhecida por Ordenações Filipinas. Os inimigos da Espanha apoderaram-se de diversos pontos
que até então tinham estado nas mãos dos portugueses, na América do Sul, na África e no Oriente, tendo-se
perdido alguns e recuperado outros pela força das armas. Podemos recordar as perdas sofridas em Ceilão, na
China e no Japão. No entanto, os corajosos e audazes bandeirantes conseguiram empurrar para muito longe a
linha definida no Tratado de Tordesilhas, ocupando o Maranhão e aumentando enormemente a superfície
brasileira. No seu tempo regista-se a publicação de diversos trabalhos literários de grande importância, as obras
de Duarte Nunes de Leão, Francisco de Andrade, Fernão Mendes Pinto e outros. Visitou Portugal no final do seu
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reinado, em 1619, e quis assistir aqui a touradas e autos de fé. As nossas autoridades sabiam que os apreciava e
quiseram lisonjeá-lo! Mau gosto, tanto de um lado como do outro! Casou com D. Margarida da Áustria, também
conhecida por Margarida de Gratz ou Graetz, de quem nasceu o seu sucessor. Governou Portugal e a Espanha
desde 1598 até 1621.

D. FILIPE III (IV DE ESPANHA) - O GRANDE

Reinado:1621/1640

Em Portugal é vulgarmente chamado Grande, tendo havido já quem lhe desse o nome de Opressor. Os
historiadores espanhóis costumam designá-lo por Alegre. Um conhecido escritor da Espanha, André Manjón,
afirmou dele que "quando morreu andava a aprender a governar bem". No seu reinado continuámos a perder
diversas cidades, portos e praças de guerra, em diversos pontos do globo. Alguns lugares foram perdidos para
sempre, embora outros tenham sido recuperados pela força das armas, como aconteceu em Pernambuco, São
Salvador e outras localidades, no Brasil. Em 1637 houve tumultos no Alentejo, contra a política seguida pelo
governo de Madrid. Pouco depois, em 1 de dezembro de 1640, efetuou-se o movimento restaurador da
independência e Portugal passou a ter rei próprio, D. João IV, neto da candidata ao trono em 1580, D. Catarina
de Bragança. A revolta da Catalunha, que também lutava pela independência, favoreceu indiretamente a posição
portuguesa, pois aliviou a pressão exercida contra o nosso País. Em boa parte, a conjura do 1.º de Dezembro foi
feita também para que as nossas forças não fossem combater os
revoltosos catalães. Diversos países europeus andavam então em luta aberta contra a Espanha, a chamada Guerra
dos Trinta Anos, e também isso nos beneficiou em larga escala. D. Filipe III (IV da Espanha) casou com D.
Isabel de Bourbon, filha do rei da França. Depois de viúvo, não sendo já rei de Portugal, casou em segundas
núpcias com D. Maria Ana da Áustria, a mãe do seu sucessor, que já não foi nossa rainha. Foi rei de Portugal
desde 1621 a 1640. Foi rei da Espanha desde 1621 a 1665.

TERCEIRA DINASTIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

* Descontentamento provocado pelo novo sistema de governo e a saída de Lisboa para Madrid, do centro de
decisões. * Saudosismo do passado, francamente progressivo e atribuição das causas de decadência à realidade
de momento.

* Sonho esperançoso da recuperação da glória nacional pela restauração do antigo sistema administrativo. *
Revolta perante atitudes de exagerado autoritarismo em que todos as conveniências se encaminhavam para a
Espanha.

* Incentivo de insurreição e sublevação por motivo da subordinação das forças nacionais aos projetos ibéricos.

* Revigoramento da vitalidade portuguesa pela emulação dos numerosos adversários que a Espanha contava na
Europa.

* Reação contra a política de aniquilamento praticada pelos principais responsáveis da governação.

QUARTA DINASTIA DA CASA DE BRAGANÇA

D. JOÃO IV - O RESTAURADOR

22.º Monarca - Reinado:1640/1656

Subiu ao trono de Portugal em resultado da Revolução do dia 1.º de Dezembro de 1640. As condições que a
Espanha enfrentava, no cenário europeu, permitiram que a guerra não fosse muito violenta, pois no tempo deste
rei houve apenas uma batalha de certa importância, a que se travou na região de Montijo, em território espanhol,
sinal de que foram os portugueses os invasores. Foi-lhe dado o epíteto de Restaurador por ser ele o monarca que
deu realidade à recuperação da vida nacional. Embora todo o País quisesse a separação da Espanha, houve ainda
algumas manifestações de revolta, de que se destacou a do marquês de Vila Real e do duque de Caminha, seu
filho, que foram executados. Continuaram os ataques dos inimigos da Espanha a diversas cidades do Ultramar,
nomeadamente Angola e Brasil, obrigando-nos a fazer grande esforço para conservar umas e recuperar outras.
Houve-as que se perderam, como aconteceu a Malaca e como antes ocorrera com Ormuz e outras praças de
guerra. Podemos recordar que, em 1641, os holandeses ocuparam Luanda, Benguela e São Tomé, que
recuperámos meia dúzia de anos mais tarde, em 1648.
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D. João IV era neto de D. Catarina, Duquesa de Bragança, e filho de D. Teodósio, Duque de Bragança. Casou
em Espanha com D. Luísa Francisca de Gusmão, filha do Duque de Medina Sidónia. Esta senhora mostrou ser
muito corajosa, apoiando o marido e incentivando-o a que aceitasse a coroa. Diz-se desta senhora que em sua
opinião "valia mais ser rainha uma hora do que duquesa toda a vida" ou então que "era preferível morrer
reinando do que viver servindo". Uma das suas medidas mais famosas foi proclamar Nossa Senhora da
Conceição (Imaculada Conceição) padroeira de Portugal. D. João IV governou o País desde 1640 a 1656.

