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Licenciatura em História
Unidade Curricular: História de Portugal Medieval
Docente: Professora Doutora Hermínia Vilar
Discentes: Bernardo Barreiros, Bruno Cesário, Gonçalo Mendes e Joana Vitorino
Nº: ex. 16217, 48506, 49542, 49095
2
Escola de Ciências Sociais
Milagre d’Ourique: entre a fé e a política
- As origens e a formação da Monarquia Portuguesa -
1
L. de Camões, Os Lusíadas, Canto III, Porto Editora, Porto, 1969, 28 – 84.
3
Índice
Introdução……………………………………………………………………………………….. 7
Conclusão……………………………………………………………………………………… 33
Anexos…………………………………………………………………………………………. 35
4
Resumo
O presente trabalho tem como objectivo, partindo do princípio que se trata de
saber interpretar, questionar e confrontar as fontes, quer sejam elas escritas, iconográficas
e bibliográficas, de modo apresentar um tema de carácter histórico que até os dias actuais
é alvo de controvérsia e de alguma incompreensão.
5
Abstract
The present work aims, starting from the principle that it is about knowing how to
interpret, question and confront the sources, whether they are written, iconographic and
bibliographic, in order to present a theme of historical character that even today is the
target of controversy and some misunderstanding.
One of our focuses on the characterization of the concept of the miracle of Ourique
and understand the essential aspects to be considered a political, religious and social
justification in a historical perspective, ideological and the mentalities themselves that are
based on various visions, namely changed depending on the time and situations.
6
Introdução
8
1. Contextualização histórica da Batalha de Ourique
Resumidamente, o Mosteiro dos monges crúzios foi conhecido por ser um ponto
de devoção do povo português, imagem das origens, continuidade de uma memória “post-
mortem”, e, por fim, a iniciação e a extensão do mito do Milagre de Ourique.
2
A informação consta nos seguintes sites: https://www.centerofportugal.com/pt/poi/mosteiro-de-santa-
cruz-de-coimbra/; http://www.patrimoniocultural.gov.pt
3
Informação retirada em Mattoso, José – “A realeza de Afonso Henriques”, Publicado in História &
Crónica, nº13.
10
3. A busca pela consagração da Dinastia de Avis4
D. Fernando, último rei da dinastia Afonsina, quando faleceu, não deixou qualquer
herdeiro do sexo masculino para tomar o trono de Portugal, o que originou uma disputa
com Castela, dado que a independência nacional foi colocada em causa, uma vez que, a
sua filha D. Beatriz constituiu laços matrimoniais com D. João I de Castela. Na verdade,
esta época foi marcada por uma espécie de anarquia e guerra civil que durou cerca de dois
anos (1383 – 1385).
4
TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de
Portugal”, Universidade Aberta, pp. 4 – 5.
11
relatar/interpretar a autonomia régia de igual forma a Fernão Lopes, ou seja, a relação
com Deus e o vínculo com o Milagre de Ourique. ~
Por fim, D. João I, aclamado por todas as classes sociais, em que o povo de certa
forma respeita o desejo do Todo-poderoso, originando a sua exaltação. Por conseguinte,
5
Todos os aspectos informativos mencionados neste tópico encontra-se em: TAVARES, Maria José Ferro,
“Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de Portugal”, Universidade Aberta, pp. 6 –
7.
12
esta dinastia germinou um contexto valorativo do Milagre de Ourique, preservando-o de
geração em geração, incontestavelmente.
No tópico antecedente, foi visível constatar que a nova dinastia teve de arranjar de
qualquer forma uma justificação para a sua ascensão. Diante do exposto, a Batalha de
Ourique, outrora resguardada nos arquivos e no ambiente do Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, teve uma espécie de obrigação em sair e ir ao encontro dos membros da Corte
Portuguesa.
6
Todos os aspectos informativos mencionados neste tópico encontra-se em: TAVARES, Maria José Ferro,
“Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de Portugal”, Universidade Aberta, pp. 10
– 12.
13
3.3. Um novo olhar para Lisboa7
7
Todos os aspectos informativos mencionados neste tópico encontra-se em: TAVARES, Maria José Ferro,
“Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de Portugal”, Universidade Aberta, pp. 12
– 13.
14
lisboeta. Fernão Lopes, na sua Crónica de Portugal de 1419, mencionou que este facto
enalteceu Lisboa e fomentou o messianismo em torno de D. João I.