D. AFONSO VI - O VITORIOSO

23.º Monarca - Reinado:1656/1683

Foi rei de Portugal devido ao falecimento prematuro de seu irmão D. Teodósio, legítimo herdeiro do trono. Era
notoriamente diminuído, sofrendo de grave deficiência física e mental, verdadeiro mentecapto, por isso se admite
ser um "rei espúrio". Durante a menoridade governou como regente do reino sua mãe D. Luísa de Gusmão;
depois, exerceu o poder, com eficiência mas com exagerado autoritarismo, o primeiro-ministro e escrivão de
puridade, Conde de Castelo Melhor. Duas anotações salientes enchem o seu reinado. A primeira refere-se às
vitórias que o exército português obteve contra as tropas espanholas. Realmente, ganhámos as batalhas de Elvas,
Ameixial, Castelo Rodrigo e Montes Claros, o que consolidou a independência de Portugal. Isso explica que este
rei seja conhecido como Vitorioso. A Guerra da Restauração terminou com o tratado de paz assinado em 1668.
A segunda anotação relaciona-se com o seu casamento e o processo de nulidade subsequente. Os especialistas
em direito canónico sustentam que as condições do rei não lhe permitiam fazer casamento válido; a anulação
fundamentou-se em que nunca chegou a ser consumado. Levaram-no a fazer casamento político! A sua esposa
foi D. Maria Francisca Isabel de Saboia, da alta nobreza da França, filha do Duque de Nemours. Em face do
desencanto apresentado por D. Afonso, D. Maria Francisca prendeu-se logo aos atrativos do irmão, D. Pedro,
futuro rei. Um golpe de Estado afastou D.Afonso VI, que viveu ainda longos anos como prisioneiro em alguns
palácios, arredou do País o Conde de Castelo Melhor e entregou o poder a D. Pedro. Logo que foi declarada a
nulidade matrimonial, este fez imediatamente o seu casamento com D. Maria Francisca Isabel de Saboia. O
reinado de D. Afonso VI estende-se desde a data do falecimento de seu pai, em 1656, até ao ano da sua morte,
em 1683. No entanto, o governo pessoal não chegou a existir e o governo nominal vai até 1667.

D. PEDRO II - O PACÍFICO

24.º Monarca - Reinado:1683/1706

Foi-lhe dado o epíteto de Pacífico pelo simples facto de ser ele a assinar a paz com a Espanha. Poderia contestar-
se a validade do cognome, pois logo a seguir, e na aparência desnecessariamente, entrou noutro conflito, a
Guerra da Sucessão da Espanha. Fez ainda outro famoso convénio, este comercial, com a Grã-Bretanha, o
Tratado de Methwen. É apontado como grandemente favorável à divulgação do vinho do Porto e altamente
prejudicial à incipiente indústria nacional. Neste período foram encontradas as grandes reservas de ouro,
diamantes e esmeraldas, no Brasil, o que veio criar condições económicas favoráveis e enriquecer artisticamente
o País, com o que se chama Estilo Barroco, de que temos inúmeros espécimes em igrejas e palácios. Foi no
tempo de D. Pedro II que se reuniram pela última vez as cortes, à maneira antiga, que aliás não chegaram ao fim
dos seus trabalhos por o rei as dissolver, sob a acusação de que pretendiam deliberar em assuntos que não eram
da sua competência. A próxima reunião dos representantes do povo só veio a ocorrer já no período do
liberalismo. Diz-se que o absolutismo régio em Portugal veio de D. Pedro II, mas em verdade tinha começado
muito antes, pelo menos em D. João II. Depois do falecimento de D. Maria Francisca Isabel de Saboia, o rei
contraiu segundas núpcias com D. Maria Sofia Isabel de Neuburgo, filha do conde do Reno, o "Eleitor Palatino",
de quem nasceu o sucessor do trono. D. Pedro II governou Portugal desde 1667 e foi rei de 1683 a 1706, data da
sua morte. Em boa lógica o seu reinado deveria ter começado logo em 1656, quando faleceu seu pai, D. João IV,
evitando assim mais uma sucessão régia anormal e um processo de casamento um tanto escabroso.

D. JOÃO V - O MAGNÂNIMO

25.º Monarca - Reinado:1706/1750

Os reinados de D. Manuel I e de D. João V foram os mais brilhantes da História de Portugal. Tiveram para isso
motivos muito semelhantes. D. Manuel I dispôs das volumosas riquezas que o erário régio auferia do comércio
das especiarias, sobretudo com a Índia, e D. João V desfrutou os recursos provenientes da exploração aurífera,
no Brasil. O primeiro relacionou o seu nome com uma gloriosa manifestação artística, o Estilo Manuelino, e o
segundo criou condições para que se radicasse e desenvolvesse o que chamamos Estilo Barroco Joanino. Quanto
a realizações estéticas ou utilitárias, devemos salientar a construção do imponente Convento de Mafra e do

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Aqueduto das Águas Livres, este para abastecer de água potável a capital portuguesa. Poderíamos referir ainda a
construção da Torre dos Clérigos e respetiva igreja, no Porto, e do Palácio Real de Queluz. Interessou-se muito
pelo desenvolvimento da cultura, segundo os moldes do tempo. A organização mais célebre então formada foi a
Academia Real da História, que congregava pessoas de grande cultura e de alto nível social. A atividade editorial
nesse tempo desenvolvida demonstra que havia entre as camadas sociais de maior destaque verdadeiro interesse
pelos problemas intelectuais, segundo os moldes da época, como naquele tempo eram apreciados. Negociou o
fim da Guerra da Sucessão da Espanha, mas logo a seguir tomou parte numa campanha contra os turcos, a
pedido do Papa Clemente XI, tornando-se famosa a batalha naval de Matapan, em que participou a nossa
marinha. Descontando estas intervenções bélicas, o reinado de D. João V corresponde a um dos mais
prolongados períodos de paz de que Portugal gozou ao longo de toda a sua História. A reunião das cortes de que
se falou em D. Pedro II teve o objetivo principal de aceitarem este príncipe como sucessor régio; segundo a
jurisprudência da época, não sendo descendente direto (a linha sucessória havia sido interrompida em D. Afonso
VI) precisava de que as cortes o aceitassem como herdeiro do trono (encontramos situação idêntica em D. Dinis
e D. Carlos). O cognome pelo qual ficou sendo conhecido, Magnânimo, veio-lhe da sua obsessão pelas
grandezas e pelas honrarias. Era muito cioso das prerrogativas régias, pretendia ser tratado com tanta deferência
como qualquer outro monarca. Fez com que o prelado de Lisboa fosse sempre cardeal e o núncio apostólico em
Portugal elevado ao cardinalato antes de terminar as suas funções; não sendo uma vez atendido nisso pelo Papa,
chegou a cortar relações diplomáticas com a Santa Sé. Pensou ainda em que houvesse em Lisboa dois antístites
titulares, sendo um cardeal e o outro arcebispo. Conseguiu que a catedral de Lisboa fosse elevada à dignidade de
sé patriarcal e que os seus cónegos usassem insígnias semelhantes aos da corte papal. Obteve para Portugal o
privilégio de os sacerdotes rezarem três missas no Dia de Finados, que só mais de século e meio depois foi
estendido a toda a Cristandade. Para se poder equiparar aos monarcas espanhóis, que eram chamados Católicos e
ao da França, este denominado Cristianíssimo, requereu e obteve do Papa Bento XIV o título e tratamento de
Fidelíssimo. Casou com D. Maria Ana da Áustria, princesa da família imperial, prova de que Portugal era então
um reino altamente prestigiado; foi uma rainha de grandes qualidades. D. João V reinou durante o dilatado
período cronológico que vai de 1706 a 1750.

D. JOSÉ - O REFORMADOR

26.º Monarca - Reinado:1750/1777

O reinado de D. José confunde-se com o governo de Sebastião José de Carvalho e Melo. Damos-lhe o cognome
de Reformador por se dizer que no seu tempo foram introduzidas profundas alterações na forma de governar. Na
realidade, não foram tantas nem tão radicais como muitos julgam. A maior foi ter havido um primeiro-ministro
que parece substituir o rei, quando apenas houve uma quase perfeita sintonia e harmonia de mentalidades entre o
soberano e o governante efetivo.

Sebastião José (Marquês de Pombal) teve no início da sua carreira o apoio da esposa de D. João V, que
simpatizou com sua mulher, por também ser como ela de nacionalidade germano-austríaca. Logo nos primeiros
anos do reinado ocorreu o terramoto de Lisboa (1-11-1755), que deu ao ministro o domínio da máquina
governativa. Tomou acertadas medidas de proteção aos sinistrados e de inteligente reconstrução da capital.
Houve alguns anos depois uma tentativa de regicídio, aproveitando o pretexto para abater a nobreza, tratando
barbaramente os acusados (por certo menos culpados do que o que deles se disse), e combater injustamente os
jesuítas (segundo o que outros países europeus quiseram que se fizesse). Os nobres implicados (Távoras) foram
executados com requintes selvagens. Os jesuítas foram expulsos tanto de Portugal como das missões
ultramarinas. A Universidade de Évora, mantida pela Companhia de Jesus, foi encerrada, assim como todas as
outras escolas sustentadas pelos inacianos. Um deles, o missionário italo-brasilíco P. Gabriel Malagrida, foi
morto como herege num repugnante e condenável auto de fé.

Fundou a Aula do Risco, para o estudo da engenharia. Para melhor preparação da aristocracia nacional, para a
educação dos filhos da fidalguia, criou em Lisboa o Real Colégio dos Nobres. Reformou o esquema pedagógico
da Universidade de Coimbra, em moldes que se reconheceu serem pouco sensatos. Instituiu em Lisboa a Junta
do Comércio. Para favorecer a produção e a comercialização do vinho do Porto, organizou a Companhia-Geral
da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro. Criou a Capitania-Geral de Moçambique. Estabeleceu o Tribunal da
Relação do Rio de Janeiro. Promoveu-se a colonização de Angola com emigrantes europeus.
Organizaram-se grandes empresas comerciais brasileiras, a Companhia do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia
de Pernambuco e Paraíba, mas não deram os frutos que delas se esperavam. Houve ainda outras, noutros lugares.
Os índios do Brasil foram declarados livres, sendo proibida a sua redução à escravidão. Tomaram-se medidas
tendentes a dificultar o tráfico esclavagista e até a transferência de escravos, pois adquiriam a liberdade os que
entrassem no território de Portugal. Também se decretou a extinção da distinção entre cristãos-velhos e cristãos-
novos (descendentes dos judeus). Sob o aspeto bélico, podemos salientar que a rejeição do Pacto de Família,
aliança dos Bourbons contra a Inglaterra (a nossa rainha D. Mariana Vitória era irmã do rei de Espanha), nos
arrastou para a guerra, sendo o País invadido pelas tropas franco-espanholas, a "Guerra Fantástica". Localiza-se
aqui a famosa anedota de Pombal, quando disse ao embaixador da Espanha que "para tirar um morto de sua casa
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são precisos quatro homens vivos". Foi fundida com técnica de engenheiros nacionais (em peça única e num só
jato), e solenemente inaugurada no Terreiro do Paço, em Lisboa, a estátua equestre de D. José. Afirma-se ser a
mais perfeita estátua de bronze de Portugal e uma das melhores do mundo. D. José casou com a já referida D.
Mariana Vitória, filha de D. Filipe V e irmã de D. Fernando VI e D. Carlos III, reis da Espanha. Governou
Portugal desde 1750 até 1777.