Através das várias e novas interpretações que começaram a surgir fora do Mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra, foi possível notar a questão da introdução de um novo agente
na história em torno do Milagre, isto é, a existência de um ermitão que é mencionado a
partir do reinado de D. João I em pleno século XV, desempenhando a função de
mensageiro divino.
1. Uma vez que o filho de D. Teresa não era ainda reconhecido oficialmente pelo
Chefe da Igreja Romana, implementa-se um obstáculo para que não fosse um
padre ou um bispo, preservando a posição pontifícia;
2. O ermita exterioriza-se com características pariformes a Jesus Cristo num
contexto bíblico; um homem dedicado à pobreza e ao despojamento material;
não é acreditado à primeira impressão; e, por fim, afeiçoado à prática da oração
e do silêncio;
3. Posteriormente, a leitura e o escólio dado pelo Padre António Vieira no século
XVII, configura esta pessoa como um anjo enviado por Deus.
8
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 3.
15
comparável à Virgem Maria no Calvário, ou seja, D. Afonso Henriques aparece a adorar
com devoção, a chorar com humildade, e ajoelha-se com submissão9:
9
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 5.
10
TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de
Portugal”, Universidade Aberta, pág. 15.
11
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 198.
16
representava a ascensão e a purificação12. Neste caso, o significado da palavra “ascensão”
remete-nos à elevação de Afonso Henriques ao trono do novo reino de Portugal, mas
sobretudo a “purificação” revela-nos a importância da conquista de terras islâmicas na
Península Ibérica, de modo a derrotar o inimigo (muçulmanos) purificando-os
(conversão) com a Doutrina Cristã. Assim sendo, as terras conquistadas pelas tropas
cristãs tornaram-se puras com a verdadeira fé.
12
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 198.
13
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 199.
17
seu apogeu no século XVI. Todavia, esta visita à Santa Sé não teve somente motivos
religiosos, mas de carácter e de interesse político, ou seja, com este testemunho escrito
seria um argumento vantajoso para que os portugueses pudessem avançar na expansão
em território africano, provando que Portugal ainda continuava a ser um instrumento
fundamental e fiel perante a missão na conversão do inimigo da fé14.
14
TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de
Portugal”, Universidade Aberta, pág. 15
15
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 199.
16
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 200.
17
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 186.
18
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 189.
18
3.6. Importância do milagre para um herdeiro improvável
“he myuto para espantar, / que por elle vir herdar/ seis herdeiros fallesceram,/ hos
quaes todos ouueram/ antes delle reynar”.19 Deste modo, inferimos uma espécie de
iniciativa em sacralizar a sucessão, interpretada como um destino previamente definido
por Deus20. Inclusive, os cognomes atribuídos a este novo rei possivelmente , seriam uma
estratégia para elucidar a sua virtude régia, utilizando “Venturoso” e “Felicíssimo”.
19
Garcia de Resende, Miscelânea, p. 343.
20
TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de
Portugal”, Universidade Aberta, pág. 14.
21
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 200.
19
3.7. Interpretações, mentalidades e transformações do século XVI
22
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 5.
23
TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da independência de
Portugal”, Universidade Aberta, pág. 15
20
também pede protecção e intercessão da Virgem Santíssima, e adormece. Tudo ocorre em
plena noite. Na manhã seguinte, como prometido ouve-se o sino, o que faz com que o
príncipe saia da sua tenda e depara-se com a exposição do Filho de Maria24.
Supostamente, foi neste dia que todos os apoiantes de Afonso Henriques o aclamaram
como rei cumprindo-se o prometimento divino, constando duas bases medulares: a tão
esperada vitória sob os mouros e a independência do Condado Portucalense.
24
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 197.
25
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 210.
26
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 13.
27
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 201.
28
SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação sagrada do reino de
Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e Universidade do Minho, pág. 205.
21
Para entender verdadeiramente a relação de D. Sebastião e o zelo pela “doutrina”
do Milagre de Ourique, é necessário termos em mente a seguinte data: 14 de Março de
1578. Nesta data, o monarca redigiu uma Carta Régia destinada ao Padre-Geral do
Mosteiro de Santa Cruz, onde apresentou o pedido na utilização das “armas sagradas” de
D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, de modo a depositar a esperança e a
confiança nestes objectos de combate “sagrados por Deus”, a fim de conseguir sair
vitorioso em Alcácer-Quibir. Aliás, é observável uma comparação entre os dois conflitos,
dado que ambos lutaram contra os sarracenos – missão de conversão29. Por ironia ou
destino, o desaparecimento do rei fez com que, futuramente, se começasse a questionar a
fidedignidade do episódio de carácter milagroso em 1139.