D. MARIA I - A PIEDOSA

27.º Monarca - Reinado:1777/1816

Se não considerarmos os diversos casos de regência do reino, assim como o governo de D. Teresa, a rainha D.
Maria I foi a primeira senhora a governar Portugal.
Aconteceu isso porque D. José teve quatro filhas e nenhum filho varão. Regista-se aqui um caso raro ocorrido
em duplicado. D. Maria I casou com seu tio D. Pedro III e sua irmã D. Maria Benedita consorciou-se com o
sobrinho D. José (que não sucedeu a esta rainha por motivo de falecimento prematuro). Logo que subiu ao trono,
procurou emendar erros que vinham do reinado anterior, dando liberdade a muitos presos, grande parte jesuítas,
injustamente encarcerados (o mais notável dos detidos deverá ser o bispo de Coimbra, D. Miguel da Anunciação,
encarcerado durante mais de oito anos e que D. José ainda mandou soltar na véspera da sua morte). Foi o que se
chamou "Viradeira". Neste reinado foi fundada a prestigiosa Academia Real de Ciências de Lisboa, que
congregava os maiores intelectuais portugueses. Ao seu lado, podemos colocar a Academia Real da Marinha,
entidade destinada a promover a preparação e a dar apoio aos que pretendiam seguir a carreira naval. Instituiu-se
também a Casa Pia, para dar abrigo e promover a educação das crianças desvalidas ou abandonadas, ao tempo
muito numerosas (recordemos que era frequente, mesmo habitual, encontrar "enjeitados"). Instituiu-se a
Biblioteca Pública de Lisboa, organismo que se transformou com o tempo e a evolução da sociedade no que hoje
designamos por Biblioteca Nacional. Um grupo de capitalistas, com apoio oficial, lançou-se à construção de
Teatro de São Carlos, em Lisboa, e outros tomaram a iniciativa de edificar o Teatro de São João, no Porto.
Tiveram estes nomes para homenagear os futuros monarcas, D. Carlota Joaquina e D. João VI. D. Maria I viveu
num tempo calamitoso, de grandes transformações, profundas e inesperadas. Acompanhou o desenrolar da
Revolução Francesa e as modificações que ela motivou. Também sofreu desgostos familiares, a morte do marido
e logo a seguir a do filho primogénito. Sendo muito impressionável, talvez isso a tenha influenciado, tendo
perdido o uso da razão (realidade que a acompanhou nos últimos vinte e cinco anos de vida; este transtorno
psíquico manifestou-se sobretudo depois da morte do seu primogénito, D. José). Por tal motivo, o governo de
Portugal passou a ser desempenhado pelo outro filho e sucessor, com a designação de "Príncipe-Regente".
Encontramos por vezes escritores que menosprezam as qualidades de D. Maria I, firmando-se na demência de
que veio a sofrer. Estudos mais serenos levam a pensar que era muito inteligente e sensata, fisicamente até
bastante bonita. Temos de aceitar a loucura, mas não a idiotia - coisas bem diferentes! A História chama-lhe
Piedosa por ter sido realmente muito devota (talvez até mais do que o conveniente, não sendo dela toda a culpa,
integrava-se na mentalidade da época). Deu prova de religiosidade fazendo construir a Basílica da Estrela,
dedicada ao Coração de Jesus, devoção no tempo em expansão. A última fase do seu reinado acumulou
acontecimentos bélicos e políticos muito lastimáveis. Exatamente no período em que se manifestou mais
acentuadamente a doença da rainha, ocorreu na região de Minas Gerais, no Brasil, o movimento conhecido na
História por "Inconfidência Mineira" (que tinha em vista a proclamação da independência do país ou pelo menos
a da região aurífera). Como consequência disso, um dos implicados, José Joaquim da Silva Xavier, por alcunha o
"Tiradentes", foi executado e os demais condenados a pena de degredo nas possessões africanas, Angola e
Moçambique. (Afirmam alguns estudiosos que havia a intenção de que todos fossem degredados e que só a
pouca habilidade {e teimosia} do Tiradentes o levou ao cadafalso). Enfrentámos a "Campanha do Roussilhão",
logo seguida pela "Guerra das Laranjas", e pouco depois pela "Guerra Peninsular", que costumamos designar por
Invasões Francesas. A corte decidiu deslocar-se para o Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro (e isso prende-se de
perto com a futura e bastante próxima proclamação da independência brasileira). A primeira invasão francesa foi
comandado por Junot; ocupou Lisboa em Novembrode 1807, e ficou a governar Portugal em nome de Napoleão
Bonaparte, imperador dos franceses. A segunda invasão atingiu o Porto, em 29 de março de 1809, e ocorreu
então o grande "desastre da ponte das barcas" (a passagem do Douro fazia-se por um passadiço de madeira sobre
barcaças, que quebrou; e a multidão, empurrando-se para fugir aos franceses, atirou ao rio milhares de pessoas).
A terceira invasão entrou pela Guarda, dirigindo-se a Lisboa por Coimbra; travou-se a "batalha do Buçaco", em
fins de setembro de 1810, derrotando os franceses, que prosseguiram até Torres Vedras, mas não atingiram a
capital. Como a corte estava no Brasil, o governo de Portugal foi confiado a um Conselho de Regência (em que
os oficiais ingleses tinham a supremacia, e isso causou enorme descontentamento, que se traduziu em diversas
atitudes e provocou várias reações, em regra contrárias à influência exercida pelos militares britânicos). D. Maria
I governou o País desde 1777 a 1792; de 1792 a 1816, data da sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro, governou
seu filho D. João.

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D. JOÃO VI - O CLEMENTE

28.º Monarca - Reinado:1816/1826

Iniciaremos estes apontamentos dizendo que o epíteto dado a este rei teve como motivo a facto de ele,
habitualmente, comutar a pena de morte a todos os condenados que a solicitaram. Há estudiosos que afirmam
nunca ter negado a concessão desta graça. No entanto, pode registar-se que em Lisboa houve em 1817 uma
conspiração que terminou pela discutível execução do general Gomes Freire de Andrade e de mais alguns
revoltosos (os historiadores ainda hoje dão informações divergentes sobre este acontecimento). O reinado de D.
João VI não ficou marcado por realizações materiais de grande vulto. A ocorrência mais destacada talvez seja o
seu retorno a
Lisboa, depois de quase uma dúzia de anos de permanência no Brasil. Isso permitiu que a administração
portuguesa voltasse a uma certa normalidade. Em 1820, eclodiu uma revolta popular no Porto que teve como
consequência quase imediata a instauração do sistema liberal e pouco depois do regime constitucional, a partir de
1822.
Ainda no seu tempo, o seu filho primogénito D. Pedro proclamou a independência brasileira, de que ficou a ser o
chefe com o pomposo título de "imperador" (veio a ser reconhecida por Portugal em 1825, ainda durante a vida
de D. João VI, que reservou para si a dignidade imperial - atitude simbólica, sem efeitos práticos nem
determinantes políticos destacados). Já dissemos que contraiu matrimónio com D. Carlota Joaquina, filha de D.
Carlos IV e irmã de D. Fernando VII, de Espanha (esta rainha prendia-se muito à atividade política e a sua ação
teve repercussões bastante importantes). Tendo começado a governar em 1792, como regente do reino, em 1799
passou a fazê-lo em seu nome, como "príncipe-regente"; de 1816 a 1826, ocupou o trono como rei de Portugal.

D. PEDRO IV - O REI SOLDADO

29.º Monarca - Reinado:1826/1828

Quando faleceu o rei D. João VI, em março de 1826, este príncipe ocupava o trono do Brasil (pelo que não podia
ser rei de Portugal, impediam-no tanto as leis portuguesas como as brasileiras, mas encontrou solução para o
dilema, abdicando em sua filha D. Maria da Glória; considerou que era portuguesa por ter nascido antes da
independência brasileira, sendo por tal motivo que não pôde abdicar no filho varão D. Pedro). Determinou que
seu irmão mais novo D. Miguel ficasse a governar na qualidade de regente do reino (casaria no momento
oportuno com a pequena rainha, sua sobrinha, então com sete anos de idade). Logo a seguir encarregou uma
comissão de juristas, orientada por um inglês, de elaborar uma "Carta Constitucional" destinada a Portugal,
tendo executado a tarefa em curtas semanas. (Saliente-se que, apesar da sua origem espúria, se considera a mais
perfeita constituição portuguesa, a que mais tempo vigorou, mais de oitenta anos). Portugal ficou a ser
governado durante algum tempo por sua irmã, D. Isabel Maria, que na devida ocasião entregou o governo ao
príncipe D. Miguel. Em abril de 1831, tomou a decisão de abdicar o trono brasileiro em seu filho D. Pedro, e
veio à Europa combater D. Miguel, já então alçado como rei de Portugal. Preparou um exército na Inglaterra,
concentrou-o nos Açores, desembarcou ao norte do Porto e deu início a uma guerra civil que durou de julho de
1832 a maio de 1834, terminando com a derrota de D. Miguel. A mais importante decisão de D. Pedro, logo que
findou a guerra, foi a injusta expulsão das ordens religiosas, em boa parte favoráveis a D. Miguel. Pouco tempo
de vida teve, pois veio a falecer, vitimado pela tuberculose, nos fins de setembro desse mesmo ano, no Palácio
Real de Queluz. (Podemos dizer que foi um rei especulativo, pois não chegou a governar, embora a sua
influência no País tenha sido grande).

D. MIGUEL I - O REI ABSOLUTO

30º Monarca - Reinado:1828/1834

Ainda em vida de seu pai, D. João VI, e segundo parece por instigação de sua mãe, D. Carlota Joaquina, tinha já
tomado atitudes antiliberais, nos movimentos conhecidos pelos nomes de Vilafrancada (Vila Franca de Xira) e
Abrilada (abril de 1824). Tomou conta do governo de Portugal, como regente do reino, por indicação de D.
Pedro. Reuniu as cortes, segundo os antigos moldes, e foi aclamado rei. O seu governo caracterizou-se por
ferozes medidas de perseguição aos liberais, tendo cometido muitos desmandos, que de certo modo lhe tiraram a
legitimidade governativa. Sustentou a guerra civil durante quase dois anos, sofrendo algumas derrotas militares,
pelo que se viu obrigado a assinar a Convenção de Évora-Monte e a sair de Portugal, tendo passado o resto da
sua vida no exílio, o longo período de trinta e dois anos (alguns estudiosos sustentam que, em face das leis,
pertencia-lhe o trono, todavia, a experiência de governo que teve ocasião de manifestar tirou-lhe toda a
legitimidade). D. Miguel governou Portugal de 1827 a 1834. Casou com D. Adelaide de Lowenstein Rosemberg,
estando já no exílio, pelo que esta senhora nunca foi rainha de Portugal.