29
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 200.
22
4. Perda da independência (1580 – 1640): “o castigo divino”
Com o término da Batalha em Alcácer-Quibir, uma nova crise debateu-se na
História de Portugal, principalmente na ausência de descendência directa para assumir a
Coroa Portuguesa, uma vez que, D. Sebastião, participante deste evento militar,
desapareceu sem deixar um herdeiro. Para encontrar uma solução na preservação da
independência portuguesa, o tio-avô, D. Henrique, membro do Colégio Cardinalício,
ascendeu ao Trono de Portugal. Todavia, pelos votos de castidade que o obrigavam à não
concretização do sacramento do matrimónio e, logicamente, a impossibilidade de deixar
filhos para substituí-lo após o seu falecimento. Consequentemente, estamos perante uma
nova problemática que coloca a Dinastia de Avis em risco proeminente.
30
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 6.
23
zénite da chamada “Monarquia Lusitana”, nomeadamente a busca pela defesa da dinastia
filipina.
Durante o final do primeiro período dos Filipes, inícios do século XVII, sobreveio
os princípios da desvalorização guerreira de Afonso Henriques, tendo agora como ponto
fulcral o episódio mítico, com a especial atenção no diálogo com Cristo, susceptível a
mudanças no conteúdo da conversação, que, indirectamente, se esforçaram para uma nova
exaltação identitária31 recorrendo à Historiografia-Profética, hábito integrante dos séculos
anteriores. À vista disso, formulamos uma questão: Qual fora o propósito de querer
recuperar o acontecimento miraculoso? De facto, por meio das nossas interpretações o
aspecto político ocupa uma posição valorosa, que mesmo discreta, sugestionou a criação
dos primeiros movimentos restauracionistas, pioneiros na reinvenção e utilização de um
novo contexto historiográfico e social do Milagre de Ourique32.
31
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 7.
32
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 12.
33
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 14.
34
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 14.
35
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 14.
24
4.1. Estratégia alcobacense e oposição da União Ibérica
36
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 202.
25
5. Restauração, Origens e Sacralidade
37
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 203.
38
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 204.
26
e de pensar foi retratado na chamada literatura restauracionista que, de certa forma, entra
no âmbito historiográfico, mas não é revestido de imparcialidade, pois, a sua função era
servir o Estado como meio de propaganda, fazendo acreditar novamente no Milagre como
acção defensora das origens, noção do “povo eleito”, e, por fim, a necessidade de pregar
o comportamento heróico de 164039; isto é, a literatura da Restauração revigorou os ideais
da História Alcobacense, dos Monges Crúzios e dos antigos cronistas, dando uma nova
roupagem a um tipo de discurso político-ideológico moldado ao raciocínio português na
metade do século XVII.
Segundo o jesuíta António Vieira, este sistema imperial baseava-se nas palavras
de Cristo a Afonso Henriques, cuja responsabilidade era fundar um império universal e
cristão (elevar o Catolicismo), em que o imperador seria um descendente do rei-fundador.
Logo, leva-nos a constatar uma relação próxima com o sentido do “povo eleito”, missão
que pertencia exclusivamente aos portugueses (noção de superioridade).
39
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 204.
40
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 204.
41
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 201.
27
5.3. Da política à sacralidade: a fé nas Cinco Chagas
Com a pós-restauração da independência de 1640, os anos seguintes foram
marcados pela pacificação interna do reino, ou seja, a autoridade régia, agora autónoma
e totalmente portuguesa, encontrou a sua perfeita consolidação. Na verdade, a
harmonização do ambiente social e governativo, fez com que o Milagre de Ourique
renunciasse ao seu carácter político revestindo-se de pura sacralidade, sendo visível no
decorrer do século XVIII, essencialmente nos reinados de D. João V e do seu filho, D.
José I, através das regalias e reconhecimentos dados pela Santa Sé42.
42
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 209.
43
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 209.
44
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 205.
45
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 205.
46
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 205.
28
6. No interior da devoção e da desconfiança
Fernão Lopes baseou-se nos relatos vindos de Coimbra, que constava que o
túmulo do primeiro monarca seria um local de devoção por parte dos portugueses,
que tinham o objectivo de prestar veneração em busca de curas, agradecimentos e
intercessões48; é curioso que esta estima tenha sido dada a Afonso Henriques sem o
mesmo ter sido canonizado pela Igreja. Visto isto, com o crescimento desta fé, D.