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D. MARIA II - A EDUCADORA

31.º Monarca - Reinado:1834/1853

Nasceu no Rio de Janeiro em abril de 1819, sendo filha da imperatriz do Brasil, D. Maria Leopoldina da Áustria,
primeira esposa de D. Pedro; a segunda foi D. Amélia de Beauarnais. Já vimos em que condições ascendeu ao
trono de Portugal, tendo sido a nossa segunda soberana reinante. Todo o seu governo foi muito agitado por
convulsões políticas, guerras e revoluções. A Carta Constitucional foi substituída durante curto prazo por outra
constituição. (Os partidos políticos, em regra três, combatiam-se ferozmente; apesar de muitos dos seus
responsáveis serem pessoas respeitáveis, a atuação partidária denotava um primitivismo detestável). Os
principais movimentos revolucionários foram a Revolução de setembro de 1836 (que aboliu a Carta
Constitucional), a Belenzada (a contrariar a anterior), a Revolta dos Marechais (Saldanha e Terceira, em favor da
Carta), a Revolta de Costa Cabral (restaurando-a) e finalmente a Regeneração (revolta do marechal Saldanha),
em 1851, que pôs fim a tão triste série. As incidências bélicas mais salientes foram a Revolução Popular da
Maria da Fonte (por terem sido proibidos os enterramentos nas igrejas) e a Revolta da Patuleia (devido a uma
mudança de governantes) que na prática estão em estreita sequência, em 1846 e 1847, tendo terminado pela
intervenção estrangeira com a Convenção de Gramido. D. Maria II tornou o ensino primário obrigatório e
gratuito, criou os liceus distritais, fundou a Escola Médico-Cirúrgica e a Escola Politécnica (uma de cada
designação em Lisboa e no Porto) e ainda o Conservatório Nacional de Música, Dança e Teatro, em Lisboa.
Construiu-se na capital a importante casa de espetáculos conhecida pelo seu nome, o Teatro Nacional de D.
Maria II. Foi-lhe atribuído muito justamente o cognome de "Educadora", pois o mereceu por dois motivos
diferentes, por todos reconhecidos: - pelo grande cuidado posto na educação moral e instrução intelectual dos
seus filhos; - pelo interesse que dedicou ao projeto da elevação do nível cultural do seu povo, com particular
incidência sobre a infância e juventude. O nome desta senhora leva-nos a salientar pormenores curiosos da sua
vida. Foi elevada ao trono com sete anos e com essa idade perdeu sua mãe. Com quinze anos iniciou o seu
governo, no final da guerra. Contraiu o seu primeiro consórcio com D. Augusto de Leuchtemberg (irmão da sua
madrasta, e dele ficou viúva antes de fazer dezasseis anos, exatamente no dia em que se completavam dois meses
de vida matrimonial). Poucos dias depois de completar dezassete anos, consorciou-se com o rei D. Fernando II
(D. Fernando Saxe-Coburgo-Gotha), e dele teve numerosos filhos, em outros dezassete anos de casada. Faleceu
com trinta e quatro anos de vida. Veio ao mundo em 1819 e expirouem 1853. Pode, pois, dizer-se que teve vinte
e sete anos de reinado (1826-1853) mas apenas dezanove anos de governo (1834-1853).

D. PEDRO V - O ESPERANÇOSO

32.º Monarca - Reinado:1853/1861

Foi o soberano português que congregou em torno do seu nome maiores simpatias, sendo por todos reconhecidas
as suas inegáveis qualidades e invulgares virtudes.
Teve um reinado de curta duração, de certo modo semelhante ao de D. Duarte. Alimentava na população
portuguesa muitas expectativas de que ele viesse a ser um monarca excecional, pelo que foi ainda em vida
chamado Esperançoso. No seu tempo inaugurou-se o primeiro troço de caminho de ferro, de Lisboa à estação de
Carregado (na distância de trinta e seis quilómetros, preparando a ligação com o Porto e mais tarde com outras
cidades de Portugal e da Espanha). Também foi no seu reinado que se estabeleceu a primeira carreira regular de
vapores entre os portos de Portugal e os de Angola, preponderantemente entre Lisboa e Luanda. Estando muito
interessado, desde havia vários anos, na campanha de repressão ao tráfico esclavagista, Portugal sofreu grande
afronta do governo francês, que devia apoiá-la. (Tendo sido apanhado pelas nossas autoridades de Moçambique
o barco negreiro "Charles et George", pertencente a uma empresa da França, foi aprisionado, segundo estava
decidido. O governo deste país colocou-se abertamente ao lado dos esclavagistas, exigiu a libertação do navio e
o pagamento de elevada indemnização). Ainda em relação com a África, e mais concretamente com Angola,
foram realizadas diversas expedições científicas, de que podemos destacar as de Silva Porto, Frederico
Welwitsch. Ladislau Magyar e outros. Para dar incremento e maior expansão à economia nacional, organizaram-
se algumas amostras públicas, tornando-se famosa a Exposição Industrial do Porto. Enriqueceu os estudos de
nível universitário com a criação do Curso Superior de Letras (corrigindo neste pormenor um erro da reforma
pombalina). Para o seu funcionamento atribuiu-lhe volumosa verba tirada do seu "fundo civil". Estabeleceu um
curso e um conjunto de disciplinas que lembram uma
Faculdade de Filosofia e História. O rei era muito culto, em consequência da primorosa educação recebida e
dedicava-se a escrever. (Os seus trabalhos literários foram publicados pela Academia de Ciências de Lisboa,
entre 1923 e 1930, constituindo cinco volumes). Portugal foi atingido por duas temerosas epidemias, a cólera-
morbo e a febre amarela, que causaram milhares de vítimas (o monarca deu prova de grande coragem e alto
espírito humanitário na visita aos hospitais e no auxílio aos carecidos). Embora por outras enfermidades, a
família régia foi também dizimada (chegando a espalhar-se o boato de ter havido atos criminosos, inclusive o
envenenamento, que estudos sérios vieram a negar; sabemos que o rei e seus irmãos foram contagiados pelas
águas de Vila Viçosa, que fizeram ainda outras vítimas). Podemos enumerar aqui a negra lista dos falecimentos

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dos principais membros da família real: - Em 17 de julho de 1859, a rainha D. Estefânia, de uma angina; - Em 06
de novembro de 1861, o infante D. Fernando, de tifo; - Em 11 de novembro de 1861, o rei D. Pedro V, também
de tifo; - Em 27 de dezembro de 1861, o infante D. João, de igual ataque. D. Pedro V contraiu matrimónio em 18
de maio de 1858, com a princesa D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, senhora dotada com qualidades
raras; os dois cônjuges amavam-se apaixonadamente (caso muitíssimo raro em famílias reais), tendo feito vida
conjugal durante o curto período de catorze meses. Nasceu em 16 de setembro de 1837. Subiu ao trono com
dezasseis anos, em 1853. Casou com vinte, completos, mas estava já viúvo aos vinte e dois anos. Faleceu aos
vinte e quatro e, consequentemente, teve oito anos de reinado.

D. LUÍS - O POPULAR

33.º Monarca - Reinado:1861/1889

Este rei recebeu trono devido a seu irmão D. Pedro V ter falecido sem deixar descendência (ao princípio
encontrou ambiente desfavorável, por motivo da estupefação causada pelo falecimento próximo dos seus três
irmãos, mas depois veio a conquistar as simpatias da população, que reconheceu as suas grandes qualidades). Era
mais intelectual do que político. Fez primorosa tradução e rica edição de boa parte da obra de Shakespeare
(manifestava assim os frutos da esmerada educação que recebera, mais erudita de que política, pois não se podia
prever que alguma vez viesse a reinar; no seu tempo esteve em projeto de organização um agrupamento político,
que se pensava denominar "Vida Nova", formado por intelectuais célebres, mas não chegou a constituir-se;
reuniam-se frequentemente em jantares e tertúlias; como o projeto se frustrou, reconhecendo-se o fracasso da
iniciativa, o grupo passou a ser conhecido por "Vencidos da Vida", nome que eles próprios lhe atribuíram;
praticamente pertenciam todos à "Geração de 70"; D. Luís viveu um período de certo brilho literário - Júlio
Dinis, João de Deus, Camilo e Eça - e artístico - Soares dos Reis, Teixeira Lopes, Malhoa, Columbano, Estação
do Rossio e Palácio do Buçaco, estilo neogótico). Os antigos partidos políticos foram remodelados; apareceram
até dois agrupamentos inclinados à dissidência, o Partido Socialista e o Partido Republicano. Quanto aos outros,
de ideologia monárquica, entrou-se na fase conhecida por rotativismo, sucedendo-se no governo o Partido
Histórico e o Partido Regenerador. Durante o reinado de D. Luís, foi publicado o primeiro Código Civil
Português. Dilatou-se a rede ferroviária nacional. Aboliu-se definitivamente a pena de morte e a escravatura. Foi,
no entanto, na África que mais se fez sentir a vitalidade nacional. Efetuou-se a notável Conferência de Berlim,
considerada o marco da verdadeira História da África, em sentido moderno e atual. Promoveram-se muitas e
frutuosas expedições científicas (Serpa Pinto, Brito Capelo, Roberto Ivens, Henrique de Carvalho), fundaram-se
cidades novas, consolidou-se o domínio português. Fizeram-se tratados em que foram estabelecidas novas
fronteiras africanas (tornando-se famoso o "mapa-cor-de-rosa", que previa a união territorial de Angola com
Moçambique; contudo, o grande interesse manifestado colidiu com as ambições estrangeiras, nomeadamente da
Grã-Bretanha, e Portugal sofreu a enorme afronta de ter de aceitar o "ultimato inglês"; o nosso Hino Nacional
evoca esse acontecimento). D. Luís casou com uma princesa italiana, D. Maria Pia de Saboia (filha de Vítor
Manuel, rei do Piemonte e unificador da Itália, senhora de grandes qualidades, extremamente generosa, que se
apresentava sempre que surgissem calamidades ou catástrofes, onde pudesse exercer a caridade). Tendo sido
elevado ao trono em 1861, veio a falecer em 1889, portanto com vinte e oito anos de reinado. Recebeu o
cognome de Popular pela simplicidade com que se apresentava, havendo autores que lhe deram o epíteto de
Bom, porque realmente o era.

D. CARLOS I - O DIPLOMATA / O MARTIRIZADO

34.º Monarca - Reinado:1889/1908

Iniciou o seu governo com a agitação causada pelo "ultimato inglês de 1890", que veio causar ou pelo menos
agravar a crise política, económica e social. Apesar disso, prosseguimos em África, Angola e Moçambique, a
tarefa da consolidação da soberania portuguesa (pacificação das insurreições, desenvolvimento de diversas
campanhas e cuidando de criar condições de progresso). Manifestou-se a ação de diversos estudiosos em
diferentes setores, contando-se cientistas famosos e eruditos abalizados (continuou a efetuar-se o estudo
sistematizado da fauna e flora dos territórios ultramarinos, com resultados surpreendentes e extremamente
valiosos). Desenvolveu-se a indústria nacional (instalando diversas atividades, destacando-se algumas fábricas
de cimento e afins, incentivando a cerâmica tradicional e dando-lhe aspeto mais primoroso, podendo destacar-se
o que Bordalo Pinheiro fez em Caldas da Rainha, criando fama e nome ainda perdurável). D. Carlos era um
artista e um cientista (mais artista e cientista do que político, em que também foi individualidade notável).
Desenvolveu intensa pesquisa oceanográfica (atuando como verdadeiro sábio, encontrou três espécies novas para
as costas de Portugal e uma nova para a História Natural, que recebeu o seu nome - Odontaspis Nasutus
Bragança n.sp; a sua coleção ictiológica, que primeiro esteve no Palácio das Necessidades, foi depois integrada
no acervo do Museu da Marinha). Foi pintor de mérito (tendo tomado parte em importantes exposições de arte,
produzindo trabalhos de grande valor expressivo). Interessava-se também pela exploração agrícola (de forma
moderna e rentável, conseguindo que as suas terras produzissem em valores económicos apreciáveis). Era bom