João III sente-se na obrigação de iniciar a primeira tentativa de canonização49.
Para comprovar que este “interior de devoção” não ficou somente em terras
portuguesas, a nossa fonte iconográfica "O Milagre de Ourique - Salvatore Nobili",
Igreja de Sant'Antonio in Campo Marzio, na Cidade de Roma, dá-nos uma visão
alargada do Milagre de Ourique. Através da leitura das nossas fontes/estudos
tentamos interpretar e conjugar as interpretações face a esta pintura:
47
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 4.
48
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 5.
49
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 200.
29
luz em volta da cruz, segundo o tópico das simbologias, faz alusão ao dia, sinónimo
da prática do poder.
Padre António Verney surge num século onde tudo começou a ser questionado,
principalmente pelos intelectuais setecentistas, de modo a buscar a racionalização,
sendo que muitos acreditaram que este sacerdote pertencia à corrente iluminista. E,
de facto, na sua obra intitulada “O Verdadeiro Método de Estudar”, colocou em causa
30
o não acontecimento da aparição de Cristo ao rei-fundador, mas sobretudo questionou
reiteradamente as crenças e os aproveitamentos que desse milagre provieram.
50
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 204.
51
BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na cultura portuguesa
(séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães, Volume III, pág. 205.
52
BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique – Anticlericalismo e Iconoclastia”,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História, pág.
42
31
de Herculano conduziu a uma desavença com o clero português53, já que o mesmo
tirava a conclusão de que os eclesiásticos usavam esta crença incerta e mítica para
doutrinar os pensamentos do povo português ao longo dos séculos. Aliás, Herculano
assumia-se anti-clerical, porém não anti-religioso, que muitas das vezes tendeu-se a
confundir os seus conceitos54. O que este historiador e pensador defendia era a
liberdade de expressão e religiosa, de modo a retirar a grande influência que o clero
tinha na sociedade de Portugal.
53
BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique – Anticlericalismo e Iconoclastia”,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História, pág.
43.
54
BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique – Anticlericalismo e Iconoclastia”,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História, pág.
44.
55
BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique – Anticlericalismo e Iconoclastia”,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História, pág.
45.
56
BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique – Anticlericalismo e Iconoclastia”,
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História, pág.
49.
32
Conclusão
Aquilo que norteou o nosso trabalho foi o objectivo de construir uma síntese fiável
daquilo que foi a construção da Monarquia Portuguesa e o processo da própria
legitimidade régia mergulhada na controvérsia do Milagre de Ourique, tentando, depois,
transpor esses conteúdos de uma forma minimamente compreensível.
Com a leitura das fontes apresentadas no decorrer dos diversos temas, foi possível
reunir um conjunto de informações dispersas de vários estudos, construindo assim uma
continuidade, mas também uma confrontação visível acerca da devoção e da desconfiança
em torno do nosso objecto de estudo. Por sua vez, estas permitiram conhecer e reconhecer
as características da importância das mentalidades e do situacionismo político a nível
histórico, social e na construção da própria memória. De facto, foi fundamental uma
relação e entendimento da perspectiva eclesiástica desta pequena investigação e
interpretação das fontes, que contribuiu convictamente para o conhecimento.
57
CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de sobrevivência”, Universidade
Autónoma de Lisboa, pág. 18
33
Fontes e referências bibliográficas
1. Estudos
a) CARMELO, Luís, “O Milagre de Ourique ou um mito nacional de
sobrevivência”, Universidade Autónoma de Lisboa;
b) BUESCU, Ana Isabel, “Alexandre Herculano e a polémica de Ourique –
Anticlericalismo e Iconoclastia”, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas, Departamento de História;
c) BUESCU, Ana Isabel, “A profecia que nos deu pátria: o milagre de Ourique na
cultura portuguesa (séculos XV-XVIII)”, 2º Congresso Histórico de Guimarães,
Volume III;
d) SILVA, ARAÚJO, ARMANDO E ALBERTO, “Para mitanálise da fundação
sagrada do reino de Portugal em Ourique, Faculdade de Letras do Porto e
Universidade do Minho;
e) TAVARES, Maria José Ferro, “Milagres, sonhos e profecias na legitimação da
independência de Portugal”, Universidade Aberta.
2. Fonte iconográfica
a) "O Milagre de Ourique - Salvatore Nobili", Igreja de Sant'Antonio in Campo
Marzio, Roma.
34
Anexos
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