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desportista (nas modalidades então mais em voga na alta sociedade, no ténis, no golfe, nos desportos náuticos, e
também mostrou ser grande apaixonado pela atividade venatória, a caça). Na política interna, teve de sofrer os
ataques dos partidos que combatiam o regime, os que defendiam a proclamação republicana (registou-se no
Porto, em 31 de dezembro de 1891, portanto logo no início do reinado, a primeira grande manifestação
republicana, uma intentona para destruir a Monarquia, mas talvez mais o desprestigiassem, com o seu
comportamento duvidoso, os monárquicos desonestos do que os republicanos dignos). D. Carlos contraiu
núpcias, em 1886, com D. Amélia de Orleães, cujo nome completo era Maria Amélia Luísa Helena (foi a nossa
última rainha; faleceu na sua pátria de origem, a França, por motivo do exílio de Portugal, em 1951). No dia 1 de
fevereiro de 1908, quando a família real regressava de Vila Viçosa, foi vítima de criminoso atentado, tendo sido
morto pelas balas de um facínora e com ele o príncipe real D. Luís Filipe, que então contava vinte anos de idade,
praticamente o tempo de duração do seu reinado. A tragédia que lhe causou a morte proporcionou que lhe
chamassem "Mártir", ou "Martirizado" e também por vezes "Desventurado". (Repetiu-se com D. Carlos o que
acontecera com D. Dinis e com D. João V - sucedeu a seu pai mas o penúltimo rei era seu tio. Só que neste caso
não houve impedimento da sucessão). Tendo nascido em 1863, casou em 1886, foi aclamado rei em 1889, e
morreu em 1908.

D. MANUEL II - O EXILADO / O PATRIOTA

35.º Monarca - Reinado:1908/1910

O rei D. Manuel II, o último monarca da dinastia brigantina, e D. Henrique, o último soberano da dinastia de
Avis, tiveram praticamente igual tempo de governo e foram os mais curtos da Monarquia Portuguesa. D. Manuel
reinou menos de três anos e o Cardeal-Rei menos de dois anos). No reinado de D. Manuel II houve intensa
atividade da propaganda republicana, (chegando a abusos inaceitáveis, como a ostensiva glorificação do
regicida). Mostrou ser um príncipe magnânimo, disposto a perdoar. Pretendia criar clima de entendimento e
tranquilidade, mas os adversários políticos não quiseram colaborar com tais intenções. No dia 4 de outubro de
1910, eclodiu em Lisboa uma sublevação que ao princípio mostrou fracassar. Mas o apoio dado pelos populares
inverteu a situação e no dia seguinte, 5 de Outubro, foi proclamada a República Portuguesa. O rei D. Manuel e a
família real - incluindo as duas rainhas viúvas, D. Maria Pia (já muito idosa e com deficiências mentais, que foi
para a Itália, a sua pátria, onde faleceu exatamente nove meses depois) e D. Amélia de Orleães, assim como seu
tio o infante D. Afonso Henriques - deixaram Portugal, a caminho do exílio. Apesar do que aconteceu, pode
afirmar-se que era grande a popularidade do rei D. Manuel II, claramente demonstrada na sua visita ao Porto em
novembro de 1908, e nas comemorações do centenário da batalha do Buçaco, em setembro de 1910, oito dias
antes da sua saída do País e fim do seu reinado. Em 1913, fez o seu casamento com D. Augusta Vitória de
Hohenzollern-Bragança (como ele bisneta de D. Maria II), que não chegou a ser por tal motivo rainha de
Portugal. Durante a Grande Guerra, prestou auxílio humanitário aos que dele careciam, apoiando os serviços
mantidos pela Cruz Vermelha Portuguesa. Tendo fixado a residência na Inglaterra, ali faleceu, em
Twickeenham, no ano de 1932; havia nascido em 1889. Enquanto infante de Portugal, usou o título de Duque de
Bragança (acontecera a mesma circunstância com o seu homónimo D. Manuel I, que como ele subiu ao trono em
consequência de uma morte trágica). À semelhança de seu pai e seu avô, interessava-se muito pelos assuntos
intelectuais, determinando que os seus haveres fossem destinados, após a morte de sua mãe e de sua esposa, para
a manutenção de um organismo cultural, a Fundação da Casa de Bragança (e tanto D. Amélia como D. Augusta
Vitória voluntariamente prescindiram de tais valores, antecipando a atividade programada). Ainda dentro deste
princípio, elaborou uma obra de pesquisa de muito mérito, que foi editada em três volumes de cerca de
oitocentas páginas cada um (o primeiro impresso em 1929, o segundo em 1932, o terceiro em 1935, e
reimpressos em fac-símile em 1995; anteriormente havia publicado um catálogo sobre o mesmo tema e quase
igual denominação). Deu-lhe o extenso título de: "LIVROS ANTIGOS PORTUGUESES" 1489-1600 da
Biblioteca de Sua Majestade Fidelíssima descritos por S. M. El-Rei D. Manuel II

QUARTA DINASTIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

* Iniciou-se com duas guerras seguidas, que absorveram a maior parte da nossa capacidade de resistência.

* Tivemos um período de euforia com a exploração das riquezas auríferas do Brasil.

* Registamos um período de exagerado autoritarismo, em relação com a difusão do cesarismo e do despotismo


iluminado.

* Promoveu-se o aniquilamento da aristocracia, com a execução dos fidalgos que se opusessem ao poder régio.

* Tentou-se dominar o setor eclesiástico, combatendo as ordens religiosas e difundindo o anticlericalismo.

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* Decisiva influência do enciclopedismo e da mentalidade racionalista, espalhados pelos intelectuais e invasores
franceses.

* Fez-se a experiência da valorização excessiva da burguesia, sob o aspeto de luta pela liberdade política e
religiosa.

* A dinastia divide-se em duas partes distintas, separadas por guerras, as invasões francesas e as lutas liberais.

* Enfrentaram-se em luta de aniquilamento os tradicionalistas para conservarem vantagens e os liberais para as


conquistarem.

* Desenvolveu-se grande esforço para promover o progresso e desenvolvimento do País, que as revoluções
entravavam.

* O nível cultural teve satisfatória elevação, podendo registar-se muitos e prestigiosos nomes, em todos os
ramos.

* Em paralelo com o território do reino, procurou-se também levar a civilização às populações das conquistas de
além-mar.

* A oposição política fez-se sem respeito pela dignidade das pessoas, cometendo-se crimes graves, inclusive
assassinatos.

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